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domingo, 29 de março de 2009

DEATHSPORT (1978)


"No ano 3000 não existirá mais Jogos Olímpicos, Super Bowl ou Copa do Mundo. Só existirá DEATHSPORT!"

A frase do cartaz, o argumento do filme, o título, a presença de David Carradine e a produção de Roger Corman levam o espectador a acreditar que DEATHSPORT, ficção científica classe Z de 1978, seja uma seqüência direta ou ripoff do divertidíssimo "Ano 2000 - Corrida da Morte", dirigido por Paul Bartel, estrelado por Carradine e produzido por Corman três anos antes, em 1975.

Mas as semelhanças entre as duas produções, infelizmente, não incluem o quesito qualidade, e nem DEATHSPORT é uma continuação de "Ano 2000 - Corrida da Morte", como informam alguns desavisados sites de cinema. Na verdade, esta é uma tentativa de Corman de faturar mais uns trocados após o sucesso do filme de Bartel (esquecendo, porém, que um dos ingredientes de sucesso daquele pequeno clássico era o humor negríssimo, que não existe nesta nova aventura), e ainda plagiar um pouquinho "Rollerball", de 1975.


O que sobrou é mais um autêntico FILME PARA DOIDOS, que os leitores deste blog vão achar o máximo, mas a maior parte da humanidade vai odiar. Agora, convenhamos: como não achar no mínimo divertido um filme em que David Carradine e Richard Lynch lutam com espadas de plástico; em que a falecida coelhinha da Playboy Claudia Jennings fica a maior parte do tempo com os seios ou a perereca de fora; em que um ditador tirânico tortura garotas seminuas forçando-as a dançar numa sala eletrificada (!!!), e em que raios laser desintegram não só pessoas, mas também motos e cavalos???

DEATHSPORT se passa no ano 3000, quando uma "guerra neutrônica" (não pergunte...) reduziu a humanidade a um deserto povoado por mutantes canibais. Um dos únicos núcleos "civilizados" é Heliz City, governada com mão de ferro por Lord Zirpola (David McLean), que diverte o povo com lutas de gladiadores estilo Roma Antiga. É o chamado "Deathsport", em que prisioneiros são perseguidos por motociclistas que disparam os tais lasers mortais.


Neste mundo perdido, também existem guerreiros místicos (uma espécie de versão pobre dos Jedi de "Guerra nas Estrelas", lançado no ano anterior), que vagam pelo deserto armados com suas espadas de plástico. O mais famoso deles é Kaz Oshay, interpretado por um David Carradine barbudo e de sunguinha - o que não é exatamente minha idéia de diversão, mas vá lá.

Felizmente, a coisa começa a andar quando Kaz é aprisionado pelo braço direito do ditador, Ankar Moor (interpretado por Richard Lynch!), e levado à força para participar do Deathsport juntamente com outra guerreira nômade, Deneer (Claudia Jennings).

Só que, num daqueles casos clássicos de propaganda enganosa, o tal Deathsport, apesar de ser o título da película, não dura nem cinco minutos: Kaz e Deneer logo escapam da arena de volta para o deserto, pilotando motos roubadas de seus perseguidores, e acompanhados por outros dois prisioneiros. Começa, então, uma perseguição implacável liderada por Ankar, que quer o couro do herói a todo custo.


Se DEATHSPORT serve para alguma coisa (além de mostrar David Carradine de sunguinha e Claudia Jennings de perereca de fora), é como diversão trash. Este é o filme perfeito para você deixar rolando num daqueles encontros de amigos cinéfilos regados a muita cerveja. Dos cenários toscos e falsos aos figurinos ridículos, passando pelos efeitos sonoros de quinta categoria e pela obsessão do diretor em mostrar explosões a cada cinco minutos, tudo é motivo de piada no filme, que assim torna-se engraçadíssimo do começo ao fim.

Entre os destaques no "fator trash", vale destacar os cenários das cidades e da arena onde acontece o Deathsport, e que são obviamente cenários pintados ou miniaturas bem toscas. As cenas de malabarismos com motos, repetidas até enjoar, acabam sendo mais engraçadas do que emocionantes, em parte por causa da exagerada sonoplastia dos veículos. Tem ainda uma cena de sexo que dá um novo sentido à expressão "cena de sexo gratuita", e uma participação pequena e não-creditada da futura scream-queen Linnea Quigley.


E o que dizer do raio laser que desintegra pessoas inteiras num piscar de olhos? O engraçado é que nunca fica clara a intensidade da arma: numa cena o raio desintegra automaticamente dois inimigos que estão lado a lado sobre suas motocicletas (os veículos também são vaporizados); em outro, o raio atinge um ratinho sobre um monte de entulho, mas apenas o roedor desaparece, enquanto o monte de entulho fica intacto!

O grande problema do roteiro de Nicholas Niciphor (com o pseudônimo Henry Suso), Frances Doel e Donald Stewart é levar-se a sério, ao contrário do "Ano 2000 - Corrida da Morte" que tenta desesperadamente copiar. Não há humor negro nem sátira em DEATHSPORT; na verdade, seus realizadores parecem estar levando a coisa a sério DEMAIS! Assim, cenas com elevado potencial trash, como as inúmeras perseguições com motos, sempre ficam no meio-termo; embora bem filmadas e editadas, não são tão divertidas quanto poderiam e deveriam ser, e logo tornam-se repetitivas.

E o tal "Deathsport", que parece ser a grande razão de ser do filme (está no título, caramba!), aparece numa mera ceninha de cinco minutos! Todo o resto da trama mostra heróis fugindo dos vilões. Até mesmo uma cena num covil dos mutantes canibais aparece jogada ao léu, sem qualquer função na trama.


Mais divertido que o próprio filme é o barraco que rolou nos bastidores: DEATHSPORT começou a ser dirigido por Niciphor, mas ele e Carradine não se bicavam. Com metade das cenas gravadas, a frescura entre os dois acabou mal: o astro simplesmente quebrou o nariz do diretor com um soco!!! Niciphor então abandonou o set, com nariz sangrando e tudo mais, e Corman teve que dirigir ele mesmo algumas cenas, depois chamando o pupilo Allan Arkush (de "Hollywood Boulevard" e "Rock’n’Roll High School") para terminar o filme.

E mais: dizem as más línguas que as filmagens eram movidas a álcool e drogas, o que transparece no clima de doideira coletiva do filme. A pobre Claudia era viciada e morreu no ano seguinte num acidente de carro, com apenas 29 anos de idade.

É uma pena que DEATHSPORT seja tão obscuro que nem existam vídeos decentes disponíveis no YouTube para postar aqui, e que certamente divertiriam meus fiéis leitores do FILMES PARA DOIDOS. Espero que se contentem com as fotos e procurem por esta pérola.

Uma coisa é certa: para o bem ou para o mal, não se fazem mais filmes assim, e isso é uma pena - principalmente quando o mais perto de DEATHSPORT que temos hoje é o bobo "Corrida Mortal" de Paul W.S. Anderson!


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Deathsport (1978, EUA)
Direção: Nicholas Niciphor e Allan Arkush
(e Roger Corman)
Elenco: David Carradine, Richard Lynch,
Claudia Jennings, William Smithers, Will
Walker e David McLean.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL (1979)


Em tempos de merdas como "High School Musical" (no momento em que escrevo estas linhas, "High School Music 3" está sendo exibido nos cinemas brasileiros em cópias dubladas e, pior, fazendo dinheiro!), nada melhor do que lembrar dos velhos tempos em que filmes sobre rebeldia juvenil podiam ser engraçados e ainda pregar o rock-and-roll como "ferramenta" para combater as instituições sagradas - entre elas, escola e família. E poucas produções trabalharam tão bem esta proposta quanto o clássico cult ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL, dirigido por Allan Arkush em 1979.

Hoje mais famoso pela presença dos ainda iniciantes (mas já famosos) Ramones, que participam com músicas na trilha sonora e também ao vivo, interpretando eles mesmos, ROCK'N'ROLL HIGH SCHOLL é o típico filme que todo mundo sabe que existe, mas pouca gente realmente viu (até porque ele continua inédito em nossas locadoras).

Trata-se de uma divertida comédia "nonsense", absurda e com uma mensagem hoje politicamente incorreta até o talo. Para vocês terem uma idéia, no final, auxiliados pelos seus ídolos punk rockers, os estudantes da Vince Lombardi High School declaram guerra (literalmente!) aos diretores, professores e aos seus pais caretas, explodem a escola e destróem provas, livros e históricos escolares - tudo porque a diretora da instituição ousou combater o rock-and-roll e queimar os discos dos Ramones numa fogueira, à moda nazista!

Como detonar uma escola com sua banda preferida


A trama em si não é novidade desde "Rock Around the Clock", filme de 1956 que já trazia o ritmo musical preferido da juventude (então ainda uma curiosa novidade) como catalisador das aventuras de adolescentes rebeldes ("Rock Around the Clock" contava com a presença de uma banda de sucesso na época, Bill Halley and the Comets). Mais recentemente, em 1999, a comédia "Detroit Rock City" seguiu o mesmo filão, mas colocando a banda Kiss como "personagem".

Porém a diferença de ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL para estes outros filmes está na forma de contar a história, seguindo a linha caótica de "Clube dos Cafajestes", de John Landis (que havia sido lançado no ano anterior), e de "Hollywood Boulevard", dirigido por Arkush e Joe Dante em 1976. Até o pôster de cinema é bem semelhante ao de "Clube dos Cafajestes"...

Os próprios Arkush e Dante foram os autores do argumento, roteirizado por Richard Whitley, Russ Dvonch e Joseph McBride, em mais um filme barato produzido pela companhia New World, de Roger Corman. Este custou a mixaria de 300 mil dólares, com um calendário de filmagens absurdo que provocou um colapso nervoso em Arkush: ele foi parar no hospital, e o filme teve que ser completado por Joe Dante e Jerry Zucker (um dos diretores de "Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu"), que receberiam crédito como "diretores de segunda unidade".

Para dar uma idéia da pobreza da produção, roupas e objetos de cena de outros filmes produzidos por Corman no ano anterior foram "reciclados" aqui (aparece até uma das motos com design futurista da ficção "Deathsport"). E era tão pouco dinheiro que o produtor convidou jornalistas e críticos de música como figurantes (eles trabalhariam de graça, mas poderiam entrevistar os Ramones em contrapartida).

ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL começa sem meias-medidas: alunos bocejam em sala de aula enquanto o professor de música (interpretado pelo cineasta Paul Bartel) fala sobre as maravilhas da música de Ludwig Van Beethoven. E quando ele vai botar um disco com a 5ª Sinfonia de Beethoven para seus pouco interessados estudantes ouvirem, descobre que o aparelho de som sumiu do local onde devia estar. No pátio, a roqueira Riff Randell (P.J. Soles, morta por Michael Myers em "Halloween" no ano anterior) está usando o aparelho para detonar "Sheena is a Punk Rocker", dos Ramones, a todo volume, colocando toda a escola para dançar enquanto se desenrolam os créditos iniciais.

"Do you, do you, do you, do you wanna dance?"


Mas os dias de rebeldia roqueira parecem fadados a um triste fim. Com o antigo diretor da Vince Lombardi High School afastado das suas atividades (ele ficou completamente louco por causa da rebeldia da garotada!!!), assume o cargo a diretora Evelyn Togar (Mary Woronov, excelente no papel). Fazendo o tipo fascista, e sempre acompanhada por dois violentos capangas vestidos como soldados da Segunda Guerra Mundial, a megera pretende botar ordem no galinheiro. E, claro, elege Riff Randell e o rock-and-roll como seus alvos prioritários - ela acredita que, eliminando ambos, conseguirá manter a paz e a ordem na escola, e ainda fazer com que os jovens aprendam alguma coisa.

Só que a missão não será nada fácil: os Ramones, banda preferida de Riff, vão fazer um show na cidade, e ela compra e distribui ingressos para os colegas poderem ver seus ídolos em carne e osso. Paralelamente, Tom Roberts (Vincent Van Patten), o estudante banana do colégio, tenta conquistar a roqueira por quem é apaixonado, sem perceber que a amiga nerd dela, Kate Rambeau (Dey Young), é quem realmente gosta dele. No elenco, também há pontas dos eternos coadjuvantes Dick Smith e Clint Howard (ainda com cabelo!!!).

A história é narrada sem muito compromisso com a lógica, num estilo que depois ficaria imortalizado em comédias malucas tipo "Apertem os Cintos, O Piloto Sumiu" e "Corra que a Polícia Vem Aí!". Lá pelas tantas, por exemplo, a diretora Togar explica ao seu quadro de professores (resumido a três pessoas, porque a produção é baratíssima e não podia contratar figurantes!) os efeitos nefastos do rock-and-roll no organismo dos jovens: ela põe um disco dos Ramones para tocar e um ratinho de laboratório explode ao som da música!!! (Engraçado é que um termômetro, chamado "Rock-o-Meter", mede o nível de intensidade dos acordes em estágios com nomes de bandas em alta na época, como "Deep Purple"!).

Mais adiante, já no concerto dos Ramones, o professor de música (que ganhou um ingresso grátis de Riff para conferir a banda de que nunca ouviu falar) fuma maconha no meio de um rato gigante, cujo comportamento foi modificado nas experiências com o rock-and-roll (efeitos mecânicos de Rob Bottin, que depois pularia para produções como "Grito de Horror" e "O Enigma do Outro Mundo"), e um índio que fuma Cannabis dentro do seu "cachimbo-da-paz"!

Por estas e outras cenas, ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL parece uma espécie de treino do diretor Arkush para realizar o ainda mais caótico e absurdo (e melhor) "Get Crazy", em 1983, onde ele inclusive repete e melhora várias piadas mostradas antes aqui, como o banheiro da escola tomado por uma cortina de fumaça de maconha!

Além de investir na santíssima trindade "sexo, drogas e rock-and-roll", ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL é particularmente divertido (e histórico) pela participação dos Ramones, que brincam com a própria imagem de rebeldia. Não é uma participação especial, tipo o Kiss fez em "Detroit Rock Music" ou o Aerosmith em "Quanto Mais Idiota Melhor 2". Os Ramones realmente são a alma do filme, e aparecem em diversas cenas, seja num delírio de Riff enquanto escuta o disco dos ídolos, seja no show, onde eles aparecem no palco e nos bastidores.

"Rock, rock, rock, rock'n'roll high school"


E é na conclusão que a banda surge como incentivadora da rebeldia dos estudantes, ajudando a detonar a escola e tocando a música-tema, "Rock'n'Roll High School", enquanto o edifício pega fogo e explode, e a diretora fascista, vencida, é levada embora completamente louca como o seu antecessor - enquanto o professor de música careta, já "transformado" pelo som do punk rock e pelo consumo de drogas, afirma que os Ramones são "o Beethoven da sua época".

Enfim, não consigo imaginar um exemplo mais perfeito da vitória da "rebeldia roqueira adolescente" contra o "Sistema" do que este divertido filme, que, quem diria, está para fazer 30 anos. Incrivelmente, nada parecido foi produzido desde então, apesar de uma tentativa frustrada de dar seqüência ao sucesso, "Rock'n'Roll High School Forever", lançada em 1991 e sem os Ramones ou produtores originais na parada - embora a atriz Mary Woronov retorne no papel de diretora vilanesca, desta vez enfrentando... Corey Feldman!!!

ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL tem, claro, vários defeitos para os quais é preciso fechar um olho. E é uma comédia para roqueiros; por isso, quem não curte piadas sobre música (e sobre drogas) não deve passar nem perto. Já para quem é do ramo, o negócio é aumentar o volume da TV até o máximo e curtir 1h30min de pura diversão ao som de diversos clássicos dos Ramones (além deles, a trilha conta ainda com Alice Cooper, Velvet Underground, Brian Eno, Devo, Paul McCartney & The Wings e outros monstros da época). "Rock, rock, rock'n'roll high school"... Pelo menos nos filmes, a vida escolar é bem divertida!

PS: Para terminar, uma má notícia: o filme tem remake programado para 2010! Quem sabe até 2011 alguém não faz o favor de finalmente lançar uma edição especial aqui no Brasil...

Trailer de ROCK'N'ROLL HIGH SCHOOL


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Rock'n'Roll High School (1979, EUA)
Direção: Allan Arkush (e Joe Dante e Jerry Zucker)
Elenco: P.J. Soles, Paul Bartel, Mary Woronov,
Vincent Van Patten, Dey Young, Clint Howard,
Dick Smith e The Ramones.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

HOLLYWOOD BOULEVARD (1976)


Com a câmera armada no tripé e pronta para filmar, um diretor de cinema orienta seus dois atores, que estão fora do quadro: "Bobbi, esta é sua grande cena. Sua fala é a mais importante, ela representa toda a essência do filme, entendeu? Então vamos lá: Ação!". A câmera começa a rodar e os atores - um homem e uma mulher completamente pelados! - finalmente entram no quadro, ela com um facão apontado para ele, ameaçando: "Get it up or I'll cut it off!" (Levanta esse troço ou eu corto fora!).

Só esta cena simbólica já dá uma idéia do que é HOLLYWOOD BOULEVARD, comédia de 1976 perdida nas poeiras do tempo, ao mesmo tempo uma homenagem e uma sátira irônica às pequenas produtoras que, com um mínimo de recursos e condições, rodavam exploitation movies baratíssimos, repletos de sexo e violência, para exibição em drive-ins na década de 70. "Homenagem" porque o filme inclui toneladas de referências a pessoas e produções da época (inclusive cenas de outros filmes, usadas na edição); "sátira irônica" porque a história é um retrato cômico, porém bastante fiel, do que fazia a própria produtora New World, de Roger Corman, que bancou esta comédia.


Escrito por Danny Opatoshu com o pseudônimo Patrick Hobby (ele depois escreveria o ainda mais alucinado e engraçado "Get Crazy"), HOLLYWOOD BOULEVARD foi a chance que o produtor Corman deu a dois jovens colaboradores da New World para que dirigissem seu primeiro filme, desde que o fizessem em tempo recorde (10 dias) e com um orçamento minúsculo até em comparação às produções baratas rodadas por Corman na época (custou 60 mil dólares).

Os jovens colaboradores, então completos desconhecidos, eram Allan Arkush ("Rock'n'Roll High School", "Get Crazy") e Joe Dante ("Piranha", "Gremlins"). E este primeiro trabalho está no nível do que ambos fariam depois: maluco e anárquico, porém nostálgico e respeitoso ao universo em que ambos se criaram, o dos filmes classe B.

A história começa com uma ingênua garota do interior, Candy Hope (a bela Candice Rialson), chegando a Hollywood com o objetivo de tornar-se estrela de cinema. Mas ela não consegue emprego nos estúdios por ser inexperiente na área. Após participar, sem querer, de um assalto a banco, ela acaba se associando a um agente picareta chamado Walter Paisley (o eterno coadjuvante Dick Miller, aqui em raro papel principal), e, através dele, vai parar nas produções baratas da Miracle Pictures (cujo slogan é: "Se é um bom filme, é um Milagre"!!!).


Sempre sob a direção do excêntrico cineasta Erich Von Leppe (Paul Bartel, ele próprio um cineasta cult na época!), Candy acaba estrelando exploitation movies como "Machete Maidens of Mora Tau" (rodado nas Filipinas!!!) e "Atomic War Brides", que começa como um roteiro de aventura nos anos 50 e se torna ficção científica pós-apocalíptica no decorrer das filmagens!!!

Há ainda um mistério a resolver: várias atrizes da Miracle Pictures andam morrendo misteriosamente em "acidentes", como pára-quedas que não abrem e tiros de verdade disparados pelas armas de figurantes (cena que antecedeu em duas décadas a morte real do ator Brandon Lee no filme "O Corvo"). Quem será o misterioso assassino? O diretor Von Leppe? A estrela ciumenta da produtora, Mary McQueen (interpretada pela musa de Bartel, Mary Woronov)? O roteirista frustrado Patrick (Jeffrey Kramer)? Ou o produtor P.G. (Richard Doran), que costuma selecionar suas atrizes transando com elas na traseira de uma van?

O roteiro de HOLLYWOOD BOULEVARD é o que menos interessa, já que o filme na verdade é uma seqüência caótica e não-linear de piadas/homenagens ao mundo do cinema, que inclusive pode ser vista como se fossem quadros isolados, estilo "Amazonas na Lua".


Fãs de cinema em geral vão se divertir muito: a citação já começa com o título, uma brincadeira com o clássico "Crepúsculo dos Deuses" (no original, "Sunset Boulevard"). Já as tralhas da Miracle Pictures mostram cenas retiradas de "clássicos" reais da New World, como "Ano 2000 - Corrida da Morte", "The Big Bird Cage", "Sombras do Terror" e "Big Bad Mama".

O Von Leppe de Bartel (que parece estar interpretando ele mesmo) é a síntese dos cineastas exploitation. Nas filmagens nas Filipinas, ele explica às suas atrizes, vestidas com enormes decotes e portando metralhadoras: "Sua motivação é... massacrar 3.000 soldados asiáticos!", e na cena seguinte vemos as moças metralhando indiscriminadamente multidões de figurantes filipinos (em cenas tiradas de "The Big Bird Cage" e "The Big Doll House", ambos produzidos por Corman e dirigidos por Jack Hill nas Filipinas).

O mesmo Von Leppe tenta convencer Candy que uma cena sensacionalista de estupro coletivo por nativos filipinos é "o sonho de toda atriz", e não perde a pose nem quando os figurantes levam a coisa a sério demais e se recusam a atender a ordem de "corta!" do diretor!

Mais adiante, durante as filmagens de "Atomic War Brides", aparecem cenas, carros e figurinos de "Ano 2000 - Corrida da Morte", que o próprio Bartel havia dirigido em 1975 com David Carradine e Sylvester Stallone. A cena em que figurantes usam qualquer fantasia existente no depósito da produtora para criar "mutações pós-apocalípticas" é hilária, e lembra muito filme bagaceiro onde isso foi feito de verdade. Quando uma atriz reclama que uma das "mutações" não passa de um figurante com uma máscara de gorila, o produtor P.G. simplesmente coloca um capacete de astronauta na cabeça do figurante, dizendo: "Agora é uma mutação simiesca". Trata-se, claro, uma homenagem ao ridículo "Robot Monster", dos anos 50, onde o grande vilão era um gorila com um escafandro na cabeça!


Há toneladas de outras referências ao cinema barato daquela época: quando Candy, Walter e Patrick vão à pré-estréia de "Machete Maidens of Mora Tau" (num drive-in!!!), outros dois filmes são exibidos, "Zombie in the Attic" e "Moonmen from Mars" (!!!), o primeiro aproveitando cenas com Boris Karloff retiradas de "Sombras do Terror", e o segundo mostrando um ridículo e sangrento duelo entre monstros bagaceiros (asquerosamente semelhantes a um pênis e uma vagina), tirado de "Battle Beyond the Sun", ambos também produzidos por Corman.

E mais: Dick Miller interpretou um personagem chamado "Walter Paisley" em "A Bucket of Blood" (dirigido por Roger Corman em 1959), e uma sangrenta cena de assassinato a punhaladas foi dirigida por Joe Dante com inspiração confessa nos filmes do italiano Mario Bava! De tão violenta, a tal cena de esfaqueamento acabou sendo utilizada em outros filmes produzidos pela New World (posteriormente rebatizada Concorde), como "The Slumber Party Massacre" e "Vampiro das Estrelas".

Quem não é do ramo também pode se divertir com HOLLYWOOD BOULEVARD, mesmo sem pegar estas citações todas. Não tem como não rir imaginando que muitos filmes classe B da época (principalmente os da New World) realmente eram realizados da mesma forma que as produções da Miracle Pictures, e sempre estrelados por garotas ingênuas que não tinham vergonha de tirar a roupa diante das câmeras sonhando se tornar grandes estrelas de cinema.

Uma ótima cena mostra Candy e duas outras atrizes (interpretadas pelas gatas Rita George e Tara Strohmeier) revoltando-se quando um dos membros da equipe de filmagens vai espiá-las tomando banho de sol de topless - e isso que elas ficaram completamente nuas durante a maior parte das cenas gravadas momentos antes. "Se quer ver nossos peitos, vai ter que pagar a entrada!", reclama uma delas. Como todo bom filme sobre o universo exploitation, HOLLYWOOD BOULEVARD também está repleto de cenas gratuitas de nudez e violência!

Para tornar ainda mais saborosa a brincadeira, o elenco tem diversas caras conhecidas em pequenas participações. Além de todos os já citados, o diretor Joe Dante aparece como figurante numa festa chique de Hollywood, ao lado de Forrest J. Ackerman (editor da antológica revista Famous Monsters of Filmland), do roteirista Opatoshu, do futuro diretor Lewis Teague (de "Alligator" e "Olhos de Gato") e até do robô Robby, do clássico sci-fi "Forbidden Planet"!!!


Também surgem, em pequenas participações, os cineastas Allan Arkush, como um xerife; Jonathan Kaplan ("Acusados"), como o diretor de produção da Miracle Pictures, e Jonathan Demme ("O Silêncio dos Inocentes"), vestindo uma fantasia de Godzilla!!! Só estas participações já fazem de HOLLYWOOD BOULEVARD um autêntico FILMES PARA DOIDOS!

O mais irônico é que tanto Dante quanto Arkush se dedicaram de corpo e alma à produção desta sua primeira obra por pensarem que não teriam outras chances no cinema! Sorte que esta previsão pessimista não se tornou realidade: um logo saltou para os blockbusters, mas mantendo aquele climão de classe B das produções que dirigiu para Roger Corman ("Gremlins", por exemplo, é um típico filme B com orçamento classe A, e tem até Dick Miller no elenco!); o outro teve tempo de fazer uma das melhores comédias dos anos 80, "Get Crazy", antes de cair no limbo dos produtores de filmes para a TV...

PS 1: Infelizmente, HOLLYWOOD BOULEVARD ficou tão obscuro com o tempo que não há vídeos do filme no YouTube, apenas este divertido clip da música "Everybody's Doing It", por Commander Cody and his Lost Planet Airmen, que invade uma cena de romance da película. Como a música é divertida (e a interpretação da banda idem), fica como aperitivo para entrar no clima do filme.

PS 2: Várias piadas acabaram sendo reaproveitadas em outros filmes. É o caso de "Amazonas na Lua", co-dirigido por Joe Dante, onde aparece um exploitation movie produzido pela "Miracle Pictures", inclusive com a reprodução do já clássico slogan "Se é um bom filme, é um Milagre".

PS 3: Em 1988, Corman produziu e Steve Barnett dirigiu "Hollywood Boulevard 2", lançado em vídeo no Brasil como "Um Filme Muito Louco". Apesar do título original, é um remake, e não seqüência, do filme de 76. No elenco, as atrizes pornô Ginger Lynne e Tracy Lords.

Videoclip de "Everybody's Doing It"



Joe Dante fala sobre HOLLYWOOD BOULEVARD



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Hollywood Boulevard (1976, EUA)
Direção: Joe Dante e Allan Arkush
Elenco: Candice Rialson, Mary Woronov, Paul
Bartel, Rita George, Jeffrey Kramer, Dick Miller,
Richard Doran e Tara Strohmeier.