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segunda-feira, 30 de abril de 2012

LUNAR COP - O VINGADOR (1995)


(Esta é a terceira resenha de aventura pós-apocalíptica em sequência, depois dos textos sobre "Cyborg - O Dragão do Futuro" e "Condição de Defesa". Será que o medo do 2012 está se manifestando inconscientemente aqui no FILMES PARA DOIDOS?)

Bastante popular na década de 80, o ciclo de aventuras pós-apocalípticas copiando "Mad Max 2" teve uma sobrevida nos anos 1990, quando várias pequenas distribuidoras/produtoras, como Nu Image e PM Entertainment Group, desovaram inúmeras produções desse naipe nas locadoras, no finzinho da Era de Ouro do VHS. Eram títulos como "Fronteira de Aço" (1995, com Joe Lara) e "Cold Harvest - No Limite da Vingança" (1999, com Gary Daniels), entre outros produzidos a toque de caixa.


No meio de muita coisa divertida e de muita coisa ruim, a Nu Image saiu-se com uma pequena preciosidade chamada LUNAR COP. Cá entre nós: quem em sã consciência não ficaria doido para ver uma aventura classe C direct-to-video com o nome de "Policial Lunar"? (Descontando, é claro, aqueles cinéfilos chatos que só querem saber dos novos filmes de Woody Allen, Almodovar e Lars Von Trier.)

Mas calma que não fica só no título fantástico: para dar a todos vocês ainda mais tesão de ver o filme, ele é estrelado pelo decadente Michael Paré, aquele "quase-astro" dos anos 80 (de "Ruas de Fogo" e "Projeto Filadélfia") que jogou sua carreira fora e passou a estrelar essas produções mambembes - além de, mais recentemente, virar coadjuvante de luxo em quase todos os filmes do alemão Uwe Boll!


Epa, mas calma aí que eu ainda não terminei: se Paré é o astro, o "Policial Lunar" do título original, adivinha quem é o grande vilão? Uma dica: nove em cada dez aventuras baratas dos anos 90 traziam o cara como bandidão, e não é o Danny Trejo nem o Richard Lynch. Acertou quem respondeu Billy Drago, em performance doidona como "bad guy" (e eu realmente queria um pouco daquilo que o ator tomou antes de gravar suas cenas nesse filme, porque ele parece completamente maluco!).

E quando você acha que já está bom demais, e morrendo de vontade de assistir LUNAR COP, eis que vem o golpe de misericórdia: o diretor dessa balbúrdia é ninguém menos que Boaz Davidson, um dos sócios da Nu Image, mas também diretor de comédias adolescentes clássicas ("Lemon Popsicle" e sua refilmagem, "O Último Americano Virgem")!


Com toda essa "gente boa" envolvida, mais o fato de ser uma aventura pós-apocalíptica rodada com alguns trocados (orçamento de US$ 4 milhões, segundo o IMDB), LUNAR COP é simplesmente obrigatório para admiradores desse cinema tosco e sem-noção que era produzido para consumo rápido e descartável em nossas locadoras, gerando filmes que hoje são bem mais divertidos do que muito blockbuster bilionário.

Escrito por Terrence Paré (que provavelmente é irmão do astro Michael), o filme começa, claro, na Lua. E por Lua entenda uma paisagem desértica qualquer que foi filmada em preto-e-branco para parecer a paisagem lunar. Alguma vegetação "vaza" volta-e-meia no cenário lunar, mas e daí? Certamente é muito mais barato do que filmar na própria Lua!


Estamos no ano de 2050, e a câmera de Davidson mostra a estação lunar onde vivem os seres humanos que sobreviveram a um desastre ambiental na Terra. A tal estação, claro, é uma maquete das mais fuleiras filmada sobre uma mesa coberta de areia e com uma foto do espaço no fundo.

Dentro da base lunar (pffff...), um personagem não perde tempo em explicar toda a trama, através de um daqueles discursos que começam com um "Como todos sabem...", e então passa a um diálogo expositivo para situar o espectador.

Descobrimos, então, que passaram-se 27 anos desde o "Big Burn" - a destruição da Terra pelo Sol depois do desaparecimento da camada de ozônio. O pessoal da elite conseguiu sobreviver à tragédia indo para a tal base lunar, enquanto os pobres coitados que ficaram na Terra passaram a viver de maneira bárbara num mundo desértico, à la "Mad Max 2".


Descobrimos, também, que os ricaços que vivem na Lua criaram uma fórmula secreta chamada Amaranth, para provocar uma reação química nas nuvens e fazer com que volte a chover. Eles pretendem usar esse negócio para forçar a superfície terrestre a "renascer". Mas membros de um grupo terrorista atacam a base e roubam a fórmula, levando-a para a Terra.

(Pausa: engraçado que, em pleno ano 2050, os sujeitos ainda utilizem armas de fogo de grosso calibre e granadas, mesmo numa estação lunar. Aliás, eu me cagaria de medo de dar tiros e explodir granadas num lugar com atmosfera pressurizada, onde um único buraquinho na parede pode ser necessário para matar todo mundo!)


Preocupados com o destino do tal Amaranth, os governantes da Lua (pffff...) resolvem mandar seu melhor homem para a Terra em busca da fórmula. E o designado para a missão é o policial lunar Joe Brody (Paré, claro!). Esquecem eles, talvez, que a Terra tem uma superfície de 510 mihões de quilômetros quadrados (não faço ideia de quanto isso representa, mas é grande pra caramba!!!), e que um único policial lunar pode demorar séculos para encontrar algo ali - a verdadeira agulha no palheiro.

Bem, talvez houvesse um rastreador no recipiente do Amaranth ou algo do gênero, mas o que importa é que Brody pousa na Terra no exato local para onde os terroristas levaram a fórmula. E, sem qualquer explicação lógica, na cena seguinte à sua saída da Lua, o herói já aparece na Terra dirigindo uma motocicleta (que não se sabe de onde saiu) pelo mundo devastado e desértico!


E é justo no momento em que Paré chega à Terra que LUNAR COP transforma-se numa aventura "mad-maxiana" genérica, com nosso herói esquecendo a missão de reaver o Amaranth para defender uma aldeia de honestos fazendeiros sobreviventes do apocalipse, que vem sofrendo ataques dos bandidos comandados por Kay (Billy Drago, é claro!).

Resumindo: é uma espécie de "Mad Max 2" misturado com "Sete Homens e um Destino" (nesse caso, "Um Único Homem e um Destino") ou "Os Brutos Também Amam" (e pelo menos Joe Brody mata muito mais gente do que o Shane!).


Uma mistura que nem ao menos é criativa, pois além de já existirem inúmeros filmes com trama semelhante, o próprio Paré interpretou O MESMO PERSONAGEM e com A MESMA MOTIVAÇÃO em outra aventura pós-apocalíptica bem mais divertida feita anos antes, "Era da Destruição" (1988).

E por falar em brutos que amam, é claro que o herói logo irá se apaixonar por uma das terrestres, Thora (a linda Walker Brandt, vista mais tarde no ótimo slasher "Malevolence").


O confronto de Brody e seus amigos fazendeiros com os punks malvados de Kay é o ponto alto de LUNAR COP: o herói ensina a galera a se defender (novamente, como em "Sete Homens e um Destino", mas com seis homens a menos), e eles criam armadilhas hilárias como melancias explosivas repletas de pregos (!!!), que, infelizmente, são usadas numa única ceninha.

Quando você acha que a conclusão está próxima, eis que LUNAR COP reserva ainda um terceiro ato que é simplesmente hilário: a elite lunar fica putinha pelo fato de seu melhor policial apoiar os "bárbaros" da Terra devastada e manda um cyborg para eliminá-lo. Aí, o "Mad Max 2" + "Sete Homens e um Destino" ganha uma terceira influência: "O Exterminador do Futuro". É quando Brody e Thora são implacavelmente perseguidos por um fortão com metade do rosto "normal" e metade cibernético (à la Schwarzenegger em "Terminator").


O detalhe é que a maquiagem é tão ruim que parece que o pobre ator está com a cara cheia de merda (no estilo dos zumbis do hilário "Nightmare City", do Umberto Lenzi). Mais tarde, seu rosto todo ficará "deformado", menos a região ao redor dos olhos e o seu pescoço, que pelo visto os maquaidores esqueceram de retocar!!!

LUNAR COP é impossível de levar a sério, e hilário da primeira à última cena - se não pelo seu roteiro frouxo e cheio de furos, ao menos pela sua pobreza e tosquice. Cenários e figurinos são de chorar de rir (Thora, por exemplo, veste-se como se fosse uma princesa da Idade Média!), e é interessante como os bárbaros da Terra devastada não parecem lutar por água ou gasolina, como em "Mad Max 2" e suas cópias; pelo contrário, água e gasolina são usados à vontade durante todo o filme, o que me leva a crer que os vilões são apenas uns xaropes sem nada para fazer além de atacar pobres fazendeiros!


Por falar em cenários, o filme se passa quase totalmente ao ar livre quando o herói chega na Terra (as filmagens foram no Deserto da Namíbia), e as poucas cenas internas reaproveitam cenários e figurinos de uma aventura anterior também dirigida por Boaz Davidson, "American Cyborg - O Exterminador de Aço" (1993) - que, por coincidência, também tem um cyborg indestrutível perseguindo o herói Joe Lara!!!

O mais divertido de LUNAR COP é como ele surpreende mais e mais o espectador: você acha que o pior já passou, mas aí o diretor Boaz Davidson avacalha com uma bobagem ainda maior e mais divertida.


No meio da luta entre bonzinhos e vilões, por exemplo, um moleque da aldeia encarna Macaulay Culkin e dá um couro num dos bandidos como se estivesse em "Esqueceram de Mim Parte 12" - com direito ao movimento da mão seguido de "Yes!" que o Culkin sempre fazia!

Já as cenas envolvendo o cyborg conseguem ser ainda piores do que as "Shocking Dark", do italiano rei da picaretagem Bruno Mattei. Espere só para ver a cena em que o inimigo metálico misteriosamente enterra-se na areia COM MOTO E TUDO (!!!), apenas para sair de repente de debaixo da terra e dar um susto no herói! Tipo, é algo tão sem lógica que você fica se questionando o porquê de terem filmado isso - e deixado no corte final.


Mas não posso ser injusto com Billy Drago: seu vilão histérico também é muito legal, principalmente quando, durante o ataque à aldeia, pinta seu rosto com tinta colorida como se fosse, sei lá, um índio apache ou um figurante de "Coração Valente". Drago sai na porrada com Paré numa luta até bem coreografada, e o IMDB informa que o pobre Billy machucou-se de verdade no quebra-pau.

No fim, o roteiro do outro Paré reserva uma revelação-surpresa que é simplesmente o fim da picada - e uma cópia barata de "Blade Runner", adicionando ainda mais um filme conhecido à mistura bizarra feita pelo roteirista. Não sei se era para ser um desfecho dramático, mas eu sinceramente me peguei rindo alto e sozinho no sofá!


Se você é fã daquelas cópias toscas de "Mad Max 2" feitas nos anos 80 (como "Stryker - O Sobrevivente", do filipino Cirio H. Santiago), não deixe de dar uma chance a LUNAR COP. Principalmente porque o filme não é só trasheira e também se segura pela ação, incluindo uma contagem de cadáveres que chega às raias dos 100 mortos - muito mais do que Paré matou no fracassado "Execução Sumária", por exemplo.

Aliás, Michael Paré pode ser um dos piores atores do universo (não consegui perceber uma simples mudança de expressão nele durante o filme todo), mas mesmo assim está foda demais como o "policial lunar" Joe Brody, sempre vestido de preto, sempre pilotando velozmente a sua moto e sempre metendo chumbo nos bandidos com uma espingarda enorme. Ele não faz feio como clone de Mad Max, e também não é difícil acreditar que seu herói conseguiria sobreviver num mundo pós-apocalíptico.


No Brasil, LUNAR COP foi lançado em vídeo bem na fase de transição entre VHS e DVD. Mas a distribuidora nacional não foi esperta o suficiente para perceber que um dos grandes charmes dessa aventura trash era o título, e preferiu adotar um título genérico, "O Vingador", embora o herói não se vingue de ninguém durante o filme.

Para piorar, já existiam vários "O Vingador" nas prateleiras das locadoras, como "Raven" (1996) e "Murphy's Law" (1986), este com Charles Bronson.


E embora essa seja apenas uma obra de ficção (mal-)escrita por um parente do Michael Paré, anote aí a data de 2023 como possível ano para o tal "Big Burn". Considerando que a camada de ozônio realmente está mais esburacada que o roteiro desse filme, vai que Davidson e o outro Paré foram visionários e previram nosso futuro?

Bem, se for o caso, fica a dica: melhor continuar na Terra desértica com os "bárbaros", mas ao mesmo tempo acompanhado de gatinhas tipo a Walker Brandt, do que numa estação espacial tosca na Lua, onde todo mundo se veste como se estivesse num episódio da série clássica de "Jornada nas Estrelas" e as únicas mulheres são umas cyborgs bem vadias reservadas apenas ao pessoal mais endinheirado...

Trailer de LUNAR COP
 


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Lunar Cop / Solar Force (1995, EUA) 
Direção: Boaz Davidson Elenco: Michael Paré, Billy Drago, 
Walker Brandt, Robin Smith, Gavin Van Der Berg, Wilson Dunster, 
Ron Smerczak, Greg Latter e David Sherwood.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

EXECUÇÃO SUMÁRIA (1986)


Michael Paré. Hoje o nome é digno de pena, daqueles que você pronuncia com um tantinho de embaraço. Afinal, o cara topa tudo por dinheiro e virou figurinha carimbada no elenco dos filmes do Albert Pyun e do Uwe Boll, isso quando não é figurante de luxo nas novas aventuras vagabundas do Steven Seagal! Paré poderia até estar dando seminários para novos astros sobre como jogar sua carreira no lixo.

Mas nos anos 1980 a história era diferente. Michael Paré era um nome "quente", que, a despeito da completa inabilidade para interpretar, vinha sendo talhado a ferro e fogo para transformar-se no grande astro do momento - mais ou menos como Sam Worthington hoje, embora Paré pareça um ator shakesperiano perto desse sujeito aí. E vamos combinar que saber atuar não era pré-requisito para ser astro nos anos 80...


Em 1983 e 1984, o sujeito engatou uma série de sucessos como protagonista, de "Eddie, O Ídolo Pop" a "Projeto Filadélfia", chegando ao ápice com o fantástico "Ruas de Fogo", de Walter Hill. Talvez por causa desse último, tentaram transformar Paré em herói de ação. E em 1986 apareceu EXECUÇÃO SUMÁRIA, uma aventura que, em teoria, era o veículo perfeito para transformar o sujeito em novo astro do gênero, para competir com Stallone e Schwarzenegger.

Só que a estratégia não funcionou, o filme naufragou e a carreira de Michael Paré começou a decair progressivamente até atingir o fundo do poço do "direto para vídeo/DVD", e finalmente o estágio atual de "ex-astro decadente" nas produções de Uwe Boll e Albert Pyun.


Se não funcionou na época, hoje, pelo menos, EXECUÇÃO SUMÁRIA é uma aventura divertidíssima - mais pelo fator trash inerente às produções de ação daquela década do que pelo seu valor como obra cinematográfica em si. E comprova que, sim, Paré era muito, mas muito ruim.

Nesse filme escrito, produzido e dirigido por um tal de Craig T. Rumar, que surgiu do nada e voltou ao lugar nenhum (este é o seu único crédito), o ator "interpreta" Scott Youngblood, um sargento dos Marines (o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos) que tem uma ficha invejável e é o novo candidato a Rambo do momento.


Já na cena inicial, Scott arrebenta três terroristas que estavam preparando um atentado contra o embaixador dos Estados Unidos em Paris. Em retribuição, além das honras militares de praxe e de uma promoção para trabalhar em Tóquio, ele ganha do embaixador uma pistola de luxo - que, ao contrário do que parece, não terá nenhum grande papel na trama posteriormente.

O Marine também tem uma bonita irmã, Kim (Lynda Bridges), que vive em Madri, na Espanha, e secretamente trabalha como garota de programa para uma quadrilha de traficantes barra-pesada. Ao perceber que não terá vida longa, a moça telefona para o irmão herói e pede ajuda - em vão, pois é assassinada logo depois. Sem pensar duas vezes, Scott embarca num avião para a Espanha em busca de Kim, apenas para descobrir que ela está morta e a polícia não dá a mínima para o caso.


O resto é aquela rotina nas produções do gênero: o herói ianque alia-se a um espertinho que era amigo da finada, o fotógrafo Jake (Peter Crook), e juntos começam a investigar os responsáveis pelo crime: o traficante Silke (Eddie Avoth) e seu braço-direito Dutch (Scott Del Amo), que foi quem matou a pobre Kim.

Daí para arranjar armas pesadas e desbaratar a quadrilha toda é um pulo, certo?

Errado!

Pois embora EXECUÇÃO SUMÁRIA tenha o título original "Instant Justice" (Justiça Instantânea, em tradução literal), não tem nada de instantâneo no "olho por olho, dente por dente" aplicado por Scott. Pelo contrário, ele perambula por Madri sem fazer grande coisa durante a maior parte do tempo, e o acerto de contas acontecerá apenas nos vinte minutos finais - uma justiça nada instantânea, portanto.


Tanto que no Reino Unido o título do filme é "Marine Issue", bem melhor do que o oficial, e relacionado a uma frase que o embaixador diz ao dar a pistola de presente para o herói: "This is Marine Issue".)

No meio-tempo entre a chegada do herói à Espanha e a vingança propriamente dita, o roteiro enche linguiça colocando Scott para brigar com valentões num bar e depois com traficantes de armas (entre eles, o pobre Aldo Sambrell), quando tenta adquirir pistolas e munição para combater a quadrilha de Silke.

Também gasta um tempão apresentando o interesse romântico do herói, Virginia (a deliciosa Tawny Kitaen, mulher de Tom Hanks em "A Última Festa de Solteiro"), uma das novas garotas do harém de Silke, e a quem Scott irá proteger como uma espécie de compensação por não ter conseguido salvar a vida da irmã.


Há um aspecto interessante em EXECUÇÃO SUMÁRIA que é o desenvolvimento do personagem principal. Quando Scott percebe que suas ações irão ferir o código de honra dos fuzileiros, ele entrega suas plaquetas de identificação (o equivalente ao policial entregar seu distintivo) a um superior, o Major Davis (Charles Napier, garantindo o dinheiro do aluguel). Assim, fica livre para agir "fora da lei" e punir os assassinos da irmã.

Essa evolução progressiva para o "lado negro" lembra a transformação de Paul Kersey em vigilante no primeiro "Desejo de Matar", já que Scott leva um tempão para finalmente virar justiceiro e sair passando fogo nos bandidos (o que novamente coloca em dúvida o título original, "Justiça Instantânea").


Só que Michael Paré não é Charles Bronson, e por isso EXECUÇÃO SUMÁRIA não funciona tão bem como poderia. O coitado nem sequer é capaz de dizer duas frases sem que o texto pareça decoradinho e desprovido de emoção. Em alguns momentos, ele parece até estar lendo as falas de cartões escritos posicionados atrás da câmera!

Menos mal que não dá o show de canastrice sozinho: praticamente todo o elenco parece estar disputando quem é o pior intérprete, da pobre Tawny ao bandido Del Amo, que faz umas caretas vilanescas de doer a barriga de tanto rir. Uma cena romântica entre Paré e Tawny, pré-banho de chuveiro entre os pombinhos, é tão ruim, mas tão ruim, que parece saída de alguma sátira estilo "Corra que a Polícia Vem Aí", e que os atores estão fazendo aquilo de propósito!

(A saber: o herói interrompe uma discussão no meio dizendo que vai tomar banho, a mocinha começa a choramingar que não quer ficar sozinha e corre para baixo do chuveiro com ele, mas ainda VESTIDA!)


Para piorar, o penteado e o figurino anos 80 usados por Tawny são literalmente um horror, conseguindo transformar uma garota linda numa baranga de chorar. O cabelão armado da moçoila é tão exagerado que parece que uma raposa morreu em cima da sua cabeça (é até um alívio quando ela molha o cabelo na cena do chuveiro e ele fica "normal"); já as ombreiras gigantes lembram uma armadura ou roupa de astronauta. E pensar que isso era moda naquela década maldita...

Pela inépcia dos atores e do diretor, e pelo excesso de enrolação para um suposto filme de ação, EXECUÇÃO SUMÁRIA passou de "grande veículo para o estrelato de Michael Paré" a constrangimento para o estúdio que o produziu - ninguém menos que a Warner! É só comparar com produções muito mais baratas da mesma época, tipo os filmes da Cannon, para perceber como o negócio não funciona.


A solução encontrada foi cancelar o lançamento nos cinemas e mandar o filme direto para as videolocadoras no ano seguinte (1987), com uma capinha que explorava ao mesmo tempo o sucesso de Paré em "Ruas de Fogo" e a nova febre do momento, que eram as aventuras à la "Ases Indomáveis"! (A capinha da fita nos EUA dizia: "The star of 'Streets of Fire' unleashes a fury of Top Gun entertainment"!!!)

Hoje, o filme vale principalmente pelas risadas involuntárias. Além das péssimas interpretações, é impossível não rir com a nudez gratuita (num "ensaio sensual" que só existe para mostrar a pobre figurante pelada!) e com as frases de efeito em cenas como a pancadaria no bar, que termina com o herói jogando uns dólares sobre o balcão e anunciando aos sujeitos nocauteados: "Tomem uma na conta do Tio Sam!".


Em tempos de superpatriotismo (era a época do Governo Reagan), o diretor-roteirista Rumar também escreveu um diálogo constrangedor e hoje hilário: quando Scott questiona Jake se ele não vai ajudá-lo, já que "também é americano", o rapaz responde dizendo que não fica "sacudindo bandeiras". Impassível, com aquele olhar de peixe morto à la Stallone, o herói responde: "Bem, mas eu sim!".

E como levar a sério um filme em que o herói invade uma base militar norte-americana (em busca de um novo fuzil experimental) apenas roubando um uniforme e gritando ordens estapafúrdias para todo e qualquer soldado que encontra pelo caminho? Ah, como eram estupidamente divertidas essas aventuras dos anos 80...


O final inclui uma perseguição automobilística razoavelmente interessante na pista de pouso de um aeroporto, talvez o grande momento do filme, com direito a avião pousando sobre um carro e outro veículo capotando e destruindo vários jatinhos convenientemente enfileirados na pista de pouso.

É a melhor cena de ação da película, pois no restante do tempo vemos apenas Paré atravessando vidraças e disparando tiros e sopapos sem muita convicção. Impossível não rir horrores com o trecho em que o herói penetra (opa!) na fortaleza dos vilões e subitamente dá de cara com... um chefe de cozinha karateka! Que bate nele com uma frigideira!


Conseguirá Scott Youngblood encontrar e castigar os assassinos da sua irmã? Conseguirá Virginia abandonar sua vida boa de prostituta de luxo para ficar com o herói? Conseguirá o diretor-produtor-roteirista Craig T. Rumar uma outra oportunidade para mostrar seu talento (ou falta de), considerando que não filmou mais nada de 1986 para cá ?

São perguntas cujas respostas você encontrará, ou não, em EXECUÇÃO SUMÁRIA, uma aventura razoavelmente dirigida e pessimamente interpretada, mas que hoje tem muito valor como comédia.

Portanto, reúna os amigos na sala, prepare a cerveja e ria muito com esse novo clássico do "cinema macho", uma tosqueira no mesmo nível de "Missão Resgate" (aquele com o Brandon Lee) e "Gymkata - O Jogo da Morte".


Quanto a Michael Paré... Bem, ele pode até não ter virado o grande herói de ação da época (quem sabe por culpa desse filme tosquíssimo), mas pelo menos continuou trabalhando, e até hoje tem presença garantida em filmes classe B e C, ganhando honestamente o dinheiro do aluguel e o leitinho das crianças. Envelhecido, até atua um pouquinho melhor (alguém o viu em "Tunnel Rats", do Uwe Boll?).

E ele certamente tem coisas bem mais vergonhosas no seu currículo para lamentar. Afinal, é bom lembrar, o coitado conseguiu a façanha de aparecer nos TRÊS FILMES da série "Bloodrayne"! Perto disso, EXECUÇÃO SUMÁRIA parece até material digno do Oscar!

Dá até vontade de apelar para um trocadilho infame: "Pare, Paré!!!".

PS: Talvez pelo fracasso na época do lançamento, talvez pela ruindade geral, o filme continua inédito em DVD no mundo inteiro. Nos sites de compartilhamento de arquivos, encontra-se apenas uma versão ripada de VHS, e portanto em tela cheia e com imagem apenas razoável. Será que um dia veremos uma versão decente disso? E será que alguém realmente se importa?

A grande cena de EXECUÇÃO SUMÁRIA



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Instant Justice (1986, EUA)
Direção: Craig T. Rumar
Elenco: Michael Paré, Tawny Kitaen, Peter Crook,
Charles Napier, Eddie Avoth, Scott Del Amo, Lynda
Bridges, Aldo Sambrell e Tessa Hewitt.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

PROJETO FILADÉLFIA (1984)


É sempre um risco rever aqueles seus filmes preferidos da infância. Afinal, para cada "Fuga de Nova York", "Mad Max 2" e "A Noite dos Arrepios", que parecem envelhecer como o vinho, existem incontáveis obras tipo este PROJETO FILADÉLFIA, que, como vinhos vagabundos que são, envelhecem e se tornam um vinagrão dos mais azedos. Enfim, aqueles "clássicos da sua infância" que você revisita apenas para perceber o quão ruins eles sempre foram - e também para constatar como você era ingênuo na juventude por gostar tanto deles.

Produzido por John Carpenter (sim, "o" John Carpenter) e dirigido por Stewart Raffill (quem?), o filme teve certa fama também no Brasil na época do seu lançamento. Por aqui, saiu em VHS pelo selo Top Tape, nos primórdios das videolocadoras brasileiras, quando quase todas as fitas à disposição eram piratas.


O roteiro de William Gray e Michael Janover chama a atenção por ser baseado num intrigante acontecimento supostamente real: o Projeto Filadélfia, que teria sido realizado nos Estados Unidos em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial.

Muitos juram que é apenas lenda urbana ou teoria da conspiração, mas o que se conta é que, em 1943, no auge da guerra, cientistas norte-americanos conseguiram deixar um imenso navio (o destróier USS Eldridge) completamente invisível.

Usando campos eletromagnéticos no interior do barco, a intenção era apenas fazê-lo desaparecer dos radares dos alemães. Só que a experiência deu certo DEMAIS: o barco e toda sua tripulação simplesmente sumiram da face da terra por alguns minutos! Ou, pelo menos, é assim que se conta.


Mas o pior estava por vir: quando o tal navio "reapareceu", voltando sabe-se lá de onde tinha ido parar, era a própria visão do inferno, com marinheiros carbonizados, outros enlouquecidos, outros ainda fundidos ao casco da embarcação (!!!). O caso permanece um mistério até hoje, enquanto o governo e o exército norte-americanos continuam jurando de pés juntos que a história toda é uma farsa e que nunca houve tal experimento, quanto mais um navio inteiro ter ficado invisível.

Pois PROJETO FILADÉLFIA começa justamente no ano de 1943 e mostrando o tal experimento na prática, sob a coordenação de um cientista chamado James Longstreet (Miles McNamara).


Entre os marujos que embarcam no navio fadado a desaparecer estão David Herdeg (o canastrão Michael Paré, na época em alta por causa do sucesso de "Eddie and the Cruisers" e "Ruas de Fogo", dois clássicos da Sessão da Tarde) e Jim Parker (o igualmente canastrão Bobby Di Cicco, que apareceu na comédia "1941", de Steven Spielberg). Este último é casado com Pam (Debra Troyer), que espera o primeiro filho do casal.

Quando a experiência começa, é um verdadeiro pandemônio: o navio inteiro é sugado para dentro de um vórtex no tempo e no espaço, que no filme é representado como um túnel com luzes coloridas, bem parecido com aquele do final de "2001 - Uma Odisséia no Espaço". Enquanto seus colegas gritam e agonizam, David e Jim se desesperam e resolvem fazer alguma coisa; neste caso, atirar-se para fora do barco, bem no meio do tal vórtex!


E eis que ambos reaparecem em pleno deserto de Nevada (Área 51, alguém?), bem distante do local em que foi feita a experiência com o navio. E como se não pudesse ficar pior, o ano também é outro: 1984! Os dois marujos viajaram no tempo e, agora, enfrentam as enormes diferenças culturais proporcionadas por uma viagem de 40 anos no tempo. Como esta:

- Quem ganhou a guerra?
- Qual guerra? A do Vietnã?


Tudo é novidade para os rapazes, da programação ultraviolenta e cheia de mulher pelada da TV aberta à eleição de um ator da sua época, Ronald Reagan, como presidente dos Estados Unidos. Até uma latinha de Coca-Cola é vista como algo bizarro para quem só conhecia o refrigerante vendido em garrafa de vidro. E como pode uma garrafa de cerveja alemã em território ianque se horas antes eles estavam em guerra justamente com a Alemanha?


Finalmente, a desnorteada dupla encontra a bela Allison (uma jovem e linda Nancy Allen, atualmente sumida). Como toda boa alma tradicional desse tipo de aventura, a ingênua mulher tenta ajudá-los a descobrir a verdade sobre o que aconteceu - mesmo que seja seqüestrada pelos dois estranhos na primeira vez em que se encontram. Só que a investigação não vai ser tão fácil, porque todos são perseguidos pelo exército, que parece bastante interessado nos dois marujos.

Para complicar mais a trama, sem ter aprendido nada com o fracasso lá de 1943, um agora envelhecido dr. Longstreet (desta vez interpretado por Eric Christmas) tentou realizar o projeto novamente 40 anos depois, e abriu novamente o tal vórtex no tempo, desta vez fazendo sumir uma cidade experimental inteira. Foi por este buraco que David e Jim viajaram no tempo. O problema é que a "passagem" não fechou, e, como um grande buraco negro, pode engolir todo o planeta!


Se há algo interessante em PROJETO FILADÉLFIA - além, obviamente, do ponto de partida - é que o roteiro lembra muito um "De Volta Para o Futuro" (que é posterior, de 1985) às avessas: enquanto no filme de Robert Zemeckis o rapaz volta de 1985 para os anos 50, aqui são dois jovens dos anos 40 que avançam no tempo para os amalucados anos 80.

Infelizmente, a comparação com o ótimo "De Volta Para o Futuro" fica por aí: como PROJETO FILADÉLFIA é um filme de ação, o roteiro logo abandona o drama dos heróis perdidos em uma época que não conhecem para concentrar-se em perseguições a pé e de automóvel. É aí que a coisa toda degringola. O melhor da película é justamente a primeira meia hora, que mostra a experiência, a volta no tempo e o divertido choque cultural dos personagens.


Quando a história entra no território da ação, o filme afunda que nem o Titanic. Não bastasse o diretor Raffill ser um cabeça-de-bagre no quesito, sem nunca passar uma idéia de suspense ou de perigo (apesar do excesso de explosões de carros, prédios e até helicópteros!), o roteiro tem uma tonelada de furos, quase como o tal vórtex que ameaça engolir o mundo na trama.

Por exemplo: perto do fim, descobrimos que os militares precisam de David vivo e bem para fechar o tal vórtex antes que ele engula o mundo, já que o herói seria o responsável por voltar no tempo até a época do experimento (1943) e destruir o maquinário para que o navio e sua tripulação tornem-se visíveis de novo (ou seja, a história já está escrita e é imutável).

Logo, se este passado já é líquido e certo, e eles sabem que David é peça fundamental para viajar no tempo e salvar o mundo, por que diabos os soldados passam o filme inteiro perseguindo o rapaz e inclusive disparando tiros nele, sabendo que a sua morte poderia provocar um desastre temporal e mudar todo o rumo da história (para pior, no caso)?


Sem contar que essa história de que "tudo já está escrito" é uma bosta, pois no momento em que o roteiro deixa bem claro que o passado, o presente e o futuro já estão definidos e são imutáveis (ao contrário, por exemplo, da série "De Volta Para o Futuro"), você também já sabe que tudo vai se resolver facilmente no final, sem complicação, sem suspense e sem grandes perigos para os personagens ou para o planeta Terra.

(E é nessas horas que faz falta alguma cena de tensão como aquela do dr. Brown correndo contra o relógio para conectar os cabos na torre do relógio, no final de "De Volta Para o Futuro".)

O que sobra de PROJETO FILADÉLFIA é uma boa idéia (ou talvez um bom ponto de partida) mal-aproveitada e mal-filmada. O próprio "Experimento Filadélfia" em si - que, segundo algumas teorias da conspiração, realmente teria aberto um buraco negro no planeta, aquele conhecido como Triângulo das Bermudas! - é muito mais interessante do que o filme inteiro, e mal-aproveitado na trama, aparecendo apenas no começo e no final (com direito às cenas tétricas dos marinheiros fundidos com o navio).


Taí uma idéia que mereceria ser retrabalhada por algum diretor-roteirista mais criativo. Alô, fazedores de remakes: por que ao invés de estragar filmes bons vocês não tentam melhorar os ruinzinhos, como este?

Acredito, portanto, que alguns filmes deveriam permanecer apenas em nossas memórias lá da infância, já que revistos hoje, com mais senso crítico e toda uma bagagem cultural, acabam perdendo toda a graça.

PROJETO FILADÉLFIA é um deles: um argumento interessante, mas um resultado final bobo e sonolento. Ainda assim, um passatempo razoável para quem curte histórias sobre viagem no tempo, mesmo que aqui o tema seja trabalhado anos-luz aquém do seu potencial.

E bem que eu queria voltar também no tempo, mais precisamente para aquela época em que tudo era menos complicado e se podia ficar vendo PROJETO FILADÉLFIA nas tardes do SBT. E ainda gostar muito do filme!


PS 1: Em 1993 saiu uma produção direto para as locadoras chamada "Projeto Filadélfia 2", cuja trama envolve experiências de viagem no tempo dos nazistas (o vilão inclusive é interpretado por Gerrit Graham). Lembro pouco desta seqüência e também preciso rever (medo!), mas, através do IMDB, descobri que o personagem de David Herdeg está de volta, desta vez interpretado por outro ator (Brad Johnson).

PS 2: Clique AQUI para ser redirecionado a um interessantíssimo site em inglês com uma das análises mais completas da internet sobre o misterioso "Experimento Filadélfia" que deu origem ao filme.

Trailer de PROJETO FILADÉLFIA



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Projeto Filadélfia (The Philadelphia
Experiment, 1984, EUA)

Direção: Stewart Raffill
Elenco: Michael Paré, Nancy Allen, Eric
Christmas, Bobby Di Cicco, Louise Latham,
Kene Holliday e Stephen Tobolowsky.