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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Anotações sobre uma semana cinematográfica


Nos últimos dias, estive afastado do blog (e praticamente de casa) por estar envolvido em dois eventos únicos: a Mostra Cinema de Bordas promovida pelo Itaú Cultural, que chegou à sua terceira edição, e "Páscoa Sarnenta", um projeto conjunto com a lenda do cinema independente brasileiro Petter Baiestorf.

Algumas considerações sobre ambos, pois sempre acho que vale a pena dividir pequenos fragmentos de memórias cinematográficas com leitores de um blog sobre cinema...


1. Cinema de Bordas
Infelizmente, neste ano não pude acompanhar o Cinema de Bordas todos os dias por causa deste projeto com o Baiestorf. Mesmo assim, o evento no Itaú Cultural proporcionou uma daquelas raras oportunidades de reencontrar velhos amigos e fazer novos.

Estiveram presentes realizadores como Rodrigo Aragão, Joel Caetano, Sandro Debiazzi, Rodrigo Brandão e o próprio Baiestorf, mas quem roubou a cena foram duas lendas vivas do cinema underground nacional: Manoel Loreno, conhecido como Seu Manoelzinho, e Aldenir Coty, ninguém mais ninguém menos que o Rambú da Amazônia!!!

Seu Manoelzinho é a própria encarnação do chamado "Cinema de Bordas", e realizou filmes ingênuos e muito divertidos feitos em VHS, com roteiros improvisados (o realizador é analfabeto), situações sem pé nem cabeça e uma montagem que beira o surreal.

Ver aquele sujeito humilde e desajeitado, lavrador e faxineiro de cinema em Mantenópolis (interior do Espírito Santo), apenas confirmou a famosa frase de Werner Herzog que adoro citar em benefício próprio: "O cinema não é uma arte de eruditos, mas de analfabetos".

Também me deu a certeza de que esses estudantes de cinema de hoje são tudo uns chorões, porque se um analfabeto de Mantenópolis consegue pegar uma câmera e fazer 20 longas-metragens, e eles não conseguem nem ao menos terminar seus curtas, é porque alguma coisa está MUITO errada...

Fiz questão de tirar foto e comprar DVDs com filmes de Seu Manoelzinho, entre eles o clássico western "O Homem Sem Lei", que tem cenários mostrando apenas a fachada de estabelecimentos como delegacia e saloon, e tiroteios filmados através de bombinhas acesas diretamente no cano dos "revólveres"!!!

Também dei um furo ao pedir autógrafos nos DVDs sem lembrar que o célebre Loreno não é versado no dom da escrita: mesmo assim, o esforçado realizador fez dois garranchos completamente diferentes em cada caixinha!

Teste para "Os Mercenários da Amazônia"?


Já Rambú roubou a cena quando apareceu no Itaú Cultural vestido com calça militar, chinelos-de-dedo e faixa vermelha amarrada na testa, como manda o figurino de seu personagem calcado no Rambo de Stallone.

Percebi que Coty realmente acredita ser uma espécie de sósia do famoso Sylvester, tanto que na Mostra estava exibindo sua nova produção, "Roquí - O Boxeador da Amazônia", um curta hilário que já está no YouTube.

Assista "Roquí - O Boxeador da Amazônia"



Bastante assediado e exigido para fotografias, o astro amazonense já revelou que deverá estrelar também uma versão genérica de "Stallone Cobra" - que, pela lógica dos títulos anteriores, deverá se chamar "Cobrá da Amazônia" (já deixo a sugestão)! Vai ser engraçado vê-lo com óculos espelhados e falando "Você é um cocô" com sotaque de Manaus...

Na quinta-feira, 21, teve a exibição conjunta de meu curta "Extrema Unção" e do filme do Baiestorf "O Doce Avanço da Faca", que teve alguns cortes nas cenas de sacanagem exigidos pelos organizadores.

Eu já tinha visto o filme do Petter e não me importei com a retirada do sexo gratuito, mas foi uma pena eliminarem a bela história em quadrinhos exibida no começo do curta e até O FINAL da obra, mutilando completamente a obra do realizador!

Depois da exibição, rolou um bate-papo meu e do Baiestorf com o moderador Lúcio Reis. Já fiz um lance parecido no Fantaspoa alguns anos atrás e sabia que o Petter fala sem parar, então fiquei servindo de escada para ele e fizemos inúmeras piadinhas que levaram o público às gargalhadas. Parecia até show de stand-up comedy, só que sentados.

O mais surpreendente foi a presença de dois estudantes de cinema que fizeram perguntas. Pensei que eles iriam nos detonar, pois isso é bem do feitio desse tipo de estudante, mas eles na verdade elogiaram nossa iniciativa de "fazer por conta" e reclamaram da faculdade, que não lhes dá a liberdade de fazer o mesmo.

Aí eu e o Petter aproveitamos para dar nosso pitacos sobre o tema, em trecho que foi filmado pelo amigo Fritz e você pode ver no vídeo abaixo.

"Sit-down comedy" com Baiestorf e eu



Infelizmente, não pude ver a estreia do média-metragem "O Tormento de Mathias", de Sandro Debiazzi, onde apareci como ator ao lado do Joel Caetano e outras feras (ô loco, bicho!). Queria ver a reação do público ao filme e à minha interpretação tenebrosa, mas naquele momento eu já estava a caminho de Palmitos, interior de Santa Catarina, para filmar com o Baiestorf.


2. Páscoa Sarnenta
Logo após o bate-papo no Cinema de Bordas, tivemos uma reunião sobre um possível projeto cinematográfico conjunto que juntará, no mesmo filme, eu, Rodrigo Aragão, Baiestorf e Joel Caetano. Não vou dar detalhes enquanto isso não sai do papel, mas a reunião deixou todo mundo otimista.

Petter então lembrou que precisávamos pegar o avião para Santa Catarina bem cedinho no dia seguinte, e pediu para voltarmos cedo para casa - porque ele ia dormir num colchão na minha sala, para chegarmos mais rápido ao aeroporto.

Claro que na prática não foi bem assim: acabamos a noite num bar na Augusta onde ficamos bebendo até quase cinco da manhã, entre risadas e doideiras como o telefonema em que Fernando Rick supostamente falou comigo e eu estava em casa, embora eu estivesse no bar e nunca tenha recebido nenhuma ligação dele!!!

E o Petter queria ir dormir cedo...


No dia seguinte, mortos de sono e de cansaço, finalmente pegamos o avião para Chapecó e o puto do Baiestorf aproveitou para explorar meu medo de voar: sentado na porta de emergência da aeronave, ficava ameaçando abrir aquela merda durante todo o voo!

Chegamos em Chapecó sem maiores problemas (apesar das sacanagens do Petter) e pegamos carona com Carli Bortolanza para Palmitos, onde parte da equipe do Baiestorf já esperava para o início do Projeto Páscoa Sarnenta.

Vou explicar rapidamente o que foi esse negócio: há alguns meses, fuçando no YouTube, descobri o trailer de um documentário chamado "Lado B - Como Fazer um Longa Sem Grana no Brasil", de Marcelo Galvão.

O título é chamativo e a sinopse diz: "Longe das verbas milionárias, o filme revela as dificuldades enfrentadas por quem não dispõe de recursos para realizar um projeto".

Confesso que a primeira coisa que pensei foi: "Ué, por que não me entrevistaram para esse negócio?". Afinal, fiz um curta de 40 reais ano passado. Aí vi o trailer de "Lado B" e descobri que eles usaram depoimentos de cineastas como Fernando Meirelles e Ugo Giorgetti, choramingando por terem feito curtas com APENAS 90 mil reais.

Gisele Ferran protagoniza cena de amor


Fiquei tão puto que resolvi realizar um verdadeiro documentário sobre "como fazer cinema sem grana no Brasil", e entrei em contato com o Baiestorf sugerindo que ele filmasse um curta-metragem de baixíssimo orçamento num final de semana enquanto eu acompanhava os bastidores, estilo "Popatopolis", em que Clay Westervelt acompanhou Jim Wynorski enquanto ele fazia um filme em três dias.

O Petter gostou da ideia, mas, como ele é um sem noção, resolveu fazer não um, mas QUATRO curtas nos três dias do feriadão de Páscoa: "Pampa'Migo", uma espécie de western sangrento; "O Monstro Espacial", com efeitos e monstrinhos elaborados por Rodrigo Aragão; "Filme Político Número Um", um curta experimental com pintos e pererecas em close, e finalmente seu próprio documentário sobre o documentário que eu estava filmando!

César Souza, o Django de Palmitos


Enfim, nos acomodamos no sítio da família Baiestorf, em Palmitos, para engraçadíssimos três dias sobre os quais não vou dar muitos detalhes, mas que vão render um filme divertidíssimo sobre os bastidores da produção independente nacional.

Conheci gente que só conhecia de nome e de fama, como a nova estrela das produções de Petter, Gisele Ferran, e a lenda viva Jorge Timm, entre outros. Dividi uma cama de casal com Gurcius Gewdner, responsável por algumas das maiores gargalhadas dos três dias de filmagem, principalmente por tentar censurar o documentário após emitir opiniões polêmicas sobre pessoas conhecidas e ex-namoradas.

E, finalmente, descobri que há um ano estou acreditando numa mentira contada pelo Petter, de que o seu diretor de fotografia, o australiano Daniel Yencken, havia sido um dos atores-mirins de "Mad Max - Além da Cúpula do Trovão", algo que o Baiestorf me contou ainda em 2010 e que o próprio Daniel fez questão de negar - e eu que estava até pensando em entrevistá-lo sobre suas experiências com Mel Gibson e George Miller!

Qual deles será Daniel Yencken?


No fim, Baiestorf conseguiu concluir apenas dois dos curtas planejados, "Pampa'Migo" e "Filme Político", em virtude da chuva que estragou um dia inteiro de filmagens.

Participei como figurante em "Pampa'Migo", interpretando um personagem batizado "Cagão", que posteriormente também deveria aparecer numa espécie de suruba entre sangue e tripas no curta não-filmado "O Monstro Espacial" - mas não foi dessa vez que protagonizei uma cena erótica no cinema, para a sorte dos espectadores!

Mais detalhes sobre o Projeto Páscoa Sarnenta no blog do Petter.

Ao fundo, eu como Cagão em "Pampa'Migo"


Depois, fiquei duas noites hospedado na casa do Baiestorf com o Gurcius até a longa viagem de volta, de ônibus, para o Rio Grande do Sul, onde estou nesse momento para os festejos do Dia das Mães. Vimos muitos filmes entre risadas e cervejas.

Achei que o Petter iria me bombardear com filmes tipo "Nekromantik", mas, para minha total surpresa, passamos esses dias vendo ingênuos filmes de praia estrelados por Frankie Avalon e Annette Funicello, e rindo como completos imbecis!

Quem diria: Filme de cabeceira de Petter Baiestorf!!!


Também teve uma hilária, mas hilária mesmo, sessão de "Invasão USA", do Chuck Norris, que se transformou numa comédia involuntária total diante dos comentários meus, do Gurcius e do Petter. E vimos "O Espantalho Assassino", do Seu Manoelzinho, numa experiência verdadeiramente mágica.

Despedi-me de Palmitos e de sua fauna de pessoas excêntricas (sem dúvidas, a verdadeira Twin Peaks brasileira) e embarquei para o RS na manhã de terça-feira.


3. Sobre viagens longas e leituras
Para voltar para casa, eu teria que utilizar três meios de transporte: ônibus de Palmitos a Chapecó, então esperar quatro horas até o ônibus de Chapecó para Porto Alegre, e então pegar uma carona com uma amiga de volta a Carlos Barbosa.

Como eu sou hiperativo, sabia que jamais iria aguentar essa maratona toda de viagens, até porque só a ida de Chapecó a Porto Alegre duraria quase 15 HORAS! Desesperado e sem companhia para conversar, resolvi comprar um livro na esperança de que ler no ônibus me desse sono e eu dormisse parte da viagem - porque, acreditem ou não, eu não consigo dormir no ônibus, nem numa viagem de 15 horas!

Foi aí que descobri que o confinamento em um ambiente sem outras opções (como cinema e internet) e sem possibilidade de fuga permite que você leia muito e sem parar. A edição de bolso de "A Hora do Vampiro", de Stephen King (livro cuja leitura eu estava adiando há décadas), foi devorada em cerca de oito horas, e estamos falando de um livro de 580 páginas!

Aí lembrei da semana que passei internado no hospital com intoxicação alimentar e, sem poder sair da cama, tinha que escolher entre ler ou ver o Programa do Ratinho na TV. Naquela semana, li um livro por dia.

Todos sabem que não gosto de aviões, mas gosto menos ainda de perder tempo. Porém a viagem de Santa Catarina ao RS me fez perceber que longas viagens de ônibus são uma excelente oportunidade para ler sem parar e sem ser interrompido por coisas como a internet.

Tanto que vou fazer a experiência de voltar a São Paulo de ônibus, com vários livros na mochila, para ver se consigo colocar a leitura em dia!

E assim fiquei no final de tudo isso...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Meus filmes no YouTube

(Se vocês gostarem, divulguem em seus próprios blogs, twitters, facebooks, comunidades do orkut e o escambau. Filmes são feitos para serem vistos, e esses já ficaram guardados por muito tempo!)



PATRICIA GENNICE (1998)

Esta versão juvenil de "Depois de Horas", de Martin Scorsese, foi rodada em VHS e com um orçamento de R$ 150,00.

É a história de Lucas (Fabiano Taufer), um rapaz que sai toda noite em busca de um grande amor, mas sempre volta sozinho para casa - as mulheres nada querem com ele.

Um dia, revendo os conceitos de sua curta existência, uma bela garota o acha simpático e o chama para ir à casa dela. Quando ela diz seu nome, Patricia Gennice (Franciele Mazetti), Lucas quase entra em colapso - afinal, não é todo dia que "a mulher mais boa da cidade" te chama para sair.

Após essa premissa, tudo dará errado com Lucas – no caminho para a casa de Patricia, ele é assaltado, enganado, seqüestrado, ameaçado de morte, e o pior, não encontra camisinha...



Continua aqui:
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Parte 5
Final




MISTÉRIO NA COLÔNIA (2003)

Um médico da cidade grande (Luciano Huck) vai passar as férias numa pequena cidade do Rio Grande do Sul, cercada de lendas sobre o desaparecimento de turistas na região.

Ele é acolhido na casa de uma família local (pai, filho e avó) e, durante o almoço, o rapaz procura alertar o médico sobre um terrível segredo que a cidade esconde. Segue-se uma história de humor, horror, serras elétricas e tripas.

Lendário curta-metragem amador filmado em VHS e com orçamento médio de R$ 100,00. O apresentador global Luciano Huck foi ao interior do Rio Grande do Sul para ver como trabalhava a equipe de Felipe M. Guerra e acabou virando astro do filme.






EXTREMA UNÇÃO (2010)

Três dias na vida de um rapaz que se muda para uma casa supostamente assombrada pelo fantasma de uma velha fanática religiosa.

Curta-metragem filmado em mini-DV e em apenas dois dias, com um orçamento de R$ 40,00.

Ganhou menção honrosa especial (Melhor Susto de Velhinha Fantasma) no CineFantasy 2010, realizado em São Paulo.


Parte 1


Parte 2



E MAIS UM PUNHADO DE BOBAGENS DIVERTIDAS...









domingo, 18 de abril de 2010

Mostra Cinema de Bordas em SP


Começa na terça-feira, 20 de abril, a segunda edição da Mostra Cinema de Bordas, que o Itaú Cultural promove até o domingo, 25, mais uma vez reunindo produções independentes e/ou amadoras vindas de todas as partes do Brasil, e exibindo-as em pleno glamour da Avenida Paulista, em São Paulo.

Vou repetir o que escrevi sobre o evento em 2009:

"A importância de uma mostra como essa é algo indescritível: para o público, é uma oportunidade única (e GRATUITA) para ver filmes vindos de diferentes partes do país e realizados à margem do cinemão comercial, de maneira improvisada e sem recursos, por cineastas auto-didatas que, na 'vida real', são estudantes, jornalistas, donos de locadora e até camelôs e agricultores; para os próprios realizadores, também é uma oportunidade única de mostrar seus trabalhos num espaço nobre e com toda a divulgação, já que o grande problema de quem faz filme independente é justamente a distribuição."

Eu novamente estarei presente na Mostra com meu segundo longa-metragem, a sátira de 2001 ENTREI EM PÂNICO AO SABER O QUE VOCÊS FIZERAM NA SEXTA-FEIRA 13 DO VERÃO PASSADO, provavelmente um dos filmes amadores mais conhecidos e menos vistos do país. São 83 minutos satirizando o cinema slasher norte-americano com um toque todo especial da cultura do interior do Rio Grande do Sul. E custou apenas R$ 250,00!

Trailer de ENTREI EM PÂNICO...


Segue a programação completa, e reforço o convite para a galera de Sampa conferir essa mostra fantástica e dar o devido reconhecimento a quem consegue fazer muito com quase nada:

* Terça-feira, 20 de abril
- 20 horas:
Abertura do evento (só para convidados)
Palestra com os curadores e exibição dos filmes
VLAD, de Pedro Daldegan (SP), e NINGUÉM DEVE MORRER, de Petter Baiestorf (SC)

Início de NINGUÉM DEVE MORRER


* Quarta-feira, 21 de abril
- 16 horas:
GATO, de Joel Caetano (SP)
A BRUXA DO CEMITÉRIO 2, de Semi Salomão (PR)
- 18 horas:
Bate-papo com o diretor Rodrigo Aragão e a pesquisadora Laura Cánepa
- 18h30min:
CHUPA-CABRAS, de Rodrigo Aragão (ES)
MORGUE-STORY – SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS, de Paulo Biscaia Filho (PR)

Trailer de MORGUE STORY


* Quinta-feira, 22 de abril
- 18 horas:
DOUTOS EKARD, de Marcos Bertoni (SP)
CORONEL CABELINHO VS. GRAJAÚ SOLDIAZ, de Pepa Filmes (RJ)
- 20 horas:
Bate-papo com a diretora Liz Marins e Laura Cánepa
- 20h30min:
APARÊNCIAS, de Liz Marins (SP)
ENTREI EM PÂNICO AO SABER O QUE VOCÊS FIZERAM NA SEXTA-FEIRA 13 DO VERÃO PASSADO, de Felipe M. Guerra (RS)

Trailer de CORONEL CABELINHO VS. GRAJAÚ SOLDIAZ


* Sexta-feira, 23 de abril
- 18 horas:
O MASSACRE DA ESPADA ELÉTRICA, de Gerson Castilho, Lucio Gaigher, Merielli Campi e Rodolfo Arrivabene (ES)
O SHOW VARIADO, de Simião Martiniano (PE)
CYBERDOOM, de Igor Simões Alonso (SP)
- 20 horas:
Bate-papo com o diretor Joel Caetano e Laura Cánepa
- 20h30min:
GATO, de Joel Caetano (SP)
A BRUXA DO CEMITÉRIO 2, de Semi Salomão (PR)

Trailer de GATO


* Sábado, 24 de abril
- 16 horas:
CHUPA-CABRAS, de Rodrigo Aragão (ES)
MORGUE-STORY – SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS, de Paulo Biscaia Filho (PR)
- 18 horas:
DOUTOS EKARD, de Marcos Bertoni (SP)
CORONEL CABELINHO VS. GRAJAÚ SOLDIAZ, de Pepa Filmes (RJ)

* Domingo, 25 de abril
- 16 horas:
APARÊNCIAS, de Liz Marins (SP)
ENTREI EM PÂNICO AO SABER O QUE VOCÊS FIZERAM NA SEXTA-FEIRA 13 DO VERÃO PASSADO, de Felipe M. Guerra (RS)
- 18 horas:
O MASSACRE DA ESPADA ELÉTRICA, de Gerson Castilho, Lucio Gaigher, Merielli Campi e Rodolfo Arrivabene (ES)
O SHOW VARIADO, de Simião Martiniano (PE)
CYBERDOOM, de Igor Simões Alonso (SP)

Trailer de CYBERDOOM

domingo, 18 de outubro de 2009

Ninguém deve PERDER!


No final da sessão de estréia de NINGUÉM DEVE MORRER, novo filme (na verdade curta) do catarinense Petter Baiestorf, fui saudar o vivente e recomendei, brincando, que ele parasse de usar drogas na hora de fazer suas mirabolantes produções cinematográficas. Para meu espanto, Petter garantiu que já não usava há tempos. Ou seja, é um doido varrido por natureza! E esse seu novo trabalho, aquele tipo de brincadeira bizarra que parece ter sido feita sob efeito de entorpecentes, se encaixa como poucos no rótulo FILMES PARA DOIDOS que dá título a esse blog.

Algum tempo atrás, quando o Petter me confidenciou que estava pensando em fazer um filme de bangue-bangue, eu lhe desejei boa sorte dizendo que também tinha um roteiro em forma de homenagem ao western spaghetti, e que só não havia filmado ainda devido às dificuldades técnicas (de conseguir figurinos, armas, os efeitos para fazer os tiros...). Ele riu da minha ingenuidade dizendo que o seu seria um "faroeste diferente".

Pois a forma mais simplificada de tentar descrevê-lo é dizer que NINGUÉM DEVE MORRER é um western musical (!!!). E apesar do título e da ambientação lembrarem o clássico ciclo do western spaghetti (principalmente o filme "Meu Nome é Ninguém", de 1973, com Terence Hill), a inspiração de Baiestorf não veio dos faroestes produzidos na Itália, mas sim dos escalafobéticos e ultrajantes filmes realizados na Boca do Lixo, como "Um Pistoleiro Chamado Papaco" (1986), de Mário Vaz Filho.


Todo o filme pode ser considerado uma brincadeira cinéfila de citação-colagem-paródia. Gurcius Gewdner interpreta Ninguém, um cowboy envolvido com a produção de filmes pornográficos sobre zoofilia. Certo dia, ele se revolta contra os produtores e abandona o set sem concluir uma cena de sexo oral com um touro (!!!). Furioso, o produtor ordena que Ninguém deve morrer! Um pequeno bando de pistoleiros é reunido para a missão, que envolve os clichês do faroeste (como o ataque à namorada do "herói"), mas logo descamba para o "Baiestorfismo".

Em diversos momentos, por exemplo, a história é interrompida por números musicais que se passam "dentro da cabeça" dos personagens, quando os atores dançam e fingem cantar canções populares, acompanhados de homens travestidos como dançarinas dos cabarés de filmes de western.

Mais adiante, quando a missão do título finalmente é cumprida, o faroeste é deixado de lado para se transformar numa parábola místico-religiosa (em forma de sátira, claro), quando aparece um personagem tradicional do cinema de Baiestorf: o religioso hipócrita que cheira cocaína enquanto balbucia suas mensagens edificantes.


Para completar a balbúrdia, o filme nem ao menos tem uma conclusão, substituída por uma colagem de fotos do tornado que varreu Santa Catarina (e a região das filmagens) em 7 de setembro deste ano, quando NINGUÉM DEVE MORRER estava sendo gravado.

Este novo trabalho de Baiestorf é engraçado por ser totalmente débil mental. Ninguém deve assisti-lo esperando por uma narrativa séria. Além dos bizarros números musicais que entrecortam a história, os figurinos são propositalmente pobres; a cor do sangue que sai dos ferimentos nos personagens muda de vermelho para verde e azul; um carro suspenso em uma árvore (protesto "anti-carro" feito pelo próprio diretor no prólogo) invade o filme numa cena-chave; os cowboys fingem cavalgar cavalos invisíveis, à la Monty Python (simplesmente porque a produção não tinha cavalos para utilizar!), e quase todos os "atores" são dublados com diálogos impagáveis tirados de filmes da Boca (o já citado "Papaco" e "Fuk-Fuk à Brasileira"), e da dublagem nacional do clássico "Comando para Matar", com Schwarzenegger (de onde saíram frases tipo "Cortar a garganta de uma menina é como cortar manteiga quente" e "Ele é um gigante pra ninguém botar defeito!", entre outras).


O resultado é uma brincadeira cinéfila (como assume o próprio diretor) bastante divertida, desde que se entre no espírito da coisa. A proposta de homenagear a Boca do Lixo e seus filmes excêntricos e inacreditáveis sempre é válida.

Mas, apesar da fonte de inspiração, Petter não apela para a sacanagem que vinha como uma constante em seus últimos trabalhos ("Arrombada" e "Vadias do Sexo Sangrento"): a nova musa do diretor, Ljana Carrion, aparece travestida como um dos pistoleiros, e a única mulher em cena, Lane ABC, está sempre com roupa.

Como atração à parte, NINGUÉM DEVE MORRER reúne várias caras conhecidas da cena underground e do cinema independente brasileiro, incluindo atores já conhecidos do cinema de Baiestorf (Gurcius, Ljana, Lane, Elio Coppini, Coffin Souza, Jorge Timm) e participações especiais de Cristian Verardi, Insekto e mais uma trupe de malucos de várias partes do Brasil.


Nesses tempos inglórios em que o cinema independente brasileiro tem descambado para um experimentalismo chatíssimo, sempre resta a esperança de aguardar com ansiedade pela próxima loucura (sem efeito de drogas) de Petter Baiestorf.

ATUALIZAÇÃO (18/12/2009):
Acabo de receber a notícia de que o Baiestorf, através do Gurcius, "uplodeou" o filme no YouTube, dividido em três partes, conforme vocês podem ver abaixo. Agora sim que ninguém deve perder!!!

NINGUÉM DEVE MORRER - Parte 1



NINGUÉM DEVE MORRER - Parte 2



NINGUÉM DEVE MORRER - Final

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Outros filmes que você infelizmente NÃO vai ver num cinema perto de você


AVENTURAS DE UM CAÇADOR (2003, Recife - PE)

Dirigido pelo auxiliar de enfermagem recifense José Manoel, "Aventuras de um Caçador" dá uma idéia de como seriam os filmes de Simião Martiniano ou Seu Manoelzinho se eles tivessem uma produção melhorzinha e, principalmente, edição feita no computador: embora visualmente a obra seja caprichada, a falta de história para contar, as idas-e-vindas sem necessidade e as interpretações exageradas dos atores amadores lembram que estamos diante de um legítimo exemplar do "Cinema de Bordas".

A história acompanha as aventuras de um jovem chamado André, que se embrenha na mata para procurar o pai que ele nunca conheceu, mas sabe que é caçador. No seu encalço estão dois presidiários que ganharão a liberdade caso consigam capturar o rapaz. Todos estes personagens acabam cruzando com o caçador do título. E o "quase longa-metragem" de 55 minutos fica nisso, apenas registrando as inúmeras andanças dos personagens pela mata, registrando sotaques e hábitos bem característicos da região em que foi produzido.

"Aventuras de um Caçador" tem algumas cenas involuntariamente hilárias, como o reencontro entre pai e filho no meio do bosque. Quando o garoto diz que procura pelo pai caçador que se chama Fulano e tem uma mãe chamada Beltrana, o outro responde: "Me chamo Fulano e minha esposa é a Beltrana... Mas tem muitos Fulanos e Beltranas no mundo". Meros dois segundos depois, o caçador finalmente recebe alguma iluminação divina e então se rende: "Mas agora eu reconheço você como meu filho!".

Em dois momentos, ainda, personagens diferentes vêem-se em dificuldades por picadas de aranha-caranguejeira e de cobra venenosa. O primeiro fica caído no chão gritando incontáveis "Ai meu Deus" (pelo menos uns 30), e o segundo acaba cego (???) após a picada e, encostado a uma árvore, murmura sem um pingo de emoção: "Socorro, tou cego... Fui mordido de cobra! Socorro!". hahahaha.

Momentos como estes tornam o filme até divertido, mas é inútil tentar acompanhar a história, já que não acontece muita coisa (apesar das várias ameaças de que haverá algum conflito violento entre os personagens, conflito esse que nunca vem), e a conclusão apenas confirma o nada.



O RICO POBRE (2002, Mantenópolis - ES)


Tentar analisar um filme do folclórico Manoel Loreno, o "Seu Manoelzinho", como se fosse um filme comum é pura perda de tempo. Com lapsos temporais, edição tosca, personagens que aparecem e desaparecem e história e diálogos improvisados na hora, suas obras são quase surreais, além de bastante divertidas na sua ingenuidade e falta de recursos - Seu Manoelzinho não teria as menores condições técnicas e financeiras de fazer filmes, mas os faz, e só por isso eles já são obrigatórios.

Ele é fã de filmes de western (já fez os seus próprios, entre eles o cult "O Homem Sem Lei"), mas este "O Rico Pobre" é a sua tentativa de fazer uma comédia dramática no estilo Chaplin ou Mazzaropi, ancorada somente no seu carisma como protagonista. Manoelzinho interpreta um pobretão que vive num barraco com a esposa (muito mais jovem que ele) e com dois filhos pequenos. Certo dia, quando vai à cidade para comprar comida, resolve gastar o único dinheiro que possui num bilhete de loteria, e ganha a "fortuna" de R$ 300 mil. Feliz com a reviravolta, ele resolve queimar o barraco e todos os seus antigos pertences para comprar uma fazenda. Mas, acidentalmente, acaba queimando o bilhete premiado entre as tralhas!

É perceptível a improvisação de praticamente todas as situações, já que Manoelzinho se desloca pelo cenário falando o que bem quer, saindo de cena, voltando para a cena e deixando todos os outros "atores" completamente perdidos com o que parece inventar na hora. Lá pelas tantas, o que era comédia se transforma em filme de bangue-bangue, com o protagonista sacando seu revólver para enfrentar a polícia. Estes estão entre os momentos mais bizarros do cinema do mítico Loreno: mesmo tomando tiros à queima-roupa dos policiais, seu personagem não morre em momento algum!

Como é inútil tentar analisar o filme de uma forma convencional, o negócio é relaxar, munir-se de um pouco de paciência (pois as situações repetitivas tornam os 56 minutos mais longos do que realmente são) e dar muita gargalhada com a edição que faz sumir/aparecer pessoas em cena, com os "figurantes" que passam o tempo inteiro olhando para a câmera e com os cenários toscos que lembram uma espécie de "Dogville" nada intencional (o barraco do protagonista são quatro varas com um pedaço de lona em cima!).

Quem conhece o trabalho do Seu Manoelzinho diz que o filme foi um sucesso e já tem até remake assinado pelo próprio...

Veja uma entrevista com Seu Manoelzinho




O FAROL (2007, Pedralva - MG)

Eu estava ansioso para ver "o retorno de Manjuba", já que este curta-metragem é escrito, dirigido e estrelado pelo mesmo Francisco Caldas de Abreu Jr. que fez o engraçadíssimo "A Dama do Lago" (onde interpretava o impagável Manjuba). Pena que este outro curta é bem sem graça. Em compensação, as interpretações forçadas, a edição (ou inexistência dela) e a falta de intimidade com a câmera estão ainda mais evidentes do que no outro filme.

A trama parte de uma "lenda urbana" da cidade do cineasta: um farol misterioso que aparece na estrada à noite assustando motoristas e pedestres. Após intermináveis "cenas de arquivo", mostrando um baile de Carnaval e uma procissão de Corpus Christi na cidade (estas últimas trazem até a legenda com a data e a hora da filmagem, que o diretor esqueceu de tirar na hora de gravar!!!), três personagens, entre eles um interpretado por Francisco (vamos continuar chamando-o de Manjuba), começam a confabular sobre o tal farol e resolvem investigar o mistério.

O resto do curta acontece praticamente apenas na estrada, com Manjuba e seu amigo dirigindo um Fusquinha de uma cidade a outra para "entrevistar" pessoas e conhecer mais sobre a lenda do farol (com direito a cenas em preto-e-branco num flashback!). Tudo em clima de comédia involuntária, é claro.

Por mais que estes filmes feitos nos cafundós do Brasil sejam toscos e mal-feitos, eles continuam exercendo um estranho fascínio em quem gosta de cinema, como eu. Talvez porque imortalizem a paixão pelo cinema de um grupo ou comunidade, que dribla a falta de recursos (no caso de "O Farol", esta falta de recursos é gritante) e lança seu filme de qualquer jeito. "O Farol" pode até ser pior que "A Dama do Lago", mas me deixou curioso para conhecer outras pérolas do Francisco Caldas de Abreu Jr.



O SOCO SILENCIOSO (2009, São Leopoldo - RS)


Após dois filmes de horror ("Massacre Cirúrgico" e "Onde as Coisas Cruéis Vivem"), meu conterrâneo gaúcho Lucas Moreira ataca no cinema experimental com o curta-metragem "O Soco Silencioso", uma fotomontagem (feita com dezenas de fotografias em preto-e-branco) de 15 minutos de duração. A principal inspiração foi o clássico curta francês "La Jetée", dirigido por Chris Marker em 1962, e que explorava uma trama de viagens no tempo também utilizando fotografias em preto-e-branco.

Tecnicamente, "O Soco Silencioso" é belíssimo. O curta narra uma troca de diálogos meio aleatórios entre dois homens num quarto escuro, e o tom cada vez mais agressivo da conversa logo evolui para o que se espera: um deles pede para que o outro decepe o seu braço com uma serra. E assim... a história termina!

Talvez este seja o grande defeito do trabalho de Lucas: conquista o espectador pelo visual acachapante, pela música hipnótica e pelo tom dos diálogos entre as duas únicas figuras em cena, mas termina sem explicar ao que veio, deixando margem para várias interpretações (a dupla matou alguém e sofre uma crise de consciência? um representa o alter-ego do outro? ou é apenas blablabla filosófico mesmo?), mas sem dar muitas pistas e elementos para que qualquer associação possa ser feita.

Trata-se de um trabalho bastante difícil e diferente, e só por isso já merece ser conhecido. Inclusive fico imaginando a trabalheira para fazer, compor e editar todas as fotografias no formato de um curta-metragem. Só fiquei boiando mesmo na narrativa; talvez uma historinha mais convencional e com menos simbolismos deixasse o curta mais acessível.



MANGUE NEGRO (2008, Guarapari - ES)


O clássico dos clássicos do cinema independente brasileiro recente. O filme que todo cineasta de bordas quer fazer quando crescer. Tanto que eu brinquei com o fato de o meu filme amador e toscão "Patricia Gennice" ter sido exibido antes de "Mangue Negro" na mostra do Itaú Cultural: é a mesma coisa que uma bande de garagem ser convidada para abrir um megashow dos Beatles ou dos Rolling Stones!

Escrito e dirigido pelo gente-fina Rodrigo Aragão, que também é técnico em efeitos especiais, "Mangue Negro" recria alguns dos melhores momentos de filmes como "Fome Animal", "Evil Dead" e as produções de mortos-vivos de George A. Romero, porém num cenário tipicamente brasileiro (um mangue no interior do Espírito Santo), e com personagens tipicamente brasileiros. Esta, acredito, é a grande qualidade e principal virtude do filme do Aragão: seus personagens são gente comum como uma velha benzedeira e um catador de caranguejos, personagens que não vemos nos filmes de terror "normais" nem nas imitações destes.

Como todo bom filme de mortos-vivos que se preze, "Mangue Negro" mostra uma contaminação zumbi que se espalha pelo mangue, transformando pescadores de uma comunidade pobre em monstros devoradores de carne humana. O filme se desenvolve através de várias linhas narrativas para acompanhar as situações envolvendo diferentes personagens (como se fossem episódios dentro de uma trama maior), até que eles se cruzam e passam a lutar juntos pela sobrevivência.

Mas o fio condutor da narrativa é o amor platônico entre Luís (Walderrama dos Santos) e a lavadeira Raquel (Kika de Oliveira), que finalmente se vêem muito próximos quando ele começa a dizimar os zumbis com sua machadinha para proteger a amada.

Repleto de gosma e com banhos de sangue (literalmente) no protagonista, lembrando os bons tempos de "Evil Dead" e "Fome Animal", o filme conta ainda com maquiagens e efeitos especiais de primeira linha, que colocam a produção um passo acima de qualquer outro filme "de bordas" apresentado no Itaú Cultural. É coisa fina mesmo, profissional, digna dos melhores momentos do gênero, com cenas de carnificina brilhantemente sublinhadas pela belíssima trilha sonora original da Orquestra Sinfônica do Espírito Santo.

Se "Mangue Negro" tem um defeito, este é uma quebra no ritmo no ato final, quando uma cena na casa de Dona Benedita, a benzedeira, se arrasta muito mais do que deveria, retardando os ataques de zumbis. Mas é um problema que se esquece facilmente quando o sangue volta a jorrar, e o filme termina de forma fantástica, na hora certa, comprovando que Aragão, além de mestre dos efeitos especiais, também sabe direitinho como contar uma história!

Em uma única palavra: IMPERDÍVEL.

Veja o trailer de MANGUE NEGRO

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Filmes que você infelizmente NÃO vai ver num cinema perto de você


E foi um sucesso de público e crítica a mostra Cinema de Bordas, realizada durante a semana que passou no Itaú Cultural, em São Paulo, com curadoria dos professores e pesquisadores Bernardette Lyra e Gelson Santana. Entre a quarta-feira, 22, e o domingo, 26 de abril, foram exibidos 17 filmes vindos de todas as partes do Brasil, praticamente de um extremo a outro - da minha longínqua cidade de Carlos Barbosa, no Rio Grande do Sul, até Manaus, no Amazonas.

Um grande e interessado público participou das sessões realizadas em plena Avenida Paulista, valorizando um tipo de cinema extremamente popular que, infelizmente, você não vai ver num cinema perto de você.

Eu mesmo fui quase todos os dias para conferir os outros filmes, embora tenha perdido alguns. Antes de passar a um breve relato do que vi nesta semana de Cinema de Bordas, vou puxar a brasa para o meu assado: na tarde de domingo, o cinema do Itaú Cultural ficou lotado para a exibição de meu primeiro longa-metragem, a comédia romântica PATRICIA GENNICE, filmada em 1998 e reeditada em 2008. A "director's cut" foi exibida pela primeira vez em São Paulo!

Inicialmente, fiquei meio envergonhado por mostrar este filme a um público paulista, pois eu não sabia como iriam reagir diante de uma história bastante regional (que faz mais sentido para quem conhece ou mora na cidade de Carlos Barbosa, onde foi filmado). Além disso, a mostra tinha exibido algumas produções muito bem-feitas nos dias anteriores, e a minha era tão tosca que dava ate pena.

Mas, quem diria, o público aparentemente curtiu. Pelo menos riram do começo até o fim dos 57 minutos da projeção, e aplaudiram fortemente duas vezes ao final. Me senti na entrega do Oscar!

Além disso, num daqueles momentos inesperados, o pessoal do Itaú Cultural resolveu aproveitar que eu era um dos únicos "diretores" presentes na exibição de seu próprio filme, e me passaram um microfone para responder perguntas da platéia. Qual não foi minha surpresa quando umas 50 pessoas sentaram-se e ficaram fazendo perguntas e ouvindo as respostas, ao invés de se mandar do recinto... E isso que foram uns 20 minutos de bate-papo, onde pude esmiuçar o planejamento e realização do filme e fazer propaganda das minhas outras obras, além de vender meus DVDs.

E me deixou realmente emocionado a presença de algumas celebridades entre o público, como o diretor da Boca do Lixo Luiz Gonzaga dos Santos (que fez "Patty, A Mulher Proibida", com Helena Ramos, e elogiou publicamente o PATRICIA GENNICE), e o amigo Eduardo Aguilar, diretor de curtas profissionais e elogiados como "Lourdes - Um Conto Gótico de Terror" e "Dias Cinzentos", além de outros queridos amigos e amigas de São Paulo e dos meus pais.

Resumindo: um dia de glória para a pequena Necrófilos Produções Artísticas e seus filmes feitos em VHS com 200 reais!

Vamos agora aos colegas de mostra:


HORROR CAPIAU (2007, São Paulo - SP)


Alegadamente filmado num intervalo de 20 minutos de um outro trabalho que a equipe estava desenvolvendo, este curta-metragem explora o filão "redneck exploitation", bastante comum no cinema norte-americano ("O Massacre da Serra Elétrica", alguém?), mas praticamente uma novidade aqui no Brasil.

Dirigido por Dimitri Kozma, mostra um caipira aparentemente inocente (Raphael Borghi) saindo para uma incontrolável onda de assassinatos nas redondezas da sua fazenda, enquanto um cego masoquista (Rubens Mello) fica esfolando a própria pele com uma agulha. No final, os dois personagens se cruzam e é explicada a conexão entre eles.

Simples e direto, "Horror Capiau" só peca mesmo pela falta de gore, já que não aparece nem uma mísera gotinha de sangue falso (compreensível, quando se descobre que o curta inteiro foi gravado em apenas 20 minutos!!!). Mas é bem legal, com alguns inusitados ângulos e movimentos de câmera, e a presença de dois atores vistos em "Encarnação do Demônio", Rubens Mello e Lenny Dark (que atualmente é esposa do próprio).

O curta inteiro está disponível no YouTube, e a curiosidade é o fato de haverem duas versões: esta chamada "Horror Capiau" foi dirigida e editada pelo próprio Dimitri, mas o ator Mello fez sua própria montagem, chamada "Demência" e com várias diferenças, também disponível no Youtube.

Assista o curta HORROR CAPIAU




O ASSASSINATO DA MULHER MENTAL (2008, São Paulo - SP)

Um ótimo curta-metragem escrito e dirigido por Joel Caetano, que já havia feito o divertido "Minha Esposa é um Zumbi". Com uma equipe formada basicamente por familiares e pouquíssimos recursos, ele conseguiu uma façanha digna de respeito: contar uma história de super-heróis brasileiros que convence, com uma estrutura narrativa bem parecida à da graphic novel "Watchmen", mas 2h30min mais curta que o filme norte-americano dirigido pelo "visionário" Zack Snyder.

O curta mostra uma equipe de super-heróis brasileiros formada pelo Hiper-Homem (o próprio Joel), pela sua amada Mulher Mental (Mariana Zani, esposa do diretor) e pelo violento Bruma (Danilo Baia, o "Danny Trejo paulista", aqui numa versão nacional do Rorschach de "Watchmen").


A história, como nos quadrinhos escritos por Alan Moore, começa com o assassinato da Mulher Mental, anos após a aposentadoria forçada do grupo (através de "programas de TV" que vão interrompendo a narrativa, ficamos sabendo como os heróis se reuniram e porque se separaram). Bruma e o Hiper-Homem investigam o crime e descobrem uma trama mirabolante que envolve a Floresta Amazônica, clones e ótimos efeitos especiais, ainda mais considerando que esta é uma produção barata feita em casa.

O fato de o diretor e roteirista Joel ser apaixonado por quadrinhos fica evidente ao longo de todo o trabalho, que traz algumas divertidas montagens fotográficas, como a recriação da clássica capa da Action Comics com o Superman erguendo um automóvel nos braços (aqui é o Hiper-Homem erguendo uma velha Rural!!!). Vale a pena conhecer este impressionante trabalho, e no fim dá até vontade de ver novas aventuras dos super-heróis brasileiros...

Veja o trailer de O ASSASSINATO DA MULHER MENTAL




A DAMA DA LAGOA (1997, Pedralva - MG)

Ah, esses diretores-amadores maravilhosos e seus fantásticos filmes toscos... O diretor, roteirista e "astro" Francisco Caldas de Abreu Jr. foi o responsável por uma das grandes surpresas da mostra, um filme simplesmente divertidíssimo em seus defeitos e na sua ingenuidade.

Trata-se de uma história de crime e vingança sobrenatural, realizada de maneira inclassificável. Francisco aparece como um agricultor chamado "Manjuba", e simplesmente rouba o filme ao repetir, a cada cinco minutos, todos os acontecimentos que se desenrolaram até então (ele faz isso umas quatro vezes). E ele ainda tem ataques de gagueira que foram mantidos na edição, como quando Manjuba alega que um amigo teve uma "alu... aluci... aluci... alucinação".

"A Dama da Lagoa" é aquele tipo de filme feito mais no improviso do que com preocupações técnicas ou narrativas. Por exemplo, quando uma atriz coadjuvante entrega um diário à polícia, e esquece o único texto que deveria falar no filme inteiro, simplesmente dá uma risadinha sem jeito e espera muda até que o outro ator a ajude, improvisando o restante do diálogo. E é justamente por momentos como estes que o curta-metragem (de apenas 20 minutos) é tão divertido, valorizando sotaques e pessoas que jamais teriam chance no "cinemão" oficial.

Ao que parece, Francisco e sua equipe moram beeeeem no interior de Minas Gerais, onde o sujeito é incomunicável por e-mail (que não possui) e até por telefone. Em uma entrevista, a curadora Bernardette Lyra revelou a dificuldade para fazer contato com ele, quando, ao ligar para sua casa, atendeu uma mulher:

- Eu poderia falar com o cineasta Francisco Caldas de Abreu Jr.?

- Ih, ele tá na roça, só volta à tarde.

- Faz tempo que tento contato por esse telefone...

- É que aqui, quando chove, o telefone fica um tempo sem funcionar.




A CAPITAL DOS MORTOS (2008, Brasília - DF)


Quando se falava em "filmes nacionais independentes com zumbis", minha única lembrança era o média-metragem trash "Zombio", que o catarinense Petter Baiestorf dirigiu em 1999. Isso até agora, claro, pois nos últimos anos foram lançadas mais 4 (!!!) produções brasileiras com mortos-vivos.

"A Capital dos Mortos", do brasiliense Tiago Belotti, é uma das melhores, aliando doses de humor e personagens simpáticos ao sangrento massacre realizado pelos mortos-vivos em pleno Distrito Federal. A bem da verdade, eu já havia visto o filme em DVD, mas é outra coisa você conferir numa sala de cinema, rodeado por pessoas com reações bem diferentes às cenas - e por isso é uma pena que este filme não vá passar num cinema perto de você...

O longa parte de uma suposta profecia escrita por Dom Bosco no final do século 19, sobre o apocalipse e seu início justamente em Brasília. A partir de então, o filme só vai surpreendendo mais e mais o espectador, seja por já começar com um casal de lésbicas se beijando, seja pela impressionante visão de mortos-vivos bem-feitinhos cambaleando diante de conhecidos pontos turísticos de Brasília - inclusive a Esplanada dos Ministérios!

A história é aquela tradicional dos filmes de George A. Romero (fartamente citados o tempo inteiro), mas com personagens carismáticos e engraçados, como o rapaz chato que fica provocando o amigo enquanto jogam uma partida de futebol no videogame (meu irmão faz exatamente a mesma coisa!). E quando o massacre começa é pra valer, com muitas cenas de banquetes de carne humana, tripas e órgãos arrancados, cabeças explodidas com tiros e até uma zumbi peladona (frente e verso).

Uma grata surpresa que merece ser conhecida, principalmente pelos fãs do gênero, principamente por duas participações geniais: uma de José Mojica Marins, e a outra uma ponta "além-túmulo" do falecido cineasta trash brasiliense Afonso Brazza (em cena retirada de um dos seus filmes).

Veja o trailer de A CAPITAL DOS MORTOS




RAMBÚ 4 - O CLONE (2008, Manaus - AM)

O "Rambo da Amazônia" Aldenir Coty já virou figura folclórica em todo o Brasil, tendo ganhado inclusive uma engraçada reportagem em rede nacional via Fantástico. Pode-se dizer que a persona do "Rambú", uma versão amazonense do famoso personagem de Sylvester Stallone, é muito mais divertida que o filme em si. Até porque esta comédia dirigida por Júnior Castro é bem bobinha, com um humor sem graça estilo "Zorra Total" - incluindo muitaaaaaas piadas com homossexuais.

A trama é uma bobagem sem pé nem cabeça, envolvendo um clone do Rambú (tão feio quanto o original, diga-se de passagem) e um travesti maléfico, que morreu no filme anterior, mas aqui é ressuscitado por um pai-de-santo. Eles seqüestram o pajé, líder espiritual de Rambú, na tentativa de conquistar a Amazônia, e o herói parte para destruir seus inimigos num festival de inacreditáveis cenas de pancadaria e tiroteios - acompanhados por uma trilha sonora inqualificável.


Folclórico e impagável, é um filme que vale a pena conhecer, até porque Coty leva a coisa muito a sério, ao contrário de todos os outros envolvidos. E é só o Rambú entrar em cena que as risadas estão garantidas, principalmente durante as inúmeras cenas de ação improvisadas, com sonoplastia exagerada remetendo aos filmes de pancadaria de Hong-Kong dos anos 70.

Também há inúmeros momentos impagáveis, como uma perseguição de lanchas que é surpreendente para um filme amador (e também muito trash porque Rambú, após derrubar seus rivais no rio, imediatamente joga um colete salva-vidas para que os atores não se afoguem!) e a cena em que o herói sai debaixo d'água em câmera lenta para disparar uma flechada num inimigo.

Veja o trailer de RAMBÚ 4 - O CLONE



(CONTINUA NUMA FUTURA ATUALIZAÇÃO!)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Mostra Cinema de Bordas em SP


Começou oficialmente nesta quarta-feira a Mostra Cinema de Bordas, que o Itaú Cultural promove até o domingo, 26 de abril, reunindo produções independentes e/ou amadoras vindas de todas as partes do Brasil, e exibindo-as em pleno glamour da Avenida Paulista, em São Paulo.

A importância de uma mostra como essa é algo indescritível: para o público, é uma oportunidade única (e GRATUITA) para ver filmes vindos de diferentes partes do país e realizados à margem do cinemão comercial, de maneira improvisada e sem recursos, por cineastas auto-didatas que, na "vida real", são estudantes, jornalistas, donos de locadora e até camelôs e agricultores; para os próprios realizadores, também é uma oportunidade única de mostrar seus trabalhos num espaço nobre e com toda a divulgação, já que o grande problema de quem faz filme independente é justamente a distribuição.

Eu também estarei presente na Mostra com meu primeiro longa-metragem, uma comédia romântica de 1998 chamada PATRICIA GENNICE, que tem 57 minutos e conta a história improvável de um jovem que marca encontro com a garota mais cobiçada de uma pequena cidade, mas nunca consegue chegar à casa dela por ironias do destino - uma espécie de "Depois de Horas", do Scorsese, em versão adolescente.

Trailer de PATRICIA GENNICE


PATRICIA GENNICE será exibido no encerramento do Cinema de Bordas, às 17 horas do domingo, 26 de abril, antecedendo a exibição do elogiadíssimo filme de zumbis MANGUE NEGRO, de Rodrigo Aragão, vindo diretamente do Espírito Santo. Além deste, outros três filmes nacionais com mortos-vivos participam da Mostra: ERA DOS MORTOS, A CAPITAL DOS MORTOS e ZOMBIO.

Segue a programação completa, e reforço o convite para a galera de Sampa conferir essa mostra fantástica e dar o devido reconhecimento a quem consegue fazer muito com quase nada:

QUINTA-FEIRA, 23 de abril
17 horas:
- Insector Sun: O Guardião da Terra/A Hora da Verdade (dir: Chris Lee, SP, 2008, 40 min)
- Cocô Preto (dir: Marcos Bertoni, SP, 2008, 16 min)
- Era dos Mortos (dir: Rodrigo Brandão, MG, 2007, 42 min)
20 horas:
- O Assassinato da Mulher Mental (dir: Joel Caetano, SP, 2008, 20 min)
- A Capital dos Mortos (dir: Tiago Belotti, DF, 2008, 87 min)


SEXTA-FEIRA, 24 de abril
17 horas:
- O Soco Silencioso (dir: Lucas Moreira, RS, 2009, 15 min)
- Rambú IV: O Clone (dir: Júnior Castro, AM, 2008, 80 min)
20 horas:
- Aventuras de Um Caçador (dir: José Manoel, PE, 2003, 55 min)
- Um Rico Pobre (dir: Manoel Loreno aka Seu Manoelzinho, ES, 2002, 56 min)


SÁBADO, 25 de abril
17 horas:
- A Valise Foi Trocada (dir: Simião Martiniano, PE, 2007, 90 min)
20 horas:
- Desaparecidos (dir: Antonio Marcos Ferreira, PR, 2006, 75 min)
- Zombio (dir: Petter Baiestorf, SC, 1999, 45 min)


DOMINGO, 26 de abril
17 horas:
- O Farol (dir: Francisco Caldas de Abreu Jr., MG, 2007, 29 min)
- Patrícia Gennice (dir: Felipe M. Guerra, RS, 1998, 57 min)
20 horas:
- Mangue Negro (dir: Rodrigo Aragão, ES, 2008, 100 min)

Entrada franca - ingresso distribuído com meia hora de antecedência


SERVIÇO
Itaú Cultural - Sala Itaú Cultural
Avenida Paulista 149 - Paraíso - São Paulo SP
[próximo à estação Brigadeiro do metrô]
informações (11) 2168 1777