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terça-feira, 20 de março de 2012

A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO (1984)


Sexta-feira passada (16/03/2012) estreou nos cinemas brasileiros a comédia "Projeto X - Uma Festa Fora de Controle", sobre uma festa de adolescentes que, como o título já diz, sai "um pouquinho" do controle e se transforma num autêntico caos. O trailer é muito divertido, mas enquanto não vou aos cinemas conferir, prefiro relembrar com os leitores do FILMES PARA DOIDOS uma outra festinha fora de controle, esta realizada há quase 30 anos.

Trata-se de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO, um clássico da TV aberta e uma daquelas comédias apelativas como o cinema norte-americano parece ter desaprendido a fazer nestes tempos modernos.

E o mais curioso: se "Projeto X" é sobre adolescentes e as doideiras típicas da faixa etária, A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO retrata personagens ADULTOS que perdem completamente a compostura e portam-se de maneira pior que muito moleque por aí.


Como o título original (bem mais apropriado) já anuncia, o filme é sobre uma bachelor party - a tradicional despedida de solteiro. No caso, a despedida de Rick Gassko (Tom Hanks, em seu segundo filme como protagonista), irresponsável motorista de ônibus escolar que recusa-se a crescer, mesmo estando com o casamento marcado com a gata Debbie (Tawny Kitaen, de "Execução Sumária").

A notícia de que Rick vai "se enforcar" pega seus amigos de surpresa, já que todos são solteirões convictos, ainda mais irresponsáveis e imaturos do que ele. Mas os safadões vêem no casório a oportunidade de liberar geral com uma despedida de solteiro de arromba, cheia de, como um dos rapazes anuncia, "garotas, armas, fogos de artifício, prostitutas, drogas e álcool, tudo aquilo que faz a vida valer a pena!".


A exemplo do que acontece no recente "Projeto X", a despedida de solteiro de Rick acabará saindo do controle: a festa acontece num hotel de luxo, decorado com balões feitos com camisinhas e tudo mais, e a barulheira no quarto (tem até uma banda tocando ao vivo!!!) acaba atraindo outros hóspedes. Não demora para que a pequena e particular bachelor party se transforme na festa mais animada da cidade!

Mas não fica só nisso, e o roteiro escrito por Pat Proft e pelos irmãos Bob e Neal Israel (este último também diretor) é incrível pela quantidade de personagens e situações paralelas que consegue criar. Além da despedida de solteiro em si, Rick enfrentará o ódio do sogro Ed Thompson (George Grizzard), um ricaço que não aprova o casório; a marcação cerrada da própria noiva e de suas amigas, desconfiadas do que está acontecendo na festinha, e até um ex-namorado ciumento e possessivo de Debby, o playboy Cole (Robert Prescott), que quer matar Rick para ter sua amada de volta!


A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO mereceria um prêmio só pela quantidade de frases de efeito (que lá fora chamam de one-liners) disparadas por todos os personagens, mas principalmente por Hanks, que solta piadinha atrás de piadinha e nunca parece falar sério.

E outro prêmio pela coragem de baixar o nível até o limite do bom gosto, coisa que a maioria das comédias recentes parece ter medo de fazer (a exceção é o ótimo "Se Beber Não Case", e que mesmo assim parece bem inofensivo perto desse filme aqui).


Impossível não citar alguns dos momentos antológicos da película, como a participação do canastrão Brett Clark ("Delta Force Commando") no papel de um stripper super-dotado que tem a sugestiva alcunha de "Nick The Dick" (alguém lembra como era o nome na versão nacional???).

Pois o pinto extralarge do Sr. The Dick é usado como recheio de cachorro-quente numa sacanagem armada por Rick e sua turma durante o chá-de-panela da noiva Debby. E se só a reação de Hanks e seus amigos ao tamanho do "dick" de Nick já é hilária (fotos abaixo), o desfecho da piada provocaria risos até no meio de um velório!


Nesses tempos lazarentos em que se busca o "politicamente correto" a todo custo, e não dá mais para brincar com certas coisas, é ótimo ver uma comédia de uma época em que sexo com prostitutas e consumo de doses cavalares de drogas são atitudes comuns e até mesmo incentivadas, sem qualquer juízo de valor. Praticamente todos os personagens do filme transam com as profissionais em algum momento da festa, e há até um "buffet" de entorpecentes para o uso dos convivas!

Acredite ou não, o roteiro foi inspirado nos acontecimentos registrados na despedida de solteiro do próprio co-roteirista e produtor Bob Israel, o que dá uma bela ideia das maluquices que esses sujeitos aprontavam também na vida real...


Mas o mais interessante de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO é a química entre os atores que interpretam os amigos de Tom Hanks: você realmente acredita que aqueles caras todos são parceiros há anos. Eu gosto muito de algumas cenas simples que demonstram essa afinidade entre eles, como quando um dos rapazes joga batatas-fritas nos outros para chamar a atenção durante uma discussão.

É muito difícil que um filme consiga passar a ideia de que os atores REALMENTE são amigos de longa data, e não completos estranhos interpretando amigos de longa data. Esse aqui é um dos melhores exemplos de como fazer isso de forma convincente.


Por sinal, o jovem Hanks, ainda no árduo caminho para o estrelato (ele só estouraria mesmo em "Quero Ser Grande", de 1988), pode até ser o protagonista, mas também é o personagem mais xarope do filme: seu Rick Gassko só é imaturo e "adultescente" ATÉ que começa a despedida de solteiro, pois nesse momento revela-se um completo mala, aquele típico cara legal e certinho que não pretende passar dos limites e nem curtir as últimas horas de solteirice com uma puladinha de cerca.

Esse moralismo exagerado e empurrado goela abaixo no espectador ficou ainda mais evidente nas comédias recentes, como o pavoroso "Passe Livre". Mas A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO já traz uma cena um tanto difícil de engolir: por mais que sua noiva e futura esposa Debby seja uma gata, dá vontade de matar o Tom Hanks por recusar a lindíssima Monique Gabrielle, que, no papel de uma ex-namorada ainda apaixonada, oferece-se a ele completamente pelada!


Se Hanks faz o tipo certinho, pelo menos os seus parceiros de folia estão entre os sujeitos mais irresponsáveis já vistos numa comédia - e o fato de serem todos adultos, e não adolescentes com hormônios em ebulição, torna tudo mais divertido!

O rol de doidos conta com O'Neill (Adrian Zmed), um fotógrafo que, na sua primeira cena no filme, faz de tudo para enquadrar os seios fartos de uma pobre mãe solteira que leva seu filho pequeno para ser fotografado; o médico e irmão mais velho de Rick, Stan Gassko (William Tepper), louco para afogar as mágoas do casamento infeliz com as prostitutas da festa; o agenciador de shows Gary (Gary Grossman), que protagoniza uma das melhores cenas do filme ao apaixonar-se perdidamente por um travesti; o junkie Brad (Bradford Bancroft), que passa a festa toda tentando cometer suicídio e é o mais chato dos personagens principais; o garçom Ryko e o mecânico tarado Rudy.


Algumas palavrinhas sobre estes últimos dois: Ryko é interpretado por um jovem Michael Dudikoff, o próprio "American Ninja", ainda antes da fama. Ele viraria astro no ano seguinte, 1985, graças à aventura de artes marciais da Cannon Films.

Já Rudy, o mecânico tarado e alucinado interpretado por Barry Diamond (de "A Reunião dos Alunos Loucos"), rouba o filme toda vez que aparece. Seu personagem porco e grosseirão lembra muito John Belushi em "Clube dos Cajafestes", o que nos leva à informação de que...

...o roteirista e diretor Neal Israel reviu diversas vezes a clássica comédia de John Landis para tentar aprender como reconstruir aquele clima caótico, repleto de piadas soltas e personagens engraçados.


Pois algumas cenas de Rudy são tão parecidas com comportamentos de Belushi em "Clube dos Cafajestes" que provavelmente o próprio Belushi teria sido convidado para A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO caso não tivesse morrido de overdose alguns anos antes. Vejam, por exemplo, o momento em que Rudy come vários doces em um mercadinho sem pagar, semelhante ao antológico momento alimentar de John Belushi em "Clube dos Cafajestes"; ou a cena em que Rudy cospe cerveja inesperadamente na cara de uma garota, comportamento que se esperaria de Belushi no filme de Landis; ou, ainda, Rudy quebrando uma garrafa de uísque na própria cabeça, outro comportamento tipicamente belushiano.

Há um outro momento hilário "emprestado" diretamente de "Clube dos Cafajestes", envolvendo um jumento morto no elevador do hotel em que acontece a festa de Rick - uma citação confessa ao cavalo morto na sala do diretor da escola, no filme de Landis.


Acontece que, numa das cenas mais divertidas e ultrajantes de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO, uma stripper (Toni Alessandrini, que era stripper também na vida real) é levada até o quarto de hotel para um show de zoofilia com um jumento!!! Mas, enquanto a moça dança e tira a roupa, o pobre quadrúpede começa a comer anfetaminas e cheirar linhas de cocaína dispostas sobre a mesa para os convidados da festa, morrendo logo depois de overdose e sendo "descartado" no elevador do hotel!

(Esta cena engraçadíssima da overdose do jumento foi cortada em quase todas as exibições do filme na TV aberta, e portanto a morte do animal ficava meio inexplicada, como se tivesse acontecido por ataque cardíaco ou algo do gênero!)


E por falar em TV aberta, é interessante destacar que a dublagem nacional de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO subvertia o sentido de diversos diálogos para eliminar o incentivo à promiscuidade e ao uso de drogas que o filme originalmente fazia! Bem que alguém que tem o filme gravado da TV poderia colocar as cenas dubladas no YouTube para melhor comparação, mas, de memória, eis os piores momentos da versão em português:

No início do filme, quando Rick transporta um grupo de alunos de uma escola de freiras, há uma cena em que uns garotos jogam pôquer com apostas em dinheiro no chão do ônibus. Para diminuir um pouco a exibição de menores praticando jogo ilegal, a Globo dublou uma das crianças falando algo como "Olha, tem dinheiro aqui no chão!".


Em outra cena, o personagem do junkie oferece drogas a Hanks. Na dublagem nacional, ele dava uma de bom rapaz e dizia: "Eu não vou tomar essa porcaria com você!". No diálogo original, Hanks dispensava a oferta simplesmente dizendo que era falta de educação dividir drogas!

Finalmente, no auge da despedida de solteiro, um dos rapazes abre a porta e dá as boas-vindas a mais pessoas não-convidadas, anunciando, na versão dublada: "Gatinhas à esquerda, rapazes à direita". Na versão original, a divisão era bem diferente: "Drugs to the right, hookers to the left"!!!


A única parte fraca de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO é a conclusão. O filme bem que poderia terminar com o desfecho da festa propriamente dita, mas há uma última cena de ação e perseguição, quando Cole sequestra Debby e Rick o persegue em seu ônibus escolar. O conflito termina com uma luta num cinema 3-D (que exibe cenas de "Mercenários das Galáxias", produzido por Roger Corman).

Essa conclusão com uma grande perseguição ou cena de ação é uma infeliz característica dos roteiros de Neal Israel, que fez a mesma coisa em "Loucademia de Polícia", "Academia de Gênios" e "Trânsito Muito Louco" (este ele também dirigiu). Eu particularmente acho esta "ação final" dispensável, e quebra o clima de comédia burlesca construído até então.


Por sinal, A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO é provavelmente o grande filme de Israel, que foi trabalhar na TV depois do fracasso de seus projetos dos anos 90 (como o insuportável "Surfistas Ninjas", com Rob Schneider e Leslie Nielsen). Um triste fim para o cara que fez comédias simpáticas como "Trânsito Muito Louco" e "Loucademia de Combate".

Outro que não sobreviveu à ação do tempo foi Adrian Zmed, cujo personagem tem bastante destaque neste filme e, aparentemente, estava sendo talhado para também virar astro de cinema - na época, ele estrelava o popular seriado de TV "T.J. Hooker", ao lado de William Shatner! Mas, apesar do cara mandar bem, não deu certo e, graças a escolhas erradas nos anos seguintes, a promessa de astro virou um esquecido coadjuvante de luxo.


Eu escrevi várias vezes, ao longo dessa resenha, que as comédias de hoje ficaram afrescalhadas, e seus realizadores parecem ter medinho de pegar mais pesado - como era regra lá atrás, nos anos 80. Uma bela forma de constatar isso na prática é fazer uma sessão dupla deste filme aqui com o recente "American Pie 3 - O Casamento" (2003), que também retrata uma despedida de solteiro e também tenta "pegar pesado", mas parece até produção da Disney perto do que Tom Hanks e sua turma aprontaram lá em 1984...

Ainda engraçadíssimo mesmo depois de 30 anos e pelo menos umas trinta reassistidas (de minha parte), A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO só tem um grande defeito: deixa todo mundo com a maior vontade de participar de uma despedida de solteiro como aquela de Rick Gassko e seus amigos.

Infelizmente, todos os meus amigos que cometeram a imbecilidade de casar também cometeram a dupla imbecilidade de não fazer qualquer festa de despedida de solteiro, muito menos algo animado e selvagem no nível dessa do filme. É de chorar...


PS 1: Em 2008, Neal Israel, Bob Israel e Pat Proft comprovaram que estão no fundo do poço ao assinarem o roteiro de "A Última Festa de Solteiro 2 - Tentação Final", uma abominável sequência de seu famoso sucesso, dirigida pelo novato James Ryan. Nenhum dos atores do original deu as caras, a continuação não tem graça nenhuma e ainda demonstra como o politicamente correto tomou conta das comédias modernas, já que não há nenhuma piada no nível da overdose do jumento ou de Nick The Dick.

PS 2: A cena do jumento foi "homenageada" com uma piada patética no igualmente abominável "O Balconista 2" (2006), de Kevin Smith, outra prova incontestável de como os ianques desaprenderam a fazer comédias divertidas.


ATUALIZAÇÃO: Numa incrível coincidência, A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO foi exibido num Corujão da Globo apenas dois dias após a publicação desta resenha. Dei uma conferida para ver se pegava outros casos de tradução porca. Além de todos os já citados (com a correção de que "Drugs to the right, hookers to the left" na verdade é "Quem gosta pra esquerda, quem não gosta pra direita"), praticamente todos os "hookers" foram substituídos por "gatinhas". "Nick The Dick" é "Nick, O Gostosão" na versão brasileira, e dê uma checada nas seguintes traduções puritanas: "Um brinde às grandes mulheres do mundo" (para "To girls with big tits!"), ‎"Parece que foi ontem que eu te ensinei a namorar, menina" (para "Seems like yesterday I showed you how to give a blowjob", tornando sem sentido a reação de surpresa das pessoas ao redor), e "Rapaz, olha só o rosto daquela mulher ali!" (para "Look at the cans on that bimbo!").

Trailer de A ÚLTIMA FESTA DE SOLTEIRO



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Bachelor Party (1984, EUA)
Direção: Neal Israel
Elenco: Tom Hanks, Tawny Kitaen, Adrian Zmed, George
Grizzard, Robert Prescott, William Tepper, Barry Diamond,
Michael Dudikoff e Monique Gabrielle.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

AMERICAN NINJA (1985)


Você certamente já viu AMERICAN NINJA numa das incontáveis reprises do filme pela Globo, ou pelo menos ouviu falar do que se tratava graças aos comerciais das tais incontáveis reprises. Você certamente sabe que esta bem-sucedida aventura ocidental sobre ninjas deu origem a uma nem tão bem-sucedida franquia, com direito a quatro continuações. Mas você sabia que AMERICAN NINJA só existe porque o público não estava preparado para ver uma ninja-menina?

Acredite se quiser, mas a gênese dessa aventura produzida pela lendária Cannon Films foi a bilheteria abaixo do esperado de um filme anterior dos mesmos realizadores, "Ninja III - A Dominação" (1984), terceiro e último capítulo de uma série iniciada com "Ninja, A Máquina Assassina" - aquele estrelado pelo italiano Franco Nero!


Como os outros filmes de ninja produzidos pela Cannon tinham rendido um dinheirão, e como "Ninja III" trazia uma ninja-menina (interpretada pela gata Lucinda Dickey) e rendeu menos, os produtores machistas alegaram que o sexo da personagem era o motivo da bilheteria reduzida, exigindo que o diretor Sam Firstenberg colocasse um ninja-menino em sua próxima produção do gênero. Pronto: nasceu AMERICAN NINJA.

O que pouca gente sabe, também, é que por volta de 1984 o projeto seria dirigido por Joseph Zito e estrelado por Chuck Norris, já que os dois tinham feito uma parceira bem-sucedida em "Braddock - O Super Comando".

Anúncios divulgando a produção com os nomes de ambos chegaram a ser publicados (veja ao lado), mas Zito e seu astro pularam fora logo depois - o orçamento inteiro do filme era menor que o salário de Norris, dizem as más línguas.

Assim, o barateiro Firstenberg assumiu e os produtores pediram que ele encontrasse um ator jovem que fosse boa-pinta e "parecido com James Dean" para o papel principal.

Foi quando subiu a bordo do projeto um loirinho com cara de surfista chamado Michael Dudikoff, que não lutava porcaria nenhuma e nem tinha pinta de herói de ação (antes, seu papel de mais destaque foi como um dos amigos tarados de Tom Hanks na comédia "A Última Festa de Solteiro").

Ora, e o que importa se Dudikoff não sabia lutar? O importante é que ele era boa-pinta e parecia James Dean, como os produtores queriam. Além disso, Franco Nero também não sabia lutar e estrelou "Ninja, A Máquina Assassina". Por sinal, a solução encontrada nos dois filmes foi a mesma: substituir o astro (tanto Dudikoff quanto Nero) pelo coreógrafo das cenas de ação Mike Stone nas cenas mais "delicadas". Afinal, o sujeito estaria escondido atrás da roupa de ninja mesmo!


E não é que convenceu? Tanto que a primeira vez que vi AMERICAN NINJA, ainda molecão, jurava que Michael Dudikoff lutava bem pra caramba. Claro, isso foi antes de perceber que as "lutas" com o sujeito eram beneficiadas pela montagem e pelos planos de detalhe, quando fica fácil substituir o galã que não sabe lutar pelo dublê que sabe. Ah, a magia do cinema...

Mas quer saber? Não importa se o astro não sabe lutar, e sim que AMERICAN NINJA funciona que é uma beleza. Revi o filme recentemente e até achei melhor do que eu me lembrava - principalmente considerando o fator trash da coisa toda, que torna o programa ainda mais divertido.


Dudikoff interpreta Joe T. Armstrong, o novo e misterioso recruta de um destacamento militar norte-americano nas Filipinas. Carregamentos de armamentos e munições estão sendo roubados com frequência do quartel, e o responsável é um traficante de armas da região, Victor Ortega (Don Stewart), que vende a muamba para ditaduras de todas as partes do globo.

Certo dia, o carregamento que está sendo escoltado pelo soldado Armstrong cai numa emboscada. Só que, além de armas, o comboio leva também Patricia (Judie Aronson), a bela filha do comandante da base. Temendo pela segurança da moça, o herói reage contra os ladrões e mostra ser bom de briga. Mas logo uns guerreiros ninja de uniforme preto aparecem do nada e atacam os soldados. Armstrong foge com a garota, mas seus companheiros são todos chacinados pelos misteriosos atacantes.


Apesar de ter salvado a filha do general, Joe atrai a inimizade dos seus colegas de farda porque sua reação resultou na morte de diversos soldados. E quando o vilão Ortega exige a cabeça do herói, para poder continuar com seus roubos de armas sem maiores problemas, o "ninja americano" precisa unir-se ao cabo Jackson (Steve James), que também é bom de briga, para enfrentar os ataques dos bandidos.

O roteiro redondinho de AMERICAN NINJA foi escrito por Paul De Mielche, e surpreendentemente este é o seu único crédito no ramo. James R. Silke, que havia assinado os roteiros de "A Vingança do Ninja" e "Ninja III" para a Cannon, foi chamado para fazer algumas adaptações no material, mas sem receber crédito.


Uma das grandes qualidades do filme é que ele oferece um bocado de cenas de ação sem grandes exageros ou façanhas físicas absurdas, mas numa quantidade tão grande e frequente que não permite que o espectador pense muito no que está acontecendo (o ataque ao comboio do exército e o primeiro confronto do herói com os ninjas acontece já nos primeiros 10 minutos!).

As lutas em si não têm nada de tão espetacular, embora rápidas e bem coreografadas. Quem rouba a cena é o ninja preto inimigo, interpretado por Tadashi Yamashita (que já havia enfrentado Chuck Norris em "Octagon").


Yamashita realmente consegue passar a imagem de um ninja invencível e ameaçador, e convence o espectador de que pode, por exemplo, invadir uma base militar deixando uma trilha de cadáveres.

Seu confronto final com o "american ninja" é muito bem filmado e envolvente, já que o vilão usa todas as armas e truques ninja à sua disposição - e até alguns truques sujos que não são bem coisa de ninja, como o disparo de um inexplicável raio laser (???). Sem querer estragar a surpresa sobre quem vive e quem morre no duelo final, Joe Armstrong voltou nas Partes 2 e 4...


Também há pelo menos três momentos bem dirigidos envolvendo o herói às voltas com carros em movimento. Num deles, parecido com cena clássica de "Os Caçadores da Arca Perdida", Armstrong rala a bunda no chão para pendurar-se embaixo de um caminhão em movimento; n'outro, bate propositalmente com um sidecar contra outro veículo para livrar-se de um caroneiro indesejado!

E, claro, tudo termina num daqueles massacres hiper-exagerados típicos do cinema de ação da década de 1980, quando Armstrong (finalmente vestido de ninja, o que não acontece durante o resto do filme) e Jackson (vestido de Rambo) invadem a fortaleza dos vilões distribuindo shurikens, espadadas e tiros de metralhadora.


Até me impressionou a quantidade de mortes ao longo do filme. Segundo o IMDB, a contagem de cadáveres chega a 114. Porém é um tanto frustrante a ausência de sangue e violência: a não ser alguns buraquinhos de bala e dois pescoços cortados, as espadadas dos ninjas não fazem nenhum estrago, nem vemos os característicos jorros de sangue que estes golpes costumam proporcionar nas aventuras orientais.

Logo, apesar da matança superior a 100 figurantes, AMERICAN NINJA é de uma violência quase inofensiva e poderia muito bem passar na Sessão da Tarde – e provavelmente passou!


Outro fato curioso é que Dudikoff não tinha nenhum treinamento em artes marciais quando fez o filme, mas o finado Steve James, que interpreta seu parceiro, sim - ele praticava kung-fu desde a juventude. Talvez por isso, e para não minimizar a pouca experiência do verdadeiro protagonista da aventura, James quase não luta durante o filme inteiro, preferindo usar armas de fogo e até um míssil (!!!) para despachar os vilões.

Além de funcionar bem como filme de ação, AMERICAN NINJA também diverte bastante pela idiotice geral da coisa.


Afinal, os ninjas caíram praticamente de pára-quedas na trama, tanto o herói (um ocidental treinado na infância por um veterano da Segunda Guerra Mundial) quanto os vilões, que convenientemente trabalham como capangas para o contrabandista de armas, embora ele já tenha um exército de mercenários fortemente armados à disposição.

O problema é que, tirando as roupinhas pretas e as armas brancas, são uns ninjas tão fracotes e fáceis de matar (com exceção do interpretado por Tadashi Yamashita, claro) que o roteirista poderia muito bem colocar qualquer outra coisa no lugar de assassinos ninja, de mulheres de topless a piratas. Só que aí o filme não se chamaria "American Ninja"...


A situação dos roubos de armas do quartel, encobertados pelos figurões do lugar, também é tão absurda que chega a dar dó. Quer dizer, os caras perderam diversos carregamentos e continuam mandando mais e mais caminhões carregados de armas e munições para serem roubados pelos ninjas inimigos, ao invés de pensar num plano alternativo - ou pelo menos investigar o paradeiro dos outros armamentos roubados?

E como não citar o irritante interesse romântico do herói, a mocinha interpretada por Judie Aronson? Ela não foge daquele clichê "garota em perigo" que primeiro odeia o protagonista e depois se apaixona por ele, mas é tão chata que você torce para o "american ninja" também ficar estressado e dar uma voadora nela.

Infelizmente, a bela Judie não mostra seus atributos físicos, que já tinham sido largamente explorados em seu trabalho anterior, "Sexta-feira 13 Parte 4 - O Capítulo Final".


Não que isso tenha importado para o resultado final: AMERICAN NINJA custou um milhão de doletas e lucrou, dependendo da fonte, entre US$ 10 e 30 milhões - ou seja, dez ou trinta vezes o que custou.

Feliz da vida com o sucesso muito maior que o do anterior "Ninja III", a Cannon deu sinal verde para a produção de várias sequências, das quais apenas a segunda foi assinada por Firstenberg; as outras têm diretores diferentes e até protagonistas diferentes, pois Dudikoff não aparece nas partes 3 e 5.

No fim, quem mais lucrou com o sucesso de AMERICAN NINJA foi o próprio Michael Dudikoff, já que o loirinho com cara de surfista foi esculpido na marra para virar herói de ação do segundo escalão.


E, quem diria, ele até conseguiu enganar muita gente, estrelando uma série de filmes de baixo orçamento para a Cannon nos anos seguintes, e inclusive roubando um outro papel de Chuck Norris ao estrelar "A Vingança de 1 Predador" (1986), originalmente concebido como continuação de "Invasão USA" (que tinha Norris como astro).

Nada mal para um ninja americano que nem sabia lutar porra nenhuma...

PS: No Brasil, AMERICAN NINJA foi originalmente distribuído nas locadoras e exibido na TV com o título "Guerreiro Americano". Vai ver os dubladores tinham medo de que os brasileiros não soubessem o que era um ninja. Curiosamente, o título original lá nos EUA era "American WARRIOR", como você pode ver no trailer abaixo!

Trailer de AMERICAN NINJA



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American Ninja (1985, EUA)
Direção: Sam Firstenberg
Elenco: Michael Dudikoff, Steve James, Tadashi Yamashita,
Judie Aronson, Guich Koock, John Fujioka, Don Stewart,
John LaMotta, Phil Brock e Manolet Escudero.