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domingo, 21 de março de 2010

MISSÃO COBRA (1986)


"Cobra Mission"... Não sei exatamente por que, mas sempre adorei este título. E assim como o Tarantino se apropriou do título "Inglorious Bastards" por gostar muito da obra do Enzo G. Castellari, o dia em que eu fizer um filme de ação e guerra também vou batizá-lo "Cobra Mission". Claro que isso não quer dizer que a produção barata italiana originalmente batizada com ele seja um clássico do gênero. Ou mesmo um bom filme.

Estamos nos anos 80. Os mesmos italianos que deixaram bem mais interessante um gênero tipicamente norte-americano (o western) agora tentam fazer o mesmo com os filmes sobre uma guerra tipicamente norte-americana, a do Vietnã. E tome produções baratas e repletas de tiros e explosões, copiando de "Rambo" a "Apocalypse Now", normalmente rodadas a toque de caixa nas selvas filipinas por diretores tão diferentes quanto Antonio Margheritti e Bruno Mattei.

MISSÃO COBRA foi inspirado principalmente por "Rambo 2 - A Missão", mas traz ainda um toque de "Braddock - O Super Comando" e "De Volta para o Inferno", aquele filme do Ted Kotcheff em que Gene Hackman liderava um pelotão de mercenários de volta ao Vietnã para resgatar seu filho prisioneiro de guerra.


A boa notícia é que essa produção de 1986 tem uma contagem de cadáveres mirabolante (semelhante à de "Rambo 4", feito 22 anos DEPOIS) e inúmeras cenas de explosões de praticamente todo tipo de veículo (caminhões, helicópteros, barcos...). É estrelada por Christopher Connelly ("Os Caçadores de Atlântida"), John Steiner ("Tenebre"), Manfred Lehmann ("Casablanca Express") e Oliver Tobias ("Mata Hari"). E tem pequenas participações de gente como Donald Pleasence, Gordon Mitchell, Ennio Girolami e até do diretor Enzo Castellari, aqui como ator. Também tem uma eficiente trilha sonora composta pelo especialista Francesco De Masi (uma de suas últimas, por sinal).

Quantas boas notícias, não é? Bem, agora vem a má: MISSÃO COBRA é dirigido pelo péssimo Fabrizio De Angelis, usando seu habitual pseudônimo Larry Ludman.

Como produtor, De Angelis foi responsável por alguns dos grandes filmes italianos dos anos 80, de "Zombie" e "The Beyond", do Lucio Fulci, a "1990 - Os Guerreiros do Bronx" e "Fuga do Bronx", do Castellari.

Como diretor, entretanto, o sujeito é uma nulidade, que só ganhou certa fama por ter dirigido a trilogia "Thunder" (aquela com Mark Gregory interpretando um índio metido a Rambo). O trabalho do homem vai do regular ao ridículo, e é claro que um especialista em ação faria a diferença no comando de MISSÃO COBRA. Ainda assim, pelo menos neste caso a ruindade geral do filme acaba transformando-o num passatempo bastante divertido.


Antes de mais nada, você precisa esquecer todas as leis da física e da lógica. Este é um daqueles filmes em que helicópteros explodem no ar, mas não são vistos caindo no chão; em que quatro homens de pé disparando metralhadoras, sem qualquer tipo de cobertura ou escudo, conseguem detonar um batalhão de 40 soldados sem tomar um mísero tirinho de raspão; em que granadas demoram de 3 segundos a 10 minutos para explodir, dependendo do tempo que o herói precisa para escapar do local da explosão, e por aí vai. Sabe, todas estas bobagens que você comenta em voz alta e entre risadas quando assiste ao filme com um grupo de amigos ao redor...

MISSÃO COBRA começa apresentando nossos "heróis": quatro fracassados veteranos do Vietnã cuja vida não vai nada bem. Roger Carson (Connelly) é um panaca casado com uma megera rica, e cuja única alegria consiste em jogar "Enduro" no seu velho videogame Atari (!!!); James Walcott (Steiner) é um perdedor que precisa empenhar suas medalhas conquistadas na guerra para faturar uma graninha; Mark Adams (Lehmann) é um homem que vive de bar em bar de beira de estrada, comendo as proprietárias em troca de uns trocos; e Richard Wagner (Tobias) está internado num hospital psiquiátrico, fingindo-se de louco para poder ganhar comida e hospedagem grátis!!!


Certo dia, Roger, James e Mike se encontram no casamento da filha de Roger. E, enquanto tomam uns tragos num boteco, descobrem pela TV que um prisioneiro norte-americano dos tempos da guerra conseguiu escapar de um campo de concentração no Vietnã (onde estava preso desde os anos 70) e voltar para os EUA. Curioso, o trio vai visitar um velho amigo da época, o major Morris (interpretado por Castellari), que está obcecado com a idéia de resgatar todos os prisioneiros norte-americanos que ainda estão apodrecendo nos campos de concentração vietnamitas.

E assim, sem mais nem menos, nossos heróis quarentões resolvem tirar o parceiro Mark do hospício e voltar para o Vietnã para tentar ganhar a guerra que seu país inteiro perdeu da primeira vez. E quando escrevo "sem mais nem menos", é porque é assim mesmo: o filme corta de uma cena em que um deles diz "Devíamos ir ao Vietnã dar uma olhada nestes campos de prisioneiros", para outra cena em que os quatro já estão em Saigon e prontos para a guerra, como se fosse a coisa mais simples do mundo (e vai saber de onde os fracassados tiraram o dinheiro para bancar a viagem e todas as despesas da operação...).

O mais engraçado é que o quarteto de veteranos nem ao menos tem um plano: eles não sabem onde ficam os campos de prisioneiros, não têm armas nem equipamentos, e muito menos apoio do exército para tocar adiante sua pequena operação - ao contrário do Rambo, por exemplo. Mesmo assim, tudo é facilitado para os caras no momento em que eles pisam no Vietnã. Primeiro, ganham uma grana preta de um ex-combatente que agora é proprietário de um cassino (!!!).


Depois, topam com um padre francês chamado Lenoir (Pleasence), que guarda um arsenal completo no porão da igreja (!!!) e, pelo visto, estava só esperando um grupo de desocupados aparecer para lhes entregar as armas. Para facilitar ainda mais, Lenoir também conhece bastante a região e até a localização dos campos de prisioneiros!!! Assim até eu...

O restante de MISSÃO COBRA é rotina: os quatro amigos perambulando pela selva e detonando inimigos com a maior facilidade. Eles chegam a um dos campos e conseguem libertar boa parte dos prisioneiros, entre eles o jovem Mike (que é interpretado por ninguém menos que Ethan Wayne, filho de uma das lendas do cinema americano, o eterno John Wayne!!!). Milagrosamente, apesar de os caras estarem presos há 10 anos, sendo torturados e agredidos de tempos em tempos, eles estão em perfeitas condições físicas para sair correndo e atirando de volta nos inimigos!

Com os vietcongues em seu encalço, nossos heróis passam o restante do filme metralhando e explodindo o que quer que apareça pela frente, enquanto quase todos os prisioneiros resgatados vão perdendo a vida pelo caminho (!!!), até restar apenas Mike. É então que o diretor De Angelis termina a trama de forma surpreendente (e totalmente debilóide), numa conclusão pessimista e trágica que é de deixar qualquer ser humano com vontade de dar um chute na TV!


Apesar de algumas tentativas de seriedade e de crítica social, felizmente, na maior parte do tempo, MISSÃO COBRA é apenas uma bobagem divertida. Nossos heróis são completos mentecaptos sem estratégia, que conseguem tudo na sorte - e também pelo fato de seus inimigos serem ainda mais burros. Uma cena histórica mostra o personagem de John Steiner posicionando-se na saída de uma casamata e mandando chumbo nos soldados que tentam correr por ali. E eis que, mesmo depois que os primeiros dez ou vinte caem fulminados pelas rajadas de metralhadora, os inimigos restantes continuam vindo correndo PELO MESMO LUGAR, somente para morrer como moscas e cair por cima dos cadáveres dos companheiros que tentaram passar pelo mesmo caminho, ao invés de voltar e buscar uma rota alternativa!!!

Porém o ponto alto da película é a forma como um dos heróis morre, não por causa das incontáveis rajadas de metralhadora dos inimigos, nem pelas muitas explosões, mas sim por culpa de um rabo-de-saia - uma prostituta que queria vingança pelas marcas de queimadura que cobrem seu corpo, provocadas pelo napalm jogado pelos americanos nos tempos da guerra! O mais incrível é a forma como o rapaz seduz sua futura algoz: simplesmente se aproxima da moça e larga um papo do tipo "Você me lembra uma garota que comi em Saigon e que logo depois morreu num bombardeio"!!!! hahahahaha.


Christopher Connelly, para mim, sempre foi um dos mais carismáticos atores destas tralhas italianas, ao lado de David Warbeck e Timothy Brent. Aqui, infelizmente, o roteiro não lhe dá muitas oportunidades. Já os veteranos Pleasence e Mitchell aparecem em duas cenas cada (o último como um general malvado que explica o "acordo" dos EUA com o Vietnã para manter os prisioneiros de guerra por lá); juntas, estas cenas não somam 5 minutos no total. E o finado John Wayne deve ter se revirado no túmulo com o desempenho do filho, que, além de não atuar, nem mesmo se envolve nas cenas de ação (pior é que o marketing da película exaltava justamente a presença do "filho de John Wayne" no elenco!!!).

É claro que existem filmes italianos de guerra (e especificamente sobre a Guerra do Vietnã) muito melhores do que este. Só para arrematar, cito um dos meus preferidos: "The Last Hunter", do Antonio Margheritti. Mesmo assim, MISSÃO COBRA é uma hilária e divertida aventura de guerra com o maior climão trash.


Só fico pensando o que é pior para os americanos: terem levado o maior laço na verdadeira Guerra do Vietnã (mesmo possuindo muito mais tecnologia e armamento que os pobres vietcongues que combatiam), ou terem que agüentar, até hoje, estas bisonhas e delirantes aventuras que insistem em mostrar seus soldados como heróis invencíveis, que sozinhos poderiam ter ganhado a guerra...

PS 1: O filme teve uma seqüência em 1989, dirigida por Camillo Teti. Entretanto, apesar do nome "Cobra Mission 2", não tem absolutamente nada a ver com o original, além do fato de também ser produzida por Fabrizio De Angelis.

PS 2: Quem foi criança/pré-adolescente no início dos anos 90 certamente tem boas recordações de um antiquíssimo jogo de RPG para computador chamado, justamente, "Cobra Mission". Ele marcou época pelo seu farto teor pornográfico, já que o jogador (normalmente recém-ingresso na puberdade) dividia a matança de inimigos com momentos em que precisava seduzir e satisfazer belas moças na cama! Ah, como era boa a juventude naqueles tempos politicamente incorretos...


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Cobra Mission/Operation Nam (1986, Itália)

Direção: Larry Ludman (aka Fabrizio De Angelis)
Elenco: Christopher Connelly, Oliver Tobias,
John Steiner, Manfred Lehmann, Ethan Wayne,
Donald Pleasence, Enzo G. Castellari,
Ennio Girolami e Gordon Mitchell.

sábado, 11 de outubro de 2008

KILLER CROCODILE (1989)


Filmes com animais assassinos eram um gênero bastante popular e divertido entre os anos 70 e 80, quando praticamente todo tipo de animal se transformou em assassino, de famintos crocodilos e gigantescos tubarões a minúsculas abelhas e inofensivas formigas. Nos últimos anos, este tipo de produção voltou à moda. Mas, tirando meia dúzia de saudáveis exceções, filmes de animais assassinos agora são um sinônimo de bomba, principalmente quando trazem o logotipo do estúdio Nu Image.

Com uso indiscriminado de efeitos (sempre fraquíssimos) de computação gráfica e quase nenhum suspense e/ou sangue e violência, bombas como "Crocodilo", de Tobe Hooper, e "Tubarões" (que usa cenas de documentários da National Geographic) só provocam bocejos. Volta-e-meia aparece algo mais exagerado, intencionalmente trash e divertido, como o primeiro "Python" e "Frankenfish". São raras as exceções num oceano de mediocridade.


Com esta breve introdução, chegamos a KILLER CROCODILE, filme na linha "bom de tão ruim", que nunca foi lançado no Brasil. Trata-se de uma produção baratíssima feita por produtores italianos em 1989, quando a indústria de filmes baratos made in Italy já estava em plena decadência. KILLER CROCODILE é um curioso (e atrasado) aproveitamento dos filmes "Tubarão", de Steven Spielberg, e "Alligator", de Lewis Teague, ambos feitos 10 anos antes. E nem é necessariamente uma novidade, pois já existia uma produção barata feita na Itália e envolvendo um crocodilo assassino, chamada "Il Fiume del Grande Caimano" (ou "Big Alligator River", no mercado americano), dirigida por Sergio Martino em 1979, com Claudio Cassinelli e Barbara Bach.

É claro que nada disso importou para o produtor italiano Fabrizio De Angelis, responsável por algumas das obras-primas do cinema de horror europeu da época (sua produtora, a Fulvia Films, financiou "Zombie" e "The Beyond", de Lucio Fulci, só para citar dois exemplos mais famosos). De Angelis achou que ainda era hora para fazer filmes com gigantescos crocodilos assassinos, e saiu-se com essa pérola trash que só pode ser recomendada para quem adora as tralhas italianas no período - embora seja muito, mas muito superior a ruindades tipo o "Crocodilo" de Tobe Hooper. Animado com o projeto, De Angelis ajudou o famoso roteirista italiano Dardano Sacchetti na criação da história e até resolveu assumir ele mesmo a cadeira de diretor, escondido atrás de seu pseudônimo americano, "Larry Ludman".


KILLER CROCODILE conta a história de um grupo de ecologistas que está em busca de provas de que uma poderosa empresa anda poluindo os pântanos de uma vila de pescadores, em algum lugar da América Latina que nunca é identificado - só se sabe que é pobre e povoado por negros que falam espanhol; provavelmente é Santo Domingo.

O grupo é formado por típicos estereótipos do cinema americano, apesar de ser um filme italiano: o líder da expedição, Kevin (Anthony Crenna, que não tem muitos outros créditos), é o típico herói de bom coração, sempre pronto a arriscar o próprio pescoço para salvar os amigos; o topetudo Mark (Julian Hampton) é o fotógrafo impulsivo que não hesita em botar a vida dos companheiros em risco para tirar uma foto; Pamela e Jennifer (Sherie Ross e Ann Douglas) são as mocinhas em perigo; Bob (John Harper) é o responsável por comandar o barco e o elemento dispensável que logo vai ser morto, e por aí vai.


Eles chegam até um ponto do rio onde descobrem um depósito clandestino de lixo nuclear - que se resume a meia dúzia de tambores de óleo diesel com a inscrição "Radioactive" na frente. Após colher amostras da água contaminada, eles partem de volta para a vila. Mas, no caminho, uma das coadjuvantes da expedição, Conchita, sai para uma caminhada noturna atrás do seu cachorrinho (sim, ela levou um cachorrinho numa expedição no meio do pântano!!!!) e é prontamente abocanhada por um gigantesco crocodilo, que sai de surpresa do rio.

Os companheiros acham que Conchita desapareceu, e no dia seguinte voltam à vila para alertar as autoridades. Porém, o lugar não tem polícia, apenas um juiz corrupto interpretado por Van Johnson (que foi galã do cinema americano nos anos 50 e 60, mas, depois que envelheceu, acabou em podreiras italianas como esta). O problema é que o tal juiz é pago por Folley (Wohrman Williams), o dono da tal empresa poluidora, para deixar o assunto por baixo dos panos, e por isso ele não dá qualquer ajuda aos ecologistas.


É então que o gigantesco crocodilo aparece na margem da vila, espalhando o pânico e devorando rapidamente dois dos moradores do lugar. Um dos manés teve a infelicidade de ficar com a perna presa num buraco no cais; pois não é que o crocodilo abocanha o pé do sujeito e puxa ele pelo buraco, fazendo jorrar um rio de sangue? E o heróico Kevin logo se atira no rio para enfrentar a fera no muque e salvar uma criancinha que ia ser a próxima a cair na pança do réptil. Para impedir a tragédia iminente, o corajoso rapaz crava uma enorme estaca na goela do bicho (ai!). Ele então se resigna a voltar para o fundo do pântano e esperar para fazer novas vítimas. Obviamente que o monstro ficou tão grande por causa do lixo tóxico depositado no rio por Folley e sua turma - embora o filme não se preocupe em explicar o fato.

A algazarra atrai a atenção de Joe (o veterano Thomas Moore, ou melhor, Ennio Girolami, pai do cineasta Enzo G. Castellari). Ele tem uma mágoa especial contra crocodilos, pois traz no peito diversas cicatrizes de um ataque dos carnívoros répteis. Alguém pensou no capitão Ahab, do livro "Moby Dick"? Pois é... E anos depois Jon Voight faria um personagem parecidíssimo em "Anaconda"! Bem, Joe fará de tudo para deter a ameaça, mesmo que o juiz e Folley tentem encobrir o caso para que ninguém descubra sobre o lixo tóxico depositado no pântano.

Porém, no momento mais ridículo do roteiro, o grupo de ecologistas resolve proteger o crocodilo, dizendo que não existe em qualquer lugar do mundo uma espécie tão grande (o bichão mede uns 20 metros), e que ele deve ser preservado, e não exterminado. Tá bom... Mas não se preocupe que eles vão mudar de idéia quando outros membros da expedição forem parar na pança do crocodilo! hehehehe.


KILLER CROCODILE é um típico filme italiano barato: o roteiro tem vários momentos chupados de outros filmes e muitas vezes os diálogos soam constrangedores - isso sem contar a dublagem em inglês, que às vezes é totalmente fora de sincronia com o movimento da boca dos atores italianos.

De Angelis é um produtor, não um diretor, e isso se percebe na mão pesada com que ele conduz a trama, que tem vários momentos enfadonhos e praticamente nenhum suspense ou tensão. Seus outros filmes são todos de ação, inclusive a trilogia "Thunder" (aquela do índio imitador de Rambo). O cara fazendo suspense ou terror é de uma nulidade fantástica, e assim o filme simplesmente salta de um ataque sangrento do crocodilo para outro, sem grandes emoções.

Mas sou obrigado a assumir que De Angelis faz um trabalho caprichado em alguns (poucos) momentos, como nas cenas em que usa câmera subjetiva aquática para representar a "visão do crocodilo" (o que também não é nenhuma novidade). Outros ângulos de câmera do diretor são no mínimo curiosos, como ao filmar através de uma máscara de mergulho, para representar o ponto de vista de um mergulhador, e ao posicionar a câmera dentro da boca do crocodilo, numa cena em que ele vai abocanhar uma vítima desprevenida! São pequenos momentos que salvam o trabalho do cineasta da mediocridade.

Além disso, KILLER CROCODILE é valorizado pela trilha sonora nota 10 do especialista Riz Ortolani (o mesmo que compôs as populares trilhas de "Cannibal Holocaust", "Mondo Cane" e vários westerns italianos). Ele imita a música composta por John Williams para "Tubarão", mas aparentemente ninguém contou para os executivos da Universal, já que a Fulvia Films nunca foi processada por plágio.


O filme tem também a maquiagem de um expert em sua área, o famosíssimo Giannetto de Rossi, amigão de Lucio Fulci. Giannetto criou e desenvolveu o monstruoso crocodilo, que é feito de borracha, totalmente inexpressivo, mas mesmo assim muito melhor que o monstro digital do filme de Tobe Hooper. Na verdade, o crocodilo está até bom demais, considerando a pobreza geral da produção. E Giannetto ainda brinda o espectador com diversas cenas gore, como o monstro arrancando o braço de uma vítima e o próprio destino do réptil, abatido com a hélice do motor de um barco, fazendo estrago semelhante a uma serra elétrica!!!

É claro que eu não poderia recomendar KILLER CROCODILE para quem gosta de filmes "normais": a produção é trash até a medula, com o crocodilo mudando de tamanho de uma cena para a outra (em alguns takes parece ter cinco metros de comprimento; em outros, aumenta para 20 metros!). Além disso, o monstro consegue levantar de pé (!!!) para atacar um sujeito na proa de um barco.

Mas o pior é a cena em que Joe descarrega tirambaços com cartuchos para matar elefante no couro do bicho e não lhe provoca um mínimo arranhão (!!!); desesperado, ele acha que a melhor solução é pular em cima do crocodilo (!), ficar de pé sobre a sua carcaça (!!) e tentar cravar-lhe um arpão no couro (!!!). Prepare-se para rolar de rir. São momentos como esses que fazem desta tralha não um filme de horror arrepiante, mas uma aventura barata e muito engraçada.


Além disso, o roteiro de Sacchetti e De Angelis segue à risca todas as normas do "Livro de Clichês para Filmes com Animais Assasinos Aquáticos". A saber:

1-) O ataque do monstro, seja crocodilo ou tubarão, deve ser anunciado com uma música que imite os acordes da trilha de John Williams para "Tubarão".

2-) O crocodilo ou tubarão pode arrebentar o fundo ou lateral de um barco com a boca para fazê-lo afundar.

3-) O corpo retalhado de pelo menos uma das vítimas deve aparecer boiando para que os heróis saibam com o que estão lidando.

4-) Ao analisar o tal corpo retalhado, o legista deve necessariamente dizer a frase: "Isso provavelmente foi feito pelo motor de um barco".

5-) As autoridades não devem dar bola para a ameaça do crocodilo ou tubarão - até ser tarde demais...

6-) O crocodilo ou tubarão deve atacar em um cais, abalando a estrutura para que as pessoas rolem para dentro da água.

7-) Aliás, durante todo filme as pessoas devem cair na água por qualquer motivo, para que as cenas de suspense e morte possam se desenrolar.

8-) Deve haver pelo menos uma cena onde o mocinho nada sendo perseguido pelo crocodilo ou tubarão, enquanto seus amigos gritam: "Mais rápido! Ele está logo atrás de você!".

9-) Pelo menos um animal de estimação deve ser morto pelo monstro.

10-) Se o monstro foi criado por experiências genéticas ou lixo radioativo, os vilões responsáveis por seu surgimento devem necessariamente ser mortos pelo próprio monstro, como forma de justiça poética.



E como picaretagem pouca é bobagem, enquanto KILLER CROCODILE era filmado por De Angelis, o maquiador Giannetto de Rossi aproveitava os intervalos para rodar cenas alternativas, que dariam origem a uma sequência (!!!), "Killer Crocodile 2", lançada no ano seguinte (1990), e novamente estrelada por Anthony Crenna (no segundo dos dois filmes da sua carreira) e Ennio Girolami. A seqüência inclui várias cenas em flashback, aproveitando material filmado por De Angelis, e também permanece inédita no Brasil. Na Europa a história é outra: os dois filmes foram lançados em DVD, e há até uma edição para colecionador (!!!) com os dois filmes em uma única caixinha. Vá sonhando com algo assim por aqui...

KILLER CROCODILE é tão mal-feito que se torna engraçado, e neste caso todo os pontos ruins do filme se transformam em qualidades. Se você é fã de filmes trash, não pode deixar de dar uma olhada. Se gosta de filmes com animais assassinos, deixe as bobagens modernas com crocodilos assassinos, como "Dinocroc" e "Surf Sangrento", mofando nas prateleiras da sua locadora e procure por esta tralha italiana. Agora, se o seu negócio é, digamos, mais sério, o negócio é esquecer KILLER CROCODILE e optar por algo mais convencional, tipo um "Pânico no Lago" ou o recente "Rogue".

Mas pense só por um minuto: em que outro filme você vai ver um crocodilo explodir (!!!) e pegar fogo (!!!) sem qualquer motivo aparente?

Trailer de KILLER CROCODILE



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Killer Crocodile (1989, Itália)
Direção: Fabrizio De Angelis
Elenco: Anthony Crenna, Ann Douglas, Thomas
Moore (Ennio Girolami), Wohrman Williams,
Sherrie Rose, Julian Hampton e Van Johnson.