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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL (1986)


Muito já foi dito e escrito sobre como os cineastas do Brasil, o "País do Futebol", parecem mais um time de peladeiros tentando jogar futebol profissional quando o assunto é fazer filmes sobre o esporte. Afinal, tirando alguns documentários clássicos ("Garrincha, Alegria do Povo", de Joaquim Pedro de Andrade, e "Isto É Pelé", de Luiz Carlos Barreto), e alguns poucos filmes sobre craques reais ou fictícios ("Asa Branca – Um Sonho Brasileiro", de Djalma Limongi Batista, e "Heleno", de José Henrique Fonseca), nosso cinema ainda está no banco de reservas nessa área.

O melhor argumento para comprovar como somos pernas-de-pau em filmes sobre futebol é OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL, de 1986. Era uma daquelas ideias que não tinha como dar errado: simplesmente o maior grupo humorístico do país fazendo piada com uma das grandes paixões nacionais, e com o aval do "Rei" Pelé, que "interpreta" um dos personagens principais.


O cinema brasileiro já tinha tentado brincar com o futebol, bem de leve, três anos antes, quando Ícaro Martins e José Antonio Garcia dirigiram "Onda Nova" (1983), sobre um time de futebol feminino. Não funcionou muito bem, mas entrou para a história pela antológica proposta de uma garota ao jogador Casagrande (interpretando ele mesmo): "Eu sou virgem e queria que você me descabaçasse".

E embora OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL tenha uma grande parcela de culpa na minha formação como cinéfilo (foi o primeiro filme que eu vi no cinema, com 7 anos de idade, e também em vídeo, logo que meu pai chegou em casa com um velho videocassete duas cabeças comprado no Paraguai), o resultado é bem fraquinho, tanto como "filme de futebol" e (principalmente) como comédia dos Trapalhões.


O mínimo que se esperava de uma comédia dos Trapalhões sobre futebol seria algo equivalente a um "Shaolin Soccer", brilhante comédia chinesa de 2001, dirigida e estrelada por Stephen Chow. Sim, eu sei que "Shaolin Soccer" foi feito 15 anos DEPOIS, mas estou me referindo à maneira aloprada como os chineses conseguiram juntar humor e esporte. Era o que os Trapalhões deveriam ter feito, até porque o Pelé também está no meio. Mas o que o filme entrega é uma passatempo pífio, em que o futebol é mera desculpa para uma trama meia-boca de corrupção nos bastidores do esporte, e onde a câmera só entra em campo depois de 60 minutos, para uma "partida final" cujas cenas mal somam 6 minutos! Pense em propaganda enganosa...

O próprio Pelé passa a maior parte do filme "engessado", já que não aparece como jogador (o mais óbvio) e tampouco como o "Rei do Futebol" anunciado no título, mas sim "interpretando" um jornalista chamado Nascimento, grande amigo dos Trapalhões, e tentando demonstrar maior intimidade com uma velha máquina de datilografia do que com a bola. Na grande decisão, no final, quando Nascimento finalmente tem a chance de entrar em campo, ele o faz... como goleiro?!?


Dirigido pelo brilhante Carlos Manga, um veterano das clássicas chanchadas dos anos 50 (como "Matar ou Correr" e "O Homem do Sputnik"), OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL conta a história de quatro amigos que trabalham como roupeiros e massagistas de um grande time de futebol, o Independência, mas nas horas vagas disputam peladas com seu próprio time, o Galinheiro Futebol Clube. Eles são Cardeal (Renato "Didi" Aragão), Elvis (Dedé Santana), Fumê (Mussum) e Tremoço (Zacarias).

O Independência está em crise devido a sucessivas derrotas, e isso provoca a renúncia do presidente do time e a demissão do seu treinador. Com isso, um novo presidente é nomeado emergencialmente, o Dr. Velhaccio (José Lewgoy), mas suas decisões entram em conflito com as de outro diretor do clube e aspirante a presidente, o Dr. Barros Barreto (Milton Moraes).


Inicia-se uma guerra entre os dois rivais, que resulta na contratação do roupeiro Cardeal como novo técnico e bode expiatório: como Barros Barreto demitiu o técnico anterior sem consultar Velhaccio, o presidente espera que o incompetente roupeiro afunde o time de vez e comprove que seu rival não deveria ter mandado embora o outro treinador - e a torcida que se exploda, certo?

Alheio à guerra política nos bastidores, Cardeal e seus amigos põem em prática um novo e excêntrico programa de treinamento para os atletas do Independência Futebol Clube, que abandonam a vida mansa e são obrigados a fugir de cães ferozes para ganhar velocidade e a perseguir e agarrar galinhas soltas no campo para desenvolver a agilidade!


O resultado é inesperado: o time sob nova direção ganha todas as partidas e sobe para a liderança do campeonato, e o nome de Cardeal começa a ser cogitado como novo presidente pelo jornalista Nascimento. O problema é que se o Independência for campeão, isso provará que Barros Barreto estava certo por demitir o antigo treinador, colocando Velhaccio em situação complicada.

A solução encontrada pelo presidente para sair da enrascada é sequestrar Aninha (Luiza Brunet!), por quem Cardeal é apaixonado, para forçá-lo a fazer o time perder a decisão em pleno Maracanã lotado. Mas, enquanto o técnico comanda a partida, seus amigos Trapalhões mais Nascimento partem para o resgate da moça, e depois ainda precisam garantir uma virada histórica numa partida que seu time está perdendo por 4x0.


Além dos Trapalhões, de Pelé, do futebol e do diretor Carlos Manga, o filme traz pelo menos mais dois ícones brasileiros: o "Antônio das Mortes" Maurício do Valle, em seu enésimo papel de vilão (só nos filmes do grupo ele foi vilão em outras quatro produções, incluindo "Os Trapalhões no Reino da Fantasia"), e Luiza Brunet, então uma das mulheres mais lindas do Brasil, em sua estreia no cinema (na verdade, em seu ÚNICO FILME, embora ela tenha feito uns vídeos tipo "Programa de Beleza de Luiza Brunet").

Aninha, a personagem de Luiza, funciona como o típico interesse amoroso do Didi que na verdade ama outro personagem, partindo o coração do Trapalhão no final. Esta é uma figura feminina frequente em quase todas as aventuras do quarteto. Mas se isso já foi pretexto para cenas tristes em outros filmes deles (mais notadamente em "Os Trapalhões na Guerra dos Planetas"), aqui a desilusão amorosa de Didi é enfocada bem de leve, sem lágrimas ou música triste no final.


Chega a ser irônico que OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL tenha sido lançado em 1986, mesmo ano da Copa do México. O desempenho da Seleção Canarinho no torneio foi tão frustrante quanto o filme dos Trapalhões: foi eliminada ainda nas quartas-de-final pela França.

Alguns defendem o desempenho brasileiro, já que o time saiu da competição invicto (foram quatro vitórias e um empate, 10 gols marcados e apenas um sofrido, justamente no derradeiro empate em 1x1 contra a França, que ganhou nos pênaltis). Mas não deixou de ser um banho de água fria nos torcedores brasileiros, assim como o filme dos Trapalhões.


Afinal, o que qualquer ser humano normal espera de um filme chamado OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL estrelado pelo quarteto e pelo Pelé? Quem será que teve a ideia de jerico de colocar o Pelé apenas como enfeite? Pois ele raramente encosta numa bola e, quando entra em campo, como já escrevi, é na posição de goleiro! No restante de suas cenas "sérias", Pelé não consegue fazer nada parecido com interpretação; é simplesmente Pelé fazendo de conta que é jornalista!

E o homem é tão ruim, mas tão ruim como ator que as partes mais engraçadas do filme são as dele, mesmo que estas cenas originalmente fossem sérias! Parece que, numa de suas incontáveis entrevistas, Pelé teria declarado que sonhava em ser ator caso a carreira como jogador de futebol não tivesse dado certo. Então ainda bem que ele fez sucesso nos campos, porque, como ator, Pelé é um ótimo goleiro - pelo menos aqui no filme dos Trapalhões!


Vale lembrar que Pelé já explorava sua persona de Rei do Futebol vários anos antes dessa parceria com Os Trapalhões. Por exemplo: em "Os Trombadinhas" (1979), de Anselmo Duarte, o craque aparece como ele mesmo - Pelé -, deixando de lado os treinos do Santos para resolver com as próprias mãos (e pés) o problema da delinquência juvenil na cidade.

E no divertido de tão ruim "Fuga para a Vitória" (1981), de John  Huston, ele aparece como um craque caribenho (!!!) que joga futebol num time de prisioneiros de guerra formado por Michael Caine e Sylvester Stallone, em plena Segunda Guerra Mundial!


Portanto, é realmente muito chato que, num filme com "Rei do Futebol" no título, Pelé não faça nada digno desta alcunha. Também é muito chato que uma comédia sobre futebol praticamente não tenha cenas e nem piadas sobre o esporte.

Na cena inicial, quando o Galinheiro F.C. enfrenta um time de valentões, vemos uma rápida pelada que logo evolui para pancadaria (por sinal, esta é a única exibição do Galinheiro F.C., depois sumariamente esquecido na trama). Seguem-se as confusões de praxe, e aí os Trapalhões e seu Independência F.C. só voltam ao campo para jogar futebol nos seis minutos finais. Até então, a ascensão do time no campeonato é mostrada apenas através de narrações em off sobre imagens do time nos vestiários! Logo, de futebol mesmo só temos o começo e o final do filme!


Alguém pode argumentar que havia as já conhecidas dificuldades técnicas do cinema brasileiro da época para se filmar partidas de futebol com a necessária emoção, agilidade e realismo, e as cenas futebolísticas realmente são bem ruinzinhas. Mas isso não justifica a inexistência de mais piadas com o treinamento e a rotina de um time de futebol, ou quem sabe os Trapalhões sacaneando os times adversários durante as partidas. O filme prefere perder tempo enfocando a politicagem nos bastidores, e a culpa pode ser creditada aos roteiristas - os noveleiros Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares, sem nenhum timing para comédia ou esporte.

As piadas são fracas e escassas, e o veterano Manga não consegue fazer muita coisa tendo os quatro Trapalhões à sua disposição, logo ele que fez maravilhas com Oscarito e Grande Otelo nas chanchadas da Atlântida! É tão pouca história para contar que este também é um dos filmes mais curtos da carreira do quarteto, com meros 68 minutos! Qualquer pelada de bairro dura mais do que isso, mesmo quando é jogo dos veteranos...


Embora seja uma produção voltada ao público infantil, com as trapalhadas e a comédia-pastelão de costume, às vezes OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL surpreende com algumas tiradas mais adultas, incluindo palavrões BEM adultos. Ao se referir a um dos vilões, por exemplo, Didi diz: "Ele é tão ruim que se pisar na merda, fica difícil separar um do outro". Já ao questionar a masculinidade do goleiro Sansão (Marcelo Ibrahim, que morreu no mesmo ano), Didi sugere a Zacarias: "Dá uma injeção de 'machól' nele".

Também há uma cena muito engraçada durante um show de samba, quando Didi fica completamente fascinado pelas bundas das mulatas rebolando a poucos centímetros do seu nariz! Este é um raro momento em que o diretor Manga parece à vontade, quem sabe rememorando as comédias musicais carnavalescas que dirigiu nos anos 50-60. Nesta cena, o samba cantado por Mussum, com seu refrão "Com você na cabeça tá legal, Cardeal, Cardeal", gruda na cabeça e não solta mais.


E justiça seja feita: a única partida do Independência F.C. mostrada no filme, na cena final, tem algumas piadas até hoje hilárias, incluindo um momento inesquecível em que Didi/Cardeal cobra o escanteio e depois corre para a frente da goleira adversária para fazer um gol de cabeça!

O mesmo Cardeal (talvez seja ele o legítimo "Rei do Futebol" anunciado no título) também faz um golaço do meio-de-campo, quando o jornalista Nascimento, em momento auto-biográfico, declara: "Esse nem o Pelé conseguiu fazer!". Se tivéssemos mais momentos assim e mais piadas "adultas" como as anteriormente citadas durante o resto do filme, OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL poderia ter entrado com louvor na relação das grandes comédias do grupo. Infelizmente, estas partes são exceção, e não regra.


Didi cobra escanteio e cabeceia para o gol!



Mas o público não se importou com os muitos problemas do filme. Tanto que OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL foi a 15ª maior bilheteria entre os trabalhos do quarteto, e o 26º filme brasileiro mais visto da história, com mais de 3.600.000 espectadores!

Isso torna até simbólica a cena final desta comédia, quando o personagem de Renato Aragão "dá uma banana" para a câmera (e para o público), num momento congelado antes que o gesto obsceno se complete, talvez para poupar os pais de explicar às crianças menores o que significa aquilo.


No fundo, é como se o próprio Renato Aragão estivesse "dando uma banana" para os críticos que malhavam as produções dos Trapalhões na época, e também para todos nós, espectadores que não gostamos do filme e ficamos achando mil defeitos nele.

Ok, "Banana" aceita, Sr. Didi. Mas isso não torna OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL melhor. Pelo contrário, continuo esperando que um cineasta corajoso e um roteirista inspirado façam o "Shaolin Soccer" brasileiro. Quem sabe agora, que estamos às vésperas da Copa do Mundo de 2014?

PS: Surgiu uma polêmica relacionada ao filme em 2011, quando o presidente do time cearense Maguary Sport Club declarou à imprensa que o uniforme do fictício Independência Futebol Clube seria uma homenagem de Renato Aragão ao Maguary (cujas camisetas são parecidas com as do time do filme). O Trapalhão negou a "homenagem", mas a turma do Maguary não quer nem saber e continua se sentindo representada no cinema brasileiro. Leia reportagem sobre o episódio clicando aqui.


Veja OS TRAPALHÕES E O REI DO FUTEBOL na íntegra!



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Os Trapalhões e o Rei do Futebol 

(1986, Brasil)
Direção: Carlos Manga
Elenco: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum,
Zacarias, Pelé, Maurício do Valle, Luiza Brunet,
José Lewgoy e Milton Moraes.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA (1985)


(A resenha de hoje vai especialmente para o pessoal da mesma idade que eu, que, nesse período de férias, sempre assistia as reprises dos filmes dos Trapalhões nas tardes da Globo.)

Pouca gente lembra que Dedé Santana, além de ser o segundo na hierarquia de importância do quarteto Os Trapalhões, também dirigiu alguns dos filmes do grupo.

Os dois últimos trabalhos assinados por ele se caracterizam pela metalinguagem, trazendo Didi, Dedé, Mussum e Zacarias no "papel" deles mesmos, num interessante conceito que aproveitava a fama estrondosa que os humoristas faziam no Brasil da década de 80.


Esses filmes estão de certa forma conectados. Um deles é a animação "Os Trapalhões no Rabo do Cometa" (1986), já resenhada aqui, em que o quarteto aparece fazendo um show no Teatro Scala antes de "virar desenho animado". O outro é OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA, lançado um ano antes, mas produzido e filmado ao mesmo tempo que "O Rabo do Cometa".

A trama de OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA é simplíssima: Xuxa Meneghel (que então ainda fazia seu show infantil na TV Manchete, tendo se bandeado para a Globo apenas em 1986) é uma freirinha inocente, a Irmã Maria, professora do Orfanato São Judas.


Quando problemas financeiros ameaçam fechar o local, ela decide convidar Os Trapalhões para fazer um show humorístico beneficente, angariando o dinheiro que salvará o orfanato e suas crianças.

Mas um grupo de bandidos liderados por Maurício do Valle rouba a bolada, e Didi e Dedé iniciam uma longa perseguição aos meliantes, enquanto Mussum e Zacarias continuam no palco levando o show adiante para não frustrar o público que lotou o teatro.


O que mais salta aos olhos hoje, revendo o filme, é a ruindade e total falta de coesão/conexão do roteiro escrito por Dedé, Renato Aragão, Paulo Andrade e, vejam só, Jorge Fernando (!!!).

Sem muita preocupação em contar uma história linear, OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA tem números musicais (desnecessários), um trecho de quase 20 minutos em animação (sem muita conexão com o resto da história), vários esquetes humorísticos encenados pelo quarteto durante seu "show beneficente" e, finalmente, a longa perseguição aos bandidos, que ocupa a meia hora final do filme.


Descontando os créditos iniciais e finais, não sobra nem 1h10min de "história". Se tirarmos a animação, os esquetes e as músicas, então, não sobra praticamente nada. Logo, é uma desculpa bem esfarrapada para se fazer um longa!

(Mais ou menos como "Cheech & Chong em Amsterdan", de 1983, outra picaretagem composta, em sua maior parte, pela gravação de uma apresentação ao vivo dos dois comediantes norte-americanos.)


A melhor coisa de OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA é justamente o trecho em animação, novamente produzido pelos Estúdios Maurício de Souza. Mas o mais estranho é que este trecho está ligado diretamente à história do desenho animado "Os Trapalhões no Rabo do Cometa", que foi lançado NO ANO SEGUINTE.

Inclusive traz o personagem do Bruxo (dublado por José Vasconcelos) que precisa segurar na mão do Didi, para recuperar os poderes mágicos roubados pelo Trapalhão. Como toda essa trama é explicada apenas em "O Rabo do Cometa", quem viu OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA em 1985 não deve ter entendido bulhufas...


(A minha teoria é de que "O Rabo do Cometa" foi inicialmente idealizado para ser lançado em 1985, mas Maurício de Souza e sua trupe não conseguiram concluir o processo de animação, assim liberaram apenas um trecho já pronto e os Trapalhões tiveram que se virar para fazer um filme às pressas e tapar o buraco.)

Curiosamente, ainda, esse trecho em desenho animado parece ser justamente O FINAL da história de "O Rabo do Cometa", com Didi, Dedé e Mussum viajando para um futuro em que cachorros-mecânicos fazem xixi elétrico nos postes e robôs-mendigos pedem óleo como esmola.


Ali, o Bruxo é finalmente vencido por Zacarias usando uma arma paralisante. Logo, essa parte não é apenas um "aperitivo" para o desenho animado que seria lançado no ano seguinte, como eu cheguei a pensar, mas um complemento da história do filme POSTERIOR! Melhor não tentar entender...

O restante de OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA dá destaque à apresentação dos humoristas no palco de um teatro - quase como um "Monty Python Ao Vivo no Hollywood Bowl" dos pobres.


É uma rara oportunidade para o quarteto refazer alguns de seus esquetes mais conhecidos do programa de TV dominical, como o do Didi boxeador comendo "rapadura atômica" e soltando bordoada em todo mundo - no rival, no próprio treinador, no juiz da luta e até no câmera!

Outro momento impagável é o dos "Heavy Trap's", trazendo Os Trapalhões como banda de heavy metal. Quem não rir de Mussum na bateria e Didi sem camisa tocando guitarra, ambos com exageradas perucas de cabelos longos, não é humano (confira se você é humano ou não vendo o vídeo abaixo).

Heavy Trap's in concert



(A propósito, o vocalista da banda, que canta a estúpida música "Hoje Não é Meu Dia de Sorte", é um tal de Lenine. Sim, você leu direito: AQUELE Lenine...)

A meia hora final acompanha a longa perseguição de Didi, Dedé e Xuxa aos meliantes que roubaram a bilheteria do espetáculo. Até o falecido Beto Carrero aparece em pessoa para dar uma mãozinha aos Trapalhões, e há perseguições de carro, moto, cavalo e diligência.

Apesar disso, e da pancadaria pastelão típica do grupo, estes são os momentos menos engraçados e divertidos da obra, privilegiando a ação, o corre-corre e o trabalho dos dublês.


A metalinguagem não se resume aos Trapalhões interpretando "eles mesmos", e aparecendo como um quarteto humorístico famoso (que realmente eram).

Também aparece em cena a famosa revista dos Trapalhões publicada pela Bloch (que eu citei na resenha de "O Rabo do Cometa"), e, durante um número musical, são exibidas fotos antigas de cada um dos Trapalhões, além de cenas dos longas anteriores do grupo. Você pode conferir essa parte no vídeo abaixo:

"É legal ser um Trapalhão?"



É óbvio que OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA foi feito para o público infantil e não deve ser levado muito a sério. Mesmo assim, é impossível não se enfurecer com alguns momentos excessivamente ingênuos e absurdos do roteiro, como a diretora que interrompe uma aula da freirinha Xuxa para informar que o orfanato será fechado em um mês por causa dos problemas financeiros - como se essas coisas fossem anunciadas assim, e não em reuniões particulares.

Tem ainda o fato de que alguns dos números apresentados pelos Trapalhões no suposto show humorístico exibem cenários, figurinos e efeitos especiais muito elaborados para estarem realmente acontecendo "ao vivo" no palco de um pequeno teatro.


Porém, mesmo num filme fraco dos Trapalhões, é possível pescar algumas coisas bem interessantes, como Beto Carrero fazendo o tipo "herói do Velho Oeste" (engraçado que ninguém nunca tenha pensado em produzir um longa de ação com o sujeito naquela época).

Ou o curioso (e inapropriado) apelo erótico da freirinha Xuxa, que parece estar num "nunsploitation" dirigido por Jess Franco, sempre com as coxas de fora ou a bundinha empinada, ou então caindo maliciosamente sobre Didi e Dedé - numa cena-chave da trama, Didi confessa estar apaixonado pela religiosa, algo que hoje não soaria nada bem.


Mas o melhor mesmo é o pequeno trecho em desenho animado - pouco, muito pouco, para salvar esse patético projeto de longa, que parece improvisado, feito às pressas, algo meio "tapa-buraco" para aproveitar as férias da garotada e juntar mais uns cobres à fortuna dos Trapalhões na época.

Nesses tempos de tecnologia ao alcance de todos, bem que algum fã dos Trapalhões poderia fazer, no computador, uma "fan cut" de "Os Trapalhões no Rabo do Cometa", eliminando as cenas com o quarteto ao vivo e adicionando este trechinho de animação mostrado em OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA no final, onde ele deveria estar desde sempre.


E não foge à regra: dificilmente a garotada de hoje irá curtir o humor "estranho" deste filme, que acaba sendo indicado, apenas pela nostalgia, àquele pessoal que cresceu vendo as produções do quarteto.

Aproveitando o período de férias que se inicia, OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA é uma boa sugestão para recordar aqueles inocentes tempos da infância ou adolescência. E talvez se pegar rindo sozinho das palhaçadas dos Trapalhões, como um autêntico idiota - tipo eu aqui, durante o show dos "Heavy Trap's".

Cena de OS TRAPALHÕES NO REINO DA FANTASIA



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Os Trapalhões no Reino da Fantasia
(1985, Brasil)

Direção: Dedé Santana
Elenco: Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum,
Zacarias, Xuxa Meneghel, Maurício do Valle, José
Vasconcelos (voz do bruxo) e Beto Carrero.