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domingo, 8 de dezembro de 2013

CONCORDE (1979)


"Rip-off" é o termo em inglês usado para definir aqueles filmes baratos realizados com o objetivo de faturar em cima de superproduções de sucesso de Hollywood, reutilizando temas e até títulos semelhantes. Não foram os produtores italianos que inventaram a prática, mas com certeza estão entre os que a aproveitaram com mais frequência, principalmente entre as décadas de 1970-80.

Para cada blockbuster hollywoodiano, lá estava a sua versão barata italiana; por exemplo, para cada "O Exorcista", "Tubarão", "A Profecia" e "Guerra nas Estrelas", os carcamanos atacavam com seus, respectivamente, "O Anticristo", "Tentáculos", "Holocaust 2000" e "Starcrash". E nem vamos falar nas cópias italianas dos zumbis de George Romero, dos filmes tipo "Mad Max" e das aventuras estilo "Conan" ou "Rambo", caso contrário o assunto vai longe.


Pois eis que, por volta de 1978, espalhou-se o boato de que o quarto filme da série "Aeroporto", a ser lançado no ano seguinte, seria sobre o novo avião supersônico Concorde. Os produtores italianos Mino Loy e Luciano Martino, que de bobos não tinham nada, resolveram financiar sua própria versão barata dos filmes-catástrofe hollywoodianos, usando o Concorde na trama e no título para sair na frente do "produto oficial" e faturar uma graninha com aquele público que trocava gato por lebre.

Assim surgiu "Concorde Affaire '79", lançado em VHS no Brasil simplesmente como CONCORDE (embora tenha sido exibido algumas vezes na TV como "O Caso Concorde").


A tática de Loy e Martino funcionou: CONCORDE chegou aos cinemas da Europa meses antes do "filme oficial", o ultra-trash "Aeroporto 80 - O Concorde": enquanto a superprodução da Universal estreou oficialmente em 3 de agosto de 1979, e chegou aos países europeus apenas no final daquele ano e início de 1980, o CONCORDE carcamano aterrissou antes por lá, estreando nos cinemas de Roma em 23 de março de 1979.

Como o título original era muito parecido com o da franquia "Aeroporto" (com direito à citação do ano, 79!), muitos cinéfilos correram ao cinema acreditando que aquele era o "oficial", a superprodução sobre o Concorde da qual tanto se falava. Quebraram a cara, é claro: a cópia italiana não é exatamente um filme-catástrofe, como os episódios da série em que se inspirou, e usa o desastre aéreo e o próprio supersônico com muita economia. Mas até que o pessoal descobrisse a malandragem, CONCORDE já tinha feito uma bela bilheteria na Europa - mais do que faria, depois, o oficial "Aeroporto 80 - O Concorde"!


Curioso é constatar quem comandou esta versão macarrônica: um tal de "Roger Deodato", que vem a ser o único e consagrado Ruggero Deodato, diretor do clássico "Cannibal Holocaust". Inclusive CONCORDE é uma obra meio desconhecida/esquecida da sua filmografia porque ficou "ensanduichada" entre dois excelentes filmes exploitation de horror e sangueira, "O Último Mundo dos Canibais" (1977) e "Cannibal Holocaust" (1980).

Numa entrevista ao livro "Cannibal Holocaust and the Savage Cinema of Ruggero Deodato", de Harvey Fenton, Julian Grainger e Gian Luca Castoldi, o diretor declarou o seguinte: "Se eu tivesse um milhão de liras a mais, o filme seria uma obra-prima, poderia ser comparado às produções americanas daquela época". Deodato também destacou que a Universal tentou processar os realizadores por lançarem seu rip-off antes do oficial, mas não deu em nada.


Bem, permita-me discordar, Sr. Deodato, mas de obra-prima CONCORDE não tem nada - e duvido que ficaria melhor mesmo com 10 milhões de liras a mais. Embora chupe na maior cara-de-pau alguns elementos do popular cinema-catástrofe da época (sim, há um Concorde em perigo, e também um elenco de astros, embora nesse caso sejam astros de segundo escalão), CONCORDE é uma enganação: um filme meia-boca de ação que usa a aeronave como pano de fundo, e não atração principal. As cenas aéreas, e com o supersônico em risco, não chegam a somar 15 minutos da narrativa!

Assim, na maior parte do tempo, o que vemos é o galã de segunda divisão James Franciscus ("De Volta ao Planeta dos Macacos") zanzando para lá e para cá numa ilha caribenha, passando por paisagens de cartão-postal e enfrentando capangas que querem matá-lo. Também há um montão de cenas submarinas, talvez inspiradas por "Aeroporto 77"; inclusive o filme tem muito mais cenas debaixo d'água do que no ar!


Mas vamos à trama: CONCORDE começa com a queda de um supersônico enquanto sobrevoava as Antilhas. Há uma pane geral nos equipamentos e a aeronave, que estava em testes, sem passageiros, cai no meio do Oceano Atlântico, matando todos os tripulantes, com exceção da aeromoça Jean Beneyton (Mimsy Farmer, de "Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza"), que é resgatada e sequestrada por piratas (?!?).

Somos então apresentados a Milland e Danker (respectivamente Joseph Cotten, que apareceu em "Aeroporto 77", e Edmund Purdom), os malignos executivos de uma empresa cujo faturamento vem da exploração de linhas aéreas na América do Sul. Eles temem que o surgimento do Concorde, com maior velocidade e menos tempo de voo, possa comprometer seus lucrativos negócios. Logo, resolvem sabotar os voos do supersônico para derrubar o maior número de aeronaves, fazendo com que o programa seja considerado inseguro e cancelado!


Os malvados capitalistas só não contavam com a astúcia do repórter nova-iorquino Moses Brody (James Franciscus, quem mais?). No mesmo momento em que surge a notícia de que o Concorde em testes desapareceu em algum lugar do Atlântico, Moses recebe um telefonema da sua ex-esposa Nicole (Fiamma Maglione), chamando-o para ir rapidamente à Martinica e prometendo uma "grande manchete".

Só que quando o jornalista chega à ilha, descobre que sua ex foi assassinada na véspera - pelos mesmos homens que estão mantendo a aeromoça como refém e chantageando os executivos sabotadores, exigindo milhões de dólares pelo seu silêncio. E, como Moses vai descobrir da pior forma possível, quem chega muito perto da verdade (ou seja, do Concorde naufragado ali perto) acaba morrendo.


Com a ajuda de um amigo da finada ex, George (Francisco Charles), o jornalista mergulha e encontra o Concorde submerso. Mas, quando tenta alertar as autoridades, todas as evidências são apagadas. A única chance de Moses conseguir provar a verdade é resgatar a aeromoça sobrevivente das mãos dos chantagistas.

Paralelamente, Milland e Danker põem em prática mais um plano de sabotagem a um segundo Concorde, este com passageiros, e que começa a enfrentar problemas em pleno voo, sofrendo da mesma pane generalizada que derrubou o primeiro supersônico. A vida dos tripulantes e passageiros agora depende de Moses e de Jean, que por sua vez ainda precisam fugir dos vilões que querem eliminá-los.


Sendo um filme obscuro e pouco discutido, é difícil saber quem é o verdadeiro responsável por CONCORDE ser o que é: se o diretor "Roger Deodato", os produtores ou os roteiristas Ernesto Gastaldi e Renzo Genta, trabalhando a partir de argumento de Alberto Fioretti. Fato é que os italianos parecem não ter aprendido direito a lição ensinada pelo cinema-catástrofe de primeira linha feito em Hollywood: além do desastre aéreo aqui ser um elemento secundário na trama, o drama da tripulação e dos passageiros não é suficientemente explorado.

Afinal, a graça da franquia "Aeroporto" é que sempre temos famosões interpretando pilotos e passageiros dos voos em perigo, e os filmes enfocam seus dramas pessoais e relações em meio à tragédia. Na versão macarrônica, nenhum dos astros sequer chega a pisar no Concorde, muito menos voar nele para fazer parte do bloco do "desastre aéreo". O único ator conhecido no ar é o veterano Van Johnson, então decadente, como o capitão do supersônico (abaixo).


Os outros astros ficam todos em terra e nunca participam diretamente da trama do Concorde - e eu não usaria a palavra "astros" para nenhum deles, nem mesmo James Franciscus, trocando a expressão para "atores conhecidos". Logo, os passageiros do voo condenado são interpretados por anônimos sem nenhuma expressão, com quem o espectador nunca simpatiza nem se solidariza - a bem da verdade, sequer sabemos seus nomes, tão primário é o desenvolvimento do "núcleo aéreo" da narrativa.

No fim, CONCORDE não é um filme-catástrofe sobre um voo em perigo, como o título e o pôster levam a acreditar, mas sim, quem diria, um filminho de ação bem convencional sobre James Franciscus fugindo de bandidos em terra firme mesmo, ou então mergulhando em busca de evidências da sabotagem no avião que caiu.


Se os efeitos especiais do filme oficial, "Aeroporto 80", já não eram grande coisa, e isso numa produção milionária bancada pela Universal, os mostrados em CONCORDE chegam a ser constrangedores. Enquanto a produção hollywoodiana conseguiu seu supersônico com autorização da Air France, Deodato e cia. pediram autorização à outra única empresa que produzia a aeronave, a British Airways.

Ao que parece, a empresa britânica permitiu que gravassem algumas cenas externas com o Concorde em voo, mas esses trechos são tão granulados e com qualidade tão inferior ao restante do filme (imagens abaixo), que provavelmente são cenas de arquivo cedidas pela própria companhia aérea. Com menos grana para efeitos especiais espetaculares como os da série "Aeroporto", os realizadores tiveram que se virar com miniaturas para simular o Concorde em perigo - em momentos que quase nunca convencem.


Enquanto as cenas aéreas são bem toscas, as aquáticas são ótimas e estão entre as melhores partes do filme. Ok, a produção é barateira o suficiente para usar uma miniatura constrangedora do Concorde submerso nesses trechos, mas ainda assim Deodato consegue criar um ótimo clima de suspense (e exagero), ao jogar seu protagonista em enrascadas cada vez piores.

Primeiro, Franciscus enfrenta um rápido ataque de tubarão (antecipando a ameaça que o mesmo Franciscus enfrentaria alguns anos depois em "O Último Tubarão", de Enzo G. Castellari); depois, quando a mão do seu parceiro de mergulho fica presa na porta do supersônico naufragado, Moses precisa decepá-la com uma faca, lembrando os bons tempos de cinema sensacionalista do diretor.


Além dos atores conhecidos já citados, é preciso citar outro nome "ilustre" em CONCORDE: o ator pornô nova-iorquino Robert Kerman (quem em seus filmes hardcore assinava "Robert Bolla"), no papel do controlador de tráfego aéreo do aeroporto de Londres, um personagem que - veja só - se chama "Kelman"! Vale lembrar que o ator repetiria este mesmo papel na franquia oficial, com uma pequena participação em "Aeroporto 80 - O Concorde".

Sem bigode, Kerman apareceu não-creditado aqui, mas seu trabalho posterior com Deodato foi "Cannibal Holocaust". E aí ele se transformou, da noite para o dia, num astro do cinema exploitation italiano (que também fez outros dois filmes sobre canibais, "Os Vivos Serão Devorados" e "Cannibal Ferox").


Curiosamente, os intérpretes dos outros controladores de voo que trabalham com "Kelman" no aeroporto de Londres também são provenientes do cinema X-Rated! Não sei quem foi o responsável pelo casting, mas repare na foto acima: Robert Kerman está ladeado pelos atores hardcore Michael Gaunt (sentado, à esquerda) e Jake Teague, do clássico "Debbie Does Dallas" (o careca sentado, à direita)!

Ambos também tentaram a sorte no cinema italiano, mas não foram muito longe: talvez por influência do próprio Kerman, Teague teve pequenas participações em "Os Vivos Serão Devorados" e "Cannibal Ferox", e faleceu logo depois, em 1983; já Gaunt aparece como um dos coveiros na cena do cemitério de "Pavor na Cidade dos Zumbis", de Lucio Fulci!


Embora os quatro filmes oficiais da série "Aeroporto" sejam bem ruins, CONCORDE consegue ser ainda mais fraco. Ok, "Aeroporto 80 - O Concorde", a produção que os carcamanos chuparam diretamente, é péssima, mas pelo menos diverte - coisa que este filme do Deodato não faz tão bem.

Até tem seus momentos, e um certo charme na misturança de elementos e situações (desastre aéreo, piratas chantagistas, aeromoça em perigo, jornalista heróico, perseguições de carro, cenas aquáticas, tubarões, paisagens de cartão-postal e uma pitada de gore). Além da música do mestre Stelvio Cipriani, que lembra bastante o tema que ele compôs, dois anos antes, para "Tentáculos", de Ovidio G. Assonitis.


Mas a tragédia envolvendo o Concorde parece ter sido jogada num outro roteiro qualquer para justificar o título e a chupação, e os atores principais (Franciscus, Cotten, Purdom) nunca se envolvem diretamente com a aeronave em perigo, o que é frustrante. Eu certamente não citaria a obra entre as mais memoráveis de Deodato.

Por outro lado, não deixa de ser irônico o fato de "Concorde Affaire '79" ter sido o único dos cinco filmes analisados a chegar às videolocadoras brasileiras, e DUAS VEZES, primeiro pela VideoCast, depois pela VideoBan (ao lado - com um agradecimento especial ao Albino Albertim, do excelente blog VHS - O Último Reduto, por ter mandado a capinha da VideoBan; clique na imagem abaixo para ampliar).


E digo que é irônico porque os quatro episódios oficiais da franquia "Aeroporto", apesar de grandes sucessos nos cinemas e mesmo nas reprises na TV brasileira, nunca foram lançados em VHS, e só saíram aqui no país mais recentemente, já na era do DVD.

Não que alguém tenha sentido falta, claro...

PS: Atendendo a pedidos de diversos leitores, a "Maratona Aeroporto" continua ainda esta semana com resenhas das duas famosas sátiras da série, "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!" Partes 1 e 2!


Créditos iniciais de CONCORDE



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Concorde Affaire '79 (1979, Itália)
Direção: Ruggero Deodato
Elenco: James Franciscus, Mimsy Farmer, Joseph Cotten,
Edmund Purdom, Venantino Venantini, Fiamma Maglione,
Ottaviano Dell'Acqua e Robert Kerman.

sábado, 7 de dezembro de 2013

AEROPORTO 80 - O CONCORDE (1979)


Uma ameaça de bomba num avião ("Aeroporto", 1970), um voo que perde a tripulação e precisa ser pilotado pela aeromoça ("Aeroporto 75") e uma aeronave que cai no Triângulo das Bermudas e afunda ("Aeroporto 77"). Parecia não haver assunto para um novo filme da série "Aeroporto", ainda mais depois que o terceiro conseguiu a façanha de transformar uma franquia que explorava o medo de voar em um subproduto dos filmes de naufrágio estilo "O Destino do Poseidon".

Mas aí algo novo surgiu no horizonte: o Concorde. E, com ele, uma nova "catástrofe aérea"; neste caso, AEROPORTO 80 - O CONCORDE (o título original é "Airport 79", mas como o filme foi lançado no Brasil só em 1980...).


Grande novidade e o máximo de tecnologia da época, o Concorde foi um avião supersônico para transporte de passageiros, produzido em conjunto por empresas do Reino Unido e da França, e operado apenas por companhias desses países (British Airways e Air France, respectivamente).

O avião era caríssimo, mas podia atingir a espantosa velocidade Mach 2.04 (cerca de 2.500 km/h!), enquanto o Boeing 747 chegava no máximo a Mach 0.84 (893 km/h). Perfeito para quem tinha pressa, não?


Os voos comerciais com o Concorde começaram em 21 de janeiro de 1976, mas claro que eram coisa para gente rica, devido ao alto custo da passagem. Mesmo assim, havia quem não se importasse em pagar a mais por um voo mais curto: o Concorde fazia o trajeto Nova York-Londres em cerca de três horas e meia, enquanto o voo convencional durava mais de 10 horas!

Entretanto, por ser um avião supersônico, ele ultrapassava a velocidade do som, emitindo muito ruído e poluição, o que deu origem a protestos em muitos países. Isso, somado aos altos custos de manutenção, decretou a aposentadoria do Concorde dez anos atrás, em 2003. Apenas 20 aeronaves foram produzidas, e hoje estão em museus.


AEROPORTO 80 - O CONCORDE explora essa novidade tecnológica, mas, acredite ou não, àquela altura este foi o TERCEIRO filme sobre aviões supersônicos em perigo a ser produzido! Quem saiu na frente, tão rápido quanto o próprio Concorde, foi "Ameaça no Supersônico", filme para a TV produzido e exibido pela rede ABC em 1977. Depois, ao saber que a Universal faria seu "Aeroporto" oficial com um Concorde no lugar do Boeing tradicional, produtores italianos correram para realizar a sua própria versão, "Concorde Affaire '79" (no Brasil, apenas "Concorde"), que foi dirigida por Ruggero Deodato e lançada nos cinemas europeus ANTES do Concorde da Universal! (Sobre este falaremos na próxima atualização)

Quem se deu bem nessa história toda foi o diretor David Lowell Rich: ele havia feito o pioneiro "Ameaça no Supersônico", e este telefilme lhe serviu como credencial para assumir o comando de AEROPORTO 80, uma produção muito mais cara para o cinema, uma das poucas de uma filmografia recheada de obras para a TV - incluindo outro filme-catástrofe, "Runaway!" (1973), sobre um trem desgovernado.


Dos outros "Aeroporto", voltam apenas o produtor Jennings Lang (aqui tentando espremer os últimos centavos da franquia) e, claro, o ator George Kennedy, pela quarta e última vez no papel de Joe Patroni, personagem ligado a cada uma das tragédias aéreas dos filmes anteriores, e aqui envolvido em mais uma - pense num cara azarado para se contratar para trabalhar na sua companhia aérea!

O ator estava tão marcado pela franquia na época que rodou o mundo divulgando o filme, e, vejam só, deu até uma passadinha no Rio de Janeiro em novembro de 1979. A reportagem abaixo, publicada pela Folha de São Paulo em 26 de novembro daquele ano, registra a ilustre visita (mas aposto que muita gente lamentou que não tenha vindo Alain Delon ou Sylvia Kristel no lugar do rechonchudo Jorginho...).

Joe Patroni passou pelo Brasil!

O ator provavelmente pediu um papel de maior destaque no filme, já que em "Aeroporto 77" foi deixado de molho e participou muito pouco da trama principal. Assim, o mesmo Joe Patroni que foi mecânico da Trans-World Airlines (em "Aeroporto", 1970), vice-diretor da Columbia Airlines (em "Aeroporto 75") e supervisor contratado pela empresa particular Stevens Enterprises (em "Aeroporto 77"), agora foi promovido a PILOTO DE CONCORDE (!!!), e para uma nova empresa, a Federation World Airlines! Que currículo invejável, o desse Joe Patroni!

E isso que, na época de AEROPORTO 80, o ator George Kennedy já estava com 54 anos - imagine o que Joe Patroni faria aos 60 anos, caso a franquia não tivesse morrido! Mas essa promoção miraculosa do personagem de George Kennedy a piloto não é nem de longe o único problema do filme. Tudo bem que todos os "Aeroporto" são bem ruinzinhos, mas esse aqui exagera na dose!


AEROPORTO 80 é tão ruim, mas TÃO RUIM, que em suas primeiras exibições de teste as pessoas se mijavam de rir, e isso num filme que deveria ser sério! Quando o "fenômeno" repetiu-se nas salas de cinema durante a premiére, a Universal viu-se forçada a mudar o marketing do filme e divulgá-lo como comédia assumida. As frases no novo cartaz diziam: "Apertem os cintos que os arrepios são muitos... e as risadas também!".

Enfim, AEROPORTO 80 é a verdadeira definição da palavra "trash" (geralmente utilizada de forma incorreta): aquele filme feito a sério, mas que no final acaba se revelando tão ruim que só tem valor como comédia! É dar play e preparar-se para as gargalhadas!


A história começa com a chegada do Concorde ao Washington Dulles International Airport, enfrentando uma rápida situação de risco graças ao protesto de ecologistas contrários ao uso da aeronave (algo comum na época, quando se discutia muito os danos à natureza provocados pelo supersônico).

Seu comandante é o piloto francês Paul Metrand (Alain Delon), que aproveita o pernoite nos Estados Unidos para dar uns pegas na sensual aeromoça francesa Isabelle, com quem já tem um longo caso. Caso o nome da personagem e minha ênfase no "sensual" já não tenha entregado, a personagem é interpretada pela musa do cinema erótico Sylvia Kristel, recentemente falecida, e é claro que o nome "Isabelle" tenta criar um paralelo com sua personagem mais famosa, Emmanuelle!


Naquela mesma noite, a repórter e âncora de telejornal Maggie Whelan (Susan Blakely) é procurada por um homem que afirma ter provas de que uma grande empresa norte-americana fabricante de armas está fazendo contratos ilegais com países em guerra civil e organizações terroristas.

O homem é executado na frente da jornalista por um assassino profissional, contratado pela tal empresa para "queima de arquivo", e Maggie consegue fugir da morte por muito pouco.


No dia seguinte, ela se encontra com o presidente da tal empresa, Kevin Harrison (Robert Wagner), com quem tem um caso, e conta a ele sobre o atentado e sobre a acusação de venda ilegal de armas. Harrison convence a moça de que estão armando uma contra ele, mas na verdade sabe muito bem dos negócios escusos da sua empresa. Ora, mas e o que você esperava? Ele é o Nº 2 da quadrilha do Dr. Evil, pombas! (E não acredito que fiz uma citação à série "Austin Powers" aqui...)

Quando a jornalista embarca no Concorde com destino a Moscou, para cobrir a cerimônia de lançamento dos Jogos Olímpicos por lá, o vilão descobre que ela está levando documentos que comprovam seu envolvimento no escândalo. Resta-lhe uma única alternativa para silenciar Maggie e destruir as provas, tudo de uma única vez: derrubar o Concorde!


Além da jornalista e alvo ambulante, o voo do Concorde com escala em Paris tem uma miríade de passageiros excêntricos, o grupo mais absurdo de toda a série (alguns deles devem ter sido contratados para aparecer na comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!", lançada em 1980, mas erraram de filme). Há um grupo de atletas russos e seus treinadores, um deles levando junto a filha surdo-muda, que garante a dose habitual de dramalhão (se criança em perigo já é um clichê baixo, imagine então uma criança com deficiência física!). Há um saxofonista negro (Jimmie Walker) que passa o tempo inteiro fumando maconha e tocando sax no banheiro do avião. Há uma mãe desesperada (Cicely Tyson) que está levando um coração congelado (?!?) para o transplante do filho moribundo. Há o ricaço dono da companhia (Eddie Albert) e sua esposa-troféu, uma gostosa muito mais jovem do que ele, interpretada pela musa peituda do cinema B Sybil Danning. Há uma envelhecida cantora de jazz que lamenta estar perdendo a fama (interpretada pela cantora da vida real Monica Lewis, que era casada com o produtor Jennings Lang e já tinha aparecido em "Aeroporto 77" como outra personagem!). Há uma ginasta russa de 24 anos (a americana Andrea Marcovicci, que na época já estava com 31!), que vive um amor platônico por um repórter norte-americano que viaja no mesmo voo (lembre-se que eram tempos de Guerra Fria). E há uma dondoca latina (a cantora Charo, muito popular na época) que provoca um escândalo por querer levar seu chihuahua de estimação no voo, escondido dentro do casaco de peles!!!


Enquanto isso, em terra, Harrison prepara-se para dar um fim na jornalista abelhuda - e, de brinde, em todos os outros passageiros que não têm culpa de nada, só de estar na mesma aeronave. Como sua empresa vai testar um novo míssil experimental guiado por computador, ele aproveita para sabotar o equipamento e fazê-lo perseguir o Concorde.

Só que o vilão não contava com a perícia do piloto americano Joe Patroni (George Kennedy, claro!): ele controla o avião como se estivesse pilotando alguma nave espacial de filme barato de ficção científica, fazendo acrobacias absurdas, piruetas, voando de cabeça para baixo, e por aí vai. Pobres passageiros... Eu até acredito que se o tal míssil atingisse a aeronave, faria muito menos estrago!


Quando o plano A falha, Harrison resolve pôr em prática o plano B: entra em contato com um cúmplice em Paris e consegue convencê-lo a mandar um caça carregado com mísseis para explodir o Concorde. É quando acontece a cena mais sem-noção de AEROPORTO 80, digna de figurar em qualquer coletânea dos momentos mais ridículos do cinema mundial.

O caça inimigo dispara mísseis guiados por temperatura, que obviamente são atraídos pelo calor das turbinas do Concorde. Sabendo que não há escapatória, Metrand bota o avião para voar de cabeça pra baixo enquanto o heróico Patroni pega uma pistola sinalizadora, abre uma das janelinhas do cockpit e dispara "flares" (sinalizadores) para fora do supersônico, atraindo os mísseis no sentido contrário!


"O quê? Como é que é?", pode perguntar o nobre leitor do FILMES PARA DOIDOS, e eu fiquei com a mesma cara de panaca ao ver tal façanha sendo realizada num filme originalmente produzido para ser sério.

Mas sim, George Kennedy ABRE UMA JANELA DO AVIÃO, voando a 100 mil km/h e a 60 mil pés, coloca A MÃO PARA FORA segurando uma pistola sinalizadora (quando a velocidade de deslocamento deveria arrancar não só a pistola da sua mão, mas A PRÓPRIA MÃO!), dispara alguns flares, e os mísseis GUIADOS POR CALOR ignoram completamente o calor dos QUATRO JATOS MUITO MAIORES DO CONCORDE para perseguir um simples sinalizador cuja temperatura deve ser ridícula, ainda mais àquela altitude!


Bem, o caso é que esta é a grande cena de AEROPORTO 80, e me faz rolar de rir toda vez que revejo, mas o filme ainda está na metade! Eis que, num anti-climáx pavoroso, o Concorde consegue pousar em segurança em Paris, proporcionando uma noite de amor para os pilotos Metrand e Patroni (com direito ao velho clichê da lareira crepitando ao fundo e tudo mais).

E no dia seguinte, apesar da viagem infernal que tiveram, de todos os perigos e de por muito pouco não terem morrido pelo menos umas quatro vezes, TODOS OS PASSAGEIROS VOLTAM A EMBARCAR NO CONCORDE para a segunda parte da viagem, rumo a Moscou! Caramba, isso que é gente corajosa: se por uma simples turbulência eu já deixei de voar, imagina como esses caras deveriam estar traumatizados depois da experiência de virar alvo para mísseis!


Pior: a própria jornalista e alvo em potencial Maggie, que àquela altura já deveria ter entendido que tudo aquilo é muito suspeito, também embarca outra vez no Concorde sem nenhum receio, e sem sequer dar o devido encaminhamento aos documentos comprometedores que leva com ela, e que são a única prova de uma mega-conspiração. Bela jornalista...

Claro que o malvado Harrison vai apelar para o plano C e tentar derrubar o supersônico mais uma vez. E isso que ele teve a oportunidade de matar APENAS A JORNALISTA quando ela estava em terra, mas imbecilmente deixou passar só para poder novamente ameaçar a aeronave inteira, seus tripulantes e passageiros, e proporcionar à audiência mais uma dose de tensão e adrenalina. Ah, essas conveniências de roteiro...


AEROPORTO 80 volta para os céus para o último ato dessa hilária bobagem: um mecânico subornado pelo vilão sabotou uma escotilha do compartimento de carga do Concorde, que se abre durante o voo e ameaça romper a aeronave no meio graças à despressurização. Isso obriga nossos heróis Patroni e Metrand a tentarem um arriscado pouso de emergência... nos Alpes Suíços!

Conseguirão os bravos pilotos pousarem o Concorde em segurança? Conseguirá Harrison eliminar as provas de suas vendas ilegais de armas? Conseguirá o rombo na fuselagem da aeronave sugar para a morte algum dos pobres passageiros? Conseguirá o jornalista americano casar-se com sua amada atleta russa? E por último, mas não menos importante: conseguirá a gostosa peituda da Sybil Danning dar uma com seu maridão geriátrico décadas antes da invenção do Viagra?


A resposta para todas essas perguntas (bem, menos para a última) está reservada para o ato final de AEROPORTO 80, se é que alguém ainda está levando a história a sério para se importar com o destino daqueles personagens que parecem saídos das sátiras de filmes da revista Mad - e se envolvem em situações tão ridículas e cômicas quanto.

Tenho um carinho nostálgico por este último "Aeroporto" porque foi o único que vi na TV, entre final da década de 80 e início dos anos 90. A Globo exibiu a versão televisiva da obra, remontada para exibição nos EUA em 1982, com aquelas tradicionais cenas extras esmiuçando alguns dos dramas pessoais dos passageiros. Pelo menos são apenas uns 20 minutos adicionais, ao contrário da loucura que foi transformar "Aeroporto 77" num "épico" com mais de três horas de duração!


As tais cenas adicionais não trazem nada de tão interessante assim: entre as coisas que me lembro, estão a ação da polícia derrubando com um tiro o balão dos manifestantes anti-Concorde no início, um desfecho alternativo (e bem mais legal) para o personagem vilanesco de Robert Wagner, e alguns flashbacks dando um pouco mais de "tragédia" ao personagem de Patroni.

Nesta cena, que tem cerca de 10 minutos, descobrimos que a esposa do "ex-mecânico agora piloto" morreu um ano antes num acidente automobilístico, e ele se recorda do último encontro com a amada num quarto de hospital (você pode conferir este cândido momento clicando aqui).


Tal cena adicional também ajuda a aumentar a quantidade de erros de continuidade da franquia: em "Aeroporto" a esposa de Patroni chamava-se Marie e ele dizia ter cinco filhos; em "Aeroporto 75", o nome da esposa passou a ser Helen e o número de filhos diminuiu para um, Joe Jr. (citado também nas cenas adicionais da versão televisiva de "Aeroporto 77"); aqui, Patroni diz, durante um encontro com um francesinha, que sua esposa quis ter um único filho.

Para piorar, o nome da personagem volta a ser Marie, como no original! Pelo menos nas cenas adicionais, Jessica Walter tornou-se a terceira atriz a interpretar a esposa de Patroni, depois de Jodean Lawrence no original e de Susan Clark em "Aeroporto 75". Entretanto, ela não aparece em nenhum momento da edição para cinema/DVD do filme.


Se todas as bobagens já elencadas não fossem razão mais do que suficiente para recomendar AEROPORTO 80 como a belíssima comédia que é, ainda tem mais um detalhezinho: o roteiro de Eric Roth (baseado em argumento do produtor Lang) está repleto daquelas tiradas que você não sabe se ri ou se chora, além de toda sorte de moralismos baratos, tipo o mecânico que sabotou o Concorde morrer "atropelado" PELO PRÓPRIO CONCORDE, com direito a take do dinheiro que ganhou pela sabotagem espalhando-se ao vento...

Em matéria de diálogos, um dos mais clássicos acontece quando a aeromoça interpreta por Sylvia Kristel vai servir café para os pilotos e sensualiza: "Vocês, pilotos, são tão HOMENS!", apenas para George Kennedy retrucar, num trocadilho intraduzível: "They don't call it the cockpit for nothing, honey".

Digamos apenas que "Cock" é um dos apelidos em inglês para o órgão sexual masculino, e Kristel obviamente foi escolhida para o papel de aeromoça "saidinha" porque no clássico "Emmanuelle", de 1974, ela protagonizava uma cena de sexo a bordo de um avião!


Outro momento simplesmente genial ocorre na escala em Paris, quando Metrand apresenta uma "amiga" para que Patroni pare de choramingar a perda da esposa. A noitada evolui para uma bizarra cena romântica dos dois em frente à lareira, com direito a George Kennedy sem camisa (argh!). Na manhã seguinte, quando os amigos comentam o lance, desenrola-se a seguinte conversa:
- Patroni: Nem sei como te agradecer! Nunca acreditei em amor à primeira vista, mas aquela Francine... Uau! Que noite! Ela foi mesmo especial!
- Metrand: Por 2.000 francos, é bom mesmo que ela tenha sido especial.
- Patroni: O quê? Espere aí... Você está tentando me dizer que ela era... uma prostituta?!?
- Metrand: Como vocês americanos dizem, uma verdadeira profissional!
- Patroni (gritando alegremente): Seu filho da puta! Ela foi demais!
- Metrand: E para que servem os amigos?

(Existe uma cena muito parecida com esta em "O Pentelho", quando Jim Carrey revela ao personagem de Matthew Broderick que a garota com quem ele transou na noite anterior era uma prostituta. A diferença é que em "O Pentelho", uma comédia assumida, tal cena não é TÃO ENGRAÇADA quanto em AEROPORTO 80, que, por ironia, foi produzido como um filme "sério"!)


Ah, caso não tenha caído a ficha, o roteirista Eric Roth ficaria mais famoso alguns anos depois, ao escrever um tal de "Forrest Gump", que rendeu-lhe o Oscar de Melhor Roteiro. Estes seus dois roteiros, completamente diferentes, comprovam que Roth de certa forma é um especialista em escrever sobre personagens idiotas e suas idiotices.

O roteirista também seria indicado a outros três Oscars de Melhor Roteiro (por "O Informante", "Munique" e "O Curioso Caso de Benjamin Button"), e certamente faria qualquer coisa ao seu alcance para apagar seu nome dessa bomba chamada AEROPORTO 80. Eu, por outro lado, faria o possível e o impossível para perguntar-lhe sobre a experiência numa entrevista!


Mantendo a tradição dos filmes da franquia, este quarto episódio também traz um veterano dos primórdios do cinema sendo "homenageado" com ingrata participação especial. Depois de Helen Hayes, Gloria Swanson, Mirna Loy e Olivia de Havilland, o dinossauro da vez é Eddie Albert (acima), que estreou no cinema em 1938, mas é mais famoso pelos seus trabalhos na televisão. Aliás, o cara é tão veterano que começou a trabalhar com TV desde os primeiros experimentos com transmissão de imagens, antes mesmo de o aparelho ser vendido ao público!

Dois outros nomes famosos do elenco que merecem menção são a atriz Mercedes McCambridge, mais conhecida como a voz do demônio Pazuzu em "O Exorcista", e David Warner (abaixo) como navegador do Concorde, ele que interpretou uma extensa galeria de vilões e foi um desafortunado fotógrafo em "A Profecia". A propósito: com dois atores que apareceram em filmes sobre o Coisa Ruim no elenco de AEROPORTO 80, era mais do que certo que ia dar merda!


Destaque, ainda, para uma rápida participação de Robert Kerman (abaixo) como controlador de voo do aeroporto de Washington. Até então, ele ainda era conhecido apenas por sua atuação como ator pornô (usando o pseudônimo "Robert Bolla"), mas de 1979 em diante acabaria eternamente vinculado ao papel de protagonista do clássico "Cannibal Holocaust", de Ruggero Deodato.

Curiosamente, o ator também apareceu rapidamente como controlador de voo no "outro filme com Concorde", a cópia italiana "Concorde", de Ruggero Deodato, lançada nos cinemas naquele mesmo ano.


Por fim, AEROPORTO 80 ainda tem a distinção de trazer os piores efeitos especiais de toda a série. Perde até para o "Aeroporto" original, com seu avião em miniatura "voando" em meio a nuvens de gelo seco. Afinal, o que vemos aqui são imagens tosquíssimas em chroma-key, com modelos totalmente fora de perspectiva, o que mais uma vez ajuda a transformar o que era para ser sério numa comédia escrachada.

Talvez os produtores estivessem tentando dar uma cara mais "moderninha" à franquia, para atrair a molecada que, nos anos anteriores, lotou os cinemas para ver filmes como "Guerra nas Estrelas" e "Superman" (o do Richard Donner). Assim, AEROPORTO 80 é praticamente uma montanha-russa em que as cenas de ação e situações de perigo vão se acumulando - o completo oposto daquele "Aeroporto" lento e ultra-realista que começou a franquia, lá em 1970.


Mas a ruindade colossal desse quarto filme decretou a morte definitiva da série. "Será que eles continuariam fazendo outros filmes? Para que direção iriam?", pode me perguntar o leitor do FILMES PARA DOIDOS. Bem, de fato o tema "avião em perigo" já não era exatamente original, por causa das continuações e das diversas cópias para a TV ("Ameaça no Supersônico", "A Queda do Voo 401", "O Fantasma do Voo 401", e por aí vai).

Até os russos resolveram imitar o cinemão americano (em plena Guerra Fria!!!) e fizeram uma imitação da série "Aeroporto", chamada "Tripulação" (Ezipazh, 1980), só que obviamente mais puxada para o dramalhão, com pouquíssimas cenas envolvendo o "suspense aéreo".

Mas o próprio cinema-desastre estava em decadência (com o fracasso da superprodução "O Dia em que o Mundo Acabou", em 1980), e a onda era tirar sarro de histórias do gênero depois da estreia da comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!" (também em 1980).


Não fosse por isso, talvez um provável "Aeroporto 87" pudesse ter se inspirado na onda dos voos de ônibus espaciais, agora promovendo Joe Patroni a astronauta! Ainda mais considerando a tragédia verdadeira envolvendo a nave Challenger em 1986 - que pode até não ter virado episódio da franquia "Aeroporto", mas inspirou o telefilme "Challenger - Um Voo Sem Retorno", em 1990.

Ainda que no cinema o tema tenha saído da ordem do dia, histórias sobre tragédias aéreas continuaram sendo produzidas para a telinha. Jerry Jameson, de "Aeroporto 77", dirigiu o telefilme "Rota do Perigo" em 1983, sobre a história do fictício primeiro voo "hipersônico" (que, claro, apresenta problemas), estrelando Lee Majors, Ray Milland e um jovem Robert Englund.

Até mesmo o veterano das desgraças aéreas George Kennedy voltou a lidar com problemas do gênero em "International Airport" (1985), telefilme dirigido por Don Chaffey e Charles S. Dubin, que também tem os veteranos Vera Miles e Robert Vaughn no elenco.


Para finalizar, AEROPORTO 80 também ficou marcado como um daqueles tristes casos de "a vida imita a arte", já que a aeronave usada nas filmagens se envolveu num desastre real muito tempo depois do filme - a exemplo do que já havia acontecido com o "Aeroporto" original.

Dessa vez foi o Concorde usado nas filmagens - o sétimo dos 20 únicos construídos -, que transportava passageiros para a Air France e explodiu durante decolagem do Aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, em 25 de julho de 2000. O desastre foi provocado por vazamento de combutível, matando os 109 passageiros, os tripulantes e mais quatro pessoas em solo.

E como eu já havia comentado na resenha de "Aeroporto", nessas horas nem Alain Delon no comando, ou mesmo George Kennedy disparando flares pela janelinha do cockpit, poderiam salvar a pátria, pois na vida real o buraco é mais embaixo...


Trailer de AEROPORTO 80 - O CONCORDE



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The Concorde... Airport '79 (1979, EUA)
Direção: David Lowell Rich
Elenco: Alain Delon, Sylvia Kristel, George Kennedy, Susan
Blakely, Robert Wagner, Eddie Albert, Andrea Marcovicci,
David Warner, Sybil Danning e Mercedes McCambridge.