WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador Richard Norton. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Richard Norton. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de janeiro de 2012

OCTAGON (1980)


O "Octógono" (em inglês, "Octagon") é o nome de uma base secreta, encravada em algum local da América Central, onde guerreiros orientais treinam mercenários nas milenares táticas dos assassinos ninjas. Apesar de ser também o título deste filme, o Octógono é tão secreto que ninguém, do começo ao fim da história, se refere ao lugar utilizando tal nomenclatura - e este é o menor dos erros da obra!

OCTAGON (exibido na TV com o apropriado subtítulo "Escola de Assassinos") foi um dos últimos trabalhos da filmografia de Chuck Norris que eu vi, e apenas quando foi relançado em DVD no Brasil pela Spectra Nova. Ironicamente, foi o estrondoso sucesso de bilheteria desta aventura do começo da década de 1980 que transformou Norris definitivamente num dos grandes astros de ação do período.


Confesso que idealizava OCTAGON de uma forma completamente diferente antes de finalmente assisti-lo, por tudo que li e ouvi sobre o filme. Imagine só: ver o grande karateka Chuck em início de carreira numa aventura que lembra o cinema de Hong-Kong, trocando sopapos e voadoras com ninjas, e até pegando numa espada samurai para duelar com o grande vilão - que, num clichê que lembra muito western spaghetti, vem a ser o seu meio-irmão oriental!

Foi, portanto, um decepção descobrir que o grande filme de ação e de ninjas com o qual eu sonhava demora uma eternidade para pegar no tranco: são 103 minutos no total, mas apenas nos 20 minutos finais é que Norris finalmente invade o Octógono e sai matando ninjas a torto e a direito!


Até então, a trama é levada na base do "devagar, quase parando", com uma infinidade de personagens que entram e saem de cena, falam pra caramba no processo, e um Chuck Norris que raramente luta - algo muito parecido com "Os Bons Se Vestem de Negro", outro soporífero trabalho do começo da carreira do astro.

Enfim, confesso que não gostei de OCTAGON na primeira vez que o vi, mas confesso também que o filme cresceu numa recente revisão: sabendo que a pancadaria estava toda no desfecho, tentei avaliar o filme com outros olhos, buscando compreender o porquê de tanto "desenvolvimento de personagens" - ou, mais especificamente, o porquê de tantos personagens em primeiro lugar!


E embora continue achando que a narrativa demore tempo demais para começar a ficar interessante, OCTAGON tem várias qualidades que o colocam um pouco acima da média de mediocridade dos trabalhos iniciais de Chuck - é muito melhor, produzido e dirigido inclusive, do que os três anteriormente analisados: "Comboio de Carga Pesada", "Os Bons Se Vestem de Negro" e "Força Destruidora".

Norris interpreta Scott James, um veterano do Vietnã, lutador aposentado e, secretamente, também um mestre ninja (!!!), já que foi criado como filho adotivo por um grande conhecedor de artes marciais, e treinado desde a infância para ser o melhor lutador do planeta.

Scott passa seus dias malhando na academia com o amigo e também lutador A.J. (o canastrão Art Hindle); nas horas vagas, assiste a shows de ballet (!!!) em teatros chiques, vestindo smoking e tudo mais - e ver Norris de smoking é quase tão esquisito quanto ver Steven Seagal de baby-doll.


Ao final do espetáculo, nosso herói se interessa pela tal dançarina de ballet cuja apresentação foi assistir. Ela se chama Nancy (Kim Lankford), e aceita prontamente o convite do herói para uns drinks.

O casal vai até a casa da moça, mas lá ambos são atacados por ninjas. Nancy é morta e Scott surra todo mundo até o nocaute. Mas não se preocupa em interrogar algum deles para obter informações sobre o porquê do ataque, e portanto os vilões logo desaparecem, deixando para trás um monte de corpos - toda a família de Nancy, que já havia sido exterminada antes de o casal chegar.

O engraçado é que o herói não fica entristecido com a morte da nova namorada (na verdade, a personagem é simplesmente esquecida em menos de 5 minutos); por outro lado, fica encucado com a aparição dos ninjas. De onde teriam vindo? O que querem?


Scott procura um velho amigo chamado McCarn (Lee Van Cleef!), que é caçador de recompensas e "líder de um grupo anti-terrorista" (não tente entender). Ele é o primeiro a comentar sobre uma tal base secreta onde mercenários recebem treinamento ninja para poderem praticar terrorismo e crimes políticos ao redor do mundo.

Ao mesmo tempo, entra em cena Justine (a bela Karen Carlson, numa interpretação medonha), uma milionária que tenta convencer Scott a invadir o Octógono para matar seu líder, o homem responsável pela morte de seu pai.

Aí é que o bicho pega: o líder do Octógono é ninguém menos que Seikura (Tadashi Yamashita, de "American Ninja"), meio-irmão oriental de Scott, que foi treinado nas mesmas artes ninja pelo pai e mestre de ambos, mas deserdado e expulso de casa após uma discussão ainda na adolescência.


Como acontecia com "Os Bons Se Vestem de Negro", a trama parece interessantíssima no papel. O problema é a narrativa titubeante: OCTAGON se arrasta desnecessariamente por mais de uma hora, e neste tempo Norris simplesmente fica perambulando pelo cenário, de um lado a outro, sem fazer muita coisa, e procurando não lutar porque prometeu a si mesmo que a violência não leva a nada.

O roteiro, apesar de ser uma exibição de tudo que é mais brucutu em matéria de cinema de ação, foi escrito por uma mulher (!!!), a também atriz Leigh Chapman, cujos créditos incluem ainda o roteiro do cult movie "Dirty Mary, Crazy Larry" (1974), com Peter Fonda e Susan George.


Leigh trabalha com um argumento original de Paul Aaaron, que havia dirigido Chuck em "Força Destruidora" um ano antes, e talvez fosse o diretor original desse filme aqui também, antes de ser substituído por Eric Karson.

O nome não lhe diz nada? Bem, Karson não é exatamente conhecido por sua vasta filmografia (fez apenas cinco longas e um curta), mas tem outros dois trabalhos que merecem ser conhecidos por fãs de filmes de ação: "Força Oposta / Onze para o Inferno" (1986), com Tom Skerritt, e "Contato Mortal" (1988), com Jean-Claude Van Damme.


Uma das coisas mais diferentes de OCTAGON é incluir uma espécie de "sexto sentido" do herói: uma narração em primeira pessoa que ressoa como eco, para dar a ideia de que o espectador está ouvindo os pensamentos e conflitos internos de Scott.

Só que este recurso é repetido tantas vezes que se torna chato. É como se houvesse uma necessidade imbecil de o herói ficar toda hora explicando o que está pensando para o espectador, falando para si mesmo frases como "Será que vou conseguir matar Seikura?", ou "Eles estão próximos, eu posso sentir", ou ainda "A.J., eles te pegaram! Foi minha culpa...". Às vezes a tal narrativa com eco explica até coisas que o espectador está vendo por conta própria, como se fosse uma descrição para deficientes visuais!


O roteiro também enrola um tempão com o entra-e-sai de personagens que participam da "investigação" do herói sobre a localização do Octógono. Se o próprio A.J., um dos personagens principais, jamais diz a que veio (é apenas o tradicional melhor amigo que só existe para morrer e ser vingado nos filmes de Chuck Norris), o que dizer do caçador de recompensas McCarn? E de todo um grupo de mercenários com quem Scott acaba topando na sua busca pelo Octógono? Ou de um comerciante de casacos-de-pele que financia Seikura e seu grupo? Ou mesmo da tal dançarina morta nos primeiros cinco minutos do filme, cuja curta presença em cena jamais é justificada?

E Scott James, como herói, é um desastre: tenta escapar das brigas e recusa-se a ir atrás de Seikura até ser tarde demais; neste ínterim, todas as pessoas que precisavam da sua proteção já foram mortas pelos vilões, e são pelo menos três pobres vítimas até que o "herói" finalmente levante a bunda da cadeira para ir caçar os ninjas!


Some-se a isso tudo o fato da tal base secreta ser tão secreta quanto o Estádio do Maracanã: praticamente todos os personagens que aparecem em cena conhecem o lugar ou lá estiveram. E quando Scott e A.J., em momentos diferentes, vão até o tal país da América Central (nunca nomeado, mas as filmagens aconteceram no México) para tentar invadir a base, cada um deles descobre a localização do complexo facilmente, bastando para isso conversar com meia dúzia de pessoas na rua! Assim até eu!

Enfim, OCTAGON tem uma tonelada de personagens, acontecimentos e informações inúteis (a longa cena em que Justine flerta com Scott pela primeira vez, envolvendo um carro parado no acostamento, é igualmente descartável). A maior parte do que está no corte final poderia ter ficado na sala de edição, melhorando muito o ritmo do filme - principalmente a já citada visita do herói ao quartel-general de um grupo de mercenários para tentar descobrir a localização da "base secreta" de Seikura.


A boa edição de Dann Cahn até tenta tornar a coisa menos chata, intercalando as cenas songa-mongas em que o herói não faz nada com outras que mostram o treinamento de um novo grupo de recrutas no Octógono (quando finalmente vemos alguma ação e ninjas lutando).

Na verdade, eu jamais recomendaria OCTAGON se não fosse pelos 20 ou 30 minutos finais. É quando entra em cena uma terceira personagem feminina (!!!), a guerrilheira Aura (Carol Bagdasarian), e o herói finalmente resolve invadir o Octógono e matar um montão de ninjas com as próprias mãos e pés, com faquinhas (daquelas escondidas nas luvas) e com uma espada samurai, é claro!


E é quando ele finalmente encara, frente a frente, seu meio-irmão malvado Seikura. Segundo o IMDB, a revista gringa Fighting Stars elegeu esta luta final como a 13ª entre as 25 melhores cenas de luta de todos os tempos.

Não é para tanto, e o ódio entre meio-irmãos que não se veem desde a adolescência não é satisfatoriamente explorado no momento. Ainda assim, a luta é bem filmada, embora rápida e com uma conclusão brochante.


Os grandes momentos de OCTAGON acontecem quando Scott vai enfrentando vários "sub-chefes" do Octógono, como se estivesse num jogo de videogame. Entre eles está um gigantesco ninja mascarado, que se pega com o herói numa feroz luta com espadas, sai (aquelas faquinhas tipo as que a Elektra usa nos quadrinhos) e finalmente com os punhos - tarefa nem um pouco fácil, considerando que o vilão não pára de lutar nem mesmo quando está com o corpo em chamas (uma cena copiada, com o fator trash nas alturas, na aventura turca "Death Warrior")!

O tal ninja mascarado, creditado como Kyo no final (embora seu nome nunca seja citado no filme, como acontece com o próprio Octógono), é interpretado por Richard Norton, aqui em sua estréia no cinema.


Norton foi vilão em vários filmes de pancadaria (como o hilário "Gymkata - O Jogo da Morte"), atuou como dublê de Norris neste e em seus dois filmes seguintes ("Ajuste de Contas" e "Vingança Forçada"), e nos anos 1990 tentou a sorte como protagonista, estrelando várias produções baratas de ação.

E ele deve ter causado uma boa impressão, já que aparece em OCTAGON também num segundo papel, como um dos mercenários daquele grupo invadido por Scott antes de finalmente chegar ao Octógono.

Ah, a cena do ataque à base dos ninjas também inclui um momento muito legal em que o herói precisa atravessar um lago pulando de uma plataforma para outra, e desviando de ninjas que pulam da água para agarrá-lo. Isso me lembrou muito uma fase do velho jogo de fliperama "Shinobi", que eu joguei muito em sua versão para Master System.


Como já havia acontecido nos filmes anteriores, Chuck voltou a trabalhar com a família em OCTAGON: ele e o irmão Aaron Norris coreografaram as lutas, e tanto Aaron quanto o filho do astro, Mike, aparecem em pontas (Mike interpreta Scott aos 18 anos, numa boa escolha, já que ele realmente lembra uma versão jovem de Chuck).

Além de todos os já citados, o elenco tem outras caras conhecidas: Brian Libby (que depois enfrentaria Chuck Norris como uma espécie de clone de Michael Myers em "Fúria Silenciosa") é um dos mercenários que está fazendo o curso intensivo de ninjas no Octógono, e Gerald Okamura um dos instrutores; Ernie Hudson é um lutador amigo de A.J.; Tracey Walter é um agenciador de mercenários, e Brian Tochi (o japa de "A Vingança dos Nerds" e "Loucademia de Polícia" Partes 3 e 4) interpreta Seikura na juventude. Vários deles podiam ter ficado no chão da sala de edição, tal a inutilidade de seus personagens.


Chato e pouco empolgante (embora o final seja bastante movimentado), OCTAGON está entre os muitos filmes fracos da carreira de Norris. Mas, apesar da narrativa lenta e dos óbvios defeitos, não é difícil de entender porque foi um sucesso na época do seu lançamento.

Afinal, foi um dos primeiros filmes norte-americanos a apresentar os guerreiros ninja ao público ocidental (embora eles já tivessem aparecido antes, e brevemente, em outras obras, como "Elite de Assassinos", de Sam Peckinpah, que é de 1975).


Ao longo da década de 80, e até a metade dos anos 1990, ninjas viraram figurinhas carimbadas no cinema de ação ocidental, dando origem a franquias como "American Ninja" e a série de filmes produzidos pela Cannon com Sho Kosugi (são três, sendo que o primeiro deles é "Ninja - A Máquina Assassina", estrelado por Franco Nero!).

Portanto, são motivos de sobra para que todo fã de ninjas e de Chuck Norris queira assistir a OCTAGON. Mas não se sinta culpado se tirar umas sonecas aqui e ali. Porque, sem injustiça, a melhor coisa é a meia hora final, e você não vai perder quase nada se avançar o filme todo até chegar aos finalmentes.


E apesar de ter a chance de demonstrar suas habilidades como "american ninja", OCTAGON definitivamente é um ponto negativo para a masculinidade do astro.

Afinal, ele tem três interesses românticos na trama, mas não vai para o rala-e-rola com duas das garotas - e só come a terceira porque ela se atira pelada em cima dele. Um detalhe vergonhoso que definitivamente foi deixado de fora dos lendários "Chuck Norris Facts"...

PS: Octógono, como todos sabem, também é o formato do ringue das lutas do UFC (Ultimate Fighting Championship, o popular "vale-tudo). Será por causa do filme, ou é apenas uma coincidência?

Trailer de OCTAGON



*******************************************************
The Octagon (1980, EUA)
Direção: Eric Karson
Elenco: Chuck Norris, Karen Carlson, Lee Van Cleef,
Art Hindle, Tadashi Yamashita, Carol Bagdasarian,
Richard Norton e Brian Libby.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

GYMKATA - O JOGO DA MORTE (1985)


Imagine, só por um minuto, que você é o chefe da "SIA" (Special Intelligence Agency!!!) e precisa despachar um agente para defender todo o mundo ocidental numa missão arriscadíssima, repleta de espiões, traições, ninjas e perigos. E aí, quem você escolheria para a missão? Jack Bauer? Os Boinas Verdes? O agente 007? John Matrix e Stallone Cobra?

Digamos que todas essas são ótimas opções. Mas que tal ser ousado e original, escolhendo um decadente campeão de ginástica olímpica (!!!), para então treiná-lo em karatê (em algumas poucas semanas) e finalmente enviá-lo para arriscar o pescoço e a segurança de todo o Ocidente?

Pois é exatamente essa a opção do chefão da SIA em GYMKATA, um impagável e hilário filme de ação dos anos 80 que começa absurdo desde a premissa - afinal, se um campeão de ginástica olímpica pode mesmo ser tão letal quanto é mostrado nesse filme, então nossa Daiane dos Santos seria uma autêntica arma de destruição em massa! (Sorte que o Bush tinha birra com o Iraque e não notou...)


GYMKATA foi dirigido por Robert Clouse em 1985. Mais conhecido por ter assinado dois sucessos estrelados por Bruce Lee ("Operação Dragão" e "O Jogo da Morte"), Clouse ficou marcado como diretor de artes marciais, mas naqueles tempos encontrava-se em tempos de vacas magras.

Aí algum espertalhão teve a idéia de tirar o sujeito da aposentadoria e dar-lhe mais uma aventura de artes marciais, mas com essa idéia estapafúrdia de ter um ginasta como herói, no lugar de um lutador "de verdade".

Essa "honra" coube a Kurt Thomas, um ginasta igualmente decadente na época, e que havia ganhado várias medalhas de ouro em competições mundiais de ginástica nos anos 70 - mas nunca chegou a participar das Olimpíadas, sua grande frustração.


GYMKATA é o primeiro e único filme de Thomas como protagonista (algo plenamente justificável, considerando sua atuação sofrível), e sua "carreira" se encerrou com apenas mais uma participação, agora como coadjuvante, numa produção obscura de 2003.

Além de péssimo ator, Kurt Thomas tem tudo de ruim: é feio, desengonçado, tem cabelo mullet e é nanico demais para convencer nas inúmeras cenas de ação do filme (nossa, isso ficou parecendo crítica do Rubens Ewald Filho!). A batata-quente ficou nas mãos do diretor de fotografia, que na maior parte do tempo filma o "ator" de baixo para cima, tentando "aumentar" seu tamanho.


A história é inspirada no livro "The Terrible Game", escrito por Dan Tyler Moore em 1957, e filmada na Iugoslávia, que aparece transformada num fictício país chamado Parmistão. Ali, uma pequena vila realiza uma dura prova conhecida como "O Jogo", em que campeões do mundo inteiro precisam superar uma série de provas enquanto são implacavelmente perseguidos pelos melhores guerreiros parmistanenses.

Quem chegar ao final do Jogo tem o direito de fazer um desejo (?!?) ao rei do Parmistão. Quem ficar pelo caminho, morre. Simples, não? Ah, creio que seja relevante informar que, em 900 anos, "O Jogo" não teve nenhum vencedor. Mas eles continuam tentando! Logo, sejamos otimistas...


Eis que a SIA pretende enviar um representante norte-americano para vencer o Jogo e usar seu desejo (hahahaha, não consigo não rir disso...) para adquirir a autorização do rei do Parmistão para instalar um sistema de satélites de defesa no país - mas pode esquecer isso, são apenas burocracias do enredo.

E o que o governo norte-americano faz? Recruta o atleta Jonathan Cabot (Thomas), cujo pai - um agente secreto - foi considerado desaparecido no Parmistão há algumas semanas. Cabot passa alguns dias sendo treinado por especialistas em artes marciais ao estilo Pai Mei em "Kill Bill", e desse treinamento nasce a tal "gymkata": uma mistura das habilidades de Jonathan como ginasta com os movimentos do karatê. Acredite, os caras levam isso a sério no filme!


Nesse meio-tempo, também, o jovem agente secreto ginasta apaixona-se pela Princesa Rubali (Tetchie Agbayani), filha do rei do Parmistão.

Após uma série de perigos envolvendo traidores e espiões, que são facilmente vencidos por Jonathan com seus movimentos de gymkata (hahahaha), a comitiva norte-americana finalmente chega ao Parmistão, onde vários campeões mundiais preparam-se para o jogo.

Aí, nosso herói descobre que sua amada está prometida em casamento para Zamir (Richard Norton, estrela de vários filmes de ação classe C da época), um dos melhores guerreiros do país, além do líder do time que irá caçar (e tentar matar) os participantes do Jogo no dia seguinte. Será que tendo Jonathan como rival pelo coração da princesa ele vai levar a coisa para o lado pessoal?


GYMKATA foi um fiasco na época do seu lançamento, e não é difícil imaginar o porquê. Com o tempo, entretanto, ganhou certa fama cult, justamente pela sua ruindade, entrando sempre em destaque nas listas de piores filmes de todos os tempos.

O auge da popularidade dessa divertida bomba veio em 2006, quando, nos EUA, a Warner Bros. e a Amazon.com fizeram uma enquete na internet para que cinéfilos do mundo todo escolhessem algum título ainda inédito do catálogo do estúdio para ser lançado em DVD. Pois GYMKATA ganhou de lavada, recebendo seu próprio disquinho em 2007.


A verdade é que o filme de Clouse é divertidíssimo - pelos motivos errados, óbvio. Some a péssima atuação de Kurt Thomas com o absurdo da situação toda (um ginasta karateka?), mais a história bisonha (como engolir esse lance do "desejo"... hahahaha... para quem vencer um jogo estúpido de resistência?) e a quantidade colossal de buracos no roteiro e situações forçadas, e pronto: temos um candidato a clássico instantâneo do FILMES PARA DOIDOS!

Só para o leitor ter uma ideia dos furos do roteiro: durante o Jogo, Jonathan enfrenta a fúria do rival Zamir, que quer matá-lo a qualquer custo. Mas não parece.


Quando os competidores precisam escalar uma corda até o topo de uma fortaleza, por exemplo, Zamir e seus guerreiros derrubam vários dos participantes com flechadas certeiras. Pois quando Jonathan está no meio da escalada, Zamir resolve não usar as flechas (que significariam morte certa), mas sim incendiar a corda por onde o rapaz sobe (!!!). Desnecessário dizer que o herói escapa, né?

Mais adiante, nova estupidez: os competidores precisam agarrar-se a uma corda para atravessar um penhasco enorme. Novamente, Zamir e seus guerreiros usam flechadas certeiras para derrubar todos os outros participantes. Mas quando Jonathan está no meio da travessia, o que faz seu rival? Descarta as flechas mortais (óbvio) e corta uma das extremidades da corda, esquecendo que o ginasta poderá utilizá-la como "cipó" e brincar de Tarzan para balançar-se até o outro lado do penhasco! Dã...


E nada pode preparar o espectador para os 20 minutos finais de GYMKATA, quando Jonathan enfrenta a última etapa do jogo: atravessar uma vila-fantasma sendo atacado por seus moradores.

Maltrapilhos e armados com machados e forcados, os caras parecem zumbis ou fantasmas, e inclusive agem como tal, numa cena que parece saída de algum filme de horror barato - e que destoa totalmente do clima até então! Tem até um sinistro sujeito com duas caras, como você pode ver na foto abaixo:


Embora Robert Clouse tenha dirigido o filme "a sério", às vezes ele solta umas evidências de que parece estar levando a coisa meio na brincadeira, como se aquilo fosse uma sátira ao gênero, e não uma aventura convencional.

Evidência número 1: Um personagem explica a Jonathan que ele irá viajar para "Karabal, no Mar Cáspio". Um segundo depois, a cena corta para um navio no mar com a legenda repetindo literalmente o que o sujeito falou: "Karabal, on the Caspian Sea"!


Evidência número 2: Jonathan sempre se dá bem nas cenas de perigo porque seus inimigos são muito burros. Por exemplo, eles preferem descarregar a munição das suas metralhadoras em paredes e garrafas, e depois ficam sem balas para acertar o herói!

Evidência número 3: Sempre que alguém cai de um penhasco ou de uma grande altura, a sonoplastia usa efeitos de desenho animado (aquele TUMPF! exagerado de quando o Coiote se estatela no desenho do Papa-Léguas).


Mas verdade seja dita: trash involuntário ou não, GYMKATA nunca é chato. Pelo contrário, é um filme de ação movimentadíssimo, em que acontece um tiroteio ou perseguição seguida de luta a cada cinco ou dez minutos.

Se Kurt Thomas não convence como ator, até que ele vai muito bem como lutador de "gymkata" (hahaha), embora suas habilidades como ginasta se resumam a dar pulinhos e piruetas bem boiolas por cima dos inimigos.

Somente no final é que o herói começa a mostrar uns movimentos realmente legais, tipo umas tesouras voadoras e malabarismos sobre um "cavalo" improvisado (o aparelho de ginástica, não o animal). Essa cena, sozinha, já vale o filme todo, e como eu sou camarada vou até postar aqui para vocês conferirem:

Como vencer uma vila inteira com ginástica olímpica
(Mas eles precisam atacar um de cada vez!)



E depois que você esquece que a tal "gymkata" (hahaha) não passa de uma baita estupidez, até que as cenas de luta são bem interessantes, além de bem filmadas e coreografadas, com a câmera abrangendo o cenário e os atores de corpo inteiro fazendo seu showzinho, sem os closes estapafúrdios e cortes rápidos que estragam as cenas de ação nos filmes atuais.

Além disso, a coisa toda tem aquele climão de aventura pobre do 007, com perigos e traições em países exóticos, inimigos exagerados, tiros e pancadarias. E, claro, as habilidades sobrenaturais do herói, capaz de vencer 30 inimigos sem disparar um único tiro, apenas com sua "gymkata" (hahahaha).


Visto com o devido clima e humor, GYMKATA é um filme bem divertido, que merece ser redescoberto por uma nova geração de cinéfilos. Trash até a medula, sim, mas daquele tipo que você ri, faz piada, vibra e até se espanta com algumas qualidades que ninguém parece ter percebido.

Que sirva de lição para o governo brasileiro, também: na próxima ocupação de favela no Rio, mandem a Daiane dos Santos e a Daniele Hypólito junto com o Bope. Se as duas usarem "gymkata" contra a marginália, vai ser uma verdadeira chacina!


PS 1: Ao ser lançado em VHS no Brasil, GYMKATA ganhou o dispensável subtítulo "O Jogo da Morte", talvez para linkar com o conhecido filme póstumo do Bruce Lee que Clouse dirigiu. Pensando bem, podia ser pior - algo como "Operação Gymkata - O Jogo da Morte".

PS 2: Se GYMKATA tivesse feito sucesso, qual seria o próximo projeto de Robert Clouse? KARATANGO, sobre um dançarino de tango treinado em artes marciais para combater um ditador na Argentina? Ou MIMITÊ, que traria o famoso mímico francês Marcel Marceau aliando mímica e karatê contra algum terrorista europeu?

Opa, é melhor não dar ideias...

Trailer de GYMKATA - O JOGO DA MORTE



*******************************************************
Gymkata - O Jogo da Morte
(Gymkata, 1985, EUA)

Direção: Robert Clouse
Elenco: Kurt Thomas, Tetchie Agbayani, Richard
Norton, Edward Bell, John Barrett, Conan Lee,
Bob Schott e Buck Kartalian.