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segunda-feira, 3 de março de 2014

CYBORG COP II - O PIOR PESADELO (1994)


No caso de uma iminente invasão de andróides/cyborgs malignos, algumas pessoas certamente apelariam para Sarah Connor, de "O Exterminador do Futuro" 1 e 2, esquecendo que ela não sobreviveria nem 20 segundos a estes filmes caso não tivesse contado com a ajuda de Kyle Reese no primeiro e do T-800 bonzinho no segundo. Outros apelariam para Rick Deckard, de "Blade Runner", também esquecendo que a performance dele como "Caçador de Andróides" foi bem ruinzinha (matou dois de quatro e quase foi morto pelos inimigos umas 20 vezes!).

E é por isso, amiguinhos, que no caso de uma iminente invasão de andróides/cyborgs malignos eu apelaria primeiro para Jack Ryan. Não o Jack Ryan famosão dos livros de Tom Clancy e de filmes como "Caçada ao Outubro Vermelho" e "Perigo Real e Imediato", mas sim o Jack Ryan classe C interpretado por David Bradley na série "Cyborg Cop". Aquele que decapitou um robô malvado usando uma motocicleta em "Cyborg Cop - A Guerra do Narcotráfico", e que agora retorna com sua indestrutível pochete de couro em CYBORG COP II - O PIOR PESADELO!


Pois eis que algum tempo depois da sua aventura original, em que enfrentou o cientista louco e traficante Kessel e seus dois cyborgs (um deles construído com o corpo do seu próprio irmão, Phillip!), o "nosso" Jack Ryan volta para um segundo round. E dessa vez é obrigado a encarar não um, nem dois, mas um autêntico exército de cyborgs, produzidos não por um cientista louco e traficante, mas pelo próprio Governo dos Estados Unidos!

Trata-se, obviamente, de mais uma produção de baixíssimo orçamento, feita direto para o lançamento em videolocadoras, da Nu Image, que então buscava o título de "nova Cannon Pictures". A sequência saiu já no ano seguinte a "Cyborg Cop 1", em 1994, comprovando a visão de mercado que o pessoal da produtora tinha. E o melhor: como em time que está ganhando não se mexe, os produtores trouxeram de volta a dobradinha Sam Firstenberg na direção e David Bradley como herói, os mesmos nomes que encabeçavam a aventura original.


Fora isso, a pobreza continua a de sempre, com um roteiro ainda mais absurdo que o do original e risíveis "roupas" de cyborg e efeitos especiais, mas com explosões e tiroteios a rodo para disfarçar a falta de dinheiro (e criatividade) em outros departamentos.

Inclusive é tanta explosão (depois de um tempo até desisti de contar) que CYBORG COP II não faria feio perto de uma superprodução dirigida pelo Michael Bay - e ainda sai ganhando pelas suas explosões serem "reais", e não produzidas por computação gráfica, e pelo filme todo ter custado o equivalente a cinco minutos de um do Michael Bay!


CYBORG COP II já começa a 200 por hora, com um bandidão sádico e careca chamado Jesse Starkraven (Morgan Hunter, uma espécie de Arnold Vosloo dos pobres) invadindo uma refinaria de drogas de um traficante rival e tocando o terror, matando incontáveis figurantes e explodindo incontáveis pedaços de cenografia. O engraçado é a maneira como acontece o "ataque": Starkraven simplesmente coloca meia dúzia de capangas, até menos, na traseira de uma caminhonete e acelera pelo interior do depósito, passando fogo em dezenas de bandidos armados até os dentes. E nenhum desses consegue revidar e atingir algum dos invasores pelo menos de raspão - afinal, eles estão desprotegidos na traseira de uma caminhonete! -, ou sequer atingir um único tirinho no próprio veículo, que termina a batalha novinho em folha, como se nunca tivesse participado de um tiroteio infernal!


O engraçado é que quando parece que a batalha terminou, chegam agentes do D.E.A. (a Divisão de Narcóticos do Governo norte-americano) e o tiroteio infernal recomeça, dessa vez com Starkraven e seus capangas contra os homens da lei!

É quando entra em cena o grande herói Jack Ryan, montado em sua Harley Davidson, usando jaqueta de couro e óculos escuros. Ele aparentemente é um dos melhores homens do D.E.A., embora tenha sido expulso da agência em "Cyborg Cop 1" - tá, é bem possível que tenha sido readmitido depois de acabar com Kessel na aventura original, mas poderiam ter pelo menos incluído uma linha de diálogo explicando isso.


Ryan tem uma velha rixa com Starkraven (prendeu o irmão dele no passado, ou coisa que o velha), e o bandidão obviamente não vai deixar barato: depois de apanhar feio, o careca executa o parceiro do herói a sangue frio, com um tiro na cabeça, apenas para apanhar mais um pouco e quase ser morto por Ryan, que precisa ser contido pelos demais colegas. Mas a justiça triunfa e Starkraven é preso e condenado à morte dentro das leis. Final feliz, certo?

Errado! Ocorre que, por mais absurdo que possa parecer, o bandidão acaba sendo escolhido como cobaia para um programa de criação de cyborgs de uma agência secreta do governo, a ATG (Anti-Terrorist Group).

E se digo absurdo é porque não consigo encontrar nenhuma explicação lógica para os sujeitos usarem criminosos psicopatas e extremamente violentos como matéria-prima para a criação de cyborgs que deveriam lutar contra criminosos psicopatas e extremamente violentos como eles! Lembra daquela lógica estúpida do filme original, que mostrava um vilão transformando um policial bonzinho em cyborg para ser seu capanga e fazer maldades, sem imaginar que a "parte boa" dele prevaleceria no final? Pois é, a mesma lógica estúpida reaparece aqui, só que com os componentes trocados!


Enfim... Não demora para Jack Ryan (hehehe) descobrir que Starkraven sumiu da penitenciária onde deveria pagar pena antes da execução. Ele começa a investigar o paradeiro do arqui-inimigo, e, nesse ínterim, o agora robótico Starkraven "desperta" e inicia uma rebelião dos seus outros colegas mecânicos (pelo menos uma dúzia!) contra os cientistas responsáveis pelo projeto.

Livres dos frágeis humanos que os controlavam, os cyborgs assumem o controle de uma usina e se preparam para ameaçar o mundo com sua maldade cibernética... a não ser, claro, que o grande "caçador de cyborgs" Ryan os enfrente com armas de grosso calibre no esperado duelo final, que reserva mais uma rodada de incontáveis explosões e tiroteios!


Embora aparentemente tenha custado o mesmo que a aventura anterior, CYBORG COP II fica o tempo todo buscando um tom épico e grandiloquente, seja na quantidade de cyborgs malvados (em comparação ao único enfrentado pelo herói na primeira parte), seja na quantidade de lutas e explosões, sempre acompanhadas por uma trilha sonora exageradíssima que parece ter sido composta para outro filme (ou para um jogo de videogame).

Além disso, a sequência foi produzida numa época em que os filmes de John Woo eram bem populares, e seu estilo passou a ser copiado ad nauseam por todo mundo. Graças à "febre Woo", toda e qualquer cena de ação de CYBORG COP II, de pessoas alvejadas caindo de grandes alturas a carros capotando, acontecem em câmera lentíssima (rendendo momentos constrangedores, como esse aqui). Não faltam nem adversários apontando a arma um para a cara do outro, ou o herói disparando com duas pistolas, uma em cada mão (acho que só faltaram mesmo as pombas voando em câmera lenta, outra "Woozice" clássica).


E justamente por isso tudo, é irônico que esta sequência não seja tão boa quanto o original. Enquanto em "Cyborg Cop 1" ficava evidente que Firstenberg e cia. não estavam ligando muito para as limitações técnicas e orçamentárias, buscando apenas fazer um filme divertido, aqui já se percebe um tantinho mais de pretensão; inclusive o filme se leva muito mais a sério do que deveria, como se Firstenberg acreditasse ser Roland Emmerich dirigindo "Soldado Universal".

Enquanto "Cyborg Cop 1" era basicamente uma mistura de "Robocop" com "O Exterminador do Futuro", aqui o roteirista Jon Stevens adiciona outros dois filmes ao coquetel: "Robocop 2", na figura do vilão psicopata que é transformado em robô com consequências desastrosas, e o já citado "Soldado Universal", no qual parece ter se inspirado o tal programa do governo que transforma criminosos em cyborgs para combate ao terrorismo (inclusive um título alternativo do filme é "Cyborg Soldier", muito mais adequado).


Mas as referências não param por aí: a versão cibernética de Starkraven é rebatizada "Spartacus" e ele se torna o cabeça da rebelião de cyborgs, como o Spartacus mais famoso fez com os escravos/gladiadores; e os uniformes usados pelos robôs lembram muito o figurino dos alienígenas do clássico seriado "V", embora aqui na cor verde-militar, e não vermelho.

E se no "Cyborg Cop" original o título já era enganoso, pois o "policial-cyborg" mal aparecia (e nem era policial, mas sim um "agente do D.E.A.-cyborg"), aqui a coisa torna-se ainda mais ridícula, pois o que temos é um exército de criminosos cibernéticos e nenhum policial nessa condição. A não ser, claro, que o título tenha outro sentido, como se o próprio Jack Ryan fosse um "cyborg cop" (nesse caso, "policial de cyborgs", e não "policial-cyborg").


Eu só senti falta de mais referências ao original, já que CYBORG COP II tenta dar um mínimo de continuidade à trama ao trazer de volta não apenas o personagem de Bradley, mas também o garotinho Frank (Steven Leader), que no original era filho adotivo do seu finado irmão Phillip, e aqui reaparece sob a guarda do próprio herói - como um conveniente refém para os vilões, óbvio.

De resto, o roteiro não se preocupa em explicar como Ryan foi readmitido no D.E.A., nem coloca o herói para dizer alguma frase do tipo "Eu já lidei com esses bastardos cibernéticos antes!". E bem que algum dos cientistas do Governo poderia soltar que o projeto de "robotização" foi baseado nas experiências de Kessel, o vilão do primeiro filme. Daria um pouquinho mais de coerência e linearidade à continuação.


Um avanço em relação ao original é que, além de mais cyborgs, CYBORG COP II também traz modelos bem mais evoluídos do que o pobre Quincy de "Cyborg Cop 1". Enquanto aquele tinha umas faquinhas mixurucas que saíam da ponta dos dedos, num bizarro cruzamento de Freddy Krueger com T-800, os modelos atuais podem "trocar" uma das suas mãos por diferentes armas acopladas na altura do pulso, tipo metralhadoras, lança-chamas e até lança-foguetes. Assim, o poder de fogo dos vilões cibernéticos é muito maior e mais devastador.

O problema é que o filme parece não saber como aproveitar vilões tão poderosos. Depois que fogem do laboratório e tomam a usina, os robôs não fazem muita coisa além de invadir um posto de gasolina vagabundo e matar seus funcionários (?!?).


E embora o roteiro apresente os cyborgs como criaturas aparentemente indestrutíveis, capazes de aniquilar um batalhão de militares e policiais, eles são destruídos facilmente com explosivos no confronto final, quando Ryan une forças com a chefona da ATG (a ruivinha Jill Pierce) para dar um jeito na ameaça mecânica.

Pior: se no primeiro filme o ponto fraco do cyborg era a eletricidade, aqui os robôs têm um sistema de visão bem fuleiro que pode ser "embaralhado" com luzes muito fortes, tipo aquela gerada por simples sinalizadores (flares)! Mas peraí: qual é a vantagem de você gastar bilhões de dólares para construir cyborgs para enfrentar grupos terroristas se os tais terroristas podem acender uma tocha e embaralhar a visão das criaturas? Algo me diz que não deviam ter poupado verba justamente no departamento de visão eletrônica...


Outro grande defeito de CYBORG COP II é o fato de que o pobre herói Jack Ryan não encosta num único robô até os 50 minutos de tempo corrido, embora já tenha certa experiência em combater cyborgs. Até então, tudo que ele faz é investigar o paradeiro do seu arqui-inimigo Starkraven, e lutando apenas contra agentes do governo que mal oferecem resistência aos seus socos e voadoras.

Somente nos 35 minutos finais Ryan começa a enfrentar os cyborgs rebelados, e, como já mencionei, ele os liquida sem muita dificuldade, apesar de o roteiro inicialmente tratá-los como monstros praticamente indestrutíveis. Inclusive o herói poderia ter facilmente explodido o próprio Starkraven/Spartacus caso o vilão não tivesse o pequeno Frankie como refém. Pense numa conveniência de roteiro...


E como conveniência de roteiro nunca é demais, acho interessante destacar que os criminosos-cyborgs teoricamente são controlados pelos cientistas que os construíram graças a um pequeno terminal que levam no pulso como bracelete. E a revolução só começa no momento em que um dos humanos idiotas tira o tal bracelete do seu pulso para transar com uma garota NO PRÓPRIO LABORATÓRIO, permitindo que os cyborgs possam subjugá-lo!

Sei não, mas se um maldito bracelete é tudo que me protege de cyborgs assassinos e praticamente indestrutíveis, acho que seria uma ótima ideia NÃO TIRÁ-LO DO PULSO EM MOMENTO ALGUM, ainda mais na presença dos tais cyborgs assassinos e praticamente indestrutíveis!


Para completar, os efeitos são paupérrimos. Todos os cyborgs têm uma "placa peitoral mecânica" que mais parece a fachada de um Chevette, e aqueles explodidos por Ryan e sua parceria no ataque final à usina são manequins mais do que visíveis. Os realizadores nem se preocuparam em colocar manequins do mesmo tamanho ou na mesma posição que os "atores" substituídos de um take para o outro. Já a explosão da usina é encenada por meio de simpáticas miniaturas  Risadas garantidas!

(A propósito, agora que caiu a ficha aqui: por que diabos o exército simplesmente não bombardeou a usina de uma vez, destruindo automaticamente todos os cyborgs, e eliminando a necessidade de a dupla de heróis ir até lá para destruir um por um, arriscando a própria vida no processo? "Por causa do garoto feito refém", você pode até argumentar, mas NINGUÉM SABIA DISSO até os heróis chegarem na usina!)


A "trashice" se estende ao departamento de figurino. Não basta Jack Ryan reaparecer com a mesma pochete de couro preta que havia usado no original, e que já havia sido motivo de piada lá: eis que a viúva do parceiro do herói também surge com uma pochete idêntica (!!!), num detalhe completamente injustificável e que só pode ser algum tipo de piada interna.

Por sinal, Ryan só abandona a sua inseparável pochete preta no confronto final, mas confesso que fiquei na dúvida se ele realmente tinha tirado a dita cuja, ou se ela apenas ficou por baixo do cinturão com explosivos que o herói passou a usar. Até porque duvido que ele tenha abandonado sua amada e fiel pochete justamente naquele momento crucial!


Vale destacar também que o roteiro tenta transformar Jack Ryan num personagem muito mais malandrão e engraçadinho que o do original. Ele até fala "Freeze!" ao atingir um rival com o conteúdo de um extintor de incêndio. Mas, infelizmente, aqui o herói não tem oportunidade de demonstrar suas habilidades de Sexta Sexy como fez no primeiro filme, e a diretora da ATG é um interesse romântico bem apagado perto da jornalista bonitinha do original. E não aparece pelada.

Para tentar compensar (sem conseguir), Firstenberg mostra algumas garotas de topless trabalhando na refinaria de cocaína do início - supostamente para não "desviarem" parte da produção nas roupas, lembrando cena parecida do original e também de "A Fúria do Protetor".


O que importa é que, pela segunda vez, Jack Ryan dá conta do recado e controla a ameaça cibernética com eficiência. É uma pena que não tenha voltado na aventura seguinte, "Cyborg Cop III - Resgate Espetacular", de 1995, onde foi substituído por não um, mas dois heróis (interpretados por outros astros da ação classe C, Frank Zagarino e Bryan Genesse). Os motivos são desconhecidos, mas é possível que David Bradley não quisesse ficar com sua carreira marcada por Jack Ryan, como Sean Connery com James Bond e Harrison Ford com Indiana Jones (e sim, eu estou sendo irônico).

Outra falta mais do que sentida no terceiro filme é a de Sam Firstenberg. Ele deixou a direção para o fraquinho Yossi Wein, que foi diretor de fotografia das duas primeiras aventuras.


Embora mais fraco que o original no quesito diversão (mas alguns pontos acima no quesito ação e explosões, que aqui aparecem em número triplicado ou até quadruplicado), CYBORG COP II não é de todo desprezível e vale a espiada, especialmente para quem tem saudade desse tipo de ação old school, com tiroteios em câmera lenta e dublês sendo catapultados para longe por explosões. Eu certamente recomendo uma sessão dupla com o primeiro no lugar do remake de "Robocop" do José Padilha.

E mais: se nos anos vindouros realmente aparecerem os cyborgs produzidos pela Skynet, ou mesmo os Replicantes de "Blade Runner", Jack Ryan é o cara que eu quero ter no meu grupo de resistência para enfrentá-los!


Trailer de CYBORG COP II



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Cyborg Cop II - O Pior Pesadelo (1994, EUA)
Direção: Sam Firstenberg
Elenco: David Bradley, Morgan Hunter, Jill Pierce,
Victor Melleney, Douglas Bristow, Adrian Waldron,
Dale Cutts e Kimberleigh Stark.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

CYBORG COP - A GUERRA DO NARCOTRÁFICO (1993)


(Sim, esta é mais uma postagem da Série "Preferi rever isso do que ver o remake de Robocop". Desculpa aí, Padilhão!)


Antes de produzir blockbusters como "Invasão à Casa Branca", "Os Mercenários" e o remake de "Conan", com orçamentos entre 70 e 100 milhões de dólares, a companhia Nu Image Films tinha propósitos, digamos, mais humildes. Quando foi fundada, no começo dos anos 1990, ela basicamente buscava suprir uma lacuna surgida com a falência da mítica Cannon Films: produzir filmes de ação classe B (às vezes até C) para alimentar as videolocadoras da época, ávidas principalmente por produções de pancadaria.

Pois a Nu Image preencheu o espaço deixado pela Cannon com bastante eficiência e, pelo menos duas décadas antes de suas produções mais dinheirudas, lançou franquias populares estreladas por um star system próprio, formado por sub-Van Dammes ou sub-Steven Seagals tipo Jerry Trimble, Bryan Genesse, Joe Lara, Frank Zagarino e David Bradley. E foi este último que protagonizou uma das primeiras e mais bem-sucedidas séries da produtora, iniciada em 1993 com CYBORG COP.


Como o título original já entrega, CYBORG COP tenta faturar seus centavos na onda da "Robocopmania". Porque apesar de o filme original de Paul Verhoeven ser de 1987, era nos anos 90 que o personagem Robocop estava bombando graças às duas continuações (lançadas em 1990 e 1993), que geraram desenho animado para a TV, seriado, jogos de videogame, histórias em quadrinhos (publicadas pela Marvel!) e todo tipo de produto com a imagem do policial enlatado.

Só que a relação desta produção barateira da Nu Image com "Robocop" fica praticamente só no título, uma cópia descarada que apenas substitui o "Robot" pelo "Cyborg" (milagre nunca terem feito um "Android Cop" também). Já no filme em si não existe nenhum policial transformado em robô para combater o crime ou coisa que o valha, como o título faz supor.


Quer dizer, até tem um policial que vira robô (ou cyborg!), mas ele sequer tem participação direta na trama, que bebe muito mais da fonte de "O Exterminador do Futuro" e seus cyborgs malvados (a Parte 2 tinha saído dois anos antes, em 1991) do que na de "Robocop". Não por acaso, o projeto originalmente tinha outro nome: "Cyborg Ninja" (!!!), talvez pelo fato de o diretor ser o mesmo Sam Firstenberg do sucesso "American Ninja"!

(Pode-se dizer que dessa vez os distribuidores brasileiros foram muito mais honestos, já que mandaram CYBORG COP para as locadoras com um subtítulo em português que tem muito mais a ver com o assunto do filme: "A Guerra do Narcotráfico"!)


A escolha de Firstenberg para dirigir CYBORG COP confirma as pretensões do pessoal da Nu Image de ser a "Nova Cannon". Afinal, Sam foi um dos diretores que deu lucro na lendária produtora de Golan e Globus, assinando sucessos como o já citado "American Ninja" e também os ótimos "A Vingança do Ninja", "Ninja 3 - A Dominação" e "American Samurai". Não seria exagero dizer que o sujeito deu mais grana na Cannon do que nomes muito mais badalados cujos projetos naufragaram nas bilheterias - tipo Tobe Hooper.

Já para o papel de herói escalaram o texano David Bradley, um astro de ação da terceira divisão que nunca fez muito sucesso, embora seja melhor que gente que chegou bem longe. E pelo menos sabia lutar de verdade, ao contrário de caras tipo Michael Dudikoff - que, quando estrelou "American Ninja", não sabia patavinas de artes marciais. Bradley, por outro lado, treinava karate e aikido, e essas habilidades aparecem em cada cena de luta do filme.

(Ironicamente, já que citamos o nome dele, Bradley substituiu Dudikoff na série "American Ninja", estrelando as partes 3 a 5 no lugar do loirinho!)


Com roteiro de Greg Latter e Glen A. Bruce, CYBORG COP começa com dois agentes do D.E.A. (a Divisão de Narcóticos norte-americana) lidando com um maluco que ameaça uma refém dentro de um depósito abandonado. E eu não sei se faz parte da jurisdição do D.E.A. resolver problemas de malucos com reféns, mas lá estão os irmãos Ryan, Jack (Bradley) e Phillip (Todd Jensen), tentando salvar o dia.

E você não leu errado: o nome do herói é JACK RYAN, mesmo nome do personagem criado por Tom Clancy para uma série de livros de sucesso, que depois deu origem a diversos filmes também de relativo sucesso, como "Caçada ao Outubro Vermelho" e "Jogos Patrióticos". Obviamente que o Jack Ryan de CYBORG COP não tem nada a ver com o outro mais famoso, mas bem que seria divertido colocar David Bradley no mesmo patamar de Alec Baldwin, Harrison Ford, Ben Affleck e Chris Pine (os astros que interpretaram o Jack Ryan "oficial" no cinema).


Ocorre que Jack é o típico agente cabeça-quente que não segue as normas e todo aquele bla-bla-bla típico do cinema de ação do período; ele prefere encher o malucão de tiros ao invés de esperar pela chegada do negociador da SWAT e o escambau. Só que o finado era filho de um magnata da imprensa, e a campanha do pai enfurecido contra o herói nos jornais faz com que ele seja expulso do D.E.A.

Algum tempo depois, Phillip comunica o irmão de que está partindo para o Caribe (as filmagens foram na África do Sul, para economizar), numa operação secreta para destruir o império de drogas mantido por um cientista louco chamado Kessel (John Rhys-Davies!!!). Só que a operação é um desastre, todos os homens são mortos e o próprio Phillip é gravemente ferido num confronto com Quincy (?!?), o "cyborg de estimação" do vilão!


Péra lá! Aqui é necessário abrir um parêntese...

Acontece que o filme nunca deixa claro qual é a do tal vilão Kessel. Quer dizer, ele possui uma refinaria de cocaína no Caribe que lhe rendeu uma fortuna considerável, ou pelo menos o suficiente para ter uma mansão e um laboratório de alta tecnologia. Nesse laboratório, repleto de cientistas que certamente não cobram barato para estar ali à disposição do vilão, ele ainda torra ainda mais dinheiro transformando seres humanos em cyborgs.

E esses cyborgs são usados não só como capangas indestrutíveis, mas também como assassinos cibernéticos para crimes políticos, serviço pelo qual Kessel cobra dinheiro dos contratantes. Mas peraí um pouquinho: será que ele precisaria desse dinheiro caso não tivesse investido a grana que ganhou produzindo/vendendo drogas na fabricação de cyborgs em primeiro lugar? Não bastava ficar com a venda de drogas como fonte principal de renda?


Pois Quincy, o capanga cibernético do vilão (interpretado por Rufus Swart, que lembra uma versão mais jovem do Larry Drake, de "Darkman" e "Dr. Giggles"), é indestrutível e forte o bastante para atravessar o crânio de um sujeito com um único soco. Também pode fazer surgir lâminas, saídas das pontas dos dedos, tipo um "RoboFreddy Krueger". Ele usa essas lâminas para decepar a mão de Phillip num único golpe.

Como sobrevivente da mal-sucedida batida, o agente é levado até o laboratório de Kessel para ser transformado num novo cyborg, o "Cyborg Cop" do título, embora Phillip não seja exatamente um policial (tá, eu assumo que "Cyborg D.E.A. Agent" não seria um título tão legal assim!).


Só mais um parêntese...

Por que diabos Kessel, um sujeito razoavelmente inteligente, resolve transformar um POLICIAL (arre, agente do D.E.A.!) em assassino cibernético, sendo que são enormes as chances de dar merda e ele perder o controle sobre a criação quando a parte humana dela se manifestar (e é claro que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde para o esperado duelo cyborg bom x cyborg mau)?

Em defesa dos roteiristas, existe um diálogo em que um dos cientistas que trabalham para o vilão diz que a memória de Phillip ainda não foi completamente apagada quando Kessel resolve ativá-lo para entrar em ação. Mesmo assim, continua sendo uma ideia de jerico: se tudo que ele precisava era de um corpo humano fresco para "robotizar", por que não usou um dos seus muitos capangas que são originalmente malvados, ao invés de um honesto agente do D.E.A.?


Mas voltemos ao filme: nos Estados Unidos, Jack Ryan (hehehe) recebe uma encomenda do irmão pelo correio. No interior do pacote, encontra uma fita contendo uma gravação de Phillip, alertando para a possibilidade de se meter em apuros na operação então vindoura. Sem querer ser implicante, mas... não seria mais fácil ter telefonado?

Jack resolve ir até o Caribe em busca do irmão, depois de surrar figurões do D.E.A. num bar (claro!) e descobrir o local para onde ele foi enviado. Chegando na ilha, o herói acaba fazendo uma parceria à força com a jornalista Cathy (a gracinha Alonna Shaw, de "Duplo Impacto"). E, ajudado/atrapalhado por ela, descobre tudo sobre os planos maléficos de Kessel e o terrível destino do seu irmão. Prepare-se para o confronto final e para o i-na-cre-di-tá-vel duelo motocicleta x cyborg!!!


CYBORG COP é barateiro em tudo (mais uma característica da Nu Image que lembra as antigas produções da Cannon), mas eficiente durante a maior parte do tempo. Os efeitos dos cyborgs, por exemplo, são econômicos e não atrapalham, com direito à tradicional mãozinha robótica abrindo e fechando.

Só podiam ter caprichado mais nas placas peitorais "metálicas" das criaturas, que são péssimas e dobram e amassam mais do que metal normalmente faria, mas não se pode esperar muito da merreca de orçamento que havia à disposição. E sim, é claro que o cyborg malvado vai acabar ficando com metade do rosto "humano" destruído para mostrar a parte metálica por baixo, à la "O Exterminador do Futuro"!


Firstenberg também trabalha dobrado para não deixar a peteca cair no quesito ação, e filma tantas sequências de explosões por minuto que parece ter o triplo do orçamento que realmente gastou. O ataque inicial dos agentes à refinaria de Kessler, por exemplo, é um festival ininterrupto de tiros e explosões, algo que se repete no ataque final do herói à fortaleza do vilão, com direito a sangrentos tirambaços no peito e nas costas que você certamente não vai ver no "Robocop" do Padilha!

Já o herói Jack Ryan (hehehe) faz exatamente o que se espera dele: arrebenta um montão de bandidos com seus golpes, distribui tiros pra todo lado sem se preocupar em fazer prisioneiros, e ainda dá uns pegas na jornalista gatinha, numa cena pra lá de gratuita de sexo e nudez, com direito a várias posições e caras e bocas dignas dos erotic thrillers da época (aqueles mesmos que passavam na extinta Sexta Sexy).


Bradley convence como galã invocado, mas bem-humorado, que solta umas gracinhas de vez em quando para lembrar o espectador de aquilo tudo é uma grande bobagem, descartável até, feita direto para o mercado de vídeo. Sua relação de amor e ódio com a mocinha é um clichê tão velho quanto o próprio cinema, numa situação que até lembra comédias românticas em alguns momentos!

O único departamento em que Jack Ryan fica devendo é no de bom gosto: numa decisão questionável do pessoal do figurino, o pobre herói passa o filme inteiro usando uma cafonérrima pochete de couro preta (veja abaixo), mesmo quando está dando voadoras nos vilões! Deve ser o único herói de ação que usa pochete da história do cinema - quem sabe ela seja o segredo da sua força, tipo a cabeleira de Sansão!


Embora se segure muito bem em matéria de ação e pancadaria, CYBORG COP também tem todas aquelas imbecilidades e incongruências típicas desse tipo de aventura barata. O vilão interpretado por Rhys-Davies, por exemplo, é engraçadíssimo: não faz nada o filme inteiro além de dar ordens para os capangas e soltar umas risadas malignas de vilão de James Bond, mas a interpretação do ator britânico é tão afetada e exagerada (e consciente da presepada em que estava metido) que provoca gargalhadas a cada aparição de Kessel.

Vale lembrar que, na época, Rhys-Davies não era tão conhecido quanto hoje, já que passou a ser idolatrado pela sua participação como anão (milagres da tecnologia...) na série "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson. Até então, o inglês era figurinha carimbada como vilão ou personagem secundário de filmes B, e o auge da sua carreira tinha sido as duas participações como amigo de Indiana Jones em "Os Caçadores da Arca Perdida" e "Indiana Jones e a Última Cruzada".


Ainda no departamento de bobagens, vale lembrar que os cyborgs, que parecem indestrutíveis ao fogo, tiros e explosões, podem ser facilmente destruídos com... eletricidade?!? Mas peraí, qual é a vantagem de você gastar milhões de dólares para criar um robô que sobrevive a tiros e bombas se ele pode pisar num simples fio desencampado e pifar?

Também podiam ter criado uma forma melhor de aproveitar o "Cyborg Cop" do título (ou "Cyborg D.E.A. Agent", se preferirem), já que o "robo-Phillip" só entra em operação nos 15 minutos finais, e LOGICAMENTE tem um conflito de consciência quando lhe ordenam que mate o próprio irmão. É tão pouco tempo em cena para o personagem que CYBORG COP pode decepcionar quem espera uma cópia vagabunda de "Robocop" estilo "Robo Vampire". Vai saber por que não usaram algo ainda mais genérico, como "Cyborg Attack" ou "Cyborg Force"...


Mas o que importa é que CYBORG COP cumpriu seu propósito: fez relativo sucesso de locações (talvez até por causa dos clientes desatentos, que alugavam o filme pensando que era "Robocop"), foi o primeiro grande sucesso da recém-criada Nu Image e ajudou a colocar a produtora no mapa das companhias realizadoras de filmes de ação classe B (ou C, ou mesmo Z!).

Para ver se o raio caía duas vezes no mesmo lugar, a produtora realizou dois novos "Cyborg Cop" em curtíssimo espaço de tempo: a Parte 2, lançada em 1994, reúne o time Firstenberg/Bradley para um novo round, mas é inferior ao original; já a Parte 3, de 1995, partiu para o vale-tudo, mudou o diretor, colocou uma dupla de atores no lugar de Bradley (Frank Zagarino e Bryan Genesse, outros dois "astros" da terceira divisão da ação "direct-to-video") e tem toda cara de ser um roteiro qualquer adaptado para se encaixar na série e faturar uns trocados.


Bradley fez mais alguns filmes de ação nos anos seguintes (incluindo uma cópia dos clássicos de John Woo chamada "Justiça à Bala") e acabou se metendo no universo dos erotic thrillers vagabundos, feitos na esteira do sucesso de blockbusters tipo "Instinto Selvagem" e "Invasão de Privacidade". Seu último filme é de 1997, e desde então o ator tomou chá-de-sumiço.

Houve muita boataria nos fóruns de discussão sobre o que teria acontecido com o ator: alguns juravam que tinha morrido, outros, que tinha deixado de atuar por causa de um grave problema cardíaco; também tinha quem garantisse que ele voltou para o Texas para abrir uma escola de artes marciais. Pouco se sabe sobre a vida do sujeito hoje, mas Bradley realmente voltou para o Texas, onde vive afastado da indústria cinematográfica.


Mesmo assim, em 2009, ele apareceu vivo e bem nas cenas do trailer de um filme de ação semi-amador chamado "Dagger: Operation Montenegro". O filme não chegou a ser produzido: apenas o trailer foi rodado para tentar levantar fundos, mas aparentemente não rolou. Portanto, David Bradley ainda aguarda pelo retorno à ribalta - alô, produtores!

Bem que num futuro próximo o pessoal da Nu Image poderia voltar às origens e produzir uma espécie de "Os Mercenários" lado B (ou C, ou mesmo Z!), juntando todos os seus ex-astros dos tempos do direto para vídeo, como Bradley, Zagarino, Genesse, Lara... Podia ser dirigido por Firstenberg, Yossi Wein ou Bob Misiorowski, os caras que levaram as produções da Nu Image nas costas nos primeiros anos. Sonhar não custa nada, não é verdade?


Porque o fato é que às vezes me dá saudade desses filmes de ação baratos e bestas feitos para abastecer o mercado de vídeo dos anos 80-90. Nesses nossos tempos de filmes de (enrol)ação (ou preten-ação), em que o que vale é a quantidade de efeitos especiais e de cenas parecidas com videogame, revisitar as velhas produções da Nu Image e seus "Cyborg Cops" não é apenas pura nostalgia, mas uma certeza de diversão.

Com todos os tiros e explosões, tramas simplórias e absurdas, nudez gratuita e deliciosos clichês que você definitivamente não vai encontrar no "Robocop" do Padilha e outras asneiras feitas hoje. Muito menos um herói que usa pochete de couro - e sim, Jack Ryan volta em "Cyborg Cop 2" vestindo sua indestrutível pochete outra vez!!!

PS: CYBORG COP é o último filme da loirinha Alonna Shaw, que preferiu trocar as cenas gratuitas de sexo com brucutus (Bradley aqui, Van Damme em "Duplo Impacto") pela carreira de escritora. Ela recentemente lançou seu primeiro romance, "Eleven Sundays", e tem um site pessoal onde comenta sua carreira longe dos "Cyborg Cops" e criaturas do gênero...


Trailer de CYBORG COP



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Cyborg Cop - A Guerra do Narcotráfico 

(1993, EUA)
Direção: Sam Firstenberg
Elenco: David Bradley, Alonna Shaw, Todd Jensen,
John Rhys-Davies, Ron Smerczak, Rufus Swart,
Anthony Fridjhon e Robert Whitehead.