WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador canibalismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador canibalismo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 17 de abril de 2014

WHITE CANNIBAL QUEEN (1980)


Em 1972, um filme de baixo orçamento chamado "O País do Sexo Selvagem" ("Il Paese del Sesso Selvaggio / The Man From the Deep River"), dirigido pelo italiano Umberto Lenzi, lançou as bases de um dos ciclos mais infames do cinema classe B produzido na Itália: as aventuras envolvendo ataques de canibais. Enquanto a de Lenzi não passava de uma mistura do western "Um Homem Chamado Cavalo" (1970), de Elliot Silverstein, com o clima do documentário sensacionalista "Mundo Cão" (1962), de Paolo Cavara, Franco Prosperi e Gualtiero Jacopetti, o que veio depois era tão sangrento e apelativo que já entrava no território do cinema de horror, com direito a cenas reais de animais sendo mortos e esquartejados diante da câmera!

Ao longo da década de 1970, e até o começo dos anos 1980, vários diretores se aventuraram por este subgênero: Ruggero Deodato (com seus clássicos "O Último Mundo dos Canibais" e principalmente "Cannibal Holocaust"), Sergio Martino ("A Montanha dos Canibais"), Joe D'Amato ("Emanuelle and the Last Cannibals" e "Papaya dei Caraibi"), e o próprio Lenzi (de volta à carga com "Os Vivos Serão Devorados" e "Cannibal Ferox"), entre outros menos expressivos.


Enquanto isso, o cineasta espanhol Jess Franco estava fazendo filmes sob encomenda para a Eurociné, uma pequena produtora de cinema de Paris que pertencia aos seus mais antigos colaboradores, Marius e Daniel Lesoeur. E não via nada de bom no tal ciclo italiano de filmes sobre canibais. Mesmo assim, quis o destino (ou a falta de opção melhor) que pai e filho Lesoeur contratassem justamente o pobre Jess para rodar não um, mas DOIS filmes sobre o tema!

O primeiro deles foi "Mondo Cannibale", mais conhecido pelos títulos em inglês "The Cannibals" e principalmente WHITE CANNIBAL QUEEN. O outro, "Manhunter - O Sequestro", foi rodado alguns meses depois e é bem melhor, principalmente por ser menos "canibais x homens brancos" e mais filme de monstro. Ambos foram estrelados por Pier Luigi Conti, cujo nome artístico é "Al Cliver".


Sobre os tais filmes italianos de canibais que estavam no auge do sucesso na época (foi o ano da estreia de "Cannibal Holocaust"), Jess disse o seguinte, em entrevista para o DVD norte-americano de WHITE CANNIBAL QUEEN: "Eu vi alguns deles e não gostei, eram repulsivos. Vi um ou dois, e não quis ver mais nenhum. Estes filmes tentavam ser realistas, mas eram o oposto, falsos e baratos".

Entretanto, segundo ele, havia pelo menos três coisas boas a tirar de um filme do gênero quando você era contratado para filmar um: "Eles são exóticos, têm ação, aventura e horror, e o único tipo de drama é que às vezes você precisa fazer um close de alguém comendo um pedaço de carne crua com sangue falso". 


WHITE CANNIBAL QUEEN foi co-produzido pelo italiano Franco Prosperi (um dos diretores de "Mundo Cão") e rodado em Alicante, na Espanha, numa floresta de coqueiros que ficava a apenas 10 quilômetros da cidade. Praticamente ao mesmo tempo, uma outra produção sobre canibais da Eurociné era filmada nos mesmos cenários e com os mesmos atores, figurantes e equipe técnica para economizar - trata-se do infame "Cannibal Terror", de Alain Deruelle.

É até engraçado assistir aos dois em sequência, porque você percebe direitinho as semelhanças entre eles, e quase consegue imaginar Franco fazendo um intervalo para o cigarrinho e Deruelle assumindo a câmera para rodar as cenas do outro filme - que, só para registrar, é ainda pior que essa tranqueira aqui do velho Jess!


No roteiro escrito pelo próprio Franco (com uma mãozinha de um não-creditado Jean Rollin, segundo algumas fontes), Cliver interpreta o Dr. Jeremy Taylor, um antropólogo que está viajando de barco pela "Amazônia" - mas as cenas foram todas filmadas no litoral da Espanha, que em nada se parece com a Amazônia, como você pode ver pelas imagens acima (lá pelas tantas, aparece até um belo jacaré de plástico!).

Com ele viajam a esposa Manuella (Pamela Stanford, atriz francesa que, à época, já era veterana nos filmes de Franco) e a filha pequena Lena (interpretada por Anouchka Lesoeur, filha do produtor Daniel). Digamos apenas que não é uma boa ideia você levar sua família para uma perigosa expedição em pleno território canibal...


Aí dá a lógica: um grupo de selvagens invade o barco, mata o capitão e ataca Manuella, que é lentamente devorada viva diante dos olhos do marido - e considerando que a atriz Pamela Stanford fez várias cenas safadas em filmes anteriores do diretor, é impossível não visualizar o ataque dos quatro ou cinco canibais ao mesmo tempo como um gang-bang!

Taylor não consegue salvar a esposa e ainda é aprisionado pelos índios, enquanto sua filha fica escondida no porão. O barco sem rumo naufraga (off-screen, pois não havia dinheiro suficiente para filmar o desastre), e a pequena Lena só sobrevive porque fica presa em alguns galhos na margem do rio.


Enquanto isso, seu pai é levado à aldeia e tem o braço decepado e devorado pelos gulosos canibais (um pobre manequim visivelmente perdeu seu braço de plástico para poupar o ator de tal sacrifício). Taylor só escapa de ser completamente comido (opa!) porque o chefe da tribo (que lembra muito o Renato Aragão dos anos 1980!) encontra Lena desacordada na margem do rio e a leva até a aldeia para ser venerada como "Deusa Branca" (no estilo do que acontecerá com Katja Bienert no posterior "Diamonds of Kilimandjaro", também dirigido por Franco).


Aqui, é necessário fazer uma pausa na narração da história para comentar uma ou duas coisinhas sobre o nível de tranqueira de WHITE CANNIBAL QUEEN, baseado apenas nesses 10 ou 15 minutos iniciais...

Primeiro que os tais "índios canibais" de Franco são ainda mais falsos que os sujeitos bronzeados com perucas gigantes que Umberto Lenzi usou em "Cannibal Ferox". Cara-de-pau que só ele, o espanhol convocou CIGANOS para fazer o papel de canibais, e nem se preocupou em arranjar perucas para a galera, que circula tranquilamente com barrigões de cerveja, bigodões ao estilo mexicano e até costeletas e topetes tipo os do Elvis Presley!


Para piorar, a "maquiagem" dos ciganos canibais é de chorar de rir. Acontece que aquela tribo completamente selvagem no coração da "Amazônia" (pffff...) parece ter acesso a tintas guache multi-coloridas, que os "índios" usam para pintar seus rostos como se fossem uma grande banda cover do Kiss!

Outro detalhe legal na caracterização da "tribo selvagem" é que os índios não apenas vestem retalhos de toalha de mesa ou de banho ao invés de peles de animais, mas também circulam pela floresta usando sandálias de couro para não machucar os pés - e, volta-e-meia, canibais calçando tênis e botas também vazam acidentelmente no quadro!


Já as cenas de pessoas sendo devoradas foram filmadas da maneira mais esdrúxula possível: ao invés de intercalar takes bem curtos e editá-los com cortes rápidos, para não denunciar os efeitos precários que tinha à disposição, o diretor filmou super-closes dos "índios" arrancando pedaços de carne das vítimas e depois mastigando-os em câmera lenta - e os takes são tão fechados que nem dá para distinguir que tipo de naco de carne está sendo arrancado de qual parte do corpo!

Isso faz cada ataque dos canibais durar de cinco a oito intermináveis minutos, com direito a sons exagerados de pessoas mastigando como "trilha sonora"! Em outras palavras, os ataques dos "índios" em WHITE CANNIBAL QUEEN são tão chatos e longos (a vítima aparentemente morre de tédio) que este deve ser o único filme de canibais em que o espectador torce para que ninguém seja devorado!


Mas voltando ao filme: quando Didi Mocó, o chefe da tribo, aparece com a menina desacordada, e fala algo do tipo "Uga Buga Uga Buga, White Goddess!" (sim, porque os canibais de Franco misturam "uga-buguês indígena" com inglês tranquilamente), o agora maneta Taylor aproveita para sair à francesa, cruzar meia floresta a pé SEM MORRER POR HEMORRAGIA (lembra que ele teve o braço cortado?) e só então desmaiar em choque, apenas para ser encontrado por dois caçadores que "passeavam" por ali e o resgatam.

Aí rola um mal-explicado salto no tempo de pelo menos uma década, porque a pequena Lena já é uma adolescente quando aparece novamente. Taylor passou esse tempo todo internado num hospital (?!?) em Nova York, sem braço e sem memória. Fisicamente, a única mudança perceptível nesses 10 anos é que antes ele não tinha barba, e agora tem. O caso do antropólogo está sendo acompanhado pela Dra. Ana (interpretada por Lina Romay, creditada com seu pseudônimo de peruca loira chanel "Candy Coster", embora aqui ela esteja com o cabelo natural).


Por conveniências de roteiro, Taylor subitamente recupera a memória, lembra que tem uma filha perdida em plena "Amazônia" e procura os diretores da Fundação Shelton, os mesmos que financiaram sua primeira viagem, para bancar uma expedição de resgate. Mas é claro que os gananciosos executivos do grupo, Barbara (Shirley Knight) e Charles (Olivier Mathot, de "Diamonds of Kilimandjaro"), o expulsam do escritório, provavelmente em virtude do fracasso da PRIMEIRA expedição.

Nosso herói decide ir até a "Amazônia" por conta própria (?!?), acompanhado apenas pela sua médica - que, aparentemente, não tem outros pacientes para cuidar além dele; ou isso, ou o plano de saúde do cara é muito bom!

Chegando lá, o casal tenta contatar um guia português, Manuel (o próprio Jess Franco, em participação especial!); depois, encontram Barbara e Charles, que pensaram melhor e resolveram financiar a tal expedição de resgate, desde que possam levar junto seus amigos riquinhos e esnobes, que querem ter a experiência de uma aventura na selva - e sim, eu juro que isso é sério!


Novamente, acontece o óbvio: assim que a ridícula expedição formada por bunda-moles adentra o "território selvagem", seus integrantes começam a morrer um após o outro. Pelo menos Franco nos poupa temporariamente daquelas cenas de banquete canibal em câmera lenta, e as vítimas são mortas com simples flechadas e dardos envenenados, ou então esquartejadas "off-screen". Mas não comemore: ainda acontecem um ou dois banquetes canibais em câmera lenta até o final!

E quando Taylor reencontra sua filha, agora crescida e interpretada pela italianinha Sabrina Siani, descobre que ela não apenas é a "Deusa Branca" da aldeia, mas também foi prometida em casamento para o jovem chefe dos canibais, Yakaké (Antonio Mayans, que aparece em quase todos os filmes da fase oitentista do diretor). Logo, não será nada fácil levá-la de volta à civilização!


WHITE CANNIBAL QUEEN é uma daqueles filmes tão ruins e tão cheios de erros e de defeitos que definem perfeitamente a expressão "filme trash". Franco dirigiu visivelmente de má vontade e apenas para faturar o cheque da família Lesoeur, e não há um único momento visualmente inspirado que lembre, mesmo de longe, aquele cineasta que fez obras-primas como "Vampyros Lesbos" apenas dez anos antes!

Pelo menos a ruindade geral da produção torna a coisa toda muito engraçada. Se era para os canibais parecerem ameaçadores, Franco falhou miseravelmente: é difícil não rolar de rir toda vez que aparecem aqueles tiozinhos com barrigão de cerveja ou a cara pintada como se estivessem num baile de Carnaval. E vários deles ainda ficam olhando para a câmera o tempo inteiro (como se quisessem ter certeza de que Franco está filmando) ou então rindo no meio da cena (provavelmente do próprio mico).


Um detalhe que sempre acho bem engraçado é o fato de o chefe interpretado por Antonio Mayans ostentar sempre a mesma pintura no rosto, lembrando uma espécie de caveira estilizada.

Fico até imaginando o pobre coitado do índio acordando todo dia de manhã e perdendo duas horas do dia para refazer aquela maquiagem. Ou quem sabe ele vai dormir sempre daquele jeito e nunca lava o rosto. Seja como for, simplesmente não vale o trabalho - e é óbvio que esas pinturas esdrúxulas são apenas um subterfúgio para disfarçar os atores brancos interpretando índios!


Na entrevista que rola como extra do DVD norte-americano de WHITE CANNIBAL QUEEN, o próprio diretor se diverte muito ao lembrar da pobreza da produção: "Não filmamos um único segundo em Nova York. Aquelas cenas [que mostram externas da cidade] foram tiradas de um documentário que eu peguei na biblioteca de Madrid".

Sobre os "efeitos especiais", Franco também foi bem humorado: "Nós só tínhamos dois ou três pedaços de carne preparados para as cenas de gore, sangue para esguichar no rosto dos atores, e era basicamente isso". Nos créditos, Michael Nizza aparece como o responsável pelos efeitos (seu outro único crédito é o abominável "Zombie Lake", de Jean Rollin!).

Curiosamente, há uma cena em que restos esquartejados de um cameraman aparecem ao lado de sua câmera (abaixo). Pode ser só coincidência, mas me pareceu uma citação ou brincadeira com "Cannibal Holocaust".


WHITE CANNIBAL QUEEN também tem erros grosseiros de continuidade e uma risível tática para simular o braço cortado do personagem de Al Cliver (já que o ator obviamente tem os dois braços na vida real): o pobre coitado teve que passar o resto do filme com o membro "cortado" dobrado e amarrado nas costas, e isso é perceptível quase que o tempo inteiro!

No quesito sacanagem, o filme é bem mais comportado que outras produções do diretor, e até a musa Lina Romay aparece mais vestida do que de costume (só aparece de peitos de fora quando é atacada pelos canibais). Menos mal que uma ainda adolescente Sabrina Siani, com 17 anos na época das filmagens, garante a cota de peladice.


Por sinal, a declaração de Jess sobre a pobre atriz italiana corresponde ao momento mais engraçado da sua entrevista no DVD de WHITE CANNIBAL QUEEN: "Sabrina Siani foi a atriz mais estúpida com quem eu já trabalhei... Não, não vou exagerar, porque tive duas ou três que eram as rainhas da estupidez. Mas Sabrina certamente era uma delas. Ela era muito bonita, tinha um corpo muito bonito, mas era completamente estúpida! Completamente! E isso que eu não pedi que ela decorasse diálogos de [James] Joyce, era só coisa simples!"

Esse é um dos primeiros filmes da moça, que acabaria se tornando uma daquelas estrelinhas sempre peladas do cinema classe B italiano, mostrando o corpitcho em produções como "Conquest", de Lucio Fulci, e "A Espada de Fogo", de Michele Massimo Tarantini. Inclusive eu lembro que, no tempo das videolocadoras, o nome "Sabrina Siani" na capinha da fita era certeza de que o filme teria mulher pelada!


Como a "Rainha Branca dos Canibais" do título em inglês, Sabrina realmente está inexpressiva. Mas, para compensar, ela aparece em todas as suas cenas com os peitos de fora e a bunda quase de fora, "coberta" apenas por um barbantinho enfiado no rego (que devia incomodar bastante).

Ainda na entrevista do DVD, Franco sugere que a moça só conseguiu seguir adiante na carreira de "atriz" porque tirava a roupa nos filmes: "Sabrina Siani só conseguiu fazer outros filmes porque os italianos eram piores do que eu. Eles diziam: 'Ah, ela é uma idiota, mas veja só que rabo!'."


Trocando em miúdos, WHITE CANNIBAL QUEEN é mais uma daquelas terríveis comédias involuntárias que Jess fez unicamente por dinheiro nos anos 80 (filmes ainda piores viriam depois, marcando uma das fases menos inspiradas do diretor). Mas pelo menos é uma bomba razoavelmente divertida, e bem mais fácil de suportar do que as terríveis produções que ele gravou direto em vídeo do ano 2000 em diante.

Eu até sugiro reunir toda a galera na sala para uma sessão do filme (pode ser até uma sessão dupla com "Cannibal Terror", para comprovar como quase tudo foi reaproveitado no outro filme de outro diretor). Com direito a "drinking games", tipo um shot de tequila ou golão de cerveja toda vez que aparecer um "canibal" de tênis, ou cada vez que o braço do Al Cliver que deveria estar cortado vazar no quadro. Prepare-se para a ressaca no dia seguinte!


Franco conseguiria um resultado mais interessante na sua segunda e última aventura com canibais, o já citado "Manhunter - O Sequestro", que é igualmente ruim, mas muito mais divertido e engraçado, com um monstro canibal usando bolinhas de pingue-pongue no lugar dos olhos, Al Cliver repetindo o papel de herói fodão (dessa vez com os dois braços) e uma gostosa peladona bem melhor que Sabrina Siani, a alemã e coelhinha da Playboy Ursula Buchfellner.

A julgar por WHITE CANNIBAL QUEEN, a única contribuição de Jess Franco para o ciclo de filmes de canibais foi comprovar como produções do gênero podem sair assustadoramente ruins quando realizadas por diretores sem nenhuma afinidade e/ou interesse pelo material.

Mas pelo jeito os italianos não aprenderam nada, e tentaram espremer o suco do bagaço até a última gota, lançando alguns filmes ainda piores (porque se levavam a sério) ao longo da década, como "Amazonia: The Catherine Miles Story" (1985), de Mario Gariazzo, e "The Green Inferno" (1988), de Antonio Climati.

Digamos que os do Franco pelo menos fazem rir. Já esses outros...


Trailer de WHITE CANNIBAL QUEEN



*******************************************************
Mondo Cannibale / The Cannibals /
White Cannibal Queen (1980, França)

Direção: Jess Franco (aka Clifford Brown)
Elenco: Al Cliver, Sabrina Siani, Antonio Mayans,
Lina Romay, Olivier Mathot, Shirley Night, Pamela
Stanford, Anouchka Lesoeur e Jess Franco.

terça-feira, 15 de abril de 2014

LA COMTESSE PERVERSE (1973)


"The Most Dangerous Game" (ou "The Hounds of Zaroff") é uma história curta de Richard Connell, publicada pela primeira vez em 1924. Conta as desventuras de um grande caçador de Nova York que, a caminho do Rio de Janeiro (onde pretendia caçar um jaguar), acaba numa isolada ilha do Caribe. Ali vive um misterioso aristocrata cossaco, o General Zaroff, que também adora caçar, só que um outro tipo de presa: seres humanos. Assim, numa inversão de papéis, o pobre caçador nova-iorquino acaba se tornando a caça, e precisa fugir de Zaroff num safári bem particular.

Mas não havia sexo e nenhuma mulher pelada no conto de Connell. Ou pelo menos não até Jess Franco resolver adaptá-lo para o cinema em LA COMTESSE PERVERSE, um dos seus grandes filmes dos anos 70 (no caso, 1973), e repleto de tudo aquilo que "The Most Dangerous Game" não tem - incluindo lesbianismo e canibalismo!


Antes e depois do diretor espanhol, o conto foi adaptado inúmeras vezes para o cinema, e das maneiras mais diversas. Uma das raras adaptações "oficiais", e que inclusive usa como título original o nome do conto, é "Zaroff, O Caçador de Vidas" (1932), dirigida por Irving Pichel e Ernest B. Schoedsack para a RKO Pictures e com Leslie Banks no papel de Zaroff (além de Joel McCrea e Fay Wray como as possíveis vítimas).

Nos anos seguintes, a caçada humana que era o cerne da obra de Connell apareceria em produções tão diferentes quanto "Fera Humana" (1945), de Robert Wise; "A Caçada do Futuro" (1982), de Brian Trenchard-Smith; "Rebelião nas Galáxias" (1987), de Ken Dixon; "Deadly Prey" (1987), de David A. Prior; "O Alvo" (1993), de John Woo, e "Sobrevivendo ao Jogo" (1994), de Ernest R. Dickerson - só para citar as que me vèm à memória no momento, mas a história foi tão readaptada e reinterpretada que ficaria até difícil enumerar todas as suas versões para o cinema.


Mesmo assim, Franco conseguiu a façanha de fazer uma versão da história que se distingue facilmente de todas as outras, transformando os dois personagens masculinos de "The Most Dangerous Game" em mulheres (claro!), e criando uma relação entre sexo e morte típica da sua obra (aqui ele assina com seu pseudônimo "Clifford Brown").

Isso porque a Condessa Zaroff, de LA COMTESSE PERVERSE, é uma predadora em todos os sentidos, incluindo o sexual (ela tem o hábito de seduz suas vítimas como "ritual" pré-caçada); e, além de caçar e matar sua presa, ela também se alimenta da sua carne ao final, como os animais selvagens!


LA COMTESSE PERVERSE foi rodado com baixíssimo orçamento e equipe reduzida em 1973, um dos anos mais ocupados da trajetória do diretor espanhol, quando ele filmou, ou concluiu, ou começou e abandonou no meio, pelo menos 13 projetos - este, "Los Ojos Siniestros del Doctor Orloff", "Plaisir à Trois", "Al Otro Lado del Espejo", "Maciste Contre la Reine des Amazones", "Les Exploits Érotiques de Maciste dans L'Atlantide", "La Noche de los Asesinos", "A Maldição da Vampira", "Tango au Clair de Lune", "Des Frissons sur la Peau" e "Mais Qui Donc a Violé Linda?", mais os inacabados "Relax Baby" e "Le Manoir du Pandu". Ufa!

Alguns deles foram produzidos pelo próprio Jess, através da sua recém-fundada (no ano anterior, 1972) companhia, a Manacoa Films, que tinha sede em Madrid. Diversos pesquisadores da obra do diretor alegam que ele se tornou workaholic nesta fase da sua carreira para superar a trágica perda da sua musa Soledad Miranda em 1970.


O filme começa com uma jovem nua (Kali Hansa, cujo nome verdadeiro seria Marisol Hernández) sendo encontrada na beira da praia pelo casal Bob (Robert Woods; sim, "aquele" Robert Woods) e Moira (Tania Busselier). Ela é levada para a casa dos dois, e, quando acorda, narra a terrível aventura vivida numa ilha misteriosa perto dali, para onde foi à procura de sua irmã gêmea desaparecida.

Na ilha, a mulher chamada Kali encontrou os Zaroff, Ivanna e Rabor, um casal de aristocratas decadentes (interpretados por Howard Vernon e Alice Arno) que vive numa mansão modernosa. Foi convidada para jantar e para passar a noite no lugar, sem imaginar os momentos de terror que se seguiriam.


Seu sono foi interrompido pela chegada do Conde e da Condessa, que a seduziram e violentaram. No dia seguinte, Kali ficou sabendo que faria o papel de caça numa caçada humana realizada pela Condessa - a história básica de "The Most Dangerous Game", em suma -, mas conseguiu escapar e nadou até o litoral, desfalecendo pelo cansaço.

O único problema é que Bob e Moira, esse casal simpático que a acolheu, está na lista de pagamento dos Zaroff, e sua missão é justamente conseguir as jovens e belas garotas para as orgias, caçadas e jantares (nessa ordem) do Conde e da Condessa! Resolvido o problema com a indesejável testemunha, Bob resolve que a próxima "presa" dos Zaroff será a inocente Silvia (Lina Romay), uma jovem amiga dele e da sua esposa.


Não há muita história para contar em LA COMTESSE PERVERSE, e nem o próprio Franco parece preocupado em ficar enrolando o espectador. O filme tem apenas 78 minutos, a maior parte ocupada por cenas de sexo softcore, e principalmente lésbico - entre a Condessa e a sua primeira vítima, entre Moira e Silvia e finalmente entre a Condessa e Silvia.

A derradeira caçada do casal Zaroff fica para os 15 ou 20 minutos finais, quando Silvia é forçada a fugir pela ilha e então perseguida pela Condessa armada com arco e flecha. Detalhe: tanto caça quanto caçadora estão COMPLETAMENTE NUAS, descontando um par de calçados para ajudá-las a correr (e que simplesmente desaparecem em alguns takes) e alguns adornos, tipo braceletes, no caso da Condessa.


Há um mínimo de tensão ou suspense nessa longa cena da caçada, que basicamente apenas intercala takes de Lina Romay fugindo com outros que mostram Alice Arno perseguindo-a. Mas há algo de simplesmente hipnótico na imagem de duas lindas mulheres em pêlo (bastante pêlo no caso; lembre-se que o filme é da década de 70) brincando de pega-pega numa ilha deserta.

Para tornar tudo ainda mais incrível, a trilha sonora lisérgica de Olivier Bernard e Jean-Bernard Raiteux, que toca durante praticamente todos os 20 minutos da caçada, acentua o clima de tragédia iminente e vai ficando progressivamente mais acelerada e barulhenta à medida que a Condessa Zaroff se aproxima da sua presa! Quem vive? Quem morre? Veja LA COMTESSE PERVERSE e descubra - até porque o filme foge do desfecho simplista de outras adaptações do conto de Richard Connell.


Além do lesbianismo e da overdose de mulheres nuas, que obviamente não existiam em "The Most Dangerous Game", a grande contribuição de Franco (também autor do roteiro) para a história foi ter transformado os Zaroff em canibais, o que dá todo um novo sentido à caçada humana, como uma espécie de ritual para obter seu valioso banquete antropofágico, e não apenas mais um troféu de caça.

As belas garotas "caçadas" pela Condessa são esquartejadas e preparadas para o jantar do dia seguinte, sendo servidas em formas de bife pelo Conde - e os bifes são comidos praticamente crus, para acentuar a analogia entre os Zaroff e predadores naturais, como leões e tigres. Ironicamente, as futuras vítimas também são convidadas para jantar e, inconscientemente, tornam-se cúmplices dos canibais, devorando seres humanos sem saber!


Howard Vernon (o Dr. Orloff em pessoa) faz muito pouco como Conde Zaroff, já que a ação do filme fica reservada para sua esposa no ato final. Mas ele acrescenta um tom perfeito de insanidade e ironia ao brincar com as futuras vítimas convidadas para jantar enquanto elas comem os restos da vítima anterior.

O Conde doidão também protagoniza uma inesperada reviravolta na última cena do filme, quando, sem querer estragar a surpresa para quem não viu, dá um sentido completamente diferente à expressão "Ele só quer te comer"...


Já Robert Woods é uma escolha no mínimo curiosa para o papel. O ator norte-americano ficou marcado pelos heróicos cowboys que interpretou em filmes de faroeste rodados na Itália, incluindo sucessos como "Meu Nome é Pecos" (1967), "Quatro Dólares de Vingança para Ringo" e "Starblack" (ambos de 1968). Na década de 70, quando o western spaghetti estava morrendo, Woods resolveu partir para outra e acabou trabalhando com Jess Franco não em um, mas em SEIS filmes.

Pois é no mínimo divertido ver o ex-astro de western spaghetti num papel meio hippie, e certamente bastante liberal - ele divide sua esposa com outras garotas, que também seduz em animados ménage a trois. Ou seja: depois de estrelar vários westerns como cowboy durão, aqui Woods acaba usando um outro tipo de pistola!


LA COMTESSE PERVERSE também é uma das raras oportunidades para, digamos, ver a "outra pistola" do velho Pecos, numa cena em que ele, Moira e Silvia tomam banho de mar pelados (claro!) e depois se esparramam na areia.

Eu costumo evitar exibições penianas aqui no blog, mas dada a quantidade absurda de imagens de mulher pelada reproduzidas ao longo dessa MARATONA JESS FRANCO, e o número crescente de meninas e rapazes que gostam de rapazes entre os leitores, vou abrir uma exceção: eis aí embaixo a pistola de Robert Woods! (Mas não se acostumem...)


E se Lina Romay, a eterna esposa e musa de Franco, certamente é um colírio para os olhos, aqui ainda bem novinha e quase sempre pelada (este é um dos seus primeiros filmes com o diretor e futuro marido), o grande destaque de LA COMTESSE PERVERSE é a personagem-título, interpretada pela voluptuosa francesinha Alice Arno (nome de batismo: Marie-France Broquet).

Esta loira que parece um desenho do Milo Manara nasceu numa família de nudistas (!!!) e foi modelo de revistas masculinas antes de estrear no cinema. Apesar de ter feito 12 filmes com Franco (sendo que a Condessa Zaroff é provavelmente o seu grande papel), Alice geralmente é esquecida na galeria de grandes musas do diretor, obscurecida por nomes como Soledad Miranda, Maria Rohm e a própria Lina. Pura injustiça: sua performance como predadora/caçadora aqui lembra uma fera selvagem, tipo uma pantera, e ela transpira erotismo e sex-appeal em todas as suas cenas.


Felizmente para quem gosta de putaria e mulher pelada, a Condessa Zaroff faz aquele tipo que gosta de "brincar com a comida", e cumpre religiosamente o ritual de seduzir suas vítimas na noite anterior às caçadas - uma mera desculpa para as três ou quatro cenas de lesbianismo softcore do filme.

No fim, LA COMTESSE PERVERSE se revela um curioso híbrido de sexploitation com horror, mas este último elemento é beeeeeeem tímido, resumindo-se às menções de canibalismo e a uma cena bem curtinha em que Silvia flagra o Casal Zaroff preparando a refeição do dia seguinte - ou seja, esquartejando o corpo da vítima anterior. Não dá pra negar, entretanto, que o Conde e a Condessa são vilões bem perversos e dementes, uma espécie de versão sofisticada e aristocrática da família caipira e canibal de "O Massacre da Serra Elétrica" (que por coincidência chegaria aos cinemas no ano seguinte).


A curta duração do filme não se justifica apenas pela falta de história para contar; afinal, Franco era um mestre da enrolação, e poderia facilmente ter fechado duas horas com este mesmo argumento. Acontece que, na época, o espanhol estava dirigindo para o produtor francês Robert De Nesle, que exigia que Jess fizesse filmes mais curtos para depois poder lançar duas versões: a normal, com sacanagem leve, e a X-Rated, com cenas de sexo explícito adicionadas à montagem!

Assim, enquanto LA COMTESSE PERVERSE era exibido nos cinemas "normais", algum tempo depois as salas "adults only" recebiam a versão pornô do filme, rebatizada "Sexy Nature" (cartaz ao lado), e que é mais longa que a anterior, com 95 minutos. (De Nesle ficou famoso no underground por, segundo reza a lenda, produzir esses filmes pornográficos sem o conhecimento da esposa, e ainda fazendo o popular "teste do sofá" com as atrizes!)

As cenas adicionais, filmadas pelo próprio Franco, incluem dublês de corpo de Robert Woods e Alice Arno em cenas explícitas, a própria Alice Arno se roçando com duas garotas, e Lina Romay protagonizando sexo oral explícito com uma garota e um homem, supostamente outros prisioneiros dos Zaroff que ela encontra amarrados num quarto - vá lá que não se pode exigir lógica em história de filme pornô, mas por que a moça começaria a transar com os dois prisioneiros ao invés de libertá-los (imagens abaixo)?

Nesses momentos X-Rated, aparecem os "convidados especiais" Pierre Taylou, Pamela Stanford e Monica Swinn, que não estão em nenhuma cena do filme "oficial".


Outra diferença entre as duas versões é que, em "Sexy Nature", existe a personagem de Carole (Caroline Rivière, abaixo), uma escritora de histórias de mistério que é amiga (e aparentemente "ficante") de Silvia. As garotas aparecem juntas em pelo menos quatro cenas num quarto de hotel, quase sempre peladas; quando Silvia diz que vai passar o final de semana numa ilha com Bob, Moira e um casal de ricaços, Carole a adverte: "Ilhas são perigosas. Você nunca ouviu falar da Ilha do Dr. Moreau?".

O mais engraçado é que Carole e Silvia também protagonizam um bizarro final alternativo, em que se revela (SPOILER) que toda a caçada humana envolvendo a garota e seu trágico destino foram delírios saídos da imaginação da sua amiga, pois Silvia reaparece viva na conclusão e diz que desistiu de ir até a ilha na última hora!!! (FIM DO SPOILER)


Obviamente, a versão pornográfica "Sexy Nature" só vale mesmo pela curiosidade, pois as cenas de sexo explícito nem são tão inspiradas assim, e apenas tornam a narrativa ainda mais lenta e arrastada. Sem contar que são momentos sem pé nem cabeça, que sequer se encaixam na história, já que não faz sentido os Zaroff terem mais prisioneiros à disposição (como escravos sexuais, neste caso) e ainda precisarem trazer novas vítimas do continente para as suas caçadas.

Assim como não há nenhuma lógica o fato de Silvia transar com o casal de prisioneiros à noite e logo depois agir como se nada tivesse acontecido! (Enxertos desse tipo, transformando filmes "normais" em pornôs, se tornariam bastante comuns no Brasil da década de 1980, rendendo pérolas como "Sexo Erótico na Ilha do Gavião".)


O lance é esquecer de "Sexy Nature" e descolar uma cópia de LA COMDESSE PERVERSE, que vai direto ao assunto e não ofende a inteligência do espectador. Sem contar que as cenas implícitas são muito mais excitantes do que a putaria escancarada, e há mulheres peladas em número suficiente para ninguém ter motivo de procurar a versão X-Rated (é até meio estúpido que um produtor peça uma montagem com AINDA MAIS sacanagem de um filme onde originalmente todo mundo já aparece sem roupa e fazendo sexo a cada dez minutos!!!).

Apesar de tocar em temas pesados como canibalismo e assassinato, a ênfase do filme é na beleza - seja das mulheres, seja dos cenários. O exterior da fantástica casa dos Zaroff é a famosa mansão Xanadú, construída em Alicante, na Espanha, e projetada pelo famoso arquiteto cubista Ricardo Bofill em 1967. A mansão já tinha aparecido como casa de praia de Soledad Miranda em "Ela Matou em Êxtase".


Em mais de uma oportunidade, os personagens também aparecem descendo as belas escadarias vermelhas conhecidas como "La Muralla Roja", uma estrutura labiríntica também projetada por Bofill, e que na "vida real" fica do outro lado da rua da mansão Xanadú. No filme, este seria o acesso principal ao casarão dos Zaroff.

O uso dessas maravilhas arquitetônicas como cenários é mais uma prova de que Jess não era um picareta desleixado, como apregoam muitos dos seus detratores, e sim um diretor minimamente consciente e preocupado com o visual dos seus filmes.

(E para quem quiser ver como estão os dois cenários de LA COMTESSE PERVERSE hoje, basta clicar neste link e girar a câmera para fazer um passeio virtual por Xanadú e pelas escadas da Muralla Roja sem precisar ir até Alicante!)


LA COMTESSE PERVERSE não é um dos trabalhos mais lembrados de Jess Franco, e raramente aparece em listas dos melhores títulos da sua extensa filmografia.

Mas eu confesso que gosto muito dele, e acho impressionante a maneira como o diretor trabalha com pouquíssimos elementos, atores (na versão "oficial", são apenas seis!!!) e recursos, e mesmo assim o resultado é um filme que parece ter custado o triplo.


Não apenas por causa do ar luxuoso dos cenários e das construções verdadeiras utilizadas para as externas, mas também porque o filme traz alguns dos planos mais bonitos já filmados por Jess (com uma mãozinha do diretor de fotografia francês Gérard Brisseau, claro). Ele não abusa do seu popular super-zoom, e cria enquadramentos tão caprichados que você percebe que não foram feitos no improviso, mas sim estudados e preparados com um mínimo de esmero. E isso num ano em que teve bastante trabalho e pouquíssimo tempo entre um filme e outro!

Tem algo de surreal e absurdo na coisa toda - clima reforçado pelo uso da lente "olho-de-peixe", que distorce as imagens e lhes dá um ar de sonho, ou pesadelo. É como se o filme não se passasse no "mundo real", mas sim naquele universo alternativo e bem particular de história em quadrinhos típico dos bons filmes de Jess - um delírio erótico que parece ter saído daqueles velhos gibizinhos de sacanagem.


LA COMTESSE PERVERSE definitivamente não é um filme assustador e muito menos sanguinolento, apesar de enfocar temas bem escabrosos. Também não é um filme de ação, e mesmo a grande cena da caçada da "heroína" não acrescenta muito neste quesito. Está mais um misto de drama psicodélico e thriller erótico - enfim, aquele tipo de misturança tresloucada que o velho Jess adorava fazer, e sabia fazer como poucos.

E mesmo que você não curta o clima, ou o rumo que a história toma, sempre poderá apreciar a beleza da escultural Alice Arno peladona perseguindo a musa Lina Romay peladona.

Afinal, este pode até não ser "O Jogo Mais Perigoso de Todos", para relembrar o título original do conto que deu origem ao filme; mas certamente é o mais erotizado de todos!

PS: Franco também fez uma refilmagem disfarçada deste filme mais tarde, chamada "Tender Flesh" (1997).




*******************************************************
La Comtesse Perverse (1973, França)
Direção: Jess Franco (aka Clifford Brown)
Elenco: Alice Arno, Howard Vernon, Lina Romay,
Robert Woods, Marisol Hernandez (aka Kali Hansa),
e Tania Busselier.