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domingo, 20 de setembro de 2009

TORTURA CRUEL - FÊMEAS VIOLENTADAS (1980)


Em 1974, no clássico "Desejo de Matar", Charles Bronson interpretou um homem levado ao limite após o estupro e assassinato da sua esposa, e que, para dar o troco - e ao mesmo tempo combater a violência urbana -, saía pelas madrugadas enchendo marginais de tiros. Na época, muita gente criticou a violência do personagem de Bronson e a apologia de justiça pelas próprias mãos feita pelo filme de Michael Winner, que foi um grande sucesso e gerou uma série com quatro continuações inferiores.

Mas acredite: os bandidos correriam felizes da vida ao encontro de Paul Kersey se soubessem como Tony Vieira lidou com uma situação parecida em TORTURA CRUEL - FÊMEAS VIOLENTADAS, policial exploitation de 1980 que é um colírio para os olhos de quem acha que "bandido bom é o bandido morto".

Salu, o personagem de Vieira neste filme barato que ele mesmo produziu, escreveu e dirigiu (!!!), faria o próprio Paul Kersey correr de medo e se esconder junto com Chico, o justiceiro interpretado por Francisco Cavalcanti em "Horas Fatais - Cabeças Trocadas", e com o dr. Rogério, o justiceiro interpretado por Carlo Mossy em "Ódio", outros dois bons filmes brasileiros sobre justiça com as próprias mãos.


E se você duvida, saiba que o bandido que menos sofre nas mãos de Salu é enterrado vivo. Imagine o triste destino dos outros!

Salu é um bandido que acabou de sair do presídio e pensa em se regenerar, já que sozinho precisa sustentar a família - composta pela mãe, velha e doente, e por duas irmãs que não trabalham (a mais velha, interpretada por Aryadne de Lima, sonha em ser cantora).

O problema é que vida de ex-presidiário em cidade pequena é fogo, e o coitado não consegue arrumar nenhum trabalho. Mesmo quando salva uma garota de ser estuprada por três marginais, e ela intercede junto ao seu marido para que Salu seja contratado como peão de obra, o emprego dura só até o patrão saber que ele é ex-presidiário.


Obrigado a lavar carros para faturar uns trocos e poder comprar o remédio que sua mãe precisa, ele se recusa a aceitar a ajuda financeira da amante, que é prostituta (interpretada pela bela Maristela Moreno, de "A Quinta Dimensão do Sexo"), e prefere jogar na loteria esportiva, sonhando em ficar milionário. Para piorar a situação do sujeito, a polícia fica na sua cola, considerando-o suspeito de qualquer crime que seja cometido na região - e isso inclui, claro, tentativas de confissão na base da porrada, já que ninguém acredita que Salu realmente está tentando se regenerar.

Paralelamente, uma quadrilha formada por quatro bandidos da pesada chega na cidadezinha, após uma série de assaltos e estupros pelas redondezas. Ela é chefiada por Raja (o futuro diretor Rajá de Aragão, que realizou o inacreditável "Hospital da Corrupção e dos Prazeres", em breve aqui no blog), que não gosta de estupros e prefere ficar dando discursos sociológicos para suas vítimas, do tipo "Vida de rei, né doutor? Pobre se danando, comendo casca de banana, e vocês comendo franguinho de leite... Filho da puta!". Seus três asseclas são um tuberculoso que é alvo de gozações dos colegas por não conseguir estuprar ninguém de dia (diz ele a uma vítima: "A sua sorte é que eu sou que nem vampiro: só como à noite"), e dois violentadores profissionais, Nivaldo e Toninho, que não podem ver um rabo-de-saia passar que já pensam em cair em cima. Furioso, Raja pede aos seus comparsas que fiquem na moita, sem estuprar ninguém para não chamar a atenção.


Os primeiros 40 minutos do filme mais parecem um dramalhão mexicano, com Salu procurando e perdendo empregos por ser ex-presidiário, e apanhando direto da polícia (é preciso lembrar que esse tipo de produção era voltada a um público de classe média para baixo). Mas então sua sorte muda: Salu finalmente ganha na loteria e fica multimilionário da noite para o dia!

E adivinha qual é a primeira providência do cara? Comprar o remédio para a mãe? Ajudar as irmãs com o aluguel atrasado? Comprar uma casa nova para a família? Tirar a amante da prostituição? Que nada: Saul faz o que todo homem sensato faria, e se manda para um puteiro para fazer uma comemoração em alto estilo, fechando a zona para ficar com todas as putas só pra ele! (Num momento impagável, rodeado de mulheres nuas, ele pega o garçom do recinto pelo colarinho e grita: "Já falei que não quero homem nenhum aqui dentro além de mim!").

Enquanto nosso herói comemora sua vida de milionário, o trio parada dura do estupro aproveita um momento em que Raja não está por perto para controlar e invade a casa de Salu, matando sua mãe e estuprando as duas irmãs. Algo me diz que eles escolheram a pessoa errada para sacanear...


O restante de TORTURA CRUEL é Salu caçando os quatro bandidos, infiltrando-se em sua quadrilha como se fosse um puxador de carros roubados, e finalmente arquitetando mortes sofridas e tenebrosas para cada um deles.

Como eu escrevi lá em cima, ser enterrado vivo é o castigo mais brando, considerando que um dos pobres coitados é amarrado de quatro para ter o fiofó arrombado por ninguém menos que Satã (aquele moreno careca e gigantesco que aparece em vários filmes do Zé do Caixão), e outro acaba envolvido numa trama diabólica que lembra "Oldboy", de Chan-wook Park, só que 23 anos antes!!! Finalmente, o quarto criminoso, amarrado à linha do trem, ainda tenta protestar: "Mas você não pode me matar assim!". Irônico, o herói apenas retruca: "Quem vai te matar é o trem, e não eu".


O filme em si é bem fraquinho, com uma narrativa simples e sem grandes surpresas, muita mulher pelada e diversas cenas de sexo ou estupro - bem exploitation mesmo.

Duro é suportar os primeiros 15 minutos, já que a trilha sonora utiliza algumas lastimáveis músicas de corno interpretadas pelas piores bandas de baile que a produção pôde pagar (a letra de uma delas, repetida duas vezes ao longo da película, diz: "Deixou a sua casa/Cegamente iludida/Pra tentar a sua sorte/Mas caiu despercebida/Com a sua pouca idade/Se tornou mulher da vida").

Mas após o ataque à família de Salu, a coisa vai ficando cada vez mais interessante, até porque o espectador espera ansioso pelo castigo que os "pusilânimes" receberão. E a generosa quantidade de mulher pelada (inclusive a belíssima Maristela, que aparece quase o tempo todo nua, frente e verso) já vale o programa, pelo menos para os taradões.


Como diretor, Tony ainda consegue a façanha de intercalar a cena alegre da festa do seu personagem no puteiro com o violento ataque dos bandidos à sua família, numa triste (e até sádica) ironia. Mas também sai com várias abobrinhas, como um desfile de escola de samba que cai do céu e não tem qualquer objetivo no enredo, ou a aparição-relâmpago de um "louco assassino de prostitutas" que foge do manicômio e só dá as caras por uns cinco minutinhos (pelo jeito, foi a única saída encontrada para sumir com a amante de Tony da história!!!).

Felizmente, o filme inteiro está repleto daqueles diálogos engraçadíssimos que a gente não costuma ver fora das obras da Boca do Lixo, como "Sexo a gente faz em qualquer lugar. No mato é até mais gostoso porque o capim faz uma cósquinha" e "Dinheiro não é problema, bem. Enquanto eu tiver essas pernas pra abrir uma pra cada lado, nós não vamos ficar duros".

Para quem não conhece o homem, Tony Vieira (pseudônimo de Maury de Oliveira Queiróz) foi um dos mais bem-sucedidos produtores de cinema barato da Boca do Lixo. Ele fazia filmes extremamente populares, econômicos e rápidos, que tinham a cor e o cheiro do povão, além do linguajar e dos cenários que o povão queria ver (e muita mulher pelada e violência, claro, pois também é disso que o povão gosta). Os diálogos de TORTURA CRUEL, por exemplo, não têm firulas, usando e abusando de expressões populares e de gírias da malandragem - algumas chegam a soar estranhas para o espectador contemporâneo.


Entre o início da década de 70 e a metade dos anos 80, Tony produziu cerca de 15 filmes baratíssimos, com histórias policiais ou de western, sempre assumindo ele mesmo o papel principal, e volta-e-meia dirigindo. Investia pouco e lucrava bastante, numa época em que cinema para o povão ainda era rentável no país (lembre-se: era a época dourada das salas de cinema de rua, não dentro de shopping centers).

Em várias entrevistas do período, Tony reclamou que não gostava de dirigir, mas não encontrava ninguém para filmar o tipo de história que filmava. "Faço o que o povo gosta. Vejam as rendas. E eu, inicialmente, atendo o público. Quando tiver dinheiro até para perder, farei o filme que eu gosto", declarou certa vez.

No começo da década de 80, quando a produção cinematográfica da Boca do Lixo descambou para o sexo explícito, Tony também se rendeu aos filmes pornôs, dirigindo, entre diversos, "Banho de Língua" (1985) e "Eu Adoro Essa Cobra" (1987). Em 1988, tentou voltar ao gênero policial com "Calibre 12", mas o fracasso de bilheteria da obra decretou a aposentadoria precoce do ex-galã da Boca do Lixo.


Desanimado e doente, ele voltou para o Estado onde nasceu, Minas Gerais, e lá morreu no começo dos anos 90. Apesar de uma vasta filmografia, composta inclusive de diversos sucessos de bilheteria, suas obras continuam praticamente desconhecidas e inéditas no Brasil. É o caso de TORTURA CRUEL, que até chegou às nossas locadoras nos primórdios da fase áurea do VHS, e hoje só circula em cópias piratas com legendas em castelhano (!!!).

Quando vejo esses DVDs de luxo lançados na gringolândia para filmes de diretores tão mequetrefes quanto o italiano Andrea Bianchi, fico sonhando com o dia em que teremos, aqui no Brasil, um box bem-feitinho com as obras de Tony Vieira, trazendo pérolas remasterizadas como "Gringo, O Último Matador", "O Exorcista de Mulheres", o impagável "O Último Cão de Guerra" ou o policial "Os Pilantras da Noite" (que tem, no elenco, Tony Tornado, Helena Ramos e Aldine Müller!!!!).

Mas o sonho logo se transforma em pesadelo quando eu me lembro da falta de memória (e de valorização) dos brasileiros para com seu cinema, de como a maioria nem liga para o que foi produzido no país pré-Globo Filmes e do triste fim do herdeiro direto de Tony Vieira, o brasiliense Afonso Brazza (que inclusive trabalhou na equipe técnica de vários filmes assinados por Tony). Brazza não só ficou com a esposa de Tony (Claudette Joubert) após sua morte, como seguiu a triste sina do seu mentor: morreu pobre e fazendo apenas filmes baratíssimos que quase ninguém viu.

Lobby card de "Tortura Cruel" com Tony e Rajá


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Tortura Cruel - Fêmeas Violentadas
(1980, Brasil)

Direção: Tony Vieira
Elenco: Tony Vieira, Maristela Moreno,
Aryadne de Lima, Rajá de Aragão, Clery
Cunha, Satã e Lúcia Alves.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO (1984)


Que José Mojica Marins foi o precursor da zoofilia no cinema pornográfico brasileiro (ao dirigir a famosa cena com o pastor-alemão Jack!), todo mundo já está careca de saber. Mas terá sido o célebre Zé do Caixão também o pioneiro nos pornôs gays tupiniquins?

Pode ser que sim, ao menos se julgarmos A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO como um filme pornô de temática homossexual, considerando que o filme começou a ser produzido como drama erótico "sério" e acabou se transformando em pornô "hardcore" para acompanhar as tendências do mercado cinematográfico da época (primeira metade dos anos 80).

Trata-se do primeiro dos quatro filmes pornôs que Mojica foi praticamente obrigado a produzir, numa fase de vacas magérrimas e nenhum dinheiro em caixa. Os outros são os antológicos "24 Horas de Sexo Explícito" (1985, o tal precursor da zoofilia no pornô nacional), "Dr. Frank na Clínica das Taras" e "48 Horas de Sexo Alucinante" (ambos de 1986). A diferença para os outros três é que A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO até tenta contar uma história decente (enquanto os posteriores já partem para o vale-tudo do fiapo de roteiro conduzindo as cenas de sexo explícito), e, principalmente, tem mulheres bonitas em cena, especialmente nas cenas softcore - ou seja, sem penetração, apenas simulação de sexo -, destoando dos jaburus que apareceram nos pornôs posteriores do nosso amigo Zé.


O projeto começou como filme erótico "soft", a partir de um roteiro escrito pelo amigo de Mojica, Mário Lima. Naquela época, vários pequenos produtores estavam fazendo fortunas com o cinema erótico e com as pornochanchadas, lançando obras bastante econômicas em recursos, mas que acabavam dando bastante retorno nas bilheterias.

Além disso, a rígida censura imposta pelo Regime Militar na década de 70 aos poucos começava a ser vencida, e assim surgiam as primeiras exibições das produções de sexo explícito, que já vinham sendo filmadas na Europa e nos EUA.

No Brasil, o primeiro filme hardcore foi feito apenas em 1981: o fenômeno "Coisas Eróticas", de Rafaelle Rossi, que levou mais de 4,5 milhões de pessoas aos cinemas (isso, claro, antes da "era do videocassete", quando era comum ver filme pornô no escurinho do cinema). E assim uma produção X-Rated transformou-se numa das maiores bilheterias de filmes nacionais de todos os tempos.

Mas voltemos a Mojica e Mário Lima: foi este último quem escreveu a inacreditável história de Paulo (Márcio Prado, de "Tara das Cocotas na Ilha do Pecado") e Norberto (João Francisco, único filme), dois amigos que são estudantes de química e galãs de rodoviária, mas andam negando fogo diante do sexo oposto.


Apavorados com a possibilidade de terem ficado broxas, eles procuram primeiro ajuda médica, e depois "especializada" (duas prostitutas), mas a situação torna-se cada vez mais dura - ou mole, no caso da dupla.

Impotentes (literalmente!) diante da situação, e já ouvindo gracinhas e comentários maldosos dos colegas de curso, Paulo e Norberto resolvem abandonar a faculdade e se refugir na casa de campo da família de um deles, onde começam a fazer experiências químicas com plantas reconhecidamente afrodisíacas.

O objetivo é criar uma espécie de elixir sexual para contornar o "probleminha" da impotência. Só que a descoberta de tal fórmula traz um novo problema: mais ou menos como uma versão tupiniquim de Jeckyl e Hyde, os dois acabam se transformando em psicopatas malvados.

Para testar seu elixir, por exemplo, eles seqüestram uma garota inocente na rua e a obrigam a beber a fórmula. O resultado é um grande ménage a trois. No dia seguinte, quando o efeito da fórmula passa, a garota volta a si e foge da casa de campo, apenas para morrer alguns metros distante, vitimada pela picada de uma cobra venenosa. Já a segunda "cobaia" da dupla acaba morrendo de prazer (!!!), após uma noite de orgias na praia. Quando o cadáver é descoberto, a polícia começa a investigar os misteriosos crimes sexuais naquela região.


Finalmente, Paulo e Norberto fazem uma última festinha com uma ex-colega de faculdade, para testar uma versão diluída (e não-letal) de seu elixir. Tudo corre às mil maravilhas, mas, quando passa o efeito da fórmula, a moça descobre o que aconteceu e alerta a polícia sobre os "terríveis" maníacos sexuais.

Neste ínterim, enquanto a lei se prepara para agir, os dois amigos acabam descobrindo a razão de seu problema com as mulheres: eles na verdade estão apaixonados um pelo outro! E, após consumarem este amor com uma transa (não-explícita), os dois fogem da polícia somente para morrer quando o Dodge que dirigem cai de um precipício - uma versão homossexual do clássico feminista "Thelma e Louise", de Ridley Scott, que foi filmado nove anos DEPOIS!

Segundo o livro "Maldito", de André Barcinski e Ivan Finotti, quando A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO ficou pronto, e era apenas um filme erótico comum, um amigo de Mário Lima, que era proprietário de uma distribuidora de filmes eróticos, sugeriu enxertar cenas de sexo explícito na edição, para faturar em cima deste novo e lucrativo filão de mercado que se abria.


Não era exatamente uma novidade: vários produtores estavam fazendo o mesmo, às vezes transformando produções que nada tinham de eróticas em filmes pornôs, simplesmente gravando novas cenas de sacanagem e incluindo na edição.

Foi o que também fizeram Mário e Mojica: gravaram duas cenas explícitas num motel, com atores que não faziam parte da edição "normal" do filme (entre eles Sílvio Júnior e Oswaldo Cirillo, que se tornariam galãs do pornô da Boca do Lixo), e enxertaram estas trepadas na trama sem qualquer cerimônia.

As "costuras" ficaram hilariantes: a primeira foi editada numa cena em que Paulo está no motel, como se fosse um filme pornográfico passando na TV naquele momento (!!!); a segunda simplesmente invade a trama, e no final do rala-e-rola a moça comenta com o rapaz: "Você sim que é homem, não aqueles broxas do Paulo e do Norberto!", apenas para tentar criar um elo daquela trepada isolada com o restante da história!


Apesar destas duas cenas hardcore, e de vários momentos softcore (incluindo transas a três no esquema "sanduíche", com a mulher no meio e um cara em cada "orífício" dela), os censores que ainda estavam em atividade encasquetaram justamente com a única cena gay do filme, um beijo entre Márcio Prado e João Francisco, que era filmado em close - e beijo entre homens ainda era novidade naqueles tempos. O irônico é que o filme nem chega a mostrar os dois personagens transando, e qualquer referência à homossexualidade da dupla encerra com este único e até inocente beijinho. No restante da trama, eles simplesmente falam do seu amor e andam de mãos dadas, tudo muito inocente.

Embora seja mais bem feito que os outros pornôs de Mojica, A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO não é um bom filme - e, como as outras obras explícitas do nosso Zé do Caixão, também acaba funcionando mais como comédia involuntária do que como drama erótico, pornô gay ou seja lá o que for.

Além da trama sem pé nem cabeça, que não se decide entre o clima de pornochanchada e o suspense (representado pelo lado psicopata dos dois protagonistas e pelas mortes provocadas pelo elixir sexual), há os costumeiros diálogos bisonhos e cenas impagáveis, elementos que aparecem com freqüência nas obras conjuntas entre Lima e Mojica.


As longas cenas de Paulo e Norberto fuçando em equipamentos de laboratório, por exemplo, são acompanhadas por diálogos antológicos como "Desse jeito os nossos sensos motores não sofrerão hipertensão!". Mais adiante, quando nasce o amor entre os protagonistas, o espectador é brindado com o seguinte diálogo entre os pombinhos:

- Se formos presos, nunca mais vamos nos ver!
- As coisas terrenas não mais nos separam, compreende?
- É claro! O nosso encontro é espiritual!
- Estamos em outra dimensão.
- A do amor?
- Do amor!


Além disso, a edição de Nilcemar Leyart, ex-namorada de Mojica, cria momentos involuntariamente cômicos, como ao intercalar uma cena de suspense (a mocinha prestes a ser atacada pela cobra venenosa) com takes sem noção dos amigos fazendo uma omelete! E há seqüências surreais, como o beijo entre os dois rapazes ao som da tétrica trilha sonora chupada do filme de horror "Phantasm", de Don Coscarelli, ou a "participação especial relâmpago" do próprio Mojica, com suas longas unhas e a pança de fora, "interpretando" um fanático religioso que simplesmente cai de pára-quedas na história!

O elenco conta ainda com algumas musas dos bons tempos da Boca do Lixo: Zilda Mayo (vista em filmes tão díspares quanto o suspense "Excitação", de Jean Garret, e "O Instrumento da Máfia", de Francisco Cavalcanti), Maristela Moreno (de "A Noite das Taras 2" e "Tortura Cruel") e Débora Muniz (foto abaixo; protegida de Mojica desde "Perversão", vista recentemente em "Encarnação do Demônio"), mas nenhuma das três protagoniza as cenas explícitas; para compensar, aparecem peladinhas.


O produtor-roteirista Mário Lima também dá as caras, como a testemunha de um dos crimes cometidos pela dupla Paulo e Norberto (destaque para sua fala, "Eles pareciam pessoas de bens", ao invés de "pessoas de bem"!!!).

A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO não fez o sucesso esperado na época de seu lançamento porque deu o azar de bater de frente com outro fenômeno do cinema erótico-pornográfico nacional, "Oh Rebuceteio!", de Cláudio Cunha, lançado na mesma semana. Hoje, é o tipo de filme que só funciona para quem curte as bizarrices produzidas na era de ouro da Boca do Lixo: filmes esquisitos, diferentes de tudo que se fazia antes e de tudo que se faz agora.

Não sei você, caro leitor do FILMES PARA DOIDOS, mas eu sempre achei estes pornôs da Boca muito mais divertidos do que os filmes de gênero contemporâneos (como as produções do selo Brasileirinhas, por exemplo). Por menos excitantes que fossem (e alguns eram e são realmente broxantes!), os A QUINTA DIMENSÃO DO SEXO da vida tinham algo de criativo e experimental, já que ainda era tudo novidade para os produtores de pornôs brasileiros. E é isso que os distingue desta mesmice que virou o cinema pornô atual.

Hoje, ironicamente, estes títulos antigos são mais procurados por fãs de cinema de horror ou exploitation do que pelos aficcionados por X-Rated. Fico me perguntando se algum dia essas obras todas receberão o devido resgate e valorização...


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A Quinta Dimensão do Sexo (1984, Brasil)
Direção: José Mojica Marins
Elenco: Márcio Prado, João Francisco,
Zilda Maio, Débora Muniz, Sílvio Júnior,
Oswaldo Cirillo e Maristela Moreno.