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sábado, 4 de dezembro de 2010

O ÚLTIMO GUERREIRO (1975)


Se hoje os heróis de infância da garotada são Harry Potter, Percy Jackson e outros bunda-moles, eu tive a sorte de crescer ao lado de pais cinéfilos (e sem-noção) que me deixavam ver filmes como "Stallone Cobra" e "Comando para Matar" já aos 10 anos de idade!

Assim, meus heróis de infância eram gente como Snake Plissken, Mad Max, Braddock e, entre os menos conhecidos, Carson, o inexpressivo mercenário careca interpretado por Yul Brynner em O ÚLTIMO GUERREIRO, objeto de nossa análise de hoje.

Nunca entendi direito o porquê do meu fascínio por Carson, mas, ainda criança, achava o personagem mais interessante do que o próprio filme.


Revendo agora, depois de "velho", a obra escrita e dirigida por Robert Clouse, constatei que O ÚLTIMO GUERREIRO na verdade é ótimo, e o personagem de Yul Brynner continua tão legal quanto me lembro dos meus tempos de moleque.

O filme é de 1975. Clouse gozava de certa fama, à época, por ter dirigido algumas produções de artes marciais numa parceria Oriente-Ocidente, incluindo o sucesso "Operação Dragão" (1973), com Bruce Lee (depois ele também seria chamado para "remendar" o último filme de Lee, "O Jogo da Morte", quando o astro morreu durante as filmagens).

O ÚLTIMO GUERREIRO, entretanto, não tem nada a ver com artes marciais, e é um dos antecessores daquele "boom" de aventuras pós-apocalípticas que tomaria o cinema nos anos 80, depois da febre "Mad Max 2".


Com vaga inspiração em "O Último Homem Sobre a Terra" (1971), de Boris Sagal, o roteiro de Clouse se passa no cabalístico ano de 2012, trinta anos depois que uma misteriosa praga devastou o planeta, matando pessoas, animais e toda a vegetação.

Na cidade de Nova York (sempre ela!), agora transformada em terra de ninguém, os sobreviventes vivem agrupados em colônias, trancafiados atrás de muros e grades. Afinal, basta pôr o pé na rua para ser brutalmente atacado por bárbaros, que matam a pauladas e pedradas para roubar roupas e sapatos - e, não raramente, praticar canibalismo.

Há duas facções principais na extinta metrópole. De um lado, um intelectual conhecido como O Barão (Max von Sydow, emprestando bastante respeito à produção), que prega uma sociedade comunista e pacifista, onde os poucos víveres são distribuídos em porções iguais e todos trabalham.


Do outro lado, o vilão Carrot (William Smith, malvado como sempre), que por sua vez reúne os maiores degenerados num antigo presídio, de onde volta-e-meia saem para caçar e matar os desavisados que encontram pelas ruas.

Na comunidade do Barão, um botânico chamado Cal (Richard Kelton) conseguiu operar um milagre, reproduzindo sementes férteis de legumes.

Essas sementes podem representar o retorno da vida vegetal ao planeta, e o Barão resolve que são importantes demais para germinar ali: é preciso levá-las a um lugar afastado, onde possam ser espalhadas na natureza e dar início ao marco zero de um novo mundo.


Mas como tirar as sementes da fortaleza nova-iorquina se basta pôr o pé do lado de fora para ser morto pelos bárbaros que vivem nas ruas, ou ainda pelos bandidos liderados por Carrot?

A resposta está em Carson, o tal mercenário que aparece silenciosamente vindo de lugar nenhum, e, sem muitas palavras, resolve ajudar o Barão e seus amigos - incluindo a filha do líder (Joanna Miles), que está grávida.

É claro que um confronto mortal com Carrot e seus homens será inevitável.


O ÚLTIMO GUERREIRO não esconde o fato de ser uma produção barata, e o diretor Clouse usa de bastante criatividade para contornar o orçamento baixo.

No início, por exemplo, ele utiliza na montagem fotografias de pontos turísticos de Nova York, completamente desertos, com um som de vento por cima, como se estivesse exibindo cenas de desolação ao invés de fotos estáticas - uma solução muito mais barata do que fechar Nova York para filmar, como fizeram recentemente com "Eu Sou a Lenda".

A despeito desses improvisos, a direção de arte do filme é fantástica, com um excesso de detalhes que salta aos olhos - como as teias de aranha por toda parte numa velha padaria, os enfeites de Natal semi-destruídos numa estação de metrô e o vagão de trem repleto de esqueletos de vítimas do holocausto.


Embora O ÚLTIMO GUERREIRO tenha bastante ação, com Carson enfrentando inúmeras vezes os bárbaros das ruas e os asseclas de Carrot (além do próprio no final, é claro), há uma fortíssima mensagem crítica que faz do filme algo mais do que uma simples aventura descerebrada.

Por exemplo, a comunidade "pacífica" do Barão é ironicamente a mais problemática: enquanto no presídio comandado por Carrot a vida é sempre uma farra, na fortaleza dos "bonzinhos" acontecem brigas de hora em hora por causa da distribuição da comida, dos furtos, da inveja e das fofocas.

Numa cena, um inocente acusado erroneamente é morto sem direito de defesa, demonstrando a fragilidade do senso de "justiça" daquela nova sociedade.


O destino sombrio da comunidade do Barão (e do seu líder) na conclusão só reforça a dificuldade que o ser humano tem de viver em sociedade - mesmo quando está tentando reconstruí-la.

Nesse ponto, o filme é bem deprê e muito cruel: não poupa o espectador de diversas matanças de inocentes, inclusive de um bebê!

Porém o melhor de O ÚLTIMO GUERREIRO é a riqueza de seus personagens, que fogem daquele estereótipo sem muita profundidade dos filmes do gênero.


É o caso do personagem principal, Carson. Bem distante da noção tradicional de "herói" (e por isso escrevo o termo entre aspas), Carson não vai ajudar a comunidade do Barão por razões humanitárias ou porque é bonzinho e justo, mas somente porque o líder lhe prometeu "um estoque ilimitado de charutos"!!!

O triste desse detalhe é que, como todos sabem, o astro Brynner morreu de câncer provocado pelo hábito de fumar, e inclusive gravou um depoimento, exibido na TV após a sua morte, incentivando os fumantes a largarem o cigarro.

Você pode ver esse triste vídeo (que mostra o ator fisicamente debilitado por causa da doença) no link abaixo:

Yul Brynner recomenda: "Não fumem!"



O ÚLTIMO GUERREIRO é um dos últimos papéis do careca no cinema, e nem parece que ele estava com 55 anos na época das filmagens: sarado, musculoso e ágil, sempre com um olhar de pedra e sorrisinho cínico no rosto, Brynner é a própria definição do "cool".

Ele se sai muito bem e ainda convence nas cenas de ação e luta. Sem contar que é daqueles "heróis" que não fazem prisioneiros: ao invés de dar sopapos ou apenas desacordar os inimigos, Carson passa a faca neles sem pensar duas vezes, sem dó nem piedade!

E há uma curiosa beleza no seu personagem que transcende os limites do filme. Acho que esse é o charme de Carson no fim das contas, que o torna tão cool e memorável. O "herói" quase não abre a boca durante o filme, e, ao fazê-lo, não se preocupa em falar sobre sua vida pregressa, deixando no ar, até o final, esse mistério.


Afinal, quem é Carson? Tudo o que vemos e sabemos sobre ele é que o sujeito tem o corpo coberto de cicatrizes, nunca sorri, fala pouco e usa como única arma um punhal, que leva atado à parte de trás de seu cinto.

A habilidade do sujeito no uso da faca e dos punhos levanta a possibilidade de que Carson seja um ex-soldado (ou até um ex-presidiário). E por quantas lutas terá passado antes, para colecionar as cicatrizes pelo corpo?

Salta aos olhos até a maneira meticulosa com que o personagem coloca seu punhal de pé, apoiado pelo cabo, quando não está usando a arma.


Trata-se de um personagem riquíssimo e interessantíssimo justamente pelo que o filme NÃO conta, e eu odeio esses roteiros onde os caras explicam tintim por tintim o passado, presente e futuro dos protagonistas. Ao deixar a maior parte para a imaginação do espectador, O ÚLTIMO GUERREIRO transforma Carson num personagem realmente melhor do que o próprio filme!

O detalhismo se estende ao vilão de William Smith - aliás, que diabos de nome de vilão é esse, "Carrot" (em bom português, "cenoura")??? Implacável e cruel, o bandidão tem uma enorme cicatriz no pescoço cuja origem também nunca é explicada, fazendo com que o espectador imagine várias teorias para o passado do sujeito.

(E o duelo final entre Carson e Carrot é ótimo, com direito a uma inesperada e terrível mutilação do herói, algo pouco usual no cinema de ação norte-americano!)


Finalmente, chegamos ao Barão de Max von Sydow, um sujeito que, numa análise simplista, poderia ser descrito como um líder humanitário que tenta reerguer uma sociedade justa e pacífica. Só que, numa análise mais apurada, o Barão se revela um personagem de duas-caras: autoritário, quase um ditador, cujas sentenças e regras passam longe do conceito de "justiça", e mais preocupado em consertar relógios antigos do que com o futuro da sua comunidade.

Não se pode dizer que Robert Clouse era um mestre do cinema de ação (eu acho "Operação Dragão" e "O Jogo da Morte", que ele dirigiu, os dois filmes mais fracos do Bruce Lee).

Mas o sujeito tem uma filmografia bem interessante que nunca recebeu o devido valor - valem uma olhada, por exemplo, "O Grande Lutador", com Jackie Chan, "Force Five" e "Gymkata - O Jogo da Morte". Ele morreu meio esquecido em 1997. À época, estava sem filmar já há cinco anos.


Uma curiosidade mórbida dos bastidores envolve Richard Kelton, que interpreta o botânico Cal. Esse candidato a astro tinha um futuro promissor, mas morreu três anos depois de O ÚLTIMO GUERREIRO, aos 35 anos, num acidente estúpido: durante as filmagens do episódio de uma série de TV, Kelton trancou-se em seu trailer para decorar as falas e descansar, sem saber que havia um vazamento de gás no interior do veículo. O ator desmaiou, foi envenenado pelo gás e encontrado muitas horas depois, já morto.

Muitas aventuras pós-apocalípticas foram feitas depois de O ÚLTIMO GUERREIRO, e diversas delas mostraram uma Nova York devastada - de produções baratas como "2019 - After the Fall of New York", de Sergio Martino, à superprodução "Eu Sou a Lenda".


Mesmo assim, esse filme de Clouse tem um charme todo especial que eu nem consigo explicar direito: vem do elenco interessante (Brynner, Von Sydow e William Smith NO MESMO FILME?), do ótimo personagem principal, do belo uso dos cenários devastados, da crueldade daquele mundo bárbaro...

Enfim, O ÚLTIMO GUERREIRO é um filmaço que merece ser redescoberto - antes tarde do que nunca.

Pelo menos antes que façam um remake bilionário, con Vin Diesel ou Jason Statham emprestando suas carecas ao personagem que foi de Yul Brynner.

Carson em ação em O ÚLTIMO GUERREIRO



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O Último Guerreiro (The Ultimate
Warrior, 1975, EUA)

Direção: Robert Clouse
Elenco: Yul Brynner, Max von Sydow, William Smith,
Joanna Miles, Richard Kelton, Stephen McHattie,
Darrell Zwerling e Lane Bradbury.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A BATALHA FINAL (1990)


Oficialmente, a temível Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética terminou em 3 de dezembro de 1989, quando os líderes das duas superpotências finalmente fumaram o cachimbo da paz, depois de quatro décadas de ameaças mútuas de uma possível Terceira Guerra Mundial - no caso, uma guerra nuclear, com grandes possibilidades de destruir o mundo inteiro além dos dois impérios brigões!

O tratado de paz acabou com algo que era comum no cinema de ação da década de 80: vilões russos, fossem eles terroristas, como os que invadem os Estados Unidos e enfrentam Chuck Norris em "Invasão USA", fossem eles meros boxeadores, como o Ivan Drago, que quase matou o Stallone de pancada em "Rocky 4".

E embora os vilões comunas tenham saído rapidinho da moda, um certo cineasta norte-americano achou que ainda era cedo para terminar a Guerra Fria. E, em 1990, lançou sua própria versão do final do conflito: A BATALHA FINAL.


É claro que estamos falando de David A. Prior, possivelmente um dos piores cineastas da história. Quem vem acompanhando fielmente o FILMES PARA DOIDOS deve ter percebido que eu ando fazendo um retrospecto da "carreira" do homem, já que minha infância/adolescência provavelmente não teria sido tão divertida casos os filmes de Prior não fossem exibidos no Cinema em Casa (não deixe de ler minhas resenhas de "Deadly Prey" e "Operation Warzone", outros inacreditáveis "clássicos" do diretor).

Já sobre A BATALHA FINAL, só tenho uma coisa a dizer: é, de longe, um dos piores filmes de Prior - e quando estamos falando de um sujeito que praticamente só fez filme muito ruim, isso não significa pouca coisa!

O SBT costumava reprisar o filme religiosamente nas suas tardes de Cinema em Casa, e duvido que exista algum fã de filmes bagaceiros que nunca tenha visto ao menos uns minutinhos desta "maravilha" (sim, as aspas significam ironia). E é só saber como surgiu a idéia de A BATALHA FINAL para entender a "qualidade" (idem ao parêntese anterior) da película: David e seu irmão e galã habitual, Ted Prior, compraram num leilão de quinquilharias alguns metros de negativos contendo cenas de testes do Exército, mostrando explosões nucleares, mísseis sendo disparados de silos e coisas do gênero. Isso pela bagatela de 75 dólares! A dupla dinâmica então encarnou o espírito de Ed Wood e pôs-se a imaginar um roteiro que pudesse aproveitar todas estas cenas (como essa aí embaixo), e que custasse o mínimo possível. É mole?


Assim, o roteiro assinado por David inicia no calor da então terminada Guerra Fria, com Estados Unidos e União Soviética trocando mísseis nucleares. Mera desculpa para usar aquele montão de cenas de arquivo com disparos de mísseis e explosões que ele tinha à disposição, todas muito granuladas/estragadas, destoando completamente do restante do filme. Através de noticiários, descobrimos que houve pesadas perdas civis para as duas superpotências, e que a ONU irá reunir os principais líderes mundiais em Genebra, na Suíça, para tentar chegar a uma solução pacífica para o conflito, antes da destruição total da Terra.

Corta para um monte de manés sentados ao redor de uma mesa de jantar comum (imagine isso como sendo a sala de reuniões da ONU), votando na tal "solução pacífica" para a Guerra Fria. E adivinhe qual é a idéia dos "principais líderes mundiais"? Acredite ou não, eles decidem que o destino da humanidade será traçado não mais através de uma guerra atômica, mas sim no simples duelo corpo a corpo entre dois homens, representando "o melhor" das duas nações!!! É, alguém viu "Rocky 4" muitas vezes...

E enquanto a União Soviética escolhe como representante o sargento Sergei Schvackov (o queixudo Robert Z'Dar, da série "Maniac Cop"), um gigante condicionado física e psicologicamente para matar, os norte-americanos surpreendentemente optam por um velho herói de guerra, o sargento Thomas Batanic (Ted Prior, quem mais?), que foi condenado pela corte marcial por crimes de guerra que supostamente não cometeu.



Batanic é o pior representante possível para uma nação inteira: cínico, preguiçoso, trapaceiro e magrela, parece mais uma espécie de Snake Plissken dos pobres. Em outras palavras, você não consegue acreditar, nem por um minuto, que ele realmente teria alguma chance contra o monstruoso Z´Dar, ainda mais numa luta corpo a corpo! Mas como os ianques posteriormente elegeriam George W. Bush como presidente, a escolha nem parece tão absurda assim...

O local escolhido para a "batalha final" é uma extensa selva na Virginia (que, veja só que incongruência, fica em território norte-americano!!!). Ali, os dois soldados são monitorados e rastreados por suas devidas superpotências, enquanto basicamente caminham de um lado para o outro, entre árvores e casebres, trocando tiros, bombas e socos durante o restante do filme.

E é só isso: um filme inteiro sobre dois sujeitos que supostamente são os melhores de cada lado, mas que passam uns bons 40 minutos tentando se matar sem jamais conseguir, mesmo contando com um verdadeiro arsenal à disposição!!! Quem conseguir ficar acordado, ainda terá pela frente uma das conclusões mais absurdas já filmadas.


Como legítima produção de David A. Prior, A BATALHA FINAL está repleto daqueles absurdos e defeitos que costumam tornar seus filmes bastante engraçados e divertidos. O maior absurdo, que surpreendentemente é levado a sério o tempo inteiro, é a idéia de decidir o destino do mundo numa luta banal entre dois soldados, que pode ser definida muito mais na sorte do que na habilidade. Isso é tão ou mais ridículo do que decidir uma eleição presidencial no par ou ímpar!

E se (ênfase MUITO GRANDE no "e se...") as duas superpotências realmente optassem por um mano a mano estilo gladiadores da Roma Antiga, certamente uma disputa desta grandiosidade não aconteceria na Virginia (dando ligeira vantagem a um dos lados do conflito), mas sim em algum país neutro. Para piorar, não só o local da "batalha final" fica nos EUA, como ainda garante acesso livre para qualquer mané: lá pelo final do filme, um desafeto de Batanic consegue infiltrar-se pessoalmente naquela área para tentar matar o herói, sem que ninguém descubra ou apareça para impedir.

Também não dá para engolir o fato de que um evento desta magnitude, por mais absurdo que pareça, seria monitorado por apenas duas pessoas representando cada superpotência. Caso (ênfase MUITO GRANDE no "caso...") uma coisa dessas realmente acontecesse, é claro que cada lado da batalha teria à sua disposição uma daquelas salas cheias de técnicos e computadores tipo as da Nasa, para poder monitorar cada passo dos dois soldados e descobrir em milésimos de segundo o que está acontecendo.


Pois em A BATALHA FINAL, muito provavelmente por limitações orçamentárias, temos apenas uma dupla de "monitores" para cada lado, diante de uma tela de computador que mostra duas bolinhas representando os soldados - e o herói norte-americano quase é morto porque a moça (Renée Cline) que deveria estar de olho no monitor preferiu ficar paquerando o sujeito!!! Detalhe: nem EUA nem URSS têm uma mísera camerazinha na área do confronto para poder visualizar o que realmente está acontecendo, tornando muito fácil a possibilidade de trapaças para qualquer um dos lados.

Agora, descontando essas palhaçadas do roteiro, o que sobra são 40 minutos apresentando a situação e "desenvolvendo" os personagens, e mais uns 45 minutos com a "batalha final" propriamente dita. Como seria pedir demais um tiro certeiro disparado por um dos lados (pois assim a luta terminaria muito rápido), resta ao espectador desafiar os limites da sua paciência enquanto assiste Ted Prior e Robert Z'Dar trocando tiros sem jamais se acertar, mesmo quando um deles está escondido atrás de uma árvore tão fininha que até uma cuspida bem dada atravessaria o seu tronco!

E se os dois "melhores soldados do mundo" não conseguem se acertar nem ao menos de raspão, como engolir o fato de que Batanic constrói uma única armadilha (daquele tipo "pise no barbante para explodir tudo") num território com dezenas de quilômetros de extensão, mas mesmo assim consegue adivinhar que Sergei pisará exatamente naquele local?


Novamente, a tal "batalha final" poderia terminar em cinco minutos, mas o adversário russo é um verdadeiro Jason, que escapa vivo não somente desta armadilha, mas também da explosão de uma cabana inteira. E, apesar de estar no interior da tal cabana e sem qualquer chance de fuga, Sergei não apenas sobrevive, como acaba apenas com metade do rosto levemente desfigurado!!!

Resta, então, um confronto frouxo, que rende algumas boas risadas (pela total inexperiência dos "melhores soldados", e também pelo fato de Sergei aparecer e desaparecer misteriosamente em questão de segundos, mesmo quando está em campo aberto e sem nenhum lugar para se esconder). O tal confronto é mais chato do que propriamente divertido ou empolgante.

Para piorar, o diretor e roteirista Prior tenta uma solução diplomática para o impasse, e ainda fica gastando tempo com subtramas ridículas envolvendo corrupção no Exército e a investigação de um senador.


E embora A BATALHA FINAL seja puro David A. Prior (incluindo a tradicional cena dos soldados se arrumando para o confronto, com closes em armas, granadas e facas sendo colocadas no uniforme), o resultado final não é ruim e divertido, como um "Deadly Prey", mas apenas ruim - e, neste caso, BEM RUIM. Percebe-se claramente a pobreza da produção, principalmente dos cenários.

Mas cá entre nós: como é que um filme criado a partir de um monte de cenas velhas poderia ser diferente?

E mais uma coisa: já pensou se a moda pega e esse sistema de decidir questões importantes no mano a mano fosse adotado a sério? Aí quem sabe a próxima Copa do Mundo seria decidida somente na cobrança de pênaltis entre os melhores artilheiros de cada país. Agora imagine o craque representante do Brasil chutando a bola para fora ou na trave adversária durante 1h30min, e o outro lado (Argentina? Itália? Alemanha?) fazendo a mesma coisa. Pois A BATALHA FINAL é exatamente assim. Talvez até menos empolgante, se é que isso é possível...

Trailer de A BATALHA FINAL



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The Final Sanction (1990, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Ted Prior, Robert Z'Dar, Renée
Cline, William Smith, David Fawcett,
Barry Silverman e Graham Timbes.