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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

POLICE STORY (1985)


Nascido em 1954 e fazendo filmes desde criança, Jackie Chan era um dos nomes mais populares do cinema de ação oriental no final da década de 70 (graças, principalmente, ao sucesso de "O Mestre Invencível", de 1978), mas seu sonho sempre foi ser um ídolo de Hollywood. Ele tentou chegar lá duas vezes. A primeira foi com "O Grande Lutador" (1980), quando a Warner Bros., então em busca do "novo Bruce Lee", colocou boa parte da equipe de "Operação Dragão" (incluindo o diretor Robert Clouse) para apresentar Chan oficialmente ao público ocidental. Não funcionou, o filme foi um fiasco de bilheteria e relegou o astro a pequenas participações em comédias como "Quem Não Corre, Voa".

Cinco anos depois, Chan tentou novamente ao estrelar o policial "A Fúria do Protetor", de James Glickenhaus, mas o resultado não só foi negativo em termos de bilheteria, como ainda deixou Jackie puto com as oportunidades que recebia no cinema norte-americano. Só que há males que vêm para bem: se não fosse pelo fracasso de "A Fúria do Protetor", não teríamos um filmaço como o projeto seguinte do astro, POLICE STORY, que ele estrelou e dirigiu em Hong-Kong.


"Eu queria mostrar ao meu chefe que eu podia fazer melhor que 'A Fúria do Protetor'", declarou Jackie, com todas as letras, numa entrevista que faz parte dos extras da edição especial gringa de POLICE STORY. E ele continua: "Era o roteiro errado na hora errada. Eu não devia ser um policial chinês em Nova York! Então eu escrevi meu próprio roteiro e mostrei a ele: 'Veja, é isso que eu quero fazer'. E foi um sucesso!".

Chan tem uma filmografia que já ultrapassou os 100 filmes, e é claro que eu não consegui ver todos eles - pelo contrário, lamento ter visto menos obras dele do que deveria (e gostaria). Mesmo assim, de tudo que eu vi até hoje, achei POLICE STORY disparado o seu melhor filme. O próprio astro concorda, já que, em sua autobiografia, declarou que era seu trabalho preferido. E mais: eu o recomendo como uma síntese do cinema de Jackie Chan para quem nunca viu um trabalho do mito e quer começar por algum lugar.


O título genérico ("História Policial", em português literal) teria sido uma estratégia do ator-diretor para evitar imitações. Acontece que seus filmes eram tão populares na Ásia naquela época que bastava o nome da obra vazar para choverem imitadores.

Por exemplo, o sucesso de "O Mestre Invencível" (no original, "Drunken Master") deu origem a uma série de "drunken masters" falsos feitos apenas para lucrar nas costas de Jackie, incluindo "Revenge of the Drunken Master", do mestre da picaretagem Godfrey Ho. Mas com um título que não deixava maiores referências, como "História Policial", ficava meio difícil copiar a temática.


POLICE STORY bebe da fonte do cinema policial/de ação de Hollywood, com menos coreografias de artes marciais (Jackie diz que preferiu usar algo próximo da briga de rua) e mais tiros e perseguições automobilísticas. Mas sempre com aquele toque pessoal que os produtores norte-americanos se recusavam a "importar": a ação aliada ao humor ingênuo, com herói e vilões envolvendo-se em lutas violentas, porém marcadas por certo toque de comédia, já que o protagonista usa tudo ao seu redor como arma.

E, claro, o fato de Jackie protagonizar todas as cenas de ação dispensando dublê, por mais perigosas e amalucadas que sejam - tipo pular de grandes alturas, atravessar vidro cenográfico ou ficar pendurado do lado de fora de um ônibus em alta velocidade, tudo sem aqueles cabos ou fios que permitem voos e acrobacias impossíveis.


As cenas de ação dos velhos filmes de Chan são espetaculares porque ele fazia estas acrobacias no limite do impossível, como se a cada filme quisesse bater o próprio recorde de maluquice. Não poucas vezes ele se machucava feio no processo, inclusive quebrando ossos.

Por isso, mesmo tendo sido feito há praticamente 30 anos, POLICE STORY continua dando um banho na maioria dos filmes de ação recentes. Afinal, não tem nada daquelas trucagens ou da computação gráfica que infesta o cinema moderno: quando o herói se atira do terceiro andar, ele realmente está se atirando do terceiro andar; quando três dublês caem do topo de um ônibus e batem a cabeça no asfalto, eles realmente devem ter ficado com um galo enorme durante semanas!


Escrito pelo próprio Jackie em parceria com Edward Tang (um de seus colaboradores habituais), o filme não perde tempo e apresenta heróis e vilões durante o planejamento de uma mega-operação das forças especiais da polícia de Hong-Kong. O objetivo é prender Chu Tao (Yuen Chor), um poderoso traficante de drogas que se esconde sob a fachada de um rico empresário.

Jackie é Chan Ka Kui (rebatizado "Kevin Chan" e até "Jackie Chan" mesmo nas versões dubladas em inglês para o mercado ocidental!), um super-tira que acabou de ser transferido para aquele distrito e logo se vê no meio da perigosa missão. Os policiais pretendem melar uma negociação de drogas que acontecerá numa favela no subúrbio da cidade, mas a batida dá errado e termina num tiroteio dos diabos, com policiais, bandidos e moradores da favela no meio do fogo cruzado.


Esta cena, que ocorre logo nos primeiros 10 minutos, já dá o tom de POLICE STORY: balas são disparadas para todos os lados enquanto policiais e bandidos correm completamente desorientados pelas ruelas apertadas da favela. A situação é tão estressante que um dos policiais surta e dispara a esmo, apavorado; depois, mija nas próprias calças de pânico!

E nada pode preparar o espectador desavisado para o desfecho desta cena, quando os bandidões correm para seus carros, percebem que a estrada foi bloqueada pela polícia e chegam à conclusão de que a única saída é descer o morro em linha reta, bem pelo meio da favela! O resultado é uma das mais absurdas cenas de perseguição automobilística já filmadas. Uma verdadeira loucura, com carros velozes atravessando barracos, entre explosões e pessoas correndo em frente aos carros, desviando de serem atropeladas por poucos centímetros! Enfim, algo que só vendo para acreditar - e até hoje me espanta o fato de ninguém ter morrido durante as filmagens desse negócio!


A tresloucada perseguição termina com Chu Tao e seus capangas sequestrando um ônibus, e Chan tendo que se pendurar na janelinha traseira do veículo em movimento usando apenas um guarda-chuva (e percebe-se claramente que é o próprio Jackie pendurado, e não um dublê), até finalmente conseguir fazer o ônibus frear bruscamente - e os bandidos voarem pela janela e se estatelarem de cabeça no asfalto!

Todos são presos e o policial vira ídolo da noite para o dia, aparecendo em anúncios institucionais da polícia e reportagens de TV. Mas a missão ainda não está concluída: a polícia conta com o testemunho da secretária do vilão, Selina Fong (a gracinha Brigitte Lin), para manter Tao atrás das grades. Sabendo que os homens do vilão farão de tudo para eliminar a testemunha, Chan é escalado para protegê-la nos dias que antecedem o julgamento.


Só que ambos se odeiam desde o início (afinal, foi ele o responsável por prender a moça). Para piorar a situação, Selina não tem a menor intenção de testemunhar contra seu patrão e foge na véspera do julgamento, deixando o herói na mão; Ele é ridicularizado no júri e o vilão é absolvido por falta de provas e por um advogado muito astuto, que todos os políticos brasileiros envolvidos em escândalos adorariam contratar.

Só que Chu Tao não é flor que se cheire e resolve se vingar do responsável por sua prisão, forjando provas para acusá-lo de um assassinato. Assim, o super-policial Chan precisa fugir da lei e procurar o vilão para um ajuste de contas.


O clímax de POLICE STORY é uma luta explosiva, e que vale o filme inteiro, num shopping-center lotado, onde Chu Tao e seus homens perseguem Selina, que leva uma pasta repleta de provas contra os bandidos. É quando Chan (o herói e o astro), em desvantagem numérica contra os capangas do vilão, conta apenas com suas loucuras e malabarismos para reverter a situação.

Alternando cenas em alta velocidade com outras em câmera lenta, a luta no shoppng é a epítome do exagero e da criatividade do cinema de ação oriental, com pessoas atravessando vidraças como se fosse a coisa mais comum do mundo (e tantas vidraças que o filme foi apelidado de "Glass Story" durante as gravações) e dublês sendo atirados de maneira violenta contra escadas, balcões e espelhos, levando o espectador a se retorcer na poltrona como se tivesse levado ele próprio o golpe!


E o melhor (ou pior, dependendo do ponto de vista) sobra para o próprio Jackie Chan, que, sem dublê, se atira de alturas consideráveis, quebra vidraças com o próprio rosto e não é atropelado por uma moto por questão de milímetros (aquela típica cena suicida que o astro adorava filmar, e que ao menor erro de sincronia poderia ter acabado em acidente grave). Por isso, quando vemos o herói com vários hematomas e cortes ensanguentados no rosto nesta cena final, fica até a dúvida sobre o que é maquiagem e o que são machucados reais, tal o realismo das cenas!

No auge da maluquice, Jackie escorrega três andares segurando-se a um poste metálico enfeitado com luzinhas de Natal, e aterrissando sobre o teto de madeira de uma banca. É o "stunt" mais arriscado do filme e o próprio Jackie realizou a façanha, por isso filmou-a num único take e com 15 câmeras espalhadas em diferentes ângulos - ao menos é o que o astro contou na entrevista, mas apenas três ângulos aparecem no filme e outros dois nas cenas excluídas.


Jackie Chan fazendo pole dance



Claro que esse é o tipo de doideira que ninguém em sã consciência faria além do kamikaze Jackie Chan: o próprio astro ficou paralisado de medo momentos antes de realizar a proeza, e, na descida, ganhou queimaduras de segundo grau nas mãos (por causa das luzinhas ligadas) e ainda deslocou duas vértebras no final da queda, escapando por muito pouco de ficar paralítico!

Em outro malabarismo ousado, na cena que despenca sobre o teto de outra banca, o astro chegou a sofrer uma parada respiratória - as cenas dos bastidores, com os primeiros socorros ao astro, são exibidas durante os créditos finais do filme. Isso comprova que poucos heróis de ação são tão sem-noção quanto Jackie Chan, e é por isso que sempre dou gargalhada quando um grande astro de Hollywood, tipo Tom Cruise, se vangloria por ter feito "algumas cenas sem dublê" em seus filmes. Vai chupar um prego, Cruise!


Sendo um legítimo filme de Jackie Chan, nem tudo é ação e pancadaria em POLICE STORY. Pelo contrário, a história tem um viés cômico bastante evidente e explorado. Algumas cenas são bem bobinhas e destoam do clima, o que pode ter soado estranho principalmente para o público ocidental (tipo o herói fazendo um "moon walk" improvisado depois de pisar em cocô, ou os sucessivos momentos engraçadinhos envolvendo "tortadas" na cara).

Já outras piadas são geniais, e aliam a comicidade às habilidades do astro como lutador e acrobata, com destaque para o momento em que ele se vê sozinho na delegacia e precisa atender quatro telefones ao mesmo tempo enquanto prepara seu almoço. É comédia física da melhor qualidade.


(SPOILER) Um detalhe curioso é que POLICE STORY acaba bruscamente, com uma imagem congelada em meio à ação, deixando a impressão de que o roteirista Edward Tang não sabia como concluir a história. A verdade é outra: originalmente o final era outro, com o herói pagando caro por ter tomado a justiça nas próprias mãos e sendo preso junto com o vilão. Isso vai de encontro às crenças pessoais do próprio Jackie, que acreditava que, se o herói infringisse a lei, deveria sofrer as consequências.

Só que a cena foi considerada muito pessimista para o público ocidental, e o distribuidor achou melhor cortar e substituir pelo freeze frame do momento imediatamente anterior à prisão. Posteriormente, quando o sucesso do filme originou a primeira continuação ("Police Story 2", em 1988), o herói já aparece livre e não há nenhuma menção à sua prisão, portanto aquele final pessimista acabou sendo retirado também das cópias orientais. (FIM DO SPOILER)


E a conclusão não foi o único corte feito para tornar o filme mais "palatável" para as plateias ocidentais: como era bastante comum na época (e até hoje), os distribuidores estrangeiros mexeram na montagem e tiraram 11 minutos da edição original. Infelizmente, esta é a versão que foi lançada também no Brasil (em VHS e DVD, com o subtítulo "A Guerra das Drogas").

Entre as diferenças na comparação "versão ocidental x oriental", a cena inicial é bem mais longa na edição de Hong-Kong, e mostra o personagem de Jackie sendo transferido para seu novo distrito, quando aproveita para apresentar personagens que o espectador ocidental acaba conhecendo apenas mais tarde e ao longo do filme - tipo o policial que se acovarda na hora do tiroteio e um colega do herói que tenta assustar Selina fazendo-se passar por capanga do vilão.


Com cortes ou sem, POLICE STORY foi um sucesso estrondoso primeiro em Hong-Kong (onde ganhou o prêmio de Melhor Filme no Hong Kong Film Awards de 1986), depois no Ocidente, onde Jackie Chan acabou virando o ídolo de astros como Burt Reynolds e Sylvester Stallone. E a ação desenfreada provocou um impacto tão grande no cinema de ação ocidental que cenas inteiras foram e continuam sendo copiadas na cara-dura.

Por exemplo, a cena em que Chan força um ônibus a parar, impulsionando seus ocupantes através do pára-brisa, foi reproduzida fielmente em "Tango & Cash - Os Vingadores" (1989), quando Stallone faz a mesmíssima coisa com um caminhão. Mais recentemente, em "Bad Boys 2" (2003), Michael Bay colocou seus heróis e vilões para atravessarem uma favela de carro, numa "citação" sem a menor sutileza e que pouquíssimos críticos pegaram.


Isso só demonstra como POLICE STORY é um filme tão à frente do seu tempo que serve de modelo e referência até os dias atuais. Aliás, mantém-se ainda hoje como um dos melhores e mais bem finalizados filmes de Jackie Chan. Todos os elementos que abriram as portas para o sucesso do astro em Hollywood estão presentes aqui e seriam reproduzidos depois à exaustão, inclusive nas quatro sequências que a aventura teve (a última, "New Police Story", é de 2004 e foi lançada no Brasil como "A Hora do Acerto").

E é uma coisa linda ver Jackie em ação à moda antiga. Os malabarismos improváveis realizados por ele e seus dublês são a prova irrefutável de como o moderno cinema de ação está estagnado, com muito barulho, explosões e efeitos especiais, mas poucas cenas realmente criativas e emocionantes, em que o espectador chega a temer pela integridade física de heróis e vilões. Não por acaso, o último filme de ação que eu realmente aplaudi de pé era oriental: o delirante "The Raid" (2011), de Gareth Evans, lançado no Brasil como "Operação Invasão", e que também mescla uma trama policial em alta velocidade com artes marciais, a exemplo do que Jackie Chan fez 30 anos atrás.


Apesar do sucesso no Ocidente, ainda não foi POLICE STORY o filme que finalmente abriu as portas para que Jackie se tornasse astro em Hollywood. Ele continuou fazendo suas doideiras no Oriente até dar a sorte grande com "Arrebentando em Nova York", co-produção Canadá/Hong-Kong dirigida por Stanley Tong e produzida dez anos depois, em 1995.

Daí foi um pulo para que o baixinho kamikaze ganhasse papéis de respeito como "sidekick" nas comédias "A Hora do Rush" (1998) e "Bater ou Correr" (2000). Tá, tecnicamente Chan era o astro desses filmes, mas sempre havia um ator ocidental metido a besta para fazer dupla com ele (Chris Tucker em um, Owen Wilson no outro), pois os produtores provavelmente pensavam que Jackie não tinha cacife para segurar um filme inteiro sozinho.


Os filmes solo nos EUA só começaram a chegar a partir de "O Terno de Dois Bilhões de Dólares", em 2002, e o homem está na ativa até hoje, agora como grande astro, com nome em destaque no pôster e estrelando superproduções. Pena que são bobagens anos-luz distante de POLICE STORY, como os infantilóides "Missão Quase Impossível" (em que precisa, vejam só que original, bancar a babá de crianças malcriadas!!!), e o já citado "O Terno de Dois Bilhões de Dólares", que é praticamente impossível de assistir.

Para quem conhece o verdadeiro cinema de Jackie Chan, e seus filmaços como POLICE STORY, as superproduções que ele estrela nos EUA não passam de grandes desperdícios do potencial do astro, calcadas em efeitos especiais e em piadinhas bobas para um público infantil. Chegam a ser ofensivas, até. Menos mal que, entre um blockbuster imbecil e outro, ele dá uma escapadinha para fazer um filme em Hong-Kong, e é quando podemos testemunhar lampejos do velho e bom Jackie, ainda que agora envelhecido e às voltas com papéis mais sérios.


Mas é uma pena que "O Grande Lutador" e "A Fúria do Protetor" não tenham dado certo na época em que foram produzidos, lá atrás nos anos 80. Fico só imaginando o impacto que o jovem Jackie Chan provocaria no cinema de ação ocidental caso Hollywood não tivesse fechado as portas para ele tão prematuramente. Se tivesse sido devidamente "importado" para os EUA já em 1985, provavelmente não teríamos Van Dammes, Seagals e outros; Chan reinaria absoluto durante décadas, e sem imitadores porque ninguém seria tão maluco quanto ele!

Enfim, POLICE STORY pode até não ser o melhor filme de Jackie (como já escrevi, não vi todos eles para julgar), mas com certeza é um dos títulos essenciais da filmografia do ídolo, e uma belíssima apresentação do que ele pode fazer, como ator, como diretor e como seu próprio dublê.

PS: Durante os créditos finais, são exibidos erros de gravação e cenas dos bastidores das gravações (quando se percebe claramente que astro e dublês se machucaram DE VERDADE em vários momentos das filmagens). Foi algo que Chan aprendeu com o diretor, ator e dublê Hal Needham em "Quem Não Corre, Voa", e que repetiu em seus próprios filmes desde então.


Trailer de POLICE STORY



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Police Story / Ging Chat Goo Si (1985, Hong-Kong)
Direção: Jackie Chan
Elenco: Jackie Chan, Maggie Cheung, Brigitte Lin,
Kwok-Hung Lam, Bill Tung, Yuen Chor, Charlie Cho,
Chi-Wing Lau e Hark-On Fung.

sábado, 5 de março de 2011

A FÚRIA DO PROTETOR - Director's e Jackie Chan's Cut (1985)


(Alô amigos do FILMES PARA DOIDOS! Eis que nesta semana comecei num emprego temporário de um mês, e assim mais uma vez me vi sem tempo de atualizar o blog. Para compensar, como sou bonzinho, vou postar mais uma Sessão Dupla, dessa vez com duas versões do mesmo filme. É uma resenha que foi bastante requisitada pelos leitores, então espero que vocês se divirtam!)

Num daqueles interessantes fenômenos do mundo do cinema, divergências entre diretores e produtores, ou entre atores e diretores, ou entre toda essa cambada junta, acabam gerando versões diferentes de um mesmo filme.

Um caso clássico é "Blade Runner" (1982): a versão que todo mundo aprendeu a gostar foi aquela editada e alterada pelos produtores, e somente uma década depois o diretor Ridley Scott conseguiu lançar sua "director's cut", com uma série de alterações e um final pessimista. Outro exemplo, que chega a ser absurdo, é "O Exorcista - O Início" (2004): o diretor Paul Schrader rodou o filme todinho, mas o resultado desagradou os executivos da Warner e eles resolveram despedir Schrader e contratar Renny Harlin para recomeçar tudo do zero, fazendo com que existem duas versões completamente diferentes da mesma obra!


Há inúmeros outros casos dignos de citação, mas um bem curioso e pouco conhecido é o de um pequeno filme de ação de 1985 chamado A FÚRIA DO PROTETOR.

Nesta época, Jackie Chan já era um grande astro no Oriente, mas estava querendo fazer sucesso também nos Estados Unidos, já que o cinema ocidental estava carente de grandes astros de artes marciais desde a morte de Bruce Lee. Jackie já tinha tentado conquistar o mercado norte-americano cinco anos antes, com a dobradinha "O Grande Lutador" (1980, de Robert Clouse) e "Quem Não Corre, Voa" (mesmo ano, dirigido por Hal Needham), mas não conseguiu chamar a atenção do público.

A FÚRIA DO PROTETOR tinha tudo para dar certo: era um violento filme de ação em que Jackie interpretava um policial durão em Nova York. Como diretor, foi escalado James Glickenhaus, que alguns anos antes chamou a atenção dos grandes estúdios graças ao sucesso de sua produção independente "O Exterminador".


O roteiro mostra uma dupla de tiras (Jackie Chan e Danny Aiello!!!) investigando o seqüestro da filha de um milionário em Nova York. O caso acaba levando ambos a Hong-Kong, onde enfrentam um poderoso traficante de drogas - mesmo argumento da comédia "A Hora do Rush", que uniu Chan e Chris Tucker em 1998, fez muito mais sucesso e virou trilogia.

O problema é que tudo deu errado no set de A FÚRIA DO PROTETOR, principalmente porque Jackie não se bicava com Glickenhaus, que considerava um péssimo diretor. Em sua auto-biografia, o astro explicou que o diretor estava mais interessado em filmar tiroteios sangrentos (ao invés das mirabolantes lutas do astro) e mulheres nuas, e que simplesmente pulava de uma cena para a outra sem dar muita bola para o roteiro.


Além disso, segundo Jackie, Glickenhaus raramente filmava mais do que quatro takes das cenas de ação, enquanto na Ásia ele estava acostumado a fazer mais de 20! Astro e diretor brigaram o tempo inteiro e, lá pelas tantas, Jackie abandonou o set. "Glickenhaus vai destruir minha carreira!", choramingou para seu agente, e este recomendou que o ator voltasse ao set pelo menos para concluir o filme, ou então pagaria uma pesada multa por quebra de contrato e nunca mais conseguiria emprego nos EUA.

O resultado é, digamos, bem diferente da imagem que Jackie construiu para si: seu personagem quase não luta, mas passa o filme fuzilando bandidos como se fosse um Dirty Harry chinês; fala vários "fuck" e circula sem timidez no meio de diversas figurantes peladas. Embora tenha a cara do cinema de ação exagerado e inconseqüente dos anos 80, a versão do diretor de A FÚRIA DO PROTETOR não é, sob hipótese alguma, um "filme de Jackie Chan".


O ator sabia disso, e achou que seria "um insulto" (suas próprias palavras) lançar essa versão norte-americana na Ásia. Resolveu o problema de uma forma simples: rodou um montão de novas cenas em Hong-Kong (principalmente mais lutas exageradas, bem ao seu estilo), cortou várias coisas que Glickenhaus havia insistido para ter no filme (as cenas com mulheres nuas, por exemplo) e até criou novas subtramas para dar sentido ao roteiro caótico da versão norte-americana.

O resultado é um A FÚRIA DO PROTETOR totalmente novo, apelidado de "Jackie Chan's Cut": enquanto a versão norte-americana tem 91 minutos, a asiática, mesmo com um montão de cenas a mais, ficou com 88 minutos (por causa dos diversos cortes feitos pelo ator na remontagem).


Assim, existem dois A FÚRIA DO PROTETOR completamente diferentes, e cada um com seus próprios fãs. E a experiência ruim de Jackie com Glickenhaus acabou sendo benéfica para seus fãs: o ator gostou da experiência atrás das câmeras, ao filmar as novas cenas para a "sua versão" do filme, e isso incentivou-o a apostar também na carreira de diretor, gravando, no mesmo ano de 1985, o excelente "Police Story" em Hong-Kong.

Qual versão é a melhor? Quais são as diferenças entre elas? Saiba tudo e um pouco mais acompanhando mais esta exclusiva Sessão Dupla do FILMES PARA DOIDOS!



THE PROTECTOR - James Glickenhaus' Cut


O diretor do clássico cult "O Exterminador" tinha um objetivo em mente ao escrever e dirigir sua versão de A FÚRIA DO PROTETOR: transformar Jackie Chan, astro de sucesso na Ásia, em um fenômeno também no Ocidente. A melhor forma de fazer isso, pensou ele, era mudar sua imagem de "lutador engraçadinho", dos filmes asiáticos, para a de policial durão nos Estados Unidos, seguindo um modelo de heróis rabugentos e de poucas palavras muito em voga no período (era a época de Stallone, Schwarzenegger e Chuck Norris).

Mas quem já viu outros filmes do diretor sabe como é seu jeito de trabalhar: um caos! Os roteiros são absurdamente fragmentados, não raras vezes contendo situações que nem ao menos se relacionam com a trama. É o que acontece aqui, e um dos motivos que enfureceu Jackie Chan.


Para o leitor ter uma idéia, A FÚRIA DO PROTETOR começa com uma gangue de punks roubando um caminhão repleto de computadores no violento bairro do Bronx. Chegam dois policiais, Billy Wong (Chan) e seu parceiro Michael (Patrick James Clarke), mas eles não fazem nada além de ironizar com um "Bem-vindo a Nova York" para o motorista do caminhão. E assim a cena termina. Você leu corretamente: os heróis nunca investigam o roubo nem perseguem os punks. É um enigma o fato de essa cena inicial existir!

Na cena seguinte, a ronda da dupla termina e eles vão tomar umas num boteco, que coincidentemente é assaltado por um grupo de psicopatas com armas de grosso calibre. Billy está no banheiro no momento do ataque e reage, matando vários dos bandidos, mas um deles foge depois de fuzilar seu parceiro. Nosso herói persegue o vilão até o cais, onde ambos escapam em velozes lanchas. A cena termina com o policial agarrando-se a um helicóptero (!!!) e usando a sua lancha como míssel para destruir o barco do bandido em fuga (!!!).


Claro que não faltam motivos para o superior de Billy ficar puto com ele e rebaixá-lo para o departamento de controle de multidões, onde ele ganha um novo parceiro, Danny Garoni (Danny Aiello).

A primeira missão de ambos é investigar o sequestro de Laura Shapiro (Saun Ellis), filha de um poderoso empresário ligado ao tráfico de drogas. Billy desconfia que a garota foi seqüestrada pelo associado do seu pai, um traficante de Hong-Kong chamado Ko (Roy Chiao), e a dupla de policiais misteriosamente consegue permissão para ir até o outro lado do mundo investigar, embora seja totalmente fora da sua jurisdição!!!

Chegando em Hong-Kong, Billy e Danny passam os minutos seguintes dando tiros e porradas na bandidagem, investigando porra nenhuma e eventualmente causando a morte de todas as pessoas que tentam ajudá-los. Isso até o herói descobrir, por meio de um vidente (!!!), o cativeiro de Laura.


Ao invés de avisar a polícia de Hong-Kong, a dupla dinâmica prefere formar um trio com um traficante de armas (!!!), que guarda em seu barco metralhadoras Uzi e até um lança-foguetes (!!!), que ganhou de presente de um amigo de Israel (!!!!).

Realizado com desleixo por Glickenhaus, A FÚRIA DO PROTETOR é um filme de ação onde só se percebe esmero nos sangrentos tiroteios, com pistolas abrindo crateras no corpo das vítimas e sangue voando generosamente à la "Duro de Matar" (que foi feito depois). Logo no começo, por exemplo, o personagem de Jackie dá um tiro no ombro de um bandido e sai mais sangue do que se tivesse acertado na cabeça!


O diretor também parece ter uma fixação doentia por nudez gratuita: quando uma garota aparece nua frente e verso numa casa de massagens vá lá, mas nada justifica o fato de as mulheres no laboratório de cocaína de Ko trabalharem completamente peladas!!!

No New York Times de agosto de 1985, o crítico detonou o roteiro do filme: "O título é 'O Protetor', mas Jackie Chan não protege ninguém e ainda deixa uns 100 cadáveres para trás". Chama a atenção principalmente o fato de que Glickenhaus não tem qualquer intenção de fazer uma aventura de artes marciais (a especialidade do seu astro), mas sim um policial sanguinolento no estilo de seus filmes anteriores, "O Exterminador" e "O Ultimato" ("Codename: The Soldier", de 1982).


Tanto que Jackie raramente tem a oportunidade de lutar ALÉM da cena final, em que ele sai no pau com um dos capangas de Ko (interpretado pelo campeão mundial de artes marciais Bill "Superfoot" Wallace). O próprio Jackie queria coreografar a luta, mas é óbvio que Glickenhaus não deixou - e o resultado está na tela, burocrático e sem grandes lances.

Outra rara chance para o astro mostrar seus talentos acontece quando o herói persegue um vilão que foge de barco, obrigando-o a saltar com motocicletas e até varas de bambu, de um barco para outro, até chegar àquele em que seu rival está.

No restante do tempo, Jackie fica perambulando para lá e para cá com um olhar de peixe morto (sem esconder sua falta de entusiasmo com o filme), sem investigar nada, ouvindo as gracinhas do parceiro Danny Aiello e descobrindo tudo por pura sorte - ou por meio do vidente, que, numa das ferramentas mais imbecis que eu já vi para tocar um roteiro adiante, conta em detalhes tudo aquilo que o herói precisava descobrir. Ele é tão eficiente que os detetives da polícia de Hong-Kong deveriam ser substituídos por videntes que lêem I-Ching!


No cômputo final, A FÚRIA DO PROTETOR não é um filme ruim: é realmente muito engraçado ver Jackie Chan como policial durão, falando palavrões e atirando à queima-roupa, longe daqueles papéis engraçadinhos em que ele se especializou (a versão editada por Glickenhaus NÃO tem humor).

Os sangrentos tiroteios e algumas boas cenas de ação, como a da casa de massagens, o ataque ao laboratório de drogas e principalmente a luta final entre Jackie e Bill Wallace, fazem valer o espetáculo para quem procura um daqueles exagerados policiais dos anos 80. E os filmes de Glickenhaus, por piores que pareçam, ainda são bem mais interessantes que muita coisa que se faz hoje.

Agora, se o seu negócio é mais artes marciais e menos "policial durão enchendo bandidos de tiros", recomendo fortemente procurar a versão asiática editada por Jackie Chan. No Brasil, a única versão de A FÚRIA DO PROTETOR disponível (em VHS e DVD) é a original norte-americana.



WAI LUNG MAANG TAAM - Jackie Chan's Cut


Completamente insatisfeito com a versão norte-americana de A FÚRIA DO PROTETOR (que inclusive bombou nas bilheterias nos EUA, arrecadando pouco mais de 980 mil dólares), Jackie Chan considerou a hipótese de nem lançar o filme no mercado asiático. Depois pensou melhor e resolveu colocar a mão na massa, consertando tudo aquilo que ele achava errado no trabalho de Glickenhaus, e filmando diversas cenas novas com os atores asiáticos, Bill Wallace e um dublê de Danny Aielo.

Para quem só conhece a versão norte-americana, fica a dica: a versão de Chan é um filme quase totalmente diferente!

A trama básica continua a mesma: o início, com o inexplicável ataque dos punks, a morte do parceiro e a viagem a Hong-Kong para investigar o sequestro de Laura Shapiro continuam no filme.


A diferença é que Jackie filmou novas cenas para corrigir algumas bobagens feitas por Glickenhaus. Quando seu parceiro é assassinado no assalto ao bar, por exemplo, o personagem de Jackie originalmente saía correndo atrás do vilão, mas adivinhando para que lado o meliante havia fugido; na versão asiática, foi adicionada uma pequena cena em que o policial pergunta a um pedestre para onde o bandido foi. Pequenos detalhes assim acabam corrigindo furos grotescos da versão norte-americana.

Como a versão asiática foi dublada, Jackie também aproveitou para eliminar todos os palavrões que foi obrigado a dizer em inglês, como "Give me the fucking keys!". E passou a tesourinha em todas as cenas com mulheres peladas, principalmente a pra lá de gratuita cena com as peladonas no laboratório de cocaína (novas cenas foram filmadas mostrando-as totalmente vestidas e bombeando cocaína para dentro de frutas).


Não contente com essas pequenas alterações, o astro ainda chamou o roteirista King Sang Tang para criar novos personagens e subtramas, justificando as cenas de luta que pretendia filmar e adicionar à montagem (todas as cenas adicionais foram rodadas pelo próprio Jackie, que assim pôde coreografar as lutas).

A maior mudança é a inclusão de uma nova personagem, Sally (interpretada por Sally Yeh). Ela é a filha de um homem assassinado pelo grande vilão Ko, e ajudará o herói na sua investigação. O encontro entre Billy e Sally acontece numa academia de ginástica, onde a moça é cortejada por dois pretendentes ciumentos. Claro que isso é apenas desculpa para uma cena de luta "engraçadinha", ao estilo Jackie Chan, em que o herói usa os instrumentos da academia (halteres, esteira...) contra seus oponentes.


Inclusive é graças a Sally que finalmente descobrimos a história da moeda que Billy usa para buscar informações com um velho informante da polícia em cena posterior, algo que na versão de Glickenhaus ficava muito no ar.

Jackie também filmou mais cenas com os vilões discutindo seus planos e se irão matar ou não os dois policiais nova-iorquinos. Bill Wallace tem mais tempo para desenvolver seu vilão, e o proprietário da casa de massagens (que desaparecia logo do filme de Glickenhaus) aparece mais vezes, primeiro apanhando dos homens de Ko por ter falhado em matar os policiais, e depois revelando ser tio de Sally, quando vai à casa da garota para avisá-la de que sua vida corre perigo.


Essa cena, bem longa, inclui Billy desarmando uma bomba colocada sob a cama de Sally pelos homens de Ko, e um tiroteio entre o herói e um dos assassinos enviados pelo vilão. No fim, o herói acompanha Sally e seu tio ao aeroporto, já que eles resolvem fugir para os Estados Unidos. E é o tio de Sally quem conta a Billy onde é o cativeiro de Laura, eliminando assim a ridícula cena do vidente "descobrindo" o local via I-Ching da versão norte-americana!

Mas calma que não termina por aí: visando dar mais tempo para que Bill Wallace demonstre suas habilidades, Jackie filmou uma outra cena de ação com ele. Na versão de Glickenhaus, o informante de Billy, Lee Hing (Kwan Yeung), aparecia morto sem mais nem menos, e com seu barco incendiado.

Uma longa cena filmada especialmente para a versão asiática mostra Hing encontrando um colega numa fábrica de gelo para se informar sobre os planos de Ko, quando ambos são emboscados e mortos por Wallace e outros capangas do vilão, em mais uma violenta luta.

Uma das cenas exclusivas da versão oriental


Finalmente, como perfeccionismo pouco é bobagem, Jackie reeditou e inseriu alguns takes nas cenas de luta filmadas por Glickenhaus sem sua colaboração (a da casa de massagens e o duelo final com Wallace), tornando-as mais "orientais" (leia-se velozes e violentas).

Com tantas cenas a mais, como é que a versão asiática de A FÚRIA DO PROTETOR consegue ser três minutos mais curta que a norte-americana? Simples: Jackie adicionou as novas cenas enquanto cortava coisas da montagem de Glickenhaus, diminuindo a perseguição ao bandido após o assalto ao bar no início (aquilo nem faz parte da trama principal mesmo), deletando a cena do funeral do parceiro de Billy e apagando diálogos redundantes.


O resultado não é apenas uma "maquiagem", mas um filme diferente no tom e no ritmo. Por isso, é difícil escolher a melhor versão.

Eu confesso que gosto bastante do A FÚRIA DO PROTETOR de Glickenhaus principalmente porque ele vai direto ao assunto (tiros, sangue, pauleira e mulher pelada), sem perder muito tempo com investigações (e é por isso que o herói descobre tudo que quer saber através do vidente, por pura preguiça do roteiro de mostrar qualquer investigação!!!).


Mas a "Jackie Chan's Cut" do filme também tem seus pontos positivos, principalmente o upgrade nas cenas de luta (duas a mais) e a remontagem mais dinâmica das cenas de ação já existentes, embora contenha um excesso de investigação e personagens.

Talvez um grande filme saísse de uma mescla das duas edições. Afinal, Glickenhaus tentou fazer um policial sério e violento enquanto Jackie teimou em inserir uma dose do seu humor habitual (a luta na academia de ginástica) que não se encaixa muito bem na proposta original.

Por via das dúvidas, recomendo conhecer as duas versões, cada um com seus méritos e defeitos, mas uma prova de que o mundo do cinema também tem dessas coisas: quem diria que uma simples briguinha entre diretor e astro pudesse gerar dois filmes quase que completamente diferentes e rodados em países diferentes?

Trailer de A FÚRIA DO PROTETOR



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A Fúria do Protetor (The Protector, 1985, EUA)
Direção: James Glickenhaus
Elenco: Jackie Chan, Danny Aiello, Victor
Arnold, Roy Chiao, Saun Ellis, Bill Wallace,
Mike Starr e Moon Lee.

Wai Lung Maang Taam (1985, EUA/Hong-Kong)
Direção: James Glickenhaus e Jackie Chan
Elenco: Jackie Chan, Danny Aiello, Victor
Arnold, Roy Chiao, Saun Ellis, Bill Wallace,
Sally Yeh e Hoi Sang Lee.