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quarta-feira, 4 de março de 2020

Mais resenhas (cada vez menos) curtinhas para analfabetos funcionais

VFW (2019, EUA. Dir: Joe Begos)
Joe Begos é um daqueles cineastas indies que tenta emular o clima do horror dos anos 1970-80 a cada novo filme de baixo orçamento que faz. Se seu “The Mind's Eye” era “Scanners” cuspido e escarrado, e “Bliss” era uma variação drogada de “Fome de Viver”, este novo “VFW” é uma versão encharcada de sangue de “Assalto à 13ª DP”, do John Carpenter, valorizada por um elenco repleto de veteranos do gênero (que parecem estar se divertindo tanto quanto o espectador). Pois eis que Begos conseguiu reunir num mesmo set Stephen Lang (o cego de “Don't Breathe”), Martin Kove (o eterno treinador do Cobra Kai), Fred Williamson (com a maior cara de vovôzinho, mas ainda não perdeu o rebolado), William Sadler (o vilão de “Duro de Matar 2”), David Patrick Kelly (o vilão de “Warriors”) e George Wendt (o vizinho fofoqueiro de “A Casa do Espanto”). Existe um fiapo de trama para colocar a ação em andamento: um grupo de veteranos do Vietnã fica preso num bar, cercado por punks/junkies que querem entrar a qualquer custo (para recuperar uma mochila cheia de drogas que não passa de um McGuffin). Quando os coroas sitiados percebem que ninguém escapará vivo dali caso os crackeiros consigam invadir, resolvem fazer barricadas nas portas e janelas e agarrar machados, espingardas, serras elétricas e todo tipo de arma de fabricação caseira para defender-se. “VFW” é absolutamente Carpenteriano, com climão, estilão e até trilha sonora chupinhada de “13ª DP” – além de vilões que mais parecem zumbis, pois atacam às cegas e parecem insensíveis à dor. Tá, tem umas coisas duras de engolir mesmo com boa vontade (tipo o fato de os crackeiros do mal só aparecerem de vez em quando, dando inúmeras oportunidades para os velhinhos se reorganizarem). E os vilões são patéticos e caricaturais, logo nunca chegam a representar qualquer ameaça ou provocar qualquer sentimento próximo de horror ou suspense. Claro que este é o tipo de bobagem exagerada que convém não levar muito a sério, feita especialmente para fãs de cinema gore e das produções que homenageia, onde cabeças são explodidas, pessoas são partidas ao meio e sangue jorra o tempo inteiro. A melhor coisa é mesmo o elenco de veteranos da pesada reunido para dar um cacete nos punks malvados (alguns deles tão velhinhos e acabados, tipo o Wendt e o Kelly, que dá até um tantinho de pena). Ver essa gente boa sentando tiro, porrada e bomba em millennials que se acham fodões, mas não duram cinco segundos no mano a mano, é a razão de ser deste passatempo sangrento e bobo – que ao final deixa até certa saudade do clima de tensão de “Assalto à 13ª DP”, porque Begos não consegue fazer nada sequer parecido com aquilo que o jovem Carpenter fez com muito menos recursos. PS: o título remete à sigla em inglês para Veterans of Foreign Wars, uma associação norte-americana que reúne veteranos de guerra (Filmes para Doidos também é cultura!).


GUNS AKIMBO (2019, Nova Zelândia/Reino Unido/Alemanha. Dir: Jason Lei Howden)
O neozelandês Jason Lei Howden integrou as equipes de efeitos visuais de vários blockbusters recentes (incluindo “Os Vingadores” e “O Hobbit”), até estrear como diretor de longas com o simpático e engraçadíssimo “Deathgasm”, em 2015. O humor ferino e o ritmo acelerado desta comédia de horror fez muita gente acompanhar de perto os projetos futuros dele, eu incluso. E eis que agora Howden ataca novamente com “Guns Akimbo”, uma comédia de ação que viralizou antes mesmo de ser lançada – fotos de Daniel Radcliffe durante as filmagens deram origem a memes impagáveis, gerando interesse pela obra quase que imediatamente, num fenômeno cultural que lembra o que aconteceu tempos atrás com “Snakes on a Plane”. Se em “Deathgasm” o diretor-roteirista tirou sarro dos fãs de metal, aqui o alvo prioritário são os trolls de internet. O ex-Harry Potter Radcliffe interpreta um zé-ninguém que, sem namorada, amigos ou vida social, se diverte batendo boca no twitter e nos campos de comentários de sites. Até que mexe com as pessoas erradas e acaba sendo obrigado a participar de um jogo virtual ilegal, onde é forçado a matar adversários de verdade. Para garantir que cumpra a missão, duas pistolas automáticas são aparafusadas nas suas mãos, tornando-o uma espécie de “Edward Mãos de Revólver”, como alguém brinca lá pelas tantas. “Guns Akimbo” então acompanha a jornada alucinada do curioso protagonista enquanto ele tenta salvar a própria pele, já que está sendo perseguido por uma super-assassina interpretada pela impagável Samara Weaving – quem matar o adversário primeiro, ganha o jogo. A trama não se leva a sério e parece estar situada num universo alternativo; lembra até uma HQ, ou mangá, que ganhou vida. Apesar da ação turbinada, com tiros, explosões e perseguições de automóvel cada vez mais absurdas, os melhores momentos são aqueles em que Radcliffe precisa lidar com a complicada situação de ter pistolas no lugar das mãos, pois abrir portas, usar o celular e até fazer xixi tornam-se operações bastante complicadas (há o perigo de disparar acidentalmente no próprio pinto!). O ritmo é tão frenético que lá pelas tantas o excesso de barulho, confusão e cortes rápidos chega a dar canseira. Sangrentos tiroteios são filmados com uma câmera que não pára quieta, e editados com cortes rápidos ao som de uma trilha escalafobética – que vai de “Ballroom Blitz” e “You Spin Me Round Like a Record” a Iggy Pop, Cypress Hill e disco music. O problema é que não há nada de novo aqui: esse tipo de cena, com esse tipo de montagem alucinada e essas músicas-pop, já foram vistas antes, e mais de uma vez, e melhor. Lembram muito Matthew Vaughn e os massacres encenados pelo cineasta inglês em seus filmes “Kick Ass” (ao som de “Bad Reputation”, lembra?) e “Kingsman – Serviço Secreto” (ao som de “Free Bird”, lembra?). Se “Deathgasm” parecia mais original, e tinha algo mais próximo de uma personalidade, “Guns Akimbo” lembra MUITO, narrativamente e visualmente, filmes como “Wanted – O Procurado”, “Mandando Bala” e “Adrenalina” (aquele com Jason Statham). Talvez o ritmo acelerados funcionasse melhor se o “herói” estivesse sob efeito de alguma droga, já que nem sempre a edição picotada e a câmera epilética e/ou girando combinam com o clima das cenas. O resultado é bem divertido e com alguns momentos impagáveis (especialmente quando lembramos que é o “Harry Potter” tocando o terror e/ou passando vergonha), mas ao mesmo tempo acelerado demais sem necessidade, como se tentasse desesperadamente forçar uma estética “modernosa” que já soa um bocado datada.


HERANÇA DE SANGUE (Blood Father, 2016, França. Dir: Jean-François Richet)
Preterido no quarto “Mad Max” (onde foi substituído por um apagado Tom Hardy), e visto como persona non grata em Hollywood depois de declarações infelizes e tempestuosas crises familiares, o australiano Mel Gibson (que, diga-se, sempre foi uma personalidade polêmica e encrenqueira) caiu nas graças de cineastas independentes, que conseguem explorar seu lado de bad boy em produções sem freios na violência (vide “Dragged Across Concrete”). Este “Herança de Sangue” fica uns pontinhos acima da média por aproveitar a fama de “coroa descontrolado” do (ex?) astro, e é o tipo de filme que jamais seria produzido por um grande estúdio (embora tenha sido distribuído por um). No papel do velho ex-presidiário que tenta defender a filha adolescente de um perigoso cartel, Gibson esbanja vitalidade e brutalidade: durante uma luta de vida ou morte com um vilão, numa peleja que é menos uma lutinha coreografada e mais uma sangrenta porradaria próxima da vida real, o protagonista arranca a orelha do rival a dentadas porque sim. E quando ele joga um motoqueiro para bater de frente com um caminhão, é impossível não pensar nisso como uma citação ao final do primeiro “Mad Max” (quiçá também uma indireta, mostrando que Mad Max só tem um nesse mundo). Então este é o tipo de “herói” de “Herança de Sangue”: um sujeito que não é flor que se cheire, que já viu um pouco de tudo e sabe que tem que jogar sujo e devolver na mesma moeda. O filme sofre, porém, com um roteiro esquemático e bem ruinzinho: dois caras o escreveram baseados no livro de um deles, e mesmo assim boa parte do que está na tela soa como puro clichê (exemplo: o bandido que parecia morto o filme inteiro e reaparece no desfecho apenas porque precisavam de um clímax com algum grande “vilão final”). E a menina que interpreta a filha é insuportável, fazendo com que o espectador torça para que Gibson NÃO consiga protegê-la. Pelo menos o francês Jean-François Richet, que também comandou o interessante remake de “Assalto à 13ª DP”, filma as cenas de ação melhor que quase todos os seus contemporâneos norte-americanos, e não tenta atenuar o lado “selvagem” do envelhecido Mel Gibson. Quando o ator aparece pela primeira vez no filme, e a câmera dá um baita close naquela cara sulcada de rugas, fica impossível não lamentar o fato de George Miller não tê-lo usado em “Mad Max – Estrada da Fúria” como uma versão envelhecida e ainda mais insana do anti-herói. Que continuem aproveitando o enrugado australiano sempre que precisarem de um velhaco casca-grossa para tocar o terror!


O FAROL (The Lighthouse, 2019, Canadá/EUA. Dir: Robert Eggers)
Quando um filme segue a linha “muito enfeite e pouco conteúdo”, pessoas que gostam de expressões de boteco, como eu, costumam se referir à obra como um pastel de vento – bonito e apetitoso por fora, sem qualquer recheio por dentro. No caso de “O Farol”, segundo e aguardado filme do diretor-roteirista Robert Eggers, a parada é outra. Para ficar nas comparações gastronômicas, “O Farol” está mais para a chamada “pizza da casa” – aquela em que os caras jogam por cima absolutamente tudo que tem na cozinha, de fatias de salame a rodelas de abacaxi, e torcem para ninguém reclamar do excesso de sabores. À primeira vista, trata-se de um drama/thriller sobrenatural sobre o isolamento criando monstros, sejam eles da mente ou reais. Eggers trabalha com apenas dois atores (Willem Dafoe e Robert Pattinson), interpretando personagens que estão sozinhos trabalhando no farol de uma ilha distante, gradativamente odiando um ao outro e também àquele lugar. Calcado em duas interpretações soberbas (embora os diálogos longos e muito rebuscados do Dafoe comecem a soar sonolentos a partir da metade), o filme lembra, lá e cá, “O Iluminado” do Kubrick (e tenho certeza que o fato de um machado aparecer lá pelas tantas não foi exatamente uma coincidência). O problema é que Eggers trabalha com elementos demais e parece não saber o que fazer com tudo que adiciona em sua “pizza da casa” cinematográfica – logo ele que fez um filme anterior, “A Bruxa”, que funcionava exatamente pela sua simplicidade! Acaba gerando demasiada expectativa com as aparições ocasionais de ameaçadoras gaivotas caolhas, sereias seminuas e tentáculos lovecraftianos, porém termina o filme sem explicar exatamente para quê essas coisas todas servem à narrativa (se é que servem). Não me entenda mal: assim como em “A Bruxa”, o sujeito demonstra um domínio absoluto da câmera, e um cuidado que beira a obsessão com a fotografia (inclusive reproduzindo quadros e gravuras famosas). Mas TALVEZ ele precise de uns roteiros melhorzinhos, e coloco ênfase no "talvez" porque ninguém além de mim parece estar reclamando. “O Farol” é aquele tipo de história tão abstrata, tão aberta a variadas interpretações, que parece feito sob medida para gerar pancadaria entre cinéfilos na mesa de bar. “Pô, tu não entendeu que cena tal é uma recriação do quadro Hypnose, do Sascha Schneider?”. Sim, e ficou lindão. Mas e o que isso acrescenta à narrativa, caceta? O diretor-roteirista sugere que um montão de coisa está acontecendo ou vai acontecer, e termina o filme sem confirmar qualquer uma das muitas teorias que cria, fazendo com que a interpretação de Fulano sobre os acontecimentos seja tão correta quanto a de Beltrano ou a de Sicrano. Pelo menos até que o próprio Eggers venha a público “explicar” o que queria dizer, e isso é sempre uma derrota. Do jeito que está, o filme todo pode ser o delírio de um jovem lenhador que perdeu o juízo no Canadá, uma história de fantasmas onde um dos personagens está morto, ou sequer existe (estilo “Clube da Luta”), ou uma simples história de vingança sobrenatural movida pela morte de uma gaivota – o que, para os marinheiros, é sinal de desgraça. Se entrarmos no campo do simbolismo, então, a coisa vai ainda mais longe (já vi análises abordando simplesmente o farol enquanto elemento fálico). Então sim, é um filme feito com absurdo talento e filmado num preto-e-branco belíssimo, que rende imagens fantásticas. O lado “artístico” contagia o espectador a ponto de fazê-lo perdoar possíveis defeitos na história (ou inexistência de). Só que eu acho que preferia uma narrativa mais tradicional, algo menos aberto, e quiçá alguma tesourinha em certo excesso de afetação – tipo a trilha sonora que tenta criar uma tensão inexistente onde o recurso sequer é necessário.


IF CATS DISAPPEARED FROM THE WORLD (Sekai kara neko ga kietanara, 2016, Japão.
Dir: Akira Nagai)
Quem me acompanha apenas pelo Filmes para Doidos pode até ficar surpreso, mas eu também sou um grande fã de melodramas. E por melodrama me refiro a dramalhão mesmo, aqueles filmes onde o cara precisa ter um lencinho à mão para secar as lágrimas. Pois “Se os Gatos Desaparecessem do Mundo” (tradução literal do título, já que o filme não foi lançado no Brasil) é um dramalhão oriental clinicamente realizado para, como o título já sugere, sensibilizar os fãs de gatos. Como eu sou co-proprietário de um serelepe felino batizado Jess Franco the Cat, o filme acertou bem na jugular. Baseado num livro de Genki Kawamura, o roteiro tem um ponto de partida genial: um jovem carteiro descobre que está com um tumor maligno no cérebro e vai morrer no dia seguinte; aí o Diabo aparece e lhe oferece um novo dia para viver em troca de cada coisa que ele escolher para ser eliminada do mundo para sempre. Por exemplo, se o jovem aceitar que o Diabo faça os telefones desaparecerem do mundo, ganha mais 24 horas de vida, mas todos os telefones do mundo desaparecerão ao final daquele mesmo dia – e, com eles, todas as relações humanas que um dia o protagonista teve e que aconteceram através do telefone! Ou seja, mesmo tentando eliminar objetos aparentemente banais e “desnecessários” no grande esquema das coisas, o pobre rapaz sempre faz desaparecer complexos relacionamentos criados a partir deles. Com esta premissa bastante criativa, “Se os Gatos Desaparecessem do Mundo” nos faz pensar em quantos amigos e amores já fizemos através do gosto por cinema, e quantos relacionamentos deixariam de existir caso os filmes desaparecessem do mundo (como acaba acontecendo lá pelas tantas, por opção do protagonista ávido por viver mais um pouquinho). Infelizmente, o diretor Nagai não tem lá muita sutileza para o gênero e não poupa esforços para forçar lágrimas no espectador, pegando pesado em alguns momentos e quase fazendo o filme descambar para a comédia involuntária (o discurso do jovem para sua mãe moribunda é particularmente apelão). O resultado é um filme bonito que às vezes fica perdido em meio a estas artimanhas baratas para provocar choradeira. Mesmo assim, fechando um olho para o dramalhão, é possível encontrar um olhar apaixonado e sensível sobre as relações humanas e sobre as relações entre humanos e felinos, o que deve compensar a apelação e a choradeira para boa parte do público.


SOBRENATURAL (Insidious, 2010, EUA/Canadá/Reino Unido. Dir: James Wan)
Eu não vi “Insidious” na época da estreia nos cinemas dez anos atrás. Fui deixando para depois, dando prioridade a outras coisas, e de repente percebi que o negócio tinha virado uma série e já estava no QUARTO filme. Mais surpreendente ainda, a franquia era relativamente respeitada por críticos e fãs do gênero. Resolvi tirar o atraso e fazer logo uma maratona com a quadrilogia. Dirigido por James Wan e escrito por Leigh Whannell, parceiros de toda vida desde o primeiro “Jogos Mortais”, este primeiro filme não se preocupa em ser original: é uma reciclagem descarada (repetindo cenas, inclusive) de “Poltergeist - O Fenômeno”. O elemento mais criativo da coisa toda é o fato de que não é a casa que é assombrada, como em “Poltergeist”, mas sim a pessoa; logo, não adianta fugir e trocar de casa, como manda o bom senso, porque os fantasmas continuarão incomodando para onde quer que se tente fugir. E a explicação para o horror é um pouco melhor elaborada do que o velho “Alguém morreu nesta casa e agora quer incomodar os novos moradores”. O restante é puro “Poltergeist”, repetindo inclusive a presença de um time de parapsicólogos que tenta ajudar a família, onde Lin Shaye ocupa o papel que fora de Zelda Rubinstein no filme do Hooper/Spielberg. A mensagem é a mesma (a família unida pode enfrentar qualquer parada, mesmo que envolva ameaças do além), e até o clímax é igual, com o pai (Patrick Wilson) tendo que atravessar para “o outro lado” para resgatar seu filho, como a mãe atravessava para resgatar a filha em “Poltergeist”. O curioso é que mesmo sendo um pastiche, um repeteco, “Sobrenatural” ainda consegue ser um bocadinho acima da média (até porque a média de mediocridade do horror contemporâneo produzido pelos grandes estúdios é bem fácil de ultrapassar). Não duvido, inclusive, que seja melhor que a refilmagem oficial de “Poltergeist” lançada em 2015, que eu não vi e nem vou ver. Pena que Wan cai na mesma armadilha em que cairia, anos depois, com “Invocação do Mal / The Conjuring”: seu filme é muito mais interessante na primeira metade, quando apenas sugere o horror, do que no terço final, quando começa a mostrar demais e tira todo o possível impacto da coisa. Porque há algo de incômodo e ligeiramente perturbador quando o menino diz aos pais que o irmão, tecnicamente em coma, não pára de caminhar pela casa durante a madrugada; ou nos sons estranhos que vêm do quarto do bebê pela babá eletrônica; ou no clássico “Tem alguém parado atrás de você” quando o espectador não está vendo nada atrás do Fulano (um tipo de susto que até já virou clichê, e foi reaproveitado pelo próprio Wan mais tarde em seu “The Conjuring”). Ao materializar os horrores, porém, “Sobrenatural” se torna aquele mais do mesmo repleto de jump scares, em que o volume do som é mais assustador do que o susto em si. Outros pontos positivos são a presença de Barbara Hershey (que nos anos 1980 já tinha sido assombrada no assustador “O Enigma do Mal “), a trilha sonora à la Bernard Herrmann de Joseph Bishara e um choque final inesperado e bastante eficiente (que depois seria completamente destruído na continuação). Se você também deixou o filme passar em brancas nuvens na época do lançamento, eis uma boa hora para resgatá-lo do limbo – e quiçá até levar uns bons sustos.


SOBRENATURAL: CAPÍTULO 2 (Insidious: Chapter 2, 2013, EUA/Canadá. Dir: James Wan)
Esta inevitável primeira continuação de “Insidious” é uma daquelas que resgata todos os personagens principais do original para colocá-los numa nova barca furada (mais ou menos como aconteceu em “Poltergeist 2 – O Outro Lado”). É uma proposta corajosa, já que seria mais simples contar uma história nova com outros personagens, como sempre fez a série “Amityville”. E ao mesmo tempo uma completa burrice, porque o original já se concluía satisfatoriamente e não havia necessidade de continuar nada. Este é o grande problema de “Sobrenatural: Capítulo 2”. A trama simplesmente pega a conclusão do primeiro filme, que foi uma bela sacada lá e um último choque bem digno, e a estica por novos 1h40min. Se no original era o pai, agora é a mãe (Rose Byrne) quem precisa proteger os filhos da ameaça sobrenatural, que também é bem mais “física” do que no filme anterior, porque desta vez envolve um caso de possessão. E se o original bebia na fonte de “Poltergeist”, este aqui está mais para uma chupinhação de “O Iluminado” – com o personagem de Patrick Wilson sendo consumido pelas forças do além e ameaçando a integridade física da família tipo um Jack Torrance. Diretor (Wan) e roteirista (Whannell) do primeiro filme voltam às suas funções, bem como quase todos os personagens (inclusive alguns que morreram!). Mas isso não garante a mesma qualidade e nem o mesmo interesse. De um hospital abandonado há décadas que ainda tem todos os registros dos pacientes (organizadinhos, para que os heróis encontrem facilmente o que procuram) à subtrama que tenta explicar a origem da “fantasma” do filme original citando “Psicose” (!!!), esta sequência vai ficando progressivamente mais imbecil e duro de acompanhar. E as cenas assustadoras, tão sutis no primeiro filme, aqui se resumem a jump scares praticamente esfregados na cara (e no ouvido) do espectador, repetidos com tanta frequência que logo você está rindo dos sustos ao invés de ficar incomodado com eles. Talvez o único momento interessante seja aquele em que o protagonista, aprisionado “do outro lado”, tenta se comunicar com a família, e aí descobrimos que as suas ações no além foram diretamente responsáveis por alguns dos fenômenos estranhos vistos no filme original – dando até vontade de revê-lo só para conferir se o roteiro é mesmo tão redondinho. Tirando isso, o conjunto é bem fraco e desinteressante, e nem parece que foi escrito, dirigido e interpretado por exatamente as mesmas pessoas do filme anterior.


SOBRENATURAL: A ORIGEM (Insidious: Chapter 3, 2015, Canadá/Reino Unido/EUA.
Dir: Leigh Whannell)
Sai Wan, entra o ator e roteirista da série Whannell na direção, e o nível deste terceiro filme da série “Insidious” sobe um pouquinho em comparação à Parte 2 – o rapaz se revelaria um diretor promissor, conforme demonstra o posterior “Upgrade” (2018). Mas não se engane: esta é uma sequência completamente descartável, que poderia ter qualquer outro título e ser um filme independente. “Sobrenatural: A Origem” é, como o título brasileiro anuncia, uma prequel que se passa anos ANTES das duas histórias anteriores (ainda bem, porque a trama destas já estava mais do que esgotada). Conta as desventuras de uma adolescente que, ao tentar se comunicar com a mãe morta, acaba atraindo uma entidade maligna “do outro lado” para assombrá-la. Ao contrário de Wan nos dois primeiros filmes, que deixava seus personagens livres para correrem e fugirem, neste cria-se um misto de tensão e claustrofobia ao confinar a protagonista a um pequeno espaço – atropelada logo no comecinho, ela fica com as duas pernas quebradas e é obrigada a permanecer na cama do seu quarto e à mercê do fantasma, sem poder sair correndo quando o bicho pega. Dermot Mulroney, como o pai que assiste aos fenômenos sem saber como reagir, empresta alguma seriedade à narrativa. E, como já tinha acontecido no primeiro filme, a melhor parte é enquanto só se sugere o horror e os fantasmas (por exemplo, quando a protagonista conversa com a amiga pelo Skype e a amiga pergunta quem é a pessoa ao seu lado, sendo que não há nada ali). Logo surge o conhecido time de parapsicólogos liderado por Lin Shaye e a coisa descamba para a gritaria e os efeitinhos barulhentos característicos da série, com mais uma voltinha pelo “outro lado” que meio que caracteriza a série “Insidious”. Aliás, uma coisa curiosa desta série é que, no primeiro filme, parecia super-difícil para cruzar a barreira entre os dois mundos, e a personagem da médium inclusive precisava se esforçar bastante para fazê-lo; a partir do segundo capítulo, basta fechar os olhos e contar até dez que QUALQUER PERSONAGEM já passa automaticamente para o além como se estivesse dando um passeio até o mercadinho da esquina, e ainda volta com a mesma facilidade de lá! Então, por mais que “Sobrenatural: A Origem” tenha mantido a minha atenção, também é o tipo de filme que você começa a esquecer 15 minutos depois de ver, pois não acrescenta absolutamente nada ao original. Pelo contrário, tenta desesperadamente imitar e reciclar tudo que funcionou lá, inclusive os sustos. E Whannell bem que poderia ter deixado os “caça-fantasmas” dos dois primeiros filmes de fora deste, optando por uma narrativa mais concisa e original. Ao usá-los mais uma vez como alívio cômico assumido (já que aqui eles ainda estão em início de carreira e mais atrapalhados do que de costume), o diretor-roteirista-ator acaba diluindo sobremaneira o horror pesado que vinha construindo até o trio entrar em cena.


SOBRENATURAL: A ÚLTIMA CHAVE (Insidious: The Last Key, 2018, EUA/Canadá.
Dir: Adam Robitel)
O quarto e por ora último (oremos!) episódio da série “Insidious” é disparado o pior. Leigh Whannell continua assinando o roteiro, mas a direção desta feita saiu da panelinha W.W. (Wan/Whannell) e foi assumida pelo inexpressivo Adam Robitel (de “A Possessão de Deborah Logan”), o que faz a queda de qualidade parecer ainda mais gritante. A proposta cronológica do filme também é um tanto esquizofrênica: começa como prequel do prequel, mostrando a infância da personagem de Lin Shaye nos anos 1950; depois vira sequência do prequel (!!!), e no final descobrimos que cronologicamente se passa apenas alguns dias antes do filme original. Logo, na escala temporal, a trama se desenrola, ao mesmo tempo, antes dos outros três, depois do terceiro e antes do primeiro filme – boa sorte para não se perder na cronologia, embora a linha temporal seja completamente irrelevante. Neste quarto filme, a médium interpretada por Lin Shaye, que aparecia em todos os filmes anteriores, finalmente ganha o protagonismo absoluto e precisa resolver uma questão pessoal, voltando à casa onde nasceu, no Novo Mexico, para investigar uma assombração e desvendar segredos de família. Pena que tudo, da trama à execução, seja lamentável, adicionando serial killers à mistura (o que já havia acontecido, em menor escala, no segundo filme), e até “fantasmas bonzinhos” para dar uma mãozinha na conclusão. Também desperdiça uma das melhores criaturas da série, esteticamente falando. Há uns absurdos gritantes, tipo o fato de a casa da protagonista ainda reunir todos os objetos pessoais da família dela meio século depois de os caras terem saído dali – como se os novos moradores que se mudaram para o local com o passar dos anos não se importassem com aquela montanha de coisas velhas e cobertas de teias de aranha acumuladas por outras pessoas. Aliás, é como se ninguém tivesse limpado a casa ou trocado as lâmpadas em 50 anos, pois o local vive empoeirado e escuro! E é curioso (e absurdo) que o trio de parapsicólogos tenha enfrentado criaturas tão terríveis e demoníacas no terceiro e no quarto filmes, que se passam ANTES do “Insidious” original, e ainda pareça tão aterrorizado com um episódio sobrenatural relativamente mais simples como aquele visto no primeiro capítulo da série, que é cronologicamente posterior a estes outros dois citados. Enfim, que esta bomba atômica seja mesmo “A Última Chave” e que ninguém mais consiga abrir a porta para novas continuações. Até porque eu definitivamente não consigo entender (SPOILER) porque os caras mataram a personagem de Lin Shaye no final do PRIMEIRO filme para depois trazê-la de volta nos três seguintes (como espírito no segundo, em episódios cronologicamente anteriores nos dois seguintes)! Por mais que seja legal ver a atriz como protagonista, ela que sempre foi uma eterna coadjuvante, também soa como um recurso bem fuleiro para resgatar a personagem, além de diluir o choque da sua morte inesperada no final do filme original. (FIM DO SPOILER) 


68 KILL (2017, EUA. Dir: Trent Haaga)
À primeira vista, “68 Kill” parece mais um daqueles clones de Tarantino surgidos após o sucesso estrondoso de “Pulp Fiction” lá em 1994, quando todo mundo imaginava que o segredo do sucesso do cinema tarantinesco se limitava a bandidos engraçadinhos e sangue a rodo (lembram daquelas imitações afetadas tipo “Um Amor e uma 45” e “Coisas para Fazer em Denver Quando Você Está Morto”?). Felizmente, o diretor Haaga (que vem do cinema B, tendo trabalhado como ator e roteirista em tosquices da Troma e do Charles Band) não demora a escapar da armadilha e seguir outro rumo, mais próximo da obra-prima “Depois de Horas”, de Martin Scorsese, ou das comédias-de-erros dos Irmãos Coen. Tipo Griffin Dunne no filme do Scorsese, o protagonista banana interpretado por Matthew Gray Gubler (de “500 Dias com Ela”, perfeito no papel principal) vai ficando cada vez mais ferrado e distante de casa por causa das relações (propositais ou puramente acidentais) que têm com diferentes mulheres excêntricas que encontra ao longo do caminho. Não vou falar muito sobre a trama para não estragar a surpresa, mas, em suma, é a história do tradicional roubo que dá errado, com o dinheiro trocando de mãos e trazendo resultados desastrosos para todos os envolvidos. É óbvio que o filme tem um caminhão de clichês, e se parece com centenas de outros já feitos. Mesmo assim, é uma bela diversão escapista, dirigida em ritmo acelerado e sem pisar no freio. A trama vai ficando mais e mais insana, repleta de um humor mórbido e muitas vezes grosseiro. E pelo menos Haaga se segura nos modismos e maneirismos visuais e narrativos, o que já é mais do que se pode dizer daquelas famigeradas cópias de Tarantino dos anos 1990-2000. Um belo filme, praticamente desconhecido, que vale a pena procurar – embora seu senso de humor não vá funcionar para todos os públicos...


STAND ALONE (1985, EUA. Dir: Alan Beattie)
Lançado em VHS no Brasil como “O Valor da Coragem” e exibido na TV como “Luta Solitária” (um título mais apropriado), “Stand Alone” é uma curiosidade fedendo a naftalina de um momento em que mesmo os filmes de ação mais absurdos eram levados totalmente a sério. Traz o saudoso Charles Durning como um veterano da Segunda Guerra Mundial que acaba envolvido com uma gangue das mais violentas, ao testemunhar por puro acaso uma execução cometida pelos marginais. Primeiro o velhote tenta se livrar do pepino pelos meios habituais e legais (a polícia, uma amiga advogada); desassistido por todos, e com a própria vida e a da família em perigo, resolve armar-se para responder aos bandidos na mesma moeda. O filme fica no meio do caminho entre um conto-de-fadas armamentista como “Desejo de Matar 3” (lançado no mesmo ano) e o realismo do posterior “Gran Torino” (2008), de e com Clint Eastwood. A situação enfrentada pelo pobre protagonista é totalmente crível, e seu sentimento de estar abandonado à própria sorte é algo com que o espectador ainda se identifica (talvez até mais hoje). É somente no ato final que “Stand Alone” parte para o terreno da fábula pura e simples: justo onde Clintão se deu mal em “Gran Torino”, o rechonchudo Durning (cuja pançona foi retocada na arte do pôster!) revela um inesperado heroísmo, encarnando John Wayne e defendendo o forte (sua própria casa) de arma em punho. É um tantinho duro de acreditar, considerando a pegada mais realista que o filme mantinha até então – momentos antes, por exemplo, o mesmo Charles Durning, corpulento e visivelmente fora de forma, suava para escapar na corrida dos bandidos que o perseguiam. Claro que o “duelo ao pôr-do-sol” é a conclusão que a maior parte do público espera diante do embate “cidadão de bem x marginália”. Se não fosse produção tão obscura, “Stand Alone” poderia ser usado hoje pelo pessoal mais à direita para ressaltar as virtudes da liberação do posse e porte de armas – como se na vida real todo velhote caquético conseguisse defender a própria casa de bandidos mais jovens, mais armados e sem nada a perder. Como produto de uma época (a famigerada Era Reagan), não falta nem a dose habitual de xenofobia, com os vilões todos latinos e o “herói” hasteando a bandeira dos EUA na frente de casa para mostrar que está defendendo não apenas o próprio lar, e sim todo o american way of life (a frase no cartaz não deixa nenhuma dúvida: “The story of a real American hero”). Como bônus, o elenco também tem Pam Grier, linda e maravilhosa como sempre. Tudo considerado, ainda prefiro “Desejo de Matar 3”, pela galhofa, e “Gran Torino”, por mostrar o que realmente aconteceria se um velhote tentasse realmente se meter com uma gangue da pesada. Mesmo assim, “Stand Alone” não faria feio na programação do Domingo Maior.


THE BELKO EXPERIMENT (2016, EUA. Dir: Greg McLean)
Uma das maneiras de definir “The Belko Experiment” não parece muito positiva: trata-se de um plágio puro e simples de “Battle Royale” – seja o livro de Koushun Takami‎ ou sua belíssima adaptação para o cinema por Kinji Fukasaku no começo dos anos 2000. Convenhamos, porém: num mundo em que um dos maiores cineastas vivos chupinha tudo que se move à sua volta sob o pretexto de “citação” (né não, Taranta?), às vezes vale ser generoso e encarar algo assim não como um plágio, mas uma VARIAÇÃO de “Battle Royale”. Uma outra forma de contar a mesma história. O caso é que funciona, viu? Se a história original de Takami mostrava estudantes de Ensino Médio sendo levados até uma ilha e forçados a matar uns aos outros (numa desculpa esfarrapada para prepará-los para a vida adulta), aqui o mesmíssimo argumento foi adaptado para o mundo corporativo. Certo dia, os funcionários de uma multinacional norte-americana em Bogotá, na Colômbia, descobrem que estão presos no interior do edifício convenientemente afastado da civilização. Uma misteriosa voz que vem pelo alto-falante ordena que eles matem uns aos outros. Se não o fizerem, serão todos mortos por um explosivo implantado em seus crânios – e até nisso o filme remete a “Battle Royale”, onde os jovens usavam um colar com explosivos. Dirigido pelo mesmo Greg McLean de “Wolf Creek”, e escrito por James Gunn entre seus dois “Guardiões das Galáxias”, este thriller pode ser encarado como uma sangrenta sátira à competitividade empresarial; o corte de funcionários é literal, e o chamado “alpinismo social” envolve escalar pilhas de cadáveres ensanguentados dos ex-colegas. Embora a ideia não seja exatamente nova, McLean consegue contá-la com certo frescor e boas surpresas, mantendo o tom sério e os níveis de tensão e suspense nas alturas. Mesmo que a gente já desconfie de início quem vai ficar vivo, o diretor brinca com as expectativas do espectador. Por exemplo: Michael Rooker, que geralmente interpreta o sujeito violento e casca-grossa, é um dos primeiros a bater as botas. E a maneira como os personagens começam tentando usar a razão, buscando diferentes saídas para a situação-limite em que se encontram, apenas prepara o clima para o inevitável momento em que as noções de civilidade dão lugar à barbárie – John C. McGinley e Tony Goldwyn interpretam personagens particularmente escrotos. Para completar o programa, o “experimento” é apresentado com uma quantidade impressionante de violência explícita, utilizando ótimos efeitos práticos de cabeças sendo esmagadas e/ou partidas que remetem àqueles saudosos tempos pré-computação gráfica. Mesmo considerando que não há muita novidade para quem já leu/viu “Battle Royale”, “The Belko Experiment” funciona e ainda faz pensar, de uma forma irônica, nas nossas relações diárias com os colegas de trabalho e chefes – nos moldes do recente e igualmente recomendado “Mayhem / Um Dia de Caos”.


SÍNDROME DE ÔMEGA (Omega Syndrome, 1986, EUA. Dir: Joseph Manduke)
É preciso se esforçar muito para conseguir fazer um filme ruim com este pôster e um argumento como o de “Síndrome de Ômega” (um jornalista alcoólatra juntando forças com um amigo dos tempos do Vietnã para enfrentar um grupo de supremacistas brancos). Porém, quem diria, o diretor Joseph Manduke se superou: o resultado não apenas é ruim, é simplesmente constrangedor. Por escolhas como esta, dá para entender porque o protagonista Ken Wahl nunca chegou a ser um grande astro de cinema, embora tenha alcançado relativo sucesso na TV como protagonista do seriado “O Homem da Máfia” no final dos anos 1980. Lembrando visualmente o Mel Gibson quando jovem, Wahl até se esforça e é a melhor coisa de “Síndrome de Ômega”, mas sozinho não consegue salvar um roteiro preguiçoso e uma “aventura” sem ação e com ritmo sonolento. Porque após um início eletrizante e promissor, onde abundam tiros e explosões, a narrativa entra em banho-maria e jamais se recupera. Nem mesmo o final, que mostra a dupla de heróis fazendo uma limpeza na organização, é capaz de despertar o espectador de seu estado semi-adormecido. Uma jovem Nicole Eggert – que nos anos 1990 iria aderir à peladância numa série de filmes classe B – aparece ainda menina como a filha de Wahl, que obviamente será sequestrada pelos vilões para motivar a reação do herói. E Xander Berkeley “interpreta” um dos vilões como se estivesse permanentemente cheirado – se o personagem não está, o ator certamente fez o filme movido a pó. Já o veterano Doug McClure, coitado, tenta emprestar alguma dignidade à produção e só consegue deixá-la com mais cara de telefilme vagabundo. Não por acaso, o diretor é mais conhecido por ter comandado episódios de seriados dos anos 1970-80 (dirigiu inclusive um capítulo do novelão “Dallas”!!!), e essa falta de intimidade com o cinema transparece em cada frame. No geral, o filme não serve nem para ver supremacistas brancos tomando o merecido castigo (para isso, prefira o imensamente superior “Na Trilha dos Assassinos”, de John Frankenheimer).


ABSOLUTAMENTE IMPOSSÍVEL (Absolutely Anything, 2015, Reino Unido. Dir: Terry Jones)
Morto em janeiro de 2020, o gênio Terry Jones, que era um dos integrantes mais criativos do grupo inglês Monty Python (e diretor de seus grandes clássicos), tinha sido diagnosticado com demência em 2015. Talvez não seja por acaso que seu último filme de ficção, este “Absolutamente Impossível”, tenha saído no mesmo ano. Porque esta comédia ora bizarra, ora bobíssima, parece justamente fruto de uma pessoa seriamente perturbada por algum problema mental. Brincadeiras à parte, consta que Jones e o colega Gavin Scott começaram a desenvolver o argumento ainda nos anos 1990, quando o primeiro estava bem de saúde. A demora injustificada para finalmente transformá-lo em filme acabou comprometendo o projeto. Não apenas por causa dos problemas de saúde de Terry, mas também por uma questão de timing, já que o filme finalmente pronto ficou parecido DEMAIS com comédias norte-americanas tipo “Click” (2006) e especialmente “Todo Poderoso” (2003). Se neste último Jim Carrey ganhava os poderes de Deus e aprontava altas confusões, aqui é Simon Pegg quem recebe, de uma poderosa raça alienígena, o poder de fazer o que desejar (“absolutamente qualquer coisa”, como diz o título original) simplesmente acenando com uma das mãos. Certos momentos pontuais e esporádicos deixam transparecer que há um ex-Monty Python a cargo do roteiro e da direção, como quando Pegg deseja um novo pênis “que satisfaça as mulheres”, e, ao conferir o resultado, emenda: “Pode ser o mesmo, só que branco?”. Em geral, porém, “Absolutamente Impossível” é absolutamente bobo e parecido com “Todo Poderoso”, transformando-se primeiro numa comédia romântica inofensiva, e depois numa completa bobagem quando entra em cena um vilão interpretado pelo insuportável Rob Riggle. Para complementar o desastre, tem até um cachorro falante (argh!) dublado por Robin Williams, em sua última contribuição cinematográfica (póstuma, gravada pouco antes de ele cometer suicídio em 2014). Considerando que o protagonista pode fazer, repito, “absolutamente qualquer coisa”, o roteiro fica preguiçoso bem rápido, como se o herói simplesmente não soubesse o que fazer com tanto poder. E embora Pegg seja um sujeito engraçado, ele dificilmente consegue segurar um filme inteiro sozinho (vide outras tentativas, como “Maratona do Amor”). Tirando meia dúzia de piadas mais pesadas, Kate Beckinsale lindíssima e as vozes de todos os integrantes ainda vivos (à época) do Monty Python, dublando os tais alienígenas, há pouco para ver e especialmente para relembrar. Terry Jones bem que poderia ter se despedido com um filme melhorzinho.


O MELHOR PAI DO MUNDO (World's Greatest Dad, 2009, EUA: Dir: Bobcat Goldthwait)
De todos os atores/humoristas que passaram para o lado de trás das câmeras, Bobcat Goldthwait não era exatamente aquele de quem se esperaria uma carreira consistente. Pois eis que o eterno Zed (dos primeiros episódios de “Loucademia de Polícia”) acabou se demonstrando um diretor e roteirista deveras interessante, com uma obra original e de certa forma surpreendente que não se acomoda em gêneros (ele já fez até terror found footage!). Eu tinha gostado muito da demolidora sátira “God Bless America”, de 2011, e só agora vi o filme anterior escrito e dirigido por Bobcat, “World's Greatest Dad”, onde o homem já dava sinais de talento trabalhando com temas desafiadores. Trata-se de um drama sensível, cujo roteiro mistura reviravoltas inesperadas com toques de humor negro. Também é estrelado por Robin Williams, um ator que eu particularmente sempre achei insuportável. Pois a primeira surpresa é que Williams segura a onda, e ainda me fez ficar sensibilizado com o seu personagem (que lembra muito o de Paul Giamatti em “Sideways”). Trata-se de um escritor frustrado que não consegue publicar seu(s) livro(s) e tem um emprego horrível, como professor de literatura prestes a ser demitido. Para completar a vida de merda, ninguém se importa com ele, nem mesmo o filho adolescente viciado em pornografia extrema, que o humilha na frente dos colegas – digamos que o moleque é um excelente argumento para se optar por métodos contraceptivos. Mas eis que algo acontece (sem spoilers aqui!) e a vida do protagonista muda por completo: ele se transforma subitamente no “melhor pai do mundo” do título e passa a ser amado por todos, mesmo que isso aconteça às custas de uma mentira das mais cabeludas. Sim, eu sei que soa puramente como um dramalhão sobre a relação “pai e filho-problema”... E é aí que Bobcat, também roteirista, entra com o plot twist: o filme vai tomando rumos cada vez mais imprevisíveis e interessantes, mostrando como uma mentira vai crescendo até sair do controle (um tema atualíssimo em tempos de fake news que destróem reputações). O filme é triste e sensível, e a interpretação de Williams passa longe das comédias bobas pelas quais ele ficou popular; quase deixa antever a depressão que consumia o ator, e que teria provocado sua morte auto-inflingida cinco anos depois. Aliás, uma das cenas-chave de “World's Greatest Dad”, sem spoilear muito, envolve a simulação de um suicídio por enforcamento, o que torna o filme ainda mais triste quando lembramos que foi a forma que Robin Williams escolheu para deixar o palco da vida real. E quando a gente pensa em como ele poderia ter se reinventado como ator, talvez fazendo mais belezuras tipo esta aqui ao invés de “Uma Noite no Museu Parte 20”, é até difícil não ficar amargurado após ver o filme. Quanto ao cineasta Bobcat, infelizmente ele parece ter deixado o cinema (em 2013) para dedicar-se a especiais e seriados de TV. Uma pena, porque eu estava muito curioso para ver o que este maluco faria a seguir...


RESGATE ARRISCADO (Sweet Revenge, 1987, EUA. Dir: Mark Sobel)
Quando você pensa que já viu de tudo nessa vida, aparece um filme todo torto e errado como “Sweet Revenge” para assombrar o seu fim de noite! Produzida em 1987, e sumariamente esquecida desde então – a despeito de ter gente famosa no elenco e a produção de Roger Corman –, esta bomba parece emular os filmes sexploitation rodados nas Filipinas durante os anos setenta, sobre escravas brancas mantidas à força em algum país estrangeiro. Nancy Allen, grande musa da década de 1980, “interpreta” uma das prisioneiras do ditador retratado sem muita convicção por um Martin Landau pré-Oscar de Melhor Ator Coadjuvante conquistado com “Ed Wood” (numa época em que o coitado aceitava qualquer cinquentinha para pagar o aluguel). Gina Gershon novinha e pré-“Showgirls” completa a relação de caras conhecidas no elenco. Com míseros 78 minutos (?!?), qualquer tentativa de desenvolver personagens ou situações escoa pelo buraco – e assim a mulher que vê o marido sendo brutalmente assassinado já está na cama com outro homem míseras 48 horas depois, quando o corpo do primeiro sequer esfriou. Apesar de lembrar os já citados sexploitation da década anterior, “Sweet Revenge” suaviza a sacanagem inerente a esse tipo de produção e a substitui pelos tiros e explosões características dos anos 1980. A única exibição rápida de peitos acontece na obrigatória cena de banho sem roupa na cachoeira – o tipo de coisa imprescindível quando você está numa situação de vida ou morte, fugindo de mercenários pela selva. Num roteiro impossível de levar a sério, o destaque vai para duas adolescentes que passam a usar metralhadoras com maior destreza do que soldados treinados para matar (“Nós vimos o filme do Rambo. Duas vezes”, justifica uma delas). Uma trilha sonora exagerada estilo Indiana Jones/John Williams, tocando sobre cenas em que tal música sequer combina, sublinha este desastre obrigatório para fãs de cine-podreira, ou para quem adora ver gente conhecida pagando mico. Um troço que eu só não transformo em resenha maior porque é tão ruim que nem para isso serve; que sequer é tão engraçado quanto poderia e deveria ser. Obviamente, o que está na tela não é nem de longe tão emocionante quanto o que aparece no belo pôster desenhado, típico daquele período pré-Photoshop. Em suma, um filme-ruim-quase-bom, que ficou no meio do caminho entre uma catástrofe completa e algo realmente divertido e memorável.


NIGHTMARE CINEMA (2018, EUA. Dir: Mick Garris, Joe Dante, Alejandro Brugués,
Ryûhei Kitamura e David Slade)
Terminemos com uma quadra de filmes recentes divididos em episódios conduzidos por múltiplos diretores. Os três primeiros são antologias de histórias de horror, que aparentemente voltaram à moda depois de fazer muito sucesso entre os anos 1960-80. No passado, vale lembrar, esse tipo de antologia funcionava como uma bela oportunidade para REALMENTE contar boas histórias – e aí estão as produções da Amicus, e filmes como “Creepshow” e “Contos da Escuridão”, para comprovar. Um mesmo diretor ficava a cargo de todos os segmentos, geralmente inspirados em contos de grandes mestres como Richard Matheson, Stephen King e Ray Bradbury. Até havia um ou outro episódio mais fraco, mas os outros, muito bons, compensavam. Hoje, infelizmente, a antologia de horror virou um formato picareta, utilizado como desculpa para reunir amigos diretores num projeto rápido e fácil de longa-metragem, já que curtas, isoladamente, têm menos visibilidade. Só que, com diferentes realizadores e tramas, fica difícil manter um padrão de qualidade sequer parecido com o das produções supramencionadas. “Nightmare Cinema” é um belo exemplo dessa nova forma, toda errada, de se fazer antologias. Cinco diretores com estilos totalmente diferentes assinam segmentos sobre personagens que descobrem seu trágico destino dentro de uma velha sala de cinema – onde suas futuras mortes serão exibidas na telona por um projecionista macabro (sem camisa!) vivido por Mickey Rourke. O “anfitrião” não chega a fazer diferença na narrativa, e o coitado do Rourke está ainda mais grotesco que o habitual – quem diria que este homem foi um dos sex symbols da década de 1980... O conjunto é extremamente irregular. A primeira história, de Alejandro Brugués (“Juan of the Dead”), é a melhor, subvertendo os clichês dos filmes slasher. Pena que sequer é novidade, pois Mike Mendez já tinha feito a mesma coisa antes em outra antologia mais inspirada (“Tales of Halloween”, de 2015). Joe Dante assina um segundo episódio razoável envolvendo cirurgia plástica, que nos dá a oportunidade de rever o envelhecido galã Richard Chamberlain como médico malvado; mas, entre as muitas possibilidades de desfecho para a história, parece que escolheram a mais imbecil. Daí em diante é ladeira abaixo, com uma história mais fraca que a outra, e todas mais longas do que deveriam (ficando na faixa dos 20 minutos cada). A pior, disparado, é a de David Slade – pretensiosa que só e filmada em preto-e-branco. E Mick Garris, idealizador do projeto, dirige a mais estúpida, infelizmente deixada para o final, fechando o filme com chave-de-bosta. O fato de vários desses sujeitos serem veteranos com alguns bons anos de estrada (especialmente Dante, cuja decadência é perceptível a cada novo filme) torna “Nightmare Cinema” ainda mais constrangedor. Definitivamente não é o tipo de produto preguiçoso que se espera de veteranos com uma longa filmografia, inclusive no campo das antologias e seriados de horror (Garris também foi o idealizador da saudosa série “Masters of Horror”). A duração absurda, que bate nas duas horas, é mais um argumento para passar longe desta tragédia – no mesmo tempo, dá para ver quase duas antologias bem melhores da Amicus, como “As Torturas do Dr. Diabolo” ou “As Profecias do Dr. Terror”, filmes dos quais “Nightmare Cinema” empresta alguns elementos.


FERIADOS (Holidays, 2016, EUA. Dir: uma cacetada de gente)
Se nem os veteranos do gênero conseguem fazer coisa que preste no formato antologia, quem dirá os novinhos que estão chegando agora. “Feriados”, na proposta, é uma coisa linda: trata-se de uma coletânea de episódios de horror cujas histórias se passam em datas comemorativas, como Natal, Páscoa e Halloween. Já foram feitos filmes de terror inteiros sobre a maioria dessas datas, então os diretores poderiam liberar a imaginação da maneira mais radical em histórias curtas. Só que não foi o que aconteceu, e o resultado é frustrante em todos os sentidos! Pouquíssimo se salva nas histórias, que vão da estranheza estilo “O que esse cara fumou ao escrever/dirigir isso?” ao simplesmente previsível ou banal. Apenas duas das datas/histórias são legalzinhas e minimamente memoráveis: Ano Novo (por Adam Egypt Mortimer) e Páscoa (por Nicholas McCarthy). Esta última, inclusive, traz uma criatura bizarra que mistura Jesus Cristo com o Coelho da Páscoa, digna dos delírios do Ken Russell. Mas nenhum dos segmentos, nem mesmo esses dois que achei legais, consegue desenvolver suas ideias a contento, e os diretores terminam as tramas de qualquer jeito – como se tivessem que cumprir o tempo estipulado à força, independente de a narrativa ter algo próximo de um desfecho. Para piorar, a maioria dos episódios pouco ou nada aproveita das datas comemorativas que são o tema da antologia. As histórias de Halloween, Natal e Dia das Mães, por exemplo, poderiam ter se passado em qualquer outro dia “normal”. A surpresa, no mau sentido, é constatar que a pior história foi assinada pelo ex-revelação, ex-queridinho indie, ex-promessa Kevin Smith, aqui dirigindo o segmento mais preguiçoso em piloto automático. Era para ser sobre o Dia das Bruxas, só que a data é mencionada apenas duas vezes verbalmente, e a história (envolvendo pornografia na internet) não tem qualquer relação com Halloween, num total desperdício de um dia cheio de simbolismos e infinitas possibilidades para trabalhar o horror (como bem demonstrou John Carpenter em 1978). Ao final do longa, a sensação de tempo perdido é tão grande que, mais do que com raiva, o espectador fica é com pena de não terem reunido um time mais inspirado para uma ideia que soava genial. Só podemos sonhar com um “Holidays Reboot” num futuro próximo, reunindo uma equipe decente e histórias melhor trabalhadas.


XX (2017, EUA. Dir: Roxanne Benjamin, Karyn Kusama, St. Vincent e Jovanka Vuckovic)
E por falar em decepção... Este é aquele tipo de projeto que já nasce cult: uma antologia de histórias de horror escritas e dirigidas por mulheres, e com personagens principais mulheres. O grande problema de “XX” obviamente não tem nada a ver com o sexo das realizadoras – que funciona como excelente ferramenta de marketing, porém não influi em absolutamente nada no resultado final. O grande problema é que as quatro histórias oscilam entre o mais ou menos e o muito ruim, e as duas mais razoáveis (a de Jovanka Vuckovic, envolvendo uma caixa misteriosa, e a de Roxanne Benjamin, sobre dois casais em férias num lugar amaldiçoado) têm ideias muito interessantes, mas as diretoras não parecem saber o que fazer com elas. O segundo segmento, da festa de aniversário, é apenas péssimo, e o quarto e último se perde no meio do caminho (e não passa de uma grande variação de um certo clássico dos anos 1960 dirigido pelo Polanski). Talvez a melhor coisa desta antologia sejam as sinistras vinhetinhas animadas entre os episódios, produzidas por Sofia Carrillo, que lembram o trabalho do tcheco Jan Svankmajer. O restante deixa uma sensação de picaretagem generalizada. Como se algum produtor espertalhão tivesse juntado quatro curtas independentes, e já prontos, todos convenientemente dirigidos por mulheres, para fazer uma antologia facinha – uma grande evidência disso é o fato de que, em todos os episódios, o título da história aparece DUAS VEZES, a “oficial” no início do segmento e uma segunda e inexplicável vez logo adiante. O pior é que “XX” gerou debates acalorados por conta do sexo das diretoras, como aconteceu com aquele remake das Caça-Fantasmas. Ninguém analisava o filme em si: o pessoal do contra dizia que mulher não sabe fazer terror, o pessoal a favor dizia que o filme era uma resposta à falta de oportunidades para mulheres no cinema de gênero. Ambos errados, já que muitos filmaços de gênero foram dirigidos por mulheres, tipo “Cemitério Maldito”, “Humanoids from the Deep” ou a série “Slumber Party Massacre”. Da próxima vez talvez seja melhor caprichar mais nos roteiros e nos episódios; afinal, o sexo das diretoras não deveria ser o único fator para se vender um projeto.


PARA MAIORES (Movie 43, 2013, EUA. Dir: uma cacetada de gente)
Encerremos esta postagem e esta sequência de antologias com uma das produções mais massacradas dos últimos tempos. Na época do seu lançamento, “Movie 43” foi indicado a quase todos os Framboesas de Ouro, o Oscar dos Filmes Ruins, em 2014. E ainda ganhou os principais: Pior Filme, Pior Diretor (neste caso, Diretores) e Pior Roteiro. Para mim, ultimamente o Framboesa de Ouro está muito mais interessante que o Oscar (vale lembrar que quem ganhou o Oscar em 2014 foi “12 Anos de Escravidão”, do qual ninguém mais lembra!). Encarei “Movie 43” já esperando por uma bomba atômica, mas o que vi foi uma comédia completamente imbecil e grosseira que, tirando um ou outro segmento (o filme é dividido em esquetes), consegue fazer rir do começo ao fim – desde que você tenha o devido senso de humor bizarro ou nível de retardo mental, claro. No meu caso, o mais engraçado foi ver tanto astro sério pagando mico, sob o comando de alguns dos cineastas mais sem-noção da Hollywood atual, como Peter Farrelly, James Gunn e Steven Brill. Talvez um homem com um saco escrotal no pescoço não seja algo tão engraçado se contado como piada na mesa de bar; já ver um super-galã tipo Hugh Jackman com um saco escrotal no pescoço, e ainda por cima num encontro amoroso com uma super-estrela tipo Kate Winslet, é simplesmente engraçadíssimo! E esses dois nem são os únicos astros passando vergonha ao protagonizar piadas de gosto extremamente duvidoso: tem Richard Gere como uma espécie de Steve Jobs que aprova o IBabe, um reprodutor de MP3 em formato de mulher pelada; a “Hit Girl” Chloë Grace Moretz numa situação extremamente constrangedora envolvendo a primeira menstruação no primeiro encontro; a Oscarizada Halle Berry fazendo guacamole com os peitos (e este nem é o primeiro micão dela, vide “Mulher Gato”); Terrence Howard mal segurando o riso como um treinador que tenta convencer seu time de basquete de que eles vão ganhar o jogo apenas porque são negros, e por aí vai. Não existe uma única piada no filme que não seja ofensiva ou de baixo nível, com destaque absoluto para a do sujeito que é convidado a defecar na noiva (a popular “chuva marrom”) e toma laxante para ajudar no efeito, com os resultados esperados, e sem qualquer sutileza. Enfim, eu entendo perfeitamente porque “Movie 43” foi um dos maiores fiascos de público e crítica dos últimos tempos: ninguém quer admitir, hoje, que é débil mental e se diverte com piadas tão apelativas. E o filme tem, sim, altos e baixos, sendo na maior parte do tempo mais grosseiro do que propriamente engraçado. Porém volto a enfatizar: só o fato de ter tanta gente boa/conhecida fazendo papel de palhaço (o Gerard Butler como leprechaun, pelamor...) já é metade da piada! Para públicos beeeeeem específicos – mas se você está num blog chamado Filmes para Doidos já deve saber o que esperar...

16 comentários:

Daniel I. Dutra disse...

Lin Shaye apareceu nas sequências de Insidious porque ela virou figura Cult, uma espécie de Dick Miller de saias do gênero horror, com a diferença de que insidious foi seu primeiro papel de destaque. Então os produtores quiseram capitalizar em cima da popularidade da "madrinha do horror"(como ela é conhecida lá fora).

Jack Cruz disse...

É, meu caro, tá difícil encontrar filmes bons de terror atualmente.

Steve marllon disse...

Eu também dei altas gargalhadas com "para maiores" e desde a época que eu vi esse filme lá em 2014, eu já imaginava uma resenha dele aqui nesse blog kkkkkk (acompanho o filmes para doidos desde meados de 2012) e realmente é uma comédia que apela para o constrangedor, e foi bem bizarro pra min ver tanta gente famosa em esquetes de humor totalmente sem freios kkkkkkkk

Anônimo disse...

Está é difícil encontrar BONS FILMES... O que está salvando um pouco são os que vêm da Ásia (alguma coisa séria da Coréia ou uma maluquice japonesa) já que de resto...

Raphael Silvierri disse...

Os textos são tão saborosos que tenho vontade de ver até alguns filmes que o Felipe não recomenda...rsrs

@jb1969cinema disse...

Textos hilários, Felipe! Parabéns!

Axe From Hell disse...

Finalmente achei alguém que pensa a mesma coisa sobre O Farol: lindo, belas atuações e roteiro nem lá nem cá.

Eu diria que o Farol são dois bêbados na seca querendo pegar um ao outro e tendo delírios cheios de fetiche com coisas sem sentido.

Anônimo disse...

Guns Akimbo mais um filme com uma mensagem anti-gamer na pegada de Gamer de 2009. Estou cansado desses filmes que estereotipam os gamers e com mensagens moralistas sobre videgames. Como se também não tivessem muitos filmes violentos e de ação.

Anônimo disse...

"O ex-Harry Potter Radcliffe interpreta um zé-ninguém que, sem namorada, amigos ou vida social, se diverte batendo boca no twitter e nos campos de comentários de sites", parece que foi baseado na minha vida.

Anônimo disse...

Tom Hardy serve mais pra vilao do que para o papel a que foi indicado, parece um zumbi o cara, ele nao passa para quem assisti o filme aquele carisma que Mel Gibson passava quando fez o Mad Max, e sem falar que estragaram o carro um classico V8 , olha sinceramente pra fazer o que esse ator fez chamasse o Mel Gibson de novo porque esse Tom Hardy não esta com nada, ja a atriz principal é mais Mad Max do que ele.

Anônimo disse...

Mad max sem o mel Gibson não é mad max.

Anônimo disse...

Judd Cruz, as pessoas sempre fizeram filmes ruins e algumas pessoas sempre gostaram deles. A única razão pela qual a mídia antiga parece melhor é que grande parte do conteúdo ruim foi perdida com o tempo.

É como as estações mais antigas tocam música mais boa porque paramos de tocar as músicas ruins de épocas passadas, mas ainda ouvimos uma porcaria só porque é novo e as gravadoras estão pressionando essas músicas.

Anônimo disse...

Sobre o Farol.

Eu honestamente não entendo por que as pessoas gostam de criar esse maniqueísmo entre filmes mais convencionais "blockbuster" e filmes menos convencionais "cult". Como se não fosse possível uma pessoa apreciar ao mesmo tempo "2001: uma Odisseia no Espaço" e "Vingadores:Ultimato". Como se a pessoa fosse "arrogante, prepotente e elitista" por gostar de um, ou "ignorante, inculto e grosseiro" por gostar do outro.
No fim das contas, sempre defendo que podemos gostar tanto do mais convencional quanto do menos convencional. Não é necessário criar essa "rivalidade". Da mesma forma, é sempre possível ter um olhar crítico em relação a aspectos presentes no cinema e nos filmes do passado e atuais, mas sempre tentando ser razoável e bem informado.

Anônimo disse...

Como eu queria ter tido acesso a internet e a esse blog desde dos anos 2000, assim não teria perdido tempo assistindo filmes ruins e escolheria melhor. Eu tive uma infância pobre e só tive um computador em 2013. O mundo não é justo.

Anônimo disse...

Fury Road foi ótimo, mas teria sido épico com Gibson no papel de um velho Max mal-humorado.

Anônimo disse...

Mel Gibson: racista, antissemita, bate na esposa

*perde papel por esses motivos*