WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador Bo Svenson. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bo Svenson. Mostrar todas as postagens

sábado, 26 de fevereiro de 2011

DELTA FORCE COMMANDO 1 e 2 (1987/1990)


Para compensar os dias que fiquei sem atualizar o FILMES PARA DOIDOS por causa da minha dissertação de mestrado, eis uma Sessão Dupla em que, numa tacada só, serão resenhados (e devidamente ridicularizados) os dois filmes da série italiana DELTA FORCE COMMANDO, ambos dirigidos por Pierluigi Ciriaci (aka Frank Valenti) em 1987 e 1990. É bom avisar que ambos são MUITO RUINS (com menção honrosa para o segundo).

E a pobreza destas duas produções só se equipara à picaretagem dos produtores. Afinal, é bastante óbvio que eles citam, nos títulos, dois sucessos do gênero dos anos 80, "Delta Force" (no Brasil, "Comando Delta", aquele com o Chuck Norris) e "Commando" (o famoso "Comando para Matar", com Schwarzenegger).

Não satisfeitos com a citação nos títulos, os produtores também chuparam algumas cenas dos dois filmes, mas tudo com aquele "padrão italiano de qualidade" que é uma garantia de diversão trash de grosso calibre. Aos filmes:


DELTA FORCE COMMANDO (1987)


"O Soldado da Força Delta" poderia ser uma boa tradução para o filme de Ciriaci/Valenti, mas a distribuidora que lançou-o no Brasil (a Sagres) preferiu nem quebrar a cabeça e deixou DELTA FORCE COMMANDO mesmo, talvez imaginando que as fotos de caças na capinha da fita já valeriam a locação.

Ciriaci não esconde sua inspiração naquela febre de filmes sobre caças e jatos que havia na época (que gerou obras como "Ases Indomáveis" e "Águia de Aço", ambos de 1986). Assim, tome cenas de caças zanzando para lá e para cá, muitas delas provavelmente tiradas de documentários ou filmagens do Exército.

A história começa com um militar levando uma prostituta para dentro de uma base norte-americana "de segurança máxima" (pffff!) em Porto Rico. E é só a vagabunda passar pelo portão para revelar-se uma espiã terrorista, que abre a entrada para seus amigos revolucionários terceiro-mundistas.


O grupo é liderado por um bandidão anônimo de expressões exageradas, que sempre usa camisetas rasgadas mostrando o peitoral, e tem cicatrizes nas laterais da boca que vive lambendo - 21 anos antes do Coringa de Heath Ledger.

E, vejam só, o sujeito é interpretado por MARK GREGORY, o Trash de "1990 - Os Guerreiros do Bronx" e o índio Thunder da trilogia homônima!!!

Os revolucionários estão em busca de uma poderosa arma nuclear (evidentemente), que, apesar do alto risco, é guardada numa sala em que simples portas de madeira (!!!) trazem o aviso: "Danger" e o símbolo de energia nuclear. Não bastasse isso, a tal arma convenientemente está acondicionada dentro de uma caixa portátil que os vilões podem levar nas costas. Isso é que é facilitar a ação dos terroristas, hein?


Na tal base, também vive um super-herói da Delta Force, o tenente Tony Turner (interpretado pelo "Robert DeNiro da péssima interpretação" Brett Clark, imortalizado no cinema no papel do stripper Nick The Dick em "A Última Festa de Solteiro").

Embora seja o melhor soldado do grupo de operações especiais, Turner aposentou-se para prestar serviços burocráticos na base e acompanhar os últimos dias da gravidez da esposa (Emy Valentino, de "A Face").

O problema é que os vilões em fuga dão o azar de passar bem na frente do apartamento do casal, e o bandidão interpretado por Gregory acaba atirando na esposa de Turner, matando instantaneamente mulher e filho do herói.


Cego de vingança, Turner resolve contrariar seus superiores e partir numa missão de vendetta rumo à Nicarágua, onde os revolucionários estão escondidos, chantageando as grandes lideranças mundiais. Para chegar lá, Turner "sequestra" o caça pilotado pelo capitão Samuel Beck (ninguém menos que FRED WILLIAMSON!), obrigando o famoso herói negro do cinema B a levá-lo até a Nicarágua.

Chegando lá, não pense que haverá investigação, bate-papo ou desenvolvimento de personagens: tudo o que Turner e Beck fazem é mandar chumbo no exército nicaraguense (!!!) e nos terroristas, enquanto dirigem (e eventualmente explodem) jipes, ônibus (!!!) e helicópteros.


Depois de incontáveis tiros, explosões e mortes, os heróis descobrem que a tal bomba atômica roubada pelos vilões, e que irá explodir em alguns segundos, é apenas uma bomba falsa usada em treinamentos. Bela forma de encerrar um filme, hein? Ainda mais considerando a quantidade de pessoas que foram mortas por causa da tal bomba de brincadeira!

DELTA FORCE COMMANDO é ruim de doer, e editado de forma catastrófica por Fiorenza Muller - o que proporciona saltos na narrativa, repetição de cenas e até erros grotescos, como Turner e Beck decolarem em um caça e se ejetarem de um outro completamente diferente!!!

A direção de Ciriaci é inexistente, e as cenas de ação se resumem a Brett Clark e Fred Williamson correndo enquanto disparam 50 tiros de metralhadora para matar cada vilão (mira não é o forte dos heróis; sorte que eles usam aquelas armas cinematográficas que nunca ficam sem munição!).


O que torna o filme divertido para uma sessão trash de bebedeira é justamente a quantidade de estupidez por segundo. Bo Svenson ("Assalto ao Trem Blindado"), que devia estar precisando muito de dinheiro, aparece em meia dúzia de cenas como o comandante da Delta Force, mas nunca interage nas cenas de ação com os demais atores, porque o cachê que recebeu deve ter pagado apenas umas quatro horas de filmagem, todas elas em internas.

Mesmo assim, Svenson é a melhor coisa do filme, ao disparar frases do tipo "Você já estaria morto se eu não fosse me aposentar daqui a três semanas".


Quase não acreditei ao ver que o roteiro é de Dardano Sacchetti (com o pseudônimo David Parker Jr.), um cara que normalmente sabe o que faz. Não é o caso aqui: existe um fiapo de roteiro que justifica as ações do herói (a morte da sua esposa), e logo qualquer tentativa de criar uma trama é substituída por tiros e explosões.

Mesmo o fato de os terroristas terem roubado uma arma nuclear acaba sendo secundário ou até terciário, já que o protagonista quer matá-los por vingança, e não para salvar o mundo. Nesse contexto, a pretensiosa "subtrama política" chega a ser ridícula.

Mas é sempre um prazer ver Williamson quebrando tudo, com aquele seu jeitão de quem não está nem aí para a pobreza do filme que estrela (aqui ele chega a ser torturado, tomando choques elétricos no saco!).


Aliás, é um verdadeiro alívio ter Williamson ao lado de Brett Clark, um "ator" horrível que não muda de expressão uma única vez (nem quando tem a esposa grávida morta em seus braços). Pior que Brett Clark, só mesmo Mark Gregory, um ator já limitado no papel de herói, aqui "interpretando" um vilão sem nome que faz caretas constrangedoras, arregalando os olhos até que eles saiam das órbitas.

Entre as muitas cenas antológicas que são um convite às risadas, vale destacar aquela em que Turner, de dentro de um ônibus, dispara uma flecha na perna de um piloto de helicóptero, e usa uma corda amarrada na ponta da flecha para subir até a aeronave - sem que o piloto ferido ou seu parceiro ofereçam qualquer reação, do tipo cortar a corda ou tentar fazer o herói despencar a chutes.


Ao estilo "Comando para Matar", Turner passa o filme desfilando com uma sacola repleta de armas roubadas da sua base.

Ah, também parece haver uma ordem expressa do diretor Ciriaci para que todo e qualquer veículo mostrado em cena seja obrigatoriamente explodido ao final da mesma cena. Inclusive um caça que está sem combustível, mas simplesmente explode no ar segundos depois que seus pilotos se ejetam. Afinal, todos sabemos que caças explodem quando o combustível acaba, eliminando a trabalheira de ficar reabastecendo as aeronaves...

Como curiosidade, não dá para deixar de citar a cena em que um dos terroristas faz um telefonema de um orelhão... bem na frente do Cristo Redentor! E ele fala com um repórter do Jornal do Brasil em bom português!!! Pode isso? Tem dedo brasileiro na produção, mas ela é tão obscura que não consegui apurar detalhes.


Entretanto, é fato que há uma atriz tupiniquim entre os figurantes (Divana Maria Brandão), e um agradecimento especial à Marinha Brasileira nos créditos finais. Se alguém souber mais sobre o caso, por favor escreva nos comentários!

Curto e grosso, DELTA FORCE COMMANDO é ruim de doer, mas há quem, como eu, ache divertido o festival de absurdos e imbecilidades desses filmes baratos tipo "exército de um homem só". Por isso, se você gostou de tralhas como "Deadly Prey", do David A. Prior, e "Strike Commando", do Bruno Mattei, provavelmente vai curtir mais esta comédia involuntária oitentista.

E é uma pena que a seqüência seja mais elaborada e proporcionamente menos divertida...

******


DELTA FORCE COMMANDO 2 - PRIORITY RED ONE (1990)


O pomposo título em inglês pode fazer com que alguém espere mais desse filme do que a tralha baratíssima que ele é. Por isso, quando a Vic Vídeo lançou a obra no Brasil, optou por um título mais genérico, "Operação Delta", até para enganar aqueles que odiaram DELTA FORCE COMMANDO 1 e jamais locariam a fita se soubessem que era uma seqüência daquela bomba.

O mais engraçado é que, embora a produção seja bem melhorzinha (com mais dinheiro, provavelmente), esta continuação é muito pior do que o filme original.


Primeiro, DELTA FORCE COMMANDO 2 não tem absolutamente nada a ver com o primeiro, além de uma pequena (e burocrática) participação de Fred Williamson, reprisando seu papel de capitão Beck (seu nome é erroneamente grafado como "Back" durante o filme todo!).

Desta vez, ao contrário do anterior, Williamson mal participa da trama, aparecendo em algumas poucas cenas aleatórias apenas para justificar o número dois no título do filme - vai ver ele ficou com medo de tomar choques no saco novamente.

O grande herói agora é o ator norte-americano Richard Hatch, que nos bons tempos fez o capitão Apollo do seriado "Battlestar Galactica" (nos anos 70), e depois viu-se obrigado a tomar parte nesse tipo de mico para pagar o aluguel.


Outro que também está no filme só para faturar uma graninha em tempos difíceis é o veterano Van Johnson, que "interpreta" o malvado general McCailland. Johnson foi um grande astro de Hollywood nos anos 40-50; mas, velho e decadente, acabou mergulhando de cabeça nas produções trash italianas, incluindo "Killer Crocodile" (1989).

Se na resenha do primeiro filme eu reclamei que o roteiro era mais raso que sinopse de filme pornô, o grande problema de DELTA FORCE COMMANDO 2 é que o diretor Ciriaci (sim, ele voltou!) agora assumiu o papel de roteirista, junto com o nova-iorquino Lewis Cole. O resultado é um autêntico samba do crioulo doido, onde parece impossível entender o que acontece ou as motivações dos personagens.


Parece (ênfase no "parece") que um grupo de terroristas rouba mísseis soviéticos para chantagear as grandes potências (enfim, o roteiro do primeiro filme, só que geograficamente reciclado), mas a trama se complica desnecessariamente a cada minuto, somando reviravoltas e personagens que nunca dizem a que vieram.

O próprio herói, que é o agente Brett Haskell (Hatch), parece mais perdido do que bolacha em boca de velha desdentada. Ele cambaleia pelo filme encontrando e desencontrando uma ex-namorada que também é assassina de aluguel, Juno (Giannina Facio), que, não contente em assassinar várias pessoas ao longo da trama, tenta assassinar também nosso tímpanos ao cantar de maneira esganiçada a música dos créditos finais!


Haskell e Juno enfrentam um vilão apagado no Oriente Médio, numa trama de espionagem que não faz sentido, enquanto nos EUA nosso velho amigo Beck fica em seu gabinete comentando as ações de que nunca participa.

Na cena final, para tentar criar um elo entre os personagens Haskell e Beck (já que eles NUNCA se encontram), surge um comandante interpretado por Bobby "Demons" Rhodes para explicar ao herói que quem mandou os reforços que salvaram a pele dele foi "o seu velho amigo, o capitão Samuel Beck". Ah tá...


Quando eu digo que DELTA FORCE COMMANDO 2 não tem pé nem cabeça, não estou sendo exagerado. Para exemplificar, há uma cena que começa com um sujeito (terrorista?) colocando uma bomba num avião, somente para depois ser morto por Juno. Dois segundos depois, não é feita mais qualquer menção ao fato: nunca sabemos o que foi feito da bomba no avião e nem qual era a relação da assassina com o homem que matou. Legal, não?

O diretor Ciarici parece bem mais seguro no comando das cenas de ação desta vez, e inclusive adiciona uma grande dose de violência explícita que não havia no original. Quando os mísseis são roubados pelos terroristas, por exemplo, tiros explodem cabeças e dedos como se fossem de manteiga; antes disso, um diplomata é assassinado com um sangrento tiro no rosto (!!!) enquanto faz a barba.


É uma pena que Ciarici tenha separado esses momentos mais interessante com intermináveis diálogos de espionagem e teorias conspiratórias que não levam a lugar nenhum. Quase dá saudade do DELTA FORCE COMMANDO 1, que era pauleira da grossa, com tiros e explosões do início ao fim.

Aqui, os realizadores tentaram evidentemente fazer uma coisa mais sofisticada, com mais diálogos expositivos e reviravoltas, mas nada pode ser pior do que um filme de ação que dá sono. De tanta enrolação e lenga-lenga, acabei cochilando umas cinco vezes, e depois tive que voltar e ver uma boa parte do filme novamente, como se a trama já não fosse complicada o suficiente. Conselho de amigo: esqueça a história e concentre-se no fator trash da coisa.


Felizmente, como acontecia também no primeiro filme, há alguns momentos divertidos de tão toscos e sem noção, como Beck levando o vilão McCailland para uma voltinha de caça em território inimigo, apenas para ejetar-se quando aeronaves rivais surgem no horizonte, deixando o pobre general para explodir (não seria mais fácil e mais simples dar um tiro na cabeça do sujeito em terra mesmo?).

O resultado final é bem menos engraçado que o original, mas ainda assim válido para uma sessão dupla alcoólica com os amigos cinéfilos.

Gostaria inclusive de propor um "drinking game" para acompanhar a dobradinha DELTA FORCE COMMANDO: os participantes devem mandar goela abaixo um copo de cerveja ou de cachaça toda vez que os figurantes dispararem suas armas sem que saia fogo ou fumaça pelo cano (só o barulho do tiro), ou então toda vez que Fred Williamson aparecer com um charuto na boca. Bom divertimento, e prepare-se para cair de bêbado!

(A propósito, aceito sugestões para outras futuras sessões duplas...)

Trailer de DELTA FORCE COMMANDO



*******************************************************
Delta Force Commando (1987, Itália)
Direção: Frank Valenti (aka Pierluigi Ciriaci)
Elenco: Brett Clark, Fred Williamson,
Mark Gregory, Bo Svenson, Divana
Maria Brandão e Emy Valentino.

Delta Force Commando 2 -
Red Priority One (1990, Itália)

Direção: Frank Valenti (aka Pierluigi Ciriaci)
Elenco: Richard Hatch, Fred Williamson,
Giannina Facio, Van Johnson e
Bobby Rhodes.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

ASSALTO AO TREM BLINDADO (1978)


Foram os "bastardos sem glória" de um dos títulos alternativos ("The Inglorious Bastards") deste filme italiano que inspiraram o cineasta Quentin Tarantino a escrever seu fantástico épico de guerra "Bastardos Inglórios" (2009) - usando apenas o título, mas pouco ou nada da trama desta pequena gema dirigida pelo mestre Enzo G. Castellari em 1978. Enquanto Tarantino usou a Segunda Guerra como pano de fundo para uma história rocambolesca de traições, vinganças e conspirações, aqui temos um roteiro episódico escrito a 10 mãos (!!!), em que os personagens pulam de uma "missão" a outra como se estivessem num jogo de videogame.

Tanto no argumento quanto no título em inglês e na frase do cartaz norte-americano ("Whatever the Dirty Dozen did they do it dirtier!"), ASSALTO AO TREM BLINDADO faz referência ao clássico de guerra "Os Doze Condenados" ("The Dirty Dozen"), dirigido por Robert Aldrich em 1967. Naquele filme, um grupo de prisioneiros de guerra era escalado para uma perigosa missão durante a Segunda Guerra. Aqui, a idéia é semelhante: os "bastardos sem glória" são soldados e um oficial norte-americano condenados pelos mais diversos crimes (assassinato, roubo...).


Se os "Doze Condenados" eram gente do naipe de Lee Marvin, Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, John Cassavetes, George Kennedy, Telly Savalas e Donald Sutherland, para Castellari e seu orçamento muitas vezes reduzido só restou escalar um elenco de caras conhecidas do cinema classe B da época, liderado pelos norte-americanos Bo Svenson e Fred Williamson. O único "grande astro" do elenco é o falecido escocês Ian Bannen, que em 1965 ganhou o Oscar de Ator Coadjuvante por "O Vôo da Fênix", e que em 1978 já andava meio mal das pernas e estrelava estas produções baratas rodadas na Itália.

Das vinhetas animadas nos créditos de abertura à música épica de Francesco De Masi, passando ainda pela estrutura "man on a mission" do roteiro, ASSALTO A TREM BLINDADO é um perfeito retrato de uma época áurea do cinema italiano que infelizmente morreu na década de 90: a época dos exagerados e barulhentos filmes de ação feitos na esteira de sucessos norte-americanos, onde o orçamento reduzido era contornado com malandragem e soluções muitas vezes toscas, mas nem por isso o resultado era menos divertido.


A história se passa em 1944, último ano da Segunda Guerra Mundial, na França, onde um grupo de prisioneiros é escoltado por um comboio para uma outra base, onde serão julgados pela Corte Marcial pelos seus respectivos crimes. Entre eles estão os soldados norte-americanos Tony (Peter Hooten), que é viciado em apostas; Fred Canfield (Williamson), acusado do assassinato de um racista; Berle (Jackie Basehart), que tem ataques de pânico e ansiedade diante de tiroteios e explosões, e o italiano Nick (Michael Pergolani), que vive de roubar e vender posses dos soldados mortos no conflito. De última hora, chega o preso mais ilustre do comboio: o tenente Robert Yeager (Svenson), acusado de deserção (para visitar a namorada nos Estados Unidos!).

No caminho para o julgamento, o comboio militar é atacado por um avião nazista, que enche os veículos de chumbo. Quase todos os prisioneiros são mortos no interior do caminhão em que eram transportados, e os que tentam fugir são fuzilados pelos guardas de escolta. No fim do confronto, sobrevivem apenas o tenente Yeager e os quatro soldados anteriormente citados, que resolvem se unir para chegar à fronteira da Suíça – que, na época, era território neutro, e onde eles poderiam escapar da guerra.


Este é o toque mais genial do roteiro escrito por Sandro Continenza, Sergio Grieco, Franco Marotta, Romano Migliorini e Laura Toscano: os "bastardos sem glória" não recebem arrego de nenhum dos lados do conflito, sendo caçados pelos nazistas (afinal, ainda são inimigos) e também pelos seus próprios companheiros aliados (por serem prisioneiros de guerra fugitivos).

A única esperança de salvação é chegar à fronteira, mas, no processo, o grupo se envolve em uma série de batalhas sem relação com a trama principal, encarando de pequenos destacamentos alemães até um insólito encontro com mulheres nuas tomando banho de rio - e que logo pegam metralhadoras para expulsar os tarados dali!


O "maledetto treno blindato" do título original italiano e do título nacional só entra na trama depois de uma hora de filme, quando os fugitivos exterminam, acidentalmente, um grupo de soldados norte-americanos que estava vestido com fardas alemãs. Eles eram especialistas treinados para uma missão secreta e suicida: interceptar um trem blindado nazista para roubar o giroscópio de um novíssimo míssil V-2 para a Resistência Francesa.

Tendo matado a tropa acidentalmente, Yeager e seus homens resolvem tomar o lugar dos falecidos, combinando com o responsável pela missão, o coronel Charles Thomas Buckner (Bannen), o perdão pelos seus crimes caso consigam cumprir o objetivo.


ASSALTO AO TREM BLINDADO não tem um roteiro coeso que possa ser resumido em meia dúzia de linhas. Se você lê, por exemplo, o resumo do velho Guia de Filmes da Nova Cultural, que só fala da missão do trem blindado, fica sem ter uma idéia abrangente do que na verdade é o filme.

Como o tal trem só aparece no final, os dois primeiros atos são preenchidos com seqüências de ação cada vez mais exageradas, onde os fugitivos se metem em encrenca com os dois lados do confronto, e sempre se saem bem, claro, mas isso envolve matar dezenas, às vezes centenas de inimigos. Os perigos vão ficando cada vez mais complicados, na medida que os próprios "heróis" se colocam em risco quando se disfarçam de nazistas, por exemplo.


Castellari é um brilhante diretor de ação, e isso pode ser visto nas cenas de guerra, recheadas de tiroteios e explosões. Mas o estilo habitual do diretor (com a câmera lenta ao estilo do que o norte-americano Sam Peckinpah fazia na época) demora a aparecer, surgindo somente na conclusão, já na missão do trem blindado. Mas vale a pena esperar, pois as cenas estão entre as melhores que o velho Enzo já filmou, incluindo sangrentos tiros que explodem o peito das vítimas e fazem voar pedaços de "carne" e roupa contra a câmera.

O interessante é que o diretor não levou a coisa muito a sério, e, na maior parte do tempo, entrega apenas um divertido filme de ação e guerra, com tiroteios e explosões a rodo, sem aquela pretensa "seriedade" que as produções sobre a Segunda Guerra Mundial tinham na mesma época.


O único momento mais sério e dramático, em que Castellari parece tentar mostrar ao espectador a imbecilidade da guerra, é brilhante: durante uma violenta batalha, o volume da trilha sonora sobe e abafa o som de gritos, tiros e explosões da carnificina filmada em câmera lenta, com direito a soldados de ambos os lados do conflito lançados pelos ares por explosões ou se contorcendo com os tiros disparados pelas metralhadoras inimigas! Um momento que parece ter saído de "A Cruz de Ferro", de Peckinpah, que por sinal é do ano anterior (1977).

O filme também ganha pontos pelos toques de humor (especialmente de Williamson, interpretando um canalha que vive com um charuto no canto da boca, e de Pergolani, como o soldado malandro que tem todas as traquitanas necessárias "escondidas" no seu uniforme), pelo uso criativo de miniaturas para baratear custos (nas cenas mais complicadas de explosões de casas e de veículos), pelo fato de os próprios atores principais encararem algumas das cenas perigosas (Williamson aparece pulando de uma ponte sobre o trem em movimento, por exemplo) e pela conclusão completamente fora do convencional, especialmente no inesperado destino de alguns dos personagens.


Recentemente, aproveitando o "Inglorious Bastards" do Tarantino, foi lançada uma edição superespecial de ASSALTO AO TREM BLINDADO nos States, com três discos (!!!) repletos de extras (um deles é a trilha sonora composta por De Masi). O tipo de coisa que nunca vai chegar por aqui, e que traz também uma longa conversa entre o próprio Tarantino e Castellari.

Num momento do bate-papo, Castellari elogia Tarantino, chamando-o de gênio, e este responde de maneira humilde, dizendo que é Castellari o "maestro" ("mestre", em italiano). E, durante a conversa, percebe-se que Tarantino realmente respeita o trabalho de Castellari, um ótimo diretor que infelizmente não filma há anos.

Para finalizar: falam tanto de "Comando para Matar", "Rambo 4" e outros filmes com altos números de morte, mas ASSALTO AO TREM BLINDADO com certeza é um recordista neste quesito. Precisa, claro, ter paciência para contar os cadáveres, e segurar o riso quando os mesmos figurantes aparecem morrendo múltiplas mortes diferentes...

Trailer de ASSALTO AO TREM BLINDADO



***********************************************************************
Quel Maledetto Treno Blindato/The Inglorious
Bastards (1978, Itália)

Direção: Enzo G. Castellari
Elenco: Bo Svenson, Peter Hooten, Fred Williamson,
Michael Pergolani, Jackie Basehart, Michel Constantin,
Debra Berger, Raimund Harmstorf e Ian Bannen.