WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador Tawny Kitaen. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tawny Kitaen. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 20 de março de 2012

A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO (1984)


Sexta-feira passada (16/03/2012) estreou nos cinemas brasileiros a comédia "Projeto X - Uma Festa Fora de Controle", sobre uma festa de adolescentes que, como o título já diz, sai "um pouquinho" do controle e se transforma num autêntico caos. O trailer é muito divertido, mas enquanto não vou aos cinemas conferir, prefiro relembrar com os leitores do FILMES PARA DOIDOS uma outra festinha fora de controle, esta realizada há quase 30 anos.

Trata-se de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO, um clássico da TV aberta e uma daquelas comédias apelativas como o cinema norte-americano parece ter desaprendido a fazer nestes tempos modernos.

E o mais curioso: se "Projeto X" é sobre adolescentes e as doideiras típicas da faixa etária, A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO retrata personagens ADULTOS que perdem completamente a compostura e portam-se de maneira pior que muito moleque por aí.


Como o título original (bem mais apropriado) já anuncia, o filme é sobre uma bachelor party - a tradicional despedida de solteiro. No caso, a despedida de Rick Gassko (Tom Hanks, em seu segundo filme como protagonista), irresponsável motorista de ônibus escolar que recusa-se a crescer, mesmo estando com o casamento marcado com a gata Debbie (Tawny Kitaen, de "Execução Sumária").

A notícia de que Rick vai "se enforcar" pega seus amigos de surpresa, já que todos são solteirões convictos, ainda mais irresponsáveis e imaturos do que ele. Mas os safadões vêem no casório a oportunidade de liberar geral com uma despedida de solteiro de arromba, cheia de, como um dos rapazes anuncia, "garotas, armas, fogos de artifício, prostitutas, drogas e álcool, tudo aquilo que faz a vida valer a pena!".


A exemplo do que acontece no recente "Projeto X", a despedida de solteiro de Rick acabará saindo do controle: a festa acontece num hotel de luxo, decorado com balões feitos com camisinhas e tudo mais, e a barulheira no quarto (tem até uma banda tocando ao vivo!!!) acaba atraindo outros hóspedes. Não demora para que a pequena e particular bachelor party se transforme na festa mais animada da cidade!

Mas não fica só nisso, e o roteiro escrito por Pat Proft e pelos irmãos Bob e Neal Israel (este último também diretor) é incrível pela quantidade de personagens e situações paralelas que consegue criar. Além da despedida de solteiro em si, Rick enfrentará o ódio do sogro Ed Thompson (George Grizzard), um ricaço que não aprova o casório; a marcação cerrada da própria noiva e de suas amigas, desconfiadas do que está acontecendo na festinha, e até um ex-namorado ciumento e possessivo de Debby, o playboy Cole (Robert Prescott), que quer matar Rick para ter sua amada de volta!


A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO mereceria um prêmio só pela quantidade de frases de efeito (que lá fora chamam de one-liners) disparadas por todos os personagens, mas principalmente por Hanks, que solta piadinha atrás de piadinha e nunca parece falar sério.

E outro prêmio pela coragem de baixar o nível até o limite do bom gosto, coisa que a maioria das comédias recentes parece ter medo de fazer (a exceção é o ótimo "Se Beber Não Case", e que mesmo assim parece bem inofensivo perto desse filme aqui).


Impossível não citar alguns dos momentos antológicos da película, como a participação do canastrão Brett Clark ("Delta Force Commando") no papel de um stripper super-dotado que tem a sugestiva alcunha de "Nick The Dick" (alguém lembra como era o nome na versão nacional???).

Pois o pinto extralarge do Sr. The Dick é usado como recheio de cachorro-quente numa sacanagem armada por Rick e sua turma durante o chá-de-panela da noiva Debby. E se só a reação de Hanks e seus amigos ao tamanho do "dick" de Nick já é hilária (fotos abaixo), o desfecho da piada provocaria risos até no meio de um velório!


Nesses tempos lazarentos em que se busca o "politicamente correto" a todo custo, e não dá mais para brincar com certas coisas, é ótimo ver uma comédia de uma época em que sexo com prostitutas e consumo de doses cavalares de drogas são atitudes comuns e até mesmo incentivadas, sem qualquer juízo de valor. Praticamente todos os personagens do filme transam com as profissionais em algum momento da festa, e há até um "buffet" de entorpecentes para o uso dos convivas!

Acredite ou não, o roteiro foi inspirado nos acontecimentos registrados na despedida de solteiro do próprio co-roteirista e produtor Bob Israel, o que dá uma bela ideia das maluquices que esses sujeitos aprontavam também na vida real...


Mas o mais interessante de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO é a química entre os atores que interpretam os amigos de Tom Hanks: você realmente acredita que aqueles caras todos são parceiros há anos. Eu gosto muito de algumas cenas simples que demonstram essa afinidade entre eles, como quando um dos rapazes joga batatas-fritas nos outros para chamar a atenção durante uma discussão.

É muito difícil que um filme consiga passar a ideia de que os atores REALMENTE são amigos de longa data, e não completos estranhos interpretando amigos de longa data. Esse aqui é um dos melhores exemplos de como fazer isso de forma convincente.


Por sinal, o jovem Hanks, ainda no árduo caminho para o estrelato (ele só estouraria mesmo em "Quero Ser Grande", de 1988), pode até ser o protagonista, mas também é o personagem mais xarope do filme: seu Rick Gassko só é imaturo e "adultescente" ATÉ que começa a despedida de solteiro, pois nesse momento revela-se um completo mala, aquele típico cara legal e certinho que não pretende passar dos limites e nem curtir as últimas horas de solteirice com uma puladinha de cerca.

Esse moralismo exagerado e empurrado goela abaixo no espectador ficou ainda mais evidente nas comédias recentes, como o pavoroso "Passe Livre". Mas A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO já traz uma cena um tanto difícil de engolir: por mais que sua noiva e futura esposa Debby seja uma gata, dá vontade de matar o Tom Hanks por recusar a lindíssima Monique Gabrielle, que, no papel de uma ex-namorada ainda apaixonada, oferece-se a ele completamente pelada!


Se Hanks faz o tipo certinho, pelo menos os seus parceiros de folia estão entre os sujeitos mais irresponsáveis já vistos numa comédia - e o fato de serem todos adultos, e não adolescentes com hormônios em ebulição, torna tudo mais divertido!

O rol de doidos conta com O'Neill (Adrian Zmed), um fotógrafo que, na sua primeira cena no filme, faz de tudo para enquadrar os seios fartos de uma pobre mãe solteira que leva seu filho pequeno para ser fotografado; o médico e irmão mais velho de Rick, Stan Gassko (William Tepper), louco para afogar as mágoas do casamento infeliz com as prostitutas da festa; o agenciador de shows Gary (Gary Grossman), que protagoniza uma das melhores cenas do filme ao apaixonar-se perdidamente por um travesti; o junkie Brad (Bradford Bancroft), que passa a festa toda tentando cometer suicídio e é o mais chato dos personagens principais; o garçom Ryko e o mecânico tarado Rudy.


Algumas palavrinhas sobre estes últimos dois: Ryko é interpretado por um jovem Michael Dudikoff, o próprio "American Ninja", ainda antes da fama. Ele viraria astro no ano seguinte, 1985, graças à aventura de artes marciais da Cannon Films.

Já Rudy, o mecânico tarado e alucinado interpretado por Barry Diamond (de "A Reunião dos Alunos Loucos"), rouba o filme toda vez que aparece. Seu personagem porco e grosseirão lembra muito John Belushi em "Clube dos Cajafestes", o que nos leva à informação de que...

...o roteirista e diretor Neal Israel reviu diversas vezes a clássica comédia de John Landis para tentar aprender como reconstruir aquele clima caótico, repleto de piadas soltas e personagens engraçados.


Pois algumas cenas de Rudy são tão parecidas com comportamentos de Belushi em "Clube dos Cafajestes" que provavelmente o próprio Belushi teria sido convidado para A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO caso não tivesse morrido de overdose alguns anos antes. Vejam, por exemplo, o momento em que Rudy come vários doces em um mercadinho sem pagar, semelhante ao antológico momento alimentar de John Belushi em "Clube dos Cafajestes"; ou a cena em que Rudy cospe cerveja inesperadamente na cara de uma garota, comportamento que se esperaria de Belushi no filme de Landis; ou, ainda, Rudy quebrando uma garrafa de uísque na própria cabeça, outro comportamento tipicamente belushiano.

Há um outro momento hilário "emprestado" diretamente de "Clube dos Cafajestes", envolvendo um jumento morto no elevador do hotel em que acontece a festa de Rick - uma citação confessa ao cavalo morto na sala do diretor da escola, no filme de Landis.


Acontece que, numa das cenas mais divertidas e ultrajantes de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO, uma stripper (Toni Alessandrini, que era stripper também na vida real) é levada até o quarto de hotel para um show de zoofilia com um jumento!!! Mas, enquanto a moça dança e tira a roupa, o pobre quadrúpede começa a comer anfetaminas e cheirar linhas de cocaína dispostas sobre a mesa para os convidados da festa, morrendo logo depois de overdose e sendo "descartado" no elevador do hotel!

(Esta cena engraçadíssima da overdose do jumento foi cortada em quase todas as exibições do filme na TV aberta, e portanto a morte do animal ficava meio inexplicada, como se tivesse acontecido por ataque cardíaco ou algo do gênero!)


E por falar em TV aberta, é interessante destacar que a dublagem nacional de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO subvertia o sentido de diversos diálogos para eliminar o incentivo à promiscuidade e ao uso de drogas que o filme originalmente fazia! Bem que alguém que tem o filme gravado da TV poderia colocar as cenas dubladas no YouTube para melhor comparação, mas, de memória, eis os piores momentos da versão em português:

No início do filme, quando Rick transporta um grupo de alunos de uma escola de freiras, há uma cena em que uns garotos jogam pôquer com apostas em dinheiro no chão do ônibus. Para diminuir um pouco a exibição de menores praticando jogo ilegal, a Globo dublou uma das crianças falando algo como "Olha, tem dinheiro aqui no chão!".


Em outra cena, o personagem do junkie oferece drogas a Hanks. Na dublagem nacional, ele dava uma de bom rapaz e dizia: "Eu não vou tomar essa porcaria com você!". No diálogo original, Hanks dispensava a oferta simplesmente dizendo que era falta de educação dividir drogas!

Finalmente, no auge da despedida de solteiro, um dos rapazes abre a porta e dá as boas-vindas a mais pessoas não-convidadas, anunciando, na versão dublada: "Gatinhas à esquerda, rapazes à direita". Na versão original, a divisão era bem diferente: "Drugs to the right, hookers to the left"!!!


A única parte fraca de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO é a conclusão. O filme bem que poderia terminar com o desfecho da festa propriamente dita, mas há uma última cena de ação e perseguição, quando Cole sequestra Debby e Rick o persegue em seu ônibus escolar. O conflito termina com uma luta num cinema 3-D (que exibe cenas de "Mercenários das Galáxias", produzido por Roger Corman).

Essa conclusão com uma grande perseguição ou cena de ação é uma infeliz característica dos roteiros de Neal Israel, que fez a mesma coisa em "Loucademia de Polícia", "Academia de Gênios" e "Trânsito Muito Louco" (este ele também dirigiu). Eu particularmente acho esta "ação final" dispensável, e quebra o clima de comédia burlesca construído até então.


Por sinal, A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO é provavelmente o grande filme de Israel, que foi trabalhar na TV depois do fracasso de seus projetos dos anos 90 (como o insuportável "Surfistas Ninjas", com Rob Schneider e Leslie Nielsen). Um triste fim para o cara que fez comédias simpáticas como "Trânsito Muito Louco" e "Loucademia de Combate".

Outro que não sobreviveu à ação do tempo foi Adrian Zmed, cujo personagem tem bastante destaque neste filme e, aparentemente, estava sendo talhado para também virar astro de cinema - na época, ele estrelava o popular seriado de TV "T.J. Hooker", ao lado de William Shatner! Mas, apesar do cara mandar bem, não deu certo e, graças a escolhas erradas nos anos seguintes, a promessa de astro virou um esquecido coadjuvante de luxo.


Eu escrevi várias vezes, ao longo dessa resenha, que as comédias de hoje ficaram afrescalhadas, e seus realizadores parecem ter medinho de pegar mais pesado - como era regra lá atrás, nos anos 80. Uma bela forma de constatar isso na prática é fazer uma sessão dupla deste filme aqui com o recente "American Pie 3 - O Casamento" (2003), que também retrata uma despedida de solteiro e também tenta "pegar pesado", mas parece até produção da Disney perto do que Tom Hanks e sua turma aprontaram lá em 1984...

Ainda engraçadíssimo mesmo depois de 30 anos e pelo menos umas trinta reassistidas (de minha parte), A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO só tem um grande defeito: deixa todo mundo com a maior vontade de participar de uma despedida de solteiro como aquela de Rick Gassko e seus amigos.

Infelizmente, todos os meus amigos que cometeram a imbecilidade de casar também cometeram a dupla imbecilidade de não fazer qualquer festa de despedida de solteiro, muito menos algo animado e selvagem no nível dessa do filme. É de chorar...


PS 1: Em 2008, Neal Israel, Bob Israel e Pat Proft comprovaram que estão no fundo do poço ao assinarem o roteiro de "A Última Festa de Solteiro 2 - Tentação Final", uma abominável sequência de seu famoso sucesso, dirigida pelo novato James Ryan. Nenhum dos atores do original deu as caras, a continuação não tem graça nenhuma e ainda demonstra como o politicamente correto tomou conta das comédias modernas, já que não há nenhuma piada no nível da overdose do jumento ou de Nick The Dick.

PS 2: A cena do jumento foi "homenageada" com uma piada patética no igualmente abominável "O Balconista 2" (2006), de Kevin Smith, outra prova incontestável de como os ianques desaprenderam a fazer comédias divertidas.


ATUALIZAÇÃO: Numa incrível coincidência, A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO foi exibido num Corujão da Globo apenas dois dias após a publicação desta resenha. Dei uma conferida para ver se pegava outros casos de tradução porca. Além de todos os já citados (com a correção de que "Drugs to the right, hookers to the left" na verdade é "Quem gosta pra esquerda, quem não gosta pra direita"), praticamente todos os "hookers" foram substituídos por "gatinhas". "Nick The Dick" é "Nick, O Gostosão" na versão brasileira, e dê uma checada nas seguintes traduções puritanas: "Um brinde às grandes mulheres do mundo" (para "To girls with big tits!"), ‎"Parece que foi ontem que eu te ensinei a namorar, menina" (para "Seems like yesterday I showed you how to give a blowjob", tornando sem sentido a reação de surpresa das pessoas ao redor), e "Rapaz, olha só o rosto daquela mulher ali!" (para "Look at the cans on that bimbo!").

Trailer de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO



*******************************************************
Bachelor Party (1984, EUA)
Direção: Neal Israel
Elenco: Tom Hanks, Tawny Kitaen, Adrian Zmed, George
Grizzard, Robert Prescott, William Tepper, Barry Diamond,
Michael Dudikoff e Monique Gabrielle.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

EXECUÇÃO SUMÁRIA (1986)


Michael Paré. Hoje o nome é digno de pena, daqueles que você pronuncia com um tantinho de embaraço. Afinal, o cara topa tudo por dinheiro e virou figurinha carimbada no elenco dos filmes do Albert Pyun e do Uwe Boll, isso quando não é figurante de luxo nas novas aventuras vagabundas do Steven Seagal! Paré poderia até estar dando seminários para novos astros sobre como jogar sua carreira no lixo.

Mas nos anos 1980 a história era diferente. Michael Paré era um nome "quente", que, a despeito da completa inabilidade para interpretar, vinha sendo talhado a ferro e fogo para transformar-se no grande astro do momento - mais ou menos como Sam Worthington hoje, embora Paré pareça um ator shakesperiano perto desse sujeito aí. E vamos combinar que saber atuar não era pré-requisito para ser astro nos anos 80...


Em 1983 e 1984, o sujeito engatou uma série de sucessos como protagonista, de "Eddie, O Ídolo Pop" a "Projeto Filadélfia", chegando ao ápice com o fantástico "Ruas de Fogo", de Walter Hill. Talvez por causa desse último, tentaram transformar Paré em herói de ação. E em 1986 apareceu EXECUÇÃO SUMÁRIA, uma aventura que, em teoria, era o veículo perfeito para transformar o sujeito em novo astro do gênero, para competir com Stallone e Schwarzenegger.

Só que a estratégia não funcionou, o filme naufragou e a carreira de Michael Paré começou a decair progressivamente até atingir o fundo do poço do "direto para vídeo/DVD", e finalmente o estágio atual de "ex-astro decadente" nas produções de Uwe Boll e Albert Pyun.


Se não funcionou na época, hoje, pelo menos, EXECUÇÃO SUMÁRIA é uma aventura divertidíssima - mais pelo fator trash inerente às produções de ação daquela década do que pelo seu valor como obra cinematográfica em si. E comprova que, sim, Paré era muito, mas muito ruim.

Nesse filme escrito, produzido e dirigido por um tal de Craig T. Rumar, que surgiu do nada e voltou ao lugar nenhum (este é o seu único crédito), o ator "interpreta" Scott Youngblood, um sargento dos Marines (o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos) que tem uma ficha invejável e é o novo candidato a Rambo do momento.


Já na cena inicial, Scott arrebenta três terroristas que estavam preparando um atentado contra o embaixador dos Estados Unidos em Paris. Em retribuição, além das honras militares de praxe e de uma promoção para trabalhar em Tóquio, ele ganha do embaixador uma pistola de luxo - que, ao contrário do que parece, não terá nenhum grande papel na trama posteriormente.

O Marine também tem uma bonita irmã, Kim (Lynda Bridges), que vive em Madri, na Espanha, e secretamente trabalha como garota de programa para uma quadrilha de traficantes barra-pesada. Ao perceber que não terá vida longa, a moça telefona para o irmão herói e pede ajuda - em vão, pois é assassinada logo depois. Sem pensar duas vezes, Scott embarca num avião para a Espanha em busca de Kim, apenas para descobrir que ela está morta e a polícia não dá a mínima para o caso.


O resto é aquela rotina nas produções do gênero: o herói ianque alia-se a um espertinho que era amigo da finada, o fotógrafo Jake (Peter Crook), e juntos começam a investigar os responsáveis pelo crime: o traficante Silke (Eddie Avoth) e seu braço-direito Dutch (Scott Del Amo), que foi quem matou a pobre Kim.

Daí para arranjar armas pesadas e desbaratar a quadrilha toda é um pulo, certo?

Errado!

Pois embora EXECUÇÃO SUMÁRIA tenha o título original "Instant Justice" (Justiça Instantânea, em tradução literal), não tem nada de instantâneo no "olho por olho, dente por dente" aplicado por Scott. Pelo contrário, ele perambula por Madri sem fazer grande coisa durante a maior parte do tempo, e o acerto de contas acontecerá apenas nos vinte minutos finais - uma justiça nada instantânea, portanto.


Tanto que no Reino Unido o título do filme é "Marine Issue", bem melhor do que o oficial, e relacionado a uma frase que o embaixador diz ao dar a pistola de presente para o herói: "This is Marine Issue".)

No meio-tempo entre a chegada do herói à Espanha e a vingança propriamente dita, o roteiro enche linguiça colocando Scott para brigar com valentões num bar e depois com traficantes de armas (entre eles, o pobre Aldo Sambrell), quando tenta adquirir pistolas e munição para combater a quadrilha de Silke.

Também gasta um tempão apresentando o interesse romântico do herói, Virginia (a deliciosa Tawny Kitaen, mulher de Tom Hanks em "A Última Festa de Solteiro"), uma das novas garotas do harém de Silke, e a quem Scott irá proteger como uma espécie de compensação por não ter conseguido salvar a vida da irmã.


Há um aspecto interessante em EXECUÇÃO SUMÁRIA que é o desenvolvimento do personagem principal. Quando Scott percebe que suas ações irão ferir o código de honra dos fuzileiros, ele entrega suas plaquetas de identificação (o equivalente ao policial entregar seu distintivo) a um superior, o Major Davis (Charles Napier, garantindo o dinheiro do aluguel). Assim, fica livre para agir "fora da lei" e punir os assassinos da irmã.

Essa evolução progressiva para o "lado negro" lembra a transformação de Paul Kersey em vigilante no primeiro "Desejo de Matar", já que Scott leva um tempão para finalmente virar justiceiro e sair passando fogo nos bandidos (o que novamente coloca em dúvida o título original, "Justiça Instantânea").


Só que Michael Paré não é Charles Bronson, e por isso EXECUÇÃO SUMÁRIA não funciona tão bem como poderia. O coitado nem sequer é capaz de dizer duas frases sem que o texto pareça decoradinho e desprovido de emoção. Em alguns momentos, ele parece até estar lendo as falas de cartões escritos posicionados atrás da câmera!

Menos mal que não dá o show de canastrice sozinho: praticamente todo o elenco parece estar disputando quem é o pior intérprete, da pobre Tawny ao bandido Del Amo, que faz umas caretas vilanescas de doer a barriga de tanto rir. Uma cena romântica entre Paré e Tawny, pré-banho de chuveiro entre os pombinhos, é tão ruim, mas tão ruim, que parece saída de alguma sátira estilo "Corra que a Polícia Vem Aí", e que os atores estão fazendo aquilo de propósito!

(A saber: o herói interrompe uma discussão no meio dizendo que vai tomar banho, a mocinha começa a choramingar que não quer ficar sozinha e corre para baixo do chuveiro com ele, mas ainda VESTIDA!)


Para piorar, o penteado e o figurino anos 80 usados por Tawny são literalmente um horror, conseguindo transformar uma garota linda numa baranga de chorar. O cabelão armado da moçoila é tão exagerado que parece que uma raposa morreu em cima da sua cabeça (é até um alívio quando ela molha o cabelo na cena do chuveiro e ele fica "normal"); já as ombreiras gigantes lembram uma armadura ou roupa de astronauta. E pensar que isso era moda naquela década maldita...

Pela inépcia dos atores e do diretor, e pelo excesso de enrolação para um suposto filme de ação, EXECUÇÃO SUMÁRIA passou de "grande veículo para o estrelato de Michael Paré" a constrangimento para o estúdio que o produziu - ninguém menos que a Warner! É só comparar com produções muito mais baratas da mesma época, tipo os filmes da Cannon, para perceber como o negócio não funciona.


A solução encontrada foi cancelar o lançamento nos cinemas e mandar o filme direto para as videolocadoras no ano seguinte (1987), com uma capinha que explorava ao mesmo tempo o sucesso de Paré em "Ruas de Fogo" e a nova febre do momento, que eram as aventuras à la "Ases Indomáveis"! (A capinha da fita nos EUA dizia: "The star of 'Streets of Fire' unleashes a fury of Top Gun entertainment"!!!)

Hoje, o filme vale principalmente pelas risadas involuntárias. Além das péssimas interpretações, é impossível não rir com a nudez gratuita (num "ensaio sensual" que só existe para mostrar a pobre figurante pelada!) e com as frases de efeito em cenas como a pancadaria no bar, que termina com o herói jogando uns dólares sobre o balcão e anunciando aos sujeitos nocauteados: "Tomem uma na conta do Tio Sam!".


Em tempos de superpatriotismo (era a época do Governo Reagan), o diretor-roteirista Rumar também escreveu um diálogo constrangedor e hoje hilário: quando Scott questiona Jake se ele não vai ajudá-lo, já que "também é americano", o rapaz responde dizendo que não fica "sacudindo bandeiras". Impassível, com aquele olhar de peixe morto à la Stallone, o herói responde: "Bem, mas eu sim!".

E como levar a sério um filme em que o herói invade uma base militar norte-americana (em busca de um novo fuzil experimental) apenas roubando um uniforme e gritando ordens estapafúrdias para todo e qualquer soldado que encontra pelo caminho? Ah, como eram estupidamente divertidas essas aventuras dos anos 80...


O final inclui uma perseguição automobilística razoavelmente interessante na pista de pouso de um aeroporto, talvez o grande momento do filme, com direito a avião pousando sobre um carro e outro veículo capotando e destruindo vários jatinhos convenientemente enfileirados na pista de pouso.

É a melhor cena de ação da película, pois no restante do tempo vemos apenas Paré atravessando vidraças e disparando tiros e sopapos sem muita convicção. Impossível não rir horrores com o trecho em que o herói penetra (opa!) na fortaleza dos vilões e subitamente dá de cara com... um chefe de cozinha karateka! Que bate nele com uma frigideira!


Conseguirá Scott Youngblood encontrar e castigar os assassinos da sua irmã? Conseguirá Virginia abandonar sua vida boa de prostituta de luxo para ficar com o herói? Conseguirá o diretor-produtor-roteirista Craig T. Rumar uma outra oportunidade para mostrar seu talento (ou falta de), considerando que não filmou mais nada de 1986 para cá ?

São perguntas cujas respostas você encontrará, ou não, em EXECUÇÃO SUMÁRIA, uma aventura razoavelmente dirigida e pessimamente interpretada, mas que hoje tem muito valor como comédia.

Portanto, reúna os amigos na sala, prepare a cerveja e ria muito com esse novo clássico do "cinema macho", uma tosqueira no mesmo nível de "Missão Resgate" (aquele com o Brandon Lee) e "Gymkata - O Jogo da Morte".


Quanto a Michael Paré... Bem, ele pode até não ter virado o grande herói de ação da época (quem sabe por culpa desse filme tosquíssimo), mas pelo menos continuou trabalhando, e até hoje tem presença garantida em filmes classe B e C, ganhando honestamente o dinheiro do aluguel e o leitinho das crianças. Envelhecido, até atua um pouquinho melhor (alguém o viu em "Tunnel Rats", do Uwe Boll?).

E ele certamente tem coisas bem mais vergonhosas no seu currículo para lamentar. Afinal, é bom lembrar, o coitado conseguiu a façanha de aparecer nos TRÊS FILMES da série "Bloodrayne"! Perto disso, EXECUÇÃO SUMÁRIA parece até material digno do Oscar!

Dá até vontade de apelar para um trocadilho infame: "Pare, Paré!!!".

PS: Talvez pelo fracasso na época do lançamento, talvez pela ruindade geral, o filme continua inédito em DVD no mundo inteiro. Nos sites de compartilhamento de arquivos, encontra-se apenas uma versão ripada de VHS, e portanto em tela cheia e com imagem apenas razoável. Será que um dia veremos uma versão decente disso? E será que alguém realmente se importa?

A grande cena de EXECUÇÃO SUMÁRIA



*******************************************************
Instant Justice (1986, EUA)
Direção: Craig T. Rumar
Elenco: Michael Paré, Tawny Kitaen, Peter Crook,
Charles Napier, Eddie Avoth, Scott Del Amo, Lynda
Bridges, Aldo Sambrell e Tessa Hewitt.