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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

FAR CRY (2008)


O diretor alemão Uwe Boll entrou para a história do cinema ruim pelas suas péssimas adaptações de jogos de videogame para a telona, como "House of the Dead" e "Alone in the Dark". E não aprendeu a lição, já que continuou fazendo filmes baseados em games ("Bloodrayne", "Dungeon Siege/Em Nome do Rei", "Postal") cujos roteiros têm pouco ou nada a ver com os jogos em questão. Isso rendeu até uma "piada interna" em "Postal", que mostra Uwe Boll, como ele mesmo, declarando que odeia videogames, pouco depois de ser atacado pelo próprio criador do jogo "Postal", furioso com o cineasta pelo que foi feito com sua obra!

Mas justiça seja feita: tenho 30 anos na cara e não consigo lembrar de uma adaptação cinematográfica de jogo de videogame que possa ser considerada interessante ou pelo menos fiel ao material em que se inspira, de "Resident Evil" a "Super Mario", de "Max Payne" a... argh!, "Street Fighter - A Última Ameaça". Talvez só o "Terror em Silent Hill", de Christopher Gans, tenha ficado acima da média, mas tem pouquíssimo a ver com o jogo, e seus pontos positivos são mais méritos do cineasta do que do game.


Voltemos a Boll: embora ele tenha se saído bem melhor com suas obras não-baseadas em games, como "Tunnel Rats" e "Heart of America", continua desovando filmes ligeiramente inspirados em jogos todo ano, até porque considera economicamente viável para um produtor independente explorar títulos conhecidos, como estes dos games, conforme ele explicou no ótimo documentário "Visiting Uwe".

E isso nos leva a FAR CRY, que por enquanto é a mais recente obra baseada em videogames dirigida por Boll. Como todos os outros "filmes de videogame" do cineasta alemão, este também toma muitas liberdades poéticas em relação à fonte, mas mesmo assim é o mais parecido com o jogo que o diretor já conseguiu fazer.

"Far Cry", o jogo, saiu em 2004 e fez relativo sucesso. É um daqueles games de tiro em primeira pessoa, cujo herói é um ex-militar chamado Jack Carver. Depois de levar uma jornalista investigativa até uma ilha tropical na Micronesia, Carver é atacado, tem seu barco explodido e precisa investigar por conta própria o que está acontecendo no lugar. À medida que o jogo avança, descobre que um cientista maluco, o dr. Krieger, criou um raça de mutantes para agirem como super-soldados.


No filme, alguns elementos se mantêm, embora bastante modificados: a ilha não é mais tropical, os super-soldados não são monstros mutantes, e sim "super-homens" com força amplificada e resistentes a tiros, e a jornalista vai à ilha não atrás de um furo de reportagem, mas para investigar o paradeiro do seu irmão, uma das cobaias utilizadas pelo cientista.

Além disso, se no jogo em primeira pessoa era você, como jogador, comandando o personagem principal, sozinhos contra todo o resto, no filme o herói já conta com a ajuda da tal jornalista, Valerie Cardinal (Emmanuelle Vaugier, de "House of the Dead 2"), e do tradicional alívio cômico, um gordo sem graça chamado Emilio (Chris Coppola, de "Shadow"), que consegue ser um parceiro pior e mais chato que Joe Pesci nos "Máquina Mortífera" ou do que o abominável Rob Schneider em "O Juiz" e "Golpe Fulminante".


Já Jack Carver é interpretado pelo ator alemão Til Schweiger, que está na ativa desde 2001 (apareceu até no segundo "Tomb Raider", outra bomba baseada em videogame), mas só conseguiu destaque este ano ao interpretar o sargento Hugo Stiglitz de maneira brilhante em "Bastardos Inglórios". E como faz diferença um bom diretor: em FAR CRY, dirigido sem muita noção por Boll, Schweiger está tão mau como herói de ação (e com um sotaque atroz) que eu jamais imaginaria ver o sujeito quase roubando a cena apenas um ano depois no filme de guerra do Tarantino.

Outro ponto positivo de FAR CRY, o filme, é o intérprete do cientista louco: ninguém menos que o alemão Udo Kier, que parece estar se divertindo muito ao adicionar mais um vilão para a sua carreira de cinema B. E já que estamos falando em "cinema B", o elenco traz ainda pequenas participações de Michael Paré e Ralf Moeller, atores-fetiche de Boll.


O grande problema é que FAR CRY é um produto deslocado de sua época, uma aventura classe B com todos (e digo todos MESMO) clichês do gênero, do herói ex-Forças Especiais transformado em alcoólatra ranzinza à mocinha que é jornalista abelhuda, passando pelo cientista louco (alemão, lógico) estilo dr. Moreau, e sem faltar nem mesmo o parceiro engraçadinho do herói para servir como alívio cômico.

"Deslocado de sua época" porque, embora seja produção de 2008, tem cara daqueles filmecos produzidos pela Cannon nos anos 80 e pela Nu Image nos anos 90, direto para o mercado das videolocadoras, e trazendo como astros aqueles galãs nem de segunda, mas de terceira linha. Se FAR CRY fosse feito 20 anos atrás, por exemplo, certamente teria Frank Zagarino ou Joe Lara no papel principal, e Martin Kove ou Richard Lynch no lugar do vilão.


No geral, este novo trabalho do alemão psicopata não foge do convencional; até já consigo visualizá-lo sendo exibido no Domingo Maior daqui uns anos. Boll segue fielmente a cartilha dos filmes de ação com pouca grana, sem inventar muito, e entrega tudo aquilo que o espectador espera ver: lutas, tiros, explosões, herói e vilão sem nenhuma profundidade, trama descomplicada e até uma pitadinha (bem inofensiva) de sexo.

E mulher bonita, claro: além de Emmanuelle, temos a gracinha polonesa Natalia Avelon interpretando uma malvada mercenária russa a serviço do vilão. As duas moças são um colírio para os olhos e compensam os muitos tempos-mortos do filme.


E embora seja rotineiro, FAR CRY pelo menos diverte, trazendo inclusive aquelas bobagens típicas do cinema do alemão maluco, como o fato de a mocinha não saber o que é uma granada (e nem para o quê serve ou como funciona).

Por outro lado, também tem algumas boas cenas que comprovam que Boll está melhorando como diretor (ou pelo menos parece longe das suas cagadas tipo "House of the Dead").

O início, em que uma equipe de soldados é atacada pelos super-soldados de Krieger, é muito bem filmado, com direito a uma cena de gore estilo "Cubo", em que a cabeça de uma vítima é praticamente atravessada numa cerca; o "miolo" do filme é meia-boca, mas o final compensa com farta quantidade de lutas, tiros e explosões, quando os super-soldados escapam de suas celas e começam um massacre na ilha, com direito a mais gore, incluindo um sujeito sendo partido ao meio por uma enorme serra circular.


Assim, posso recomendá-lo sem medo para os fãs de cinema de ação barato ou de filmes descerebrados movidos a tiros e explosões. Não é nenhuma maravilha e desaparece da memória em dois dias, mas em compensação não é uma atrocidade impossível de assistir, como outras adaptações de videogame, dirigidas por Uwe Boll ou não. Inclusive se tivesse sido dirigido na Itália nos anos 80, muita gente iria considerar um clássico nos dias de hoje.

Agora é esperar para ver "Bloodrayne 3" e "Zombie Massacre", novas adaptações cinematográficas de jogos de videogame que o famigerado cineasta alemão está prometendo para 2010 - no caso de "Zombie Massacre", ele já comentou que será uma mistura de Snake Plissken, personagem de Kurt Russell em "Fuga de Nova York", com zumbis.

Será que ele continuará "melhorando", ou vai voltar aos maus tempos de "House of the Dead" e "Alone in the Dark"? Bem, resta o consolo de que pior do que estes não tem como ficar. Ou será que tem?

Trailer de FAR CRY


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Far Cry (2008, Alemanha/Canadá)
Direção: Uwe Boll
Elenco: Til Schweiger, Emmanuelle Vaugier,
Udo Kier, Ralf Moeller, Michael Paré,
Chris Coppola e Natalia Avelon.

sábado, 12 de dezembro de 2009

VISITING UWE - THE UWE BOLL HOMESTORY (2008)


Preparem-se, amiguinhos! Este post de hoje traz uma produção que, como poucas, combina perfeitamente com o nome do blog: é um autêntico FILME PARA DOIDOS, não apenas "para", mas também "de" e "sobre" doidos. Afinal, como é possível levar a sério um documentário supostamente sério onde um sujeito conversa animadamente sobre cinema, durante uns bons 50 minutos em preto-e-branco, com aquele que é considerado um dos piores diretores de todos os tempos, o alemão Uwe Boll?

Caso você tenha vivido em Marte na última década, e nunca ouviu falar sobre o sr. Uwe Boll, saiba apenas que ele é um alemão metido a encrenqueiro e falastrão, que surgiu de lugar nenhum e, num piscar de olhos, já estava com toda a moral para torrar milhões de dólares em filmes horríveis com astros e estrelas de Hollywood - um fenômeno que ninguém soube explicar satisfatoriamente até hoje.


Depois de dirigir "House of the Dead" e "Alone in the Dark", duas abomináveis adaptações cinematográficas de videogames (que do game em questão só trazem o nome), Boll continuou prestando desserviços à sétima arte, escrevendo, produzindo e dirigindo filmes que ninguém quer ver, e fazendo atores de calibre pagarem o maior mico (entre eles, Ben Kingsley, Ray Liotta, Michael Madsen, Geraldine Chaplin e Burt Reynolds).

Claro que, após o choque inicial da ruindade de "House of the Dead" e "Alone in the Dark", todo mundo já sabe o que esperar do "cinema" de Boll, e suas obras posteriores passaram a ficar no mínimo divertidas ("Bloodrayne", por exemplo, é perfeitamente assistível, e seu recente "Tunnel Rats" é bem interessante). Mas ele parece longe de ter aprendido como se faz, e volta-e-meia solta uma nova bomba ("Seed - Assassino em Série") ou pérola do mau gosto (seu "Postal" é uma comédia que faz graça com morte de crianças e até com o 11 de Setembro!!!).


Apresentação feita, é hora de falar sobre o nosso filme em questão, VISITING UWE - THE UWE BOLL HOMESTORY, um inacreditável e excêntrico documentário em que o diretor-roteirista-apresentador de um programa alemão sobre cinema, Fabian Hübner, visita a casa-escritório do famigerado Uwe Boll, e passa o resto do tempo conversando com ele sobre a sétima arte.

E nada pode ser mais estranho, chocante até, do que ver um dos piores diretores da história comentando o trabalho de Orson Welles, Stanley Kubrick, William Wyler e John Ford - isso quando não está CRITICANDO Michealangelo Antonioni, Jean-Luc Godard e Andrei Tarkovsky!!! Parece algo tão esdrúxulo quanto ouvir a Banda Calypso comentando o trabalho de Mozart e Beethoven.

Se só por uma discussão inesperada como esta o filme já valeria a pena, eis que o documentário ainda se dedica a mostrar a casa e a intimidade do "célebre" cineasta alemão. Afinal, o título VISITING UWE não é acidental: a conversa sobre cinema é intercalada com cenas em que Boll mostra os aposentos do seu lar, fala sobre seu dia-a-dia ("A máquina de capuccino é a coisa mais importante da minha casa.") e brinca com seus cães, inclusive confessando que um deles fez "participações especiais" em quase todos os seus filmes!


E se só pela discussão inusitada sobre cinema, pela visita à casa de Boll e pelos detalhes do seu dia-a-dia o filme já valeria a pena, nem que seja como curiosidade mórbida, eis que temos ainda diversos momentos mágicos que apenas confirmam a personalidade bizarra (para não dizer completamente louca) do diretor alemão, e tornam este documentário não apenas inacreditável, mas também absolutamente imperdível.

Para começo de conversa, VISITING UWE já começa com um take do seu "homenageado" olhando diretamente para a câmera e se apresentando: "Olá. Eu sou Uwe Boll, o melhor cineasta do mundo". E, quando se trata de Boll, você nunca sabe se ele está ironizando (fazendo auto-sátira com a própria imagem de "pior diretor") ou falando sério. Até porque ele já comprovou, mais de uma vez, ter um parafuso a menos - quem em sã consciência desafiaria os críticos do seu trabalho para lutas de boxe?


Ao ser questionado se acha mais importante o Oscar ou a Palma de Ouro em Cannes, Boll responde com bom humor: "Não sei, nunca ganhei nenhum dos dois".

Mais adiante, o cineasta começa a lavar roupa suja "on camera" ao falar das dificuldades de trabalhar com atores como Ray Liotta e Michael Madsen, que ele salienta terem problemas "alcoólicos e psicológicos". Para fazer o contraponto, o documentário apresenta uma faixa de áudio com o próprio Madsen falando que Boll (com quem "trabalhou" em "Bloodrayne") é completamente louco e não sabe o que faz!


E a coisa só melhora: no momento mais impagável de VISITING UWE, o alemão maluco abre as baterias contra Michael Bay (diretor de "Transformers"), dizendo que ele torra milhões de dólares para fazer filmes medíocres (o que não deixa de ser verdade), e mesmo assim os estúdios parecem entregar fortunas de bandeja para ele.

Boll passa da crítica à agressão em poucos minutos, dizendo que Bay é um "cockhead" (intraduzível) e viciado em prostitutas. Outros xingamentos foram posteriormente editados para evitar processos judiciais. Não que o alemão esteja preocupado com esta possibilidade, como demonstra o diálogo abaixo.


Porém o mais interessante deste trabalho inusitado é que logo aquela figura que todo mundo aprendeu a odiar depois de filmes como "House of the Dead" e "Seed" acaba se transformando em um sujeito no mínimo simpático. Boll fala com entusiasmo sobre sua paixão pelo cinema, e é inegável que ele realmente GOSTA do que faz - além de ter um mínimo de conhecimento sobre o trabalho de mestres como Welles e Ford, embora obviamente não tenha aprendido NADA com eles!

Confesso até que achei interessante ouvir a opinião de um dos piores diretores de todos os tempos sobre filmes como "Kill Bill", "Gladiador" e "Onde os Fracos Não Têm Vez". E Boll ainda confessa que "Apocalypse Now" é o seu filme preferido.

Mesmo quem morre de ódio do alemão, ou o considera uma piada, deverá concordar com a maior parte do que ele fala, principalmente quando critica a indústria de cinema de Hollywood. Pois Boll cita outros dois cineastas alemães (Wolfgang Petersen e Roland Emerich) que, segundo ele, não conseguem fazer filmes com menos de 100 milhões de dólares, e reclama da forma como os estúdios investem pesado em marketing para fazer com que porcarias pareçam bons filmes (o que é inegável).


Boll também argumenta que a maior parte do público atual nunca ouviu falar de Fellini ou Godard, e que estes nomes não fazem a menor diferença para quem vai ao cinema ver "Transformers" (o que também não deixa de ser verdade).

Enfim, quando VISITING UWE termina, o documentário cumpre sua função de transformar o mítico Uwe Boll em uma figura mais humana e fácil de simpatizar. Você pode até continuar odiando bombas como "House of the Dead", mas certamente vai reconhecer que por traz delas existe um sujeito que não é bobo nem nada.

Inclusive me peguei perguntando se Boll não estaria fazendo estes filmes ruins baseados em videogames de propósito, já que costuma se sair melhor ao assinar trabalhos mais pessoais, tipo "Tunnel Rats" (e o recente "Rampage", cujo trailer promete um filmaço).


A grande crítica que pode ser feita a VISITING UWE é que o documentário não responde justamente a esta pergunta: Boll é ruim mesmo ou faz de propósito? O diretor Hübner, que entrevista Uwe durante os 50 minutos do filme, faz várias perguntas interessantes, mas se esquiva da responsabilidade de questionar o cineasta sobre a ruindade de muitas das suas obras.

Embora em certo trecho Boll confesse que não gosta da fama de "rei do trash", e nem da perseguição levada a cabo por críticos e espectadores (com movimentos como "Stop Boll", um abaixo-assinado com milhares de assinaturas pedindo que Uwe pare de dirigir filmes), Hübner jamais questiona seu entrevistado sobre a ruindade real e evidente de alguns dos seus trabalhos, preferindo sair pela tangente - talvez com medo da fama de esquentadinho que Uwe Boll vem alimentando há anos.

E por falar em fama de esquentadinho, depois de 50 minutos que retratam nosso amado Uwe como uma figura humana e boa-praça, VISITING UWE encerra com uma última cena que, tudo leva a crer, é "de mentirinha": Boll repentinamente muda de comportamento, fica puto dos cornos e acusa Hübner de estar fazendo o documentário apenas para transformá-lo em piada.


Não satisfeito, o alemão maluco expulsa a equipe da sua casa violentamente, mas se apropria de parte do equipamento dos realizadores, dizendo: "Vou ficar com isso como garantia e só devolvo depois que me mandarem a cópia final do documentário. E podem chamar a polícia, se quiserem, eu não me importo", para em seguida bater a porta na cara do diretor e do cameraman.

Por mais que eu queira acreditar que o piti tenha sido encenado (transformando o documentário em "mockumentary"), novamente não dá para duvidar de nada quando o assunto é Uwe Boll.

Curioso? Pois você pode ver VISITING UWE de graça, falado em alemão e com legendas em inglês, no site dos realizadores. Basta clicar aqui. E prepare-se para finalmente começar a pensar em Uwe Boll como um sujeito legal. Não dizem que de médico e de louco todo mundo tem um pouco? Pois aqui está um cara que definitivamente tem não um pouco, mas "um muito" das duas coisas!

E acho que ainda vamos ouvir falar muito em Uwe Boll nos anos vindouros...

Trailer de VISITING UWE


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Visiting Uwe - The Uwe Boll
Homestory (2008, Alemanha)

Direção: Fabian Hübner
Elenco: Uwe Boll, Fabian Hübner
e a voz de Michael Madsen.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

1968: TUNNEL RATS (2008)


Já virou clichê escrever que o alemão Uwe Boll é um dos mais medíocres cineastas atualmente em atividade (se é que dá pra considerar cinema as porcarias que ele "escreve" e "dirige"). Mas esta generalização às vezes se transforma numa injustiça; afinal, o pobre sujeito virou sinônimo de ruindade mesmo para quem nunca realmente viu um filme dele! E não dá para negar que alguns dos seus trabalhos são pelo menos divertidos (o primeiro "Bloodrayne", por exemplo, que ainda tem o mérito de mostrar a linda Kristanna Loken pelada, ou a comédia "Postal", que atrai justamente pelo seu extremo mau gosto).

E então chegamos a 1968: TUNNEL RATS, um dos novos filmes do hiperativo Boll, que só neste ano de 2009 deve lançar mais três obras ("Far Cry", "Stoic" e "Rampage") e já está filmando outras duas ("The Storm" e "Darfur"), isso tudo mesmo com a quantidade absurda de críticas que seu trabalho recebe, e apesar de seus filmes jamais terem dado qualquer retorno financeiro em bilheteria - queria saber como o sujeito ainda consegue encontrar financiadores para as suas maluquices...


TUNNEL RATS é diferente dos filmes que Boll vinha fazendo até então, já que parte de uma história original de Dan Clarke transformada em roteiro do próprio diretor, mas sem inspiração em nenhum videogame, como a maior parte de suas obras anteriores. Aqui ironicamente fizeram o caminho inverso: foi o filme que depois se transformou em jogo de videogame!

Também é um dos primeiros trabalhos do diretor sem grandes astros ou nomes conhecidos no elenco, depois que nosso amigo desperdiçou gente como Ben Kingsley, Jason Statham e Burt Reynolds em suas produções anteriores. Aqui, para dar uma idéia, o nome mais conhecido é o ex-astro dos anos 80 Michael Paré, o que obviamente não quer dizer grande coisa. O orçamento foi de míseros 8 milhões de dólares e, reza a lenda, a estréia foi num único cinema de Los Angeles (!!!).


A surpresa é que, dependendo do seu estado de espírito, e com alguma boa vontade, este drama de guerra é bem divertido, e até, acredite se quiser, interessante. Talvez seja preciso um idiota como o Boll para conseguir fazer um filme cínico sobre a idiotice da guerra, neste caso a Guerra do Vietnã. Claro que não é nada que chegue aos pés de um "Apocalypse Now" ou "O Franco-Atirador", mas é louvável a maneira como o filme foge do tradicional estereótipo de "heróis americanos" vitimados pelos "malvados vietcongues". Para Boll, não há heróis nem vilões, vencedores ou perdedores - apenas vítimas.

O clima é tão pessimista que lembrei de alguns ótimos filmes italianos sobre o tema (como "Apocalypse 2/The Last Hunter", do Antonio Margheritti), que uniam extrema violência com uma mensagem anti-belicista, o contrário do que se via nas produções norte-americanas sobre o conflito - especialmente os "clássicos" produzidos e dirigidos por David A. Prior, como "Batalha no Campo do Inferno" e "Zona de Ataque", onde um ou dois heróicos soldados norte-americanos chacinavam pelotões inteiros de vietcongues (vai saber como é que os Estados Unidos não ganharam a guerra...).


E você realmente percebe que o homem está aprendendo a fazer filmes já nos créditos de abertura, em que helicópteros carregados de sacos-de-cadáver sobrevoam a imensidão da selva (as filmagens foram na África do Sul) ao som da música "In the Year 2525", de Zager & Evans.

TUNNEL RATS enfoca um grupo de soldados que têm como missão se infiltrar nos apertados túneis subterrâneos onde os inimigos vietcongues vivem, se escondem e preparam armadilhas e emboscadas para os rivais. Assim, são "ratos de túnel", como o título já diz, sob o comando do fanático tenente Vic Hollowborn (Paré), um personagem que parece saído de "Apocalypse Now", e que tem como atividades rotineiras enforcar prisioneiros de guerra ou desafiar soldados que discutem suas ordens para lutas de boxe (e vai entender como é que o sujeito tem luvas de boxe em plena selva!!!).


Os primeiros 20 minutos, que tentam apresentar um pouco mais da vida pregressa, dos dramas e dos medos dos jovens recrutas, é de longe a pior parte. É Boll tentando criar seu próprio "Platoon" ou "Nascido Para Matar", obviamente sem conseguir. Até que, lá pelas tantas, um dos personagens faz um discurso que parece ler o pensamento do próprio espectador: "Nada dessas merdas interessa, onde você esteve, de onde você é... Agora você está no Vietnã, e só interessa o que você faz no campo de batalha!".

É então que o filme começa a mostrar ao que veio, a partir do momento em que o pelotão entra em um túnel recém-descoberto nas cercanias do seu acampamento. É quando o clima tosco de "Platoon" vai para o espaço e a história se transforma numa versão bélica de "Abismo do Medo", com os pobres soldadinhos se arrastando por túneis escuros e cada vez mais apertados, e sendo despachados violentamente pelo inimigo escondido na escuridão.


Claro que, para curtir o filme, é preciso ignorar o fato de o roteiro de Boll ser HORRÍVEL. O desenvolvimento dos personagens é mínimo, e, quando existe, é constrangedor (tipo o negro que sonha em abrir uma lanchonete fast food quando voltar para os EUA, e passa as noites mandando beijos para a Lua para a sua namorada!!!!); o fio narrativo é inexistente, com as cenas e as mortes se sucedendo meio sem razão; personagens desaparecem sem explicação da história até que seja conveniente trazê-los de volta, e tudo acaba meio sem propósito, como se nunca tivesse existido, de fato, uma trama a seguir, deixando o espectador com aquela sensação de "Tá, e daí?".

Mesmo assim, algumas coisas realmente me agradaram em TUNNEL RATS para fazer com que eu esquecesse que estava vendo um filme sem roteiro. Uma delas é que o diretor-roteirista brinca com as expectativas do espectador, surpreendendo-nos inúmeras vezes ao longo da trama. Para começar, não há protagonistas principais: todos os recrutas ganham mais ou menos o mesmo destaque, e você acaba nem lembrando os nomes da maioria deles. Também não há espaço para heroísmos individuais à la "Rambo", frases de efeito ou acrobacias pirotécnicas.


Melhor: Boll faz com que um dos seus personagens passe o filme inteiro sobrevivendo a todo tipo de dificuldade no interior dos túneis, apenas para chegar à superfície e ser estupidamente abatido por fogo amigo! Também engana o público ao fazer o soldado metido a machão, que parece o grande herói da trama, morrer por primeiro (e de forma imbecil também), e ao mesmo tempo mantém vivo até a conclusão o recruta banana e covarde, que todos passam o filme inteiro dizendo que não vai durar muito tempo.

Para quem tem saudade daquelas produções bagaceiras e hiperviolentas feitas pelos italianos, TUNNEL RATS também é um deleite, primando pelo exagero: de soldados eviscerados por baionetas a espinha arrancada em enforcamento, o filme traz todo um catálogo de barbaridades. Uma das grandes influências de Boll parece ter sido "O Resgate do Soldado Ryan", já que há desde cenas com vietcongues esfaqueando impiedosamente inimigos desarmados até um soldado que é fanático religioso.


Pode-se até criticar o ritmo lento da narrativa, já que as cenas dos soldados engatinhando nos túneis escuros são repetidas à exaustão até deixar o próprio espectador sem fôlego. Mas elas funcionam para criar um clima de claustrofobia (é terrível imaginar-se naquela situação, com pouco espaço para se mexer e ainda sendo atacado pelos inimigos vindos de todos os lados), e ainda ajudam a criar uma história sobre a Guerra do Vietnã narrada de maneira original, até porque você fica se questionando sobre a idiotice daquilo - por que os caras não tacam umas 30 granadas e explodem os túneis ao invés de obedecer as ordens de seus superiores para rastejar lá embaixo? Há um momento altamente bizarro em que um soldado fica bloqueado no túnel após matar um vietcongue, e precisa esquartejar o cadáver pedaço por pedaço para liberar a passagem!

No final, quando um soldado norte-americano morre lado a lado com um "inimigo" vietcongue, o espectador até releva diversas bobagens que viu durante o filme para admirar a coragem do diretor. Longe de ser aquela historinha de ação e guerra que eu esperava, TUNNEL RATS traz até uma mensagem altamente crítica sobre a estupidez do conflito e sobre a futilidade da guerra. É isso mesmo, amiguinhos: Boll está tentando passar uma mensagem!

E, quem diria, consegue fazer isso de maneira muito mais contundente do que muito suposto clássico sobre o Vietnã que existe por aí...

Trailer de 1968: TUNNEL RATS


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1968: Tunnel Rats (2008, Canadá/Alemanha)
Direção: Uwe Boll
Elenco: Michael Paré, Nate Parker, Wilson
Bethel, Brandon Fobbs, Jane Le, Rocky
Marquette e Erik Eidem.