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sexta-feira, 13 de maio de 2011

TUBARÃO 3 (1983)


Bem, enquanto vocês se recuperam do choque e da overdose de gargalhadas de ver TUBARÃO 3 aqui no blog, permitam-me dizer que esta obra bisonha foi um autêntico "guilty pleasure" da minha infância/adolescência, um filme que eu assistia com gosto toda vez que passava na TV e, acreditem ou não, GOSTAVA!

Foi só revendo agora, depois de "adulto", em DVD com imagem cristalina e sem aquela dublagem pavorosa da Globo, que eu finalmente percebi como o filme é ruim, com uma trama absurda e desinteressante, total ausência de suspense e/ou violência, atores conhecidos pagando mico e cenas estúpidas. Um autêntico FILMES PARA DOIDOS, em suma, e é por isso que agora ele está aqui nas "páginas" do blog!


Antes de falarmos da película em si, é bom traçar um rápido contexto da época: depois que o "Tubarão" original de Steven Spielberg foi um estrondoso sucesso de crítica e bilheteria em 1975, a Universal não perdeu tempo e financiou "Tubarão 2", em 1978, uma sequência bem interessante que foi mal recebida na época, mas só cresceu com o tempo (inclusive considero "Tubarão 2" um filmaço, e se bobear vi até mais vezes que o original!).

O segundo filme não foi mal nas bilheterias, mas frustrou os produtores, que esperavam um repeteco do sucesso arrasador do filme de Spielberg. Resolveram, então, deixar os predadores oceânicos em paz. Até que, em 1981, um italiano chamado Enzo G. Castellari dirigiu uma cópia de "Tubarão" chamada "O Último Tubarão", que ironicamente tornou-se um gigantesco imã de bilheteria nos Estados Unidos!

Os engravatados da Universal não pensaram duas vezes: processaram Castellari e os produtores italianos por plágio, conseguiram tirar o filme de cartaz e, com muitos cifrões nos olhos, trataram de produzir seu próprio novo filme sobre tubarões, julgando que o público ainda tinha interesse nisso.


Ironicamente, a primeira ideia era fazer uma sátira ao original de Spielberg, estilo "Todo Mundo em Pânico", que se chamaria "Jaws 3 x People 0" (!!!), uma comédia sobre as filmagens de uma nova sequência de "Tubarão". Dois nomes proeminentes da comédia oitentista, Matty Simmons e John Hughes, entraram no projeto, Joe Dante iria dirigir (!!!), e a cena inicial mostraria o escritor Peter Benchley (autor do livro que deu origem a "Tubarão") sendo morto pelo assassino aquático na piscina da sua casa!!!

Aí algum produtor mal-humorado resolveu desistir da ideia e fazer uma continuação "séria", porém aproveitando uma ferramenta que estava se tornando uma febre entre os filmes de ficção científica e horror da época: o 3-D. Tudo que era terceiro filme produzido naqueles anos acabava eventualmente filmado em 3-D para aproveitar o trocadilho com o número 3 no título - "Sexta-feira 13 Parte 3" e "Amityville 3-D" são da mesma época. Inclusive, nos cinemas, TUBARÃO 3 chamava-se "Jaws 3-D"!


Bem, ao tal produtor mal-humorado que achou melhor fazer um filme "sério" do que uma comédia, deixo a seguinte mensagem: não adiantou nada! TUBARÃO 3 é tão ruim e sem-noção que hoje passa como verdadeira comédia involuntária. Em várias oportunidades me peguei rindo sozinho do filme que outrora me assustava/emocionava.

Passando-se alguns anos após as tragédias em Amity narradas nos dois filmes anteriores, TUBARÃO 3 agora muda a localização geográfica para um parque aquático na Flórida, onde trabalha Mike Brody (Dennis Quaid, ainda com cara de adolescente!!!), que é um dos filhos do personagem de Roy Scheider em "Tubarão" 1 e 2.


O local, financiado por um figurão chamado Calvin Bouchard (Louis Gossett Jr.!!!), será inaugurado em alguns dias, e tem como grande atração um complexo submarino onde os visitantes poderão ver a vida marinha através de túneis envidraçados. Mas é claro que logo aparecerá a ameaça de mais um gigantesco tubarão branco...

Tudo que é clichê possível e imaginável do subgênero "animais assassinos" aparece aqui, do ambicioso dono do parque que minimiza a ameaça para não perder dinheiro ao caçador experiente que subestima a periculosidade do tubarão ao tentar enfrentá-lo sozinho. Sem contar, claro, o tradicional momento em que todo o elenco do filme corre em disparada gritando "Saiam da água!" para tentar salvar banhistas de seu triste destino no momento em que o tubarão ataca...


Quem comandou a patuscada foi Joe Alves, diretor de segunda unidade em "Tubarão" e "Tubarão 2". Esse é o seu único crédito como diretor, algo plenamente justificável considerando a ruindade do filme. E como seria bom se, hoje, os estúdios também limassem diretores ruins baseados apenas em seu primeiro filme ruim, pois assim nunca veríamos outras bombas do Rob Zombie!

TUBARÃO 3 falha em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Os efeitos especiais de 1983 são piores que os do original, inclusive com a utilização de um gigantesco tubarão que nem move a cauda ao nadar (parece um submarino!!!). Não há cenas de tensão, de suspense ou de violência, e a bem da verdade não acontece nada até os 50 minutos do filme - nesse ínterim, precisaram criar cenas totalmente dispensáveis para que o público não dormisse, como a aparição de dois "ladrões de coral" que são devorados off-screen pelo tubarão e nunca mais são citados, em cena provavelmente filmada e incluída na edição de última hora.


Pior é a quantidade de besteiras jogadas na cara do espectador por minuto. Em certo momento, por exemplo, um perigoso tubarão branco é exposto ao público numa piscina comum e sem NENHUMA proteção nas laterais (como você vê na foto acima), permitindo que qualquer espectador pudesse cair sem dificuldade no tanque de uma das criaturas mais mortais da natureza!

Mas nada pode ser mais trash que a conclusão: o cadáver do corajoso caçador de tubarões, que havia sido devorado pelo monstro horas antes, AINDA ESTÁ INTACTO DENTRO DA BOCA DO BICHO, e segurando uma granada na mão para que os heróis possam puxar o pino e explodir o bicho. Cá entre nós: será que o tubarão confundiu o mergulhador com uma bala (já que ele estava de roupa vermelha) e estava chupando o cadáver do sujeito ao invés de engolir de uma vez? Ou será que os tubarões, como as vacas, ficam ruminando o alimento?


O roteiro está repleto de problemas, e não são só esses dois. Lá pelas tantas, o irmão mais novo de Mike, Sean Brody (John Putch, atualmente diretor de tralhas como as sequências bastardas de "American Pie"), aparece na história, mas ele não faz absolutamente nada para justificar sua presença. O próprio Mike Brody é provavelmente o "herói" mais incompetente da história do cinema, pois passa pelo filme inteiro sem fazer nada até o minuto final.

A bem da verdade, o roteiro de TUBARÃO 3 parece não se decidir entre quem é o verdadeiro protagonista do filme: Brody ou o tal caçador experiente, um inglês chamado Philip FitzRoyce (interpretado por Simon MacCorkindale, que é a cara do Aaron Eckhart!!!).


Ambos disputam o coração da mocinha Kathryn (Bess Armstrong), mas FitzRoyce é o único com coragem para enfrentar o tubarão várias vezes até encontrar seu fatídico destino - porque nesse tipo de filme é sempre o animal assassino que resolve os triângulos amorosos, geralmente comendo uma das suas pontas.

Ah, quase esqueci: TUBARÃO 3 também tem um casal de golfinhos espertinhos (barbaridade...) que, lá pelas tantas, salvam os heróis de um ataque do tubarão, no grande momento "vergonha alheia" da película - sem contar que algo semelhante acontecia no final do trashão italiano "Tentáculos" (1977), de Ovidio G. Assonitis.


Chega a ser deprimente ler, nos créditos iniciais, o nome de Richard Matheson (sim, "o" Richard Matheson) como um dos roteiristas, mas ele alega que seu roteiro original foi totalmente reescrito por Michael Kane e pelo ator-diretor Carl Gottlieb (que já havia "contribuído" nos roteiros de "Tubarão" e "Tubarão 2" a pedido da Universal). O argumento é de Guerdon Trueblood, na época um especialista em "terror animal" (escreveu "Formigas Assassinas", "Tarântulas" e dois filmes sobre abelhas assassinas!).

No geral, TUBARÃO 3 é um daqueles filmes em que absolutamente NADA deu certo. Todos os atores estão péssimos, completamente perdidos de tão mal-dirigidos, e dá pena de ver principalmente Gossett Jr. pagando esse micão - até porque no ano anterior, 1982, ele tinha ganhado o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por "A Força do Destino". Como se sabe, o Oscar de Coadjuvante tem alguma tenebrosa maldição por trás (que o digam Cuba Gooding Jr., Marisa Tomei e tantos outros), e Gossett Jr. acabou fazendo papel de "sidekick de luxo" em produções como "Asas de Águia" e "O Justiceiro" antes de sumir do mapa.


Sem nenhum orgulho do seu trabalho, Dennis Quaid hoje se refere a TUBARÃO 3 com a inevitável pergunta "Qual foi mesmo o 'Tubarão' que eu fiz?". E o elenco também traz Lea Thompson em seu segundo papel no cinema. Depois ela faria a mãe de Marty McFly na trilogia "De Volta para o Futuro".

Hoje, um dos poucos atrativos de TUBARÃO 3 é rir do que deveriam ser os efeitos 3-D - no caso, coisas apontadas ou atiradas diretamente contra a câmera. Numa cena, o personagem de Dennis Quaid dispara um arpão contra o "público", e é interessante observar como aquilo deve ter ficado legal "saindo da tela", embora perca todo o sentido em 2-D (como 99% dos filmes em 3-D produzidos hoje, vale ressaltar).

Braços decepados e peixes parcialmente devorados também são atirados contra o espectador, mas o auge do grotesco é a cena final, em que o tubarão explode e os pedaços de suas enormes mandíbulas também são arremessados contra a tela, num efeito que deve ter provocado um festival de gargalhadas nas salas de cinema da época!


Ironicamente, TUBARÃO 3 copia, na maior cara-de-pau, várias coisas de "O Último Tubarão", aquele pequeno filme italiano que os engravatados da Universal fizeram questão de tirar de circulação dois anos antes. O tamanho do tubarão (35 metros) e o som que ele faz ao atacar (mais parecido com um leão ou tigre feroz!) saíram diretamente do filme de Castellari, bem como a conclusão em que o bicho engoliu alguém com uma bomba e o herói só precisa detoná-la pelo lado de fora!

Com tantos problemas e besteiradas, TUBARÃO 3 provavelmente é mais engraçado, para o público de hoje, do que seria a tal sátira assumida "Jaws 3 x People 0", cogitada lá no começo dos anos 1980.

Confesso que não lembrava de o filme ser tão ruim, mas pelo menos ele continua razoavelmente divertido nos seus inúmeros defeitos, e ainda me rendeu algumas boas gargalhadas - embora seja muito enrolado e demore uma eternidade até alguma coisa de interessante acontecer.


Felizmente, para Joe Alves e sua trupe, Joseph Sargent fez o favor de dirigir uma continuação AINDA PIOR em 1987, o infame "Tubarão - A Vingança", e de certa forma esse terceiro filme parece até um pouquinho melhor em comparação ao que o precedeu.

Mas não foge à regra (ou maldição, para alguns) de que o terceiro filme de uma série geralmente é o mais fraco e o início da decadência. Exemplos não faltam, de "Amityville 3-D" a "Robocop 3", de "Jogos Mortais 3" a "O Retorno de Jedi".

Também serve, atualmente, como um belíssimo argumento da inutilidade do 3-D, que no fim só vai deixar um montão de filmes repletos de cenas com objetos sendo jogados contra a câmera, e que perdem todo o sentido quando vistos em casa no formato normal...

Trailer de TUBARÃO 3



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Tubarão 3 (Jaws 3-D, 1983, EUA)
Direção: Joe Alves
Elenco: Dennis Quaid, Bess Armstrong, Louis
Gossett Jr., Lea Thompson, Simon MacCorkindale,
John Putch e P.H. Moriarty.

sábado, 6 de novembro de 2010

OS AVENTUREIROS DO FOGO (1986)


Depois de 1981, e de "Os Caçadores da Arca Perdida", todo mundo queria ser/fazer Indiana Jones. Assim, não demoraram a aparecer vários "Indiana Clones" vindos de todas as partes do mundo. Os italianos, hábeis realizadores de "ripoffs", não perderam tempo - Antonio Margheritti fez dois "Indiana Jones macarrônicos", "Os Caçadores da Serpente Dourada" (1982) e "Ark of the Sun God" (1983), ambos com David Warbeck, e até Jackie Chan tentou ser Harrison Ford em "Operação Condor" (1991).

Já a Cannon Films, dos célebres produtores picaretas Menahen Golan e Yoram Globus, produziu duas aventuras baratas sobre Allan Quateirman, aventureiro literário que foi uma das inspirações para a criação de Indiana Jones. Ambas - "As Minas do Rei Salomão" (1985) e "Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido" (1986) - hoje são verdadeiros clássicos trash, e trazem Sharon Stone pagando mico em começo de carreira.


E foi a mesma Cannon que teve a idéia de jerico de transformar Chuck Norris (o homem, o mito...) em "Indiana Clone". Surgia, assim, "Firewalker" (Caminhante do Fogo), que no Brasil virou OS AVENTUREIROS DO FOGO.

Dirigido pelo veterano J. Lee Thompson em 1986, o filme foi, durante muito tempo, figurinha carimbada da Sessão da Tarde. Eu mesmo devo tê-lo visto umas 10 vezes da infância até alguns dias atrás, quando ele passou pela sua inevitável revisão.


O que me surpreendeu, ao revê-lo, foi o fato de que eu não lembrava de absolutamente nada do filme além da cena inicial. Agora mesmo, enquanto escrevo essas linhas, MINUTOS DEPOIS de ter revisto OS AVENTUREIROS DO FOGO, quase tudo já sumiu novamente da memória, MENOS a cena inicial!

Não sei de quem foi a brilhante idéia de colocar Chuck Norris como herói cômico, mas ele combina tanto com o papel quanto Quentin Tarantino dirigindo "High School Musical". Pior: não satisfeitos, os realizadores escalaram Louis Gossett Jr., outro que não tem graça nenhuma, para o papel de "parceiro engraçadinho e alívio cômico".


Isso explica porque o filme tenta ser divertido, mas nunca consegue. Na verdade, não tem graça nenhuma: engraçado mesmo é perceber que todo mundo parece estar se divertindo, MENOS o espectador!

Norris vinha de uma série de filmes de ação casca-grossa em que mal sorria ("Comando Delta", "Invasão USA", "Código do Silêncio"...).

Ele pode ter sido um dos primeiros astros carrancudos de ação a tentar reinventar a própria imagem fazendo comédias, algo que Schwarzenegger, Stallone (e mais recentemente Vin Diesel e The Rock) fariam depois. Não colou, é claro, e o velho Chuck logo voltaria para a ação casca-grossa.


Não sem motivo: o astro está tão sem-graça nesse filme que um stand-up de Chuck Norris seria um verdadeiro convite ao suicídio!

O roteiro de Robert Gosnell (esse é o seu crédito mais expressivo) tenta fielmente reproduzir a "fórmula Spielberg de cinema de aventura", baseando-se um pouco também em "Tudo por uma Esmeralda", de Robert Zemeckis. Falta-lhe, porém, a magia, as surpresas e principalmente o RITMO destas suas fontes de inspiração.

Pois OS AVENTUREIROS DO FOGO é um filme de aventura sem aventura, com raros momentos de ação e muitos de sonolência, ritmo arrastado e um bla-bla-bla infernal.


A famosa cena inicial apresenta os amigos Max (Norris) e Leo (Gossett Jr.), dois mercenários/caçadores de tesouros que fogem pelo deserto, de inimigos armados, em jipes. Após pegar o caminho errado, o jipe dos heróis cai num oásis, e ambos são aprisionados por um arquiinimigo careca e com uma cicatriz enorme no rosto, que parece vilão de filme do James Bond.

O anônimo malvadão amarra a dupla no chão, com mãos e pés presos a estacas de madeira, e deixa uma garrafa de água na mão de Max - uma ironia pelo triste destino que terão. Quando os inimigos se mandam, porém, Max arrebenta a garrafa com a mão e usa os cacos de vidro para soltar-se. Assim termina a melhor cena do filme.

(E eu sempre achei essa cena legal, desde criança, mas hoje percebo a completa estupidez dos personagens, pois bastaria puxar as cordas POR CIMA das estacas de madeira para soltar-se, já que não havia nada prendendo as cordas, como você pode ver nas fotos! Assim, eles ainda teriam a garrafa de água intacta para enfrentar a travessia do deserto.)


De volta à civilização, os amigos comemoram a própria salvação quando entra no recinto a loirinha Patricia Goodwin (a delícia Melody Anderson, de "Flash Gordon"). Rica e meio maluca, ela tem um mapa do tesouro e procura dois sujeitos "corajosos, confiáveis e não muito espertos". Adivinhe com quem ela termina se associando?

Patricia contrata Max e Leo como guias para sair em busca de um lendário tesouro asteca. Mas a busca não será tão fácil, pois o trio enfrentará índios, truculentos soldados latino-americanos, outros mercenários e principalmente um tal "Ciclope Vermelho", que não passa de um grandalhão com tapa-olho (devido ao milagres da continuidade ruim, o tapa-olho cobre um OLHO DIFERENTE a cada cena!).


A busca pelo tesouro é praticamente um sonífero, pois nada de muito emocionante e/ou atraente acontece aos heróis, embora eles passem o restante do filme enfrentando meio-mundo. O vilão caolho é ridículo, pouquíssimo explorado e não oferece qualquer perigo - limita-se a ficar longe dos heróis o filme inteiro, tentando fazer magias fuleiras contra eles e lendo gibis da "Psi Force" enquanto mata seus capangas e colaboradores por falharem em suas missões.

Os perigos e armadilhas pelo caminho só provocam bocejos, e o roteirista precisa inventar umas dispensáveis brigas de bar para que Norris possa pelo menos mostrar seus dotes de karateka (e valer o investimento feito no cachê do ator). Já Gossett Jr. está mais perdido que surdo em bingo, e passa o filme inteiro reclamando das ações do companheiro - algo que não é engraçado na primeira vez, imagine então na vigésima.


Já a mocinha Melody Anderson (delícia!) apresenta poderes sobrenaturais nunca satisfatoriamente desenvolvidos (ou mesmo explicados) pelo roteiro. Assim, acaba tão-somente como "mocinha em perigo", para ser resgatada pelos heróis a todo momento, e inevitável interesse romântico do personagem de Norris.

Menos mal que desfila boa parte do filme com generoso decotão e um shortinho minúsculo, demonstrando todo o seu... hã... talento dramático!

O pior é que OS AVENTUREIROS DO FOGO realmente tenta ser um filme engraçadinho. Até tem umas cenas que provocam pelo menos um leve sorriso no espectador, como os heróis disfarçados de padres sendo obrigados a dar a bênção a um soldado inimigo, ou Max nadando estilo cachorrinho após o "naufrágio" do seu carro na travessia de um rio.


Mas a mão-pesada (ou falta de vontade?) do diretor Thompson estraga qualquer possibilidade de essas piadas funcionarem como deveriam.

Para piorar, há uma cena completamente dispensável e sem utilidade em que os heróis reencontram um velho amigo dos tempos do Vietnã, agora um ditador chamado Corky.

A única explicação para a existência de tal encontro, além de encher lingüiça, é poder colocar em cena o ator John Rhys-Davies, vindo diretamente das aventuras de Indiana Jones - e que já havia sido utilizado pela Cannon em "As Minas do Rei Salomão". Como se o ator criasse um elo entre essas aventuras bagaceiras e os filmes do Spielberg, do tipo: "Ei, já que não temos grana para contratar o Harrison Ford, vamos usar o Rhys-Davies!".


Assim, OS AVENTUREIROS DO FOGO é um filme que só funciona pelos motivos errados: você assiste para constatar como Chuck Norris é péssimo comediante e não convence quando não está lutando, como Louis Gossett Jr. é um terrível "parceiro engraçadinho", como Melody Anderson não é nada além de uma boneca inflável ambulante, como o vilão é ruim, como as cenas de ação são frouxas, como o ritmo é titubeante, como os templos antigos visitados pelos herói são mal-feitos, como os erros de continuidade são grosseiros, etc etc etc.

E embora a conclusão deixe no ar a possibilidade de novas aventuras com Max, Leo e Patricia, é óbvio que todos os envolvidos nessa porcaria se conscientizaram da péssima idéia que seria errar uma segunda vez.

Como geralmente acontece com esses filmes em que nada funciona, OS AVENTUREIROS DO FOGO até tem seu charme justamente pela total ineficácia, já que a obra falha em praticamente todos os aspectos.


Torna-se, assim, mais um autêntico FILME PARA DOIDOS. O mais incrível é que o trailer (veja abaixo) É ENGRAÇADO E DIVERTIDO, mas o filme não!!!

No fim, OS AVENTUREIROS DO FOGO parece um acidente de caminhão: você sabe que é uma coisa horrível, mas não resiste a dar uma olhadinha. Felizmente, ao menos nesse caso do filme do Thompson, você esquece rapidinho tudo que viu - menos aquela divertida cena inicial, talvez a única coisa que funciona no filme inteiro.

PS 1: Repare que, na cena em que a mocinha procura aventureiros no bar, há um sujeito bem parecido com Indiana Jones sentado no balcão, no canto esquerdo da imagem. Será só uma macabra coincidência ou isso é o máximo de humor auto-referencial que os roteiristas conseguem fazer?


PS 2: O título original, "Firewalker", se justifica por uma ceninha de cinco segundos em que um velho índio conta uma lenda da região sobre um tal "Caminhante do Fogo". Por mais estúpida que pareça a tradução, o título brasileiro ainda tem mais lógica.

PS 3: Chuck Norris não aprendeu a lição e voltou a fazer comédia de risos amarelos em "Top Dog - Uma Dupla Animal" (1995), dessa vez contracenando com um cachorro que, pelo menos, é mais engraçado que o Louis Gossett Jr. Mas a coisa mais engraçada que Norris fez no cinema, indiscutivelmente, é a hilária participação especial em "Com a Bola Toda"! Ele devia fazer mais dessas...

Trailer de OS AVENTUREIROS DO FOGO



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Os Aventureiros do Fogo (Firewalker, 1986, EUA)
Direção: J. Lee Thompson
Elenco: Chuck Norris, Louis Gossett Jr. Melody
Anderson, Will Sampson, Sonny Landham, John
Rhys-Davies e Ian Abercrombie.