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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

LA VENGANZA DE LOS PUNKS (1991)


Punks não são uma raça fácil de lidar. Que o digam Mad Max e todos os personagens que levaram escarrada do Bob Cuspe na extinta revista Chiclete com Banana. Ou, ainda, policiais de filmes mexicanos. Esses útimos costumam comer o pão que o diabo amassou nas mãos dos punks (ou "pónks", como pronunciam com seu sotaque carregado), em aventuras rasteiras e absurdas ao estilo de "Intrepidos Punks", de Francisco Guerrero.

Eu resenhei "Intrepidos Punks" aqui no FILMES PARA DOIDOS em maio de 2010. Na época, fiquei surpreso ao descobrir a existência de uma sequência de 1991. Então eis aqui os punks mexicanos de volta ao blog!


LA VENGANZA DE LOS PUNKS só trocou o diretor. No lugar de Guerrero, quem comanda o show é o débil mental Damián Acosta Esparza, o mesmo doido varrido que dirigiu "El Violador Infernal".

De resto, volta praticamente a mesma turma de "Intrepidos Punks", do herói (Juan Valentín) ao grande vilão, interpretado pelo lutador mascarado de luta livre El Fantasma! Até mesmo personagens bem secundários estão de volta, revelando que os "pónks" cinematográficos mexicanos são mesmo uma grande família unida!


Só não aparecem nesta segunda aventura o ator que interpretava Javier, parceiro do herói no original (não sei o nome do ator, mas ao que parece ele não quis pagar mico dobrado), e a gostosíssima Princesa Lea, que fazia Fiera, a amante do vilão no filme de 1988 (mas ela nem podia retornar, visto que levou um tiro na cabeça na conclusão daquele filme).

LA VENGANZA DE LOS PUNKS começa sem perder tempo: temos um plano geral do prédio de uma cadeia e, cinco segundos depois, uma das paredes vai pelos ares e todos os "intrépidos pónks", que haviam sido presos no final do primeiro filme, fogem para a liberdade após anos mofando atrás das grandes.


A responsável pela explosão é a gordinha, peituda e bunduda Olga Rios. Ela tinha aparecido no original como uma personagem secundária sem nome, mas agora foi promovida a "Pantera", nova amante do chefão do bando, Tarzan (El Fantasma), depois que a namorada anterior tomou um tiro na cabeça no filme anterior.

(Só para constar: embora apareça pelada o tempo todo e tenha uma buzanfa gigantesca, Olga Rios não serve nem para lamber o salto do sapato da musa do FILMES PARA DOIDOS Princesa Lea. E isso que tenta imitá-la no cabelão armado, no figurino e até no apetite sexual!)


Novamente sem perder tempo, os "pónks" vão concretizar a vingança descrita no título. Eles invadem a festa de 15 anos da filha de Marco (Juan Valentín), o policial que os prendeu, e transformam a comemoração num inferno: estupram a menina e a esposa diante dos olhos do sujeito, estupram as outras mulheres da festa e depois metralham todo mundo. Só Marco escapa com vida, porque Tarzan estupidamente quer que ele viva com a dor da morte de toda a sua família.

É uma pena que o pobre Tarzan nunca tenha visto nenhum filme da série "Desejo de Matar", pois aí ficaria óbvio que era melhor ter matado o pobre Marco também. Afinal, depois de testemunhar estupro e matança da filha, da esposa e de seus familiares e amigos, o sujeito fica meio maluco, pede demissão da polícia e dedica-se ao extermínio sistemático e cruel de todos os "pónks", lentamente e um por um.


Bem, se você gostou daquela divertida tosqueira chamada "Intrepidos Punks", talvez fique feliz de saber que essa sequência é muito, mas muito MELHOR que o original. Dessa vez, tudo vem numa escala maior: há mais violência, mais sacanagem e muito mais bobagens e cenas hilárias para apreciadores desse tipo de tranqueira cinematográfica!

Se o original tinha uma narrativa fragmentada, sem um fio condutor, basicamente apenas mostrando os crimes dos "pónks" até um rápido enfrentamento com a dupla de heróis no final (já que os heróis estavam ocupados resolvendo outros casos sem relação ao longo do resto do filme), em LA VENGANZA DE LOS PUNKS os bandidos multicoloridos passam a ser personagens secundários, já que a trama acompanha a sangrenta vingança de Marco, encarnando um anti-herói tão cruel que daria medo até no próprio Charles Bronson.


Desde as primeiras cenas, o diretor Acosta Esparza não poupa o espectador de doses cavalares de violência: LA VENGANZA DE LOS PUNKS é um filme sujo e sádico, que já começa com o estupro e extermínio da família do herói, e só vai ficando mais pesado à medida que Marco usa as formas mais cruéis para vingar-se dos criminosos.

A narrativa torna-se até meio repetitiva, já que, após os 10 ou 15 primeiros minutos, o filme se transforma numa longa sequência de torturas e assassinatos, com o anti-herói aprisionando algum inimigo e submetendo-o a uma violenta sessão de espancamento antes de finalmente matá-lo.

Menos mal que os diálogos estúpidos e cenas nonsense entre uma tortura e outra garantem a diversão. Até porque as pancadas são convincentes e o sofrimento dos atores também (a cena do cara sendo queimado vivo é perigosamente realista, e duvido que o sujeito não tenha sofrido pelo menos umas queimaduras leves).


Em relação às mortes, tem de tudo um pouco, mas só coisa da pesada: um sujeito é empalado, outro é queimado vivo, e uma garota (é, nem elas ganham colher-de-chá) é lentamente corroída com ácido (!!!). À la Zé do Caixão, cobras e aranhas REAIS também são usadas para matar os inimigos. Progressivamente, Marco vai se transformando num personagem tão sádico e odioso quanto os "pónks" que caça, e vai perdendo a razão.

Numa das muitas bobagens hilárias de LA VENGANZA DE LOS PUNKS, o herói sempre consegue entrar e sair facilmente do esconderijo dos "pónks", sempre levando consigo algum dos vilões para poder torturar e matar lentamente longe dali, e sempre sem que ninguém perceba nada.

E os vilões são tão estúpidos que, mesmo depois do décimo desaparecimento, continuam se separando toda hora e zanzando sozinhos pelo acampamento sem se preocupar com nada!


Outro besteirol é que os "pónks" agora não são apenas arruaceiros assassinos e estupradores viciados em drogas, como no filme original, mas também... satanistas!!! Isso mesmo: em seu novo esconderijo, eles têm até uma gigantesca estátua do Capeta cujos olhos vermelhos ficam piscando (!!!), provavelmente retirada de algum antigo carro alegórico do Carnaval carioca.

Lá pelas tantas, Tarzan realiza uma missa negra (!!!) para agradecer a Satã por terem escapado da cadeia, sacrificando uma ovelha e fazendo seus comandados beberem o sangue do animal! Bela e fidelíssima visão da cultura punk, não é mesmo?

(Vale destacar que a ovelha "sacrificada" provavelmente é de verdade, mas pelo menos já está morta quando é esquartejada pelo vilão sobre o "altar"...)


Ah, o traje utilizado por Tarzan para comandar a missa negra é literalmente de se mijar de rir, com direito a uma grande máscara colorida em formato de cone que lembra uma versão "Parada Gay" do capuz pontudo usado pelos integrantes da Ku Klux Klan!

Por sinal, Tarzan dessa vez não se contenta em usar uma única máscara. Lembre-se que, na vida real, El Fantasma é um "luchador", e portanto não pode mostrar o rosto em público. Pois, durante o filme, dependendo da ocasião, o vilão aparece com três ou quatro máscaras diferentes, inclusive uma muito parecida com a máscara de hóckey do Jason - citação, talvez, ao Humungus de "Mad Max 2", que usava máscara semelhante.


E o festival de bobagens segue adiante: o roteiro apresenta uma dupla de policiais, colegas de Marco na delegacia, apenas para descartá-los logo depois num tiroteio com assaltantes de uma videolocadora (que não têm nada a ver com os punks, são apenas bandidos aleatórios). Sabe-se lá qual o motivo para introduzir esses policiais no roteiro (além de esticar o tempo de duração do filme), mas eles somem de cena tão rápido quanto entraram!

Outra subtrama dispensável, e que não chega a lugar nenhum, envolve uma tentativa de rebelião dentro da própria quadrilha dos "pónks", quando alguns integrantes insatisfeitos com os mandos e desmandos de Tarzan mostram-se louquinhos para matá-lo e tomar seu lugar. Como Marco logo surge para matar contentes e descontentes, essa história nunca rende!


Por fim, há uma patética (e portanto hilária) tentativa de fazer crítica social, quando o delegado que investiga os crimes cometidos pela turma de Tarzan ensaia uma expressão de fúria diante dos cadáveres do massacre na casa de Marco, e começa a berrar, direto para a câmera (e portanto para o espectador): "Escória humana! Quando nós os prendemos, chamaram a nós, os policiais, de criminosos. Meus chefes, os políticos, os doutores... Toda a sociedade! Eu queria que eles estivessem aqui para ver isso, para ver como reagiriam. Todos somos responsáveis! Todos somos culpados! Todos somos cúmplices... Todos nós!".

Como já acontecia em "Intrepidos Punks", tudo que envolve os "pónks" é tão exagerado que é impossível levar a sério. E quem conseguiria engolir esses vilões com cabelos coloridos, cara pintada estilo Pablo, do "Qual é a Música?", e roupas espalhafatosas, que parecem saídos de algum baile de carnaval da periferia, mas jamais legítimos representantes da cultura punk?


Aqui a coisa é até mais exagerada, de forma que até parece paródia. Se no primeiro filme tínhamos punks chamados Calígula e Pirata, além do risível chefão chamado Tarzan (hahaha), aqui há novos membros vestidos como gladiadores da Roma Antiga, um sujeito com apenas metade da barba em um dos lados do rosto (!!!) e até um cara trajado de viking, com capa, chapéu de corninhos pontiagudos e espada!

Claro, todos eles vivem no meio do deserto e não tomam banho, já que passam os dias cometendo crimes, usando drogas e trepando. Mas, milagrosamente, suas fantasias estão sempre impecáveis, e as garotas sempre maquiadas e penteadas!!!


Se funciona como diversão trash, LA VENGANZA DE LOS PUNKS também não nega fogo como aventura violenta. Confesso que fiquei surpreso com o confronto final entre Marco e Tarzan. Eu esperava uma longa pancadaria, já que El Fantasma é "luchador" - e já havia mostrado seus dotes em diversas cenas de "Intrepidos Punks". Mas a resolução do conflito é diferente, para o azar do vilão!

(Vale ressaltar que talvez El Fantasma não lute nessa continuação porque, três anos depois do primeiro filme, aparece bem gordo em relação ao original, e visivelmente fora de forma.)


Para completar a longa lista de bobagens, LA VENGANZA DE LOS PUNKS ainda se encerra de maneira inacreditável: sabe aqueles finais cíclicos que os italianos adoravam colocar em filmes de horror?. Isso só torna o programa todo ainda mais charmoso e engraçado, principalmente se você assistir acompanhado (e devidamente alcoolizado).

Nesses tempos em que o politicamente correto vigora até no cinema de ação, é sempre um alívio assistir aventuras inconsequentes e sádicas como essa LA VENGANZA DE LOS PUNKS, onde vilões cometem atos de extrema brutalidade e recebem o troco na mesma moeda.

Inclusive o sadismo e a sede de sangue do anti-herói Marco fazem com que ele se transforme numa espécie de versão cucaracha do Justiceiro da Marvel - e sua vingança é muito mais eficiente que as adaptações oficiais do personagem para o cinema.


Mesmo que sejam obras bem diferentes na proposta e na realização, "Intrepidos Punks" e LA VENGANZA DE LOS PUNKS podem proporcionar uma maravilhosa e inesquecível sessão trasheira dupla para os apaixonados por FILMES PARA DOIDOS.

E é uma pena que a conclusão não tenha deixado nenhuma possibilidade para uma terceira aventura com os "pónks" mais engraçados do cinema - embora existam outras aventuras mexicanas igualmente hilárias que trazem punks sanguinários, como "Siete en la Mira 2 - La Furia de la Venganza", de Pedro Galindo III.

A inacreditável missa negra dos "pónks"



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La Venganza de los Punks (1991, México)
Direção: Damián Acosta Esparza
Elenco: Juan Valentín, El Fantasma, Olga Rios,
Arturo Mason, Bruno Rey, Fidel Abrego, Socorro
Albarrán, Anaís de Melo e Laura Tovar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

EL VIOLADOR INFERNAL (1988)


Argento, Lucio Fulci e José Mojica Marins têm mais uma coisa em comum além do óbvio fato de dirigirem obras de horror: os três já foram acusados de misoginia (do grego misos/ódio e gene/mulher), por causa das numerosas cenas de violência e crueldade contra mulheres em seus filmes.

Mas acredite: Argento, Fulci e Mojica parecerão três cavalheiros românticos depois que você conhecer um mexicano maluco chamado Damián Acosta Esparza, que em 1988 dirigiu uma pequena obra-prima da apelação, da tosquice e da misoginia chamada EL VIOLADOR INFERNAL - ou, em adaptação livre para o português, "O Estuprador do Inferno".


Trata-se de mais um daqueles inacreditáveis trash movies mexicanos em que o espectador não sabe se ri ou se chora, a exemplo do já clássico "Intrepidos Punks", de Francisco Guerrero. Coincidentemente, Acosta Esparza (que se transformou num dos meus novos diretores de tralhas preferidos) dirigiu a continuação do filme de Guerrero, "La Venganza de los Punks", que em breve também estará aqui no FILMES PARA DOIDOS.

Curto e grosso (já que grosseria é o forte do filme), EL VIOLADOR INFERNAL começa com o perigoso estuprador e assassino conhecido como El Gato sendo levado para a execução na cadeira elétrica - algo engraçado, considerando que a pena de morte não é aplicada no México desde 1961.


Depois de fritar na cadeira (numa cena tosquíssima, tanto pelo cenário quanto pelos efeitos sonoros da "corrente elétrica"), o moribundo recebe a visita do Diabo, numa cena que parece saída de algum filme do Zé do Caixão feito nos anos 70: não só porque o Diabo - ou Diaba - "aparece" graças àquele bizarro efeito de desliga a câmera-coloca o ator no lugar-liga a câmera, mas também porque a Rainha dos Infernos aparece vestida como se estivesse num baile de carnaval, e acompanhada de duas "ajudantes" em trajes parecidos!

Sabe-se lá por que cargas d'água, o Diabo... a Diaba (arre!) resolve adotar El Gato como "filho de Satã". E para ganhar o direito de ressuscitar como um ser indestrutível e imortal, ele deve viver uma vida de luxúria e drogas estuprando toda mulher e homem (?!?) que cruzar seu caminho. Sacou só a escolha que ele deve fazer? Ou vive eternamente, doidão e comendo todo mundo, ou continua morto pelo resto da eternidade. Decisão difícil, hein?


Como o título já anuncia, El Gato escolhe a primeira opção, e no momento seguinte aparece trajando roupas de dândi e usando heroína na casa de um traficante homossexual, que, por ironia, acaba se transformando na primeira vítima do redivivo psicopata. Ele mata o rapaz a facadas, transa com o cadáver (isso pode ser considerado tecnicamente um estupro ou é só necrofilia mesmo?), e depois crava o número "6-6-6" com o punhal nas costas da vítima - algo que ele deve repetir a cada crime para continuar mantendo seus poderes infernais.

A partir de então, EL VIOLADOR INFERNAL segue uma sequência repetitiva de estupro-morte, estupro-morte, estupro-morte, com o vilão conhecendo um montão de mulheres fúteis e fáceis, que conquista facilmente e que se tornam alvos fáceis para seus ataques, enquanto a polícia fica completamente desnorteada.


Parece até uma mistura do pornô da pesada "Forced Entry" (que também era uma sequência de estupros, porém muito mais realistas e chocantes) com o terror "Shocker - 100.000 Volts de Terror", de Wes Craven (que, entretanto, foi feito um ano DEPOIS, em 1989).

Partindo de um argumento do produtor Ulises Pérez Aguirre e de Cristóbal Martell, EL VIOLADOR INFERNAL foi, surpreendentemente, roteirizado por uma MULHER (!!!), Carmen Rojas, que devia estar numa TPM literalmente infernal quando escreveu esse negócio.

Afinal, 99% das personagens femininas do filme são completas vagabundas, mulheres interesseiras que resolvem dar para o vilão apenas porque acham que ele é milionário, saem com ele para um primeiro encontro e em cinco minutos já estão baixando as calcinhas. E o 1% restante apenas não aparece no filme tempo suficiente para demonstrar qualquer característica negativa, sendo logo atacada, estuprada e morta por El Gato.


Descontando esse 1%, toda mulher do filme é representada com um mero pedaço de carne, apenas para ser fodida e morta pelo vilão. A roteirista Carmen estava tão furiosa com as meninas em geral que até o Diabo tem forma feminina (!!!), o que vai de encontro àquela clássica sentença atribuída a São Tomás de Aquino: "Demônio, teu nome é mulher".

Uma cena bem ilustrativa do conceito que a roteirista faz da mulherada acontece quando El Gato aborda uma moça que conheceu (ou melhor, bateu o olho) num salão de beleza. O vilão a convida para tomar um drink, mas leva a coitada para um drive-in daqueles bem safados, onde a moça se assusta com os casais trepando nos carros ao lado. Mas El Gato, sensual que só ele, pede umas vodkas, uma porção de picadinho (!!!), e no minuto seguinte já está levando a mulher - que acabou de conhecer - para o banco de trás do carro! É bom anotar essas dicas de sedução do Violador Infernal para se dar bem num primeiro encontro: drive-in e picadinho!


Não suficiente em demonstrar sua revolta com as mulheres, EL VIOLADOR INFERNAL também guarda munição para disparar contra os homossexuais, em cenas que, à época da realização do filme, talvez fossem consideradas um alívio cômico, mas hoje soam absurdamente homofóbicas.

Falo da cena em que a polícia "interroga" o amante do homossexual que foi a primeira vítima de El Gato. Tratado a pancadas por causa do seu jeito "delicado", o rapaz é chamado de "boneca" e de "maricón" pelos policiais, e o investigador responsável pelo caso ainda protagoniza um bizarro diálogo em que dispara: "Ele é uma bichona, para mim já é culpado o suficiente!" (veja nas fotos abaixo, com legendas em inglês).


Deixando o "politicamente correto" um pouco de lado, acho impossível que alguém realmente leve a sério essas provocações misóginas e homofóbicas de EL VIOLADOR INFERNAL, ou mesmo fique chocado com as cenas de estupro mequetrefes filmadas por Acosta Esparza.

Não há nenhuma cena de violência sexual no nível de um "Irreversível", por exemplo, e os estupros basicamente apenas mostram um montão de nudez das moças. O "violador infernal" até se demonstra um grande romântico em alguns momentos, quando fica beijando as mulheres no rosto e no pescoço durante o "estupro" (tentando "criar clima", talvez?).

Enfim, assisti EL VIOLADOR INFERNAL ao lado de uma moça e ela não se demonstrou revoltada em momento algum, nem mesmo pelo tratamento pejorativo dado às personagens do sexo feminino. O negócio é fazer como as vítimas de El Gato: relaxar e gozar. Até porque o filme é muito, mas muito engraçado em suas tentativas (desastradas) de chocar.


Confesso que estou até agora tentando entender porque El Gato, com os poderes infernais que possui, perde um tempão passeando de carro, caçando mulheres e contando mentiras deslavadas para seduzi-las e atraí-las para lugares desertos, onde serão mortas ao som da trilha sonora monocórdica de Rafael Garrido (repetida "over and over again").

Porra, mas o cara não é estuprador? Então por que ele fica de putaria, dando uma de galanteador com todos os rabos-de-saia que lhe cruzam o caminho, ao invés de simplesmente arrastá-las para qualquer cantinho e, ora, estuprá-las? E se é imortal e cheio de poderes infernais, por que se preocupa tanto em levar suas vítimas a locais ermos, para não ser pego pela polícia, se nada nem ninguém pode lhe fazer mal?


Da metade para o final, então, EL VIOLADOR INFERNAL vira um samba do crioulo doido: descobrimos que El Gato não só é imortal, mas também tem poderes sobrenaturais, como o de soltar raios pelos olhos para explodir coisas e fazer garotas levitarem. Pena que ele só usou esses poderes legais na sua última vítima: todos os outros ataques teriam sido bem mais fáceis com a ajuda dos "raios mágicos"!

Detalhe: os tais raios não passam de riscos feitos sobre o próprio negativo, um efeito tão tosco e precário que já transformaria o filme numa comédia involuntária SE todo o resto não fosse igualmente hilário. Até porque de vez em quando o ator mexe a cabeça e o "raio" vai parar lá nas pálpebras ou sobrancelhas, como você pode ver nas fotos abaixo!!!


E o roteiro é de uma preguiça atroz: El Gato conhece quase todas as suas vítimas num suspeitíssimo salão de beleza que também funciona como casa de massagem e, aparentemente, prostíbulo (já que todas as funcionárias comportam-se como garotas de programa, só que sem cobrar!). Ali, o vilão mata clientes e funcionárias sem que ninguém desconfie ou suspeite do desaparecimento das garotas!

EL VIOLADOR INFERNAL pode até ter sido concebido como filme de horror chocante, e pode até ser que algum dia tenha assustado alguém. Hoje, entretanto, não passa de uma comédia engraçadíssima, repleta de detalhes estúpidos (como o delegado que diz ter lido dezenas de livros de ocultismo apenas para descobrir que 666 é o número da Besta!) e cenas incrivelmente mal-feitas (numa das aparições da Diaba, sua capa foi PREGADA à parede para parecer que estava esvoaçante, como você pode ver na foto abaixo!!!).


Por fim, umas palavrinhas sobre o elenco. Noé Murayama faz El Gato, ele que à época já era um veterano do cinema mexicano, tendo feito westerns, filmes de lutadores mascarados e aventuras de espionagem (também teve um papel secundário no western spaghetti "Corri, Uomo, Corri", de Sergio Sollima). Sua "interpretação" vilanesca é hilária, com um excesso de sonoras risadas maléficas que lhe assemelham ao Dr. Evil da série "Austin Powers".

As meninas fazem pouca coisa além de agir como vadias, tirar a roupa, gritar enquanto são "estupradas" e morrer, mas eu não poderia deixar de registrar a participação da musa do FILMES PARA DOIDOS: a única e inigualável Princesa Lea, que eu conheci em "Intrepidos Punks".

Esta dançarina tesuda com nome inspirado em "Star Wars" era uma espécie de Gretchen mexicana, só que loiraça e com os peitos gigantescos ao invés da bunda. Sua participação é pequena como Maribel, massagista que se torna a última vítima de El Gato. Mas pelo menos ela mostra seus "talentos peitorais" durante um bom tempo. Ironicamente, ao ser substituída por uma dublê na cena em que sua personagem rola por uma escada, seus seios parecem murchar!


À primeira vista, EL VIOLADOR INFERNAL parece aquele tipo de filme que você até se sente sujo no final, pela quantidade de sexo forçado e violência a que foi submetido. Felizmente, tudo é suficientemente barato e mal-feito para se tornar engraçado, na linha dos filmes de Hershell Gordon Lewis, e com tantas bobagens por minuto quanto uma obra de Ed Wood ou Bruno Mattei.

Sendo assim, mais um FILME PARA DOIDOS com louvor vindo do México, país que teve uma larga produção de horror e sexploitation praticamente desconhecida aqui no Brasil, onde pouco ou nada foi lançado comercialmente. Veja e prepare-se para também virar fã do diretor Damián Acosta Esparza (não deixe de procurar pelo posterior e superior "La Venganza de los Punks")!

Ah, e enquanto estiver assistindo essas patacoadas, não esqueça do lema do blog: "Se ver um filme ruim é inevitável, relaxe e goze!".

Cena inicial de EL VIOLADOR INFERNAL



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El Violador Infernal (1988, México)
Direção: Damián Acosta Esparza
Elenco: Noé Murayama, Ana Luisa Peluffo,
Bruno Rey, Princesa Lea, Alfredo Gutiérrez,
Blanca Nieves e Arturo Mason.