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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

JUSTIÇA URBANA (2007)


Há um bom motivo para ir atrás de JUSTIÇA URBANA, um dos filmes mais passáveis da filmografia recente de Steven Seagal: com algumas pequenas mudanças aqui e ali, esta produção é uma refilmagem disfarçada - e bem mais comedida, claro - de "Desejo de Matar 3", apenas trocando um velho e acabado Charles Bronson por um gordo e acabado Steven Seagal. O resto é tudo igual. Irresistível, não?

Só para constar nos autos, essa é a terceira e última resenha resgatada do meu aposentado Multiply, e publicada originalmente em outubro de 2008. Outra vez, mudei e adaptei quase tudo aqui para a nossa MARATONA STEVEN SEAGAL.


Bom, quem está acompanhando a Maratona deve ter percebido que já virou clichê dizer que o ex-astro Seagal afundou sua carreira, que está gordo que nem um porco, que interpreta sempre o mesmo personagem, bla bla bla. Portanto, vou poupá-los desta lenga-lenga - até porque acho que já usei todas as piadinhas sobre a gordura do Seagal.

Vamos direto ao assunto, que é o que vale: o Steven Seagal de JUSTIÇA URBANA é o mesmo Steven Seagal filha-da-puta e furioso de clássicos dos anos 80-90, como "Fúria Mortal" e "Marcado para a Morte".

Aquele Seagal desgraçado que dá porrada em quem vem pela frente ao invés de fazer discursos medíocres sobre ecologia e paz mundial; aquele Seagal que quebra braços e narizes como se esta fosse a sua forma normal de dialogar; aquele Seagal que não precisa de dublês nas lutas e nem de cenas retiradas de outros filmes e encaixadas na edição; enfim, aquele Seagal que mata a sangue-frio e acha que "bandido bom é bandido morto".


Talvez o ex-astro estivesse se recuperando da sua traumática colaboração com a Millenium Films, que rendeu-lhe alguns dos piores filmes de sua carreira ("Determinado a Matar", "Hoje Você Morre" e "Mercenário").

Após o fim do contrato com aquela produtora (em "Mercenário"), ele pulou de cabeça em três produções baratíssimas rodadas em Bucareste, na Romênia (!!!): respectivamente "O Homem Sombra", "Força de Ataque" e "O Vôo da Fúria" (todas filmadas em 2006).

Voltando para os Estados Unidos, reencontrou-se com o diretor Don E. FauntLeRoy, responsável por alguns de seus piores filmes ("Hoje Você Morre" e "Mercenário"), e aparentemente lhe deu outra chance ao invés de quebrar seu braço em "agradecimento". A surpresa é que dessa vez o trabalho dos dois funciona, talvez por estarem longe do pessoal da Millenium Films!


JUSTIÇA URBANA é uma produção barata e nada hollywoodiana; logo, passa longe daqueles roteiros "socialmente engajados". E ao contrário de outros filmes que Seagal fez no período, este não é repleto de escaramuças, traições e reviravoltas, como se o roteiro tivesse sido escrito por John LeCarré.

Trata-se, isso sim, da simples e boa trama de vingança, e amém. Ainda quer continuar? Então vamos adiante.

Nossa história começa com um daqueles policiais honestos e incorruptíveis típicos do cinema de ação norte-americano. Ele se chama Max Ballister (Cory Hart), e acaba futricando onde não deve quando, num dia de tocaia, flagra colegas corruptos negociando com traficantes de drogas.


Sem pensar duas vezes, Max fotografa os policiais sujos, mas, antes que possa entregar as fotos à corregedoria, é convocado para uma missão noturna num bairro barra-pesada e baleado à traição, morrendo bem no meio da rua. Queima de arquivo, lógico.

Ficaria por isso mesmo, se fosse no Brasil (como vimos em "Tropa de Elite 2"). Mas, para o azar dos tiras corruptos, o finado Max era filho de um ex-soldado das forças especiais, Simon Ballister (Seagal, obviamente). No funeral do filho, Simon promete à sua ex-esposa que vai encontrar o assassino de Max e dar um jeitinho nele. Olho por olho, dente por dente.


A primeira parada de Simon é a delegacia onde o finado trabalhava. Ali, nosso herói encontra o responsável pela investigação, o detetive Frank Shaw (Kirk B.R. Woller, que trabalhou com Spielberg em "A.I" e "Minority Report"). Para Shaw, Max foi morto por uma bala perdida numa guerra de gangues, já que o bairro onde aconteceu a tragédia é dominado por duas violentas quadrilhas de traficantes de drogas.

Ainda sem suspeitar que há sujeira na jogada, Simon decide que a única forma de encontrar o culpado é fazer como Charles Bronson em "Desejo de Matar 3": mudar-se para o bairro violento onde o filho morreu, ficar morando lá por uns dias e enfrentar a bandidagem na cara-dura até encontrar os responsáveis.

Das duas quadrilhas que lutam pelo domínio do bairro, uma é formada por latinos e chefiada por El Chivo (Danny Trejo!!!); a outra é formada por negros e liderada por Armand Tucker (o comediante Eddie Griffin), que é apaixonado por "Scarface" e passa o tempo todo citando frases e cenas do filme de Brian DePalma, numa piada já fraquinha que logo perde a graça.


Simon muda-se para um pulgueiro administrado pela bonitinha Alice Park (Carmen Serano; e como são bonitas as mulheres latinas!). Logo na chegada, é obrigado a quebrar os ossos do "comitê de boas-vindas" enviado por uma das gangues.

Aos poucos, ele vai comprando briga com os dois grupos, surrando seus integrantes até começar uma guerra particular. Quando o próprio El Chivo garante não ter nada a ver com a bronca, Simon intensifica a pressão sobre a quadrilha de Tucker, e descobre que os negros estão associados ao tal grupo de policiais corruptos, chefiado por ninguém menos que o detetive Shaw!


Escrito por Gilmar Fortis II e Gil Fuentes (nunca vou entender porque roteiros rasos como este precisam de dois autores...), JUSTIÇA URBANA não faz feio no quesito ação. A não ser, lógico, que você procure algo diferente de um filme direto para locadora.

Com uma trama descomplicada, muita pancadaria e sangrentos tiroteios (cada tiro resulta num exagerado esguicho de litros de sangue do corpo da vítima), o filme na verdade é surpreendentemente divertido, ainda mais para quem não esperava coisa alguma depois dos péssimos "Hoje Você Morre" e "Mercenário".


O próprio Seagal parece estar se divertindo muito no papel. Destaque para a cena em que Tucker aponta uma pistola para o desarmado Simon e diz: "Então você é o filho da puta que vem dando socos numa briga de armas?". Após arrancar o revólver das mãos do bandido, com um golpe rápido como um raio, o herói aponta a arma para seu antagonista e responde: "Sim, sou eu".

Claro, falta muito para chegar no mesmo nível "cult" do hoje clássico "Desejo de Matar 3", mesmo que as histórias dos dois filmes sejam bem semelhantes. A maior falha do filme de FauntLeRoy é levar tudo a sério demais, coisa que Winner não fazia naquela aventura maluca estrelada por Bronson.


Seria melhor ter partido logo para o exagero e colocar Seagal metralhando os delinqüentes sem dó nem piedade. Mas, pelo contrário, o roteiro aqui gasta um tempão mostrando a investigação de Simon pelos verdadeiros culpados do assassinato do filho, ao invés de simplesmente botar o herói para pipocar todos os marginais que lhe cruzam o caminho.

Uma diferença bem politicamente incorreta: ao contrário do velho Paul Kersey naquele clássico dos anos 80, o personagem de Seagal tem um rígido código de conduta em relação aos bandidos. Uma das diretrizes é não matá-los sem um bom motivo e nem estragar seu "negócio"; tudo que ele quer é chegar ao assassino do filho.


Ou seja, desde que os caras não tenham matado o rapaz, eles estão livres para continuar ameaçando inocentes e vendendo drogas para crianças! Porque em JUSTIÇA URBANA Seagal não é um homem da lei e nem o amigão da vizinhança, apenas um pai louco por justiça.

Quando descobre que o verdadeiro culpado é Shaw e seus policiais corruptos, por exemplo, o "herói" libera tanto El Chivo quanto Tucker de receberem o merecido castigo por serem maus meninos!

É claro que eu preferia ver o herói dizimando os dois lados do confronto, à la Justiceiro (o bairro, pelo menos, ficaria mais seguro). Mas confesso que achei bastante divertida (e corajosa) essa ideia de não se meter com a bandidagem a não ser quando provocado.


E se "Desejo de Matar 3" tinha cenas de ação que não convenciam, devido à idade avançada de Bronson, JUSTIÇA URBANA surpreende ao mostrar um Seagal gordo, mas ao mesmo tempo ainda rápido e mortal.

Acredite se quiser: o homem convence nas cenas de luta, distribuindo chutes altos (algo que não fazia há séculos) e socos a granel. E aqui é ele mesmo, e não um dublê lutando, como você pode ver na foto abaixo. Sobra até para quem não tem nada a ver com a história, tipo o grupo de skinheads que cai de pára-quedas no filme apenas para render mais uma cena de quebra-pau.


Às vezes o filme nega fogo, como numa longa e nada interessante perseguição automobilística pessimamente filmada e editada. E Seagal e Danny Trejo não lutam, apenas conversam, algo meio estranho depois que se assiste "Machete".

Mas estes probleminhas são compensados no tiroteio final, em que Ballister mata mais da metade do elenco, e até demonstra sua fúria descarregando o pente inteiro do revólver em alguns deles (lembrando os velhos filmes de John Woo, que devem ter sido a inspiração do diretor FauntLeRoy)!


Portanto, sem pensar duas vezes, eu diria que JUSTIÇA URBANA é o mais perto de um bom filme de Steven Seagal que vi da safra recente do Free Willy com rabinho-de-cavalo. Tanto que foi cogitado o seu lançamento nos cinemas, o que só não se concretizou pela falta de verba da produtora (o último filme estrelado pelo ex-astro exibido na tela grande foi "No Corredor da Morte", em 2002).

Mas talvez seja melhor assim, porque JUSTIÇA URBANA é aquele típico filme de locadora ou de Domingo Maior, para ver sem grandes pretensões e esquecer tudo horas depois. Aliás, sobre que filme eu estava escrevendo mesmo???

Trailer de JUSTIÇA URBANA



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Justiça Urbana (Urban Justice, 2007, EUA)
Direção: Don E. FauntLeRoy
Elenco: Steven Seagal, Eddie Griffin, Carmen
Serano, Cory Hart, Liezl Carstens, Kirk B.R.
Woller e Danny Trejo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

MERCENÁRIO (2006)


MERCENÁRIO marca o fim de um contrato que Steven Seagal tinha com a Millenium Films para estrelar três produções baratas "direct-to-video". Já virou lenda o quebra-pau que o ex-astro teve com Avi Lerner, um dos cabeças da Millenium, que o deixou emputecido a tal ponto de simplesmente não aparecer em alguns dias de filmagem.

Sendo assim, depois dos horríveis "Determinado a Matar" e "Hoje Você Morre" (as outras duas obras do contrato com a produtora), MERCENÁRIO fecha com chave de ouro - ou, nesse caso, chave de merda - a parceria entre Seagal e a Millenium.


E o filme é ruim?

Não.

É péssimo!

Mas sejamos justos: é bem melhor que os dois anteriores, especialmente o péssimo "Hoje Você Morre", e um pouco melhor filmado também, embora tenha o mesmo diretor no comando (Don E. FauntLeRoy). Pelo menos dessa vez não usaram a picaretagem das cenas chupadas de outros filmes incluídas na edição.


Originalmente, o título em inglês seria apenas "Mercenary", tal e qual a tradução nacional. Parece que também nesse caso Seagal bateu o pé e exigiu a troca para "Mercenary for Justice", ou "Mercenário pela Justiça", porque não queria interpretar um personagem anti-heróico. Aham...

Antes de ver o filme, eu tinha lido tantas críticas negativas que já fui preparado para o pior. Mas confesso que fiquei realmente boquiaberto com os primeiros 20 minutos, que trazem Steven "Balofo" Seagal liderando um batalhão de mercenários numa ação suicida durante uma violenta guerra civil na África.

A bem da verdade, o ex-astro só aparece em cena depois de uns 13 minutos. Antes, parte do seu pelotão de mercenários participa de uma ousada ação numa embaixada na África, de onde sequestram o embaixador e sua família. Tem até uma loira gostosa tocando o terror, aniquilando uns soldados como se fossem escoteiros!


Aí Seagal, "interpretando" o mercenário John Seeger (Seeger - Seagal... captou?), aparece bem no meio de um violentíssimo fogo cruzado, numa cena de batalha bem filmada e bem editada, repleta de tiros, explosões, pessoas voando, outras rodopiando crivadas de balas, e por aí vai. Em suma, um momento belíssimo!

Assim, por alguns instantes (mais especificamente uns 20 minutos), pensei que estava diante da volta por cima de Steven Seagal depois das duas bombas que fez com a Millenium - uma espécie de "Rambo 4" do quebrador de braços.


Mas aí o conflito termina e o filme realmente "começa", com história e clima totalmente diferentes. E é aí, meu amigo, que MERCENÁRIO afunda, fazendo jus a todas aquelas críticas negativas. É como se você tivesse trocado de canal e colocado num telefilme bagaceiro do Supercine. A ação frenética e violenta ficou só naqueles 20 minutos iniciais mesmo...

(Em tempo: o trailer do filme, daquele tipo totalmente enganador, foi montado APENAS com essas cenas boas do início!)

A real trama, se é que isso importa, mostra Seeger voltando aos Estados Unidos para cuidar da família de um dos seus homens, morto no conflito na África.


Ele tenta honrar a memória do falecido cuidando da sua esposa e filho, mas seus antigos empregadores têm uma nova missão: resgatar o filho de um dos maiores traficantes sul-africanos de um presídio de segurança máxima.

Sabendo que Seeger não vai aceitar o serviço, os caras sequestram a família do amigo morto para forçá-lo a aceitar a missão. Mexeram com o gordinho errado, como sempre acontece nos filmes de Steven Seagal.

Lendo assim, até parece um belo ponto de partida para um festival de tiros e pancadaria, não é mesmo? Com certeza. Funciona em MERCENÁRIO? Não, não funciona.


Depois de ver vários dos novos filmes do "ator" em sequência (você está acompanhando a MARATONA STEVEN SEAGAL, não está?), juro que não entendo o que os caras que fazem essas bagaças têm na cabeça...

Pense comigo: você acabou de contratar um ex-astro decadente, mas que ainda possui um bom número de fãs; ao mesmo tempo, você sabe que existe um grande público ávido por filmes de ação violentos e descerebrados, desse tipo "direct-to-DVD" mesmo.

Ora, mas uma coisa puxa a outra: Seagal sempre foi conhecido como herói violento e impiedoso ("quebra-braço" é um dos seus apelidos populares), e não precisa ser muito inteligente para fazer um filme de ação sem firulas, que seja apenas divertido e descartável, tipo aquelas velhas produções que Chuck Norris, Charles Bronson e Michael Dudikoff faziam para a Cannon Films.


Mas parece que os realizadores desses últimos filmes de Steven Seagal não pensam assim. Para cada obra divertida e descerebrada, como "Resgate Sem Limites" e "Lado a Lado com o Inimigo", temos cinco ou dez baboseiras tipo MERCENÁRIO.

O ponto de partida é bom, o ex-astro nem está tão mal (mais fácil acreditar nele como mercenário do que como o arqueólogo de "Determinado a Matar"), as cenas de ação são razoáveis, o início é ótimo... Tinha tudo para chegar lá, mas em menos de meia hora o filme todo vira uma completa baboseira.


O primeiro problema é que há um excesso de traições e "re-traições" no roteiro que são desnecessárias para o tipo de história que se pretende contar. Dois personagens vilanescos passam a história toda enganando-se mutuamente, e perto do final você nem sabe mais quem é vilão e quem é aliado.

Supostamente tentando criar uma "reviravolta" na trama, o roteirista também inventa um assalto a um banco super-seguro (?!?) que acaba substituindo o ataque à penitenciária prometido pelo roteiro (e também pelo resumo na capinha do DVD).

Não sei se peguei no sono ou se não prestei atenção, mas o motivo para Seagal e sua equipe assaltarem o tal banco até agora foge à minha compreensão...


Finalmente, no terceiro e último ato, o herói parte com o que restou da sua equipe para resgatar a família do falecido amigo das garras dos vilões. Segue-se mais um pequeno massacre de figurantes malvados, mas nada no mesmo nível daquela excelente cena inicial.

Inclusive parece que outros realizadores assumiram a produção DEPOIS daquela cena de guerra no início. Porque os 20 minutos iniciais são bem filmados, bem editados e até empolgantes, tensos.


O resto do filme, em contrapartida, é levado no piloto automático, com alguns poucos bons momentos para manter o espectador acordado - só para constar, tirei duas sonecas a partir da metade, e tive que ficar voltando o filme apenas para constatar que não perdi nada. Parece até que gastaram toda a grana da produção no início e depois tiveram que improvisar.

Talvez a narrativa bagunçada se explique pelo clima de tensão e caos entre Seagal e os produtores. Afinal, o roteiro original de Steve Collins foi alterado até ficar irreconhecível, o que explica a trama picotada que nunca se decide entre o rumo a seguir - segundo o IMDB, Joe Halpin, Danny Lerner, Les Weldon e o próprio Seagal deram "contribuições" não-creditadas ao roteiro.


Talvez a pauleira entre astro e produtores explique, também, o porquê do protagonista do filme aparecer tão pouco no filme que deveria estrelar! Existem tantos personagens e subtramas que, no fim, Seagal aparece no máximo 35 ou 40 minutos em MERCENÁRIO. E raras vezes lutando ou matando alguém. Alguns personagens principais do filme nem contracenam diretamente com o ator!

Uma das poucas qualidades numa produção tão equivocada é a bela morena boa de tiro que atua do lado dos heróis, interpretada por Jacqueline Lord (que tem um ar de Catherine Zeta Jones quando novinha).

No final, fica aquela sensação de tempo perdido e de excesso de pretensão dos realizadores, que podiam fazer um filme muito mais simples e divertido seguindo a cartilha padrão da ação barata.


Fica, também, a certeza de que Steven Seagal precisa, urgentemente, de um roteiro melhorzinho. Ou quem sabe de outro agente, que selecione umas produções mais interessantes para ele estrelar.

O "ator" faria ainda um outro filme com o diretor FauntLeRoy (o gordinho não aprende), "Justiça Urbana", nossa próxima atualização aqui na MARATONA STEVEN SEAGAL.

Mas esse, surpreendentemente, é bom, ainda mais comparado a tralhas como "Hoje Você Morre" e MERCENÁRIO, os outros dois trabalhos anteriores da dupla.

Trailer de MERCENÁRIO



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Mercenário (Mercenary for Justice,
2006, EUA/África do Sul)

Direção: Don E. FauntLeRoy
Elenco: Steven Seagal, Jacqueline Lord, Luke
Goss, Roger Guenveur Smith, Michael K. Williams,
Adrian Galley e Langley Kirkwood.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

HOJE VOCÊ MORRE (2005)


Nos anos 90, a Nu Image era uma das líderes no mercado de aventuras baratas feitas direto para o mercado de vídeo e DVD. Mais precisamente em 1996, seus sócios (Avi e Danny Lerner, Danny Dimbort e Trevor Short) resolveram criar uma ramificação chamada Millenium Films, supostamente para a realização de "filmes de arte" e produções mais caras.

Claro que, quando você está acostumado a produzir filminhos de ação por merreca, algo que custe 15 ou 20 milhões já é uma "produção mais cara". E esse era, basicamente, o padrão financeiro das películas produzidas pela Millenium Films.

Uma das táticas do novo selo foi recrutar astros meio decadentes para seus filmes de ação "mais caros que os da Nu Image, mas ainda assim baratos".


Alguns, como Sylvester Stallone (que fez "Rambo 4" e "Os Mercenários" com a Millenium), se deram bem.

Outros, como Jean-Claude Van Damme, se deram mal: os três filmes que ele fez para a produtora - "Replicante", "Hell" e "Agente Biológico" - estão entre os piores de sua carreira.

E outros, ainda, se deram MUITO MAL. É o caso de Steven Seagal, que deu tchauzinho para o que restava de dignidade na sua filmografia ao assinar um contrato para estrelar três aventuras da Millenium Films nesse esquema barateiro.


Esses três filmes são simplesmente pavorosos.

Começou com "Determinado a Matar" (2003), que abriu nossa MARATONA STEVEN SEAGAL.

Dois anos depois, em 2005, veio HOJE VOCÊ MORRE, o segundo do contrato e o pior de todos.


Se HOJE VOCÊ MORRE estivesse na prateleira de comédias das videolocadoras, eu provavelmente o veria como se fosse uma exagerada sátira aos filmes de ação, na linha daquelas velhas comédias escrachadas do trio Zucker-Abrahams-Zucker,

Mas não, o filme não é uma comédia. É, isso sim, uma produção de quinta categoria que, para comprovar sua falta de qualidade, tenta economizar uns trocados aproveitando na montagem cenas de outros filmes!

Se fosse comédia, seria hilário e muito divertido; como filme de ação, o resultado é apenas ridículo e estúpido. E constrangedor de tão barateiro. Parece até piada de turco.


Acompanhe e tente segurar as gargalhadas: Steven "Ronaldo Fenômeno" Seagal "interpreta" Harlan Banks, personagem absurdo que é uma espécie de Robin Hood misturado com Justiceiro. Como hobby, ele invade mansões de bandidos e traficantes, mata todo mundo e rouba o dinheiro sujo para dar aos pobres - acredite se quiser.

Depois de quase morrer numa dessas ações, Harlan é convencido pela sua esposa - que tem inexplicáveis "sonhos premonitórios" durante o filme inteiro - a largar a vida de justiceiro e mudar-se de cidade.


Vai para Las Vegas (!!!), onde tenta arrumar um trabalho honesto, mas acaba envolvido com um bandidão chamado Max Stevens (o conhecido Kevin Tighe, numa participação de cinco minutinhos).

A princípio, ele acredita que terá um emprego comum como motorista de carro-forte. Já na primeira coleta de dinheiro num cassino, entretanto, o parceiro do herói mata os guardas responsáveis pela entrega da bolada e obriga Harlan a dirigir em alta velocidade para fugir da polícia, roubando os 20 milhões de dólares que deviam apenas transportar.


Depois de uma perseguição motorizada seguida de várias explosões, o herói é preso e condenado a prisão perpétua numa penitenciária casca-grossa no meio do deserto - afinal, ninguém acredita na história de que ele foi forçado a dirigir e explodir viaturas da polícia na tentativa de fuga.

Mas, espertinho, Harlan esconde os 20 milhões antes de ser preso, e a grana é cobiçada tanto pelos bandidos quanto por policiais corruptos.


Na cadeia, ele conhece um bandidão chamado Ice Kool (o rapper Treach), e ambos conseguem escapar. Livre, o herói planeja sua vingança enquanto metade do mundo persegue a grana roubada. Só uma bela agente do FBI (Sarah Buxton) acredita na inocência do herói e tenta ajudá-lo.

Se só com o resumo da trama já é difícil de engolir, espere até ver o argumento filmado. HOJE VOCÊ MORRE é uma sequência de furos e absurdos grotescos, daquele tipo que seria até engraçado se não fosse trágico.

Começando do começo: quem engole o passado de "Robin Hood" do herói? Nunca fica claro se ele era um ex-policial, ex-agente secreto ou ex-matador de elite para ter as habilidades e a tecnologia de ponta necessárias para roubar de traficantes e dar aos pobres, e o roteiro também nem se preocupa em explicar isso - já que esse "hobby" do herói é esquecido em menos de 10 minutos.


Continuando: ninguém acredita na história de Harlan quando ele diz que armaram para cima dele no seu primeiro dia de trabalho como motorista de carro-forte. Mas também a polícia nem se preocupa em investigar a empresa que o contratou, nem o seu suspeitíssimo empregador. Simplesmente mandam o cara para a cadeia, como já havia acontecido antes em "Determinado a Matar" - Seagal definitivamente não tem sorte com o sistema judiciário!

Por falar no empregador, lá pelas tantas revela-se que o tal Max Stevens é um feiticeiro adorador do demônio (!!!), que tem até uma masmorra com piano, ídolos demoníacos, um esqueleto amarrado na parede (!!!) e uma guilhotina (!!!). Mas isso não faz NENHUMA DIFERENÇA na trama - e só o fato de levarem a sério um detalhe tão ridículo e desnecessário já me faz questionar a sanidade dos realizadores.


Além disso, nas cenas da prisão, todos os personagens têm a maior liberdade para zanzar pela penitenciária e surrar e/ou matar uns aos outros, sem que a polícia interfira. E ao contrário de TODOS os outros presos, nosso herói inexplicavelmente não usa uniforme de presidiário (!!!), mas sim uma absurda jaqueta azul, destoando completamente do resto dos apenados!

Ah, e tudo é facílimo para o herói: Seagal foge da cadeia com seu novo amigo Ice simplesmente desacordando um guarda e roubando seu uniforme (é questionável o status de "prisão de segurança máxima" quando basta trocar de roupa para conseguir sair tranquilamente do presídio!). Depois identifica e localiza sem demora todos os caras que armaram para ele, e ainda dá um fim nos vilões sem nem suar - o confronto com o "grande vilão", o tal feiticeiro satânico, é tão rápido quanto frustrante.


O que parece é que os roteiristas Kevin Moore e Les Weldon simplesmente se reuniram e resolveram adicionar em HOJE VOCÊ MORRE tudo aquilo que viram em outros filmes feitos antes. Herói preso injustamente e obrigado a fugir da cadeia? Confere. Vilão metido com feitiçaria? Confere. Sonhos premonitórios? Confere. Roubar dos ricos para dar aos pobres? Confere. Parceiro negro interpretado por rapper? Confere, e o próprio Seagal já tinha feito quase tudo isso antes em "Rede de Corrupção", "Marcado para a Morte" e "No Corredor da Morte".

O "diretor" Don E. FauntLeRoy estreou no cinema com esse filme após uma numerosa colaboração como assistente de diretor, diretor de fotografia ou diretor de segunda unidade (participou até de filmes conhecidos, como "Os Goonies" e "O Casal Osterman", mas por outro lado também trabalhou com David A. Prior!).


Pelo jeito, o cara não aprendeu nada (nem mesmo com Prior, que faz filmes ruins, mas divertidos). Acabou sendo responsável por dois dos piores trabalhos de Seagal (esse e o posterior "Mercenário", que fechou a cota dos três filmes-bomba do "ator" com a Millenium Films).

FauntLeRoy também dirigiu, depois, o terceiro e o quarto "Anaconda" (!!!). Ou seja, a filmografia do cara deveria ser investigada pelo FBI por seu potencial como arma de destruição em massa!


No caso de HOJE VOCÊ MORRE, consta que Seagal brigou com os produtores e com o diretor o tempo inteiro, mudando o roteiro ao seu bel prazer e faltando às filmagens sem maiores explicações. Dá para ver essa falta de empenho na tela, até porque as duas únicas cenas boas são chupadas de outros filmes.

Uma delas foi "inspirada" em "Os Caçadores da Arca Perdida": um sujeito aparece fazendo malabarismos, mostrando sua habilidade e agilidade com artes marciais, e, quando você espera a luta do século, Seagal simplesmente saca seu revólver e enche o bandido de tiros!


A outra é a fuga do carro-forte após o assalto, repleta de capotamentos e explosões - e provavelmente a única cena de ação decente.

A ironia é que a cena nem foi filmada para HOJE VOCÊ MORRE; pelo contrário, saiu de "Top of the World", policial de 1998 dirigido por Sidney J. Furie e estrelado por Peter Weller e Dennis Hopper, sendo apenas editada ao material filmado por FauntLeRoy!

Esse é o tipo de sem-vergonhice que acaba com a credibilidade de qualquer produção. Diretores como Jim Winorsky e até Bruno Mattei costumavam utilizar o recurso para economizar, mas nunca esperei ver a picaretagem num filme de um cara conhecido, como Steven Seagal.


E não fica só na perseguição de carros: outras cenas ("Seagal" entrando num prédio, a rebelião no presídio...) vieram respectivamente de um filme do Van Damme ("A Irmandade", de 2001) e de outro dirigido por Walter Hill ("O Imbatível", de 2002)!

Por essas e por outras, HOJE VOCÊ MORRE pode ser considerado um dos pontos mais baixos da carreira de Steven Seagal (e isso considerando qté a segunda parte da sua filmografia, aquela dos filmes descartáveis "direct-to-video").


Pois quando um cara que fez "quase blockbusters" no passado precisa se render a cenas de outros filmes remendadas na edição, é porque a coisa está feia...

E, talvez, Seagal tenha feito assim de propósito, pensando como o Tiririca: "Pior do que está não fica". Analisando por esse ângulo, até tem certa lógica. Pois o filme é tão ruim que qualquer coisa que vier depois é lucro.

Em tempo, a briga do "ator" com a Millenium Films continuou no posterior "Mercenário", que você conhecerá na nossa próxima atualização, e dizem que Seagal só não participou do time de astros reunidos por Stallone em "Os Mercenários" por causa dessa traumática relação com a produtora.

Trailer de HOJE VOCÊ MORRE



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Hoje Você Morre (Today You Die,
2005, EUA)

Direção: Don E. FauntLeRoy
Elenco: Steven Seagal, Treach, Sarah Buxton,
Mary Morrow, Nick Mancuso, Robert Miano,
Kevin Tighe e Jamie McShane.