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sábado, 17 de novembro de 2018

TARGET EARTH (1954)


Filme antigo em preto-e-branco. A humanidade está sendo ameaçada por um inimigo desconhecido. A cidade tornou-se um túmulo. Um pequeno grupo de desconhecidos busca abrigo num local abandonado e tenta sobreviver, embora os avanços do Exército contra o inimigo sejam em vão. Isolados e assustados, os personagem começam a lutar e se matar entre eles, demonstrando que diante de uma ameaça desconhecida o ser humano ainda é um inimigo muito pior...

Até parece que estamos falando do clássico "A Noite dos Mortos-Vivos”, de George A. Romero, que redefiniu o horror ao ser lançado lá atrás, em 1968, correto?

Mas não: a descrição acima pertence a uma produção ANTERIOR ao Romero, lançada quase 15 anos antes (em 1954), e que por uma série de fatores (como veremos) não fez o mesmo sucesso, nem é tão memorável quanto o clássico “A Noite dos Mortos-Vivos” - embora talvez tenha influenciado o diretor; é uma pena que ninguém nunca perguntou enquanto ele estava vivo. Estamos falando de TARGET EARTH, uma esquecida ficção científica classe B que, apesar de trazer uma situação-limite bem parecida, não tem mortos-vivos comedores de carne humana, e sim... robôs assassinos do planeta Vênus!!!



TARGET EARTH (exibido nos cinemas brasileiros como “Invasão do Mundo”) foi produzido nos anos 1950, quando os cinemas norte-americanos estavam sendo invadidos por... bem, invasores alienígenas! A febre dos filmes com discos voadores, monstros cheios de tentáculos e robôs assassinos têm uma explicação psicológica: no livro “The Monster Show: A Cultural History of Horror”, o pesquisador David J. Skal argumenta que o fantástico, tanto na literatura quanto no cinema, sempre usou a ansiedade coletiva para provocar uma catarse, de maneira a preparar massas de espectadores para suportar a paranóia e o medo da morte iminente.

Nos anos 1950, quando esses filmes foram produzidos praticamente em escala industrial, o que causava ansiedade no cidadão norte-americano era a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética, e o medo de que sua grande nação fosse invadida pelo “perigo comunista” (percebam que certos medos volta-e-meia retornam...).



Assim, o cinema de gênero aproveitou para explorar a ameaça, de maneira simbólica, nos filmes sobre invasões “alienígenas” do período, onde os monstros muitas vezes não apenas dominavam e aniquilavam a raça humana (leia-se Estados Unidos da América), mas também controlavam seus cidadãos ou os substituíam por réplicas sem emoção (em produções como “It Conquered the World”, “Vampiros de Almas” e “Invasores de Marte”), numa alegoria aos “inimigos comunistas” infiltrados entre os “cidadãos de bem”.

TARGET EARTH começa com uma sequência de imagens que lembra outro clássico posterior - o “Psicose” (1960) de Alfred Hitchcock: uma câmera aérea vai se aproximando lentamente do conjunto de prédios de uma grande cidade até “entrar pela janela” de um deles, onde uma moça seminua (para os padrões da época, claro; na verdade ela veste uma recatada camisola) está deitada na cama.

O contexto da cena, entretanto, é completamente diferente de “Psicose”: se lá Marion Crane (Janet Leigh) tinha acabado de fazer sexo, aqui Nora King (Kathleen Crowley, cujo visual e figurino parecem ter inspirado a personagem de Sherilyn Fenn em “Twin Peaks”) acorda de uma mal-sucedida tentativa de suicídio - antes de chegar na moça, a câmera “passeia” pelo chão e passa por sua mão caída ao lado de um vidro de pílulas para dormir, aberto e com alguns comprimidos espalhados, num daqueles belos planos que explicam tudo sem que uma única palavra seja dita.


 
Frustrada por não ter conseguido morrer (o que é irônico, já que ela passará o restante dos 65 minutos do filme lutando pela vida!), Nora levanta, se veste e sai do quarto para descobrir que seu apartamento está sem luz e sem água. Ela sai e não encontra ninguém nos corredores do prédio. Do lado de fora, um silêncio mortal e nenhuma pessoa ou carro nas ruas. É como se ela fosse a última pessoa sobre a terra, tipo Robert Neville no clássico livro “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson, que por coincidência foi publicado no mesmo ano.

Os próximos minutos mostram o desespero da garota zanzando por ruas completamente desertas de uma grande cidade (segundo o filme, Chicago) sem encontrar ninguém. Até que, virando uma esquina, ela topa tanto com o cadáver de uma garota quanto com um homem bem vivo, Frank Brooks (Richard Denning, que no mesmo ano enfrentou o Monstro da Lagoa Negra no filme homônimo de Jack Arnold).


 
O medo fala mais alto e a mocinha tenta fugir, mas é perseguida e acalmada como os homens costumavam acalmar as mulheres nestes filmes dos anos 1950 (ou seja, com umas porradas). Ele explica que está na mesma situação: após uma noitada num bar, foi drogado, roubado e deixado para “dormir” num beco, e ao acordar também encontrou a cidade deserta. O que terá acontecido?

Pelos primeiros 35 minutos de TARGET EARTH, Nora e Frank irão caminhar pela cidade deserta em busca de um veículo para darem o fora (nenhum deles funciona porque foi convenientemente retirada uma peça do motor), um rádio para ouvir as notícias (igualmente nenhum deles funciona porque convenientemente as baterias também desapareceram) ou outras pessoas vivas que possam explicar o mistério.



Acabam encontrando um bizarro casal (Virginia Grey e Richard Reeves) que aproveita o apocalipse para comer e beber à vontade num restaurante chique. Mas logo a sombra ameaçadora de um perigo desconhecido assusta os sobreviventes, que buscam abrigo num hotel deserto e, através de uma manchete de jornal, finalmente descobrem o que aconteceu: a Terra está sendo invadida por alienígenas vindos de Vênus, que desembarcaram um exército formado por milhares de robôs indestrutíveis para patrulhar as ruas e eliminar qualquer humano que encontrem pela frente com seu “raio da morte”. Chicago foi completamente evacuada pelo Exército (e os sobreviventes deixados para trás estavam ou dormindo, ou muito ocupados para perceber o que acontecia), mas os robôs continuam à solta para eliminar quem sobrou.

E assim, após uns bons 35 minutos atormentando o espectador com o medo do desconhecido, TARGET EARTH finalmente materializa a sua ameaça. E o faz na frustrante forma de um desconjuntado robôzão de borracha, que se locomove a zero quilômetros por hora e é tão ameaça quanto uma tartaruga assassina. Pior: o suposto “exército de milhares de robôs” anunciado pelo jornal (e pela bela arte do pôster de cinema) nunca dá as caras, porque os produtores só tinham dinheiro para fazer um único traje de robô, então é sempre o mesmo robô zanzando solitário de lá para cá atrás dos protagonistas!



Com uma ameaça tão tosca e tão pouco assustadora ou ameaçadora, a trama acaba se beneficiando da tensão entre os humanos, relegando os robôs venusianos a um segundo plano (como Romero faria depois com seus zumbis): não bastasse as discussões entre os dois casais, logo aparece um quinto sobrevivente, um psicopata chamado Davis (Robert Roark), que, armado com um singelo revólver, acaba se demonstrando um horror muito pior (e mais real) do que o raio da morte dos invasores alienígenas.

Infelizmente, a narrativa começa a ser interrompida com bastante frequência por cenas envolvendo reuniões de emergência do Exército para tentar deter a ameaça (pffff...) dos inca... opa, robôs venusianos. Chatíssimas, estas cenas tiram todo o impacto e sensação de tensão e isolamento dos momentos com os sobreviventes na cidade deserta; enquanto os milicos conversam sem parar sobre planos para deter os invasores, cientistas estudam alternativas para eliminar os robôs, que são imunes a balas e bombas.

Lá pelas tantas, finalmente, ondas sonoras surgem como alternativa eficaz para o problema, numa solução que depois apareceu em filmes tão díspares quanto “Invasores Invisíveis / Invisible Invaders” (1959), “Invasão de Discos Voadores / Earth vs. the Flying Saucers” (1966), “Marte Ataca” (1996) e, mais recentemente, “Um Lugar Silencioso” (2018).



TARGET EARTH foi dirigido por Sherman A. Rose, que até então era conhecido como um exímio editor de filmes B de faroeste. Entre 1937 e 1943, ele montou 23 aventuras do hoje esquecido herói Hopalong Cassidy, um valente Texas Ranger que era interpretado por William Boyd no cinema. Depois foi trabalhar como editor em seriados de TV, até ser convidado para seu primeiro trabalho na direção com esta mirabolante trama sobre robôs assassinos do planeta Vênus.

Rose não teve uma carreira muito expressiva na função: depois deste só assinou outros dois filmes, incluindo o clássico trash “Tank Battalion”, de 1958 (um filme de guerra construído ao redor de cenas de arquivo de guerras verdadeiras!). Aí desistiu desse negócio de dirigir e voltou para o departamento de edição, onde trabalhou até o final dos anos 1960. Rose morreu em 1986.

Fica claro que Sherman Rose era apenas um diretor de aluguel, contratado por alguns trocados para tocar o projeto pelo verdadeiro cérebro por trás de tudo: o famoso produtor Herman Cohen, que notabilizou-se por espetáculos sensacionalistas e com nomes apelativos como a cópia feminina de King Kong, “Konga” (1961), e as clássicas picaretagens com monstros adolescentes “I Was a Teenage Werewolf” e “I Was a Teenage Frankenstein”, ambos de 1957.



Numa entrevista à revista Fangoria, em janeiro de 1992, Cohen lembrou que TARGET EARTH nasceu quando ele comprou uma daquelas revistas de pulp fiction tão comuns na época, que traziam contos de ficção científica e horror, e encantou-se com uma história chamada “Deadly City” (Cidade Mortal), escrita por Paul Warren Fairman (1909-1969) usando o pseudônimo “Ivar Jorgensen”. A revista em questão foi a IF Magazine de março de 1953, que inclusive anunciava “Deadly City” na capa.

“Jim Nicholson [James H. Nicholson, então presidente da American International Pictures, que produziu os primeiros filmes de Roger Corman] estava comigo, se interessou pela história e começou a escrever um tratamento, e eu o comprei de Jim por 250 dólares. Mudei o título para TARGET EARTH e comecei a escrever um roteiro com um sujeito chamado Bill Raynor”, explicou o produtor.

Bill Raynor era William Raynor, que roteirizou alguns outros filmes B de ficção científica do período (como “Phantom from Space”, de 1953, e “Killers from Space”, de 1954), antes de também terminar na TV, escrevendo episódios dos seriados “Agente 86” e “Os Gatões”.



À época, Cohen ainda não era o “super-produtor” que acabaria se tornando - ele tinha trabalhado como produtor executivo e produtor associado em outros seis filmes. TARGET EARTH foi sua primeira grande aposta, que ele tirou do papel praticamente sozinho, conforme relatou à Fangoria: “Eu era um jovem com vinte-e-poucos anos e consegui marcar um encontro com Harold Mirisch e Steve Broidy, da Allied Artists. Eles leram minha primeira versão do roteiro e gostaram. Eu disse que poderia filmá-lo por menos de 100 mil dólares, e eles entraram com parte deste dinheiro. No fim gastamos menos que isso, acho que foram uns 85 mil dólares”.

Como é sabido, no universo do cinema barato um orçamento apertado exige vários sacrifícios e muita malandragem dos realizadores para que as coisas funcionem sem gastar muito. No caso de TARGET EARTH, as filmagens tiveram um cronograma apertadíssimo (apenas SETE DIAS!) e aconteceram em julho de 1954, principalmente em estúdio.



Já as cenas que mostravam os atores caminhando pela cidade deserta foram filmadas sem nenhum tipo de permissão e a mais de 3.000 quilômetros da Chicago de verdade, em Los Angeles! L.A. era muito mais movimentada que Chicago, mas também livrava os realizadores de bancarem os custos de transporte até a outra cidade (e vá entender porque simplesmente não trocaram de cidade na história, considerando que a geografia não afeta a trama em absolutamente nada!).

Sem permissão oficial para fechar ruas e desviar o tráfego, Cohen e sua trupe filmavam cedinho da manhã (o céu cinzento começando a clarear é perceptível em várias cenas), quando ainda era possível circular pelas ruas praticamente desertas. “Filmamos nos finais de semana e sem autorização nas ruas desertas de Los Angeles do início da manhã para conseguir as cenas da cidade evacuada”, explicou Cohen. “Um amigo meu era policial e nos acompanhou algumas manhãs vestido com seu uniforme para tornar 'oficial', mas não tínhamos nenhuma autorização e poderíamos acabar com sérios problemas”.



A malandragem deu certo e estas cenas funcionam muito bem, chegando a lembrar “Mortos que Matam / The Last Man on Earth”, a primeira adaptação do livro “Eu Sou a Lenda”, que foi feita dez anos depois de TARGET EARTH. Infelizmente, o material filmado não deve ter sido suficiente na hora da edição, e por isso o filme também usa freeze frames (imagens congeladas) de algumas ruas desertas, num recurso perceptível e muito tosco.

E por falar em tosco, muitas vezes o estilo Sherman Rose/Herman Cohen de fazer cinema lembra bastante um certo Edward D. Wood Jr, ou simplesmente Ed Wood. Tipo o uso de cenas de arquivo de exercícios militares e caças voando para economizar dinheiro com a FILMAGEM destas cenas - algo que Wood faria, cinco anos depois, em “Plan 9 From Outer Space”.

Outro elemento "edwoodiano" diz respeito à maneira como foi feito o casting: o ator Robert Roark, que interpreta o psicopata à solta, faz parte do elenco do filme não exatamente por seu talento como intérprete, mas apenas porque seu pai foi um dos principais investidores! E o próprio produtor Cohen aparece no filme, “interpretando” um dos técnicos do laboratório militar, para economizar dinheiro com figurantes.


É uma pena que TARGET EARTH comece tão bem, explorando a sensação de isolamento, de solidão e de não saber o que está acontecendo, e a partir da entrada em cena dos patéticos robôs venusianos o filme despenque direto para o panteão da comédia involuntária. Porque é impossível assumir como ameaça aquele trombolho que anda se arrastando e dispara um único “raio mortal” por vez, e sem muita mira.

O famigerado robô alienígena de Vênus deveria aparecer aos milhares, para dar a impressão de uma invasão em larga escala, mas os realizadores resolveram economizar dinheiro construindo um único traje de robô - usado por ninguém menos que Steve Calvert, um “ator” que especializou-se em vestir roupa de gorila para interpretar macacos assassinos em filmes como “A Noiva e a Besta” (1958) e “Bela Lugosi Meets a Brooklyn Gorilla” (1952)!


“Atacamos Los Angeles com um único robô!”, divertiu-se o produtor Cohen, ainda na entrevista para a Fangoria. “David Koehler era um técnico de efeitos especiais com quem eu ocasionalmente trabalhava, e ele construiu o negócio na minha garagem”. A julgar pelo robô fajuto de TARGET EARTH, está explicado porque Koehler nunca mais trabalhou em filmes de ficção científica e horror, preferindo migrar para efeitos mais “realistas” em grandes filmes de grandes diretores, como “O Grande Golpe” (1956), do Kubrick, “Morte Sem Glória” (1956), do Robert Aldrich, e “The Chase” (1966), do Arthur Penn.

Ironicamente, no conto “Deadly City”, que deu origem ao filme, a narrativa permanece o tempo inteiro acompanhando a interação entre os personagens humanos, e não traz um único robô alienígena, quem dirá do planeta Vênus. Somente perto do final os protagonistas descobrem, por meio da manchete num jornal esquecido, que a cidade foi evacuada por conta da ameaça de uma invasão extraterrestre, mas os seres de outro mundo nunca aparecem diretamente na história e nem ameaçam os humanos, que ficam à mercê da maldade deles mesmos - personificada pelo sádico assassino Davis.
No final do conto, numa reviravolta ao estilo “Guerra dos Mundos”, descobre-que os alienígenas que chegaram a dominar a cidade estão morrendo vitimados por alguma substância na nossa atmosfera para a qual seu organismo não tem imunidade. Ao contrário do filme, também, o conto de Fairman nunca corta para o Exército planejando o contra-ataque, permanecendo o tempo inteiro com seus confusos e solitários personagens principais. Para quem se interessou, clique aqui para ler “Deadly City” (em inglês).

Mas se o conto não tem robôs, por que diabos eles acabaram em TARGET EARTH?

Bem, primeiramente pela facilidade: era mais prático (e barato) construir um traje de robô do que um de monstro alienígena. E depois porque o cinema de ficção científica do período estava fascinado pelas criaturas mecânicas do espaço sideral desde o Gort do clássico “O Dia em que a Terra Parou” (1951), que foi a inspiração direta para praticamente tudo que veio depois - dos robôs venusianos de TARGET EARTH ao humanóide marciano de “Devil Girls From Mars” (1954), todos iguais na simplicidade do visual e principalmente no raio mortífero disparado pelo que parece ser o “olho” da criatura, tipo Gort já fazia no filme de Robert Wise.


Descontando este pequeno grande detalhe de ter inventado uma ameaça robótica inexistente no material em que se inspirou, até que TARGET EARTH é razoavelmente fiel ao conto de Fairman. Numa interessante inversão de papéis que não era tão comum no período, a adaptação para o cinema deu o protagonismo a Nora, e não a Frank (no conto é ele o personagem principal apresentado por primeiro).

Mas é claro que a Nora de Kathleen Crowley passa longe das mulheres fortes da ficção científica, surgidas principalmente a partir dos anos 1970. Está mais para a típica “mocinha em perigo” da década de 1950, sempre gritando - ou, o que acontece com mais frequência, evitando um grito com as costas da mão - e buscando o abraço do “macho” Frank para tranquilizá-la em momentos de horror. Ainda assim, este é o grande momento da atriz no cinema, ela que depois passaria a ser coadjuvante em seriados de TV como “Bonanza” e o “Batman” do Adam West.



Hoje, mais de 60 anos depois do lançamento de TARGET EARTH, a Terra ainda não foi invadida por extraterrestres, muito menos por robôs - sejam eles de Vênus ou de qualquer outro planeta. Os robôs cinematográficos também evoluíram bastante e perderam o visual de monstrengo de lata para ganhar feições e agilidade humanas, em obras-primas como “Westworld - Onde Ninguém Tem Alma” (1973) e “O Exterminador do Futuro” (1984). 

Mas as latas-velhas que ameaçavam Terra e terráqueos nestas saudosas produções baratas de ficção científica dos anos 1950 conquistaram um lugarzinho de destaque no coração dos cinéfilos e se recusam a morrer. Vide Robby the Robot, criado em 1956 para o clássico “Planeta Proibido”, e que desde então faz participações espaciais (muitas vezes como “Itself”) em seriados de TV e nos filmes dirigidos por Joe Dante!

PS: O autor do conto que deu origem a TARGET EARTH, Paul W. Fairman, está praticamente esquecido hoje, apesar de ter escrito 15 romances e dezenas de contos de ficção científica na sua época. Uma curiosidade sobre o trabalho de Fairman é que um de seus contos, “Beast of the Void”, publicado em 1956 nestas revistas vagabundas de pulp fiction, é considerado o primeiro ou um dos primeiros a apresentar uma substância alienígena inteligente capaz de assumir a forma de outras criaturas através da memória de suas vítimas - uma ideia que seria explorada filosoficamente anos depois, em 1961, por Stanislaw Lem no livro “Solaris”, que por sua vez foi adaptado para o cinema por Andrei Tarkovsky em 1972 e por Steven Soderbergh em 2002!



Trailer de TARGET EARTH





terça-feira, 5 de novembro de 2013

ALIEN 2 (1980)


Você já viu a continuação do clássico "Alien, O Oitavo Passageiro"? Então certamente lembra da cena da menina na praia, chorando, com o rosto arrebentado. Ou daquela em que o verme alienígena sai pelo olho da garota dentro da caverna. E como esquecer da cena do alpinista pendurado de ponta-cabeça, se debatendo enquanto um verme devora seu pescoço, até a cabeça soltar-se e cair?

A estas alturas, muitos leitores devem estar pensando que eu tomei chá de cogumelo. Afinal, não existe nenhuma cena parecida com estas na continuação de "Alien", aquela dirigida por James Cameron em 1986. Ora, mas é claro que eu não estou falando de "Aliens, O Resgate"! Estas cenas todas que citei estão na sequência “não-oficial” (pra não dizer pirata, ou picareta, ou sem-vergonha), realizada seis anos antes, em 1980, por produtores italianos, e com um título pra lá de falso: ALIEN 2 - SULLA TERRA, ou simplesmente ALIEN 2 nos cinemas brasileiros.


Mas é claro que, apesar do nome digno de processo judicial, o filme italiano não tem absolutamente nada em comum com o "Alien" de Ridley Scott, além, é claro, da presença de alienígenas. Como o subtítulo já anuncia ("Sulla Terra" = Na Terra), a trama nem mesmo acontece no espaço, já que a produção obviamente não tinha dinheiro para pagar efeitos especiais à altura daqueles do filme de Scott. A solução foi jogar os personagens nas profundezas de uma gigantesca caverna - pois ali, como no espaço, é escuro, isolado e silencioso, pelo menos na cabeça-de-bagre dos produtores!

Os italianos nem ao menos tentaram copiar os elementos que deram certo em "Alien", como os ovos extraterrestres (que seriam melhor aproveitadas em outra imitação macarrônica do filme de Scott, o "Alien Contamination" de Luigi Cozzi) ou os monstros que saem pelo estômago das vítimas. Assim, nesta suposta "sequência", o monstro alienígena não tem uma forma definida e passa o tempo inteiro no escuro, os ovos de alien são pedras vindas do espaço sideral, e, se não há explosão estomacal, pelo menos temos a rápida cena de um alien saindo do ROSTO (isso mesmo) de uma vítima!


O responsável por este atentado ao bom gosto é um italiano chamado Ciro Ippolito, que escreveu, produziu e dirigiu a bagaça usando o pseudônimo americanizado "Sam Cromwell". Você provavelmente nunca ouviu falar dele, e nem deveria: o cara ficou famoso mundialmente por ter dirigido ALIEN 2, e quase ninguém viu ALIEN 2.

Antes, ele tinha trabalhado como ator e também foi produtor de uma série de policiais baratos sobre a Camorra, a Máfia napolitana, dirigidos por Alfonso Brescia, um dos muitos candidatos a "Ed Wood italiano". Talvez Ippolito tenha "aprendido" a dirigir com Brescia, o que explica muita coisa (não por acaso, o diretor de fotografia de ALIEN 2 é Silvio Fraschetti, colaborador habitual do velho Brescia).


Originalmente, Ciro iria apenas escrever e produzir o filme, que seria dirigido por Biagio Proietti (que roteirizou "The Black Cat" para Lucio Fulci). Num daqueles mistérios do mundo da sétima arte, Proietti demitiu-se ou foi demitido após algumas diárias (seu nome ainda é citado como diretor não-creditado no IMDB), e o então ainda produtor Ippolito convidou ninguém menos que Mario Bava (!!!) para assumir a cadeira de diretor. O veterano recusou polidamente o que poderia ser o último filme da sua carreira (ele morreu alguns meses depois), e sugeriu que o próprio Ciro dirigisse.

Foi o que aconteceu. E, como era comum na época, Ippolito conseguiu um acordo de distribuição de ALIEN 2 no mercado estrangeiro antes mesmo que qualquer cena fosse filmada, somente pelo título e pelo pôster, faturando uma bela fortuna. Mas ao invés de investir esse dinheiro no filme (daria cerca de 200 mil euros, em valores atuais), Ciro preferiu torrá-lo comprando um Jaguar para ele e uma Mercedes para o distribuidor! O cara-de-pau contou o episódio em uma entrevista recente.


Logo, sem dinheiro, sem talento e sem condições técnicas, mas na obrigação de entregar uma cópia vagabunda de "Alien" cujos direitos de exibição já estavam vendidos para diversos países, Ippolito resolveu fazer o filme da forma mais barata possível. Entre as táticas para economizar, ele aproveitou muitas cenas de arquivo (mostrando operações espaciais verdadeiras da Nasa), todas desbotadas, granuladas e por isso facilmente identificáveis, como você pode ver nas imagens acima.

ALIEN 2 inclusive começa com uma sequência destas cenas, que Ippolito deve ter tirado de algum noticiário sobre alguma missão espacial. As imagens mostram técnicos olhando para terminais de computador, um astronauta flutuando dentro de uma cápsula espacial, tomadas feitas do espaço e takes de navios e helicópteros militares fazendo o resgate de uma nave. Depois, à la Ed Wood, bastou costurar estas imagens reais com uma narração em off para criar a "trama": ao que parece, uma nave espacial norte-americana acabou de retornar de uma missão espacial, mas os astronautas que deveriam estar no seu interior simplesmente desapareceram!


No que terminam as imagens de arquivo, finalmente nosso amigo Ciro mostra a que veio. Primeiro, ele nos brinda com uma longa cena em que a heroína Thelma (a americana Belinda Mayne, filha do ator Ferdy Mayne) e seu namorado Roy (Mark Bodin) dirigem até o estúdio de uma emissora de TV, onde Thelma, uma famosa exploradora de cavernas, vai participar de uma entrevista ao vivo.

Enquanto fala ao repórter sobre sua interessantíssima vida de exploradora de cavernas, Thelma tem uma premonição de que algo horrível está para acontecer, justamente no momento em que o pessoal da Nasa está resgatando a cápsula que acabou de retornar da tal missão espacial. Detalhe: o diretor do programa de TV é o próprio Ciro Ippolito, em "participação especial"!

Acontece que a moça tem poderes telepáticos, conforme demonstrará várias outras vezes ao longo do filme (menos quando eles são REALMENTE necessários), e que variam desde um "sexto sentido" diante do perigo iminente - mais ou menos como o “Sentido de Aranha” do Homem-Aranha - até o poder de explodir cabeças à la "Scanners"! Sabe como é, poderes mentais estavam na moda graças a "Carrie" e "A Fúria", e Ippolito tentou faturar em cima do interesse nisso também...


Com sua entrevista encerrada, Thelma e Roy vão até um boliche encontrar seus amigos Burt (um tal de "Mychael Shaw", que na verdade é o futuro cineasta Michele Soavi!), Jill (Judy Perrin) e alguns outros cujo nome não interessa porque são apenas carne de abate. No total, e isso é o que interessa no final das contas, são oito pessoas, e todos fazem parte da mesma equipe de exploradores de cavernas.

A turma gasta mais um tempo precioso papeando, jogando boliche, etc etc, antes de partir para o que realmente interessa: no dia seguinte, o grupo sai para explorar uma gigantesca caverna, e é só aí que o filme “começa a começar” (embora Ciro já tenha queimado uns 25 minutos em inutilidades até então!).


Na última parada antes da expedição caverna adentro, em um armazém onde compram mantimentos, Burt vai tirar a água do joelho e encontra uma pedra brilhante do lado de fora da loja. Curioso, ele a recolhe e mostra aos amigos, que também ficam inexplicavelmente fascinados por uma rocha bem comum até. E Thelma, sabe-se lá porque, resolve colocar a tal pedra em sua mochila e levá-la junto na expedição.

Aí você pode até pensar: "Mas o que essa mané vai fazer com uma pedra no interior de uma caverna? O peso não vai atrapalhar?”. Bem, caro leitor, acredite se quiser, mas a pedra na mochila é o menos ridículo, considerando que o personagem de Soavi leva uma pesada MÁQUINA DE DATILOGRAFIA dentro da sua mochila até as profundezas da caverna, somente para poder escrever suas memórias à luz de velas! Não sei porque, mas neste momento lembrei daquelas cenas de filmes sobre expedições em que o guia sempre diz: "Levem apenas o que for estritamente necessário!".


Depois que o grupo entra na tal caverna, são mais uns 15 minutos de enrolação, um
caminha pra lá, caminha pra cá, escala ali, desce com corda aqui, tudo na maior escuridão. No auge da pouca-vergonha, doido para matar mais tempo de projeção, Ciro filma, um por um, os oito exploradores descendo um paredão com cordas, do começo até o fim do percurso!

Mas, justiça seja feita, o diretor consegue uma cena bonita quando o grupo liga as luzes dos capacetes na escuridão da caverna - essas luzes parecem estrelas no Cosmos, e isso ironicamente é o mais perto que o filme consegue chegar do espaço...


Após mais um monte de escalada e conversa fiada, e de uma rápida cena de topless de nossa heroína, a coisa finalmente começa a ficar interessante - e já passaram 35 minutos de filme! Durante uma das intermináveis caminhadas pelos escuros corredores, Jill percebe que a tal pedra misteriosa, que Thelma ainda leva na sua mochila, está pulsando e brilhando. Ela põe a fuça bem pertinho para investigar e uma coisa salta de dentro da pedra em sua direção.

Jill cai dura e fica inconsciente. E enquanto seus amigos fazem de tudo para medicá-la, aquele monstro que antes estava dentro da pedra sai da cabeça da garota pela órbita de um dos seus olhos, rasgando o rosto da vítima sem dó nem piedade, num efeito tosco, mas repelente. Com essa cópia fajuta da chocante morte de John Hurt em "Alien, O Oitavo Passageiro", as coisas finalmente começam a engrenar em ALIEN 2.


Outras mortes terríveis se sucedem - como a do sujeito pendurado de ponta-cabeça enquanto o verme alienígena devora sua garganta, fazendo com que, lentamente, a cabeça do cara se solte e caia -, até que os sobreviventes resolvem se separar para procurar a saída da caverna.

Só que aí o alien já cresceu até ficar do tamanho de um gigantesco monstrengo devorador de pessoas (nunca mostrado em cena, por incrível que pareça), e que vai devorando todo mundo até restar apenas - oh, que surpresa! - o casal Thelma e Roy. Eles até conseguem sair da caverna e voltar à civilização, mas digamos que o mundo não é mais o mesmo desde que eles partiram para o subterrâneo horas antes...


Numa época em que não existia internet e as informações sobre cinema não se espalhavam com a rapidez de hoje, o ALIEN 2 carcamano enganou muita gente ao se passar como continuação verdadeira do filme de Ridley Scott (lançado no ano anterior, 1979). Tanto que quando a pirataria italiana chegou aos cinemas brasileiros, em 15 de junho de 1981, o repórter da Folha de São Paulo comprou gato por lebre e a divulgou como "sequência oficial".

Menos mal que a equipe da Folha foi ver o filme e, já na edição do dia seguinte (16/06/1981), corrigiu a própria "barriga": "Não se engane, não é a continuação de 'Alien', da Fox, exibido aqui no ano passado, mas apenas uma apropriação, provavelmente indébita, do monstro americano". Dois dias depois, o jornal publicou crítica assinada por Luciano Ramos esculhambando o filme (veja reprodução deste material abaixo; clique nas imagens para ampliar).

Folha caiu na 'Pegadinha do Mallandro' em 15/06/1981...

...e depois detonou o filme em 18/06/1981

Enfim, o ALIEN 2 genérico conseguiu fazer uma carreira tão popular pelos cinemas do mundo afora que, diz a lenda, a continuação oficial, aquela dirigida por James Cameron em 1986, só se chama "Aliens" porque seus produtores não queriam que um novo ALIEN 2 rivalizasse as atenções com a cópia pirata italiana nas prateleiras das locadoras!

Segundo o IMDB, a 20th Century Fox (que detinha os direitos do filme de Ridley Scott) até tentou processar Ciro Ippolito em 10 milhões de dólares pelo uso picareta do título do filme "Alien", mas um advogado espertinho livrou a cara do realizador italiano dizendo que ele teria se baseado em um livro de 1930 que também se chamava "Alien"! Pode?

Curiosamente, a base do filme inteiro, mais do que o próprio "Alien", parece ter sido a série inglesa "Quatermass". A ideia da sonda espacial que volta à Terra sem seus ocupantes, por exemplo, foi "emprestada" de "Terror que Mata" ("The Quatermass Experiment", 1955), enquanto os aliens escondidos em rochas vêm diretamente de "Quatermass 2" (1957), em que meteoritos traziam extraterrestres em forma gasosa no seu interior.


Fato é que, até pouco tempo atrás, essa trasheira era bem difícil de achar - aquele típico filme que todo mundo sabe que existe, mas ninguém realmente assistiu, como o "Star Wars Turco". Lembro que a primeira cópia que encontrei para assistir, cerca de 10 anos atrás, era gravada da TV italiana, e a imagem estava péssima - praticamente não se enxergava nada durante as cenas no interior da caverna escura.

Assim, foi um verdadeiro milagre quando uma distribuidora norte-americana lançou ALIEN 2 em BLU-RAY (!!!) há alguns anos, e fez um trabalho incrível na recuperação do filme, agora disponível pela primeira vez com imagem cristalina e remasterizada (menos aquelas cenas de arquivo no início, essas continuam ruins e granuladas). Só conferindo esse relançamento em blu-ray para perceber como a fotografia é linda, mesmo num troço barato e mal-feito como esse.


Por sinal, a locação é uma atração à parte: a caverna onde a história se passa é a Grotte di Castellana, que fica na província de Bari, em Puglia, Itália (saiba mais acessando o site oficial). O lugar é belíssimo e ficou muito bem representado no filme, dando aquele ar de claustrofobia buscado pelos realizadores que não tinham grana suficiente para simular uma nave ou o espaço, como Ridley Scott.

A surpresa vem quando você descobre que boa parte dos sinistros corredores e paredões de pedra do interior da caverna foram recriados em estúdio pelos designers Angelo Mattei e Mario Molli. Pois assistindo o filme você não diz que a coisa é de mentirinha, o que não deixa de ser um ponto positivo da produção (ou seja, nem sempre a falta de dinheiro significa desleixo).


Pena que, como já escrevi, Ciro Ippolito é um grande relaxado e preguiçoso, que provavelmente sabia que o título enganoso por si só já atrairia o público aos cinemas, e portanto não precisava caprichar no filme. Existem inúmeros tempos-mortos em ALIEN 2 que são um teste à paciência de qualquer espectador.

Sabe nos filmes do Godard ou do Tarkovsky, quando tem uma cena de cinco minutos só com o personagem acordando e levantando da cama? Os críticos chamam isso de "introspecção", "reflexão" e outros termos bonitos, mas para mim é só encheção de linguiça mesmo. De qualquer forma, Ippolito entrega incontáveis momentos arrastados de "introspecção", daqueles que nos fazem acender uma vela para o inventor da tecla Fast Foward.


Digamos apenas que ALIEN 2 não tem nenhuma pressa para contar sua historieta. O filme tem 92 minutos, mas os primeiros 40 são completamente dispensáveis, loooooooongos takes em que parece que Ciro esqueceu a câmera ligada acidentalmente e o editor mandou ver assim mesmo. Quando Thelma e Roy saem de casa para a entrevista da garota na TV, a câmera acompanha todo o trajeto do carro saindo da garagem e manobrando para entrar na rua, depois continua acompanhando a porta da garagem até fechar; como se já não fosse suficiente, ainda vemos todo o trajeto da casa deles até a emissora.

Mais tarde ainda, quando Thelma vai procurar seu psiquiatra, Peter (Donald Hodson), para falar sobre suas visões, é óbvio que seria muito fácil cortar diretamente para a moça deitada no divã do doutor. Ciro, por outro lado, prefere a "introspecção": ele mostra Thelma dirigindo até a praia, saindo do carro, caminhando até a beira do mar, observando um barco no horizonte, de onde desce o tal psiquiatra num bote, rema até a praia (durante longos minutos, já que precisamos ver todo o trajeto do bote até a margem), sai do bote e enfim começa a conversar com sua paciente. Um dia descobriremos que Ciro Ippolito era um gênio incompreendido e ele queria apenas representar "a forma como as pessoas nadam contra as ondas para resolver os problemas do próximo", ou algo do gênero. Seja como for, o tal psiquiatra passa cinco minutos remando até sua paciente e 30 segundos conversando com ela. Bela ajuda!


E quando os personagens entram na caverna, as coisas não melhoram muito. Pelo contrário: se você não for um fã confesso de maravilhas da natureza e/ou entusiasta da exploração de cavernas, provavelmente pegará no sono em alguma das incontáveis cenas dos jovens zanzando para lá e para cá entre túneis e estalagmites.

Sério, Ciro é tão ruim e sem-noção como diretor, e seu editor (Carlo Broglio) tão incompetente, que até a grande cena do filme - o alienígena saindo pela primeira vez de uma vítima - acaba se tornando demorada e intragável: a câmera se desloca, lentamente, dos pés de um dos rapazes pelo chão, percorrendo o corpo deitado da vítima da ponta dos pés até a cabeça, num take interminável e sem cortes! Bendito seja o Fast Foward! (Para masoquistas, existe uma versão ainda mais longa dessa cena como extra no blu-ray gringo!)


Menos mal que os ataques do monstro e cenas sangrentas (que representam, no máximo, uns 15 minutos do longa!) funcionam razoavelmente bem. Eu gosto bastante de uma cena envolvendo uma menininha na praia, que se aproxima de uma das pedras alienígenas enquanto ela está pulsando. Momentos depois, quando sua irmã (ou babá, ou mãe) vai procurá-la, encontra a pobre criança ajoelhada na areia e chorando, de costas. Quando a menina finalmente se vira, descobrimos que está com o rosto todo arrebentado! Brrrrr...

Outra cena bem legal, mas esta pelo fator trash, acontece no fim, quando Thelma e Roy voltam para a cidade e, ao invés de correrem direto para a delegacia, hospital ou quartel mais próximo, acabam seguindo direto para... aquele boliche onde eles estavam com os amigos no começo do filme! Ali, Thelma é perseguida pelo agora gigantesco monstro alienígena. E como Ciro não tinha dinheiro para construir um monstrão, filmou a cena do "ponto de vista do monstro", simplesmente colando pedaços de carne na lente da câmera (abaixo)! É impossível não rolar de rir.


E embora eu seja o primeiro a assumir que ALIEN 2 é ruim de lascar, confesso que tenho um carinho especial pelo filme porque ele já traz ideias e situações que veríamos em produções posteriores muito melhores. Por exemplo: a trama com os exploradores sendo atacados por monstros numa caverna viraria um filmaço 25 anos depois nas mãos do inglês Neil Marshall, em "Abismo do Medo" (2005).

Já algumas imagens violentas, como a cabeça se desgrudando do corpo, ou os tentáculos saindo pelo pescoço de uma vítima, me lembram as dolorosas mutações vistas posteriormente em "O Enigma do Outro Mundo" (1982), de John Carpenter.

E tem também um momento absurdo em que o monstro alienígena está escondido no corpo de um dos exploradores e Thelma usa seus poderes telecinéticos para explodir a cabeça da vítima, forçando o alien a se revelar - outra imagem que veríamos de maneira muito mais eficiente depois, em "Scanners" (1981), de David Cronenberg. (Embora seja covardia comparar a sangrenta explosão cabeçal de "Scanners" com a máscara de gesso inexpressiva que explode em ALIEN 2...)


Por tudo isso, é uma pena que ALIEN 2 seja tão ruim. Um diretor decente poderia tirar pelo menos um filme divertido dessa bagunça. Porque, do jeito que está, lembra até aqueles tempos pré-MP3, quando por duas ou três músicas boas você era obrigado a comprar um álbum inteiro em LP ou CD. Quer ver todas as cenas boas de ALIEN 2? Então assista ao trailer. O que não está no trailer é pura enrolação para fechar o tempo de um longa.

Ciro poderia também ter dado uma revisada no seu roteiro, repleto de problemas absurdos. Por que a equipe leva a pedra-alienígena para dentro da caverna ao invés de simplesmente encontrá-la por lá mesmo, por exemplo? Qual é exatamente o plano dos aliens, além de sair de pedras para o corpo dos humanos e depois de dentro deles para lugar nenhum? E por que Thelma não usa seus poderes de "scanner" para destruir o monstrão alienígena, considerando que eles são bem eficientes quando precisou explodir a cabeça de um dos seus amigos "possuídos" pelo extraterrestre?


Embora tenha chegado a alguns poucos cinemas no Brasil, ALIEN 2 nunca foi lançado em vídeo ou DVD por aqui. Mesmo lá fora, o filme só reapareceu recentemente no belíssimo blu-ray da Midnight Legacy Collection que eu mencionei. Antes, era raridade total.

Pois na minha ideia de um mundo ideal, edições de colecionador de todas as cópias vagabundas de "Alien" (incluindo este e "Alien Contamination") seriam lançadas num gigantesco "Ultimate Box Set" junto com a série "Alien" oficial. Nem que fosse para mostrar como muitas dessas cópias ainda são mais divertidas que os filmes originais, tipo "Alien 3" ou "Alien x Predador".

PS: Ciro Ippolito continua vivo e, em 2010, lançou uma auto-biografia chamada "Un Napoletano a Hollywood", sobre sua carreira como cineasta e produtor. Quem já leu disse que o livro é engraçadíssimo.


Trailer de ALIEN 2



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Alien 2 - Sulla Terra (1980, Itália)
Direção: Ciro Ippolito (aka Sam Cromwell)
Elenco: Belinda Mayne, Mark Bodin, Judy Perrin,
Michele Soavi (aka Mychael Shaw), Roberto Barrese,
Benedetta Fantoli e Claudio Falanga.