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sábado, 26 de fevereiro de 2011

DELTA FORCE COMMANDO 1 e 2 (1987/1990)


Para compensar os dias que fiquei sem atualizar o FILMES PARA DOIDOS por causa da minha dissertação de mestrado, eis uma Sessão Dupla em que, numa tacada só, serão resenhados (e devidamente ridicularizados) os dois filmes da série italiana DELTA FORCE COMMANDO, ambos dirigidos por Pierluigi Ciriaci (aka Frank Valenti) em 1987 e 1990. É bom avisar que ambos são MUITO RUINS (com menção honrosa para o segundo).

E a pobreza destas duas produções só se equipara à picaretagem dos produtores. Afinal, é bastante óbvio que eles citam, nos títulos, dois sucessos do gênero dos anos 80, "Delta Force" (no Brasil, "Comando Delta", aquele com o Chuck Norris) e "Commando" (o famoso "Comando para Matar", com Schwarzenegger).

Não satisfeitos com a citação nos títulos, os produtores também chuparam algumas cenas dos dois filmes, mas tudo com aquele "padrão italiano de qualidade" que é uma garantia de diversão trash de grosso calibre. Aos filmes:


DELTA FORCE COMMANDO (1987)


"O Soldado da Força Delta" poderia ser uma boa tradução para o filme de Ciriaci/Valenti, mas a distribuidora que lançou-o no Brasil (a Sagres) preferiu nem quebrar a cabeça e deixou DELTA FORCE COMMANDO mesmo, talvez imaginando que as fotos de caças na capinha da fita já valeriam a locação.

Ciriaci não esconde sua inspiração naquela febre de filmes sobre caças e jatos que havia na época (que gerou obras como "Ases Indomáveis" e "Águia de Aço", ambos de 1986). Assim, tome cenas de caças zanzando para lá e para cá, muitas delas provavelmente tiradas de documentários ou filmagens do Exército.

A história começa com um militar levando uma prostituta para dentro de uma base norte-americana "de segurança máxima" (pffff!) em Porto Rico. E é só a vagabunda passar pelo portão para revelar-se uma espiã terrorista, que abre a entrada para seus amigos revolucionários terceiro-mundistas.


O grupo é liderado por um bandidão anônimo de expressões exageradas, que sempre usa camisetas rasgadas mostrando o peitoral, e tem cicatrizes nas laterais da boca que vive lambendo - 21 anos antes do Coringa de Heath Ledger.

E, vejam só, o sujeito é interpretado por MARK GREGORY, o Trash de "1990 - Os Guerreiros do Bronx" e o índio Thunder da trilogia homônima!!!

Os revolucionários estão em busca de uma poderosa arma nuclear (evidentemente), que, apesar do alto risco, é guardada numa sala em que simples portas de madeira (!!!) trazem o aviso: "Danger" e o símbolo de energia nuclear. Não bastasse isso, a tal arma convenientemente está acondicionada dentro de uma caixa portátil que os vilões podem levar nas costas. Isso é que é facilitar a ação dos terroristas, hein?


Na tal base, também vive um super-herói da Delta Force, o tenente Tony Turner (interpretado pelo "Robert DeNiro da péssima interpretação" Brett Clark, imortalizado no cinema no papel do stripper Nick The Dick em "A Última Festa de Solteiro").

Embora seja o melhor soldado do grupo de operações especiais, Turner aposentou-se para prestar serviços burocráticos na base e acompanhar os últimos dias da gravidez da esposa (Emy Valentino, de "A Face").

O problema é que os vilões em fuga dão o azar de passar bem na frente do apartamento do casal, e o bandidão interpretado por Gregory acaba atirando na esposa de Turner, matando instantaneamente mulher e filho do herói.


Cego de vingança, Turner resolve contrariar seus superiores e partir numa missão de vendetta rumo à Nicarágua, onde os revolucionários estão escondidos, chantageando as grandes lideranças mundiais. Para chegar lá, Turner "sequestra" o caça pilotado pelo capitão Samuel Beck (ninguém menos que FRED WILLIAMSON!), obrigando o famoso herói negro do cinema B a levá-lo até a Nicarágua.

Chegando lá, não pense que haverá investigação, bate-papo ou desenvolvimento de personagens: tudo o que Turner e Beck fazem é mandar chumbo no exército nicaraguense (!!!) e nos terroristas, enquanto dirigem (e eventualmente explodem) jipes, ônibus (!!!) e helicópteros.


Depois de incontáveis tiros, explosões e mortes, os heróis descobrem que a tal bomba atômica roubada pelos vilões, e que irá explodir em alguns segundos, é apenas uma bomba falsa usada em treinamentos. Bela forma de encerrar um filme, hein? Ainda mais considerando a quantidade de pessoas que foram mortas por causa da tal bomba de brincadeira!

DELTA FORCE COMMANDO é ruim de doer, e editado de forma catastrófica por Fiorenza Muller - o que proporciona saltos na narrativa, repetição de cenas e até erros grotescos, como Turner e Beck decolarem em um caça e se ejetarem de um outro completamente diferente!!!

A direção de Ciriaci é inexistente, e as cenas de ação se resumem a Brett Clark e Fred Williamson correndo enquanto disparam 50 tiros de metralhadora para matar cada vilão (mira não é o forte dos heróis; sorte que eles usam aquelas armas cinematográficas que nunca ficam sem munição!).


O que torna o filme divertido para uma sessão trash de bebedeira é justamente a quantidade de estupidez por segundo. Bo Svenson ("Assalto ao Trem Blindado"), que devia estar precisando muito de dinheiro, aparece em meia dúzia de cenas como o comandante da Delta Force, mas nunca interage nas cenas de ação com os demais atores, porque o cachê que recebeu deve ter pagado apenas umas quatro horas de filmagem, todas elas em internas.

Mesmo assim, Svenson é a melhor coisa do filme, ao disparar frases do tipo "Você já estaria morto se eu não fosse me aposentar daqui a três semanas".


Quase não acreditei ao ver que o roteiro é de Dardano Sacchetti (com o pseudônimo David Parker Jr.), um cara que normalmente sabe o que faz. Não é o caso aqui: existe um fiapo de roteiro que justifica as ações do herói (a morte da sua esposa), e logo qualquer tentativa de criar uma trama é substituída por tiros e explosões.

Mesmo o fato de os terroristas terem roubado uma arma nuclear acaba sendo secundário ou até terciário, já que o protagonista quer matá-los por vingança, e não para salvar o mundo. Nesse contexto, a pretensiosa "subtrama política" chega a ser ridícula.

Mas é sempre um prazer ver Williamson quebrando tudo, com aquele seu jeitão de quem não está nem aí para a pobreza do filme que estrela (aqui ele chega a ser torturado, tomando choques elétricos no saco!).


Aliás, é um verdadeiro alívio ter Williamson ao lado de Brett Clark, um "ator" horrível que não muda de expressão uma única vez (nem quando tem a esposa grávida morta em seus braços). Pior que Brett Clark, só mesmo Mark Gregory, um ator já limitado no papel de herói, aqui "interpretando" um vilão sem nome que faz caretas constrangedoras, arregalando os olhos até que eles saiam das órbitas.

Entre as muitas cenas antológicas que são um convite às risadas, vale destacar aquela em que Turner, de dentro de um ônibus, dispara uma flecha na perna de um piloto de helicóptero, e usa uma corda amarrada na ponta da flecha para subir até a aeronave - sem que o piloto ferido ou seu parceiro ofereçam qualquer reação, do tipo cortar a corda ou tentar fazer o herói despencar a chutes.


Ao estilo "Comando para Matar", Turner passa o filme desfilando com uma sacola repleta de armas roubadas da sua base.

Ah, também parece haver uma ordem expressa do diretor Ciriaci para que todo e qualquer veículo mostrado em cena seja obrigatoriamente explodido ao final da mesma cena. Inclusive um caça que está sem combustível, mas simplesmente explode no ar segundos depois que seus pilotos se ejetam. Afinal, todos sabemos que caças explodem quando o combustível acaba, eliminando a trabalheira de ficar reabastecendo as aeronaves...

Como curiosidade, não dá para deixar de citar a cena em que um dos terroristas faz um telefonema de um orelhão... bem na frente do Cristo Redentor! E ele fala com um repórter do Jornal do Brasil em bom português!!! Pode isso? Tem dedo brasileiro na produção, mas ela é tão obscura que não consegui apurar detalhes.


Entretanto, é fato que há uma atriz tupiniquim entre os figurantes (Divana Maria Brandão), e um agradecimento especial à Marinha Brasileira nos créditos finais. Se alguém souber mais sobre o caso, por favor escreva nos comentários!

Curto e grosso, DELTA FORCE COMMANDO é ruim de doer, mas há quem, como eu, ache divertido o festival de absurdos e imbecilidades desses filmes baratos tipo "exército de um homem só". Por isso, se você gostou de tralhas como "Deadly Prey", do David A. Prior, e "Strike Commando", do Bruno Mattei, provavelmente vai curtir mais esta comédia involuntária oitentista.

E é uma pena que a seqüência seja mais elaborada e proporcionamente menos divertida...

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DELTA FORCE COMMANDO 2 - PRIORITY RED ONE (1990)


O pomposo título em inglês pode fazer com que alguém espere mais desse filme do que a tralha baratíssima que ele é. Por isso, quando a Vic Vídeo lançou a obra no Brasil, optou por um título mais genérico, "Operação Delta", até para enganar aqueles que odiaram DELTA FORCE COMMANDO 1 e jamais locariam a fita se soubessem que era uma seqüência daquela bomba.

O mais engraçado é que, embora a produção seja bem melhorzinha (com mais dinheiro, provavelmente), esta continuação é muito pior do que o filme original.


Primeiro, DELTA FORCE COMMANDO 2 não tem absolutamente nada a ver com o primeiro, além de uma pequena (e burocrática) participação de Fred Williamson, reprisando seu papel de capitão Beck (seu nome é erroneamente grafado como "Back" durante o filme todo!).

Desta vez, ao contrário do anterior, Williamson mal participa da trama, aparecendo em algumas poucas cenas aleatórias apenas para justificar o número dois no título do filme - vai ver ele ficou com medo de tomar choques no saco novamente.

O grande herói agora é o ator norte-americano Richard Hatch, que nos bons tempos fez o capitão Apollo do seriado "Battlestar Galactica" (nos anos 70), e depois viu-se obrigado a tomar parte nesse tipo de mico para pagar o aluguel.


Outro que também está no filme só para faturar uma graninha em tempos difíceis é o veterano Van Johnson, que "interpreta" o malvado general McCailland. Johnson foi um grande astro de Hollywood nos anos 40-50; mas, velho e decadente, acabou mergulhando de cabeça nas produções trash italianas, incluindo "Killer Crocodile" (1989).

Se na resenha do primeiro filme eu reclamei que o roteiro era mais raso que sinopse de filme pornô, o grande problema de DELTA FORCE COMMANDO 2 é que o diretor Ciriaci (sim, ele voltou!) agora assumiu o papel de roteirista, junto com o nova-iorquino Lewis Cole. O resultado é um autêntico samba do crioulo doido, onde parece impossível entender o que acontece ou as motivações dos personagens.


Parece (ênfase no "parece") que um grupo de terroristas rouba mísseis soviéticos para chantagear as grandes potências (enfim, o roteiro do primeiro filme, só que geograficamente reciclado), mas a trama se complica desnecessariamente a cada minuto, somando reviravoltas e personagens que nunca dizem a que vieram.

O próprio herói, que é o agente Brett Haskell (Hatch), parece mais perdido do que bolacha em boca de velha desdentada. Ele cambaleia pelo filme encontrando e desencontrando uma ex-namorada que também é assassina de aluguel, Juno (Giannina Facio), que, não contente em assassinar várias pessoas ao longo da trama, tenta assassinar também nosso tímpanos ao cantar de maneira esganiçada a música dos créditos finais!


Haskell e Juno enfrentam um vilão apagado no Oriente Médio, numa trama de espionagem que não faz sentido, enquanto nos EUA nosso velho amigo Beck fica em seu gabinete comentando as ações de que nunca participa.

Na cena final, para tentar criar um elo entre os personagens Haskell e Beck (já que eles NUNCA se encontram), surge um comandante interpretado por Bobby "Demons" Rhodes para explicar ao herói que quem mandou os reforços que salvaram a pele dele foi "o seu velho amigo, o capitão Samuel Beck". Ah tá...


Quando eu digo que DELTA FORCE COMMANDO 2 não tem pé nem cabeça, não estou sendo exagerado. Para exemplificar, há uma cena que começa com um sujeito (terrorista?) colocando uma bomba num avião, somente para depois ser morto por Juno. Dois segundos depois, não é feita mais qualquer menção ao fato: nunca sabemos o que foi feito da bomba no avião e nem qual era a relação da assassina com o homem que matou. Legal, não?

O diretor Ciarici parece bem mais seguro no comando das cenas de ação desta vez, e inclusive adiciona uma grande dose de violência explícita que não havia no original. Quando os mísseis são roubados pelos terroristas, por exemplo, tiros explodem cabeças e dedos como se fossem de manteiga; antes disso, um diplomata é assassinado com um sangrento tiro no rosto (!!!) enquanto faz a barba.


É uma pena que Ciarici tenha separado esses momentos mais interessante com intermináveis diálogos de espionagem e teorias conspiratórias que não levam a lugar nenhum. Quase dá saudade do DELTA FORCE COMMANDO 1, que era pauleira da grossa, com tiros e explosões do início ao fim.

Aqui, os realizadores tentaram evidentemente fazer uma coisa mais sofisticada, com mais diálogos expositivos e reviravoltas, mas nada pode ser pior do que um filme de ação que dá sono. De tanta enrolação e lenga-lenga, acabei cochilando umas cinco vezes, e depois tive que voltar e ver uma boa parte do filme novamente, como se a trama já não fosse complicada o suficiente. Conselho de amigo: esqueça a história e concentre-se no fator trash da coisa.


Felizmente, como acontecia também no primeiro filme, há alguns momentos divertidos de tão toscos e sem noção, como Beck levando o vilão McCailland para uma voltinha de caça em território inimigo, apenas para ejetar-se quando aeronaves rivais surgem no horizonte, deixando o pobre general para explodir (não seria mais fácil e mais simples dar um tiro na cabeça do sujeito em terra mesmo?).

O resultado final é bem menos engraçado que o original, mas ainda assim válido para uma sessão dupla alcoólica com os amigos cinéfilos.

Gostaria inclusive de propor um "drinking game" para acompanhar a dobradinha DELTA FORCE COMMANDO: os participantes devem mandar goela abaixo um copo de cerveja ou de cachaça toda vez que os figurantes dispararem suas armas sem que saia fogo ou fumaça pelo cano (só o barulho do tiro), ou então toda vez que Fred Williamson aparecer com um charuto na boca. Bom divertimento, e prepare-se para cair de bêbado!

(A propósito, aceito sugestões para outras futuras sessões duplas...)

Trailer de DELTA FORCE COMMANDO



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Delta Force Commando (1987, Itália)
Direção: Frank Valenti (aka Pierluigi Ciriaci)
Elenco: Brett Clark, Fred Williamson,
Mark Gregory, Bo Svenson, Divana
Maria Brandão e Emy Valentino.

Delta Force Commando 2 -
Red Priority One (1990, Itália)

Direção: Frank Valenti (aka Pierluigi Ciriaci)
Elenco: Richard Hatch, Fred Williamson,
Giannina Facio, Van Johnson e
Bobby Rhodes.

sábado, 8 de novembro de 2008

1990 - OS GUERREIROS DO BRONX (1982)


Nem Sam Peckinpah, nem John Woo: o filme que me apresentou ao terrível estrago provocado no corpo humano por um tirambaço em câmera lenta foi o trash italiano 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX, de Enzo G. Castellari!

Eu tinha lá meus 10 ou 11 anos de idade e adorei "Fuga de Nova York", que o SBT havia exibido alguns dias antes "pela primeira vez na televisão". Então, fui na videolocadora da minha cidade e pedi para a balconista algum filme que fosse parecido com "Fuga de Nova York". E ela me sugeriu 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX.

Até os primeiros 20 minutos de filme, tudo estava tranqüilo. Mas foi então que Hammer, o personagem interpretado pelo saudoso Vic Morrow, disparou dois tiros de espingarda em slow-motion num cara e numa mulher desarmados.


O resultado é uma explosão de roupa e sangue no peito das vítimas, mostrada em câmera lentíssima, que impressionou este pobre pivete a ponto de esquecer completamente de qualquer outra cena do filme, mas lembrar até hoje, com riqueza de detalhes, daqueles estilhaços ensangüentados voando lentamente pelo ar...

Descontando o detalhe de ter tirado meu cabaço no quesito violência estilizada, o filme de Castellari nunca esteve entre meus preferidos: gosto muito mais da sua seqüência, "Fuga do Bronx", que é ainda mais violenta e absurda que o original.

Há algum tempo eu revi 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX numa versão melhor, ripada de DVD e em widescreen, e me surpreendi com coisas que eu nem lembrava (será que foram cortadas da nossa antiga versão em VHS?). Continuo preferindo a Parte 2, mas já vejo este original com outros olhos: como um divertido filme de ação repleto de cenas, personagens e detalhes cômicos, no estilo "divertido de tão ruim".


Escrito por Dardano Sacchetti, Elisa Briganti e pelo próprio diretor Castellari, o roteiro desta divertidíssima tralha é "Fuga de Nova York" e "Warriors - Os Selvagens da Noite", de Walter Hill, batidos no liquidificador com uma pitada de "Laranja Mecânica".

Do primeiro, a aventura italiana roubou a ambientação: ao contrário de Nova York inteira se tornar um presídio de segurança máxima, como no filme de John Carpenter, aqui é o bairro nova-iorquino do Bronx que se transforma numa "terra de ninguém", comandada pelas gangues e abandonada pela polícia, no então distante ano de 1990, que era futuro na época (lembre-se que a produção é de 1982).

Já "Warriors" inspirou os personagens principais: coloridas e violentas gangues com figurinos berrantes e nomes tipo Riders, Tigers e Zombies. Só que os italianos exageraram na caracterização. Seus delinqüentes são tão exóticos e excêntricos quanto os de "Laranja Mecânica", e parecem mais figurantes de algum musical da Broadway do que bandidos sanguinários!


Há patinadores com capacetes brancos e tacos de hóquei como arma, uma gangue que usa carros dos anos 20 e roupas inspiradas na Máfia Italiana e até um bizarro grupo de dançarinos que luta sapateando e parece ter saído direto do clássico de Stanley Kubrick!!! Ah, não faltam nem os mutantes que vivem no subterrâneo, também "inspirados" em "Fuga de Nova York".

Como em "Warriors", os heróis são a "gangue boazinha" do pedaço: os Riders, motoqueiros durões (pelo menos se vestem como tal) que ficam zanzando pelo bairro em motos com enormes crânios de plástico sobre os faróis.

Eles têm nomes "machos" como Hawk e Blade, alguns deles combinam óculos escuros espelhados e roupas de couro com bigodões (como se estivessem num videoclipe do Village People), e são liderados por um garotão cabeludo que anda sempre de peito de fora e tem pinta de roqueiro popstar.


Seu nome: Trash - interpretado pelo inesquecível, de tão ruim, Mark Gregory, ou Marco di Gregorio, que sumiu da face da terra após interpretar Trash e o índio Thunder na trilogia "Thunder - Um Homem Chamado Trovão".

O filme começa com Ann (Stefania Girolami, filha de Castellari), uma jovem burguesa, fugindo da parte "rica" de Nova York para o desolado Bronx, onde cai nas garras dos terríveis Zombies. Por sorte, aparecem bem na hora os heróicos Riders, que despacham a quadrilha rival com violência (incluindo rosto cortado pelas lâminas na roda da frente de uma das motocicletas!!!).

O líder Trash apaixona-se por Ann e, ao perceber que ela foge de algum problema terrível, convida-a para ficar com ele no quartel-general da gangue. "Romeu e Julieta" versão pós-apocalíptica italiana? É mais ou menos por aí...


O tal problema de que Ann foge é um pouquinho mais complicado do que Trash pensa: ela é filha do presidente da Manhattan Corporation, megacorporação que, além de fabricar e vender armas para conflitos ao redor do globo, também é responsável por controlar Nova York - uma espécie de OCP, a multinacional que controla Detroit na série "Robocop".

Como é herdeira da maquiavélica empresa, está para completar 18 anos e vai ter que assumir a cadeira de presidente, Ann resolveu fugir do seu destino e se esconder no Bronx. Afinal, nada melhor para resolver um problema do que correr para uma "terra de ninguém" sem polícia e repleta de bandidos sujos e sanguinários, ainda mais quando você é uma burguesinha bonitinha, não é verdade?

Só que os figurões que controlam a Manhattan Corporation querem Ann de volta - eles pretendem usar a moça como fantoche assim que ela assumir o controle da empresa.


Seu poderoso tio, Samuel Fisher (Ennio Girolami, irmão do diretor, assinando com o pseudônimo Thomas Moore), descobre que ela está escondida no Bronx, e contrata um violento agente chamado Hammer (Morrow, em seu último filme antes de ser decapitado em acidente de helicóptero no set de "No Limite da Realidade") para resgatá-la.

O caldo engrossa porque Hammer é um psicopata. Seu plano é exterminar todas as gangues do Bronx, fazendo-as lutas umas com as outras, e Ann que se exploda no meio deste inferno.

Facilmente manipuladas pelo vilão através de pistas falsas que jogam um grupo contra o outro, as quadrilhas se preparam para uma guerra iminente, e somente Trash percebe que a história está mal contada. Ele então tenta se aliar aos rivais ao invés de destruí-los. Porém, até que a situação se resolva, muito sangue vai rolar.


O espectador antenado vai perceber que, de original, 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX não tem absolutamente nada: além de chupar "Fuga de Nova York" e "Warriors" em iguais proporções, a trama básica deste bem-sucedido filme de ação italiano bebe muito da fonte de "Por um Punhado de Dólares", de Sergio Leone (e conseqüentemente do anterior "Yojimbo", de Akira Kurosawa, que inspirou Leone).

Como nestes dois clássicos, um personagem (neste caso, Hammer) se infiltra entre gangues rivais para semear a discórdia e levá-las a uma guerra mortal. O toque inovador (e politicamente incorreto) é que nas obras de Leone e Kurosawa o membro infiltrado era o herói da história, e na versão de Castellari é o vilão, enquanto as quadrilhas de delinqüentes ficam com o papel principal.


As cenas foram gravadas no Bronx, quando parte do elenco italiano viajou para os Estados Unidos, e em Roma, quando alguns dos atores norte-americanos fizeram o caminho inverso. O engraçado é que, nas cenas filmadas no Bronx, Castellari utilizou vários membros de um grupo de Hell's Angels como figurantes da gangue de Trash. Já nas cenas rodadas na Itália, a gangue diminui para meia-dúzia de pessoas, porque os Hell's Angels ficaram todos nos Estados Unidos! hahahaha

Uma atração à parte é o elenco fantástico, repleto de caras conhecidas do cinema classe B norte-americano e das picaretagens italianas da época. Além de todos os já citados, também aparecem o saudoso Christopher Connelly ("Os Caçadores de Atlântida", "Manhattan Baby"), como o caminhoneiro Hot Dog, que ajuda Hammer a se infiltrar no Bronx; Fred Williamson (astro blackspoitation dos anos 70, que havia trabalhado com Castellari em "Assalto ao Trem Blindado") como Ogre, o chefe da gangue dos Tigers; Joshua Sinclar (vilão em diversos filmes de Enzo) como Ice, membro da gangue de Trash que se revela um traidor; Massimo Vanni (outra figurinha carimbada dos filmes de Castellari) como Blade, o melhor amigo do herói; George Eastman ("Antropophagus") como Golan, o líder dos Zombies; e o próprio diretor Castellari como o vice-presidente da Manhattan Corporation.


O filme está repleto de momentos impagáveis, como o "climão" que rola entre Trash e seu amigo Blade quando este é encontrado à beira da morte, após ser atacado e torturado pelos tais mutantes subterrâneos. Além de verter lágrimas de tristeza, nosso herói faz afagos no cabelo do companheiro (cafuné, em outras palavras!) e ainda põe a cabeça dele encostada no seu ombro, no estilo "encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora...". De se mijar de rir!

Já os nomes dos personagens são outro toque hilário da película: parece que os roteiristas abriram um dicionário de inglês e foram copiando palavras curtas que soassem sonoras. Só isso explica o fato de heróis e vilões usarem nomes como Trash (lixo), Hammer (martelo), Ogre (ogro), Ice (gelo), Hot Dog (cachorro-quente), Blade (lâmina), Hawk (águia) e Leech (sanguessuga).


Comparando com a seqüência "Fuga do Bronx" (que foi feita já no ano seguinte, 1983, e tem pouca ou nenhuma conexão com o original), 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX tem menos ação, já que a continuação é nitroglicerina pura, com uma das maiores contagens de cadáveres da história do cinema de ação.

Não que este primeiro filme negue fogo: a contagem de cadáveres é reduzida, mas há uma grande quantidade de lutas e tiros para agradar aos fãs de Castellari, embora ele desta vez economize na sua marca registrada, as cenas em câmera lenta.

Um problema sério do filme é que, por algum misterioso e inexplicável motivo, as gangues do Bronx NÃO USAM ARMAS DE FOGO, apenas porretes e bastões, o que limita bastante as cenas de violência - e facilita o trabalho de Hammer e seus homens, usando espingardas, revólveres e até lança-chamas!


Mas a conclusão é o esperado banho de sangue, que parece uma espécie de preparação do diretor para "Fuga do Bronx": Hammer invade o Bronx com incontáveis policiais a cavalo, usando metralhadoras de grosso calibre e lança-chamas para eliminar a "escória" do bairro. Aí é um Deus nos acuda, e 99% dos personagens perdem a vida.

Exagerado e implacável, Vic Morrow praticamente rouba o filme como Hammer graças ao seu olhar frio e à falta de consideração com suas "vítimas", ao ponto de atirar em pessoas desarmadas e comandar uma chacina de gangues usando lança-chamas!

O vilão parece ter encarnado Hitler na conclusão, gritando ordens entre risadas insanas de "vilão de 007", e tem um diálogo belíssimo com Christopher Connelly. Quando este comenta que Hammer está "brincando com fogo", o vilão responde: "I know. And I love it. I love it!".


Tirando o impacto daqueles dois tiros de espingarda que Hammer dispara em câmera lenta em vítimas desarmadas e indefesas, que me marcaram desde minha tenra idade, 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX continua um filme tão divertido quanto esquecível, embora pareça hoje um pouco melhor do que na primeira vez que o vi.

Se não chega aos pés de outras pérolas que o artesão Castellari fez na mesma época - e que continuam injustamente desconhecidas neste nosso Brasil pós-VHS -, pelo menos é uma verdadeira aula de como fazer muito com pouco, uma especialidade dos realizadores italianos dos anos 70-80.

E qualquer filme onde Fred Williamson saia na porrada com o gigantesco George Eastman (aqui vestido como samurai estilizado, com rabo-de-cavalo e tudo mais) já é um programa obrigatório para fãs de "cinema alternativo".

Trailer de 1990 - OS GUERREIROS DO BRONX



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1990 - I Guerrieri del Bronx/1990 - Bronx Warriors
(1982, Itália)

Direção: Enzo G. Castellari
Elenco: Mark Gregory (Marco di Gregorio), Vic
Morrow, Christopher Connelly, Fred Williamson,
Stefania Girolami, Joshua Sinclair, Massimo
Vanni e George Eastman.