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sábado, 5 de março de 2011

A FÚRIA DO PROTETOR - Director's e Jackie Chan's Cut (1985)


(Alô amigos do FILMES PARA DOIDOS! Eis que nesta semana comecei num emprego temporário de um mês, e assim mais uma vez me vi sem tempo de atualizar o blog. Para compensar, como sou bonzinho, vou postar mais uma Sessão Dupla, dessa vez com duas versões do mesmo filme. É uma resenha que foi bastante requisitada pelos leitores, então espero que vocês se divirtam!)

Num daqueles interessantes fenômenos do mundo do cinema, divergências entre diretores e produtores, ou entre atores e diretores, ou entre toda essa cambada junta, acabam gerando versões diferentes de um mesmo filme.

Um caso clássico é "Blade Runner" (1982): a versão que todo mundo aprendeu a gostar foi aquela editada e alterada pelos produtores, e somente uma década depois o diretor Ridley Scott conseguiu lançar sua "director's cut", com uma série de alterações e um final pessimista. Outro exemplo, que chega a ser absurdo, é "O Exorcista - O Início" (2004): o diretor Paul Schrader rodou o filme todinho, mas o resultado desagradou os executivos da Warner e eles resolveram despedir Schrader e contratar Renny Harlin para recomeçar tudo do zero, fazendo com que existem duas versões completamente diferentes da mesma obra!


Há inúmeros outros casos dignos de citação, mas um bem curioso e pouco conhecido é o de um pequeno filme de ação de 1985 chamado A FÚRIA DO PROTETOR.

Nesta época, Jackie Chan já era um grande astro no Oriente, mas estava querendo fazer sucesso também nos Estados Unidos, já que o cinema ocidental estava carente de grandes astros de artes marciais desde a morte de Bruce Lee. Jackie já tinha tentado conquistar o mercado norte-americano cinco anos antes, com a dobradinha "O Grande Lutador" (1980, de Robert Clouse) e "Quem Não Corre, Voa" (mesmo ano, dirigido por Hal Needham), mas não conseguiu chamar a atenção do público.

A FÚRIA DO PROTETOR tinha tudo para dar certo: era um violento filme de ação em que Jackie interpretava um policial durão em Nova York. Como diretor, foi escalado James Glickenhaus, que alguns anos antes chamou a atenção dos grandes estúdios graças ao sucesso de sua produção independente "O Exterminador".


O roteiro mostra uma dupla de tiras (Jackie Chan e Danny Aiello!!!) investigando o seqüestro da filha de um milionário em Nova York. O caso acaba levando ambos a Hong-Kong, onde enfrentam um poderoso traficante de drogas - mesmo argumento da comédia "A Hora do Rush", que uniu Chan e Chris Tucker em 1998, fez muito mais sucesso e virou trilogia.

O problema é que tudo deu errado no set de A FÚRIA DO PROTETOR, principalmente porque Jackie não se bicava com Glickenhaus, que considerava um péssimo diretor. Em sua auto-biografia, o astro explicou que o diretor estava mais interessado em filmar tiroteios sangrentos (ao invés das mirabolantes lutas do astro) e mulheres nuas, e que simplesmente pulava de uma cena para a outra sem dar muita bola para o roteiro.


Além disso, segundo Jackie, Glickenhaus raramente filmava mais do que quatro takes das cenas de ação, enquanto na Ásia ele estava acostumado a fazer mais de 20! Astro e diretor brigaram o tempo inteiro e, lá pelas tantas, Jackie abandonou o set. "Glickenhaus vai destruir minha carreira!", choramingou para seu agente, e este recomendou que o ator voltasse ao set pelo menos para concluir o filme, ou então pagaria uma pesada multa por quebra de contrato e nunca mais conseguiria emprego nos EUA.

O resultado é, digamos, bem diferente da imagem que Jackie construiu para si: seu personagem quase não luta, mas passa o filme fuzilando bandidos como se fosse um Dirty Harry chinês; fala vários "fuck" e circula sem timidez no meio de diversas figurantes peladas. Embora tenha a cara do cinema de ação exagerado e inconseqüente dos anos 80, a versão do diretor de A FÚRIA DO PROTETOR não é, sob hipótese alguma, um "filme de Jackie Chan".


O ator sabia disso, e achou que seria "um insulto" (suas próprias palavras) lançar essa versão norte-americana na Ásia. Resolveu o problema de uma forma simples: rodou um montão de novas cenas em Hong-Kong (principalmente mais lutas exageradas, bem ao seu estilo), cortou várias coisas que Glickenhaus havia insistido para ter no filme (as cenas com mulheres nuas, por exemplo) e até criou novas subtramas para dar sentido ao roteiro caótico da versão norte-americana.

O resultado é um A FÚRIA DO PROTETOR totalmente novo, apelidado de "Jackie Chan's Cut": enquanto a versão norte-americana tem 91 minutos, a asiática, mesmo com um montão de cenas a mais, ficou com 88 minutos (por causa dos diversos cortes feitos pelo ator na remontagem).


Assim, existem dois A FÚRIA DO PROTETOR completamente diferentes, e cada um com seus próprios fãs. E a experiência ruim de Jackie com Glickenhaus acabou sendo benéfica para seus fãs: o ator gostou da experiência atrás das câmeras, ao filmar as novas cenas para a "sua versão" do filme, e isso incentivou-o a apostar também na carreira de diretor, gravando, no mesmo ano de 1985, o excelente "Police Story" em Hong-Kong.

Qual versão é a melhor? Quais são as diferenças entre elas? Saiba tudo e um pouco mais acompanhando mais esta exclusiva Sessão Dupla do FILMES PARA DOIDOS!



THE PROTECTOR - James Glickenhaus' Cut


O diretor do clássico cult "O Exterminador" tinha um objetivo em mente ao escrever e dirigir sua versão de A FÚRIA DO PROTETOR: transformar Jackie Chan, astro de sucesso na Ásia, em um fenômeno também no Ocidente. A melhor forma de fazer isso, pensou ele, era mudar sua imagem de "lutador engraçadinho", dos filmes asiáticos, para a de policial durão nos Estados Unidos, seguindo um modelo de heróis rabugentos e de poucas palavras muito em voga no período (era a época de Stallone, Schwarzenegger e Chuck Norris).

Mas quem já viu outros filmes do diretor sabe como é seu jeito de trabalhar: um caos! Os roteiros são absurdamente fragmentados, não raras vezes contendo situações que nem ao menos se relacionam com a trama. É o que acontece aqui, e um dos motivos que enfureceu Jackie Chan.


Para o leitor ter uma idéia, A FÚRIA DO PROTETOR começa com uma gangue de punks roubando um caminhão repleto de computadores no violento bairro do Bronx. Chegam dois policiais, Billy Wong (Chan) e seu parceiro Michael (Patrick James Clarke), mas eles não fazem nada além de ironizar com um "Bem-vindo a Nova York" para o motorista do caminhão. E assim a cena termina. Você leu corretamente: os heróis nunca investigam o roubo nem perseguem os punks. É um enigma o fato de essa cena inicial existir!

Na cena seguinte, a ronda da dupla termina e eles vão tomar umas num boteco, que coincidentemente é assaltado por um grupo de psicopatas com armas de grosso calibre. Billy está no banheiro no momento do ataque e reage, matando vários dos bandidos, mas um deles foge depois de fuzilar seu parceiro. Nosso herói persegue o vilão até o cais, onde ambos escapam em velozes lanchas. A cena termina com o policial agarrando-se a um helicóptero (!!!) e usando a sua lancha como míssel para destruir o barco do bandido em fuga (!!!).


Claro que não faltam motivos para o superior de Billy ficar puto com ele e rebaixá-lo para o departamento de controle de multidões, onde ele ganha um novo parceiro, Danny Garoni (Danny Aiello).

A primeira missão de ambos é investigar o sequestro de Laura Shapiro (Saun Ellis), filha de um poderoso empresário ligado ao tráfico de drogas. Billy desconfia que a garota foi seqüestrada pelo associado do seu pai, um traficante de Hong-Kong chamado Ko (Roy Chiao), e a dupla de policiais misteriosamente consegue permissão para ir até o outro lado do mundo investigar, embora seja totalmente fora da sua jurisdição!!!

Chegando em Hong-Kong, Billy e Danny passam os minutos seguintes dando tiros e porradas na bandidagem, investigando porra nenhuma e eventualmente causando a morte de todas as pessoas que tentam ajudá-los. Isso até o herói descobrir, por meio de um vidente (!!!), o cativeiro de Laura.


Ao invés de avisar a polícia de Hong-Kong, a dupla dinâmica prefere formar um trio com um traficante de armas (!!!), que guarda em seu barco metralhadoras Uzi e até um lança-foguetes (!!!), que ganhou de presente de um amigo de Israel (!!!!).

Realizado com desleixo por Glickenhaus, A FÚRIA DO PROTETOR é um filme de ação onde só se percebe esmero nos sangrentos tiroteios, com pistolas abrindo crateras no corpo das vítimas e sangue voando generosamente à la "Duro de Matar" (que foi feito depois). Logo no começo, por exemplo, o personagem de Jackie dá um tiro no ombro de um bandido e sai mais sangue do que se tivesse acertado na cabeça!


O diretor também parece ter uma fixação doentia por nudez gratuita: quando uma garota aparece nua frente e verso numa casa de massagens vá lá, mas nada justifica o fato de as mulheres no laboratório de cocaína de Ko trabalharem completamente peladas!!!

No New York Times de agosto de 1985, o crítico detonou o roteiro do filme: "O título é 'O Protetor', mas Jackie Chan não protege ninguém e ainda deixa uns 100 cadáveres para trás". Chama a atenção principalmente o fato de que Glickenhaus não tem qualquer intenção de fazer uma aventura de artes marciais (a especialidade do seu astro), mas sim um policial sanguinolento no estilo de seus filmes anteriores, "O Exterminador" e "O Ultimato" ("Codename: The Soldier", de 1982).


Tanto que Jackie raramente tem a oportunidade de lutar ALÉM da cena final, em que ele sai no pau com um dos capangas de Ko (interpretado pelo campeão mundial de artes marciais Bill "Superfoot" Wallace). O próprio Jackie queria coreografar a luta, mas é óbvio que Glickenhaus não deixou - e o resultado está na tela, burocrático e sem grandes lances.

Outra rara chance para o astro mostrar seus talentos acontece quando o herói persegue um vilão que foge de barco, obrigando-o a saltar com motocicletas e até varas de bambu, de um barco para outro, até chegar àquele em que seu rival está.

No restante do tempo, Jackie fica perambulando para lá e para cá com um olhar de peixe morto (sem esconder sua falta de entusiasmo com o filme), sem investigar nada, ouvindo as gracinhas do parceiro Danny Aiello e descobrindo tudo por pura sorte - ou por meio do vidente, que, numa das ferramentas mais imbecis que eu já vi para tocar um roteiro adiante, conta em detalhes tudo aquilo que o herói precisava descobrir. Ele é tão eficiente que os detetives da polícia de Hong-Kong deveriam ser substituídos por videntes que lêem I-Ching!


No cômputo final, A FÚRIA DO PROTETOR não é um filme ruim: é realmente muito engraçado ver Jackie Chan como policial durão, falando palavrões e atirando à queima-roupa, longe daqueles papéis engraçadinhos em que ele se especializou (a versão editada por Glickenhaus NÃO tem humor).

Os sangrentos tiroteios e algumas boas cenas de ação, como a da casa de massagens, o ataque ao laboratório de drogas e principalmente a luta final entre Jackie e Bill Wallace, fazem valer o espetáculo para quem procura um daqueles exagerados policiais dos anos 80. E os filmes de Glickenhaus, por piores que pareçam, ainda são bem mais interessantes que muita coisa que se faz hoje.

Agora, se o seu negócio é mais artes marciais e menos "policial durão enchendo bandidos de tiros", recomendo fortemente procurar a versão asiática editada por Jackie Chan. No Brasil, a única versão de A FÚRIA DO PROTETOR disponível (em VHS e DVD) é a original norte-americana.



WAI LUNG MAANG TAAM - Jackie Chan's Cut


Completamente insatisfeito com a versão norte-americana de A FÚRIA DO PROTETOR (que inclusive bombou nas bilheterias nos EUA, arrecadando pouco mais de 980 mil dólares), Jackie Chan considerou a hipótese de nem lançar o filme no mercado asiático. Depois pensou melhor e resolveu colocar a mão na massa, consertando tudo aquilo que ele achava errado no trabalho de Glickenhaus, e filmando diversas cenas novas com os atores asiáticos, Bill Wallace e um dublê de Danny Aielo.

Para quem só conhece a versão norte-americana, fica a dica: a versão de Chan é um filme quase totalmente diferente!

A trama básica continua a mesma: o início, com o inexplicável ataque dos punks, a morte do parceiro e a viagem a Hong-Kong para investigar o sequestro de Laura Shapiro continuam no filme.


A diferença é que Jackie filmou novas cenas para corrigir algumas bobagens feitas por Glickenhaus. Quando seu parceiro é assassinado no assalto ao bar, por exemplo, o personagem de Jackie originalmente saía correndo atrás do vilão, mas adivinhando para que lado o meliante havia fugido; na versão asiática, foi adicionada uma pequena cena em que o policial pergunta a um pedestre para onde o bandido foi. Pequenos detalhes assim acabam corrigindo furos grotescos da versão norte-americana.

Como a versão asiática foi dublada, Jackie também aproveitou para eliminar todos os palavrões que foi obrigado a dizer em inglês, como "Give me the fucking keys!". E passou a tesourinha em todas as cenas com mulheres peladas, principalmente a pra lá de gratuita cena com as peladonas no laboratório de cocaína (novas cenas foram filmadas mostrando-as totalmente vestidas e bombeando cocaína para dentro de frutas).


Não contente com essas pequenas alterações, o astro ainda chamou o roteirista King Sang Tang para criar novos personagens e subtramas, justificando as cenas de luta que pretendia filmar e adicionar à montagem (todas as cenas adicionais foram rodadas pelo próprio Jackie, que assim pôde coreografar as lutas).

A maior mudança é a inclusão de uma nova personagem, Sally (interpretada por Sally Yeh). Ela é a filha de um homem assassinado pelo grande vilão Ko, e ajudará o herói na sua investigação. O encontro entre Billy e Sally acontece numa academia de ginástica, onde a moça é cortejada por dois pretendentes ciumentos. Claro que isso é apenas desculpa para uma cena de luta "engraçadinha", ao estilo Jackie Chan, em que o herói usa os instrumentos da academia (halteres, esteira...) contra seus oponentes.


Inclusive é graças a Sally que finalmente descobrimos a história da moeda que Billy usa para buscar informações com um velho informante da polícia em cena posterior, algo que na versão de Glickenhaus ficava muito no ar.

Jackie também filmou mais cenas com os vilões discutindo seus planos e se irão matar ou não os dois policiais nova-iorquinos. Bill Wallace tem mais tempo para desenvolver seu vilão, e o proprietário da casa de massagens (que desaparecia logo do filme de Glickenhaus) aparece mais vezes, primeiro apanhando dos homens de Ko por ter falhado em matar os policiais, e depois revelando ser tio de Sally, quando vai à casa da garota para avisá-la de que sua vida corre perigo.


Essa cena, bem longa, inclui Billy desarmando uma bomba colocada sob a cama de Sally pelos homens de Ko, e um tiroteio entre o herói e um dos assassinos enviados pelo vilão. No fim, o herói acompanha Sally e seu tio ao aeroporto, já que eles resolvem fugir para os Estados Unidos. E é o tio de Sally quem conta a Billy onde é o cativeiro de Laura, eliminando assim a ridícula cena do vidente "descobrindo" o local via I-Ching da versão norte-americana!

Mas calma que não termina por aí: visando dar mais tempo para que Bill Wallace demonstre suas habilidades, Jackie filmou uma outra cena de ação com ele. Na versão de Glickenhaus, o informante de Billy, Lee Hing (Kwan Yeung), aparecia morto sem mais nem menos, e com seu barco incendiado.

Uma longa cena filmada especialmente para a versão asiática mostra Hing encontrando um colega numa fábrica de gelo para se informar sobre os planos de Ko, quando ambos são emboscados e mortos por Wallace e outros capangas do vilão, em mais uma violenta luta.

Uma das cenas exclusivas da versão oriental


Finalmente, como perfeccionismo pouco é bobagem, Jackie reeditou e inseriu alguns takes nas cenas de luta filmadas por Glickenhaus sem sua colaboração (a da casa de massagens e o duelo final com Wallace), tornando-as mais "orientais" (leia-se velozes e violentas).

Com tantas cenas a mais, como é que a versão asiática de A FÚRIA DO PROTETOR consegue ser três minutos mais curta que a norte-americana? Simples: Jackie adicionou as novas cenas enquanto cortava coisas da montagem de Glickenhaus, diminuindo a perseguição ao bandido após o assalto ao bar no início (aquilo nem faz parte da trama principal mesmo), deletando a cena do funeral do parceiro de Billy e apagando diálogos redundantes.


O resultado não é apenas uma "maquiagem", mas um filme diferente no tom e no ritmo. Por isso, é difícil escolher a melhor versão.

Eu confesso que gosto bastante do A FÚRIA DO PROTETOR de Glickenhaus principalmente porque ele vai direto ao assunto (tiros, sangue, pauleira e mulher pelada), sem perder muito tempo com investigações (e é por isso que o herói descobre tudo que quer saber através do vidente, por pura preguiça do roteiro de mostrar qualquer investigação!!!).


Mas a "Jackie Chan's Cut" do filme também tem seus pontos positivos, principalmente o upgrade nas cenas de luta (duas a mais) e a remontagem mais dinâmica das cenas de ação já existentes, embora contenha um excesso de investigação e personagens.

Talvez um grande filme saísse de uma mescla das duas edições. Afinal, Glickenhaus tentou fazer um policial sério e violento enquanto Jackie teimou em inserir uma dose do seu humor habitual (a luta na academia de ginástica) que não se encaixa muito bem na proposta original.

Por via das dúvidas, recomendo conhecer as duas versões, cada um com seus méritos e defeitos, mas uma prova de que o mundo do cinema também tem dessas coisas: quem diria que uma simples briguinha entre diretor e astro pudesse gerar dois filmes quase que completamente diferentes e rodados em países diferentes?

Trailer de A FÚRIA DO PROTETOR



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A Fúria do Protetor (The Protector, 1985, EUA)
Direção: James Glickenhaus
Elenco: Jackie Chan, Danny Aiello, Victor
Arnold, Roy Chiao, Saun Ellis, Bill Wallace,
Mike Starr e Moon Lee.

Wai Lung Maang Taam (1985, EUA/Hong-Kong)
Direção: James Glickenhaus e Jackie Chan
Elenco: Jackie Chan, Danny Aiello, Victor
Arnold, Roy Chiao, Saun Ellis, Bill Wallace,
Sally Yeh e Hoi Sang Lee.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

MCBAIN - O GUERREIRO MODERNO (1991)


James Glickenhaus é um sujeito cuja obra precisa ser urgentemente descoberta (ou redescoberta) pelos cinéfilos "alternativos" desse mundo.

Não só como produtor, que através da sua empresa, a Shapiro-Glickenhaus Home Video, bancou obras como "Maniac Cop", do William Lustig, e boa parte da filmografia de Frank Henenlotter (a série "Basket Case", "Frankenhooker - Que Pedaço de Mulher").

Mas principalmente como diretor e roteirista, já que James Glickenhaus foi o cara que comandou alguns dos filmes de ação mais sem-noção dos anos 80, até aposentar-se prematuramente no início da década de 90 (para trabalhar como corretor da bolsa em Wall Street), deixando a área livre para um monte de bunda-moles e praticamente decretando o fim do "cinema de macho" daquele período.


É ele o responsável por filmes casca-grossa como "O Exterminador", em que um bandido era solenemente esquartejado num moedor de carne, e "A Fúria do Protetor", onde o diretor teve o mérito de transformar o Didi Mocó do Oriente, Jackie Chan, em policial durão, violento e que fala palavrões, numa obra que o astro renega até hoje (e que em breve também estará aqui no FILMES PARA DOIDOS).

MCBAIN - O GUERREIRO MODERNO é de 1991 e, provavelmente, o último grande clássico de Glickenhaus (que depois só dirigiu mais um suspense e uma aventura infanto-juvenil).


É o tipo de filme em que os níveis de testosterona ultrapassam todos os limites, a contagem de cadáveres passa dos três dígitos e a trilha sonora praticamente se resume ao som de tiros e explosões. Tanto que o cartaz original de cinema trazia uma apropriada frase do L.A. Times em destaque: "A macho action fantasy"!!! Não podia ser mais apropriado.

Eu até sugeriria uma impagável sessão dupla de MCBAIN com "Os Mercenários", a recente homenagem ao truculento cinema de ação dos anos 80 comandada por Sylvester Stallone.


Primeiro, porque os dois filmes têm muito em comum (o roteiro e algumas cenas bem parecidas); segundo, porque a obra de Glickenhaus coloca a do Stallone no chinelo, e mostra que não adianta QUERER fazer um filme de ação como aqueles da época de ouro do gênero, mas principalmente tem que SABER fazer. E Glickenhaus sabe.

Como em "O Exterminador" - filme mais conhecido do diretor-roteirista -, a história começa no Vietnã, mais precisamente nos últimos dias do sangrento conflito. Soldados norte-americanos comemoram o retorno para casa.


Mas alguns deles, num helicóptero rumo a Saigon, passam pelo que parece um campo de prisioneiros, e resolvem dar uma paradinha para averiguar - embora a guerra, oficialmente, já esteja "acabada".

Ali, um tenente durão chamado McBain (Christopher Walken) e alguns outros prisioneiros de guerra enfrentam um desafio muito parecido à "Cúpula do Trovão" do terceiro "Mad Max" - aquele lance do "dois homens entram, um homem sai". Dentro de uma imensa gaiola de bambu, nosso herói é obrigado a enfrentar um vietcongue gigantesco, até que os seus parceiros aparecem de surpresa e metralham todos os soldados inimigos.


McBain agradece aos seus salvadores e promete um dia retribuir o favor. Eis que o soldado que teve a idéia de voltar para investigar o acampamento, Santos (Chick Vennera), rasga uma cédula no meio e dá metade ao homem que salvou. Se um dia ele receber a outra metade, explica, é porque chegou a hora de pagar a dívida.

Após um salto de décadas no tempo, encontramos Santos como líder de um exército revolucionário que tenta derrubar o violento presidente da Colômbia, um milita linha-dura interpretado por Victor Argo.


O presidente é um daqueles vilões sanguinários que fuzila seus inimigos políticos no "paredón" e ameaça esmagar mulheres e crianças com tanques de guerra.

Quando a revolução falha em recuperar o controle do país, e o presidente em pessoa executa Santos com um tiro na cabeça transmitido no mundo inteiro via TV, a irmã do falecido, Cristina (Maria Conchita Alonso, de "O Limite da Traição"), vai aos EUA com aquela metade da cédula para pedir o favor que McBain deve. Neste caso, vingar a morte de Santos e depor o presidente colombiano.


Só que McBain é um metalúrgico pé-de-chinelo em Nova York, e não um herói com poder de fogo para derrubar o governo militar de um país sul-americano. A solução é ir atrás dos velhos colegas do Vietnã (entre eles, Michael Ironside e Steve James!!!), conseguir dinheiro para a operação e finalmente partir rumo à Colômbia para uma missão suicida.

Achou parecido demais com "Os Mercenários"? Pois é isso mesmo. E algumas cenas de matança lembram também o ótimo "Rambo 4", principalmente quando um sujeito assume o comando de uma enorme metralhadora .50 e passa fogo em jipes e caminhões cheios de inimigos, que são instantaneamente moídos pela munição de grosso calibre. Será que Stallone é um grande fã de James Glickenhaus?


MCBAIN tem todas as qualidades (ação, violência, personagens durões) e defeitos típicos do cinema de Glickenhaus. Falando especificamente nos defeitos, o principal é o roteiro desestruturado, mais interessado em criar desculpas para as cenas de ação do que uma história linear.

Na primeira metade do filme, por exemplo, os ex-combatentes reunidos precisam arranjar dinheiro para financiar sua operação de guerrilha na Colômbia. Resolvem, sem mais nem menos, atacar e matar uns traficantes (!!!) para roubar-lhes a féria do dia. Porém, quando o chefe da boca passa um sermão nos heróis (!!!), eles decidem deixar o cara com seu suado dinheirinho (!!!) e atacar um perigoso gângster para conseguir os fundos necessários (!!!).


Essa cena do traficante dando discurso é tão gratuita e sem pé nem cabeça que se torna involuntariamente engraçada: McBain e seus amigos invadem a boca-de-fumo matando todo mundo sem piedade, até sobrar apenas o chefão interpretado por Luis Guzmán. Segue-se um diálogo impagável:

Traficante: Que porra vocês querem?
McBain: Dinheiro.
Traficante: Dinheiro? Porra cara, leva o dinheiro! Vocês mataram um montão de pessoas por pouquíssimo dinheiro!
Parceiro de McBain: Pessoas? E quem se importa com uns merdas como vocês?
Traficante: Ah, entendi! Mercadores da morte, né? Quem se importa com pessoas que vendem drogas para crianças de 8 anos? Ei cara, você espera que a gente trabalhe no Burger King recebendo US$ 3,75 por hora? Eu pago a eles 200 dólares por dia! Eles estão apenas tentando viver! Eu pareço o tipo de cara que conseguiria emprego num daqueles prédios de escritórios? E em relação a vender drogas para crianças de 8 anos, você vê alguma criança aqui? Tudo que eu vejo é um bando de babas de New Jersey!

Simplesmente genial!


Mais adiante, o roteiro de Glickenhaus também perde um tempão mostrando a viagem de avião de McBain e seu pequeno exército até a Colômbia, quando eles são atacados por caças da força militar colombiana. Eis que um piloto norte-americano surge do nada na história para ajudar os heróis, num longo combate aéreo que não fede e nem cheira (parece até um aproveitamento tardio da onda "Top Gun").

E a ajuda do sujeito no fim nem era necessária, já que McBain é tão fodão que consegue a façanha de derrubar um dos jatos inimigos com um tiro disparado do cockpit de outro avião - em mais uma cena absurda e nonsense que quase transforma o filme em comédia involuntária!


Finalmente, quando McBain e seu grupo de amigos mercenários chega à Colômbia, MCBAIN transforma-se num festival ininterrupto de ação explosiva e exagerada. Ajudados pelos rebeldes agora comandados por Cristina, os ianques enfrentam todo o exército colombiano para chegar ao maligno "el presidente" - uma tarefa que não será nada fácil.

Se alguém duvida que James Glickenhaus é um autêntico doente mental, esse filme divertidíssimo é a prova perfeita. Balas atravessam pessoas como se elas fossem de manteiga. O diretor também faz questão de mostrar bonecos em chamas voando para os ares em cada explosão de veículos e casamatas.


Já o final é um autêntico massacre em frente ao palácio do governo colombiano (na verdade, o filme foi rodado nas Filipinas). Sabe a cena de "Regras do Jogo", do Friedkin, em que Samuel L. Jackson comanda um massacre de inocentes em frente à embaixada americana no Iêmen?

Pois a cena parece tirada de MCBAIN, quando os cruéis soldados colombianos abrem fogo covardemente contra o povo que tenta invadir o prédio para derrubar o presidente!


O caso é que não tem como contabilizar, mas a contagem de mortos dessa maravilha passa dos 300, com toda certeza. Entre as mortes provocadas pelos homens de McBain e o extermínio liderado pelo exército colombiano, o Produto Interno Bruto da Colômbia deve ter caído uns 80%! Quase não sobra ninguém no país para o futuro presidente governar!

É por isso que eu digo que filmes como MCBAIN - O GUERREIRO MODERNO não existem mais (ou pelo menos não existiam, até "Rambo 4"). E o recente "Os Mercenários" perde feio na comparação. Não duvido que o McBain, sozinho e com um braço nas costas, derrotaria com a maior facilidade todo o time de "expendables" do Stallone.


Aliás, entre mortos e feridos, Christopher Walken mantém-se soberbo como o implacável, incansável e indestrutível McBain. Dá até pena de ver um ator bom desses sendo sub-aproveitado, hoje, como "coadjuvante de luxo" em filmes tipo "Penetras Bons de Bico". Walken precisa URGENTE de um bom papel como o de McBain, pois seu olhar gélido e ar cínico se encaixam perfeitamente nesse tipo de personagem.

E é uma pena que Glickenhaus tenha abandonado essa vida de diretor de filmes casca-grossa para se dedicar a Wall Street e à sua cobiçada coleção de Ferraris (sim, o sujeito é milionário, por incrível que pareça!).

Sem ele, o mundo do cinema de ação perdeu futuras "macho action fantasies" como MCBAIN, e o máximo que se vê atualmente são pálidas homenagens a essas produções absurdas, porém sem o mesmo talento e criatividade.

Trailer de MCBAIN - O GUERREIRO MODERNO



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McBain - O Guerreiro Moderno
(McBain, 1991, EUA)

Direção: James Glickenhaus
Elenco: Christopher Walken, Maria Conchita Alonso,
Michael Ironside, Chick Vennera, Steve James, Luis
Guzmán e Victor Argo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O EXTERMINADOR (1980)


Não foram poucos os "filmes de vigilante" surgidos com o sucesso de "Desejo de Matar" em 1974. O clássico estrelado por Charles Bronson originou imitações e cópias xerox em praticamente todo o mundo, da Itália (onde Enzo G. Castellari dirigiu o ótimo "O Vingador Anônimo", com Franco Nero no papel principal) à Turquia (país responsável por "Cellat", de Memduh Ün, que tem no elenco o Bronson turco Serdar Gökhan), e passando inclusive pelo Brasil (com "Horas Fatais - Cabeças Trocadas", dirigido e estrelado por Francisco Cavalcanti).

Nos Estados Unidos também apareceram vários justiceiros e vigilantes urbanos, e, entre todos eles, é digno de destaque o violento personagem de um filme de 1980, escrito e dirigido por James Glickenhaus. Trata-se de O EXTERMINADOR.

Se "Desejo de Matar" levava um tempão mostrando as motivações do personagem de Bronson e sua lenta transformação de homem pacato em justiceiro solitário, O EXTERMINADOR é enxuto e não gasta nem 10 minutos para mostrar seu herói (ou seria anti-herói?) saindo às ruas para encher bandidos de pipocos - afinal, o título do filme não faria sentido se o personagem principal não fosse mostrado como uma violenta máquina de matar, correto?


Mas o melhor desta produção assumidamente B ainda é o início, numa das representações mais explosivas e brutais da Guerra do Vietnã que já vi em película (e olha que também estou considerando os grandes clássicos, tipo "Apocalypse Now" e "O Franco-Atirador").

É ali, em meio a tiros, explosões, sujeira e torturas, que conhecemos nossos dois personagens centrais: John Eastland (o canastrão Robert Ginty, astro de vários filmes B de ação dos anos 80) e seu amigo Michael Jefferson (Steve James, que fez a série "American Ninja" e morreu em 1993, vítima de câncer no pâncreas). Eles são uma dupla de soldados americanos aprisionados pelos sanguinários vietcongues.

O Vietnã nunca foi tão violento


Os vilões realizam uma realista cena de decapitação (para torná-la tão real, técnicos da equipe do mestre Stan Winston construíram um boneco todo articulado, anos antes de tornar-se convencional o uso de CGI). É a gota d'água: Michael consegue se soltar e acaba com os algozes.

Ao libertar o amigo John, percebe-se pela primeira vez que a extrema violência do conflito deixou o sujeito meio fora da casinha: para vingar-se dos abusos sofridos, ele atira na cabeça de um vietcongue ferido e desarmado!

Um salto no tempo e o filme nos transporta diretamente para a Nova York dos anos 80, que não parece muito diferente do violento Vietnã mostrado momentos antes - somente tem menos explosões. Veteranos de guerra, John e Michael agora trabalham como estivadores num depósito que fica no bairro pobre do Bronx, um lugar bem pouco interessante para se morar, diga-se de passagem.


Certo dia, Michael flagra uns folgados saqueando cerveja de um dos depósitos onde trabalha e dá uma lição neles, salvando, mais uma vez, a vida do parceiro John, que tinha se tornado refém dos marginais.

Poucas horas depois, entretanto, Michael, que tem esposa e filhos, é brutalmente atacado pelos mesmos marginais, sendo apunhalado e surrado. Resultado: acaba no hospital, paralítico e sem chances de caminhar novamente.

John, que descontando a violenta reação no Vietnã ainda era mostrado como um sujeito pacato, fica completamente transtornado com o episódio.


E o filme mostra sua reação sem muito lero-lero: num momento, ele está encontrando a esposa de Michael e lhe contando sobre o que aconteceu ao marido; um corte brusco depois e, já na cena seguinte, John aparece transformado num justiceiro sedento de sangue e morte, com um bandido pé-de-chinelo amarrado à sua frente.

Ele assusta o sujeito usando um lança-chamas (!!!) até descobrir onde estão os bandidos que agrediram seu amigo. Então, armado com um fuzil M-16 (!!!), John ataca o covil dos bastardos, exterminando-os brutalmente como se estivesse nas selvas do Vietnã.

Para arrematar o serviço, deixa o chefe do bando, ainda meio vivo, para ser devorado pelos ratos no porão de um velho armazém!


No dia seguinte, John volta ao hospital e conta ao amigo o que fez, dizendo que, na hora, não conseguia distinguir o "certo do errado". Também diz ao inválido Michael que descobriu uma forma de cuidar da esposa e filhos do amigo, para que não fiquem financeiramente desamparados.

A solução do problema financeiro envolve roubar o dinheiro sujo de um gângster do mercado dos açougues, chamado Gino Pontivini.

Numa cena que é um verdadeiro clássico do mau gosto, depois de saquear o cofre do mafioso, o exterminador dá cabo do bandidão atirando-o dentro de um moedor de carne, e a câmera cruel de Glickenhaus não poupa o espectador nem mesmo da carne moída e ensangüentada saindo da máquina!!!


O "Exterminador" podia até parar a matança de bandidos por aí, mas acaba pegando gosto pela coisa e se transforma num anti-herói tão sanguinário quanto os bandidos que combate e mata.

Para justificar seus atos, John deixa cartas à polícia dizendo que está fazendo o que a lei deveria fazer. E sai pelas ruas da cidade, à noite, combatendo os mais sacanas e bastardos vilões do cinema classe B.

Lá pelas tantas, por exemplo, nosso herói vai parar na chamada "Casa de Frangos", que nada mais é do que um local onde ricaços pervertidos vão para fazer sexo com crianças (!!!). Ali, John chega a enfrentar um rico senador (!!!) cuja tara é torturar meninos de nove anos com um ferro de solda!!!


O EXTERMINADOR acerta ao compor um personagem principal tão doentio e pouco heróico quanto o Paul Kersey do "Desejo de Matar" original: tanto o Exterminador quanto o Vigilante interpretado por Bronson parecem mais desequilibrados com sede de sangue do que heróis.

Sem dó nem piedade, o "Exterminador" atira em pessoas desarmadas, imobiliza um cafetão para poder queimá-lo vivo e chega a fabricar balas "dundum" (recheadas com mercúrio) para provocar ainda mais estrago nos seus desafetos.

Talvez por isso, para atenuar a crueldade e frieza do protagonista, o roteiro crie um outro "personagem principal" que rivaliza com John pelo papel de "herói" da trama, um policial pé-de-chinelo chamado James Dalton (interpretado por Christopher George, outro canastrão, sempre lembrado por sua participação em "Pavor na Cidade dos Zumbis", de Lucio Fulci), e que caça o justiceiro pelas ruas da metrópole para tentar encerrar sua carreira de crimes.


Ironicamente, o duelo final do "Exterminador" não será com bandidos, como nos filmes de Bronson, mas com Dalton e um grupo de agentes da CIA, enviados pela alta cúpula do governo para eliminar o vigilante e impedir uma grande polêmica política - afinal, o governo que pretende se reeleger havia prometido acabar com a alta criminalidade da cidade!

Analisando por um lado mais crítico, O EXTERMINADOR está cheio de falhas: o roteiro é muito fragmentado, a caracterização dos personagens é nula, a edição não raras vezes é sofrível, e algumas interpretações são constrangedoras. Diversos desses defeitos são característicos da obra do diretor Glickenhaus, que prefere fazer ação violenta sem muito compromisso com a lógica.

Além disso, tirando o fantástico início no Vietnã, a direção das cenas de ação em geral é canhestra, principalmente uma rápida perseguição automobilística onde John persegue, numa veloz motocicleta, o carro de um grupo de assaltantes que roubou uma pobre velhinha - perseguição chinfrim e mal-editada, que destoa completamente do resto do filme.


Por outro lado, O EXTERMINADOR acerta justamente na coragem de enfocar seu herói como um sujeito frio, que devolve aos vilões na mesma moeda e sem medir a truculência.

Se compararmos John Eastland com a recente adaptação do Justiceiro dos quadrinhos (aquela com Thomas Jane e John Travolta), o anti-herói parece um coelhinho assustado.

E o melhor: ao contrário dos filmes politicamente corretos de hoje, John não poupa os criminosos que encontra pela frente, nem mesmo aqueles que o ajudam de uma forma ou de outra dando-lhe informações; todos vão para o saco, sem exceção! E ainda tem diálogos antológicos, como este:

- That guy, he was just a nigger!
- That nigger was my best friend, you motherfucker!



O EXTERMINADOR conta ainda com uma pequena (e dispensável) participação de Samantha Eggar como uma médica apaixonada pelo policial Dalton. As cenas "românticas" entre ambos não servem para nada e ainda esfriam a ação.

Dalton, por sinal, protagoniza um momento que é o extremo da bagaceirice, quando tenta assar uma salsicha no seu escritório usando a eletricidade da tomada!

Já o final é bem fora do convencional, mesmo que deixe as portas escancaradas para a inevitável seqüência, realizada em 1984 e dirigida pelo produtor do original, Mark Buntzman. Ao contrário do clima mais realista do primeiro filme, Buntzman transformou o herói numa máquina de matar em "Exterminador 2", que já tem aquela cara de exagero da década de 80 e uma contagem de cadáveres próxima à do clássico "Desejo de Matar 3".


No Brasil, O EXTERMINADOR foi lançado há muitos anos, e apenas em VHS, pela FJ Lucas. A cópia é muito ruim, bastante escura e com legendas atrasadas em relação aos diálogos. Nos EUA, já existe até uma "director´s cut" em DVD, com três minutos de cenas a mais. Em alguns países, a cena que mostra, didaticamente, o herói produzindo as "balas dundum" foi cortada, justamente para não ficar ensinando a técnica.

Para quem mora em grandes cidades, mais violentas, e convive diariamente com o medo de crimes e assaltos, O EXTERMINADOR é uma daquelas fábulas sobre como um homem sozinho pode fazer a diferença e enfrentar a bandidagem sem depender dos sistemas policial e judiciário - numa assustadora apologia à violência e à resposta armada que voltou à moda em tempos de "Tropa de Elite", "Chamas da Vingança", "Busca Implacável" e outros filmes contemporâneos de justiça com as próprias mãos.

Pelo menos no cinema isso funciona com eficiência...


Trailer de O EXTERMINADOR



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The Exterminator (1980, EUA)
Direção: James Glickenhaus
Elenco: Robert Ginty, Christopher George,
Samantha Eggar, Steve James, David Lipman,
George Cheung e Irwin Keyes.