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sábado, 7 de dezembro de 2013

AEROPORTO 80 - O CONCORDE (1979)


Uma ameaça de bomba num avião ("Aeroporto", 1970), um voo que perde a tripulação e precisa ser pilotado pela aeromoça ("Aeroporto 75") e uma aeronave que cai no Triângulo das Bermudas e afunda ("Aeroporto 77"). Parecia não haver assunto para um novo filme da série "Aeroporto", ainda mais depois que o terceiro conseguiu a façanha de transformar uma franquia que explorava o medo de voar em um subproduto dos filmes de naufrágio estilo "O Destino do Poseidon".

Mas aí algo novo surgiu no horizonte: o Concorde. E, com ele, uma nova "catástrofe aérea"; neste caso, AEROPORTO 80 - O CONCORDE (o título original é "Airport 79", mas como o filme foi lançado no Brasil só em 1980...).


Grande novidade e o máximo de tecnologia da época, o Concorde foi um avião supersônico para transporte de passageiros, produzido em conjunto por empresas do Reino Unido e da França, e operado apenas por companhias desses países (British Airways e Air France, respectivamente).

O avião era caríssimo, mas podia atingir a espantosa velocidade Mach 2.04 (cerca de 2.500 km/h!), enquanto o Boeing 747 chegava no máximo a Mach 0.84 (893 km/h). Perfeito para quem tinha pressa, não?


Os voos comerciais com o Concorde começaram em 21 de janeiro de 1976, mas claro que eram coisa para gente rica, devido ao alto custo da passagem. Mesmo assim, havia quem não se importasse em pagar a mais por um voo mais curto: o Concorde fazia o trajeto Nova York-Londres em cerca de três horas e meia, enquanto o voo convencional durava mais de 10 horas!

Entretanto, por ser um avião supersônico, ele ultrapassava a velocidade do som, emitindo muito ruído e poluição, o que deu origem a protestos em muitos países. Isso, somado aos altos custos de manutenção, decretou a aposentadoria do Concorde dez anos atrás, em 2003. Apenas 20 aeronaves foram produzidas, e hoje estão em museus.


AEROPORTO 80 - O CONCORDE explora essa novidade tecnológica, mas, acredite ou não, àquela altura este foi o TERCEIRO filme sobre aviões supersônicos em perigo a ser produzido! Quem saiu na frente, tão rápido quanto o próprio Concorde, foi "Ameaça no Supersônico", filme para a TV produzido e exibido pela rede ABC em 1977. Depois, ao saber que a Universal faria seu "Aeroporto" oficial com um Concorde no lugar do Boeing tradicional, produtores italianos correram para realizar a sua própria versão, "Concorde Affaire '79" (no Brasil, apenas "Concorde"), que foi dirigida por Ruggero Deodato e lançada nos cinemas europeus ANTES do Concorde da Universal! (Sobre este falaremos na próxima atualização)

Quem se deu bem nessa história toda foi o diretor David Lowell Rich: ele havia feito o pioneiro "Ameaça no Supersônico", e este telefilme lhe serviu como credencial para assumir o comando de AEROPORTO 80, uma produção muito mais cara para o cinema, uma das poucas de uma filmografia recheada de obras para a TV - incluindo outro filme-catástrofe, "Runaway!" (1973), sobre um trem desgovernado.


Dos outros "Aeroporto", voltam apenas o produtor Jennings Lang (aqui tentando espremer os últimos centavos da franquia) e, claro, o ator George Kennedy, pela quarta e última vez no papel de Joe Patroni, personagem ligado a cada uma das tragédias aéreas dos filmes anteriores, e aqui envolvido em mais uma - pense num cara azarado para se contratar para trabalhar na sua companhia aérea!

O ator estava tão marcado pela franquia na época que rodou o mundo divulgando o filme, e, vejam só, deu até uma passadinha no Rio de Janeiro em novembro de 1979. A reportagem abaixo, publicada pela Folha de São Paulo em 26 de novembro daquele ano, registra a ilustre visita (mas aposto que muita gente lamentou que não tenha vindo Alain Delon ou Sylvia Kristel no lugar do rechonchudo Jorginho...).

Joe Patroni passou pelo Brasil!

O ator provavelmente pediu um papel de maior destaque no filme, já que em "Aeroporto 77" foi deixado de molho e participou muito pouco da trama principal. Assim, o mesmo Joe Patroni que foi mecânico da Trans-World Airlines (em "Aeroporto", 1970), vice-diretor da Columbia Airlines (em "Aeroporto 75") e supervisor contratado pela empresa particular Stevens Enterprises (em "Aeroporto 77"), agora foi promovido a PILOTO DE CONCORDE (!!!), e para uma nova empresa, a Federation World Airlines! Que currículo invejável, o desse Joe Patroni!

E isso que, na época de AEROPORTO 80, o ator George Kennedy já estava com 54 anos - imagine o que Joe Patroni faria aos 60 anos, caso a franquia não tivesse morrido! Mas essa promoção miraculosa do personagem de George Kennedy a piloto não é nem de longe o único problema do filme. Tudo bem que todos os "Aeroporto" são bem ruinzinhos, mas esse aqui exagera na dose!


AEROPORTO 80 é tão ruim, mas TÃO RUIM, que em suas primeiras exibições de teste as pessoas se mijavam de rir, e isso num filme que deveria ser sério! Quando o "fenômeno" repetiu-se nas salas de cinema durante a premiére, a Universal viu-se forçada a mudar o marketing do filme e divulgá-lo como comédia assumida. As frases no novo cartaz diziam: "Apertem os cintos que os arrepios são muitos... e as risadas também!".

Enfim, AEROPORTO 80 é a verdadeira definição da palavra "trash" (geralmente utilizada de forma incorreta): aquele filme feito a sério, mas que no final acaba se revelando tão ruim que só tem valor como comédia! É dar play e preparar-se para as gargalhadas!


A história começa com a chegada do Concorde ao Washington Dulles International Airport, enfrentando uma rápida situação de risco graças ao protesto de ecologistas contrários ao uso da aeronave (algo comum na época, quando se discutia muito os danos à natureza provocados pelo supersônico).

Seu comandante é o piloto francês Paul Metrand (Alain Delon), que aproveita o pernoite nos Estados Unidos para dar uns pegas na sensual aeromoça francesa Isabelle, com quem já tem um longo caso. Caso o nome da personagem e minha ênfase no "sensual" já não tenha entregado, a personagem é interpretada pela musa do cinema erótico Sylvia Kristel, recentemente falecida, e é claro que o nome "Isabelle" tenta criar um paralelo com sua personagem mais famosa, Emmanuelle!


Naquela mesma noite, a repórter e âncora de telejornal Maggie Whelan (Susan Blakely) é procurada por um homem que afirma ter provas de que uma grande empresa norte-americana fabricante de armas está fazendo contratos ilegais com países em guerra civil e organizações terroristas.

O homem é executado na frente da jornalista por um assassino profissional, contratado pela tal empresa para "queima de arquivo", e Maggie consegue fugir da morte por muito pouco.


No dia seguinte, ela se encontra com o presidente da tal empresa, Kevin Harrison (Robert Wagner), com quem tem um caso, e conta a ele sobre o atentado e sobre a acusação de venda ilegal de armas. Harrison convence a moça de que estão armando uma contra ele, mas na verdade sabe muito bem dos negócios escusos da sua empresa. Ora, mas e o que você esperava? Ele é o Nº 2 da quadrilha do Dr. Evil, pombas! (E não acredito que fiz uma citação à série "Austin Powers" aqui...)

Quando a jornalista embarca no Concorde com destino a Moscou, para cobrir a cerimônia de lançamento dos Jogos Olímpicos por lá, o vilão descobre que ela está levando documentos que comprovam seu envolvimento no escândalo. Resta-lhe uma única alternativa para silenciar Maggie e destruir as provas, tudo de uma única vez: derrubar o Concorde!


Além da jornalista e alvo ambulante, o voo do Concorde com escala em Paris tem uma miríade de passageiros excêntricos, o grupo mais absurdo de toda a série (alguns deles devem ter sido contratados para aparecer na comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!", lançada em 1980, mas erraram de filme). Há um grupo de atletas russos e seus treinadores, um deles levando junto a filha surdo-muda, que garante a dose habitual de dramalhão (se criança em perigo já é um clichê baixo, imagine então uma criança com deficiência física!). Há um saxofonista negro (Jimmie Walker) que passa o tempo inteiro fumando maconha e tocando sax no banheiro do avião. Há uma mãe desesperada (Cicely Tyson) que está levando um coração congelado (?!?) para o transplante do filho moribundo. Há o ricaço dono da companhia (Eddie Albert) e sua esposa-troféu, uma gostosa muito mais jovem do que ele, interpretada pela musa peituda do cinema B Sybil Danning. Há uma envelhecida cantora de jazz que lamenta estar perdendo a fama (interpretada pela cantora da vida real Monica Lewis, que era casada com o produtor Jennings Lang e já tinha aparecido em "Aeroporto 77" como outra personagem!). Há uma ginasta russa de 24 anos (a americana Andrea Marcovicci, que na época já estava com 31!), que vive um amor platônico por um repórter norte-americano que viaja no mesmo voo (lembre-se que eram tempos de Guerra Fria). E há uma dondoca latina (a cantora Charo, muito popular na época) que provoca um escândalo por querer levar seu chihuahua de estimação no voo, escondido dentro do casaco de peles!!!


Enquanto isso, em terra, Harrison prepara-se para dar um fim na jornalista abelhuda - e, de brinde, em todos os outros passageiros que não têm culpa de nada, só de estar na mesma aeronave. Como sua empresa vai testar um novo míssil experimental guiado por computador, ele aproveita para sabotar o equipamento e fazê-lo perseguir o Concorde.

Só que o vilão não contava com a perícia do piloto americano Joe Patroni (George Kennedy, claro!): ele controla o avião como se estivesse pilotando alguma nave espacial de filme barato de ficção científica, fazendo acrobacias absurdas, piruetas, voando de cabeça para baixo, e por aí vai. Pobres passageiros... Eu até acredito que se o tal míssil atingisse a aeronave, faria muito menos estrago!


Quando o plano A falha, Harrison resolve pôr em prática o plano B: entra em contato com um cúmplice em Paris e consegue convencê-lo a mandar um caça carregado com mísseis para explodir o Concorde. É quando acontece a cena mais sem-noção de AEROPORTO 80, digna de figurar em qualquer coletânea dos momentos mais ridículos do cinema mundial.

O caça inimigo dispara mísseis guiados por temperatura, que obviamente são atraídos pelo calor das turbinas do Concorde. Sabendo que não há escapatória, Metrand bota o avião para voar de cabeça pra baixo enquanto o heróico Patroni pega uma pistola sinalizadora, abre uma das janelinhas do cockpit e dispara "flares" (sinalizadores) para fora do supersônico, atraindo os mísseis no sentido contrário!


"O quê? Como é que é?", pode perguntar o nobre leitor do FILMES PARA DOIDOS, e eu fiquei com a mesma cara de panaca ao ver tal façanha sendo realizada num filme originalmente produzido para ser sério.

Mas sim, George Kennedy ABRE UMA JANELA DO AVIÃO, voando a 100 mil km/h e a 60 mil pés, coloca A MÃO PARA FORA segurando uma pistola sinalizadora (quando a velocidade de deslocamento deveria arrancar não só a pistola da sua mão, mas A PRÓPRIA MÃO!), dispara alguns flares, e os mísseis GUIADOS POR CALOR ignoram completamente o calor dos QUATRO JATOS MUITO MAIORES DO CONCORDE para perseguir um simples sinalizador cuja temperatura deve ser ridícula, ainda mais àquela altitude!


Bem, o caso é que esta é a grande cena de AEROPORTO 80, e me faz rolar de rir toda vez que revejo, mas o filme ainda está na metade! Eis que, num anti-climáx pavoroso, o Concorde consegue pousar em segurança em Paris, proporcionando uma noite de amor para os pilotos Metrand e Patroni (com direito ao velho clichê da lareira crepitando ao fundo e tudo mais).

E no dia seguinte, apesar da viagem infernal que tiveram, de todos os perigos e de por muito pouco não terem morrido pelo menos umas quatro vezes, TODOS OS PASSAGEIROS VOLTAM A EMBARCAR NO CONCORDE para a segunda parte da viagem, rumo a Moscou! Caramba, isso que é gente corajosa: se por uma simples turbulência eu já deixei de voar, imagina como esses caras deveriam estar traumatizados depois da experiência de virar alvo para mísseis!


Pior: a própria jornalista e alvo em potencial Maggie, que àquela altura já deveria ter entendido que tudo aquilo é muito suspeito, também embarca outra vez no Concorde sem nenhum receio, e sem sequer dar o devido encaminhamento aos documentos comprometedores que leva com ela, e que são a única prova de uma mega-conspiração. Bela jornalista...

Claro que o malvado Harrison vai apelar para o plano C e tentar derrubar o supersônico mais uma vez. E isso que ele teve a oportunidade de matar APENAS A JORNALISTA quando ela estava em terra, mas imbecilmente deixou passar só para poder novamente ameaçar a aeronave inteira, seus tripulantes e passageiros, e proporcionar à audiência mais uma dose de tensão e adrenalina. Ah, essas conveniências de roteiro...


AEROPORTO 80 volta para os céus para o último ato dessa hilária bobagem: um mecânico subornado pelo vilão sabotou uma escotilha do compartimento de carga do Concorde, que se abre durante o voo e ameaça romper a aeronave no meio graças à despressurização. Isso obriga nossos heróis Patroni e Metrand a tentarem um arriscado pouso de emergência... nos Alpes Suíços!

Conseguirão os bravos pilotos pousarem o Concorde em segurança? Conseguirá Harrison eliminar as provas de suas vendas ilegais de armas? Conseguirá o rombo na fuselagem da aeronave sugar para a morte algum dos pobres passageiros? Conseguirá o jornalista americano casar-se com sua amada atleta russa? E por último, mas não menos importante: conseguirá a gostosa peituda da Sybil Danning dar uma com seu maridão geriátrico décadas antes da invenção do Viagra?


A resposta para todas essas perguntas (bem, menos para a última) está reservada para o ato final de AEROPORTO 80, se é que alguém ainda está levando a história a sério para se importar com o destino daqueles personagens que parecem saídos das sátiras de filmes da revista Mad - e se envolvem em situações tão ridículas e cômicas quanto.

Tenho um carinho nostálgico por este último "Aeroporto" porque foi o único que vi na TV, entre final da década de 80 e início dos anos 90. A Globo exibiu a versão televisiva da obra, remontada para exibição nos EUA em 1982, com aquelas tradicionais cenas extras esmiuçando alguns dos dramas pessoais dos passageiros. Pelo menos são apenas uns 20 minutos adicionais, ao contrário da loucura que foi transformar "Aeroporto 77" num "épico" com mais de três horas de duração!


As tais cenas adicionais não trazem nada de tão interessante assim: entre as coisas que me lembro, estão a ação da polícia derrubando com um tiro o balão dos manifestantes anti-Concorde no início, um desfecho alternativo (e bem mais legal) para o personagem vilanesco de Robert Wagner, e alguns flashbacks dando um pouco mais de "tragédia" ao personagem de Patroni.

Nesta cena, que tem cerca de 10 minutos, descobrimos que a esposa do "ex-mecânico agora piloto" morreu um ano antes num acidente automobilístico, e ele se recorda do último encontro com a amada num quarto de hospital (você pode conferir este cândido momento clicando aqui).


Tal cena adicional também ajuda a aumentar a quantidade de erros de continuidade da franquia: em "Aeroporto" a esposa de Patroni chamava-se Marie e ele dizia ter cinco filhos; em "Aeroporto 75", o nome da esposa passou a ser Helen e o número de filhos diminuiu para um, Joe Jr. (citado também nas cenas adicionais da versão televisiva de "Aeroporto 77"); aqui, Patroni diz, durante um encontro com um francesinha, que sua esposa quis ter um único filho.

Para piorar, o nome da personagem volta a ser Marie, como no original! Pelo menos nas cenas adicionais, Jessica Walter tornou-se a terceira atriz a interpretar a esposa de Patroni, depois de Jodean Lawrence no original e de Susan Clark em "Aeroporto 75". Entretanto, ela não aparece em nenhum momento da edição para cinema/DVD do filme.


Se todas as bobagens já elencadas não fossem razão mais do que suficiente para recomendar AEROPORTO 80 como a belíssima comédia que é, ainda tem mais um detalhezinho: o roteiro de Eric Roth (baseado em argumento do produtor Lang) está repleto daquelas tiradas que você não sabe se ri ou se chora, além de toda sorte de moralismos baratos, tipo o mecânico que sabotou o Concorde morrer "atropelado" PELO PRÓPRIO CONCORDE, com direito a take do dinheiro que ganhou pela sabotagem espalhando-se ao vento...

Em matéria de diálogos, um dos mais clássicos acontece quando a aeromoça interpreta por Sylvia Kristel vai servir café para os pilotos e sensualiza: "Vocês, pilotos, são tão HOMENS!", apenas para George Kennedy retrucar, num trocadilho intraduzível: "They don't call it the cockpit for nothing, honey".

Digamos apenas que "Cock" é um dos apelidos em inglês para o órgão sexual masculino, e Kristel obviamente foi escolhida para o papel de aeromoça "saidinha" porque no clássico "Emmanuelle", de 1974, ela protagonizava uma cena de sexo a bordo de um avião!


Outro momento simplesmente genial ocorre na escala em Paris, quando Metrand apresenta uma "amiga" para que Patroni pare de choramingar a perda da esposa. A noitada evolui para uma bizarra cena romântica dos dois em frente à lareira, com direito a George Kennedy sem camisa (argh!). Na manhã seguinte, quando os amigos comentam o lance, desenrola-se a seguinte conversa:
- Patroni: Nem sei como te agradecer! Nunca acreditei em amor à primeira vista, mas aquela Francine... Uau! Que noite! Ela foi mesmo especial!
- Metrand: Por 2.000 francos, é bom mesmo que ela tenha sido especial.
- Patroni: O quê? Espere aí... Você está tentando me dizer que ela era... uma prostituta?!?
- Metrand: Como vocês americanos dizem, uma verdadeira profissional!
- Patroni (gritando alegremente): Seu filho da puta! Ela foi demais!
- Metrand: E para que servem os amigos?

(Existe uma cena muito parecida com esta em "O Pentelho", quando Jim Carrey revela ao personagem de Matthew Broderick que a garota com quem ele transou na noite anterior era uma prostituta. A diferença é que em "O Pentelho", uma comédia assumida, tal cena não é TÃO ENGRAÇADA quanto em AEROPORTO 80, que, por ironia, foi produzido como um filme "sério"!)


Ah, caso não tenha caído a ficha, o roteirista Eric Roth ficaria mais famoso alguns anos depois, ao escrever um tal de "Forrest Gump", que rendeu-lhe o Oscar de Melhor Roteiro. Estes seus dois roteiros, completamente diferentes, comprovam que Roth de certa forma é um especialista em escrever sobre personagens idiotas e suas idiotices.

O roteirista também seria indicado a outros três Oscars de Melhor Roteiro (por "O Informante", "Munique" e "O Curioso Caso de Benjamin Button"), e certamente faria qualquer coisa ao seu alcance para apagar seu nome dessa bomba chamada AEROPORTO 80. Eu, por outro lado, faria o possível e o impossível para perguntar-lhe sobre a experiência numa entrevista!


Mantendo a tradição dos filmes da franquia, este quarto episódio também traz um veterano dos primórdios do cinema sendo "homenageado" com ingrata participação especial. Depois de Helen Hayes, Gloria Swanson, Mirna Loy e Olivia de Havilland, o dinossauro da vez é Eddie Albert (acima), que estreou no cinema em 1938, mas é mais famoso pelos seus trabalhos na televisão. Aliás, o cara é tão veterano que começou a trabalhar com TV desde os primeiros experimentos com transmissão de imagens, antes mesmo de o aparelho ser vendido ao público!

Dois outros nomes famosos do elenco que merecem menção são a atriz Mercedes McCambridge, mais conhecida como a voz do demônio Pazuzu em "O Exorcista", e David Warner (abaixo) como navegador do Concorde, ele que interpretou uma extensa galeria de vilões e foi um desafortunado fotógrafo em "A Profecia". A propósito: com dois atores que apareceram em filmes sobre o Coisa Ruim no elenco de AEROPORTO 80, era mais do que certo que ia dar merda!


Destaque, ainda, para uma rápida participação de Robert Kerman (abaixo) como controlador de voo do aeroporto de Washington. Até então, ele ainda era conhecido apenas por sua atuação como ator pornô (usando o pseudônimo "Robert Bolla"), mas de 1979 em diante acabaria eternamente vinculado ao papel de protagonista do clássico "Cannibal Holocaust", de Ruggero Deodato.

Curiosamente, o ator também apareceu rapidamente como controlador de voo no "outro filme com Concorde", a cópia italiana "Concorde", de Ruggero Deodato, lançada nos cinemas naquele mesmo ano.


Por fim, AEROPORTO 80 ainda tem a distinção de trazer os piores efeitos especiais de toda a série. Perde até para o "Aeroporto" original, com seu avião em miniatura "voando" em meio a nuvens de gelo seco. Afinal, o que vemos aqui são imagens tosquíssimas em chroma-key, com modelos totalmente fora de perspectiva, o que mais uma vez ajuda a transformar o que era para ser sério numa comédia escrachada.

Talvez os produtores estivessem tentando dar uma cara mais "moderninha" à franquia, para atrair a molecada que, nos anos anteriores, lotou os cinemas para ver filmes como "Guerra nas Estrelas" e "Superman" (o do Richard Donner). Assim, AEROPORTO 80 é praticamente uma montanha-russa em que as cenas de ação e situações de perigo vão se acumulando - o completo oposto daquele "Aeroporto" lento e ultra-realista que começou a franquia, lá em 1970.


Mas a ruindade colossal desse quarto filme decretou a morte definitiva da série. "Será que eles continuariam fazendo outros filmes? Para que direção iriam?", pode me perguntar o leitor do FILMES PARA DOIDOS. Bem, de fato o tema "avião em perigo" já não era exatamente original, por causa das continuações e das diversas cópias para a TV ("Ameaça no Supersônico", "A Queda do Voo 401", "O Fantasma do Voo 401", e por aí vai).

Até os russos resolveram imitar o cinemão americano (em plena Guerra Fria!!!) e fizeram uma imitação da série "Aeroporto", chamada "Tripulação" (Ezipazh, 1980), só que obviamente mais puxada para o dramalhão, com pouquíssimas cenas envolvendo o "suspense aéreo".

Mas o próprio cinema-desastre estava em decadência (com o fracasso da superprodução "O Dia em que o Mundo Acabou", em 1980), e a onda era tirar sarro de histórias do gênero depois da estreia da comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!" (também em 1980).


Não fosse por isso, talvez um provável "Aeroporto 87" pudesse ter se inspirado na onda dos voos de ônibus espaciais, agora promovendo Joe Patroni a astronauta! Ainda mais considerando a tragédia verdadeira envolvendo a nave Challenger em 1986 - que pode até não ter virado episódio da franquia "Aeroporto", mas inspirou o telefilme "Challenger - Um Voo Sem Retorno", em 1990.

Ainda que no cinema o tema tenha saído da ordem do dia, histórias sobre tragédias aéreas continuaram sendo produzidas para a telinha. Jerry Jameson, de "Aeroporto 77", dirigiu o telefilme "Rota do Perigo" em 1983, sobre a história do fictício primeiro voo "hipersônico" (que, claro, apresenta problemas), estrelando Lee Majors, Ray Milland e um jovem Robert Englund.

Até mesmo o veterano das desgraças aéreas George Kennedy voltou a lidar com problemas do gênero em "International Airport" (1985), telefilme dirigido por Don Chaffey e Charles S. Dubin, que também tem os veteranos Vera Miles e Robert Vaughn no elenco.


Para finalizar, AEROPORTO 80 também ficou marcado como um daqueles tristes casos de "a vida imita a arte", já que a aeronave usada nas filmagens se envolveu num desastre real muito tempo depois do filme - a exemplo do que já havia acontecido com o "Aeroporto" original.

Dessa vez foi o Concorde usado nas filmagens - o sétimo dos 20 únicos construídos -, que transportava passageiros para a Air France e explodiu durante decolagem do Aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, em 25 de julho de 2000. O desastre foi provocado por vazamento de combutível, matando os 109 passageiros, os tripulantes e mais quatro pessoas em solo.

E como eu já havia comentado na resenha de "Aeroporto", nessas horas nem Alain Delon no comando, ou mesmo George Kennedy disparando flares pela janelinha do cockpit, poderiam salvar a pátria, pois na vida real o buraco é mais embaixo...


Trailer de AEROPORTO 80 - O CONCORDE



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The Concorde... Airport '79 (1979, EUA)
Direção: David Lowell Rich
Elenco: Alain Delon, Sylvia Kristel, George Kennedy, Susan
Blakely, Robert Wagner, Eddie Albert, Andrea Marcovicci,
David Warner, Sybil Danning e Mercedes McCambridge.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

AEROPORTO 77 (1977)


Nos sete anos anteriores, a Universal produzira dois filmes envolvendo desastres aéreos ("Aeroporto" e "Aeroporto 75") que foram muito bem nas bilheterias, especialmente o primeiro. Os produtores achavam que o tema "aviões em perigo" ainda tinha fôlego para um terceiro episódio. Nos dois anteriores, as ameaças aéreas foram, respectivamente, uma bomba que abria um rombo na fuselagem de um avião e o choque de uma aeronave comercial com um jatinho, que matava a tripulação e forçava a aeromoça a tomar o controle.

Assim, tudo considerado, qual seria a escolha mais lógica para o argumento de um terceiro "Aeroporto"?
a-) Um avião que cai no meio do oceano e afunda, ameaçando afogar todos os passageiros quando a água invadir a aeronave?
b-) Uma tragédia aérea no temido Triângulo das Bermudas?
c-) Um avião particular, que está sendo usado como palco para uma festa de ricaços, colide com uma plataforma de petróleo, colocando a vida de todos em risco?
d-) Criminosos que sequestram um avião para roubar sua valiosa carga?
e-) Todas as alternativas acima?


Pode até parecer inacreditável, mas a resposta para a pergunta é a opção"e"! Não sei de qual hospício a Universal tirou os roteiristas Michael Scheff e David Spector, mas a dupla simplesmente misturou todos esses argumentos num único filme, e o resultado foi AEROPORTO 77 - disparado o melhor filme da franquia.

Inacreditável, também, é que um negócio chamado AEROPORTO 77 tenha tão poucas cenas no próprio aeroporto ou nos ares. Porque se nas aventuras anteriores o desastre aéreo era controlado pelos protagonistas, aqui a tragédia finalmente se consuma e o avião cai. Felizmente (ou não), a aeronave cai no meio do oceano, afunda e cria toda uma nova situação de perigo para tripulação e passageiros: como sair dessa fria antes que o oxigênio no interior do avião acabe, ou que a fuselagem arrebente, matando a todos afogados?


Não precisa pensar muito para perceber de onde veio a inspiração para um filme de avião que se passa debaixo d'água (!!!): em 1972, logo depois do sucesso do "Aeroporto" original, a 20th Century Fox lançou "O Destino do Poseidon", de Ronald Neame, sobre o naufrágio de um transatlântico e o drama de celebridades como Gene Hackman, Ernest Borgnine e Shelley Winters para escapar da terrível morte por afogamento. Foi outro grande sucesso de bilheteria (refilmado por Wolfgang Petersen em 2006).

Além disso, já não havia mais muito a acrescentar depois de dois "Aeroporto" e dos diversos filmes para a TV mostrando aviões em perigo, como "Assassinato no Voo 502" (1975), de George McCowan, com Robert Stack e Farrah Fawcett, e "Voo para o Holocausto" (1977), de Bernard L. Kowalski, com Christopher Mitchum e Desi Arnaz Jr.

Espertinha, a Universal resolveu fazer uma espécie de "crossover" unindo as duas tragédias, aérea e naval. E se parte do público já sofria com a situação claustrofóbica de passageiros indefesos à mercê de uma aeronave em perigo, o que dizer da duplamente claustrofóbica sensação de estar preso dentro de um avião em perigo SUBMERSO?


Novamente produzido por Jennings Lang e William Frye (a dupla responsável pelo anterior "Aeroporto 75"), e dessa vez dirigido por Jerry Jameson, AEROPORTO 77 descarta logo de cara o tradicional voo comercial dos filmes anteriores. Aqui, somos levados a bordo de um luxuoso Boeing 747-100 particular, modificado por um bilionário para ser seu brinquedinho particular, com direito a piano-bar, jogos eletrônicos, escritórios e até quartos para seus distintos convidados.

O dinheirudo em questão é Philip Stevens (James Stewart, que em 1951 enfrentou problemas aéreos em "Na Estrada do Céu", mas aqui nem chega perto do avião). Ele convida amigos da alta sociedade, celebridades e familiares para fazer a viagem inaugural do luxuoso avião, entre Washington e Palm Beach. Não bastasse transportar boa parte do PIB da região, o 747 também leva, no compartimento de carga, a coleção particular de arte de Stevens, de valor incalculável, que está sendo transferida para um novo museu.


É claro que isso atrai a cobiça de uma organizadíssima quadrilha de ladrões profissionais, que infiltra-se entre a tripulação e coloca todo mundo para dormir com gás durante a travessia do Atlântico. O co-piloto Chambers (Robert Foxworth), que está mancomunado com os bandidos, desce com a aeronave para voar rente ao nível do oceano, fazendo-a desaparecer do radar.

O plano dos ladrões era pousar na pista abandonada de uma ilha próxima antes que todo mundo acordasse, mas é óbvio que a coisa não vai ser tão simples: bem no meio da região conhecida como Triângulo das Bermudas (coincidência??? hein? hein? hein?), Chambers desvia tarde demais de uma plataforma de petróleo escondida pela densa neblina, e o choque destrói os motores de uma das asas.

O avião descontrolado acaba caindo no oceano e afunda rapidamente. Para piorar, as equipes de resgate sequer sabem o local onde a aeronave naufragou, já que os bandidos fizeram com que ela sumisse do radar e saíram do curso normal por um bom tempo!


Num daqueles casos clássicos de justiça poética, dois dos criminosos são mortos na queda do avião, e apenas Chambers sobrevive. Os demais passageiros acordam e, horrorizados, percebem que estão submersos a 30 metros da superfície e dentro de um negócio cuja fuselagem não foi projetada para aguentar a pressão da água - ou seja: pode arrebentar a qualquer momento e afogar todo mundo, até porque o avião parou na beira de um abismo e ainda corre o risco de despencar para uma profundidade desconhecida!

A única esperança dos desafortunados ricaços reside no intrépido piloto Don Gallagher (Jack Lemmon!!!), o único que consegue manter a cabeça no lugar e pensar com a lógica em meio a uma situação tão complicada. Ainda há o problema de vários passageiros terem se ferido gravemente na queda, e o fato de o único "médico" a bordo ser um veterinário! E agora, José? Como sair dessa?


AEROPORTO 77 não apenas tem o maior número de desastres consecutivos (queda de avião E naufrágio no mesmo filme!), mas também possui, de longe, o elenco mais estelar da franquia. Além dos lendários James Stewart e Jack Lemmon, que eu jamais imaginei que veria num filme-catástrofe, vários astros surgem em pequenas participações interpretando os passageiros do fatídico voo naufragado, e todos eles com seus próprios dramas pessoais, claro.

Temos, por exemplo, o casal em crise formado pela oscarizada Lee Grant e por... putzgrila! Christopher Lee (que dessa vez, acredite se quiser, NÃO é um dos vilões!!!). Temos um pianista cego (Tom Sullivan) e a garota que é apaixonada por ele (Kathleen Quinlan). Temos Lisa, a filha do milionário (Pamela Bellwood), e seu próprio filho, Benjy (Anthony Battaglia), que viaja para conhecer o avô. Temos a coroa em crise (Olivia de Havilland) que encontra um velho admirador a bordo (Joseph Cotten). Temos o garçom negro (Robert Hooks) que espera o telefonema da esposa grávida e prestes a dar à luz. E ainda Brenda Vaccaro, M. Emmeth Walsh, Darren McGavin, Michael Pataki (como um dos ladrões, é claro!) e o eterno coadjuvante da série, George Kennedy, mais uma vez dando as caras como Joe Patroni, que era mecânico em "Aeroporto", vice-presidente de outra companhia aérea em "Aeroporto 75" e aqui aparece trabalhando numa terceira empresa!!!


Ok, é preciso dar um desconto para a premissa absurda, já que a situação representada no filme jamais poderia acontecer na vida real por dois motivos: primeiro, o impacto de uma "aterrissagem" no mar àquela velocidade arrebentaria o avião no meio; segundo, a aeronave não afundaria tão rápido como mostrado no filme, pois o interior pressurizado a manteria mais leve que a água durante tempo suficiente para providenciar o desembarque dos passageiros, mesmo com o buraco na fuselagem provocado pela colisão na plataforma de petróleo.

Mas e quem diabos espera realismo numa aventura tosqueira como essa? O que importa é que o filme funciona e, dos quatro episódios oficiais da série "Aeroporto", este é o que traz mais situações de tensão e perigo e menos dramalhão. Até porque, nos outros, o avião fica no ar e os personagens não têm muito o que fazer além de ficar sentadinhos, gritar e confiar nos pilotos (ou na aeromoça); aqui já há uma interação muito maior entre todos, e também mais momentos de suspense, principalmente quando a água começa lentamente a invadir o interior da aeronave.


Quando filmou AEROPORTO 77, o diretor Jameson já era praticamente um especialista em cinema-catástrofe, tendo dirigido várias produções televisivas com histórias do gênero: "Heat Wave!", sobre um casal tentando sobreviver durante uma implacável onda de calor que secou todas as fontes de água da sua cidadezinha; "The Elevator", sobre o drama de pessoas presas dentro de um elevador no topo de um arranha-céu (?!?); "Hurricane", uma história sobre caçadores de tornados filmada 20 anos antes de "Twister"; "Terror on the 40th Floor", que era uma cópia barata de "Inferno na Torre", e até "The Deadly Tower", baseado no episódio real do sniper Charles Whitman, aqui interpretado por... um jovem Kurt Russell!

Enfim, com tantos trabalhos pregressos nessa linha, Jameson já estava mais do que preparado para dirigir uma superprodução "catastrófica" como essa, e não faz feio. Pelo contrário: em comparação com a direção burocrática dos outros episódios, ele até que se sai bem demais, colocando seus personagens em constantes situações arriscadas, matando vários deles sem dó e até criando algumas cenas de roer as unhas.


Um dos pontos altos envolve Jack Lemmon e Christopher Lee enfrentando um arriscado mergulho, em que o Drácula acaba se dando mal (imagens acima). Sem nenhuma frescura, o próprio Lee fez as cenas em que seu cadáver afogado aparece flutuando! A meia hora final do filme também é ótima, e envolve a tentativa de resgate do avião submerso. Para isso, a Marinha norte-americana põe em prática um plano mirabolante, usando mergulhadores e balões cheios de gás.

Consta que a produção primou pelo realismo nesse aspecto, e os procedimentos mostrados estariam dentro dos padrões usados para resgates semelhantes (ou pelo menos assim confirma o letreiro no fim do filme). Isso provavelmente credenciou Jameson para dirigir o posterior "O Resgate do Titanic" (1980), sobre outra operação delicada de resgate cujo título já entrega (mas, apesar da ideia interessante, este outro filme é bem ruim).


AEROPORTO 77 teve um orçamento maior que o da segunda parte (cerca de 6 milhões de dólares) e repetiu o sucesso de bilheteria, embora arrecadando menos que as aventuras anteriores (em torno de 30 milhões nos cinemas norte-americanos). Também foi o segundo filme da série a chegar à entrega do Oscar, sendo indicado a duas estatuetas: Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino (perdeu os dois prêmios para um tal de "Guerra nas Estrelas"...).

O sucesso de público comprovou que ainda havia potencial para histórias sobre aviões em perigo, e até surgiram mais algumas imitações feitas para a TV: "Ameaça no Supersônico" (1977), de David Lowell Rich, com Burgess Meredith, Peter Graves e um jovem Billy Cristal; "A Queda do Voo 401" (1978), de Barry Shear, com William Shatner e Adrienne Barbeau; e "O Fantasma do Voo 401" (1978), dirigido por Steven Hilliard Stern e com Ernest Borgnine e uma jovem Kim Basinger.


Embora subverta a situação básica dos outros filmes (o avião fica pouquíssimo tempo no ar, para o alívio dos que têm medo de voar), este terceiro filme mantém as principais características da franquia. Traz, por exemplo, a tradicional atriz veterana homenageada. Enquanto nos anteriores essa "honra" coube a Helen Hayes, Gloria Swanson e Mirna Loy, aqui a distinção foi aplicada a Olivia de Havilland (abaixo), que estreou como atriz em 1935 e, entre outros filmes, atuou no clássico "E o Vento Levou...".

Só que ela não foi a primeira opção para o papel: outra veterana, Joan Crawford, foi convidada mas pulou fora). Olivia já não trabalha no cinema desde 1988, mas, "até o fechamento desta edição" (dezembro/2013), ainda estava viva, aos 97 anos de idade! Antes de AEROPORTO 77, ela já tinha sido convidada para ser a "celebridade das antigas em perigo" em "Inferno da Torre" (1974), mas recusou. Acabou cumprindo essa função aqui e também no péssimo "O Enxame", de Irwin Allen, lançado em 1978.


Outra característica da série "Aeroporto" que se repete aqui são os astros que cospem no prato em que comeram, arrependendo-se de ter aparecido no filme e fazendo campanha contra ele. No original, essa responsabilidade ficou a cargo de Burt Lancaster; em AEROPORTO 77, tanto Jack Lemmon quanto Christopher Lee assumiram em entrevistas que acharam "um erro" fazer o filme. Lee inclusive declarou que só aceitou participar para ter a oportunidade de atuar ao lado de Lemmon, cujo trabalho admirava.

Finalmente, o roteiro também está inbuído de todo aquele melodrama e moralismo típicos da franquia. Os malvados são castigados pela tragédia, assim como a mulher adúltera, enquanto pouquíssimos dos personagens inocentes morrem, e muito menos a criança que passa a história toda moribunda e prestes a bater as botas - essa se salva, óbvio, porque "Deus é grande".


Mesmo que Lemmon tenha se arrependido de estrelar o filme, ele está muito bem como o piloto que protagoniza pelo menos duas grandes cenas de ação: a primeira quando precisa sair do avião submerso pela área de carga inundada para assinalar a localização da aeronave; a segunda durante o resgate dos passageiros, quando enfrenta a água que invade rapidamente o interior do avião. Tudo somado, ele é o mais heroíco e atuante dos pilotos da série "Aeroporto".

Já Patroni, o personagem pau-pra-toda-obra de George Kennedy, não faz muita coisa aqui, e nem participa diretamente da operação de resgate da aeronave. Ele parece estar de má vontade depois de ter ajudado a salvar o dia nos dois filmes anteriores. Mas tudo bem: Patroni voltaria em alto estilo no quarto e último filme da série, dessa vez promovido a piloto (?!?).


AEROPORTO 77 foi lançado numa época em que a franquia já era bastante popular na televisão. Assim, os produtores decidiram filmar mais uma hora de cenas adicionais (!!!) que foram depois inseridas numa versão mais longa para a TV. E bota longa nisso: a versão televisiva ficou com 190 minutos (1h10min a mais que na versão de cinema!), e foi exibida pela emissora NBC em dois dias (!!!), 18 e 20 de setembro de 1978, como se fosse uma minissérie.

A tal versão estendida virou uma espécie de raridade. Como nunca foi lançada comercialmente, ela até hoje circula em versões com imagem bem ruim que foram gravadas da TV na época da sua exibição. Os 70 minutos a mais tentam tornar os personagens-passageiros mais "humanos", dando-lhes flashbacks que explicam seu passado e suas motivações (a história de Kathleen Quinlan com o pianista cego é muito melhor desenvolvida nessa versão, por exemplo); também mostram algumas novas cenas de ação, incluindo a invasão dos bandidos a um laboratório de segurança máxima para roubar o gás utilizado para "apagar" os passageiros do avião posteriormente.


George Kennedy e seu Joe Patroni também aparecem mais na versão televisiva de AEROPORTO 77, que inclusive resgata o filho do personagem, Joe Jr., que havia aparecido moleque em "Aeroporto 75", mas aqui já está crescido. Nas cenas adicionais, Patroni precisa faltar à formatura do filho para tratar da terceira tragédia aérea da sua carreira.

Além dos flashbacks dos personagens, a edição mais longa inclui ainda mais cenas de cadáveres submersos das vítimas da tragédia, que estranhamente foram cortadas da versão para o cinema (geralmente acontecia o contrário). Para ver imagens dessas cenas adicionais, vale a pena conferir esse site especializado em "disaster-movies".


Para finalizar, duas curiosidades. Primeiro, o fato de AEROPORTO 77 ter virado uma atração no mínimo excêntrica do Universal Studios Tour: até a metade dos anos 80, os visitantes do estúdio podiam participar como "atores" de uma recriação das principais cenas do filme, em cenários bastante parecidos com os da própria produção! 

Toda a brincadeira era filmada e editada na hora, e depois os visitantes podiam levar para casa sua participação em AEROPORTO 77 em vídeo ou película 8mm. No YouTube é possível ver uma dessas recriações, devidamente capturada por alguém que visitou a atração na época.

A outra curiosidade é a oportunidade de ver toda a tecnologia do final dos anos 70 disponível no super-avião do milionário (abaixo), incluindo jogos de videogame (o clássico Pong da época pré-Atari, que aqui no Brasil foi jogado por quem teve o pré-histórico "Telejogo Philco"!) e até um rudimentar aparelho reprodutor de laser-disc, o Magnavox Magnavision VLP, usado para projetar um filme com um disco laser do tamanho de um bolachão em vinil (este era o avô do aparelho de DVD, mas na época não colou por causa do preço muito alto).


E se você acha que depois do drama de uma bomba a bordo, de uma aeromoça promovida a piloto e de um avião submerso no oceano os produtores de "Aeroporto" não teriam mais o que inventar, saiba que, poucos meses após a estreia de AEROPORTO 77, o produtor Jennings Lang já estava dando sinal verde para a produção do quarto e último filme da série, "Aeroporto 80 - O Concorde".

Mas digamos apenas que este não é um daqueles casos em que guardaram o melhor para o final: a última aventura da franquia é tão trash, mas tão trash, que faz com que as anteriores pareçam "Cidadão Kane"! Porque se AEROPORTO 77 é o melhor da série como filme de suspense e aventura, "Aeroporto 80" é definitivamente o mais divertido e mais involuntariamente cômico!


PS 1: Diversas cenas de AEROPORTO 77 foram "emprestadas" por Fred Olen Ray e editadas em seu filme "Resgate nas Profundezas" (2000), com Fred Williamson e Tim Thomerson. Na verdade, o que Fred fez foi reaproveitar todas as cenas do avião sobrevoando o oceano, caindo, afundando, enchendo de água e sendo resgatado. Ele só filmou os takes com seus atores para substituir os do filme original, e nada mais. Ah, a magia do cinema (e da edição)...

PS 2: Se fazer uma festa de ricaços dentro de um avião em pleno voo parece ideia de jerico, saiba que a franquia "Turbulência", aquela imitação barata da série "Aeroporto" produzida nos anos 90, foi ainda mais longe: em "Turbulência 3" (2001), de Jorge Montesi, um show de heavy metal é realizado em uma aeronave em movimento!!! Menos mal que o avião dessa vez não chega a cair no oceano, mas isso não poupa do mico gente boa e conhecida como Gabrielle Anwar, Rutger Hauer e Joe Mantegna!


Trailer de AEROPORTO 77



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Airport 77 (1977, EUA)
Direção: Jerry Jameson
Elenco: Jack Lemmon, Lee Grant, George Kennedy,
James Stewart, Joseph Cotten, Christopher Lee,
Olivia de Havilland e Robert Foxworth.