WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador Jeffrey Combs. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jeffrey Combs. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 26 de novembro de 2013

THE EVIL CLERGYMAN (1987)


(Esta postagem é dedicada ao Leo Dias, um dos maiores fãs de H.P. Lovecraft que eu conheço - se não o maior!)

Qual adaptação para o cinema de um conto de H.P. Lovecraft reúne os atores Jeffrey Combs, Barbara Crampton e David Gale, num roteiro de Dennis Paoli produzido pela Empire Pictures, de Charles Band? Bem, até 2012 só havia uma resposta possível: o clássico “Reanimator” (1985), de Stuart Gordon. Mas de 2012 em diante, a pergunta também pode ser respondida citando-se THE EVIL CLERGYMAN, um curta-metragem que reúne a mesma equipe talentosa de “Reanimator” já citada, apenas substituindo Stuart Gordon pelo produtor Charles Band na cadeira de diretor.

THE EVIL CLERGYMAN foi filmado entre 1987 e 88, mas só foi oficialmente finalizado e lançado 25 anos depois (!!!). Mais precisamente em 11 de agosto de 2012, quando o curta teve uma concorridíssima premiére na mostra Chicago Flashback Weekend, sendo depois lançado em DVD, em outubro do mesmo ano.


Para entender porque esta adaptação esquecida de H.P. Lovecraft passou 25 anos no limbo, é preciso fazer uma pequena viagem no tempo, de volta à década de 1980. Naqueles tempos, a Empire Pictures, de Charles Band, era garantia de produções divertidas feitas com pouco dinheiro, como o já citado “Reanimator”, e também “Do Além” (1986, também de Stuart Gordon), “Puppet Master / Bonecos da Morte” (1989, de David Schmoeller) e "Duro de Prender" (1988, de Renny Harlin), entre outros.

Embora sempre tenha investido uma merreca em seus filmes, a Empire enfrentava sérias dificuldades financeiras lá por 1987, quando THE EVIL CLERGYMAN começou a ser filmado. Assim, o produtor Band surgiu com um projeto arriscado: diminuir futuros longas que produziria para segmentos de meia hora, que iriam compor uma coletânea em longa-metragem chamada “Pulse Pounders”!

Anúncio da época destaca fim das filmagens de "Pulse Pounders"

Eu desconheço se realmente era mais barato filmar três curtas de meia hora, cada um com sua história e elenco independentes, do que três longas inteiros. Seja como for, o próprio Charles Band dirigiu os três segmentos sem relação entre si, sendo que apenas um deles era original (a adaptação de Lovecraft sobre a qual estamos falando), e os outros dois eram continuações de filmes populares da Empire, “Trancers” (que Band dirigiu em 1985) e “The Dungeonmaster” (1984, de vários diretores).

Dessa forma, “Pulse Pounders” era composto por THE EVIL CLERGYMAN, “Trancers 2 – The Return of Jack Deth” (com Tim Thomerson, Helen Hunt e Grace Zabriskie) e “The Dungeonmaster 2 - A Sorcerer's Nightmare” (com Jeffrey Byron e Richard Moll). A ideia em si é bem curiosa, e você pode pensar nesta coletânea como uma espécie de “Grindhouse”, aquele projeto fracassado de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, só que 20 anos antes (chupa, Tarantino! chupa, Rodriguez!).

Assim seria o pôster da coletânea "Pulse Pounders"

Enfim, os três filminhos de meia hora foram completados e Band já começava a divulgar sua antologia com o título “Pulse Pounders Volume 1”, comprovando que havia a intenção de produzir mais coletâneas no futuro, quem sabe até trazendo mini-sequências de meia hora para outros belos filmes da Empire Pictures, como “Metalstorm” ou “Patrulheiros do Espaço”, e quem sabe mais adaptações curtinhas de contos de Lovecraft.

Mas embora “Pulse Pounders” tenha sido anunciado e divulgado, inclusive com trailer em fitas da produtora (veja abaixo), a crise financeira da Empire Pictures decretou seu sepultamento: não demorou para a pequena empresa de Band ir à falência, e a prometida antologia acabou nunca sendo lançada. Pior: os negativos em 35mm foram extraviados no inferno que se desencadeia sempre que uma companhia fecha, e o projeto parecia perdido para sempre.


Trailer do nunca lançado "Pulse Pounders"



Pouco tempo depois, Charles Band abriu uma nova empresa, a Full Moon, e retomou diversos projetos antigos, com ainda menos grana e direto para o mercado de vídeo. Com “Pulse Pounders” perdido para sempre (ou ao menos assim se imaginava), o produtor resolveu dirigir até um novo “Trancers 2” em 1991, descartando completamente aquele curta filmado alguns anos antes.

Já “The Dungeonmaster 2” ficou perdido no limbo, enquanto outras adaptações baratas de contos de H.P. Lovecraft (como “Aprisionados pelo Medo”, de 1994, e “O Castelo Maldito”, de 1995) ajudaram a manter THE EVIL CLERGYMAN devidamente esquecido durante décadas.


Mas esta é uma história com final feliz, apesar de demorado: em 2011, Charles Band anunciou aos quatro ventos que encontrou uma velha fita VHS contendo a “workprint” (cópia de trabalho) de “Pulse Pounders”. Os negativos originais continuam perdidos, mas já era alguma coisa, considerando que muita gente aguardava para ver pelo menos um dos segmentos da coletânea há vinte e poucos anos!

Como bom espertalhão e comerciante que é, Band resolveu desmembrar “Pulse Pounders” e lançar os três curtas separadamente, um por ano, fazendo o possível e o impossível para dar-lhes um mínimo de restauração – já que, lembre-se, estamos falando de imagens capturadas de uma velha fita de vídeo, e sem música nem efeitos sonoros!


THE EVIL CLERGYMAN foi o primeiro episódio a ser lançado, considerando o grande culto que existe às velhas adaptações de Lovecraft produzidas pela Empire. E para este ano (2013) estava programada a estréia do “Trancers 2” bastardo, agora rebatizado “Trancers 1.5 – City of Lost Angels” por causa da existência da outra Parte 2! Já “The Dungeonmaster 2” deve ficar para 2014, a não ser que Band invente alguma das suas...

Bem, encerrada a aula de história, vamos ao que interessa: o que se pode dizer do mítico THE EVIL CLERGYMAN? Valeu a pena esperar 25 anos, ou seria melhor que o curta tivesse ficado perdido para sempre?


A resposta é simples: é óbvio que o que temos aqui não chega nem aos pés das adaptações mais clássicas de Lovecraft produzidas por Charles Band, como “Reanimator” e “Do Além”. Até porque o velho Charles não é nenhum Stuart Gordon. Mesmo assim, o resultado é bem acima da média. Talvez pela nostalgia de rever quase todo o time de “Reanimator” junto num outro filme inspirado em Lovecraft. Ou talvez pelo fato de as produções assinadas por Band hoje serem tão ruins que até os trabalhos menos expressivos da antiga Empire parecem bem melhores em comparação.

O conto homônimo que inspirou THE EVIL CLERGYMAN foi publicado no Brasil como “O Clérigo Diabólico” numa velha antologia de contos do autor chamada “A Tumba e Outras Histórias", lançada pela Francisco Alves Editora em 1991 (e republicado em 2007 no formato pocket pela  L&PM). Trata-se de um conto bem curto (apenas cinco páginas) que Lovecraft escreveu em 1933, mas só foi publicado em 1939, depois da morte do autor (que foi em 1937), na revista “Weird Talers”. (Você pode ler o conto completo, em inglês, clicando aqui)


A história original é até bem inexpressiva, narrada por um homem que visita uma velha casa e é atraído até o sótão. Ali, encontra um clérigo queimando velhos livros de magia negra na lareira. Outros religiosos, incluindo um bispo, aparecem para confrontar o “clérigo diabólico”, mas ele os confronta usando um objeto mágico que estava sobre a mesa.

Quando o próprio narrador é ameaçado pela diabólica figura, ele resolve utilizar o mesmo objeto para se livrar do clérigo. Mas, ao tentar fugir da casa, se olha num espelho e percebe que está diferente: o reflexo não é dele, mas sim do “clérigo diabólico”. E o conto termina assim: “Pelo resto da minha vida, exteriormente, eu seria aquele homem!”.


Nada muito inspirador, certo? Assim, não é de se espantar que o roteirista Dennis Paoli, o mesmo que escreveu diversas adaptações de Lovecraft para Stuart Gordon dirigir (de “Reanimator” a “Dagon”), tenha aproveitado bem pouco do conto ao escrever THE EVIL CLERGYMAN. E, mais uma vez, sexo e perversão são a mola-mestra da trama, a exemplo do que já havia acontecido em “Reanimator” e “Do Além”.

O narrador anônimo (e homem) do conto aqui foi transformado numa bela mulher, Said Brady, que obviamente é interpretada pela delícia da época Barbara Crampton (aquela mesma que quase foi estuprada por uma cabeça decepada em “Reanimator”). Ela vai visitar um velho castelo onde viveu e morreu um clérigo chamado Jonathan (Jeffrey Combs, o Dr. Herbert West de "Reanimator"), que não era exatamente um exemplo de pureza - lembre-se: ele é o “clérigo diabólico” do título!


Ocorre que Said e Jonathan foram amantes no passado. Ao saber da morte misteriosa do religioso, ocorrida há alguns dias, a garota resolve visitar o quarto onde ele vivia e onde ambos dividiram momentos de intimidade. Porém, no momento em que a moça fica sozinha no local, Jonathan reaparece. E não se trata de uma assombração, conforme ela irá confirmar por conta própria. No momento seguinte, os dois estão na cama “tirando o atraso”.

Pelos próximos vinte e poucos minutos, aparecem ainda um misterioso bispo (interpretado pelo excelente David Warner), que acusa Jonathan de assassinato, e uma bizarra criatura meio homem, meio rato (“interpretada” por David Gale, o Dr. Hill de “Reanimator”, aqui debaixo de carregada maquiagem). É quando Said começa a desconfiar das boas intenções do clérigo por quem se apaixonou...


Como se trata de um curta-metragem de 27 minutos, não dá para falar muito mais sobre THE EVIL CLERGYMAN para não estragar a surpresa. Mas, para quem já leu o conto original de Lovecraft, é bom salientar que quase tudo que se vê na tela saiu da mente do roteirista Paoli, e a única coisa que realmente lembra a história em que o filme se inspira é a conclusão - mesmo que (infelizmente) sem usar o recurso do reflexo no espelho.

A exemplo do que já havia feito em seus roteiros de “Reanimator” e “Do Além”, Dennis Paoli escapa da armadilha de tentar adaptar Lovecraft com muita fidelidade, descartando a narrativa em primeira pessoa e buscando uma abordagem que mistura horror e erotismo – aqui, como acontecia em “Reanimator”, a pobre Barbara também leva umas lambidas em lugar estratégico do vilão interpretado por David Gale!


Aliás, é impossível não lembrar de “Reanimator” quando THE EVIL CLERGYMAN parece uma reunião da equipe técnica daquele filme. Se não existisse um intervalo de tempo de pelo menos dois anos entre as duas produções, eu poderia até jurar que o curta tinha sido filmado nos intervalos das gravações de “Reanimator”. Além de dividir o mesmo elenco e o mesmo roteirista, o curta traz ainda o diretor de fotografia Mac Ahlberg e o técnico de efeitos especiais John Carl Buechler, que também trabalharam naquele filme.

É uma pena que Stuart Gordon também não tenha voltado para assinar a direção e deixar o clima ainda próximo do universo dos seus “Reanimator” e “Do Além”. Band até que se sai bem ao tentar emular esse clima, mas é impossível não ficar imaginando como o curta ficaria caso Gordon estivesse no comando, ainda mais conhecendo sua paixão pelos contos e pelo universo de Lovecraft.


Curiosamente, apesar do reencontro da turma de “Reanimator”, para mim a melhor coisa do curta é a pequena participação do lendário David Warner, que deve ter gravado todas as suas cenas em algumas poucas horas. Seu personagem, o bispo misterioso, aparece para reforçar as verdadeiras intenções de Jonathan, e justificar o porquê de ele ser o “clérigo diabólico” do título original.

O restante da turma manda muito bem, e, além dos quatro já citados, completa o reduzido elenco a veterana Una Brandon-Jones, no papel da proprietária do castelo. Eu só lamento o pouco tempo em cena de David Gale e seu homem-rato, já que, depois de anos lendo sobre o curta em minhas pesquisas sobre a antologia “Pulse Pounders”, eu sempre imaginei que o monstrinho teria um papel muito maior na trama. (O curta é dedicado ao ator, que faleceu em 1991.)


Irmão de Charles, o compositor Richard Band (que, vejam só, também é o responsável pela antológica trilha de “Reanimator”, aquela chupada do tema de “Psicose”!) foi convidado para compor a música de THE EVIL CLERGYMAN mais de vinte anos depois do fim das filmagens. A trilha tem seu charme e lembra os melhores momentos do músico; se eu não soubesse que é coisa nova, juraria que ele tinha composto a música lá em 1987!

Claro que, como o curta foi resgatado de uma cópia em VHS de quase 30 anos atrás, a qualidade da imagem não é das melhores, um problema que é ainda mais perceptível nas cenas escuras. Infelizmente, não há muito o que fazer nesse departamento, a não ser que os negativos originais reapareçam e permitam fazer uma nova montagem – quem sabe até com cenas que não foram aproveitadas na “workprint” daquela época.


Considerando o nível das podreiras que Charles Band produz e dirige hoje, repletas de CGI de quinta categoria e roteiros tosquíssimos sobre bongs e biscoitos assassinos, THE EVIL CLERGYMAN promove um autêntico retorno ao passado, a uma época não tão distante em que mesmo os filmes de horror mais baratos tentavam buscar um mínimo de sofisticação, e dependiam bastante do talento e criatividade do técnico em efeitos especiais, e não do computador.

É interessante constatar que os efeitos da criatura “homem-rato” não foram produzidos em stop-motion, como era comum naquela época nas produções da Empire. Pelo contrário, o pobre David Gale vestiu uma roupa de rato em tamanho natural e foi obrigado a zanzar de quatro por um cenário repleto de estruturas aumentadas, para dar a ideia de que o monstrinho é bem menor do que realmente era.


Isso exigiu bastante criatividade do time dos efeitos especiais, principalmente para a cena em que o homem-rato aparece dando umas lambidas na bunda da mocinha. Mesmo com pouco dinheiro em caixa, Band dispensou truques fotográficos ou montagens porcas e mandou construir uma réplica da bunda de Barbara Crampton em dimensões gigantes (!!!) só para poder filmar essa cena.

No bate-papo realizado na premiére do filme, em agosto do ano passado, a atriz inclusive lembrou com surpresa da réplica gigante dessa bela parte da sua anatomia, e questionou Band sobre o destino do “bundão”; segundo o diretor-produtor, alguém da equipe deve ter guardado de recordação, sabe-se lá com que propósito!


No mesmo bate-papo, Band lembrou que a equipe dos efeitos tentou fazer uma complicada trucagem em que o rosto de Jeffrey Combs se transformava no de Barbara Crampton; porém, após alguns testes, eles abandonaram a ideia e preferiram deixar a “transição” para a imaginação do espectador. Confesso que fiquei curioso para ver como resolveram algo tão complicado tecnicamente com os efeitos práticos da época...

Por falar em DVD, THE EVIL CLERGYMAN está disponível no formato desde outubro de 2012, mas o material é a típica picaretagem do mercenário Charles Band: ao invés de esperar para finalmente lançar o tão sonhado “Pulse Pounders” num único DVD, o maquiavélico produtor optou por lançar discos separados com cada um dos curtas. Assim, você é obrigado a desembolsar o preço de um longa para ter o DVD com um curta e alguns extras mixurucas que foram gravados hoje. Bem, é justamente nesses casos que o download de filmes funciona como uma espécie de justiça poética, já que Band definitivamente não merece o dinheiro que está cobrando pelo material.


Picaretagens à parte, THE EVIL CLERGYMAN é muito divertido e vale principalmente pelo fator nostalgia, já que todo fã das produções da extinta Empire, e de suas clássicas adaptações de Lovecraft, passou os últimos anos sonhando com esse curta-metragem. Vê-lo hoje, nesses tristes tempos em que o gênero parece dominado por refilmagens e overdose de CGI, é como fazer uma viagem no tempo até uma época que transpirava simplicidade e criatividade.

E, confesso, dá a maior saudade daquelas adaptações classe B de Lovecraft que a turma da Empire/Full Moon adorava produzir. Porque se hoje boa parte dos cinéfilos sonha com a tão comentada adaptação de “Nas Montanhas da Loucura” por Guillermo Del Toro, a única coisa que realmente me deixaria animado seria um retorno do velho Stuart Gordon aos textos de Lovecraft.

Mas como isso parece um sonho cada vez mais distante, o que nos resta são esses 27 minutos de THE EVIL CLERGYMAN para quebrar o galho...


Cena de THE EVIL CLERGYMAN



***********************************************************
The Evil Clergyman (1987-88, EUA)
Direção: Charles Band
Elenco: Barbara Crampton, Jeffrey Combs,
David Gale, David Warner e Una Brandon-Jones.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ROBOJOX - OS GLADIADORES DO FUTURO (1990)


Há algum tempo, quando escrevi sobre o trashaço "A Batalha Final", de David A. Prior, aqui no FILMES PARA DOIDOS, ironizei a estupídez de um roteiro em que o destino da humanidade era decidido através do simples duelo corpo a corpo entre dois homens que representavam "o melhor" de duas superpotências, nesse caso Estados Unidos e a extinta União Soviética.

Então, por esses dias, revi a ficção científica ROBOJOX - OS GLADIADORES DO FUTURO, uma daquelas produções classe C da produtora Empire que quase ninguém lembra que existe, e muito menos que foi dirigida por Stuart Gordon (é capaz de o próprio Gordon ter esquecido que fez esse filme).


Eu mesmo tinha algumas memórias bem esparsas sobre o filme, e me surpreendi ao constatar que ele tem uma história tão tosca quanto a de "A Batalha Final" - embora, nesse caso aqui do filme do Gordon, levada bem menos a sério.

A trama se passa 15 anos após uma guerra atômica, e as duas superpotências (EUA e União Soviética, como sempre) decidiram que iriam resolver suas diferenças não mais com bombas nucleares, mas sim com o duelo corpo a corpo entre seus "campeões" (chamados Robojox), estilo "A Batalha Final".

A diferença é que os campeões de cada superpotência não lutam pessoalmente, mas sim "pilotando" enormes robôs gigantes!!!


Você não leu errado, e é claro que quando você passa dos 13 anos de idade toda a proposta do filme se demonstra uma idiotice desde o começo. Afinal, se as superpotências do futuro têm recursos e tecnologia para construírem robôs gigantes avançadíssimos e cheios de armas e equipamentos, por que diabos precisam colocar SERES HUMANOS dentro deles ao invés de programar os robôs para lutarem sozinhos - eliminando, assim, a possibilidade de "falha humana"?

Seja como for, e fechando um olho para a estupidez do conceito, ROBOJOX revela-se um filme razoavelmente divertido, que lembra até, com certo saudosismo, aqueles velhos seriados japoneses com robôs gigantes feitos de plástico, como "Jaspion" e "Changeman".


A trama começa com o Western Market (novo nome dos Estados Unidos) perdendo um de seus principais competidores, que é esmagado pelo robô gigante do grande campeão da Confederação Russa - um psicopata chamado Alexander (interpretado pelo eterno vilão Paul Koslo, de "Projeto Mortal" e "Mr. Majestyk").

Com isso, sobra para o maior campeão do mundo ocidental, Achilles (Gary Graham), a missão de derrotar Alexander e conquistar novos territórios para os EUA. Acontece que, como num gigantesco jogo de War, as lutas entre os robôs determinam a posse dos territórios do mundo para a nação vencedora do confronto robótico (!!!).


Só que a batalha entre os dois arquiinimigos acaba mal: o robô de Alexander dispara um míssil contra as arquibancadas que ficam ao redor do campo de batalha, repletas de inocentes espectadores. Achilles tenta usar seu próprio robô para abafar o impacto da explosão, mas mesmo assim tomba sobre uma das arquibancadas, matando 300 pessoas no desastre!!!

Traumatizado com o incidente, o campeão norte-americano decide parar de lutar. No seu lugar, o Western Market coloca Athena (Anne-Marie Johnson), uma garota que faz parte de um time de jovens manipulados geneticamente para serem guerreiros infalíveis (!!!).

Sabendo que ela não tem nenhuma chance contra o psicótico Alexander, e apaixonado pela moça, Achilles resolve sair da aposentadoria para uma batalha final de robôs gigantes.


Como eu sempre escrevo em relação à maioria dos filmes analisados aqui no FILMES PARA DOIDOS, é preciso fechar um olho (às vezes até os dois) para curtir ROBOJOX.

Na verdade, o filme é bem pior do que eu me lembrava nas minhas memórias de infância, mesmo que tenha algumas coisas muito legais e seja razoavelmente curto, terminando antes de começar a realmente incomodar - embora a conclusão seja abrupta e sem maiores explicações sobre o destino dos personagens e dos conflitos, como se o dinheiro tivesse acabado de repente, ou talvez as ideias...


Stuart Gordon é mais lembrado pelos seus terrores escatológicos inspirados em H.P. Lovecraft, como "Reanimator" e "Do Além", do que pelos filmes de ação/ficção científica que fez nos anos 90. Este foi o primeiro deles, e depois viriam ainda "A Fortaleza" (1992) e "Space Truckers - Piratas do Espaço" (1995), sendo que, na minha humilde opinião, apenas o filme com o Christopher Lambert presta.

Fugindo do estilo que caracteriza a maior parte da sua filmografia, Gordon não abusa da violência e nem do humor negro em ROBOJOX: o filme não passa de uma aventura quase inofensiva voltada ao público infanto-juvenil, e se digo "quase inofensiva" é por causa de uma breve cena de nudez (uma bundinha que aparece bem rápido) e de algum sanguinho aqui e ali.

(E com certeza as crianças veem coisas bem piores no YouTube hoje em dia...)


A indefinição do público-alvo do filme parece ser um dos seus principais problemas. Às vezes ele tenta ser adulto e sarcástico (os guerreiros geneticamente manipulados, por exemplo, foram apelidados de "tubbies" pelos humanos "normais", e quase todos os personagens têm nomes de mitos greco-romanos, como Aquiles, Atenas, Alexandre, Ajax e Hércules). Mas, na maior parte do tempo, o negócio todo é apenas infantil, quase inocente.

Essa indefinição chegou a motivar brigas entre o diretor Gordon e o roteirista do filme, o autor de livros de ficção científica Joe Haldeman, aqui em seu primeiro e único trabalho para o cinema.


Acontece que Gordon queria, abertamente, fazer um filme para crianças, enquanto Haldeman escreveu um roteiro adulto sobre soldados durões que enfrentavam-se até a morte nos duelos com robôs gigantes. Furioso com o resultado do projeto, o autor chegou a declarar que ROBOJOX era como um filho que nasceu saudável e de repente teve morte cerebral!!!

Uma das principais críticas de Haldeman foi em relação aos personagens do filme, que teriam sido transformados em estereótipos pelo diretor. Realmente, além do campeão (ianque) de bom coração e do seu rival (comunista) psicopata, temos um treinador texano que se chama Tex (!!!), que anda sempre com chapéu de caubói, e um cientista chamado Matsumoto - japonês, é claro.


Para piorar o negócio, o herói sem sal interpretado por Gary Graham compromete qualquer identificação do espectador com o que está acontecendo.

O elenco secundário traz alguns colaboradores habituais de Gordon, como Robert Sampson (o reitor de "Reanimator") e Jeffrey Combs (numa participação rapidíssima); o próprio diretor aparece em ponta como o barman do que parece ser o único bar do mundo pós-apocalíptico, já que TODOS os personagens, heróis e vilões, sempre se encontram ali na mesma hora!

Destaque também para uma pequena participação de Hilary Mason, a assustadora médium cega de "Inverno de Sangue em Veneza", aqui interpretando uma cientista sem maior destaque.


Agora, a principal qualidade de ROBOJOX são, claro, as lutas com robôs gigantes. Produzidas através de miniaturas e de efeitos em stop-motion, elas recuperam aquele clima ingênuo de Sessão da Tarde, num trabalho eficiente do saudoso Dave Allen (um dos grandes magos dos efeitos especiais do cinema B da época, falecido em 1999).

Ao ver aqueles robôs lutando em stop-motion, e os criativos truques utilizados pelos realizadores para que o espectador realmente acredite que aquelas miniaturas são robôs GIGANTES (entre eles, o bom e barato chroma-key), eu não pude deixar de pensar em como filmes tipo "Transformers" seriam muito mais charmosos e divertidos com esse tipo de efeito simples e barato, e não com computação gráfica de videogame. (Você pode conferir uma das lutas entre robôs no vídeo abaixo)

Transformers produzido por Charles Band



É uma pena, portanto, que ROBOJOX não funcione do jeito que deveria. Não se sabe quem é o verdadeiro culpado pelo que se vê na tela (o roteirista ou o diretor), mas é duro de engolir que o destino de países esteja nas mãos de dois guerreiros lutando a bordo de robôs - até porque os caras parecem não fazer praticamente nada antes de receber as ordens de seu treinador e equipe via rádio, embora sejam, em teoria, os grandes campeões de cada superpotência!!!

A conclusão moralista para a luta mortal entre Achilles e Alexander (bem parecida com o desfecho de "A Batalha Final") também não ajuda.

E mesmo que a pobreza de ROBOJOX esteja estampada em cada cena da película, esta foi a produção mais cara da Empire Pictures, a produtora de Charles Band, tendo custado cerca de 10 milhões de dólares (uma mixaria perto de um "Transformers", por exemplo).


O filme inclusive teria sido responsável pela falência da Empire: rodado em 1988, ficou na geladeira por dois anos até que o material foi adquirido por outra produtora (Epic Productions) e finalmente finalizado.

Enquanto isso, Band fundou outra empresa (a Full Moon) e dedicou-se a tentar recuperar o prejuízo obtido com ROBOJOX, reutilizando as mesmas miniaturas em outros dois filmes (!!!) sobre robôs gigantes, os divertidos "Rebelião no Século 21" (1990, dirigido pelo próprio Charles) e "Robot Wars" (1993, dirigido pelo seu pai Albert Band).

Ambos foram vendidos como sequências de ROBOJOX em algumas partes do mundo, e, dos três, "Rebelião no Século 21" é o melhor e mais divertido.

Trailer de ROBOJOX - OS GLADIADORES DO FUTURO



*******************************************************
Robojox - Os Gladiadores do Futuro
(Robot Jox, 1990, EUA)

Direção: Stuart Gordon
Elenco: Gary Graham, Anne-Marie Johnson, Paul
Koslo, Robert Sampson, Danny Kamekona, Hilary
Mason, Michael Alldredge e Jeffrey Combs.