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quarta-feira, 30 de março de 2011

AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM (1983)


Se a sua única referência de "pornô nacional" são aqueles filmes horríveis e padronizados produzidos pelas Brasileirinhas na última década, com pitboys cobertos de tatuagens e garotas siliconadas fazendo caras e bocas, sinto informar que você desconhece o que de melhor foi produzido dentro do rótulo "X-Rated" no país. E vou mais longe: algumas das obras mais inventivas, extremas e - por que não? - geniais do cinema brasileiro estão justamente entre estas películas pornográficas realizadas em escala industrial na Boca do Lixo paulistana durante a década de 80.

Há muita porcaria, claro, e nem sempre é fácil separar o joio do trigo. Mas quando você topa com um filme do Sady Baby ou uma sátira pornô tão bem bolada quanto "Um Pistoleiro Chamado Papaco", de Mário Vaz Filho (em breve aqui no blog), sabe que está vendo algo único. Na verdade, alguns desses filmes são tão criativos e interessantes que o sexo explícito só estraga o conjunto, e eles talvez até ficassem melhor SEM as trepadas!


Nossa resenha de hoje analisará um destes casos. Trata-se de um mistério chamado AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM, co-dirigido por Wilson Nunes da Silva e um famoso "pau pra toda obra" do pornô nacional, Fauzi Mansur, aqui escondido sob o bizarro pseudônimo "Hizat Surman" (um dos muitos que usou durante sua trajetória no sexo explícito, ao lado de "Victor Triunfo" e "Izuaf Rusnam").

Chamo essa obra de mistério porque temos ao mesmo tempo uma sofisticada história de ficção científica (!!!), sobre um apocalipse nuclear, as duas belas sobreviventes do desastre e um astronauta que volta à Terra, e também o tradicional sexo explícito feio, sujo e malvado que era feito na Boca do Lixo - neste caso numa história paralela sobre sobreviventes do fim do mundo que são aprisionados e estuprados (nem sempre nessa ordem) por um bárbaro que domina o Brasil pós-apocalíptico.


Os créditos iniciais do filme informam que serão apresentados dois episódios. O primeiro, chamado "Só Restam as Estrelas", foi dirigido por Silva e é o tal sobre as duas sobreviventes e o astronauta; o segundo leva o nome do longa, "As Ninfetas do Sexo Selvagem", tem direção de Fauzi (ou "Hizat Surman") e a trama sobre o bárbaro estuprador.

O problema é que os episódios não são apresentados separadamente, mas sim paralelamente. Você está acompanhando uma das histórias e, subitamente, a outra invade a narrativa de sopetão. É tão estranho que, na primeira vez que vi, fiquei boiando durante a maior parte do tempo até entender que na verdade eram duas historinhas independentes apresentadas em paralelo; numa reassistida consegui "pegar" melhor onde começa um e outro segmento, mas creio que o filme ficaria muito melhor se os episódios fossem separados.

A bem da verdade, parece que AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM é um filme meio improvisado. Fica difícil hoje saber como rolou o processo, mas aposto que Fauzi pegou um filme inacabado de Silva, sem nada de pornográfico (pelo contrário, as cenas do episódio "Só Restam as Estrelas" só mostram sexo simulado e nudez), e completou-o com cenas de sexo explícito filmadas por ele mesmo, e sem qualquer relação com a trama do outro diretor.


O fato de as cenas gravadas por Fauzi trazerem o mesmo elenco, cenário e figurinos de uma obra posterior do cineasta ("As Rainhas da Pornografia", de 1984) pode ser uma evidência de que ele filmou tudo ao mesmo tempo - o material para completar esse longa aqui e o outro filme. Além disso, Silva era um diretor veterano sem nenhuma experiência com o cinema pornô, outra prova de que talvez Fauzi tenha apenas completado um filme deixado inacabado pelo outro diretor.

Seja como for, AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM continua interessante para o cinéfilo curioso de hoje como uma obra híbrida e cheia de momentos inspirados, alguns pela beleza (principalmente nos trechos filmados por Silva), outros pela escatologia, incluindo uma terrível cena (real) de violência contra um animal que não faz feio em comparação ao clássico italiano "Cannibal Holocaust"!


Você já percebe que AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM não foi concebido como típico filme pornô só pelas primeiras cenas (dirigidas por Wilson Silva), que trazem dois atores famosos do cinema brasileiro da época, Milton Moraes e Ítala Nandi, num barco em alto-mar. Digamos apenas que nem Ítala e nem Milton eram figurinhas carimbadas nos pornôs da Boca do Lixo...

A trama aparentemente se passa naquele típico futuro pessimista concebido em plena época de Guerra Fria e Corrida Armamentista, já que, através de um rádio no barco, ouvimos notícias sobre um "encontro de chanceleres latino-americanos", protestando contra "a decisão das superpotências de incluírem bombas de nêutrons em seus sistemas orbitais de defesa" (lembre-se, era a Era Reagan com seu projeto "Guerra nas Estrelas"...).


Enquanto olha para suas duas filhas pequenas (interpretadas por Karen Louback e Cristie Stein), que brincam na praia, o personagem de Milton começa a filosofar sobre a situação do mundo, explicando-a didaticamente (até demais) para o espectador:

"Antes a guerra matava mil pessoas, agora mata milhões. Antes era a espada, agora é o SODE - Sistema Orbital de Defesa Estratégica. Defesa não sei de quê... É um satélite artificial lançador de bombas nucleares de 500 megatons de cada vez no alvo que quiser. Sem falar nas bombas de nêutrons, que destróem a vida deixando o resto sobre a Terra para o vencedor tomar conta. Se houver vencedor! Cada superpotência tem um super-assassino no céu. Sabe o que isso representa? Que nesse momento estamos embaixo de um poder maior que seis milhões de toneladas de dinamite! A dinamite pelo menos é limpa. O SODE não. Ele é sujo, imundo!"


O filósofo do apocalipse então explica à mulher - e ao espectador - que estão ancorados diante de uma ilha deserta que encontraram ao acaso, e que não consta nos mapas. Nesse exato momento, explode a guerra nuclear e o próprio barco, matando na hora os pais das meninas enquanto elas continuam brincando na praia. (Destaque para a cabeça decepada de Milton sendo arremessada na areia!!!)

Abandonadas à própria sorte, as duas garotinhas aprendem a se virar sozinhas - e peladas - na tal ilha deserta, e, numa bela elipse de tempo de uns 15 anos, aparecem já adultas, e ainda peladas, agora interpretadas pelas belas Marneide Vidal e Eva de Oliveira. As moças fazem praticamente todo o filme nuas!


Durante um bom tempo, acompanhamos o cotidiano silencioso de ambas, até que, aos 21 minutos, as cenas filmadas por Fauzi invadem a narrativa. Assim, de repente, somos transportados para uma vila (que, ao contrário do que imaginei inicialmente, parece não ficar na mesma ilha, mas em alguma parte do mundo devastado).

Ali, um bárbaro interpretado pelo grande comedor da Boca, Oásis Minitti (de "Coisas Eróticas"), aprisiona os poucos sobreviventes do apocalipse, fazendo os homens de escravos braçais e as mulheres de escravas sexuais.


Esta primeira cena mostra-o prendendo e estuprando duas garotas, interpretadas por Tatiana e Dinéia Dantas (irmãs?), mas as cenas ainda são de sexo simulado, sem os tradicionais inserts de penetração explícita. Aliás, estas duas irmãs provavelmente são as "ninfetas do sexo selvagem" do título, e não as náufragas do outro episódio.

Voltamos então ao episódio das irmãs na ilha (eu avisei que as histórias em paralelo eram confusas), cuja vida é alterada com a chegada de um astronauta norte-americano, Alex (Luiz Ernesto Imbassahy). Ciente de que é um dos poucos seres vivos na face da Terra, o astronauta se surpreende ao encontrar aquelas duas gatas peladas. Primeiro, tenta explicar-lhes a situação do mundo com mais uma caralhada de diálogos pseudo-filosóficos; depois, finalmente cala a boca e começa a passar o rodo nas duas!


Já na trama narrada por Fauzi, o bárbaro Minitti aprisiona Daniel (Alan Fontaine), em cena que rola ao som da trilha sonora de "Poltergeist - O Fenômeno". Depois de tomar uns cascudos de Minitti, Fontaine dá início a um diálogo espetacular:

- Por que me agrediu?
- Porque você invadiu meus domínios. E quem faz isso morre ou se torna meu escravo!



Depois de Daniel, o bárbaro também aprisiona mais três pessoas (quanta gente sobreviveu ao apocalipse, hein?): um casal interpretado por Luiz Dias e Teka Lanza e uma lésbica (?!?) vivida pela loira Kristina Keller. Novamente, uma das mulheres é estuprada por Minitti (a personagem de Kristina, chamada Lilith, protesta dizendo que homem algum vai "possuí-la"), enquanto os homens apanham e se tornam escravos.

O sexo explícito só aparece aos 44 minutos, e a única atriz que protagoniza o tchaca-tchaca na butchaca sem simulação é Teka Lanza (loira jeitosinha que era figurinha carimbada nos pornôs da Boca, aparecendo também em "A B... Profunda" e em "Coisas Eróticas 2"). Teka transa primeiro com Dias, depois com Minitti (umas três vezes). Kristina só aparece tocando uma siririca, e nada mais.


Chegamos, então, ao auge do grotesco de AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM: perto do final do filme, Minitti ataca e mata um homem (MAIS um sobrevivente???) que carregava uma ovelha. O animal é pendurado de cabeça para baixo e degolado com um facão, numa cena real. Em seguida, Minitti e seus escravos esfolam e comem a carne crua do bicho, em momento gráfico e repulsivo que se aproxima das barbaridades vistas nos filmes italianos sobre canibalismo. Tenho certeza que tal cena deve ter sido muito excitante para quem foi ao cinema na época em busca de um filme pornô "normal"...

(Se tiver estômago, veja a cena da ovelha no vídeo abaixo.)

"Cannibal Holocaust" à brasileira



O filme termina tão bizarro quanto começou e se desenvolveu, com uma mal-sucedida tentativa de ligar as duas histórias: enquanto no episódio do astronauta o mar amanhece coberto de peixes mortos e uma das irmãs também morre contaminada por radiação, revelando que em breve o astronauta e a outra garota terão o mesmo destino, no episódio de Fauzi o bárbaro e seus escravos amanhecem moribundos, igualmente por causa da contaminação radioativa (quem mandou comerem a ovelha crua?).

Apenas Daniel e uma das mulheres aprisionadas sobrevivem e caminham rumo ao horizonte, quem sabe para reiniciar um mundo melhor... ou para morrer em breve, vítimas da mesma radiação que matou os demais personagens!


Subitamente, a trama volta para o barco do começo do filme (!!!), e os personagens de Milton Moraes e Ítala Nandi estão vivos!!! O quê??? É isso mesmo! As meninas estão brincando na praia, como no início, e o casal de pais se beija a bordo do barco, que então aparece navegando rumo ao horizonte. Logo, todo o filme foi um pesadelo, delírio ou "futuro alternativo" imaginado pelo personagem de Milton em sua já clássica divagação sobre o negro futuro da humanidade...

AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM é exatamente o que parece pela nem-tão-breve descrição acima: uma confusa e bizarra mistura de gêneros e tramas, onde o sexo explícito só aparece por exigências de mercado e não se encaixa de forma alguma na narrativa.

Também há uma queda de qualidade visível quando o filme pula de um episódio para o outro: enquanto o de Silva lembra um curioso cruzamento entre "A Lagoa Azul" e "O Planeta dos Macacos", o de Fauzi é uma apelativa versão pornô de "Mad Max", mas sem muita história para contar além dos estupros perpetrados por Minitti.


Quem sai perdendo com a mistura dos dois episódios é Wilson Silva, já que suas cenas são as mais belas e interessantes do longa - como aquela em que as náufragas, ainda meninas, precisam enfrentar um escorpião que invade sua tenda. Apesar das garotas crescidas aparecerem nuas o tempo todo (e logo também o personagem de Imbassahy), o episódio da ilha nunca cai na apelação, e as cenas de sexo são delicadas e bem realizadas, com certo romantismo e lirismo até.

Pena que estas cenas sejam entrecortadas pelo espetáculo "mundo cão" dirigido por Fauzi, onde sujeitos barbudos, sujos e vestindo farrapos aparecem estuprando garotas em closes ginecológicos, em mais uma bela amostra do sexo sujo e nojentão filmado na Boca do Lixo.


E a cena da ovelha sendo esquartejada é mais do que broxante num suposto "filme pornô", ultrapassando até algumas das barbaridades gravadas por Sady Baby.

Tudo considerado, o episódio de Fauzi também é o mais estúpido e duro de engolir. Afinal, o tal bárbaro interpretado por Minitti consegue aprisionar facilmente todos os personagens secundários sem que ninguém se rebele contra ele. A cena de "estupro" com Teka Lanza é até engraçada, pois a moça começa protestando e logo está curtindo animadamente o rala-e-rola.


Mas não dá pra aceitar momentos como o que SEIS prisioneiros dividem a mesma cabana com seu algoz, sem nem ao menos estarem amarrados, e ninguém tem a ideia de que pulem todos juntos sobre Minitti para subjugá-lo!

Assim, AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM hoje pode ser visto como um curiosíssimo exemplar de um período fascinante do cinema brasileiro, o dos filmes pornográficos da Boca, que não se contentavam apenas em mostrar gente trepando, como os similares estrangeiros, mas geralmente apelavam para histórias mirabolantes e fantásticas onde o sexo explícito é quase brinde - e geralmente soa deslocado.

Esse filme aqui, por exemplo, é uma mais do que óbvia história de ficção científica, que até poderia ser distribuída com esse rótulo se alguma alma caridosa fizesse o favor de cortar as trepadas explícitas com Teka Lanza. Até porque nada se perderia sem estas cenas - elas são rápidas e nada excitantes.


Até sugiro que alguém experiente no Adobe Premiere use seu tempo livre para eliminar da montagem todas as cenas gravadas por Fauzi (inclusive a chocante "cena da ovelha"), deixando apenas o material de Silva, que poderia ser reeditado e relançado como uma "fan cut" intitulada "Só Restam as Estrelas". Aposto que ficaria bem melhor do que este samba do crioulo doido chamado AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM.

Diferente de outros pornôs da Boca da época, que divertiam pela quantidade de bobagens e diálogos estúpidos, este aqui também tenta ser mais sério do que a média, e por isso nem sempre é tão engraçado - apesar dos longos e pomposos diálogos como o de Milton Moraes sobre o SODE ou o do astronauta sobre o declínio da humanidade.

De qualquer forma, a associação entre Silva e Fauzi tem seu valor justamente pela estranheza, picaretagem e escatologia, dando-nos a certeza de que poucas coisas eram tão malucas quando os pornôs brasileiros dos anos 80...

Cena inicial de AS NINFETAS DO SEXO SELVAGEM



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As Ninfetas do Sexo Selvagem (1983, Brasil)
Direção: Wilson Nunes da Silva e
Hizat Surman (aka Fauzi Mansur)
Elenco: Luiz Ernesto Imbassahy, Marneide Vidal,
Eva de Oliveira, Oásis Minitti, Alan Fontaine, Milton
Moraes, Ítala Nandi e Kristina Keller.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

COISAS ERÓTICAS (1981)


Independente da sua qualidade artística e da sua pobreza como produto erótico (é mais brochante do que propriamente excitante), o longa COISAS ERÓTICAS, produzido em 1981 e exibido em 1982, tem seu lugarzinho de honra na história do cinema brasileiro: foi o primeiro filme pornográfico produzido no país, uma "novidade" que levou uma multidão de 4,7 milhões de curiosos para as salas de cinema!

Claro, eram outros tempos. O videocassete engatinhava mundo afora e ainda era novidade no Brasil, portanto a pornografia cinematográfica ainda não era um ritual individual (você com sua fita ou DVD no conforto da sua casa), e sim coletivo (você no cinema, vendo o sexo explícito na tela grande e desconfortavelmente rodeado de outros punheteiros).

Também havia ainda no Brasil a forte censura, que não permitia a exibição de pornôs em nossos cinemas, embora nos Estados Unidos e na Europa a indústria hardcore já estivesse instituída desde o começo dos anos 70.


Ironicamente, a censura nunca impediu que o cinema brasileiro explorasse o sexo e a sexualidade - embora não o pudesse fazer explicitamente, como nos produtos importados. Mas não faltava sacanagem nos filmes nacionais pré-COISAS ERÓTICAS, basta lembrar de "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (com José Wilker pegando Sônia Braga de quatro), "A Dama do Lotação" e as famosas pornochanchadas do período.

A abertura para a pornografia explícita começou em 1980, com algumas cenas rápidas e escuras em obras como "Boneca Cobiçada", de Rafaelle Rossi. E foi no ano seguinte que o mesmo Rossi chutou o pau da barraca e rodou COISAS ERÓTICAS, primeiro filme nacional a mostrar tudo, sem cortes - como o cartaz de cinema anunciava, cheio de erros de pontuação, "E assim!... Conheceram as maravilhas do Sexo!".


COISAS ERÓTICAS é um longa composto por três historinhas péssimas - mas, como o objetivo era mostrar putaria, vamos dar um desconto. A primeira e a última foram dirigidas pelo também produtor e roteirista Rafaelle Rossi, e a do meio é assinada por Laente Calicchio.

O primeiro episódio (que traz o nome do filme, "Coisas Eróticas") é uma pérola do mau gosto. Começa com Eduardo (Oásis Minitti, de "O Império do Sexo Explícito") literalmente sentado no trono, enquanto folheia uma revista masculina. Ato encerrado, o sujeito limpa a bunda, dá uma suspeita olhadinha sorridente para o papel higiênico sujo e vai direto para o chuveiro descascar a banana enquanto olha para a bela modelo nas páginas da revista.


Uma coisa que salta aos olhos já nestes primeiros momentos é o banheirinho tosco e tipicamente brasileiro: aquelas janelinhas basculantes com a toalhinha pendurada para secar, os azulejos bregas, o box minúsculo para tomar banho com uma enorme esponjona pendurada num preguinho na parede... Enfim, o tipo de coisa que só se vê mesmo no Brasil!

A história continua e só "melhora": Eduardo vai dar uma voltinha com sua Brasília e, numa rua movimentada, cruza com uma bela mulher num sinal fechado. Surpresa: é a modelo para quem ele bateu uma bronha horas antes! E não tem como segurar o riso diante do close na cara de surpresa de Minitti enquanto ele declara, emocionado: "Ei, mas eu te conheço!".


Segue-se um flerte, uma noitada no restaurante, e a bela modelo (interpretada pela linda Jussara Calmon, em seu primeiro filme) convida o rapaz para um final de semana em sua chácara. Lá chegando, Eduardo conhece a filha adolescente da amada, Arlete (Ilse Cotrim), uma daquelas meninas com os hormônios em ebulição. Detalhe: Arlete e uma amiga estão tomando banho de sol completamente nuas, mas nem elas e nem a mãe ficam constrangidas, e Eduardo é apresentado normalmente às garotas!

Mais tarde, enquanto Arlete transa com a amiguinha no chuveiro, Eduardo e sua modelo transam na cama de casal, quando finalmente rolam as tais "cenas explícitas" que todo mundo pagou ingresso para ver. A filha espia tudo pelo buraco da fechadura - apesar de a cena anterior deixar bem claro que a cama NÃO estava em frente à porta para permitir qualquer visualização!!! - e se apaixona pelo "quase padrasto", que irá seduzir no momento em que a mãe sair para "ir até a cidade".


A conclusão da "trama" é fantástica: a modelo volta à chácara antes da hora (num carro diferente daquele em que ela estava ao sair!!!), flagra o amado na cama com a própria filha e só consegue soltar um "Não...". O casal nem ao menos pára o que está fazendo, e a modelo sai para flertar com outro desconhecido no sinal de trânsito. Uma salva de palmas!

O segundo episódio (misteriosamente também batizado "Coisas Eróticas"!!!) é mais divertido, mas igualmente sem noção: um casal sadomasoquista (Marília Nauê e Andrev Soller), que só se excita trocando pancadas e chicotadas na cama, coloca um anúncio numa revista masculina oferecendo-se para fazer swing - uma novidade que seduzia a sociedade brasileira da época, também enfocada na engraçada pornochanchada "Embalos Alucinantes - A Troca de Casais" (1978), de José Miziara.


Quem responde ao anúncio é um casal aparentemente certinho e recatado (Vânia Bonier e Michel Belmondo), mas já no primeiro encontro os dois pares fazem um surubão com direito a troca-troca (homem com homem, mulher com mulher) e ménage a trois entre chicotadas.

Estranhamente, a historinha não tem uma conclusão, e nem mesmo o sexo "termina": os personagens ainda estão transando animadamente quando o episódio chega ao fim, sem que nem ao menos se mostre a ejaculação para dar a certeza do orgasmo.

E para quem não ligou o nome à pessoa, a feinha Vânia Bonier ficou "famosa" por fazer uma cena caliente com o pastor-alemão Jack no "clássico" "24 Horas de Sexo Explícito" (1984), de José Mojica Marins!


Finalmente, Rafaelle Rossi volta à direção para a terceira história, desta vez com um título diferente ("Férias de Amor"), e que na verdade tem um argumento muito parecido com o da primeira: os colegas de faculdade Betinho (Walder Laurentis) e Laura (a deusa Zaira Bueno) se apaixonam, e a moça convida o rapaz para um final de semana na chácara da família.

Ali, Betinho passa a pistola em tudo que se move (a sogra, as duas cunhadas... só o sogro escapa!). Mas, na conclusão engraçadinha, fica furioso com o convite da namorada Laura para transar no chuveiro, já que o hipócrita queria preservar a castidade da moça para o casamento - um marcante traço cultural daquela época.

Por sinal, já que estamos falando de Zaira Bueno no chuveiro, nunca vi um filme com tantas cenas de gente tomando banho como esse! A conta deve ter saído uma fortuna no final das filmagens. É quase mais água que em "Waterworld"!


COISAS ERÓTICAS foi uma verdadeira revolução na época do seu lançamento, já que os espectadores brasileiros finalmente poderiam ver os atores "transando de verdade", e não aquelas simulações um tanto ingênuas mostradas nas pornochanchadas e filmes eróticos de então.

A bem da verdade, ainda há muito sexo simulado no filme de Rafaelle Rossi, com alguns poucos closes do "tchaca-tchaca na butchaca" para comprovar que, sim, está ocorrendo penetração. Algumas das atrizes nem toparam ir até o fim: Zaira Bueno, por exemplo, não aparece fazendo sexo, nem explícito e nem simulado, apenas peladinha numa cena de banho - mas já vale, pois ela é a mulher mais bonita do elenco.

Além disso, o filme mostra um sexo explícito ainda tímido, e que os diretores visivelmente não sabem filmar direito (os órgãos sexuais ficam encobertos por braços e pernas o tempo todo; os ângulos de câmera escolhidos não são exatamente os melhores para ver a "ação").

Cenas de sexo oral (nele e nela) são rápidas e filmadas de longe, talvez para não chocar. E o filme raramente mostra a ejaculação dos atores, que nos pornôs costuma representar o realismo da coisa ("Se o ator gozou, é porque eles estavam transando de verdade!").


Mas pelo seu aspecto pioneiro e revolucionário, pelos detalhes 100% brasileiros (os banheiros bregas, os carros da época, as salas decoradas com vasos suspensos de samambaia!) e pela nudez das musas Jussara Calmon e Zaira Bueno (as outras mulheres são "normais" ou feias), COISAS ERÓTICAS merece ser conhecido (e reconhecido), até porque está para fazer 30 anos e com certeza a data vai passar em branco.

Nem que seja para dar risada diante dos tradicionais diálogos constrangedores, como "Arlete, não sei porque essa sua atitude, não fica bem pra você! Você é uma garota, e não pode saber coisas sérias sobre o amor" (dita por Minitti à filha da sua namorada, que acabou de ficar completamente pelada na sua frente!)


Ou ainda da conversa entre o rapaz e sua sogra no terceiro episódio, quando passam em frente a um motel de beira de estrada:

- Conheço um casal de amigos que vem ao motel duas ou três vezes por mês. Eles contam milagres! Dizem que a decoração é excitante! Qualquer dia eu gostaria de conhecer um só pra matar a curiosidade...
- Se quiser, eu posso lhe mostrar um agora!
- responde prontamente o genro safado.
- Hihihi... Até que a ocasião é própria!

Vale destacar que COISAS ERÓTICAS, um filme pornográfico, aparece em respeitável 12º lugar na lista das maiores bilheterias do cinema brasileiro de todos os tempos, com 4.729.000 espectadores, muito à frente de filmes como "Se Eu Fosse Você" (23º colocado), "Cidade de Deus" (31º colocado) e "Roberto Carlos a 300 Km por Hora" (45º colocado). Glauber Rocha e sua turma de xaropes cinema-novistas nem mesmo aparecem nessa lista, o que já diz tudo.

E o mais surpreendente é que se tirarmos da tal relação os filmes dos Trapalhões (22 deles aparecem entre as 50 maiores bilheterias!), os da Xuxa e os do Mazzaropi, COISAS ERÓTICAS imediatamente sobe para uma honrosa SEXTA COLOCAÇÃO entre as maiores bilheterias do cinema nacional, atrás de "Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia" e "Dois Filhos de Francisco"!!!


Não é pouca coisa para um filme pornográfico... Ainda mais para um pornô brochante como este do Rafaelle Rossi, que comete até o disparate de colocar uma versão disco do tema de "Tubarão" (!!!) para tocar durante uma cena de sexo, e traz um dos personagens dublado por Marthus Mathias, o dublador oficial do Fred Flinstone!!! Dá até medo que ele grite um "Wilmaaaaaaaaa!" durante a cena de sexo...

Mesmo assim, COISAS ERÓTICAS conquistou o público e ganhou uma seqüência menos famosa, realizada pelo mesmo diretor em 1984.

PS: Para entender um pouco do "choque" que foi ver um pornô nacional nos cinemas lá atrás, no início da década de 80, é sempre interessante procurar pelos relatos de quem viveu aquela época. Aqui tem um bem interessante, e que revela um pouco de uma época cheia de inocência, diferente destes tempos modernos em que qualquer pivete com acesso à internet consegue ver uma suruba de loiras siliconadas com cães, gatos e coprofagia a qualquer hora, no conforto do seu lar...


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Coisas Eróticas (1981, Brasil)
Direção: Rafaelle Rossi e Laente Calicchio
Elenco: Oásis Minitti, Jussara Calmon, Zaira
Bueno, Vânia Bonier, Walder Laurentis,
Regina Célia e Deusa Angelino.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO (1985)


Você já sabe que O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO vai ser um filme mágico só pela primeira cena, que mostra um prisioneiro sendo colocado na cela apertada de um presídio e encontrando Satã (aquele gigante dos filmes do Zé do Caixão) peladão! Satã então diz ao recém-chegado: "Meu nome é Tadeu, mas eu prefiro ser chamado de Deus! E pra começar, você vai lavar a minha cueca!". Segue-se uma pancadaria, com o recém-chegado esmagando a cabeça de um outro preso (que veste apenas uma cueca vermelha!) contra a parede, e os créditos iniciais onde o nome do filme é absurdamente grafado como "O Império do SÉXO Explícito"!!!

(Detalhe: Tal cena não tem ABSOLUTAMENTE NADA A VER com o restante do filme, e é simplesmente esquecida depois dos créditos iniciais!)


Não bastasse estes "pré-requisitos", o filme é mais uma daquelas indigestas misturas de pornô hardcore com elementos dos gêneros ação e policial, como era comum produzir na Boca do Lixo dos anos 80.

Tem um milhão de erros de continuidade, cenas de sexo explícito enxertadas de qualquer jeito na montagem, tiroteios e até uma rápida perseguição de automóveis.

Tem também um grande motivo para agüentar cenas como a de Satã peladão: a musa das musas ZILDA MAYO, em várias cenas peladona, mas sempre linda e maravilhosa (e isso já é motivo mais que suficiente para grafar seu nome em maiúsculas).


O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO é assinado por Marcelo Motta, ex-aluno de Mojica, que o dirigiu em "A Estranha Hospedaria dos Prazeres" (1976) e depois partiu para a pornochanchada ("O Chapeuzinho Vermelho", de 1980, também com Oásis Minitti), e finalmente para o sexo explícito, logo sumindo sem deixar rastros.

Como muitos outros pornôs brasileiros da época, este também tem a maior cara de ser um filme policial "sério" que teve cenas explícitas adicionadas posteriormente na montagem, apenas para aproveitar a nova moda do hardcore na Boca do Lixo. Afinal, o filme é de 1985, o grande ano da fodelança no cinema brasileiro. Como escreveu Edward Janks na revista virtual Zingu, mais de 70 filmes de sacanagem foram produzidos/lançados em 85, entre eles "clássicos" como "O Viciado em C...", "O Analista das Taras Deliciosas" e "Edifício Treme-Treme".


Entre uma trepada enxertada e outra, O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO conta a história de Marcelo (o falecido Oásis), um ex-presidiário em busca de vingança - mas não pergunte vingança de quem ou por quê, pois estas explicações devem ter ficado nas páginas de roteiro eliminadas quando o filme se transformou em pornô.

Ele se une ao amigo Luanda (Satã) para passar a perna em duas violentas quadrilhas de traficantes de drogas, que estão para fazer uma negociação milionária. Quando chega a hora da troca, Marcelo embolsa o dinheiro, rouba a muamba, mata o entregador e inicia uma sangrenta guerra entre quadrilhas.


Mas o cerco se fecha também contra ele e suas duas amadas, Cris (não sei quem é a atriz) e Linda (ZILDA MAYO, óbvio!), uma amante do passado que o anti-herói reencontra.

Apesar do seu tom sério, o filme é uma comédia involuntária do início ao fim: os gângsters fazem o tipo mafioso (no Brasil!), andando de lá para cá em terninhos brancos e com óculos escuros, mas aparecem telefonando de orelhão (!!!) e promovendo orgias caligulescas, quando entram as tais cenas enxertadas de sexo hardcore.

Claro que nenhum dos personagens principais participa destes oba-obas: um take de Oásis Minitti abrindo uma porta é seguido por outro (filmado em outro tempo e outro lugar) de uma suruba rolando no interior do quarto, e por aí vai.


O único dos atores principais que realmente aparece num rala-e-rola explícito é o próprio Oásis, que protagoniza uma cena de penetração, sexo oral e gozo com uma loira anônima na cama. Misteriosamente, assim que a cena acaba a tal loira é substituída pela outra atriz que interpreta a sua namorada, sem que uma tenha nada a ver fisicamente com a outra! Nem Ed Wood aprontava dessas...

Já ZILDA MAYO não participa de nenhuma cena explícita (ela nunca fez pornô hardcore, ao contrário do que muitos sites desavisados divulgam por aí), mas está maravilhosamente sexy nas várias cenas em que aparece tomando banho nua de piscina, ou protagonizando sexo simulado com Oásis e com outro ator anônimo na praia.


Esta cena da praia inclusive tem um lance divertido: o tal ator tenta "animar" as coisas metendo a mão na perereca da ZILDA, e ela, visivelmente sem jeito, arranca o braço do sujeito dali rapidinho! O cara é até capaz de ter tomado umas porradas depois que o diretor gritou "Corta"...

E tome abobrinha em 80 minutos de filme: os gângsters ora falam diálogos rebuscados, como "A entrega será realizada dentro de 72 horas" (por que não fala "3 dias" de uma vez, caramba?!?), ora desfilam pérolas no estilo "Você se julga muito esperto, não é? Pois amanhã nós saberemos quem você é, de onde é e até a cor da merda que você caga!", ou "Descubram esse Boccato nem que ele esteja escondido debaixo da saia fedorenta da puta da mãe dele!".

O tal Boccato é uma pérola: o bandidão é interpretado por um dos piores atores coadjuvantes do cinema brasileiro, o histórico Marthus Mathias (de "Prisioneiras da Ilha do Diabo", 1980), imortalizado por ter emprestado a sua voz ao Fred Flinstone na dublagem clássica do desenho. Pois Marthus passa o filme inteiro arregalando os olhos, e ainda protagoniza uma constrangedora cena de sexo (implícito, graças a deus!), em que toma porradas de uma garota.


O sexo de O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO também é daquele tipo feio, sujo e malvado característico do cinema pornô da Boca, com suas mulheres feias desfilando celulite e pêlos enormes nos lugares mais estranhos. As cenas hardcore, sempre filmadas em motel, ficam interrompendo a narrativa o tempo inteiro, e mostram homens e mulheres que nem ao menos fazem parte da história, deixando o filme truncado, especialmente no final (uma trepada explícita chega a cortar no meio o clímatico duelo entre herói e vilões!!!).

Mas é simplesmente inesquecível a cena de sexo explícito ao som de uma versão instrumental de "Can't Take My Eyes off You"; não bastasse a música completamente deslocada, o sujeito lá pelas tantas começa a masturbar a mulher com o próprio sapato dela (!!!), enfiando o salto na vagina da coitada! E viva o romantismo no cinema pornô brasileiro...

E como se isso tudo não bastasse, o filme ainda traz uma pequena participação do mito SADY BABY como coadjuvante. A bem da verdade, apesar de seu nome aparecer nos créditos iniciais, Sady fica na tela apenas por alguns segundos, e está quase irreconhecível como um dos capangas do vilão (eu mesmo só o reconheci porque o Gio Mendes, do blog Mondo Cane, deu a letra!).


Por essa tonelada de bobagens e pelas divertidas cenas de ação - quando Oásis Minitti misteriosamente começa a usar uma touca ninja (!!!) para detonar os rivais com tiros de espingarda na fuça (!!!) -, O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO é diversão garantida para os fãs do escalafobético e delirante cinema pornô brasileiro.

E ainda tem o colírio ZILDA MAYO para nos fazer esquecer do Satã pelado, do salto de sapato na vagina ao som de "Can't Take My Eyes off You", do Marthus Mathias semi-nu e da pança de chopp do Oásis Minitti.


Como curiosidade, o elenco traz três envolvidos em "Coisas Eróticas", o primeiro pornô brasileiro: o galã Minitti, Deusa Angelino e Laerte Calicchio, que inclusive dirigiu um dos episódios de "Coisas Eróticas".

Enfim, O IMPÉRIO DO SEXO EXPLÍCITO é altamente recomendável para todos os débeis mentais, tarados-dementes e cultuadores do mais pútrido lixo cinematográfico - ou seja, todos vocês, nobres leitores do FILMES PARA DOIDOS!

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O Império do Sexo Explícito (1985, Brasil)
Direção: Marcelo Motta
Elenco: Oásis Minitti, Zilda Mayo, Satã
Marthus Mathias, Mara Prado, Bianca Blonde,
Grace Beck, Deusa Angelino e Noelle Pinne.