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terça-feira, 23 de novembro de 2010

THE LAST HUNTER (1980)


Existem duas formas de ver THE LAST HUNTER, do italiano Antonio Margheritti.

A primeira forma é como filme de ação casca-grossa sobre o Vietnã, com o bônus de trazer tanto sangue e mutilações on-screen que até parece filme de horror - veja bem, isso décadas antes de Sylvester Stallone chutar o pau da barraca com o violentíssimo "Rambo 4"!

A segunda forma é como um incrível filme "anti-guerra" sobre a estupidez de confrontos como o do Vietnã, repleto de ação, sim, mas também momentos alegóricos que refletem a loucura bélica.


E eu sou tão cara-de-pau que não tenho vergonha de colocar THE LAST HUNTER como um dos melhores filmes sobre o Vietnã já feitos, numa mesma lista com os clássicos "O Franco-Atirador" e "Apocalypse Now", e várias posições acima de obras consagradas (e, na minha opinião, superestimadas) como "Platoon" e "Pecados de Guerra".

THE LAST HUNTER saiu no Brasil, nos primórdios do VHS, com um título no mínimo esquisito: "Apocalypse 2".

Era, claro, uma tentativa de linkar o filme com o clássico do Coppola, "Apocalypse Now", com o qual THE LAST HUNTER até tem algumas semelhanças.


Outra grande fonte de inspiração foi "O Franco Atirador", de Michael Cimino. Não por acaso, o título italiano original do filme de Margheritti era "Cacciatore 2" (O Franco-Atirador 2), posteriormente trocado para "L'Ultimo Cacciatore" (O Último Caçador) para escapar de problemas com direitos autorais.

De Coppola, o roteiro de Dardano Sacchetti "emprestou" a narrativa episódica, em que o personagem principal, tal qual um Martin Sheen macarrônico, recebe uma missão secreta, mas passa o filme inteiro às voltas com outros problemas e experiências traumáticas, até finalmente chegar ao seu objetivo, no final, transformado num bagaço, meio vivo, meio morto.


"Apocalypse Now" também influenciou o personagem do Major Cash (John Steiner), um militar maluco e filosófico muito parecido com o Major Kurtz de Marlon Brando.

Já de Cimino, THE LAST HUNTER tirou todo o foco "War is hell" e, principalmente, as cenas cruéis de violência e de tortura perpetradas pelos vietcongues contra os inimigos ianques.

(Sem contar que um figurante com faixa amarrada na testa parece um clone do personagem de Christopher Walken em "O Franco-Atirador"!)


Margheritti, um ótimo diretor que infelizmente só começou a ser reconhecido depois de morrer, filmou sua sangrenta aventura de guerra nas Filipinas. Reconhecendo suas inspirações, usou o mesmo local em que Coppola filmara "Apocalypse Now" anos antes.

O início é num bordel de Saigon, e lembra muito o clima de "O Franco-Atirador". Ali, encontramos nosso protagonista, o capitão Henry Morris (o saudoso David Warbeck, brilhante), ao lado de um amigo transtornado que balbucia doideiras, visivelmente afetado pela guerra.

Após uma discussão estúpida, o amigo louco dá um tiro na fuça de outro soldado e explode os próprios miolos - uma cena realista, com direito ao clarão do disparo dentro da boca do sujeito, anos antes de cena parecida em "Clube da Luta".


Morris nem tem muito tempo para assimilar a tragédia, pois os vietcongues atacam, explodindo um campo de pouso ao lado do bordel (ataque mostrado através das cenas com miniaturas que Margheritti adorava filmar). O próprio puteiro vai para os ares, e o herói é o único sobrevivente.

Afetado pelo incidente, o capitão resolve voluntariar-se para uma missão suicida, cujo alvo só ficamos sabendo na cena final - explodir uma estação pirata de rádio que vem transmitindo mensagens pacifistas aos soldados norte-americanos, convencendo-os a parar de lutar uma guerra "já perdida".

Para realizar sua missão, ele recebe a escolta de um grupo formado pelo sargento George Washington (Tony King, que interpretou um personagem de mesmo nome no clássico "Os Caçadores de Atlântida"), pelo cubano Carlos (Bobby Rhodes, de "Demons"), pelo soldado Stinker Smith (Edoardo Margheriti, filho do diretor) e por uma correspondente de guerra, Jane Foster (Tisa Farrow, de "Zombie").


Durante o restante do filme, o grupo percorrerá a selva enfrentando todo tipo de perigos e adversidades, de bebês-bomba a soldados americanos convencidos a enfrentar seus próprios colegas pela tal rádio pirata; de armadilhas mortais espalhadas pela selva a cobras venenosas; de ataques-surpresa do inimigo ao insano Major Cash.

Apesar de soar drasticamente "anti-guerra", THE LAST HUNTER não foi feito como tal. Segundo o filho de Antonio, Edoardo, que além de ator foi assistente do diretor, o objetivo do pai não era fazer uma história política ou contrária à Guerra do Vietnã, mas apenas um filme divertido.


E divertido o filme é, sem sombra de dúvidas. Principalmente a seqüência toda que se passa na base-caverna do insano Major Cash, onde foi montado até um bar com danceteria e fliperama para os soldados - tão enlouquecidos, pela guerra, pelo isolamento e pelo consumo de drogas, que consideram a coisa mais normal do mundo estuprar a pobre correspondente de guerra!

Cash, que é uma mistura do Major Kurtz com o personagem de Robert Duvall em "Apocalypse Now", passa os momentos de folga ouvindo uma trilha sonora de tiroteios e explosões que sai de alto-falantes em seus aposentos. No auge da loucura, ele manda um de seus soldados enfrentar todo um batalhão inimigo somente para pegar um coco no meio da selva - "brincadeira" que aparentemente já havia sido feita outras vezes, pois o tempo do sujeito é cronometrado para ver se ele conseguirá "bater seu recorde". Ver o pobre soldado desviando de tiros e explosões para pegar o coco lembra bastante a cena do surfe entre bombas no filme de Coppola.


Porém THE LAST HUNTER se caracteriza mesmo é pelo fator exploitation. A violência é forte e sempre presente. Margheritti faz questão de mostrar a fragilidade dos corpos dos soldados ao rasgá-los em pedaços, jogando na cara do espectador o resultado insano de uma guerra estúpida.

No cardápio de mutilações, há de tudo um pouco: tiro no olho, cadáver decomposto com as tripas pra fora, sujeito rasgado no meio por uma armadilha, pessoas em chamas, fraturas expostas e membros decepados, tudo representado com uma crueza impactante. O realismo das feridas e mutilações é garantido pela presença de Massimo Giustini na equipe de efeitos especiais - o mesmo responsável pela maquiagem realista de "Cannibal Holocaust".


Porém a cena mais incômoda do filme, que remete ao realismo brutal de "O Franco-Atirador", mostra Morris sendo aprisionado pelos vietcongues numa cela parcialmente submersa num rio imundo, onde os prisioneiros são atacados por ratos famintos. Seu colega de cela é um outro soldado com o rosto parcialmente devorado pelos roedores, e o próprio herói é ferido com golpe de baioneta para que o sangue possa atrair os animais.

É preciso dar um desconto para a conclusão absurda, em que revela-se que a responsável pelas mensagens "subversivas" é uma pessoa ligada ao passado do próprio Morris (muita coincidência para ser verdade). Mas é coisa típica da italianada, que não consegue falar sério o tempo todo e precisa jogar alguma bobagem nos filmes.


Além de todos os pontos positivos já elencados, eu não posso deixar de mencionar que THE LAST HUNTER traz um anti-herói imperfeito e com ações moralmente condenáveis. Embora numa primeira assistida o espectador simpatize com o Capitão Morris e seu heroísmo inabalável (principalmente por causa do ator gente-boa), é pensando no filme e na trama, depois, que você começa a perceber como o "herói" de David Warbeck é, na verdade, um canalha, daquele tipo que leva seus homens à morte por uma missão imbecil e que só pensa em seguir suas ordens, não importa quem tenha que matar (afinal, "missão dada é missão cumprida", como vimos em "Tropa de Elite").

Logo no começo, por exemplo, Morris aponta sua arma para um piloto do helicóptero, forçando-o a arriscar-se sobrevoando uma área de bombardeio. Durante um ataque-surpresa dos vietcongues a uma base norte-americana, ele só pensa em salvar o próprio pescoço, abandonando seus homens ao próprio destino. E a própria missão do "herói" não tem nada de heróica, pois representa a vitória do militarismo cego sobre o pacifismo!


Por essas e por outras é que sempre coloco THE LAST HUNTER na minha lista de obras-primas sobre a Guerra do Vietnã, e não tenho vergonha de compará-lo aos clássicos consagrados pela crítica, como Coppola e Cimino (certos críticos certamente teriam um treco ao ver Margheritti sendo citado na mesma frase que esses dois).

Sem contar que, como eu escrevi no começo, THE LAST HUNTER também funciona apenas como filme de ação casca-grossa sobre o Vietnã, com uma contagem de cadáveres tão alta que pode brigar de igual para igual com "Top Gang 2" pelo título de "filme mais violento de todos os tempos"!


PS 1: Este é o último trabalho do diretor de fotografia Riccardo Pallottini, que morreu num acidente de helicóptero durante as filmagens. Pallottini trabalhava com Margheritti desde os anos 60, e também fez filmes conhecidos de outros diretores, como "Matador Implacável", de Luigi Cozzi, e "Blindman", de Ferdinando Baldi.

PS 2: Cenas aéreas e de explosões foram reaproveitadas por Margheritti em seus dois filmes posteriores, "Tiger Joe - Escapando do Inferno" (1982) e "Tornado" (1983), que alguns consideram ser uma espécie de trilogia do diretor sobre a Guerra do Vietnã. O picareta Bruno Mattei também reaproveitou estas cenas (provavelmente sem pedir autorização) em seu clone de Rambo "Strike Commando - Comando de Ataque", de 1987.

Trailer de THE LAST HUNTER



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Apocalypse 2 (The Last Hunter / L'Ultimo
Cacciatore, 1980, Itália)

Direção: Antonio Margheritti (aka Anthony M. Dawson)
Elenco: David Warbeck, Tisa Farrow, Bobby Rhodes,
Tony King, Margit Evelyn Newton, John Steiner,
Massimo Vanni e Edoardo Margheritti.

domingo, 4 de janeiro de 2009

OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA (1982)


Em 1982, inspirado pelo sucesso de "Os Caçadores da Arca Perdida", de Steven Spielberg, o italiano Antonio Margheritti (1930-2002) resolveu fazer suas própria versão das aventuras de Indiana Jones - que, por sua vez, eram inspiradas nos exóticos seriados de aventura exibidas nas matinês dos cinemas norte-americanos durante as décadas de 40 e 50. Num período relativamente curto, entre 82 e 84, Margheritti rodou nada mais, nada menos do que três (!!!) aventuras baratas nas Filipinas, todas elas envolvendo caçadas a tesouros repletas de perigos e aventuras que fariam o próprio Spielberg ficar orgulhoso.

Dos três filmes - todos assinados com o pseudônimo do diretor, Anthony M. Dawson -, apenas o primeiro, OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA (1982), foi lançado no Brasil (no saudoso formato VHS, pela Look Vídeo); os demais são "Ark of the Sun God" (1983) e "Jungle Raiders/La Leggenda del Rubino Malese" (1984), e o leitor pode observar que até os títulos dos dois primeiros são, digamos, "inspirados" no sucesso dirigido por Spielberg. Isso sem mencionar o fato de Margheritti tentar criar uma ligação entre OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA e "Os Caçadores da Arca Perdida" através da mentirosa frase no pôster italiano de cinema, que dizia: "A grande aventura continua...". É, esses caras não tinham vergonha na cara!


Descontando o fato óbvio de que nenhuma das três aventuras chega aos pés de qualquer um dos filmes verdadeiros de Indiana Jones, ainda assim estas investidas de Margheritti nos filmes de "caça ao tesouro" são bastante divertidas, comprovando que tanto o diretor quanto seus roteiristas fizeram bem a lição de casa, copiando com maestria os lances de mistério, suspense e perigo das histórias do arqueólogo interpretado por Harrison Ford. Principalmente este primeiro filme, que, não satisfeito em "buscar inspiração" no sucesso de "Os Caçadores da Arca Perdida", ainda copia pelo menos três cenas na íntegra do filme de Spielberg!

O roteiro escrito por Tito Carpi (autor da maioria das amalucadas aventuras italianas daquela época) começa, como não poderia deixar de ser, durante a Segunda Guerra Mundial - afinal, o filme de Spielberg também se passa nesta época -, no ano de 1944, nas Filipinas. Dois colegas aliados, o soldado norte-americano Bob Jackson (interpretado por David Warbeck) e o oficial da Inteligência Britânica David Franks (John Steiner), se preparam para uma missão arriscadíssima: invadir uma base japonesa e eliminar um agente duplo traidor, Yamato.


Após uma série de tiros e explosões, eles descobrem que Yamato fugiu de avião levando consigo um misterioso baú. E, claro, roubam um segundo avião dos japas para perseguir seu alvo. Corta para cenas filmadas com miniaturas, bem ao gosto do diretor Margheritti (que também era um especialista em efeitos especiais), e o avião onde está Yamato acaba caindo bem no meio da selva. Como não há lugar para pousar, Jackson é obrigado a saltar de pára-quedas para perseguir o agente duplo, mas não consegue pôr as mãos no dito cujo: ele acaba morto, crivado por inúmeras setas venenosas disparados pelos agressivos índios da região (na primeira cena copiada de "Os Caçadores da Arca Perdida"), e o conteúdo misterioso do baú finalmente é revelado: trata-se da estatueta de uma serpente em ouro maciço.

Entretanto, Jackson não tem tempo para recuperar o artefato, pois ele também é atingido por um dos dardos dos índios e cai no rio, sobre um monte de galhos secos, sendo salvo da execução sumária por uma garota branca que vive entre os índios!

Um ano depois, nosso herói vive como soldado desertor e tenta esquecer aquela experiência de quase morte na selva. Mas é procurado pelo colega Jackson, que não revia desde a operação fracassada, e este lhe informa que ambos receberão uma bolada do governo inglês caso retornem para o local da queda do avião de Yamato e recuperem a serpente dourada, atualmente em poder da tal tribo - os Amoks. Os oficiais até explicam a necessidade de o artefato ser recuperado (para supostamente apaziguar os ânimos de outras tribos do país), mas a justificativa não convence e parece mais uma desculpa para que a dupla de heróis possa iniciar a tradicional caça ao tesouro.


E como complicação pouca é bobagem, também entram na trama um arqueólogo norte-americano, Greenwater (Luciano Pigozzi, creditado com o pseudônimo Alan Collins), que está em busca de um tesouro supostamente guardado pelos Amoks, e uma bela garota (Almanta Suska) procurando pela sua irmã gêmea, que desapareceu justamente naquela parte da selva - e, sim, é a tal garota branca que salvou Jackson da morte no início do filme!

Para piorar, os Amoks têm gente infiltrada por toda parte, e índios pouco pacíficos passam o filme inteiro atacando os heróis quando eles menos esperam - a cena mais absurdamente divertida é aquela em que um índio entupido de drogas alucinógenas ataca Jackson com um facão e resiste firme a uns 20 tiros, caindo morto apenas quando leva um balaço na cabeça, tipo zumbi do George Romero!


OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA atira para todos os lados na sua tentativa de imitar as aventuras fantásticas de Indiana Jones (até aquele momento, o personagem ainda não havia dado origem a uma série de filmes). Tem cenas de guerra, explosões e tiros; tem perseguições em aviões, veículos e até ônibus; tem caminhadas pela selva, ataques de animais venenosos (como cobras e tarântulas) e índios violentos; tem lanças, flechas e dardos envenenados; tem o clássico clichê de garota civilizada criada entre os índios e procurada pela família; tem traições a cada cinco minutos; tem sacrifícios humanos e rinha de galo (!!!), toques sobrenaturais e até uma caverna repleta de lava incandescente numa montanha que, na verdade, é um vulcão! Acho que, em matéria de clichês dos filmes de aventura, só faltou mesmo areia movediça e um lago infestado de jacarés (ou piranhas), pois o resto está tudo aí. Uma coisa é certa: como sofre um Indiana Jones italiano...

E nas outras duas cenas copiadas do filme do Spielberg, a mocinha é seqüestrada pelos Amoks bem no centro comercial da vila e levada enrolada dentro de um tapete, sendo seguida por Jackson (tipo aconteceu com Marion e Indiana Jones em "Os Caçadores da Arca Perdida"); finalmente, o herói e aprisionado e atirado, junto com a mocinha, dentro de um poço repleto de serpentes venenosas, que não fica nada a dever ao Poço das Almas do Spielberg (embora com bem menos cobras, já que o orçamento não permitia algo semelhante ao que fez Spielberg!).


Claro que OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA nunca tenta ser mais do que é: uma versão (ou seria cópia?) barata de "Os Caçadores da Arca Perdida", filmada em apenas quatro semanas e mais centralizada na ação e no improviso do que nos efeitos especiais milionários da produção norte-americana. A pobreza fica evidente principalmente nas cenas em que aviões e cenários são substituídos por miniaturas para serem explodidos. Num dos momentos mais constrangedores, um avião de carga que cai na selva é logo substituído pela carcaça de um velho teco-teco!!!

Na falta do dinheiro do filme de Spielberg, e da atuação imortal de Harrison Ford como Indiana Jones, sobram algumas ótimas cenas de ação e a química quase perfeita e bastante engraçada entre David Warbeck e John Steiner, como parceiros de aventura que vivem se cutucando - após salvar Warbeck de três nativos que estavam quase matando-o, Steiner resmunga, impaciente: "Mas não posso deixar você sozinho por cinco minutos?".

Pessoalmente, acho o neozelandês Warbeck (já falecido) um dos melhores "heróis de ação" do cinema italiano; ele é carismático e convence como clone de Indiana Jones, mesmo sem ser tão erudito quanto o dr. Henry Jones (já que aqui é um soldado metido a valentão, e não um arqueólogo aventureiro). Já Steiner, normalmente visto no papel de vilão, está bastante engraçado.


Embora o final deixe as portas escancaradas para novas aventuras arqueológicas de Bob Jackson e David Franks, é uma pena que o diretor Margheritti não os tenha trazido de volta numa outra aventura. Tanto David Warbeck quanto John Steiner voltariam, sob o comando do diretor, na segunda cópia de Indiana Jones, "Ark of the Sun God", feita no ano seguinte, mas infelizmente interpretando personagens diferentes e sem relação com os que caçaram a serpente dourada. Não que OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA tivesse potencial para virar franquia, mas seria divertido ver a dupla de heróis em mais aventuras.

E se a "relíquia arqueológica" da versão italiana é meio sem graça, chega a ser irônico o fato de "Indiana Jones e o Templo de Perdição", feito dois anos depois (1984), trazer várias semelhanças com a trama do filme de Margheritti: o arqueólogo norte-americano também procura uma relíquia bem sem graça (as pedras Sankara) junto a uma tribo de índios violentos (como os Amoks de Margheritti) que fazem sacrifícios humanos em lava incandescente (como no filme italiano).

Claro, as semelhanças param por aí. Mas dá uma bela idéia do que os pobres cineastas italianos, como Margheritti, poderiam fazer se tivessem um orçamento digno de Spielberg para filmar suas aventuras.

Trailer de OS CAÇADORES DA SERPENTE DOURADA



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Il Cacciatori del Cobra d'Oro/The Hunters
of the Golden Cobra (1982, Itália)

Direção: Anthony M. Dawson (Antonio Margheritti)
Elenco: David Warbeck, John Steiner, Almanta
Suska, Alan Collins (Luciano Pigozzi), Protacio
Dee, Rene Abadeza e Domiziano Arcangeli.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

PÂNICO (1976)


Um cientista contaminado por um vírus transforma-se em um monstro assassino que sai matando pelas ruas de uma pequena cidade. Quantas vezes você já viu este argumento antes, com pequenas variações (na profissão do contaminado, no tipo de contaminação e no tamanho da cidade, por exemplo)? Mas esqueça os outros filmes que você já viu com este mesmo enredo: nenhum deles jamais será tão absurdamente tosco e divertido quanto o trash italiano classe Z PÂNICO, uma daquelas bombas de rir do início ao fim que comprovam que até o cinema ruim pode entreter.

Claro que não estou aqui falando daquele filme extremamente comum feito nos anos 90 pelo Wes Craven e alçado a "clássico de uma geração" justamente por uma geração desprovida de maiores referências cinematográficas. Me refiro ao PÂNICO produzido em 1976 por Tonino Ricci (com o pseudônimo Anthony Richmond), numa produção conjunta entre Espanha e Itália. Apesar de ter sido iniciado em 1976, o filme só foi concluído e lançado em 1982. Além de Ricci/Richmond, o cinegrafista do filme, Giovanni Bergamini, dirigiu ele mesmo algumas cenas. Por aí já dá para ter uma idéia do tamanho do orçamento que os caras tinham - e da qualidade do resultado final da película.

PÂNICO se chama PÂNICO no Brasil, mas foi lançado com diferentes títulos no mundo inteiro, provavelmente para confundir os espectadores e vender o mesmo filme ruim várias vezes. Na Itália, por exemplo, tem um título mais pomposo: "I Vivi Invidieranno I Morti". Em outros países da Europa, foi batizado "Bakterion". Nos EUA é "Panic". E por aí vai. Mas a tralha é a mesma. Quando eu a vi pela primeira vez, tinha lá meus 11 anos de idade. Foi, provavelmente, um dos primeiros filmes de horror que vi. E como vi! Só na infância, umas 10 vezes - adorava pegar para rever com os amigos, porque tinha um montão de mulher pelada. Batata: acabou virando "guilty pleasure", uma daquelas besteiras que você pode ver com qualquer idade e vai achar divertido.


E convenhamos: como não gostar de um filme onde um cara de rosto deformado sai matando italianas e espanholas peladas numa história que supostamente se passa na Inglaterra? Como não gostar de um filme onde Lucas encontra Betty, os dois conversam por três segundos e na cena seguinte já estão transando no banco de trás do carro (isso aos três minutos de filme rolando!!!)? Como não gostar de um filme estrelado por David Warbeck, provavelmente o melhor e mais bacana dos heróis do cinema italiano (você já o viu em "The Beyond", "Os Caçadores da Serpente Dourada", "The Last Hunter" e uma cacetada de outros), interpretando um cara chamado Capitão Kirk Dude? Pois é, uma brincadeira infame com o nome "Capitão Kirk" pelo menos 20 anos antes do pavoroso "House of the Dead" tentar fazer a mesma coisa! E finalmente: como não gostar de um filme onde a gostosa Janet Agren ("Os Vivos Serão Devorados", "Keruak - O Exterminador de Aço") interpreta uma cientista disposta a salvar o colega transformado em monstro, mesmo depois de ele matar umas 10 pessoas inocentes?

PÂNICO começa com um mal-editado acidente numa companhia química chamada simplesmente Chemical (sacou a furada? traduzindo, fica "companhia química Química"!!! É tão imbecil quanto "posto de combustíveis Combustível", ou "restaurante Restaurante"!). A empresa supostamente produz vacinas e antibióticos em uma cidadezinha inglesa (qua, qua, qua!) chamada Newton. Os cortes desta cena de abertura são tantos e tão ligeiros que lembram um filme de Michael Bay (mas parece que só foi feito assim para não mostrar escancaradamente as limitações do orçamento). Logo, tudo que vemos de "contaminação" são uns ratinhos pulando e um cara berrando enquanto esconde o rosto com as mãos esverdeadas e esfumaçantes.

Através da personagem de Janet Agren, a dra. Jane (ô criatividade...), ficamos sabendo o que aconteceu: um vírus que estava em desenvolvimento "vazou", através de uma cobaia (um rato) que escapou. A única pessoa que pode falar sobre o tipo de vírus e o risco de contaminação é o professor Adams (Roberto Ricci, irmão do diretor), que, adivinhe, está desaparecido. O proprietário da Chemical, o dr. Milton (Franco Ressel), sugere que todos abafem a história, especialmente a parte do "risco de contaminação", até que o prof. Adams seja localizado.

Mas, perto dali, Betty e Lucas estão transando no banco de trás do carro. O professor Adams não é mais o professor Adams, agora ele é um monstro assassino, cujo rosto não aparece até os 40 minutos finais (então, o que você vê inicialmente é a manjada câmera em primeira pessoa, a tal "visão do monstro"). Ele esquarteja o casal de namorados, chamando a atenção da polícia local, liderada pelo Sargento O´Brien (José Lifante), e também do Serviço de Segurança Inglês, que envia o Capitão Kirk (hahahahaha) para Newton, com a missão de investigar o que está acontecendo.


É óbvio que Kirk e Jane trabalharão em conjunto - mas não vão se apaixonar nem trocar beijinhos, contrariando o clichê máximo.Eles descobrem que Henry Miles, o guarda-costas (!!!) do professor Adams também está morto, e que uma outra moça peladona foi morta enquanto tomava banho (nudez frontal e tudo mais, em outro caso de pobre menina seduzida pelo mundo do cinema, que não conseguiu nada mais do que mostrar a "perseguida" em cena e falar meia dúzia de frases). Somando A + B, a dupla dinâmica percebm que há uma estranha substância verde nos corpos das vítimas, e que o assassino supostamente bebeu seu sangue.

Então as coisas começam a ficar claras! O professor Adams não está desaparecido! Ele se transformou num monstro mutante que precisa beber o sangue de suas vítimas (como se isso tivesse alguma lógica), mas também pode contaminá-las com o mesmo vírus que o transformou no que ele é. Só que a Defesa Civil já sabe de tudo isso. Em Londres, eles estão se reunindo com o primeiro-ministro e avaliando as chances da contaminação se espalhar para fora de Newton. Eles (os políticos) sabem que Adams não estava trabalhando em vacina coisa nenhuma, mas sim num vírus perigoso e indestrutível para usar em guerra bacteriológica (claro!). Decidem iniciar a quarentena, isolando todas as entradas e saídas da cidade com forças militares, cortando transportes e comunicação, e já planejando largar uma bomba sobre a cidade em 12 horas, varrendo qualquer evidência do tal vírus, a não ser que o monstro mutante seja encontrado e destruído a tempo.

Como a polícia é burra, o professor Adams continua agindo, entrando nas casas das pessoas pelo esgoto, atacando até em um cinema - onde o diretor Ricci contorna o orçamento irrisório filmando com a luz apagada, ou seja, no meio da escuridão, quando só escutamos os urros do monstro e os gritos apavorados das pessoas. Coisa que se o Spielberg faz é gênio, mas se o Tonino Ricci faz, é um sem-vergonha!

E o filme avança com a dose de violência diminuindo, mas a dose de bobagens aumentando. O povo de Newton começa a ficar apavorado e quer fugir da cidade, entrando em conflito com os militares que sitiaram o local. E a dra. Jane, tentando salvar seu pobre prof. Adams, sintentiza em meia hora um antídoto para, supostamente, transformar o monstro assassino novamente em um bom cientista. Mas o Capitão Kirk (hahahaha) prefere armar-se com uma pistola de gás venenoso (sério!) e caçar o bicho feio no esgoto.


Bem, bem, bem... Vamos tentar listas algumas abobrinhas dessa maravilha da sétima arte ("algumas", porque "todas" seria impossível). Numa cena, a polícia ouve grunhidos atrás de um carro e vai averiguar; começa aquele suspense barato de filme classe Z, mas é apenas um bêbado que está, acreditem ou não, grunhindo como o monstro, sabe-se lá porquê! Em outra cena, Kirk e O´Brien abrem uma tampa de esgoto e encontram o tal rato-cobaia desaparecido que deu início à contaminação, e agora está tão grande quanto um cachorro, em uma colagem absurda sobre o próprio fotograma da película (só vendo para crer); então, O´Brien fala "oh, my God", e o monstrinho é completamente esquecido pelo roteiro!. E o que dizer do "caça-bombardeiro" que decola em Londres com a bomba para destruir Newton? Trata-se de um velho teco-teco maquiado para parecer um super-caça. hahaha. Eles só filmam closes do cockpit para disfarçar! E nas cenas do avião voando, colocaram um caça de brinquedo e pensaram que ninguém ia perceber! E outra: o filme exibido no cinema, antes do monstro atacar, mostra apenas um mané dirigindo um carro, com uma musiquinha xarope no fundo... e a galera toda no cinema fingindo que está vendo aquilo com todo o interesse!!!!

PÂNICO é pobre em tudo, inclusive no ritmo arrastado, mas em compensação tem este grande número de divertidas abobrinhas, de ataques do monstro e de mulheres peladas, algumas poucas e boas cenas sangrentas e uma ótima trilha sonora de Marcello Giombini (colaborador habitual de Joe D'Amato, com quem trabalhou em "Antropophagus" e "Le Notti Erotiche dei Morti Viventi"). Também contorna a pobreza da produção com bons efeitos especiais (dentro do possível, claro). O rosto do monstro é escondido até o final, mas finalmente mostrado em close grotesco, ressaltando as feridas purulentas pulsando - a maquiagem foi feita por Rino Carboni e os efeitos especiais por Galliano Cataldo (que trabalhou com Dario Argento em "4 Moche di Velluto Grigio", de 1971).

O problema é que, hoje, a geração DVD provavelmente vai suar para encontrar PÂNICO. Mas quem, como eu, viveu no auge do VHS no Brasil, certamente deve ter visto até gastar a fita lançada pela velha e boa Poletel (mesma distribuidora que colocou no nosso mercado uns 99% das tralhas italianas). Atualmente, o filme do Ricci é tão obscuro que nos Estados Unidos os colecionadores de tralhas italianas costumam se matar para arranjar uma cópia. Recentemente até saiu por lá uma versão tosca em DVD, de onde foram eliminadas todas as cenas de nudez - e como tem MUITA mulher pelada no filme, perdeu totalmente a graça. Para quem é garimpeiro, vale a dica: dê aquela voltinha básica nas revendas de fitas usadas da sua cidade que com certeza encontrará uma das velhas fitas da Poletel a uns justos R$ 1,99!

Para fechar, que já me alonguei demais: sim, o filme é bobo, trash e muito engraçado. Mas é para públicos específicos, ou seja, só para os iniciados em tralhas italianas como essa. Pois estes, e só estes, irão dar risada do aviso no final dos créditos, que alerta: "O que você viu pode acontecer realmente... TALVEZ JÁ ESTEJA ACONTECENDO!". Já os outros espectadores, ao invés de rir, provavelmente sentirão vontade de quebrar a fita em mil pedaços - e elas já são raras demais para que uma barbaridade dessas aconteça!

Cena inicial de PÂNICO



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I Vivi Invidieranno I Morti/Panic/Bakterion
(1976, Itália/Espanha)

Direção: Anthony Richmond (Tonino Ricci)
Elenco: David Warbeck, Janet Agren, Franco
Ressel, Roberto Ricci, José Lifante, Miguel
Herrera e Ilana Maria Bianchi.