WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador Cirio H. Santiago. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cirio H. Santiago. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ANJO DA DESTRUIÇÃO (1994)


Hoje a garotada vê coisa bem pior no X Videos ou no RedTube, mas o moleque pré-internet do começo dos anos 1990 precisava se contentar com as cenas sensuais, nada explícitas e cheias de cortes da extinta Sexta Sexy (depois Cine Privê). Os "erotic thrillers" e "filmes de ação sensuais" exibidos nesta saudosa sessão da TV Bandeirantes criaram todo um "star system punhetístico" para os moleques brasileiros, formado por musas como Shannon Tweed, Julie Strain e Delia Sheppard.

Estas e outras menos conhecidas davam o ar da graça toda semana na telinha da Band, com pouca ou nenhuma roupa, e o garotão impúbere tinha que criar mil estratégias para assistir os filmes de putaria na sala de casa sem que os pais percebessem. Bons (e ingênuos) tempos...


Os nobres leitores (e leitoras) do FILMES PARA DOIDOS devem ter suas próprias estrelinhas da Sexta Sexy, mas a minha musa desses tempos atendia pelo nome de Maria Ford. Sabe aquele porre de música do "Ai ai ai ai! Assim você mata o papai!"? Pois a letra poderia muito bem ter sido escrita para ela.

Maria era um fetiche ambulante: loira falsa com boca carnuda, corpo escandaloso de boneca Barbie e um par de belíssimos peitinhos (aparentemente) sem silicone. Reza a lenda que um tal de Quentin Tarantino também a elegeu sua "B actress" favorita. E, antes de atuar, Maria era showgirl (nome chique para "stripper") em Las Vegas.


A musa loira fez mais de 50 filmes, e até meados de 1998 o nome "Maria Ford" na capinha da fita (ou DVD) era garantia de que haveria cenas calientes e o belo corpo desnudo da moça em pelo menos 30% do tempo de projeção. Alguns belos exemplos que comprovam essa teoria são "Slumber Party Massacre 3", "Deathstalker 4", "Roedores da Noite" e "Stripteaser". Depois de 1998, ela ficou "séria" e praticamente parou de tirar a roupa, aparecendo em produções infantis como "Beethoven 5" ou seriados inofensivos na TV. Bah

Portanto, se você quiser ver uma das produções menos comportadas da musa, para poder examinar os seus "atributos artísticos" em detalhes, fica como dica do FILMES PARA DOIDOS um dos seus grandes clássicos: ANJO DA DESTRUIÇÃO. Uma das tantas podreiras exibidas na Sexta Sexy, esta produção também é divertida como filme de ação classe C, para aqueles que não gostam tanto de mulher. E pode ser resumida nas seguintes palavras: heroína luta pelada. Sério.


Eu puxei ANJO DA DESTRUIÇÃO dos labirintos da minha memória porque, recentemente, um distinto leitor perguntou, nos comentários da minha resenha sobre "Desejo de Matar 5", qual era o filme em que uma loira gostosa aparecia lutando pelada. Sempre que falam em "gostosa lutando pelada", lembro imediatamente de três filmes: "TNT Jackson", onde a lutadora peladona é negra; "Silk 2 - A Desforra", onde a lutadora peladona é a ruiva Monique Gabrielle, e este ANJO DA DESTRUIÇÃO, onde a honra cabe a Maria Ford, de peitos de fora e calcinha minúscula atolada na bunda. Parece que o filme da pergunta não é nem um dos três, mas o que vale é a intenção.

E vamos combinar que assim fica fácil para vencer uma luta contra qualquer homem: a última coisa em que pensariam os rivais de uma gostosa lutando pelada seria se defender dos golpes; eles querem mais é ficar olhando para aquele espetáculo de mulher antes de serem nocauteados!


ANJO DA DESTRUIÇÃO se passa no Havaí filmado nas Filipinas (!!!), e começa com um sujeito de quase dois metros (Jimmy Broome, único filme) entrando num hotel acompanhado de uma prostituta que tem metade da sua altura. Eles vão para o quarto, a moça fica de topless e o gigantão diz que esqueceu algo no carro e já volta. "Não demore muito", ronrona maliciosamente a puta de topless.

O sujeito sai do quarto, mas não vai até o carro. Ele entra num quarto próximo, onde detona uns cinco ou seis caras armados apenas usando golpes de artes marciais, e ainda atira o último que sobra pela janela, depois de dizer algo como: "Você deixou minha unidade em Angola, e eu não gostei disso". O lance de Angola nunca se justifica, mas depois de atirar o cara pela janela, o gigante volta para o seu quarto, faz a prostituta vestir-se de noiva e a mata


Corta para uma detetive machorra, vestida como Tom Cruise em "Top Gun" (com óculos escuros e jaqueta de couro marrom cheia de emblemas bordados), chegando num outro hotel de quinta categoria, dessa vez para resgatar uma menina que foi sequestrada para abastecer o lucrativo mercado de escravas brancas.

A moça é boa de briga e também arrebenta uns quatro ou cinco caras na porrada. Um deles, que parece ser o chefão, leva golpes no nariz e no saco, e ainda precisa ouvir uma gracinha da lutadora: "O nariz quebrado é pela garota que você sequestrou, mas a vasectomia é de brinde!". Cara, quem escreveu esse roteiro, e por que ele nunca ganhou nenhum Oscar?


A detetive valentona é Brit Altwood, interpretada por Charlie Spradling. Ela tem certo culto no cenário independente porque apareceu num monte de porqueira, mas também caiu nas graças de um certo David Lynch e conseguiu participações num episódio de "Twin Peaks" e no longa "Coração Selvagem". Li em algum lugar que Charlie seria originalmente a protagonista de ANJO DA DESTRUIÇÃO, mas ela não quis aparecer pelada, por isso perdeu o papel para Maria Ford - que tirava a roupa quase automaticamente quando o diretor gritava "Ação!".

O engraçado é que Charlie ficou cheia de pudores aqui, mas fez cenas de nudez em praticamente todos os seus outros filmes! Bem, quem ganha é o espectador: Maria Ford é muito mais gostosa que Charlie Spradling. E se você quiser ver a Charlie Spradling pelada, basta assistir filmes como "O Mestre dos Brinquedos" ou "Seduzida pelo Horror".


Voltemos ao filme: parece que Brit é o "Anjo da Destruição" do título, certo? Mas então cadê a Maria Ford? Calma, calma, já chegamos lá! Porque nossa aventura de repente corta para um show de pop rock com uma cantora "escandalosa" tipo Madonna. A diferença é que Madonna não ficava cantando de lingerie e peitos de fora, mesmo na sua fase mais polêmica. E isso, acredite ou não, acontece aqui, quando somos apresentados à estrela do rock peladona Delilah (Jessica Mark, único filme).

Claro que se o seu ramo de negócio é cantar pop rock de lingerie e peitos de fora, o assédio dos pervertidos deve ser bem comum. O problema é que Delilah atrai as atenções justamente daquele "psicopata gigante matador de prostitutas vestidas de noiva que não gostou de ter sua unidade abandonada em Angola", lembra? E o sujeito presenteia sua roqueira de topless preferida com o dedo decepado da puta do hotel! Digamos que não é uma bela forma de começar uma relação.


No dia seguinte, Delilah procura a detetive Brit para contratá-la como guarda-costas. Ela não confia na polícia e quer uma gostosa guardando as suas costas (e demais partes do corpo). Mas não malicie as coisas, porque isso nem chega a acontecer: é só a roqueira sair do escritório de Brit que aparece por lá o tal fã psicopata.

Ele mata a detetive a pancadas, e é um autêntico cavalo, porque bate pra cacete na pobre da garota! Mas dá azar porque a moça tem uma irmã, a policial disfarçada Jo, que é interpretada por... eba!... Maria Ford!!!


O engraçado é que quando Jo aparece pela primeira vez, ela está na cena do crime daqueles caras e da puta que o psicopata gigante matou no hotel no começo do filme, lembra? O problema é que, a essas alturas, nós já estamos no DIA SEGUINTE aos acontecimentos mostrados no começo do filme! Mas, ao que parece, a polícia só chegou à cena do crime 24 horas depois. E isso que um cara foi atirado pela janela! Lenta, essa polícia do Havaí...

Jo tem um namorado também policial, Aaron (Antonio Bacci, único filme, e com um bigodinho de ator pornô!). Investigando a relação entre esses crimes todos, a dupla descobre que o dedo decepado que Delilah ganhou de presente pertencia à puta morta no hotel, e que o anel que adorna o membro decepado contém o mesmo símbolo da fachada de um bar barra-pesada da cidade. Hã?!? Peraí, isso era para fazer sentido? Provavelmente não, mas a história tinha que andar de alguma maneira, né não?


Aí Jo e Aaron vão até o tal bar em busca de pistas, e o lugar é frequentado por mercenários dos mais filhos da puta - tipo, eles têm metralhadoras penduradas nas paredes e se divertem atirando facas em alvos. É claro que o "interrogatório" dá errado e a dupla de policiais precisa sair na porrada, assim podemos ver Maria Ford em ação pela primeira vez (ela sabia um tantinho de artes marciais na vida real).

Vamos combinar que é hilário ver uma loira gostosa como Maria Ford distribuindo pancadas e nocauteando uns caras com o dobro do tamanho (e dos músculos) dela. Entretanto, como bem observou um gringo que comentou sobre este filme no IMDB, as lutas são muito mais convincentes do que as mostradas em "As Panteras". Ele tem razão.


Não demora para Jo e Aaron descobrirem que o "psicopata gigante lutador de artes marciais etc etc etc" é Robert Kell, um super-mercenário que, por algum motivo ignorado, passa o resto do filme matando prostitutas vestidas de noiva e "stalkeando" Delilah.

E olha que ele nem é o único problema da "cantora": seu empresário, um tipo mafioso, está perdendo rios de dinheiro com o fracasso comercial da moça (vai ver sua música não funciona se ela não estiver cantando ao vivo de topless), e resolve mandar seus capangas para matá-la, assim embolsará a grana do seguro. Faz sentido? Não. Mas o filme ficaria muito chato se Maria Ford passasse os 90 minutos apenas atrás do psicopata gigante, portanto deram-lhe mais um punhado de capangas anônimos para surrar e encher de tiros.


Isso conduz à cena que faz ANJO DA DESTRUIÇÃO valer o preço da locação, ou o tempo investido: aquela em que os tais capangas do mafioso invadem a mansão de Delilah à noite para dar um fim na cantora. Só que a guarda-costas Jo está pronta para proteger sua cliente, mesmo que seja vestindo apenas uma calcinha atolada na bunda, porque ela acabou de acordar e, ao contrário de Monique Gabrielle em "Silk 2", não tem tempo de vestir sequer um roupão para enfrentar os malvados.

Cara, podem me chamar de pervertido, de imaturo, mas ver uma gostosa peladona surrando um bando de marmanjos é uma daquelas coisas que me faz acreditar no termo "magia do cinema". Afinal, este não é o tipo de coisa que você verá algum dia na vida real!


A crítica especializada babou ovo para David Cronenberg (que novidade!) na época de "Senhores do Crime" (2007), dizendo que a cena em que o Viggo Mortensen lutava completamente pelado contra inimigos armados com facas era genial porque "representava toda a vulnerabilidade do protagonista", e aquele "bla-bla-bla" pseudo-cinéfilo de sempre.

Ora, pois ANJO DA DESTRUIÇÃO fez a mesmíssima coisa 13 anos antes e ninguém deu bola. E entre o pau mole do Viggo Mortensen no filme do Cronenberg e a Maria Ford de topless e calcinha atolada na bunda aqui, é claro que fico com essa última! Fodam-se o Cronenberg e o pau mole do Mortensen!


Obviamente, ANJO DA DESTRUIÇÃO não é, nem com muita generosidade, um bom filme. Mas nem precisa ser: ele tem Maria Ford no elenco. E pelada. E lutando pelada. E, quando não está pelada, está vestindo roupas dignas de sex shop ou stripper, embora seja uma policial. Seu figurino se resume a umas mini-blusas deixando meio seio à mostra e umas calças tão grudadas no corpo que parece que vão rasgar a qualquer movimento brusco.

Aliás, no quesito "safadeza" o filme não nega fogo. Praticamente todas as atrizes aparecem peladas (menos a regulona da Charlie Spradling). Maria Ford tem uma cena de sexo com Antonio Bacci cheia daquelas caras e bocas típicas dos filmes da Sexta Sexy, e, lá pelas tantas, é obrigada pelo vilão a fazer um striptease em público, caso contrário ele matará uma refém. Claro que isso é mera desculpa para mais sacanagem, e para Maria Ford relembrar seus tempos de stripper em Las Vegas, numa cena sem qualquer fundamento narrativo, mas de-li-cio-sa!


E tem ainda os videoclipes safadinhos da roqueira Delilah com sua amante lésbica Reena (Chandra Fayme), sempre repletos de topless e fetichismo sadomasoquista, parecendo uma sátira ao que Madonna fazia na época (e uma espécie de preview do que Lady Gaga faria quase duas décadas depois).

Enfim, é tanta mulher pelada e nudez gratuita que até quem gosta muito da coisa vai se pegar reclamando: "Mulher pelada DE NOVO?". Não que eu esperasse algo sério ou digno de Shakespeare quando assisti isso. Quer dizer, volte lá para o topo da resenha e dê uma boa olhada na capinha da bagaça: quem em sã consciência veria um filme com essa capinha em busca de um roteiro complexo e de boas interpretações? Talvez os mesmos que mentem dizendo que compram a Playboy só para ler as entrevistas...


Mesmo que você seja menina, ou daquele tipo que tem nojinho de mulher, o filme continua funcionando por outro ângulo: é tão ruim e absurdo, com cenas de ação que não convencem (tipo uma gostosa surrando dezenas de mercenários valentões) e diálogos toscos, que provoca acessos de gargalhadas involuntárias com bastante frequência.

Além das lutinhas com roupa e sem, Maria Ford também demonstra ser muito boa de tiro, naquelas típicas cenas exageradas à la John Woo em que a heroína dispara de cinco a sete tiros num único vilão, apenas pelo mórbido prazer de explodir "squibs" cheios de sangue no peito dos atores.


ANJO DA DESTRUIÇÃO é uma co-produção EUA/Filipinas realizadas por dois nomes bem conhecidos do leitor do FILMES PARA DOIDOS: Roger Corman e Cirio H. Santiago (o mago das aventuras filipinas baratas). Só por aí, você já pode ter uma bela ideia do que vem pela frente.

O curioso é que o filme é uma espécie de remake (ou "reboot", o termo da moda) de outra aventura produzida pela mesma dupla apenas dois anos antes, "Fúria Sangrenta" (Black Belt, 1992). Tanto original quanto "remake" foram escritos e dirigidos pelo mesmo Charles Philip Moore, mas em "Fúria Sangrenta" era Don "The Dragon" Wilson que fazia o papel de protetor de uma rockstar contra um karateka psicopata interpretado por Matthias Hues. E Wilson não lutava pelado em nenhuma cena (ainda bem!!!).


Os dois filmes dividem até diálogos exatamente iguais, e a única razão para ANJO DA DESTRUIÇÃO existir foi o desejo de colocar uma gostosa pelada no lugar de um cara, pois o resto é exatamente igual. Por mais que eu goste do "The Dragon" Wilson como lutador, confesso que prefiro Maria Ford no lugar dele - e a comparação entre eles é injusta por fatores bem óbvios.

Por conseguinte, eu recomendo ANJO DA DESTRUIÇÃO para aquele público que adora ver aventuras classe B (ou C) cheias de tiros e explosões, mas que estão cansados de ver marmanjos fortinhos sem camisa, tipo Dolph Lundgren e Van Damme, no papel principal. Aqui, você encontra Maria Ford sem camisa no mesmíssimo papel. E acredite: faz toda a diferença!


Além disso, o vilão gigantesco interpretado por Jimmy Broome é bem decente: o cara passa uma sensação de selvageria, descontrole e periculosidade como poucos vilões de filme B, sempre enchendo suas vítimas de violentas pancadas (mesmo quando são mulheres!), e no final ainda dá uma de Jason, lutando normalmente com a mocinha mesmo quando toma três tiros nas costas - e parece nem sentir!

O resto é resto, com uma historinha mequetrefe dando a liga para as pancadarias e tiroteios, e situações que nem sempre convencem. Mas é tanto peito e bunda na tela que você nem vai perceber o tempo passar. E pode até esquecer sobre o que era o filme meia hora depois de assisti-lo, mas certamente jamais vai esquecer da cena com Maria Ford lutando pelada com a calcinha atolada na bunda!

 "Ai ai ai ai! Assim você mata o papai!"...


Trailer de ANJO DA DESTRUIÇÃO



*******************************************************
Angel of Destruction (1994, EUA/Filipinas)
Direção: Charles Philip Moore
Elenco: Maria Ford, Antonio Bacci, Jimmy Broome,
Jessica Mark, Charlie Spradling, Chandra Fayme, Jim Moss,
Bob McFarland e Timothy D. Baker.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SILK - SEDOSA E MORTÍFERA (1986) e SILK 2 - A DESFORRA (1989)


1986 foi um ano em que a testosterona atingiu níveis absurdos nos filmes de ação norte-americanos: tivemos "Stallone Cobra", "Jogo Bruto" (com Schwarzenegger), "Comando Delta" (com Chuck Norris), "Retroceder Nunca, Render-se Jamais" (com Van Damme como vilão russo em início de carreira), "A Vingança de 1 Predador" (com Michael Dudikoff), "Encurralado em Las Vegas" (com Burt Reynolds), e até "Top Gun" e toda aquela tensão homoerótica entre Tom Cruise e Val Kilmer.

Enquanto isso, lá nas Filipinas, o prolífico diretor e produtor Cirio H. Santiago resolveu ir na contramão e fazer um filme de ação estrelado não por um brucutu musculoso ou barbudo bom de tiro, mas sim por uma mulher. Nesse caso, uma mulher-machona que não levava desaforo para casa e sentava o ferro na bandidagem. Assim surgiu Jenny Sleighton, apelidada de "Silk" (seda) por ser menina, mas muito mais valentona e implacável que seus colegas homens de delegacia.

A personagem estrelou no cinema em SILK, de 1986, filme que, no Brasil, ganhou o inacreditável subtítulo "Sedosa e Mortífera" (putz, "Sedosa"?!?). Foi, então, interpretada por Cec Verrell, perfeita no papel de policial machona. Porém a aventura de estreia de Silk não era lá essas coisas, e valia mais pela atriz e pela personagem, não pelo resultado final. Santiago corrigiu isso com uma continuação, SILK 2 - A DESFORRA, realizada três anos depois (1989), e com a deusa Monique Gabrielle substituindo Cec Verrell no papel-título. A sequência é bem mais divertida que o original, mas a verdade é que os cartazes de ambos, com as heroínas armadas e de sutiã, são melhores que os filmes em si.

Como nem um, nem outro filme merece sua própria resenha, o FILMES PARA DOIDOS ressuscita aqui suas trabalhosas Sessões Duplas (a última foi em março!) com um olhar sobre original e continuação. Cec Verrell ou Monique Gabrielle? Tanto faz: as duas foram um verdadeiro colírio naqueles tempos em que os brucutus anabolizados e sem camisa dominavam o gênero ação...


SILK - SEDOSA E MORTÍFERA (1986)


Claro que pode ser apenas uma coincidência, mas SILK - SEDOSA E MORTÍFERA (e vamos esquecer esse estúpido subtítulo brasileiro a partir de agora) saiu no ano seguinte à estreia do seriado de TV "Lady Blue". A série criada por David Gerber começou a ser exibida em abril de 1985 e teve apenas uma temporada, com 13 episódios, mas bastou para ganhar uma legião de fãs, apresentando como heroína uma policial ruiva e valentona chamada Katy Mahoney (interpretada por Jamie Rose).

A personagem, que patrulhava as ruas de Chicago armada com uma Magnum .357, foi criada como uma versão feminina de Dirty Harry, e por isso Katy chegou a ser apelidade de "Dirty Harriet" e "Skirty Harry" (Dirty Harry de saia) na época da exibição do seriado - que foi bem popular também no Brasil, onde era exibido pela Globo com o título "Dama de Ouro".


Pois Jenny "Silk" Sleighton, a personagem criada pelo roteirista Frederick Bailey e pelo diretor/produtor Cirio H. Santiago, não é muito diferente de Katy Mahoney, nem seu filme de estreia é muito diferente de um episódio do seriado "Lady Blue/Dama de Ouro".

E esse é um dos diversos pontos fracos dessa aventura: parece que estamos vendo o piloto de uma série de TV que não deu certo, e não um filme - muito menos um filme de Cirio Santiago, conhecido por realizar aventuras toscas e baratas, mas muito divertidas e movimentadas.


Silk é uma policial, a melhor e mais machona da polícia de Honolulu, no Havaí, muito melhor e mais machona até do que o Magnum de Tom Selleck, cuja base de operações também ficava no Havaí (embora Selleck realmente tenha filmado no Havaí, enquanto Santiago e sua trupe ficaram nas Filipinas).

A frase no cartaz apresentava Silk como "A one-woman vice squad. Tough as nails. Smooth as Silk" (Uma mulher que vale por uma delegacia inteira. Durona como pregos. Suave como seda). E já percebemos isso desde a cena inicial, em que ela chega ao local onde está acontecendo um assalto com reféns e, sem pensar duas vezes, sai passando fogo na bandidagem enquanto seus parceiros "homens" ficam com medinho de se machucar no tiroteio.



Novamente, eu não sei exatamente quais foram as "inspirações" do diretor Santiago, mas a entrada em cena da heroína lembra muito a forma como George Pan Cosmatos apresentou o personagem-título de "Stallone Cobra", colocando-o para resolver um assalto com reféns em que os bandidos, claro, se dão muito mal.

Como o Marion Cobretti de Stallone, Silk inclusive aparece usando óculos escuros espelhados e luvinha preta de couro, numa coincidência muito suspeita - a não ser que Santiago quisesse intencionalmente apresentar Silk como uma versão feminina do personagem de Stallone (cujo filme saiu também em 1986).


A trama principal começa quando Silk e seus colegas frustram uma negociação de drogas, que se revela a ponta do iceberg para uma quadrilha maior e muito mais poderosa, especializada em comprar identidades de pessoas que morreram fora de hospitais para revendê-las a mafiosos asiáticos que querem entrar nos Estados Unidos com um nome falso, mas "background" verdadeiro.

Lendo assim parece simples, mas o roteiro de Frederick Bailey é caótico e impossível de seguir, com tantas idas, vindas e reviravoltas que lá pelas tantas o espectador até desiste de tentar entender o que se passa. Assim, a história se arrasta desinteressante e os 84 minutos parecem durar três horas. 



Geralmente eficiente na realização de aventuras com pouco ou nenhum dinheiro, o diretor Santiago parece ter pegado no sono e deixado a câmera ligada, visto que não há nenhuma grande cena entre os diversos tiroteios, explosões e pancadarias, muito menos algo memorável que já não tivesse sido visto (e melhor) nas aventuras baratas da Cannon Films, por exemplo.

E olhe que a heróica personagem-título aparece com armas de todos os calibres (pistola automática, revólver, metralhadora, espingarda...) e até distribui uns golpes de karatê aqui e acolá. É até engraçada a cena em que ela dá porrada em cinco caras muito maiores e mais fortes.


O grande problema é que a ação é clichê e pouco inspirada. O momento mais interessante acaba ficando para o final, quando Silk impede a fuga do grande chefe da organização explodindo seu avião a tiros de metralhadora durante a decolagem - num momento que coloca a moça entre os grandes heróis de ação que já explodiram aeronaves a tiros, como Mark Gregory em "Fuga do Bronx" ou Steven Seagal em "Rede de Corrupção".

(O próprio Santiago reaproveitou a ideia sete anos depois no superior "Fast Gun - Na Mira de uma Arma", de 1993, em cuja conclusão Rick Hill também explode um avião em plena decolagem, mas nesse caso usando um simples revólver calibre 38!)


Se há um motivo para ver SILK, este se chama Cec Verrell. A atriz de beleza exótica estreou no cinema dois anos antes, num papel minúsculo como prostituta anônima em "Runaway - Fora de Controle", mas já chamava a atenção para o talento das suas... como dizer... glândulas mamárias despidas. Ela exibiu os mesmos atributos posteriormente em "Hell Comes to Frogtown" (1988), e também num daqueles vídeos com sexo softcore produzidos pela Playboy americana.

Misteriosamente, isso não acontece em SILK: os peitos de Cec, e da sua heroína, ficam o tempo inteiro escondidinhos, e ela sequer aparece de sutiã segurando um revólver, como na enganosa arte do pôster! Não deixa de ser um lástima, ainda mais para quem conhece a obra do filipino Santiago e sempre espera uma cena gratuita de sexo e nudez em seus filmes - afinal, é o mesmo homem que colocou Jeannie Bell para lutar pelada em "TNT Jackson"!!! Mas, aqui, o velho Cirio desperdiçou a bela Cec, que mostrou os peitos em filmes bem piores e mais baratos, e abandonou o cinema em 2001.


A tradicional cena de nudez faz falta em SILK não só porque seu público-alvo é formado por tarados que esperam ver a mocinha pelada (considerando o currículo de Cirio H. Santiago e da própria atriz), mas principalmente porque seria um raro momento em que a policial durona e indestrutível mostraria sua feminilidade e seu lado humano - mais ou menos como o cavaleiro medieval quando tira a armadura.

Afinal, durante o filme inteiro ela é representada como uma heroína indestrutível, uma espécie de Dirty Harry ou Stallone Cobra com peitos; mostrá-los seria uma bela forma de assumir-se como uma mulher forte que não faz feio na comparação com esses heróis machões. (Ou então eu que queria MUITO ver os peitos da Cec Verrell e estou aqui tergiversando para tentar disfarçar o fato de querer ver a atriz pelada!)


Para não ser injusto, até tem uma rápida cena de sexo entre Silk e seu parceiro/namoradinho, Tom (Bill McLaughlin), mas que não mostra nada e é bem frustrante. Sendo assim, sem Cec Verrell pelada, sem cenas gratuitas de sexo e sem cenas de ação interessantes, o que sobra para se ver em SILK?

Eu responderia "nada", mas a verdade é que, mesmo vestida, Cec está ótima no papel principal, e sua personagem machorra pouquíssimo feminina (vestida como homem, sem os esperados decotes ou saias curtas, e sempre com o cabelinho curto penteado para trás com gel) poderia ser uma das grandes heroínas sapatas da história do cinema, se não fosse o affair com o colega (homem) de polícia.


Mas mulheres fortes e interessantes como heroínas eram tão raras lá em 1986 (embora fosse o ano de "Aliens, O Resgate") que Silk até ganha certo charme e originalidade.

Até porque a caracterização "machona" de Silk e a interpretação pouco feminina de Cec realmente convencem o espectador de que aquela é uma policial valentona verdadeira, que poderia trocar tiros ao lado de Dirty Harry sem medo de quebrar as unhas ou borrar a maquiagem, ao contrário da Katy Mahoney de "Dama de Ouro" e da substituta de Cec na Parte 2, conforme veremos a seguir...



SILK 2 - A DESFORRA (1989)


A continuação de "Silk", lançada apenas três anos depois do original, é tão melhor em tudo em relação ao primeiro filme que chega a ser irônico o fato de ter o mesmo diretor, Cirio H. Santiago (também produtor), no comando.

Alguém pode dizer que o velho Cirio conseguiu consertar tudo aquilo que não funcionava na aventura de estreia da policial Jenny "Silk" Sleighton. Ou, talvez, quem melhorou a coisa toda foi o produtor executivo Roger Corman. Mas a verdade é que os dois filmes são tão diferentes que ele bem que poderia ter colocado outro título ao invés de SILK 2.


A primeira mudança para melhor em relação ao original é que a "machona" Cec Verrell dançou e Silk agora é interpretada pela deusa dos filmes B Monique Gabrielle, uma das mulheres mais perfeitas do cinema barato dos anos 80-90, dona de um daqueles corpões que a natureza devia ser proibida de macular com os efeitos da idade.

Ora, se no primeiro filme Cec transformou Silk numa policial durona e quase sapatona, com cabelinho curto e roupas de homem, em SILK 2 Monique assume sua feminilidade e gostosura, empresta sensualidade ao papel e inclusive aparece pelada três vezes, com direito a banho com nudez frontal, talvez como um bônus pela sua antecessora ter regulado para mostrar ao menos um peitinho no original.



A segunda mudança, e a mais importante depois da escalação de Monique como estrela, é a mudança do roteirista. Robert King, que assume o posto ocupado por Frederick Bailey lá em 1986, já tinha escrito uma divertida bobagem produzida por Roger Corman ("O Ninho do Terror", sobre baratas mutantes assassinas), e aparentemente não levou esta segunda aventura da policial gostosona tão a sério quanto seu antecessor.

Além disso, tudo que faltava em "Silk" - ação, sangue e mulher pelada - aparece em SILK 2, e só a primeira cena, antes dos créditos iniciais, já é mais divertida que todo o filme original!


A introdução envolve o ataque de terroristas árabes à embaixada israelense em Honolulu. Eles já mataram alguns reféns e ameaçam continuar o banho de sangue caso a polícia não atenda às suas exigências. Aí Silk entra em ação e mata todo mundo, naquele velho estilo Stallone Cobra ou Dirty Harry. Quando o tradicional oficial superior chato pergunta "O que você queria provar, Silk?", a moça responde: "Que o crime não compensa!". Ta-da: corta para os créditos iniciais e o espectador já está com um sorrisão no rosto.

(Só para constar: nesta cena inicial, que dura meros 3min45s, sete pessoas são mortas, uma delas com a cabeça explodida por um tiro, num efeito fuleiro que é simplesmente de rolar de rir!)



Depois do resgate na embaixada, SILK 2 envereda por uma trama policial bem bobinha: quatro pergaminhos de valor inestimável estão sendo transferidos para um museu de arte oriental em Kona (no Havaí). Durante a escala em Honolulu, eles são roubados e substituídos por falsificações.

O sargento Chris (Bon Vibar), que é parceiro de Silk na polícia e está para se aposentar, e alertado sobre o roubo por um velho amigo colecionador de obras de arte, e se compromete a recuperar os pergaminhos originais. Mas acaba sendo sequestrado e morto pelos vilões, liderados pelo próprio proprietário do museu em Kona, o ambicioso Hancock Gish (Jan Merlin), que pretende lucrar duplamente - ficando com os originais e acionando o seguro pelo "roubo".

É óbvio que Silk gostava muito do seu parceiro e não vai deixar a conta em aberto. Com a ajuda de uma turista americana (Maria Claire) e de um pesquisador de antiguidades com cara de surfista (Peter Nelson), a policial viaja a Kona para dar um fim nas atividades ilegais de Gish e sua gangue.


Com sua graça e beleza, Monique Gabrielle com certeza enfeita o filme, mas não convence em momento algum como policial durona. Nesse aspecto, perde feio para a Silk de Cec Verrell, que realmente parecia uma policial e realmente parecia durona. Monique, por outro lado, parece o que é na vida real: uma gostosa fingindo ser policial, e nada mais.

A coitadinha não convence lutando, atirando e nem tentando parecer valente ou ameaçadora. A bem da verdade, ela não consegue nem segurar as armas direito... Mas e daí? É a Monique Gabrielle, caramba! E ela continuaria uma gracinha mesmo se estivesse segurando a arma ao contrário.



A grande cena de SILK 2 acontece quando a heroína está totalmente desprotegida e indefesa tomando banho, e um bandido invade sua casa para matá-la. Cirio Santiago adora filmar gostosas lutando peladas, como eu já escrevi lá em cima, mas aqui dá uma chance para a protagonista cobrir sua nudez com um roupão. O que, claro, não funciona muito bem na prática: seus peitos "escapam" enquanto ela dá chutes e socos no meliante, "para a nossa alegriaaaaaaaa"!!!

E se não convence como policial durona, ou como qualquer espécie de policial, pelo menos Monique se esforça para que SILK 2 não caia na chatice da aventura anterior, correndo, lutando, dando tiros de revólver, escopeta e metralhadora, e tudo sem desmanchar o penteado!


Se como aventura classe B (até C) já diverte o espectador menos exigente, SILK 2 também rende umas boas gargalhadas pelo fator trash, pois o orçamento de salário mínimo da produção salta aos olhos o tempo inteiro.

O interior de um avião em pleno voo é um cenário tão ou mais falso que a cabine da aeronave de Ed Wood em "Plan 9 From Outer Space", e um prédio que explode é substituído por uma miniatura tão fuleira que deve ter sido feita originalmente por um dos netos de Cirio Santiago para a aula de artes da escola!



Também tem uma cena em que um bandido acelera seu carro contra a policial, e a heroína responde dando uma voadora que atravessa o pára-brisa do carro e mata o motorista. Já vimos coisa parecida antes (Chuck Norris fez em "Os Bons Se Vestem de Negro", por exemplo), mas a cena é tão mal-feita aqui, e com um dublê tão óbvio no lugar de Monique Gabrielle, que tive que voltar umas cinco vezes para ver de novo!

Para completar o pacote, o roteiro de King ainda reserva um montão de clichês (como o clássico "Don't die on me!!!" segurando um moribundo nos braços, ou o momento em que alguém entra num táxi e diz "Siga aquele carro"), e outra tonelada de bobagens, tipo a pulseira com três diamantes que Chris dá de presente para Silk, "um para cada ano que trabalhamos juntos". Pulseira de diamantes para a parceira? Mas como paga bem essa polícia de Honolulu, hein?


Infelizmente, Silk nunca voltou para uma terceira aventura, embora Cirio Santiago tenha continuado a produzir filmes com policiais gostosas e peladas - tipo "Anjo da Destruição", com Maria Ford, melhor que os dois "Silk" juntos, e que em breve também terá sua resenha aqui no FILMES PARA DOIDOS.

Considerando que outras franquias de baixo orçamento produzidas por Cirio e Roger Corman chegaram muito mais longe (tipo a série "Bloodfist - Punhos de Sangue", com Don "The Dragon" Wilson, que teve OITO aventuras!!!), bem que a dupla poderia ter investido em outras histórias de Jenny "Silk" Sleighton, talvez chamando uma gostosa diferente por sequência, tipo Michelle Bauer para estrelar "Silk 3", Julie Strain para "Silk 4", e quem sabe uma mulher que realmente saiba lutar, tipo Cynthia Rothrock, para "Silk 5 - O Desafio Final". Sonhar não custa nada.


É uma pena, também, que os "crossovers" do mundos dos quadrinhos (encontros de personagens de gibis ou editoras diferentes, tipo "Marvel Vs. DC") não sejam tão comuns no mundo do cinema. Já imaginou um encontro entre Silk e o policial Marion Cobretti, de "Stallone Cobra"? Ia faltar bandido no mundo.

Como curiosidade final, veja abaixo outras artes para pôster e capinha de VHS de ambos os filmes, igualmente bem melhores que as produções em si, e com direito a uma curiosa censura recebida pelo pôster de SILK 2 no Egito, onde o desenho original que mostrava Monique Gabrielle apenas de sutiã de calcinha ganhou roupas para cobrir sua "semi-nudez" (clique na imagem para ampliar).


Mas vale destacar que, apesar de suas duas aventuras bem fraquinhas, Silk já tem um lugarzinho reservado no panteão das heroínas cinematográficas. Afinal, são raríssimos os filmes ocidentais estrelados por mulheres policiais, geralmente relegadas ao papel de alívio cômico em aventuras estreladas por homens, tipo Rene Russo em "Máquina Mortífera 3".

Isso não acontece no Oriente, onde há dezenas, talvez centenas de filmes policiais estrelados por gatinhas. Talvez seja uma espécie de fetiche para eles. E ninguém pode censurá-los: se Cec Verrell e Monique Gabrielle fossem policiais de verdade, muito marmanjo ia fazer fila para ser preso por elas por desacato à autoridade...


Trailer de SILK - SEDOSA E MORTÍFERA


*******************************************************
Silk (1986, EUA/Filipinas)
Direção: Cirio H. Santiago
Elenco: Cec Verrell, Bill McLaughlin, Bill Kipp,
Joe Mari Avellana, Frederick Bailey, Nick
Nicholson e Sam Lombardo.

Silk 2 (1989, EUA/Filipinas)
Direção: Cirio H. Santiago
Elenco: Monique Gabrielle, Peter Nelson,
Jan Merlin, Maria Claire, Ken Metcalfe, Bon
Vibar e Joe Mari Avellana.