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domingo, 11 de setembro de 2011

GLADIATOR (1986) e BANZAI RUNNER (1987)


Hoje o FILMES PARA DOIDOS ataca com uma Sessão Dupla temática: "Segurança no Trânsito". Vou falar sobre dois filmes completamente diferentes, mas que, por coincidência, foram produzidos na mesma época e abordam tema semelhante: o protagonista resolve fazer justiça com as próprias mãos para vingar o irmão morto em um acidente de trânsito.

O primeiro deles é GLADIATOR, uma produção para a TV de 1986 que pouquíssima gente lembra que foi dirigida pelo respeitado Abel Ferrara, alguns anos antes de cair nas graças da crítica com os policiais "O Rei de Nova York" e "Vício Frenético". Foi reprisado várias vezes pelo SBT e era bastante popular nas locadoras brasileiras quando saiu em vídeo pela Poletel.

O segundo é uma produção muito mais obscura chamada BANZAI RUNNER, segundo dos cinco filmes de um sujeito chamado John G. Thomas, raridade do nosso mercado de vídeo (quem achar a fita lançada pela VMW Filmes ganha um pirulito) e um daqueles tosquíssimos casos em que o título original em inglês ganhou uma "tradução" também em inglês no Brasil, nesse caso "Narco Killer" (o que me lembra o caso "Rawhead Rex"/"Monster - A Ressurreição do Mal"!!!).

Sem mais delongas, vamos analisar a trajetória desses justiceiros das estradas, que com certeza teriam que trabalhar 24 horas aqui nas nossas rodovias brasileiras...


GLADIATOR (1986)


É bem provável que GLADIATOR seja um filme muito mais popular aqui no Brasil do que no país em que foi produzido. Afinal, enquanto por aqui virou clássico da TV aberta (sendo reprisado infinitas vezes no Cinema em Casa com o título "O Gladiador das Ruas") e foi bastante popular nos tempos do VHS, lá fora é até difícil encontrar resenhas sobre a obra. E olha que estamos falando de um filme de Abel Ferrara!

Pois se hoje Ferrara é um nome respeitado, lá atrás, em 1986, seu trabalho ainda era pouco reconhecido, pois estava em plena transição das produções independentes (ele começou fazendo pornô e o terror sangrento "O Assassino da Furadeira" nos anos 70) para o "mainstream", assinando trabalhos para a TV norte-americana, como episódios e "Miami Vice" e o piloto da série "História do Crime".


Talvez o próprio diretor não tenha muito orgulho desse seu telefilme, já que nunca fala sobre ele em entrevistas, nem ao menos há uma edição decente em DVD para fazer a alegria de seus fãs. Seja como for, de tanto passar na TV aberta aqui no país, é bem possível que GLADIATOR tenha educado mais futuros motoristas para os perigos do trânsito do que aquelas aulas fuleiras de auto-escola!

O engraçado é que eu vi o filme através da fitinha da Poletel, ainda moleque, e não lembrava nada sobre ele além do fato de ter como herói um vingador dirigindo uma caminhonete cheia de gadgets, como um canhão disparador de ganchos, que ele usa para "arpoar" os veículos dos infratores como se fossem baleias em alto-mar!


Revendo-o agora, depois de "velho", cheguei a tomar um susto: GLADIATOR tem trama muito, mas muito parecida com "À Prova de Morte", filme de Quentin Tarantino pelo qual não morro de amores. Poderia até ser relançado como sequência ou mesmo prequel deste, por também trazer um psicopata que usa um carro preto (nesse caso, um Dodge Charger 1969) como arma para matar vítimas pela estrada.

A diferença é que o sujeito não mata inocentes aleatoriamente, como o Stuntman Mike interpretado por Kurt Russell no filme de Tarantino, mas sim motoristas imprudentes - bêbados no volante, pessoas que ultrapassam o sinal vermelho. Estes recebem uma punição extrema por seus erros na estrada.


Numa noite dessas, o psicopata comete o erro de atacar a caminhonete em que estão o mecânico Rick Benton (Ken Wahl) e seu irmão menor Jeff (Brian Robbins), provocando um grave acidente. Mas apenas Jeff morre, deixando seu irmão emputecido e ávido por vingança.

Depois de recuperar-se no hospital, Rick usa seus conhecimentos de mecânica para transformar sua velha caminhonete num veículo blindado e repleto de acessórios à la James Bond, assume o codinome "Gladiador" e passa a patrulhar as ruas da cidade à noite, livrando-as de motoristas bêbados e rachadores, ao mesmo tempo em que persegue o psicopata do carro preto para vingar seu irmão.


Qualquer outro cineasta sentado na cadeira de diretor de
GLADIATOR
dificilmente resistiria à tentação de fazer uma história mais fantasiosa, vestindo o herói com algum uniforme ou máscara para combater o crime, por exemplo. Ou então faria seu veículo mais espalhafatoso e "high-tech".

Ferrara escapa dessa armadilha e finca os dois pés no terreno do realismo. Rick Benton continua sendo Rick Benton mesmo quando faz o papel de Gladiador, e tem a sorte de que os maus motoristas que combate na madrugada não conseguem fazer seu retrato-falado depois. Ao cineasta, interessa menos a ação e o "heroísmo" do personagem, e mais o comentário social a respeito do papel do vigilante e da polícia.

Afinal, GLADIATOR é uma história policial séria sobre um psicopata motorizado que pune maus motoristas e que é perseguido por um sujeito igualmente fora-da-lei que se auto-intitula Gladiador e sai pela madrugada fazendo a mesmíssima coisa que o homem que está caçando (embora sem assassinar os infratores, como faz o vilão).


OK, então o "herói" está agindo em nome da lei e da segurança dos outros motoristas? Talvez sim, mas o roteiro lança dúvidas sobre isso - como quando ele ataca um homem que estava correndo apenas para levar a esposa em trabalho de parto para o hospital. Ferrara também destaca que seu "herói" não deixa de ser um fora-da-lei. A discussão sobre certo e errado permeia o filme todo.

Inclusive a gatinha Nancy Allen aparece como uma radialista que comenta e condena as ações do Gladiador em seu programa (uma espécie de J. Jonah Jamenson de saia), ao mesmo tempo em que se envolve romanticamente com Rick sem nem imaginar que ele é o polêmico personagem que ela critica!


A conclusão, claro, envolve um duelo final sobre quatro rodas (oito, no caso) entre Rick/Gladiador e o temido psicopata do Dodge preto, que, quem diria, também tem um veículo cheio de gadgets! O confronto será num ferro-velho e termina de maneira inesperada, comprovando a ênfase de Ferrara no realismo das situações.

GLADIATOR é muito mais movimentado que "À Prova de Morte", já que comparei os dois filmes no começo da resenha. Inclusive alguém podia fazer uma "fan edit" cortando uma hora do bate-papo xarope da obra do Tarantino e adicionando no lugar alguns dos ataques do psicopata do filme de Ferrara, como se fosse o próprio Stuntman Mike (os carros pretos são parecidos).


Entretanto, mesmo mais movimentado e com mais ataques do vilão que "À Prova de Morte", GLADIATOR continua sendo uma aventura bem fraquinha e pouco empolgante. Demora uma eternidade para que Rick finalmente se transforme no Gladiador, e suas ações como vigilante passam longe de ser emocionantes - até porque o herói é bonzinho e se recusa a matar ou sequer agredir os infratores que persegue e pune.

O romance de Rick com a radialista é tão gratuito que não demora a ser esquecido pelo roteiro, e o veterano Robert Culp até parece desperdiçado como um policial cabeçudo que acredita que o Gladiador e o assassino do carro preto são a mesma pessoa. Para piorar, todas as cenas entre as perseguições parecem excessivamente longas, esticadas até o limite do suportável, como se o editor tivesse apenas 60 minutos de material bruto e ficasse repetindo cenas do herói dirigindo para fechar o tempo de um longa-metragem.


Talvez por todos esses problemas, GLADIATOR tenha se tornado um verbete esquecido na filmografia de Abel Ferrara, que, como eu escrevi, não deve se orgulhar muito desse seu trabalho extremamente convencional.

Por falar em esquecido, é bom destacar que o protagonista Ken Wahl era um ator promissor naquela época: fez filmes como "Forte Apache, Bronx" e "Marcados pela Guerra", além de estrelar o seriado de sucesso "O Homem da Máfia". Nos anos 90, Wahl sumiu do mapa. Segundo o IMDB, o desaparecimento aconteceu por causa de sequelas provocadas por um acidente de motocicleta que ele sofreu em 1992.

E eu pensando que Wahl continuava patrulhando as ruas em tempo integral com sua caminhonete...

PS: O cara estiloso e com roupa de justiceiro malvado no pôster do filme NÃO é o Ken Wahl. E ele não usa aquela roupa fodona no filme.


BANZAI RUNNER (1987)


Se o filme anterior tinha um quê de "À Prova de Morte", BANZAI RUNNER (não, eu não vou usar a "tradução" do VHS brasileiro, "Narco Killer", que não faz qualquer sentido) pode ser definido como o avô da série "Velozes e Furiosos".

Compare: no filme que Rob Cohen dirigiu em 2001, Paul Walker interpreta um policial de Los Angeles que, disfarçado, infiltra-se num grupo de criminosos que disputa pegas com carros super-envenenados. Para manter o disfarce, ele próprio precisa se tornar um "rachador".

Já nessa obra aqui, dirigida, co-escrita e produzida por John G. Thomas, o eterno coadjuvante Dean Stockwell (!!!) foi promovido a protagonista e interpreta um policial rodoviário de Nevada que, igualmente disfarçado, infiltra-se num grupo de ricaços que igualmente disputa pegas com carros super-envenenados. Ele igualmente precisa se tornar um "rachador", mas seu objetivo não é apenas manter a lei e a ordem: como Ken Wahl em "Gladiator", ele quer mesmo é encontrar o sujeito que matou seu irmão num acidente na estrada.


É até engraçado comparar BANZAI RUNNER com "Velozes e Furiosos" porque, neste filme de 1987, temos no máximo um "Rapidinhos e Levemente Revoltadinhos". O próprio cinema de ação sofreu uma mudança gigantesca nos 15 anos que separam as obras. E enquanto Paul Walker e sua turma protagonizam perseguições em alta velocidade repletas de CGI a cada 15 minutos, Stockwell tem que se contentar com apenas dois pegas em quase 1h30min de filme.

Detalhe: como em 1987 o CGI não era uma ferramenta popular para realizar cenas de ação, e BANZAI RUNNER é uma produção bem fundo de quintal, os realizadores simplesmente filmaram os carros em velocidade "normal" (90, no máximo 100 km/h) e depois "aceleraram" a velocidade dos fotogramas na montagem, para fazer parecer que os caras estão dirigindo a 200 km/h! Às vezes funciona, mas quase sempre não.


E é até curioso ver Dean Stockwell como "herói de ação", considerando que seu personagem é bunda-mole a maior parte do tempo, demonstrando um mínimo de atitude apenas na cena em que enfrenta um motorista bêbado na estrada.

Seu policial, chamado Billy Baxter, vive com o sobrinho órfão, Beck ("interpretado" por John Shepherd, o Tommy de "Sexta-feira 13 Parte 5"). Algumas das cenas mais engraçadas do filme decorrem da completa incapacidade de atuação de Sheperd. E de momentos esdrúxulos como aqueles em que o jovem insiste em fumar maconha mesmo sabendo que tem um tio-padrasto policial por perto, ou às vezes até do lado (mesmo o mais doidão dos maconheiros evitaria acender um baseado enquanto dirige com o tio-padrasto policial dormindo no banco do passageiro!).


E se em "Velozes e Furiosos" o bicho pega o tempo inteiro, aqui o herói só tem a chance de mostrar suas habilidades de rachador na meia hora final. É quando o policial é despedido da corporação (por insistir em usar um carro envenenado para cumprir suas funções) e aceita uma missão secreta da Narcóticos para se infiltrar na quadrilha que pratica rachas e, nas horas vagas, trafica cocaína.

Baxter descobre que o malvadão da trupe, Syszek (Billy Drago com penteado de Martin Short!!!), é o homem responsável pela morte do seu irmão, e todos os conflitos serão resolvidos na estrada e em alta velocidade.


Apesar da lentidão, da pobreza e das poucas cenas de ação, confesso que fiquei entretido com BANZAI RUNNER. Ok, não é "o" filme sobre rachadores que eu indicaria caso me pedissem dicas de produções com o tema, e a "idade" da produção não influencia em nada, pois "Mad Max" foi feito quase 10 anos antes e é muito mais "veloz e furioso".

Gostei de BANZAI RUNNER justamente por ele oferecer uma abordagem mais realista, quase intimista, de um argumento semelhante ao do posterior "Velozes e Furiosos". Você dificilmente vai engolir o surfistinha Paul Walker como policial, mas Dean Stockwell parece um; é difícil entender as motivações do herói de Walker, mas não as de Stockwell em sua busca de vingança; finalmente, as poucas perseguições e rachas de BANZAI RUNNER são muito mais críveis e menos absurdos do que toda e qualquer cena de "Velozes e Furiosos".


E o filme de John G. Thomas tem algumas bobagens divertidíssimas. Além da teimosia do jovem Beck de acender baseados perto do tio careta, há um momento belíssimo em que uma garota vadiazinha propõe ao rapaz uma brincadeira chamada "Speed Strip", em que tirará uma peça de roupa para cada 20 km/h que ele ultrapassar do limite de velocidade da rodovia! (Mas não se assanhe, o filme não tem nem um único peitinho de fora...)

A pobreza geral da produção também rende algumas gargalhadas, como na cena em que Baxter vai encontrar um mega-executivo dono de dezenas de carrões como Porsches e Ferraris, e o escritório do sujeito tem apenas uma mesinha e um telefone, sem nenhuma decoração ou mobília chique no cenário!


Phil Harnage, que co-escreveu BANZAI RUNNER ao lado do diretor Thomas, antes era roteirista de desenhos animados, como "He-Man" e "She-Ra". Isso talvez explique a presença de personagens como Traven (Charles Dierkop), um mecânico maluco que mata moscas com tiros de revólver! Ele é um personagem tão deslocado na narrativa que parece ter saído de uma história em quadrinhos!

Pelo lado negativo, muita coisa está sobrando no enredo, como a relação atribulada de Beck com sua namorada (um conflito que jamais chega a uma resolução), ou o drama de Baxter estar prestes a perder sua casa para a ex-esposa (um único diálogo sobre isso já bastaria, mas o filme estica esse dramalhão até parecer novela mexicana).


Embora passe longe de ser um grande filme, BANZAI RUNNER é uma obra a ser (re)descoberta. Principalmente pela sua obscuridade (existem poucas resenhas sobre ele mesmo lá nos EUA).

E também porque, hoje, já não se fazem filmes assim, paradões, instrospectivos, realistas, com um quarentão como Dean Stockwell no papel principal e Billy Drago como vilão...

Só tem um grande problema: quem engole um filme sobre carros velozes e rachadores que não passa dos 30 km/h? Ou que parece estar em câmera lenta?

Trailer de GLADIATOR



Créditos iniciais de BANZAI RUNNER



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The Gladiator (1986, EUA)
Direção: Abel Ferrara
Elenco: Ken Wahl, Nancy Allen, Robert Culp,
Stan Shaw, Rosemary Forsyth, Bart Braverman,
Brian Robbins e Rick Dees.

Banzai Runner (1987, EUA)
Direção: John G. Thomas
Elenco: Dean Stockwell, John Shepherd, Charles
Dierkop, Barry Sattels, Billy Drago, Dawn Schneider,
Ann Cooper e Rick Fitts.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

PROJETO FILADÉLFIA (1984)


É sempre um risco rever aqueles seus filmes preferidos da infância. Afinal, para cada "Fuga de Nova York", "Mad Max 2" e "A Noite dos Arrepios", que parecem envelhecer como o vinho, existem incontáveis obras tipo este PROJETO FILADÉLFIA, que, como vinhos vagabundos que são, envelhecem e se tornam um vinagrão dos mais azedos. Enfim, aqueles "clássicos da sua infância" que você revisita apenas para perceber o quão ruins eles sempre foram - e também para constatar como você era ingênuo na juventude por gostar tanto deles.

Produzido por John Carpenter (sim, "o" John Carpenter) e dirigido por Stewart Raffill (quem?), o filme teve certa fama também no Brasil na época do seu lançamento. Por aqui, saiu em VHS pelo selo Top Tape, nos primórdios das videolocadoras brasileiras, quando quase todas as fitas à disposição eram piratas.


O roteiro de William Gray e Michael Janover chama a atenção por ser baseado num intrigante acontecimento supostamente real: o Projeto Filadélfia, que teria sido realizado nos Estados Unidos em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial.

Muitos juram que é apenas lenda urbana ou teoria da conspiração, mas o que se conta é que, em 1943, no auge da guerra, cientistas norte-americanos conseguiram deixar um imenso navio (o destróier USS Eldridge) completamente invisível.

Usando campos eletromagnéticos no interior do barco, a intenção era apenas fazê-lo desaparecer dos radares dos alemães. Só que a experiência deu certo DEMAIS: o barco e toda sua tripulação simplesmente sumiram da face da terra por alguns minutos! Ou, pelo menos, é assim que se conta.


Mas o pior estava por vir: quando o tal navio "reapareceu", voltando sabe-se lá de onde tinha ido parar, era a própria visão do inferno, com marinheiros carbonizados, outros enlouquecidos, outros ainda fundidos ao casco da embarcação (!!!). O caso permanece um mistério até hoje, enquanto o governo e o exército norte-americanos continuam jurando de pés juntos que a história toda é uma farsa e que nunca houve tal experimento, quanto mais um navio inteiro ter ficado invisível.

Pois PROJETO FILADÉLFIA começa justamente no ano de 1943 e mostrando o tal experimento na prática, sob a coordenação de um cientista chamado James Longstreet (Miles McNamara).


Entre os marujos que embarcam no navio fadado a desaparecer estão David Herdeg (o canastrão Michael Paré, na época em alta por causa do sucesso de "Eddie and the Cruisers" e "Ruas de Fogo", dois clássicos da Sessão da Tarde) e Jim Parker (o igualmente canastrão Bobby Di Cicco, que apareceu na comédia "1941", de Steven Spielberg). Este último é casado com Pam (Debra Troyer), que espera o primeiro filho do casal.

Quando a experiência começa, é um verdadeiro pandemônio: o navio inteiro é sugado para dentro de um vórtex no tempo e no espaço, que no filme é representado como um túnel com luzes coloridas, bem parecido com aquele do final de "2001 - Uma Odisséia no Espaço". Enquanto seus colegas gritam e agonizam, David e Jim se desesperam e resolvem fazer alguma coisa; neste caso, atirar-se para fora do barco, bem no meio do tal vórtex!


E eis que ambos reaparecem em pleno deserto de Nevada (Área 51, alguém?), bem distante do local em que foi feita a experiência com o navio. E como se não pudesse ficar pior, o ano também é outro: 1984! Os dois marujos viajaram no tempo e, agora, enfrentam as enormes diferenças culturais proporcionadas por uma viagem de 40 anos no tempo. Como esta:

- Quem ganhou a guerra?
- Qual guerra? A do Vietnã?


Tudo é novidade para os rapazes, da programação ultraviolenta e cheia de mulher pelada da TV aberta à eleição de um ator da sua época, Ronald Reagan, como presidente dos Estados Unidos. Até uma latinha de Coca-Cola é vista como algo bizarro para quem só conhecia o refrigerante vendido em garrafa de vidro. E como pode uma garrafa de cerveja alemã em território ianque se horas antes eles estavam em guerra justamente com a Alemanha?


Finalmente, a desnorteada dupla encontra a bela Allison (uma jovem e linda Nancy Allen, atualmente sumida). Como toda boa alma tradicional desse tipo de aventura, a ingênua mulher tenta ajudá-los a descobrir a verdade sobre o que aconteceu - mesmo que seja seqüestrada pelos dois estranhos na primeira vez em que se encontram. Só que a investigação não vai ser tão fácil, porque todos são perseguidos pelo exército, que parece bastante interessado nos dois marujos.

Para complicar mais a trama, sem ter aprendido nada com o fracasso lá de 1943, um agora envelhecido dr. Longstreet (desta vez interpretado por Eric Christmas) tentou realizar o projeto novamente 40 anos depois, e abriu novamente o tal vórtex no tempo, desta vez fazendo sumir uma cidade experimental inteira. Foi por este buraco que David e Jim viajaram no tempo. O problema é que a "passagem" não fechou, e, como um grande buraco negro, pode engolir todo o planeta!


Se há algo interessante em PROJETO FILADÉLFIA - além, obviamente, do ponto de partida - é que o roteiro lembra muito um "De Volta Para o Futuro" (que é posterior, de 1985) às avessas: enquanto no filme de Robert Zemeckis o rapaz volta de 1985 para os anos 50, aqui são dois jovens dos anos 40 que avançam no tempo para os amalucados anos 80.

Infelizmente, a comparação com o ótimo "De Volta Para o Futuro" fica por aí: como PROJETO FILADÉLFIA é um filme de ação, o roteiro logo abandona o drama dos heróis perdidos em uma época que não conhecem para concentrar-se em perseguições a pé e de automóvel. É aí que a coisa toda degringola. O melhor da película é justamente a primeira meia hora, que mostra a experiência, a volta no tempo e o divertido choque cultural dos personagens.


Quando a história entra no território da ação, o filme afunda que nem o Titanic. Não bastasse o diretor Raffill ser um cabeça-de-bagre no quesito, sem nunca passar uma idéia de suspense ou de perigo (apesar do excesso de explosões de carros, prédios e até helicópteros!), o roteiro tem uma tonelada de furos, quase como o tal vórtex que ameaça engolir o mundo na trama.

Por exemplo: perto do fim, descobrimos que os militares precisam de David vivo e bem para fechar o tal vórtex antes que ele engula o mundo, já que o herói seria o responsável por voltar no tempo até a época do experimento (1943) e destruir o maquinário para que o navio e sua tripulação tornem-se visíveis de novo (ou seja, a história já está escrita e é imutável).

Logo, se este passado já é líquido e certo, e eles sabem que David é peça fundamental para viajar no tempo e salvar o mundo, por que diabos os soldados passam o filme inteiro perseguindo o rapaz e inclusive disparando tiros nele, sabendo que a sua morte poderia provocar um desastre temporal e mudar todo o rumo da história (para pior, no caso)?


Sem contar que essa história de que "tudo já está escrito" é uma bosta, pois no momento em que o roteiro deixa bem claro que o passado, o presente e o futuro já estão definidos e são imutáveis (ao contrário, por exemplo, da série "De Volta Para o Futuro"), você também já sabe que tudo vai se resolver facilmente no final, sem complicação, sem suspense e sem grandes perigos para os personagens ou para o planeta Terra.

(E é nessas horas que faz falta alguma cena de tensão como aquela do dr. Brown correndo contra o relógio para conectar os cabos na torre do relógio, no final de "De Volta Para o Futuro".)

O que sobra de PROJETO FILADÉLFIA é uma boa idéia (ou talvez um bom ponto de partida) mal-aproveitada e mal-filmada. O próprio "Experimento Filadélfia" em si - que, segundo algumas teorias da conspiração, realmente teria aberto um buraco negro no planeta, aquele conhecido como Triângulo das Bermudas! - é muito mais interessante do que o filme inteiro, e mal-aproveitado na trama, aparecendo apenas no começo e no final (com direito às cenas tétricas dos marinheiros fundidos com o navio).


Taí uma idéia que mereceria ser retrabalhada por algum diretor-roteirista mais criativo. Alô, fazedores de remakes: por que ao invés de estragar filmes bons vocês não tentam melhorar os ruinzinhos, como este?

Acredito, portanto, que alguns filmes deveriam permanecer apenas em nossas memórias lá da infância, já que revistos hoje, com mais senso crítico e toda uma bagagem cultural, acabam perdendo toda a graça.

PROJETO FILADÉLFIA é um deles: um argumento interessante, mas um resultado final bobo e sonolento. Ainda assim, um passatempo razoável para quem curte histórias sobre viagem no tempo, mesmo que aqui o tema seja trabalhado anos-luz aquém do seu potencial.

E bem que eu queria voltar também no tempo, mais precisamente para aquela época em que tudo era menos complicado e se podia ficar vendo PROJETO FILADÉLFIA nas tardes do SBT. E ainda gostar muito do filme!


PS 1: Em 1993 saiu uma produção direto para as locadoras chamada "Projeto Filadélfia 2", cuja trama envolve experiências de viagem no tempo dos nazistas (o vilão inclusive é interpretado por Gerrit Graham). Lembro pouco desta seqüência e também preciso rever (medo!), mas, através do IMDB, descobri que o personagem de David Herdeg está de volta, desta vez interpretado por outro ator (Brad Johnson).

PS 2: Clique AQUI para ser redirecionado a um interessantíssimo site em inglês com uma das análises mais completas da internet sobre o misterioso "Experimento Filadélfia" que deu origem ao filme.

Trailer de PROJETO FILADÉLFIA



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Projeto Filadélfia (The Philadelphia
Experiment, 1984, EUA)

Direção: Stewart Raffill
Elenco: Michael Paré, Nancy Allen, Eric
Christmas, Bobby Di Cicco, Louise Latham,
Kene Holliday e Stephen Tobolowsky.