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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Por um punhado de testosterona

Projeto dos sonhos de todo garoto que teve sua infância ou adolescência nos anos 80, e cresceu vendo descerebrados filmes estilo "exército de um homem só", OS MERCENÁRIOS finalmente chegou aos cinemas, dividindo radicalmente as opiniões. Alguns amaram e rasgaram elogios ao "filme de macho" dirigido e estrelado por Sylvester Stallone; outros fizeram um milhão de críticas, e não só os xaropes de sempre (tipo o crítico aquele), mas também gente que eu jurava que iria adorar, como o Leandro Caraça.

Fui vê-lo esta semana e acabei ficando no meio do caminho entre os dois extremos. Gostei do filme, mas não achei tão maravilhoso quanto fantasiei à medida que acompanhava as novidades sobre o projeto; também não achei tão ruim e indigno quanto os críticos mais ferozes da película. A bem da verdade, curti bastante a "idéia" e os 103 minutos passaram voando, servindo como uma espécie de vacina depois de uma semana de filmes lentos e introspectivos no Festival de Cinema de Gramado!

Porém, numa coisa eu acho que concordo tanto com os admiradores quanto com os detratores do filme: OS MERCENÁRIOS é um programa que vale mais pela EXPERIÊNCIA que proporciona (praticamente uma viagem de máquina do tempo ao cinema de ação dos anos 80) do que pela QUALIDADE do material em si.


A trama pouco importa num filme em que você tem, lado a lado, astros de ação do passado (Stallone, Dolph Lundgren e mais Bruce Willis e Schwarzenegger em pontas) e do presente (Jason Statham e Jet Li), mais aquelas figurinhas carimbadas do cinema classe B e classe C (Eric Roberts, Gary Daniels) e o redivivo Mickey Rourke, que se encaixa praticamente em todas as categorias citadas. Eu veria um filme desses só pelo elenco, mesmo se a direção fosse do morfético Lars Von Trier e essa cambada de gente boa passasse os 103 minutos recitando monólogos para uma câmera parada.

Felizmente, não é essa a proposta. Quando há tantos mal-encarados e durões num mesmo filme, qual é a expectativa do público? Ver tiros, facadas, porradas e explosões, certo? Pois aí chegamos à primeira coisa difícil de entender em relação às críticas feitas a OS MERCENÁRIOS: gente reclamando do roteiro fraco e do "desenvolvimento dos personagens". Tá bom... Como se John Matrix, o personagem de Schwarzenegger em "Comando para Matar", fosse bem desenvolvido - e nem por isso o filme é menos clássico da ação oitentista.

O negócio é dar uma banana para o roteiro e para os personagens, embora realmente falte um pouco mais de "motivação" para gente como Jet Li, totalmente sub-aproveitado no filme. Eu ficaria puto se fosse fã dele, mas na verdade só gosto da fase oriental do ator (mesma coisa com Jackie Chan), e perto das porcarias feitas por Li nos EUA, como "Rogue - O Assassino" (também com Jason Statham), OS MERCENÁRIOS até parece "Cidadão Kane".


Além de Li, outro ator com personagem ingrato é Dolph Lundgren. Mais uma vez, o pobre coitado é sub-aproveitado como "vilão de luxo", como já havia acontecido em "Rocky 4" (com Stallone), "Soldado Universal" (com Van Damme) e até "Johnny Mnemonic" (com... pfffff!, Keanu Reeves). Lundgren também não pode reclamar muito, já que seus últimos filmes "direct-to-video" são umas belas porcarias, mas é uma pena que Stallone não tenha lhe dado uma participação um pouco melhor, tirando-o do "time dos bonzinhos" muito cedo - e de maneira indigna.

Os únicos personagens razoavelmente desenvolvidos são os de Stallone e Statham. Epa, peraí... "Razoavelmente desenvolvidos" é forçar a barra - ainda mais considerando que você nem lembra dos NOMES deles durante o filme (Barney Ross e Lee Christmas, respectivamente, para quem interessar possa).

Tudo bem, digamos então que Stallone e Statham têm mais tempo em cena do que os outros - mais ou menos como um astro de ação veterano passando a bola para um novo nome do gênero, algo como o tradicional caso de "pupilo superando o mestre".


Também reclamaram muito da edição de OS MERCENÁRIOS. Bem, o estilo "picotado" me incomodou muito em dois momentos - a perseguição automobilística à caminhonete de Stallone e a luta entre dois dos "expendables", um deles Jet Li.

A cena na estrada é tão tremida e recortada que você não consegue entender nada do que está acontecendo: qual carro está batendo, quem está levando tiro, quem está explodindo, etc etc...

A luta, que podia ser um dos grandes momentos do filme, é indigna do talento de Li e, filmada muito de perto, estraga totalmente a coreografia feita pelo mestre Corey Yuen. Fica ainda pior quando você pensa: "Pô, quando é que eu vou ter a chance de ver uma coisa dessas outra vez?".

Mas no restante do filme a edição acelerada não me incomodou tanto. Novamente, não sei se foi por causa da overdose de filmes soporíferos que tive nos últimos 15 dias. Só sei que achei a meia hora final eletrizante, no mesmo nível do massacre final de "Rambo 4". Aliás, mais uma vez Stallone acaba com o Produto Interno Bruto de um país terceiro-mundista: se em "Rambo 4" havia exterminado a população da Birmânia, aqui ele e seus mercenários só deixam mulheres e crianças vivas na fictícia república das bananas de Vilena.


E por falar nele, bem que Stallone podia ter tirado um pouco os refletores de cima de si mesmo para dar espaço igualitário aos companheiros. Qual o motivo de ter um time com cinco sujeitos razoavelmente famosos se o personagem de Stallone é o único que aparece fazendo tudo? Pensei que cada "expendable" teria uma especialidade e uma responsabilidade no plano final do ataque à fortaleza do ditador, mas a coisa vai meio de qualquer jeito, com todo mundo atirando em todo mundo, e no meio das explosões você até esquece dos dois heróis menos cotados (interpretados por Randy Couture e Terry Crews), embora volta-e-meia eles insistam em reaparecer para provar que continuam vivos.

Mesmo com os defeitinhos da edição à la Michael Bay, continuo achando Stallone um ótimo diretor de filmes de ação. Ele tem olho para a coisa, devia aposentar a vida de astro egocêntrico para ficar apenas atrás das câmeras. Tem um momento bem legal que não lembro de ter visto em nenhum outro filme: Stallone rola pelo chão dando tiros e a câmera igualmente gira seguindo o ponto de vista do personagem e como ele vê os inimigos sendo alvejados. Algum outro filme provavelmente deve ter mostrado cena parecida, mas não me marcou como aqui em OS MERCENÁRIOS. Toda a cena envolvendo Stallone e Statham no avião (aquela do "Vamos dar a volta") também comprova que o homem entende do assunto.


Um dos maiores problemas do filme, pelo menos para mim, é a divisão bastante clara entre "atores fodões = bonzinhos" e "atores menos conhecidos = malvados". Tudo bem, é muito legal ver Gary Daniels, um ator de ação de araque daqueles filmes bem rampeiros dos anos 90, tomar porrada do Jet Li e do Jason Statham AO MESMO TEMPO. Tipo, parece que um cara do terceiro escalão é tão foda que precisa de dois astros para acabar com ele. (Engraçado que anos atrás escrevi sobre o filme "Lado a Lado com o Inimigo" e comentei que apanhar de um Steven Seagal gordo e decadente provavelmente seria o ponto alto na carreira do Gary Daniels. Ah, se eu soubesse...).

Mas o caso é que os bonzões estão todos no mesmo time, o que tira um pouco da graça do show. Imagine como seria ainda mais legal ver Stallone brigando com Jet Li, ou Jason Statham brigando com Bruce Willis. Aí sim teríamos algo mais no nível de um "Marvel Versus DC", com astros de primeira linha trocando pancadas. Tipo o "Stallone versus Schwarzenegger" várias vezes ameaçado nos anos 80, mas que acabou nunca se concretizando (nem aqui em OS MERCENÁRIOS; apesar da cena entre os dois ser muito divertida, juro que adoraria ver ambos trocando pelo menos umas porradas para realizar meu sonho de garoto!).


Talvez o filme ficasse ainda melhor se cada "expendable" enfrentasse um cara conhecido do gênero. Aqui sobrou para o Gary Daniels, mas imagine (e sonhar não custa nada) Jet Li versus Steven Seagal? Jason Statham versus Joe Lara e Frank Zagarino? Stallone dando porrada no Michael Dudikoff? Nesse sentido, acredito que o aguardado filme do Robert Rodriguez, "Machete", terá um resultado muito mais divertido que OS MERCENÁRIOS, até porque já foi anunciado um duelo entre Danny Trejo e Steven Seagal (!!!), e há um punhado de outros atores conhecidos para brigar entre eles, ao contrário do filme do Stallone.

Ainda assim, a ação desenfreada, as frases de efeito forçadíssimas e a quantidade absurda de mortos, tiros e explosões fazem de OS MERCENÁRIOS um filme muito divertido, de um raro tipo que, lá nos anos 80, seria lançado direto em VHS pela América Vídeo, com direito a caixinha azul com estrelinhas brancas e aquele comercial antológico do "Nossos filmes explodem como dinamite".

Não é, entretanto, um filme de ação maravilhoso ou obra-prima do gênero. Tirando o encontro de caras conhecidas, e duas ou três cenas bem legais, é um típico "direct-to-video" que não fica muito tempo na memória.


OS MERCENÁRIOS não tem absolutamente nada de espetacular, e, num caso típico de "em time que está ganhando não se mexe", o roteiro de Stallone e Dave Callaham reaproveita muita coisa de "Rambo 4", como o herói relutante que é convencido a cumprir sua missão por uma bela mulher (Julie Benz antes, a deliciosa e brasileiríssima Gisele Itié agora), o violento salvamento da mocinha de um inevitável estupro e o final estilo massacre.

A verdade é que OS MERCENÁRIOS apenas PARECE muito melhor do que é em comparação a todos esses filmes de ação para maricas que vêm sendo feitos nos últimos anos.

Lembro que, na década de 90, quando eu conheci o cinema de John Woo através dos lançamentos dos seus filmes em VHS no Brasil, fiquei maravilhado. Depois de "Fervura Máxima" e "No Coração do Perigo", pensei comigo mesmo: "Agora fodeu! Nunca mais vão conseguir fazer filmes de ação iguais a esses!".


Dito e feito: Woo foi para Hollywood, se acovardou depois de um início promissor e o cinema de ação "de macho" norte-americano cada vez mais caiu na vala comum do "politicamente correto". Tipo o "Duro de Matar 4" censura livre, com Bruce Willis virando palhaço ao lado do Justin Long e do Kevin Smith, cenas de ação em CGI e nenhum buraco de bala jorrando sangue, como nos filmes anteriores da série.

É óbvio que perto de babaquices como essa, OS MERCENÁRIOS parece mesmo uma maravilha, a salvação da lavoura, a terceira mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Mas não é. E acho que todo mundo imaginou um filme beeeem diferente desde que o projeto começou a ser desenvolvido.

No geral, entretanto, acho que ele cumpre sua função de "passatempo escapista", de transportar a platéia de volta aos inconseqüentes anos 80, sem nenhuma concessão ao politicamente correto ou ao bom gosto (chega a mostrar uma garota indefesa tomando porrada de um marmanjo e até sendo torturada!). E com todos os tiros, explosões e mortes sangrentas que o cinema de ação norte-americano ficou devendo nos últimos tempos.

Além disso, é muito legal ver veteranos dos anos 80 ainda em ação. Se Charles Bronson continuou fazendo o papel de policial durão até quando usava fraldas geriátrias, por que não Stallone e sua turma? E a câmera não poupa os velhotes, dando closes nos rostos profundamente enrugados do astro, de Lundgren, de Mickey Rourke... O filme bem que podia se chamar "Parque dos Dinossauros"!


Mas nada, NADA me tira da cabeça que OS MERCENÁRIOS ficaria ainda melhor com mais lutas entre os "bonzões" do elenco, e com uma edição mais convencional e menos "picotada" das cenas de ação.

Afinal, se filmes de quinta categoria como "Operação Fronteira", do Isaac Florentine, e "Até a Morte", do Simon Fellows (ambos estrelados por Van Damme), parecem muito melhor dirigidos do que uma produção milionária assinada por Sylvester Stallone, é porque alguma coisa está MUITO errada.

Torcendo para que estes probleminhas sejam corrigidos num futuro "Os Mercenários 2" - e sonhando alto com outros nomes famosos para integrar o elenco desta possível seqüência (será que Chuck Norris como vilão é pedir demais?). Porém Stallone pode dormir tranqüilo que seu objetivo foi plenamente atingido: esse seu filme de ação é tão DDD (divertido, descarado e descartável) como muitas de suas fontes de inspiração lá dos anos 80. Nós é que precisamos ser menos sérios e lembrar porque gostávamos tanto de filmes estúpidos como "Invasão USA", "Comando para Matar" e "Stallone Cobra".

domingo, 1 de março de 2009

JOHNNY MNEMONIC (1995)


"QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO? Toda minha vida eu tive o cuidado de ficar no meu canto, sem complicações. Agora, de repente, sou o responsável por toda a porra do mundo, e todos estão tentando me matar... Isso se minha cabeça não explodir primeiro! Você vê aquela cidade lá no fundo? Era lá que eu deveria estar! Não aqui embaixo com cães, lixo e essas merdas de jornais do mês passado. Me enchi deles, me enchi de você, me enchi de tudo isso! Eu quero um serviço de quarto! Eu quero um 'club-sandwich'! Eu quero uma cerveja mexicana gelada! Eu quero uma prostituta de 10 mil dólares! Eu quero minhas camisas lavadas... como eles fazem... no Imperial Hotel... em Tóquio!"

Em 1995, quando realidade virtual e internet ainda eram pura ficção científica, um filme chamado JOHNNY MNEMONIC tentou faturar em cima da estética "cyberpunk" dos romances de William Gibson - um universo então conhecido apenas por nerds, e que somente "Matrix", quatro anos depois, conseguiria transformar em "cultura pop".

Talvez JOHNNY MNEMONIC seja um filme à frente do seu tempo. Afinal, esta bizarra e sombria aventura de ficção científica parece bem melhor hoje do que na época do seu lançamento, quando foi detonada pela crítica e boicotada pelo público, quase enterrando a promissora carreira de um jovem astro chamado... Keanu Reeves! Que, por este trabalho, foi indicado ao Framboesa de Ouro de Pior Ator, depois passou um tempão estrelando porqueiras como "O Observador", e, ironicamente, voltou ao estrelato justamente ao revisitar o tema "cyberpunk" na bem-sucedida série "Matrix".


Roteirizado pelo próprio William Gibson, a partir do seu conto homônimo, este filme "quase B" (custou 26 milhões de dólares) parte de uma idéia intrigante: no ano de 2021, piratear informação é tão comum que internet e satélites não são mais confiáveis; a única maneira segura de "transportar" informação é carregar o cérebro dos chamados agentes mnemônicos com os dados em gigabytes e então mandá-los até o seu destino, incógnitos.

Pode parecer idiota, considerando que o tal agente corre o risco de sofrer um acidente no percurso e adeus informações. Mas, sei lá, soa mais seguro que o correio comum numa sociedade à beira do colapso como a que é mostrada no filme - uma sociedade extremamente capitalista e dominada por megacorporações, tipo a nossa.

Keanu interpreta Johnny, um destes agentes mnemônicos, cuja capacidade cerebral de informação é de 80 GB. Isso mesmo, igual a muitos smartphones de hoje (e insira aqui mesmo a sua própria piadinha em relação ao tamanho do cérebro de Keanu Reeves!).

Claro que o mundo de 2021 não é dos melhores: fazer implantes cibernéticos no corpo é tão comum quanto cortar o cabelo ou trocar de cueca; por outro lado, uma doença chamada NAS é transmitida através das ondas eletromagnéticas e está matando a maior parte da população mundial. Que horror, não?


A ação começa quando o pobre Johnny aceita uma "última missão" (alerta de clichê!!!): carregar dados confidenciais de uma poderosa indústria farmacêutica, de Tóquio para Newark. Ele "compacta" seu HD cerebral para poder carregar 160 GB, mas a quantidade de informação que os caras enfiam na sua cabeça chega a 320 gigas!!! Claro que isso não é nada bom: se Johnny não conseguir fazer o download dos dados em 24 horas, seu crânio vai literalmente explodir!!! Problema número 2: a Yakuza, ligada à tal indústria farmacêutica, está atrás dos dados confidenciais carregados por Johnny. E a vida do mensageiro não importa: tudo que eles precisam é da sua cabeça, e o resto que se exploda!

JOHNNY MNEMONIC tem muitos problemas que explicam a fria recepção na época do seu lançamento. Keanu vinha do sucesso de "Velocidade Máxima", e ninguém esperava vê-lo no papel de um herói desagradável e nada simpático, numa história complicada e sem humor. Embora o roteiro tente "humanizar" o agente mnemônico vivido pelo astro (o rapaz perdeu todas as memórias da sua infância por carregar mais informações no cérebro do que seria recomendável), a verdade é que Johnny Mnemonic é um herói bem diferente do usual, egoísta, insensível e sem a menor vocação para salvar o mundo - tudo que ele quer é salvar a própria cabeça.

Outro grande problema é que tudo soa bizarro demais para o público em geral, embora seja um verdadeiro deleite para quem gosta de FILMES PARA DOIDOS. A ambientação "cyberpunk", por exemplo, atropela o espectador com uma quantidade absurda de informação que não fazia muito sentido lá atrás, em 1995.


Se hoje termos como download, cyberspace e internet já são comuns até para crianças de 6 anos, é bem possível que a maioria do público tenha ficado boiando na época de lançamento do filme. Mesmo hoje, algumas operações "cibernéticas" dos personagens e certos termos técnicos utilizados parecem grego até para quem tem um mínimo de conhecimento na área.

Completando o quesito "bizarria", este é um filme não só estrelado por um herói nada heróico (o discurso do início do texto é feito pelo personagem no clímax da trama, para dar uma idéia de sua preocupação com o futuro da humanidade), mas que também conta com um assassino que usa seu chicote laser para cortar metal, pescoços e pessoas ao meio; um médico viciado em fazer implantes cibernéticos baratos em seus amigos; um golfinho que teve o cérebro modificado pela Marinha para decodificar códigos inimigos e que vive num aquário, além, é claro, de um padre psicopata, vestido como Jesus Cristo, com esqueleto biônico e uma espada em forma de cruz!!!

Para completar, JOHNNY MNEMONIC traz um dos elencos mais "diferentes" já reunidos numa produção hollywoodiana: um astro como Keanu Reeves divide a tela com roqueiros (Ice-T e Henry Rollins), com o astro oriental Takeshi Kitano e mais Dina Meyer, Udo Kier, Barbara Sukowa e, acredite se quiser, Dolph Lundgren (!!!), provavelmente no papel mais esquisito da sua carreira como o tal padre biônico assassino! O pior é que Lundgren quase rouba o filme. Inacreditável!

Obviamente, uma mistura tão estranha só pode ser apreciada por públicos bem específicos. Também não ajuda o fato de o filme ser de uma escuridão digna de Tim Burton (toda a história se passa à noite), e de ser o primeiro (e até agora único) longa-metragem de um obscuro artista plástico chamado Robert Longo, que até então só havia dirigido videoclipes do REM e do New Order e um episódio (ruim) da série "Contos da Cripta".


Contando ainda com as tradicionais e multicoloridas cenas criadas por computação gráfica para representar as viagens dos personagens pelo cyberspace (estilo "O Passageiro do Futuro"), JOHNNY MNEMONIC é o tipo de filme que você nem sabe direito como avaliar, em que idéias muito boas são jogadas lado a lado com outras completamente imbecis, e cenas bem legais (incluindo mãos e cabeças decepadas com o tal chicote-laser) são seguidas por momentos pouco ou nada inspirados (cortesia do diretor de primeira viagem).

Entretanto, várias imagens e situações seriam vistas posteriormente em outros filmes, dos sobretudos escuros que viraram mania em "Matrix" às traquitanas tecnológicas que se tornaram presença obrigatória em todo e qualquer filme sobre hackers e computadores (alguns aparelhos ligados no cérebro também lembram "Matrix"). E tem até a imagem do casal se beijando enquanto edifícios queimam no horizonte (vista depois em "Clube da Luta").

Será que estamos diante de uma obra visionária? Bem, dá para apostar que tanto o filme quanto os seus realizadores teriam muito mais sorte caso JOHNNY MNEMONIC tivesse sido lançado hoje, e não 14 anos atrás. Mas este é o preço pago por todas as obras à frente do seu tempo, como "Blade Runner", que também foi um fracasso na época de seu lançamento (1982).


Claro que seria covardia (para não dizer loucura) comparar este debut de Robert Longo ao eterno cult movie de Ridley Scott, embora ambos tenham muito em comum, da "estética" futurista à presença de um astro hollywoodiano completamente perdido no seu papel. Mas quem sabe JOHNNY MNEMONIC não seja redescoberto nos anos vindouros?

PS 1: O tradutor brasileiro que teve a genial idéia de colocar no filme o subtítulo "O Cyborg do Futuro" merecia ele mesmo um implante cibernético... no rabo! Afinal, não há um único cyborg no filme, seja do futuro ou do passado.

PS 2: A versão japonesa do filme tem 107 minutos (11 a mais que a versão original). Estes minutos adicionais dão mais tempo em cena para o personagem de Takeshi Kitano. Como o ator era muito mais conhecido no Oriente do que no Ocidente lá no ano de 1995, foram gravadas mais cenas com ele especialmente para atrair o público oriental. Não deu outra: esta versão estendida é mais respeitada (e realmente bem melhor, incluindo uma trilha sonora diferente) do que a "oficial".

Trailer de JOHNNY MNEMONIC



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Johnny Mnemonic (1995, EUA/Canadá)
Direção: Robert Longo
Elenco: Keanu Reeves, Dina Meyer, Dolph
Lundgren, Takeshi Kitano, Ice-T, Henry
Rollins, Barbara Sukowa e Udo Kier.