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segunda-feira, 7 de abril de 2014

LA SOMBRA DEL JUDOKA CONTRA EL DOCTOR WONG (1984)


Nos anos 1980, de volta à Espanha após um exílio voluntário para escapar da ditadura do General Franco, Jess Franco iniciou uma parceria com a Golden Films International, para quem dirigiu - pelo menos até onde se sabe - 19 filmes dos mais diversos gêneros. Ele tinha total liberdade garantida pelo produtor Emilio Larraga (que não se importava com a história e nem com a qualidade dos filmes, desde que eles ficassem prontos para distribuição), mas orçamentos bem apertados e equipes cada vez mais reduzidas.

Os termos dessa parceria colocaram o velho Jess numa espécie de zona de conforto, fazendo com que ele perdesse o pouco de vergonha na cara que ainda tinha. E assim, para a Golden Films, o diretor realizou algumas das maiores picaretagens da sua numerosa filmografia, como aquela que atende pelo espalhafatoso título de LA SOMBRA DEL JUDOKA CONTRA EL DOCTOR WONG!!!


Infelizmente, LA SOMBRA DEL JUDOKA... é um daqueles títulos raros da filmografia de Jess. Nunca foi lançado em VHS (e muito menos em DVD/blu-ray) em nenhuma parte do mundo, e por isso hoje só circula numa cópia de baixíssima qualidade que foi gravada da TV espanhola sabe-se lá em que década, e em espanhol sem legendas. Para piorar, esta única cópia disponível parece ser a quinta ou sexta gravação feita a partir da fita original, e está quase inassistível (como você pode perceber pelas imagens desta resenha).

Fica difícil avaliar um filme nessas condições, pois é complicado até de enxergar o que se passa durante as cenas mais escuras. Mesmo assim, eu não queria deixar essa atrocidade de fora da MARATONA JESS FRANCO, considerando que é uma daquelas hilárias presepadas que só alguém muito cara-de-pau (como o Franco da década de 80) faria.


Em primeiro lugar, esta é única contribuição do cineasta espanhol para o ciclo "brucesploitation", aquelas produções vagabundas que exploravam o vazio deixado pela morte do astro Bruce Lee, e estreladas por imitadores que convenientemente se chamavam Bruce Le ou Bruce Li para tentar engambelar os espectadores desavisados (lembre-se que estamos falando de uma época sem IMDB e com pouquíssimas fontes de pesquisa sobre estas produções mais obscuras).

O problema é que Jess nunca foi um diretor conhecido pela sua habilidade para filmar cenas de ação. Ou pelo menos não ESSE tipo de ação, se é que vocês me entendem. Então como é que ele se saiu no comando de uma aventura de artes marciais "brucesploitation", mas rodada na Espanha ao invés de em Hong-Kong ou Taiwan?


Bem, é possível que o próprio Franco tivesse noção das suas limitações como diretor de ação. Por isso, em LA SOMBRA DEL JUDOKA... ele preferiu brincar de Godfrey Ho - aquele maluco que fazia filmes de ninjas a partir de cenas de outras produções sem ninjas, lembra?

Para não quebrar a cabeça pensando em como coreografar artes marciais, Jess simplesmente pegou um filme oriental já pronto ("Nu Ying Xiong Fei Che Duo Bao / Seven To One", de 1973), retirou umas cenas e as enxertou no "seu" filme. Simples, não?

Infelizmente, a tal aventura pronta (pôster original ao lado) era estrelada por uma garota (Lingfeng Shangguan), que, na trama, buscava vingança pelo assassinato do seu pai. Ou seja, Franco ainda precisava colocar um Bruce Lee na história para ser um legítimo "brucesploitation"!

A solução foi chamar para o papel principal um jovem ator espanhol, José Llamas, que já havia trabalhado em outros filmes de Jess. Llamas nem oriental era, mas mesmo assim ganhou um novo nome artístico somente para este filme: "Bruce Lyn"!!!

Só havia um "pequeno" problema: o Bruce Lyn de Jess não sabia porcaria nenhuma de artes marciais, e mal conseguia caminhar de forma convincente, quem dirá lutar! Mas tudo bem, o diretor nem se importou com isso e tocou o projeto do mesmo jeito, buscando salvá-lo com as cenas enxertadas do tal filme oriental, e torcendo para ninguém perceber. Deu certo? Ora, é claro que não - e isso talvez explique porque o negócio foi tão mal distribuído!


LA SOMBRA DEL JUDOKA... tem uma trama sem pé nem cabeça escrita pelo próprio Franco (que assina roteiro e direção com seu tradicional pseudônimo "Clifford Brown", em homenagem ao trompetista de jazz homônimo). E se não bastasse acumular tantas funções, Jess ainda reservou para si o papel de grande vilão, o Dr. Wong do título.

Como quase tudo que diz respeito à filmografia do diretor, o ano exato em que ocorreram as filmagens ainda é um mistério - até pela mania que Jess tinha de rodar diversas produções uma atrás da outra, ou ao mesmo tempo. As informações variam conforme a fonte, mas, pelo que pude apurar, o filme teria sido produzido em 1982 e lançado apenas em 1984 (segundo o livro "Obsession: The Films of Jess Franco") ou 1985 (segundo o IMDB).


Espécie de sátira do Fu Manchu (Jess dirigiu dois filmes com o personagem no final dos anos 60, "The Blood of Fu Manchu" e "The Castle of Fu Manchu", ambos estrelados por Christopher Lee), o Dr. Wong é um megalomaníaco gênio do crime que está traficando heroína de Hong-Kong para os Estados Unidos dentro de inocentes bonequinhas.

Para dar a entender que o personagem é oriental, Franco passa o filme inteiro com os olhos meio fechadinhos (!!!) e trocando o "R" pelo "L". Fica bem claro, desde sua primeira cena, que ele não está levando a coisa a sério, ao contrário dos outros atores.


A CIA e a Interpol estão de olho no tal gênio do crime e querem arruinar seu império da droga. Para isso, as duas agências enviam seus melhores homens a Hong-Kong (na verdade, as Ilhas Canárias, na Espanha!).

Por parte da Interpol, temos os agentes Philip Morris (será uma homenagem à famosa fabricante de cigarros, já que Franco era um fumante inveterado?), interpretado por Daniel Katz, e sua parceira Maggie (Lina Romay); já por parte dos ianques, temos o invencível Bruce (!!!), muito possivelmente o pior "clone de Bruce Lee" já inventado!

O que Wong e seus capangas não sabem é que Bruce treinou os segredos mais obscuros das artes marciais e tem o dom sobrenatural de dar vida à sua própria sombra (!!!), que não pode ser atingida e muito menos ferida pelos inimigos, mas ao mesmo tempo desfere golpes bem sólidos contra eles!


Sucedem-se perseguições de carro, traições, alguma sacanagem bem light e muito papo furado. Mas incrivelmente, para um filme que se pretende aventura de artes marciais (e legítimo "brucesploitation"), as lutas são poucas e muito mal dirigidas, de forma que LA SOMBRA DEL JUDOKA... será uma experiência realmente penosa para quem for assistir em busca de ação.

O quesito nudez feminina é garantido com as participações de Lina Romay e de María del Carmen Nieto, aqui usando o pseudônimo "Lia Kaplan" (e não seu tradicional "Mamie Kaplan"). Para quem não lembra, as duas moçoilas dividiram cenas também em "La Mansión de los Muertos Vivientes", entre outras produções dirigidas por Franco na época. María del Carmen interpreta uma assecla do Dr. Wong chamada "Ojos de Miel", que, obviamente, é enviada para seduzir o herói.


A melhor coisa de LA SOMBRA DEL JUDOKA..., e que garante algum interesse a esse filme tosquíssimo em todos os níveis, é a ideia do herói que pode usar a própria sombra para lutar em seu lugar.

Lá pelas tantas, aparecem uns flashbacks (que são cenas tiradas de um outro filme oriental, esse não-identificado) com um velho mestre ensinando Bruce a usar esse poder sobrenatural: "Com a meditação, você pode dominar a matéria com o poder da mente. Concentrando o seu espírito, você pode dar vida à sua sombra".


Não sei exatamente o que Jess havia tomado (ou fumado) quando inventou isso, mas é uma ideia absurdamente genial, principalmente pelo ridículo da coisa toda: ver "atores" adultos tentando bater numa sombra refletida na parede, e fingindo que apanham dela, é algo tão inacreditável quanto hilário!

Pena que o poder de Bruce seja sub-aproveitado. Um sujeito que consegue usar a sombra para bater nos inimigos seria virtualmente invencível (já que os rivais não conseguem "ferir" a sombra), mas o herói só utiliza este dom duas vezes ao longo do filme. E, quando não o faz, apanha que nem cachorro dos inimigos! Numa das cenas de arquivo tiradas de outro lugar, o tal mestre diz para Bruce usar seu poder apenas em último caso, e isso teoricamente justifica o seu uso esporádico. Então tá...


Como já foi dito (escrito), o "Bruce Lyn" de Franco não sabia lutar porcaria nenhuma, e portanto todas as cenas em que ele "luta" por conta própria, sem apelar para a sombra, são de chorar de tão ruins. Ciente das limitações, o diretor preferiu filmar lutas rápidas, que mal duram o som de um "Iááááá!" do verdadeiro Bruce Lee - ou, como li em uma resenha menos elegante em espanhol, "as lutas duram o som de um peido".

O problema é que, na pós-produção, Franco triplicou o tempo de duração dessas lutas rápidas ao colocá-las em câmera lentíssima, embora elas não sejam nem emocionantes, nem bem coreografadas para merecer esse tratamento! Vá entender...


Se o pobre José Llamas não luta nada, tampouco o fazem os figurantes que "interpretam" os capangas do Dr. Wong. Até porque, segundo algumas resenhas, estes figurantes teriam sido recrutados em restaurantes chineses da Espanha (!!!), e só estão no filme porque têm os olhinhos puxados, e não exatamente por seus dons como lutadores.

Os únicos momentos em que LA SOMBRA DEL JUDOKA... apresenta algo minimamente parecido com artes marciais são nas cenas dos filmes orientais pirateadas por Franco. O problema é que esta inserção foi feita sem muito critério: lá pelas tantas, atores orientais aparecem se espancando sem que se saiba quem são ou por que motivo estão brigando, e depois desaparecem da narrativa sem cerimônia, simplesmente porque fazem parte de outro filme (e tenho certeza que, lá neste outro filme, eles tinham algum bom motivo para lutar!).


A exemplo do que Godfrey Ho fazia em Hong-Kong, Jess pegou diversas cenas com a atriz Lingfeng Shangguan em "Seven to One" (acima) e transformou-a em "Tai Lin", suposto contato de Bruce em Hong-Kong na nova história que escreveu. Claro que os dois personagens nunca chegam a contracenar, pois obviamente não fazem parte do mesmo filme.

Mesmo assim, graças à magia da edição e da redublagem, Tai Lin aparece em vários momentos da trama "observando" Bruce ou lamentando a morte de uma outra personagem do filme de Franco! Como eu sempre digo também sobre os filmes de Godfrey Ho e Bruno Mattei, estas picaretagens todas deveriam ter exibição obrigatória em faculdades de cinema, para ensinar aos alunos o verdadeiro poder da edição.


Inclusive o momento mais escalafobético de LA SOMBRA DEL JUDOKA..., e o mais belo exemplo do citado poder da edição, ocorre quando Llamas, nas cenas gravadas por Franco, "luta" com um oriental anônimo em cenas tiradas de outro filme produzido lá em Hong-Kong!!!

É uma daquelas coisas que só vendo para crer (abaixo), porque Llamas "luta" desferindo golpes diretamente contra a câmera no plano, e então a edição corta para o contraplano do tal ator oriental de outro filme "levando" os golpes desferidos por alguém que nem está na mesma produção! Se isso não é o que chamam de "magia do cinema", eu sinceramente não sei o que é...


No fim, a melhor coisa de LA SOMBRA DEL JUDOKA... (além da ideia da sombra que luta no lugar do corpo físico do herói, claro) é a cara-de-pau do pôster de cinema, que traz um desenho do verdadeiro Bruce Lee vestindo seu lendário macacão amarelo dos tempos de "O Jogo da Morte"! Se eu tivesse visto esse pôster na porta de um cinema na época, não pensaria duas vezes em ver o filme.

O resto é muito ruim, mesmo para os (baixos) padrões de Franco nesta época. Ressalte-se, entretanto, que a cópia assistida é realmente sofrível e não permite avaliar decentemente o filme. Talvez ele pareça melhor com imagem e som decentes, como muito western spaghetti que eu vi em cópias ruins nos tempos do VHS e depois me surpreendi ao rever em versões decentes em DVD. Por isso, se um dia aparecer alguma cópia boa desta tranqueira, eu me comprometo a reassistir e rever meu veredicto.


Mas e quanto ao Dr. Wong? Bem, o vilão escapa na conclusão do filme sem sofrer um único arranhão, com direito a ameaça: "O mundo ainda ouvirá falar do Dr. Wong. E muito!". Sabe-se lá se Jess realmente tinha a intenção de fazer novas aventuras com ele ou se quis apenas usar o típico clichê do "vilão que promete voltar para a vingança".

Demorou um pouco, mas o vilão realmente voltou, e mais uma vez interpretado por Franco, no terrível em todos os sentidos "Dr. Wong's Virtual Hell", em 1999, uma das muitas porcarias que o diretor fez na sua fase vale-tudo, quando filmava direto em vídeo digital e sem orçamento. Triste fim para o pobre Dr. Wong...


Já José Llamas, ou "Bruce Lyn", não teve muito futuro como clone de Bruce Lee depois de LA SOMBRA DEL JUDOKA... Não sem motivo, este é o seu único trabalho como "lutador de artes marciais". Depois de mais alguns filmes "normais", Llamas acabou virando ator pornô, aparecendo inclusive em algumas obras para o público adulto dirigidas em parceria por Jess Franco e Lina Romay!

Adotando um novo nome artístico, Pepito Tiésez, o ator estrelou títulos como "Las Chuponas" e "El Ojete de Lulú" (sendo que "Ojete", para quem não sabe, é uma palavra de baixo calão em espanhol para o orifício anal). Depois de algum tempo fazendo essas produções adultas, Llamas sumiu do mapa. Somente muitos anos depois descobriu-se que ele tinha morrido por complicações decorrentes da Aids, em data desconhecida (provavelmente ainda no final dos anos 1980).

Triste fim para o Bruce Lee espanhol, que certamente foi mais convincente fazendo amor como "Pepito Tiésez" do que fazendo guerra como "Bruce Lyn"..



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La Sombra del Judoka Contra el Dr. Wong
(1984, Espanha)

Direção: Jess Franco (aka Clifford Brown)
Elenco: José Llamas (aka Bruce Lyn), Jess Franco,
Lina Romay, María del Carmen Nieto (aka Lia Kaplan)

e Lingfeng Shangguan (em cenas de outro filme).

quarta-feira, 15 de abril de 2009

OS CLONES DE BRUCE LEE (1977)


A carreira cinematográfica do astro chinês Bruce Lee foi relativamente curta, se começarmos a contar da sua primeira aparição com papel principal na tela grande (em "O Dragão Chinês", de 1971) até sua morte prematura em 1973. A bem da verdade, ele só participou de quatro filmes completos ("O Dragão Chinês", "A Fúria do Dragão", "O Vôo do Dragão" e "Operação Dragão"), e filmou uns 15 minutos de outro antes de bater as botas (este foi completado com a ajuda de dublês após sua morte, transformando-se em "O Jogo da Morte").

Mas Bruce Lee é um daqueles casos raros em que a lenda é maior que o homem. Só isso pode explicar a existência de pelo menos 48 filmes com "Bruce Lee" no título, sabendo-se que ele atuou oficialmente em apenas quatro - ou cinco, com muita boa vontade.

Nos primórdios do FILMES PARA DOIDOS, eu resenhei uma pérola trash chamada "Bruce Lee Fights Back From the Grave", e lá expliquei sobre a brucesploitation, a exploração da fama do falecido Bruce Lee em uma série de filmes bagaceiros estrelados por sósias do astro, apropriadamente batizados como Bruce Le ou Bruce Li. Estes filmes normalmente eram vendidos como produções estreladas pelo verdadeiro Bruce Lee. Além de sem-vergonhice da grossa, a tática era inquestionavelmente mórbida: imagine família e amigos do falecido ator sendo obrigados a engolir filmes como "The Death of Bruce Lee", que inclusive trazia uma foto do verdadeiro cadáver do ator, feita no seu funeral, num canto do cartaz de cinema!!!


Porém o golpe mais apelativo da brucesploitation foi uma preciosidade inestimável chamada OS CLONES DE BRUCE LEE (que no Brasil ainda recebeu o subtítulo "As Réplicas Mortíferas" na época de seu lançamento em VHS). Entre todos os "elogios" que já escreveram sobre o filme, estão frases como "o Monte Rushmore da brucesploitation" ou "o 'Plan 9 From Outer Space' dos filmes de ação de Hong-Kong". Acredite: todos estes "elogios" são merecidos: o "filme" é tão ruim, tão mal-feito, tão tosco, tão apelativo, tão cretino em todos os níveis que acaba se tornando engraçado. Isso, claro, se você for um apreciador de FILMES PARA DOIDOS. Caso contrário, assisti-lo será tão divertido quanto fazer uma colonoscopia com arame farpado. Nem o Uwe Boll se esforçando muito conseguiria fazer algo tão ruim.

OS CLONES DE BRUCE LEE foi cometido pelo diretor Joseph Velasco (com o pseudônimo "Joseph Kong") e pelo produtor norte-americano Dick Randall em 1977, com a intenção de faturar uns cobres no auge da brucesploitation, até porque o mercado de filmes de pancadaria made in Hong-Kong estava dando bastante dinheiro no Ocidente. Velasco já havia dirigido ele mesmo alguns filmes para aproveitar o filão, como "Bruce's Deadly Fingers", de 1976, e "Ninja Versus Bruce Lee/Return of Bruce", de 1977, ambos estrelados por Bruce Le, um dos muitos imitadores de Bruce Lee.

Este aqui, como o título já denuncia, é uma pérola da apelação, pois Bruce Lee e sua morte são citados abertamente o tempo inteiro. Além disso, o filme parte de uma idéia que não deixa de ser genial: juntar numa única produção quatro imitadores do falecido astro - Dragon Lee (aka Vyachaslev Yaksysnyi), Bruce Le (aka Kin Lung Huang), Bruce Lai (aka Chang Yi Tao) e Bruce Thai (aka ???????).


Os primeiros cinco minutos de OS CLONES DE BRUCE LEE são, ao mesmo tempo, uma aula de cinema exploitation e trash: um sósia de Bruce Lee é levado à UTI de um hospital chinês, já à beira da morte - e no caminho todas as enfermeiras suspiram coisas do tipo: "Ai meu Deus, é o Bruce Lee", para não deixar dúvidas no espectador. Em poucos minutos, provavelmente graças à inexperiência dos médicos, o pobre Bruce acaba morrendo. Era esperado, dadas as condições da UTI em que foi operado: vamos dizer apenas que a sala de cirurgia tem janelas (!!!), e com os vidros abertos ainda por cima, e não há nem mesmo um monitor de freqüência cardíaca, pois o médico escuta os batimentos do coração de Bruce Lee com um simples estetoscópio!!!! Será que o pobre coitado foi atendido pelo SUS?

Eis que surge em cena o agente Collins, do SBI (Special Branch of Investigation, olha a inteligência do roteiro!), que convoca um cientista, o Prof. Lucas, para encontrá-lo no hospital onde "Bruce Lee" acabou de morrer. Pois sem qualquer autorização da equipe médica ou da família do falecido astro, o cientista retira uma amostra de sangue e células do cadáver para, vejam só, construir clones de Bruce Lee, já que o SBI pretende utilizar estas cópias do mestre das artes marciais como agentes secretos em missões perigosas ao redor do mundo.


Calma lá, calma lá: que sentido faz clonar um conhecido e popularíssimo astro de cinema como Bruce Lee para usar como AGENTE SECRETO? Bom, claro que isso acaba não fazendo muita diferença no filme, até porque os "clones" não saem assim tão parecidos com o verdadeiro Lee (o único que tem certa semelhança física é Dragon Lee). Onde já se viu clone sair diferente do original? Ah, deixa pra lá...

Além disso, em nenhum momento do filme qualquer um dos vilões desconfia estar diante de uma cópia de Bruce Lee, mesmo quando um dos clones é mandado para se infiltrar secretamente... num estúdio de cinema que está produzindo um filme de artes marciais!!!



Prontos os clones, que atendem pelos criativos nomes de Bruce Lee One (Dragon Lee), Bruce Lee Two (Bruce Le) e Bruce Lee Three (Bruce Lai, o menos parecido do trio), o cientista faz com que eles passem por uma bateria de treinamentos de artes marciais, para poderem lutar como o Bruce Lee original. E isso inclui aulas com Bolo Yeung, que foi aluno do verdadeiro Lee e chegou a lutar contra ele no filme "Operação Dragão".

Após o treinamento, os clones são enviados para missões que soam como episódios curtos dentro do filme. Bruce Lee One é o tal enviado como agente secreto para um estúdio de Hong-Kong, onde deve investigar um produtor chamado Chai Lo, que nas horas vagas é traficante de ouro. Lo acaba suspeitando do novato e pede que seus capangas dêem um fim nele. O diretor do filme dentro do filme sugere matá-lo diante das câmeras para depois faturar horrores de bilheteria - morbidamente, o filho do verdadeiro Bruce, Brandon Lee, morreu em frente às câmeras durante as filmagens de "O Corvo", nos anos 90! Mas é claro que Bruce Lee One está preparado e, após detonar todos os assassinos, acaba pessoalmente com Chai Lo, justo quando ele estava fugindo com seu ouro (um monte de tijolos comuns porcamente pintados com tinta dourada).

Corta para a segunda missão, agora com Bruce Lees Two e Three lutando juntos contra um cientista malvado chamado Dr. Nye (Dr. No, alguém?), que não apenas tem um harém particular de mulheres nuas, como ainda pretende dominar o mundo (começando pela Tailândia!!!) usando sua fórmula que transforma homens comuns em lutadores indestrutíveis feitos de bronze (no caso, um monte de figurantes de sunguinha e o corpo coberto com a tinta dourada que sobrou da pintura dos tijolos do segmento anterior).


Para ajudar os dois clones, entra em cena um outro agente do SBI chamado Chuck, que é interpretado também por um imitador de Bruce Lee, Bruce Thai. E, embora ele não apareça oficialmente como clone no filme, ironicamente o cara é o MAIS PARECIDO com o verdadeiro Bruce Lee dos quatro! Dá pra acreditar?

Este segmento é de longe o mais trash do filme inteiro. Os homens-bronze indestrutíveis têm como único ponto fraco a ingestão de uma erva venenosa, que os heróis precisam enfiar na goela deles, rendendo cenas constrangedoras como estas aí embaixo:



Como os tais homens de bronze são apenas uns manés pintados com tinta dourada, os Bruces também acabam com as mãos e braços dourados a cada golpe que dão neles! E há uma cena sem qualquer fundamento em que Bruce Lai e Bruce Thai vão à praia de sunguinha apenas para encontrar um grupo de garotas completamente peladas, que não faz nada além de passar bronzeador no corpo em close! O termo "nudez gratuita" nunca caiu tão bem...

E eis que OS CLONES DE BRUCE LEE termina com o Prof. Lucas ficando maluco e sonhando ele próprio com a dominação mundial, no que é o terceiro e último segmento do filme. Para concretizar seu plano, e vá entender o porquê disso, o cientista resolve escolher o mais forte dos três clones para ser seu capanga, ao invés de usar o trio completo, e acaba mandando os Bruces lutarem entre si até a morte. É o ponto alto do filme: a oportunidade de conferir três imitadores de Bruce Lee, cada um com suas próprias características de luta, trocando porradas! Definitivamente, algo que não se vê todo dia...


Infelizmente, como filme de artes marciais, OS CLONES DE BRUCE LEE é bem fraquinho. As lutas se resumem ao tradicional "bate-bloqueia-bate", e após as duas ou três primeiras pancadarias o repeteco perde toda a graça. E olha que é um festival de surras e porradas: há uma luta a praticamente cada cinco minutos! Claro que a história poderia ter ficado interessante se enfocasse detalhes como a forma de pensar e o sentimentos dos clones. Exemplo: Como eles se sentem sendo cópias de um astro morto? Quanto das memórias de Bruce Lee eles tinham, se foram obrigados a reaprender a lutar? Mas é óbvio que não era esta a proposta do filme.

Assim, o melhor de tudo é o clima trash dessa aventura pobre e tosca. Começa com os supostos clones, que tentam imitar Lee nos mínimos detalhes, dos gritinhos afeminados durante as lutas ao cacoete que Bruce tinha de ficar coçando o nariz enquanto provocava os rivais. Também tem uma cena impagável em que três imitadores do astro (Bruce Le, Bruce Lai e Bruce Thai) aparecem em cena juntos usando óculos escuros de modelo igual ao do verdadeiro Bruce, o que só serve para confundir mais o espectador, que não sabe quem é quem. Isso sem contar os erros à la Bruno Mattei. Lá pelas tantas, por exemplo, uma mulher completamente nua puxa uma faca do nada para atacar um dos clones. Agora eu me pergunto: de onde ela tirou essa faca? (E a provável resposta chega a me dar arrepios...)



Já a pobreza franciscana da produção e da direção, com cenários horríveis e objetos de cena idem (o "laboratório" onde são criados os clones consegue ser pior que qualquer cenário já elaborado por Ed Wood), é uma atração à parte. Tanto que o filme termina abruptamente, sem qualquer desfecho para a trama e sem sequer ter créditos finais (vai ver faltou grana na finaleira da produção).

Assim, ficamos sem saber o que foi feito dos clones de Bruce Lee: será que continuaram trabalhando como agentes secretos para o SBI ou abandonaram a vida de 007 para seguir carreira como astros de cinema, na ausência do verdadeiro Bruce?

A julgar pela quantidade de filmes brucesploitation que todos eles ainda estrelariam, imagino qual é a resposta para esta pergunta...

Trailer de OS CLONES DE BRUCE LEE


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The Clones of Bruce Lee (1977, Hong-Kong)
Direção: Joseph Kong (Joseph Velasco)
Elenco: Bruce Le, Dragon Lee, Bruce Lai,
Bruce Thai, Jon T. Benn, Tao Chiang,
Siu-Lung Leung e Bolo Yeung.



A pedidos, a morte de Bolo Yeung

sábado, 18 de outubro de 2008

BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE (1976)


Não, você não leu errado: o nome deste filme de 1976 é realmente "Bruce Lee Lutando de Volta do Túmulo", e fico só imaginando a reação dos familiares do verdadeiro Bruce Lee, falecido em julho de 1973, ao verem pipocar produções mórbidas como esta e "Os Clones de Bruce Lee" (aquele em que sangue retirado do cadáver do ator é usado para criar cópias programadas para combater o mal). Mas se "Os Clones..." pelo menos citava abertamente o ator, BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE simplesmente tem título e argumento completamente mentirosos, numa estratégia "pega-bobo" criada pela distribuidora norte-americana do filme para promovê-lo e aproveitar a onda chamada "Brucesploitation".

Este bizarro subgênero (que merecia no mínimo um livro caprichado) surgiu na metade dos anos 70, um pouco antes e logo depois da morte do verdadeiro Bruce Lee, quando outros atores orientais passaram a se auto-atribuir nomes semelhantes ao do astro para tentar enganar o público norte-americano, então ávido pelas aventuras baratas vindas de Hong-Kong. Embora o verdadeiro Lee só tenha feito quatro filmes completos (cinco, se contarmos "O Jogo da Morte", que só foi completado em 1978), seu legado de filmes de ação continuou através dos socos e chutes de outros atores, como Ho Tsung-tao (rebatizado "Bruce Li"), Huang Kin-lung (rebatizado "Bruce Le"), Leung Siu-lung (rebatizado "Bruce Liang") e Vyachaslev Yaksysnyi (rebatizado "Dragon Lee"), entre outros.

Em BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE, o clone da vez é Jun Chong, um campeão de taekwondo que, com a morte de Bruce Lee, passou a usar o nome artístico "Bruce K. L. Lea" (cruz-credo!). Só que a única semelhança entre Bruce K. L. Lea e Bruce Lee é o fato de ambos terem o cabelo preto - e, claro, dois olhos, um nariz, uma boca, duas orelhas... De resto, não há nada de "imitador de Bruce Lee" em Lea além da pretensão.

Bem, a história desta produção bizarra é igualmente bizarra: o filme é uma co-produção entre Hong-Kong e Coréia do Sul que, originalmente, não citava o nome de Bruce Lee, apesar de ser estrelada por um dos seus muitos imitadores. O título original era "America Bangmungaeg", e não vá me perguntar o que isso significa. Como nos EUA da época havia a febre dos cinemas grindhouse, que exibiam qualquer tosquice para uma platéia ávida por filmes de baixa ou nenhuma qualidade, a distribuidora norte-americana Aquarius resolveu faturar em cima da "Brucesploitation": comprou os direitos de exibição de "America Bangmungaeg" e mudou o nome para o enganoso e antológico BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE.

Mas foi além: criou um pôster com o desenho de Bruce Lee saindo do túmulo e a frase "You can't keep a good man down". Também mandou para os cinemas um trailer completamente apelativo narrando "o retorno de Bruce Lee do túmulo" após um pacto com o "Anjo Negro da Morte". Durante a colagem com as cenas de luta do filme, o narrador do trailer anunciava, com sua voz cavernosa: "Ele nunca morreu... Ele voltou do túmulo em busca de vingança"! Pode?

Só que aí os caras deram um tiro no próprio pé. Afinal, o tal filme que compraram não mostrava Bruce Lee voltando do túmulo, nem com muita boa vontade. A solução encontrada foi filmar um prólogo que não estava na montagem original, com apenas 20 segundos, num cemitério de Los Angeles. A câmera dá um close numa lápide onde lê-se "Bruce Lee 1940-1972" (perceba que erraram até a data da morte), e então, entre raios e trovões, um baixinho sem camisa sai pulando de dentro da sepultura e fica em posição de combate! Pronto: entra o título BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE , e o filme continua como havia sido anteriormente filmado. Aí o espectador precisa "imaginar" que o personagem de Bruce Lea na trama é o Bruce Lee ressuscitado. Dá pra acreditar?

Detalhe: quer dizer então que Bruce Lee foi sepultado sem caixão, sem camisa e vestindo apenas uma calça jeans?

Bruce Lee volta do túmulo



Resolvido o problema com a questão da propaganda enganosa (boatos dão conta de que este prólogo capenga de 22 segundos teria sido filmado pelo italiano Umberto Lenzi, informação nunca confirmada), o filme continua conforme foi feito pelo diretor coreano Doo-Yong Lee, sem zumbis de Bruce Lee e sem túmulos.

A trama acompanha Bruce Lea chegando em Los Angeles à procura de um amigo de infância, Go Ha Han. Após dar cabo de um taxista ladrão de passageiros (numa das muitas cenas ridículas desta obra-prima), Lea chega até o prédio onde o amigo morava e descobre que estão fazendo seu funeral. Aparentemente, o coitado suicidou-se ao se atirar do telhado do prédio.

Mas é claro que Lea logo suspeita que tem sujeira da grossa no esquema. E, sempre carregando amarrada ao pescoço uma caixa de madeira com os restos mortais do falecido cremado (!!!), ele circula pela cidade em busca dos possíveis responsáveis pela morte do amigo.

Após salvar uma conhecida de Han, Susan (a gatinha e futura scream queen Deborah Chaplin), de ser estuprada por um gigante sem camisa num estacionamento (!!!), o casal une forças para investigar o misterioso "suicídio". Logo descobrem uma complicada trama envolvendo tráfico de drogas e os chefões do crime de Chinatown.

Escrevendo assim, até parece que há uma história para acompanhar. Acredite: NÃO HÁ! O roteiro de Chee Do Hong (este é, compreensivelmente, seu único crédito) é uma verdadeira zona, que apenas vai pulando de uma cena de luta para outra sem explicação.

Logo no começo, por exemplo, Lea é atacado por um negro enorme vestido com capa (parece o Batman!) e segurando um machado numa das mãos. Sem se justificar, o negão sai dando porrada no herói, que se defende dando uns gritinhos ridículos (imitando o verdadeiro Lee, mas de maneira muito exagerada e cômica). Resultado: o bandido de capa é morto a socos e chutes.

Bruce Lea versus Batman!



Corta então para Lea preso e ouvindo a maior mijada dos policiais. "Você vai fritar, cara!", ameaça um deles. Subitamente, alguém telefona para o delegado avisando que a fiança de Lea está paga, e o herói simplesmente sai da delegacia como se nada tivesse acontecido! Nada mal para quem estava quase condenado à pena de morte, não? Antes, porém, ele ainda dispara uma pílula de sabedoria oriental: "Ah... Uma súbita mudança de sorte no esquema dos fatos!". hahahahaha

Mais adiante, Lea e Susan estão andando de carro por Chinatown e o herói pede para a garota estacionar. Ele então se aproxima do primeiro cara que vê parado na calçada, lhe dá uma bofetada no rosto e ordena: "Me leve para o seu chefe!". E o sujeito obedece, levando Lea até o esconderijo de um poderoso chefão do crime. O herói sai na porrada com o sujeito e, quando este vai abrir o bico para falar a verdade sobre o que aconteceu a Han, é atingido mortalmente por uma estrelinha ninja. Agora, cá entre nós: que técnicas investigativas Lea utilizou para descobrir que o cara estava metido no esquema? E mais: por que o assassino silencioso não matou também o herói, para impedir que ele continuasse investigando?

O filme ainda inclui dezenas de cenas sem nexo, como aquela em que Lea e Susan vão comprar um carro (!!!), ou a aparição de um sujeito inexplicavelmente vestido de cowboy (!!!), acompanhado por um lutador de luta livre (!!!). No fim, descobre-se que Go Ha Han é o grande vilão. Ele simulou a própria morte para poder escapar com um milhão de dólares em heroína que pertenciam à quadrilha para quem trabalhava. A muamba, como você já deve ter desconfiado, está escondida naquela caixa de madeira com os supostos "restos cremados" do falecido, e que Lea ficou levando para lá e para cá o filme inteiro. Assim, tudo termina na tradicional luta final entre vilão e mocinho.

Sou só eu, ou mais alguém viu o roteiro como uma versão tosca do clássico "O Terceiro Homem", de Carol Reed?

BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE é um daqueles filmes magneticamente ruins, onde a coisa é tão tosca e absurda que você não consegue desgrudar os olhos da telinha da TV. Como filme de ação, pelo menos, é nota zero: sonolento, mal-feito e desnecessariamente confuso. Mas, como comédia involuntária, é tão engraçado quanto as produções de Al Adamson e David A. Prior. Ah, também tem uma pequena participação de Shô Kosugi (dos clássicos "Ninja - A Máquina Assassina" e "Ninja 3 - A Dominação") antes da fama.

O diretor Lee não tem qualquer noção de narrativa. Tudo acontece ao acaso no filme, os bandidos surgem do nada ou são encontrados acidentalmente pelo herói, a "investigação" é bisonha e até o grande vilão precisa se desmascarar, porque o herói não é capaz de descobrir nada do mistério por conta própria. E há ainda ridículos erros de continuidade, do tipo personagens que estavam num jóquei-clube aparecendo misteriosamente dentro de uma casa, ou o herói e um vilão se encontrando num estacionamento e subitamente trocando porradas num ringue de boxe (!!!).

Lá pelas tantas, numa das muitas cenas completamente cretinas, Lea tem o carro roubado e precisa ir a pé até um encontro com Susan. No caminho, topa com um desfile de carros alegóricos e fica assistindo em meio ao multidão. Acredite se quiser, mas a cena dura uns 5 minutos: a equipe realmente filmou um VERDADEIRO desfile de carros alegóricos, e intercalou cenas do evento com closes de Bruce Lea olhando aquilo com cara de maravilhado. Detalhe: sempre que a câmera filma a multidão, aparece alguém fazendo tchauzinho! De rolar de rir!

Bruce Lea versus taxista!



Não bastasse os atores orientais serem porcamente dublados em inglês - principalmente Lea; toda vez que ele abre a boca, é um festival de gargalhadas -, o tal "imitador de Bruce Lee" não funciona nem fisicamente, nem lutando. Isso porque o sujeito simplesmente não consegue lutar, e, para piorar, ele próprio é o coreógrafo das cenas de pancadaria.

Pelo menos duas delas foram filmadas com os atores fazendo os movimentos lentamente, e depois as cenas foram aceleradas na edição (percebe-se claramente, e aí a coisa fica ainda mais trash). E em todas as demais trocas de sopapos, as mãos e pés de Bruce Lea passam tão longe do rosto dos adversários que eles só podem estar caindo estatelados de susto, ou pelo atrito do deslocamento de ar entre punhos e face.

Ah, sim: TODA luta termina com um "replay" em câmera lenta do último e melhor golpe, aquele que nocauteia o vilão (e resta saber porque Lea não dá este golpe por primeiro... hehehe), como se fosse um jogo de fliperama!!! Pena que, em câmera lenta, fica ainda mais evidente o fato dos golpes passarem dois metros longe do "alvo".

BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE foi lançado no Brasil num DVD tão tosco quanto o filme, pelo selo Kives (uma "subsidiária" dos pirateiros da Works Editora). A matriz parece ter sido uma velha e gasta fita cassete dublada em inglês, o que só dá mais ar de grindhouse para o programa. O título em português é tão enganador quanto o norte-americano ("Bruce Lee - A Marca do Dragão"), e o resumo no verso da capinha é aquela mesma mentira anunciada no trailer, falando sobre a ressurreição de Bruce Lee para enfrentar o Grande Anjo Negro da Morte. A não ser que alguém me convença de que o negão vestido como Batman que aparece no início é o tal "Grande Anjo Negro da Morte", não existe nada disso no filme.

Então, sem túmulos, Bruce Lee-zumbi ou retorno da morte, BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE é apenas uma tosquice, uma enganação, que só recomendo aos fãs de cinema ruim e apelativo. Visto com este espírito, é de morrer de rir. O único que não deve ter achado graça é o verdadeiro Bruce Lee. Mas como ele nunca lutou de volta do túmulo, azar o dele!

Trailer de BRUCE LEE FIGHTS BACK FROM THE GRAVE



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America Bangmungaeg (1976, Hong-Kong/Coréia do Sul)
Direção: Doo-yong Lee e Umberto Lenzi (?)
Elenco: Bruce K. L. Lea (Jun Chong), Sarah
Chaplin, Debby Tebora, Su-cheon Bae, Anthony
Bronson e Mun-ju Kim