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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FORÇA ESPECIAL (2003)


Até o começo deste nosso século 21, o cineasta israelense Isaac Florentine era apenas "o cara que dirigia episódios dos Power Rangers". Tudo bem, ele já estava no mercado do cinema há algum tempo, tendo atuado como coreógrafo de cenas de luta em filmes como "American Cyborg - O Exterminador de Aço", e como diretor de aventuras com astros do segundo escalão, de Oliver Gruner e Gary Daniels a Dolph Lundgren.

Mas ainda não era considerado um sinônimo de ação barata e de qualidade, como é hoje; nem tinha um séquito tão grande de admiradores.


Dois filmes marcaram o ponto de virada na carreira de Florentine: "U.S. Seals 2", de 2001, e "Special Forces", de 2003, lançado no Brasil como FORÇA ESPECIAL, ambos produzidos pela barateira Nu Image. Vendo esses filmes, fica fácil de entender porque Isaac Florentine é, hoje, um dos nomes mais respeitados do cinema de ação independente.

Tanto "U.S. Seals 2" quanto FORÇA ESPECIAL são produções norte-americanas rodadas em pequenos países europeus para baratear custos. Mas o espectador desavisado juraria estar vendo uma aventura feita em Hong-Kong, ou pelo menos comandada por um diretor oriental, e não por um sujeitinho mirrado vindo de Israel.


Já virou clichê dizer que ocidental não sabe filmar cena de luta. É só ver o que fizeram com Jackie Chan e Jet Li quando eles foram "importados" para os Estados Unidos: não bastou colocá-los em filmes cada vez mais estúpidos, mas também era preciso estragar o talento deles para cenas de ação, filmando lutas quase incompreensíveis de tão picotadas e tremidas.

Pois Isaac Florentine é a exceção à regra. Ele próprio treina artes marciais desde os 13 anos de idade, e não apenas sabe filmar as lutas direitinho - com planos mais abertos e câmera fixa -, como também tem plena noção da importância de uma coreografia decente. Não é só gravar detalhes caóticos e jogar a bomba nas mãos do editor; com Florentine na direção, os atores precisam treinar exaustivamente as coreografias (aqui elaboradas por Akihiro Noguchi) para que o resultado final convença o espectador.


E FORÇA ESPECIAL é exatamente assim. Digo mais: era o filmaço que eu esperava que "Os Mercenários", do Stallone, fosse. Inclusive a trama dos dois filmes é bem parecida, com um batalhão de soldados encarando uma difícil missão de resgate num pequeno país oprimido por um governo militar.

Mas se Stallone rendeu-se a todas essas porqueiras que eu citei anteriormente - câmera epilética, edição de videoclipe que não permite sequer entender o que se passa -, Florentine fez exatamente o contrário, entregando um filme eficiente, bem dirigido, com a dose correta de pancadaria, tiros e explosões, sem perder tempo com frescurada.


O resultado é que você assiste a esta obra que custou 2,5 milhões de dólares e acha que custou 10 vezes isso, enquanto ao ver "Os Mercenários" é impossível acreditar que os caras tenham torrado 82 milhões (!!!) num filme tão mal-feito!

(E se ultimamente parece que vivo malhando "Os Mercenários", é simplesmente porque considero o filme do Stallone, junto com "Machete", dois belíssimos exemplos de como cagar um projeto quase perfeito!)


Voltando a FORÇA ESPECIAL: o roteiro de David N. White é o retrato da simplicidade. Começa mostrando uma ação do grupo das "Special Forces" no Líbano, quando eles invadem um campo de treinamento de terroristas do Hezbollah para resgatar um soldado ianque aprisionado e que está sendo "interrogado" na base do sopapo.

Sem sutilezas, o filme apresenta cada um dos soldados-heróis com legendas que informam seu nome. O pelotão é liderado por um veterano casca-grossa, o Major Don Harding (Marshall R. Teague), que não fica apenas gritando ordens, mas também põe as mãos (e pés) na massa.


Bem, depois da ação no Líbano, o filme nos transporta sem escalas para a "Muldônia, ex-República Soviética", país que eu acredito ser fictício - pelo menos nunca tinha ouvido falar sobre ele, e nem achei nada sobre no Google; além disso, as filmagens aconteceram na Lituânia.

Enfim, "Muldônia" é um daqueles pequenos países europeus sob regime ditatorial que os norte-americanos adoram representar em filmes de ação, especialmente depois que a antiga inimiga União Soviética sumiu do mapa.

Ali, uma vila inteira é exterminada pelo cruel General Hasib Rafendek (Eli Danker, cuja cara realmente dá medo). Só que uma jornalista norte-americana (Daniella Deutscher) estava por perto e registrou todo o massacre. Ela acaba sendo aprisionada pelo ditador, que pretende trocá-la por prisioneiros de guerra.


Entretanto, como todos sabemos, "os Estados Unidos não negociam com terroristas". E lá se vão os bravos soldados da Força Especial para uma difícil missão de resgate, em que precisam enfrentar, literalmente, todo o exército da Muldônia!

Sorte que eles contarão com uma ajudinha especial de Talbot (Scott Adkins), um espião inglês especialista em artes marciais que pretende vingar a morte do parceiro.


Se eu precisasse resumir as qualidades de FORÇA ESPECIAL em apenas três palavras (e felizmente não preciso, mas vamos fingir que sim), eu usaria essas: Florentine, Teague e Adkins.

Nosso diretor já foi suficientemente bem apresentado e não precisa de maiores referências. Já nosso astro Teague é um ator de segundo para terceiro escalão que já apareceu em blockbusters ("Armageddon", "A Rocha"), em filmes do Chuck Norris e em produções de quinta categoria.

Seu papel mais memorável foi enfrentando Patrick Swayze em "Matador de Aluguel", ainda bem jovem - ele era o capanga de Ben Gazarra, que tinha o pescoço dilacerado por Swayze com um único golpe! Aqui, Teague demonstra suas habilidades em artes marciais numa luta final das boas com o grande vilão.


Mas a grande estrela de FORÇA ESPECIAL é o inglês Adkins, que, apesar de "coadjuvante", rouba o filme. Enquanto antigas promessas como Jason Statham vem fazendo filmes cada vez piores e mais convencionais, Scott Adkins é o único astro de ação da modernidade cuja filmografia eu tenho interesse em acompanhar.

Fã de Bruce Lee e Van Damme, o ator treina judô, taekwondo e kickboxer desde moleque, portanto tem gabarito para fazer suas próprias cenas de luta, sem recorrer a dublês. Ele começou sua carreira em produções como "O Medalhão" (com Jackie Chan) e "Máscara Negra 2".


Mais recentemente, após vários papéis de coadjuvante ou de vilão em produções dinheirudas ("A Pantera Cor-de-Rosa", "O Ultimato Bourne"), Adkins vem galgando os degraus para sair da "classe B" para o estrelato - o que pode acontecer em breve, já que ele está no elenco de "Os Mercenários 2".

FORÇA ESPECIAL marca sua primeira parceria com Florentine. Ele apareceu em todos os filmes do diretor desde então, no que se revelou uma dobradinha bem-sucedida. Inclusive teve a honra de dar uns catiripapos no ídolo Van Damme em "Operação Fronteira", e depois estrelou o divertidíssimo "Ninja".


Aqui, Adkins mostra os seus talentos com punhos e pernas em diferentes cenas ao longo do filme, e também ganha sua própria longa e violenta luta final contra o braço direito do vilão, numa pancadaria editada em paralelo ao confronto entre o protagonista Teague e o "último chefão".

Dá gosto de ver o cara lutar. Inclusive ele lembra Van Damme nos bons tempos de "Cyborg - O Dragão do Futuro", mas é muito melhor ator. Espero que a parceria Florentine-Adkins mantenha-se firme ainda por um bom tempo.


É interessante ressaltar que um outro diferencial de FORÇA ESPECIAL para "Os Mercenários", além da qualidade superior de direção e edição aqui, é que os heróis liderados pelo Major Harding enfrentam situações de vida ou morte e não raramente acabam levando a pior, mostrando-se muito mais "descartáveis" do que os "expendables" do Stallone - o que não deixa de ser irônico.

Óbvio que a coisa seria mais interessante se os heróis fossem interpretados por atores mais conhecidos (algo que "Os Mercenários" tinha e não soube aproveitar). Tem até uma cena em que um dos "good guys" é metralhado pelas costas em câmera lenta, estilo "Platoon"!


Também é curioso o fato de que os soldados desse filme REALMENTE parecem soldados. Ao invés de sair correndo e atirando contra tudo que se mexe, como é frequente nos filmes de ação, os caras parecem bem treinados e seguem estratégias e ordens do seu comandante, o que dá um ar um pouco mais verossímil às cenas de combate.

Talvez ajude o fato de um dos heróis ser interpretado por Tim Abell, um cara que serviu no Exército e que já trabalhou dando assessoria em filmes que representam a vida militar, como o drama sobre o Vietnã "Fomos Heróis".


Em entrevistas, o diretor Florentine declarou que seu filme aborda polêmicos temas atuais, como o conflito entre bósnios e croatas e os genocídios em países dos Balcãs, onde aconteceram e acontecem extermínios em nome da "limpeza étnica".

Mas convém não dar muita bola para os discursos do cineasta, pois FORÇA ESPECIAL não passa de um belo filme de ação casca-grossa que não perde muito tempo com sociologia ou discursos engajados. Pelo contrário, o negócio é tão clichê que os vilões, todos feiosos, aparecem surrando idosos e crianças, e sempre com cigarros na boca, enquanto os heróis são bonitões, simpáticos, hiper-patrióticos e exemplos de honra e virtude.


O resultado é absurdamente competente, ainda mais considerando a mixaria que o filme custou e a quantidade de pancadarias, tiroteios e explosões ao longo dos 90 minutos de duração. A contagem de cadáveres chega a umas três centenas, lembrando o estrago que John Rambo fez na Birmânia em "Rambo 4".

Por isso, sabendo que o orçamento mal chegou a 3 milhões de dólares, fico só imaginando o que Isaac Florentine e seu chapa Scott Adkins fariam com metade do orçamento de um blockbuster nas mãos.

E é uma pena que uma coisa dessas continue apenas na imaginação, e que um filme como "Os Mercenários 2", o veículo perfeito para Florentine demonstrar sua técnica, caia nas mãos de um cabeça-de-bagre como Simon West - e com um orçamento de 100 milhões para desperdiçar.

Mundo injusto...

Trailer de FORÇA ESPECIAL



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Special Forces (2003, EUA)
Direção: Isaac Florentine
Elenco: Marshall R. Teague, Scott Adkins, Tim Abell,
Danny Lee Clark, Troy Mittleider, Daniella Deutscher,
Terence J. Rotolo e Eli Danker.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

OPERAÇÃO FRONTEIRA (2008)


Quando terminei de assistir OPERAÇÃO FRONTEIRA, fui conferir o ano de produção do filme. Estranhamente, a capinha do DVD e o IMDB diziam que tinha sido produzido em 2008. Pois se não fossem alguns raros produtos da modernidade (como telefones celulares) e a citação contemporânea à ocupação norte-americana no Iraque, eu juraria que essa era uma produção feita 20 anos antes, em 1988.

Nessa onda de revival dos anos 80 que anda invadindo as artes em geral, OPERAÇÃO FRONTEIRA surge como uma boa pedida para quem está com saudade daquelas aventuras de Chuck Norris, Michael Dudikoff e Charles Bronson lançados em VHS pela América Vídeo. Confesso que não ficaria surpreso se o logo da saudosa Cannon Films aparecesse no início, e se o filme fosse encontrado nas locadoras com a seguinte capinha:


Enfim, todos os clichês possíveis e imagináveis destas obras classe B dos anos 80 e da Cannon Films aparecem aqui: o policial durão que prefere trabalhar sozinho, mas é obrigado a aturar um parceiro certinho (e negro, obviamente); o superior que fica pegando no pé do herói (aqui representado por uma mulher valentona, porque os tempos são outros); as inevitáveis brigas no bar e na prisão, e uma quadrilha de traficantes de drogas como vilões.

Dois nomes se destacam na ficha técnica: o astro belga Jean-Claude Van Damme, que dispensa maiores apresentações, e o cineasta israelense Isaac Florentine, que nos últimos anos construiu uma sólida reputação como diretor de filmes de ação baratos e eficientes, e hoje é um dos nomes mais idolatrados pelos fãs do gênero.


Tinha tudo para ser um encontro de titãs, mas na prática foi bem diferente: insatisfeito com a forma como Florentine conduzia o negócio, Van Damme acabou assumindo o controle sobre as decisões criativas durante as filmagens. O resultado é... bem... divertido e ainda eficiente, mas anos-luz aquém do potencial da dobradinha Van Damme/Florentine.

O roteiro de Joe Gayton e Cade Courtley traz Van Damme como Jack Robideaux, um policial de Nova Orleans transferido para patrulhar a fronteira dos Estados Unidos com o México, e justamente numa das regiões mais violentas, onde o número de homicídios é altíssimo.


Enquanto todos os policiais da área são naturalmente corruptos e/ou cagões, Robideaux tem uma verdadeira fixação por correr atrás da encrenca, seja espancando arruaceiros num bar (arruaceiros que não têm nada a ver com a trama principal, bem entendido), seja enchendo os traficantes de tiros de pistola ou fuzil. Ou voadoras.

O problema é que surge por ali uma nova quadrilha de traficantes, formada por ex-soldados norte-americanos que lutaram na Guerra do Iraque e têm armamento moderno, aliado a técnicas de combate e guerrilha.


O grupo é chefiado pelo cruel Benjamin Meyers (Stephen Lord, que não mete medo nem em bebê, e já tinha apanhado de Van Damme no superior "Até a Morte"), que tomou o controle da região à força, matando os outros traficantes.

Quando os "negócios" começam a ser prejudicados pelo novo oficial da fronteira, os bandidos primeiramente tentam comprar Robideaux. Mas com a recusa do herói em corromper-se, resta a opção mais difícil: matá-lo. Não precisa ser muito inteligente para perceber como esta história vai terminar, correto? Acertou quem respondeu "mais clichês", incluindo a tortura do herói na fortaleza mexicana e impenetrável dos vilões e a posterior fuga do mocinho para acertar as contas com eles.


O mais curioso de OPERAÇÃO FRONTEIRA é que ele ora tenta ser sério, ora é absurdamente exagerado, ora investe num tom jocoso e bem humorado. Em suma, é aquele tipo de aventura impossível de engolir, para ver com seu pai no Domingo Maior e sem maiores pretensões.

Afinal, como levar a sério um filme em que o herói Robideaux, com toda aquela pinta de valentão, leva para todo lado o seu mascote, um coelho chamado Jack?

Outro toque de humor é o fato de o protagonista nunca conseguir vestir seu uniforme de oficial da fronteira, pois toda vez que sai do vestiário alguém acaba derramando café nele acidentalmente!


Enfim, OPERAÇÃO FRONTEIRA é meio esquisito porque saiu num momento "diferente" da carreira do belga, bem entre os seus papéis mais "dramáticos" e realistas nos ótimos "Até a Morte" e "JCVD".

Ora, pois aqui ele não demonstra nada de dramático ou realista: é o típico herói fanfarrão e de poucas palavras do cinema de ação oitentista, e esse deve ser um dos motivos pelo qual o belga ficou insatisfeito com a obra.

O que parece é que o diretor Florentine queria uma aventura casca-grossa à moda antiga, com Van Damme arregaçando geral, enquanto o belga buscava uma interpretação mais "intimista". Nas palavras do próprio, retiradas de uma entrevista: "Eu não fiquei feliz com esse filme. Tivemos que filmar as lutas de vários ângulos para que eu parecesse melhor, chutando mais alto, e eu não quero mais fazer esse tipo de coisa. Eu inclusive pedi que cortassem algumas cenas para que o filme ficasse mais realista".


Apesar dessa frescura, OPERAÇÃO FRONTEIRA ainda tem algumas cenas de luta muito interessantes, quando o astro demonstra uma disposição excelente considerando seus 48 anos de idade - sem contar que ele mesmo faz as acrobacias e golpes, ao contrário de Steven Seagal, geralmente substituído por dublês.

Duas cenas de pancadaria já valem o preço da locação ou o download: o confronto com valentões num bar logo no início, quando cadeiras chutadas pelo herói têm o mesmo efeito de balas de canhão, e o violento duelo final com um dos capangas do chefão, o mestre de kickboxing Scott Adkins (que já atuou ao lado de Jet Li e Jackie Chan, e é considerado um dos melhores astros de ação do segundo escalão hoje).


Adkins já havia exibido seus conhecimentos em artes marciais ao longo do filme, detonando desafetos de maneira bem dolorida, e parece divertir-se muito no arranca-rabo com Van Damme, numa cena em que os atores até parecem estar se surrando de verdade.

Infelizmente, essa foi uma das sequências que sofreu a interferência do astro belga. Tanto Florentine quanto o próprio Adkins falaram, em diversas entrevistas, que o duelo entre herói e vilão foi concebido como uma cena literalmente épica, com quase dez minutos de duração e uma infinidade de golpes e malabarismos.


O especialista J.J. Perry chegou a coreografar a longa luta, mas o baixinho não quis se cansar e exigiu uma cena mais simples e mais rápida. Portanto, no filme, o confronto Van Damme-Adkins mal chega a três minutos, e isso com um montão de câmera lenta.

(O episódio lembra uma frescura semelhante de Steven Seagal durante as filmagens de "Lado a Lado com o Inimigo", quando o ex-astro gorducho vetou uma luta igualmente longa e emocionante com Gary Daniels e exigiu que a cena fosse rápida e favorável ao seu personagem!)

Van Damme versus Scott Adkins!



Mesmo que a tal "luta épica" não tenha saído do papel, a troca de carinhos entre Van Damme e Adkins é indiscutivalmente o ponto alto de OPERAÇÃO FRONTEIRA.

E não sei se foi intencional, mas o herói leva um golpe muito parecido com o "facão" de Guile no jogo "Street Fighter 2" - o que é curioso, considerando que Van Damme interpretou Guile no horrendo "Street Fighter - A Última Batalha", quando deu ele mesmo um "facão" em Raul Julia!

Esses momentos comprovam porque o diretor Florentine caiu nas graças dos fãs de filmes de ação: todas as cenas de luta são muito bem filmadas, sem cortes de milésimo de segundo e nem os exageros daqueles "vôos" com cabos metálicos.


Você consegue entender tudo que está acontecendo, e percebe que o mérito é do diretor, dos atores e do coreógrafo de lutas, e não do editor que picotou toda a cena na pós-produção!

Nesses tempos de "cinema-videoclipe", impossível de acompanhar sem ficar com dor de cabeça, Isaac Florentine é um dos poucos caras que sabe o que faz. É uma pena, portanto, que ele e Van Damme não tenham se entendido durante as filmagens, pois OPERAÇÃO FRONTEIRA poderia ter alavancado a carreira do diretor para o primeiro time.


Infelizmente, tirando estas cenas de luta mais trabalhadas, o filme é bem convencional no quesito ação, pois os tiroteios e explosões não têm a mesma técnica das lutas e repetem-se sem emoção ou coreografias elaboradas, no estilo "Van Damme atira, figurantes anônimos caem como moscas".

Outro grande problema de OPERAÇÃO FRONTEIRA, que deve ser resultado das "diferenças criativas" entre diretor e astro, é a narrativa truncada. A impressão que fica é que o diretor foi arrancando páginas do roteiro aleatoriamente, pois muita informação fica ao léu, inclusive detalhes importantes para o desenvolvimento da história.


Por exemplo: a cena inicial mostra os vilões numa de suas operações como soldados no Afeganistão. Eles procuram insistentemente por alguém (cuja importância na trama morre por aí), e tentam forçar um grupo de civis a abrir o bico na base da porrada. Entretanto, uma das afegãs tem um cinturão de bombas amarrado ao peito e se explode em pedacinhos. Neste momento, simplesmente aparece a legenda "Dois anos depois...", e o roteiro não se preocupa em explicar o que aconteceu após a explosão, nem se os vilões encontraram quem estavam procurando (parece apenas uma desculpa furada para justificar o fato de os bandidos usarem homens-bomba mais tarde).

Outro furo é o fato de um personagem aparentemente importante (um espião que trabalha para a delegada) aparecer apenas no final, e apenas para morrer. Após seu falecimento, o fulano é citado diversas vezes pelos personagens, como se tivesse aparecido com destaque antes, mas isso jamais aconteceu! Suas cenas anteriores provavelmente ficaram no chão da sala de edição. Se é que foram filmadas.


(Vale lembrar que Florentine não teve direito ao corte final e foi impedido por Van Damme de acompanhar o processo de edição do filme. Logo, a culpa pela montagem caótica não é dele.)

Mas esses defeitos não comprometem o resultado final: como diversão escapista, OPERAÇÃO FRONTEIRA é nota 10. Passa rápido como um trem-bala, não é longo o suficiente para pedir o uso da tecla FF e tem até uma generosa contagem de cadáveres, em cenas sem-noção como a do ônibus blindado cheio de traficantes disfarçados como padres (!!!).

E as boas cenas de pancadaria (boas e bem filmadas) valem o programa, especialmente no final, quando a trilha sonora com tom mexicano parece lembrar um western spaghetti contemporâneo. Sem contar que, nesses malditos tempos politicamente corretos de heróis certinhos e afrescalhados, sempre é bom ver uma cena forte como a do protagonista espancando um vilão até a morte!


Se o filme não funcionou tão bem como deveria, e não subiu Isaac Florentine para o primeiro time, pelo menos o diretor se recuperou bem da "traumática" experiência: no ano seguinte (2009), dirigiu o ótimo "Ninja", estrelado por Scott Adkins, novamente lembrando aquelas produções malucas e divertidíssimas da Cannon Films (podia até ser lançado como "Ninja 4").

Atualmente, ele continua comandando produções B de ação e pancadaria, e talvez seja melhor assim. Vai que o homem perde a mão caso ganhe uns milhões a mais e tenha que obedecer esses produtores que não entendem porra nenhuma de porra nenhuma?

Mas, como sonhar é de graça, confesso que fico imaginando o bem que Florentine faria a uma superprodução como "Os Mercenários", que naufragou justamente pela falta de um diretor decente para as cenas de ação...

Trailer de OPERAÇÃO FRONTEIRA



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The Shepperd (2008, EUA)
Direção: Isaac Florentine
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Stephen Lord,
Natalie J. Robb, Gary McDonald, Daniel Perrone,
Scott Adkins, Andrée Bernard e Dan Davies.