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terça-feira, 25 de maio de 2010

DEATH WARRIOR (1984)


Dica do FILMES PARA DOIDOS: a forma mais prática, rápida e barata (e segura) de se ter uma viagem lisérgica, sem a necessidade de tomar LSD, é assistir um filme turco. De preferência sem legendas, com os diálogos originalmente em turco e você sem entender bulhufas do que está sendo falado (até porque estes filmes são tão nonsense que os diálogos geralmente não fazem a menor diferença).

Nos primórdios do blog, eu escrevi sobre "3 Dev Adam", a clássica aventura em que Capitão América e El Santo enfrentam um Homem-Aranha malvado. Desde lá, fiquei devendo outras análises de clássicos turcos como "Dünyayi Kurtaran Adam" (o famosíssimo "Star Wars Turco", e um dos filmes mais absurdos já feitos pela humanidade).

Para compensar este longo hiato, vou dividir com meus nobres leitores a experiência verdadeiramente alucinógena que tive há algumas noites, quando fui inventar de ver o estrambólico "Ölüm Savasçisi", conhecido no Ocidente como DEATH WARRIOR.


O filme é de 1984 e circula em uma única cópia porca e mal-conservada, aparentemente gravada da TV turca. Não tem legendas em nenhum idioma compreensível pelo ser humano. Não tem créditos iniciais e nem finais, apenas um enorme "Fim" (no caso, em turco, "Son") que pipoca na tela de maneira abrupta. Não tem pé nem cabeça também, mas isso já era esperado.

Com duas taças de vinho na cachola, pus-me a apreciar esta maravilha sem grandes referências e sem saber sobre o que exatamente era a trama. A única coisa que eu sabia é que o filme era uma espécie de versão turca de "Octagon", aquele filme em que Chuck Norris enfrenta ninjas. E escrito e dirigido por Çetin Inanç, o mesmo diretor do "Star Wars Turco", o que já me bastava como referência.

Mas, para completar o programa, DEATH WARRIOR foi produzido, co-escrito, co-dirigido e estrelado (!!!) pelo maior herói de ação turco, o indestrutível Cüneyt Arkin!!!


Cüneyt, que também estrelou o "Star Wars Turco" (isso fica cada vez melhor...), é um verdadeiro patrimônio do cinema da Turquia, embora seja tão valorizado hoje por lá quanto o Mojica é por aqui. Nascido no mesmo dia que eu (7 de setembro), mas em 1937, o ator apareceu em mais de 250 filmes (!!!), geralmente como galã, e ainda arrumou um tempinho para dirigir 26 deles.

Mesmo com o declínio da indústria cinematográfica turca, o velhinho continua na ativa até hoje, e sempre dando uma banana para os críticos. Em 2006, por exemplo, apareceu na continuação do "Star Wars Turco", chamada "Dünyayi Kurtaran Adam'in Oglu", quando estava com nada mais nada menos que 69 anos de idade!

Na época de DEATH WARRIOR, Cüneyt Arkin já estava chegando aos 50. Mas a idade parece não apresentar restrição alguma ao grande herói de ação da Turquia: ele aparece o filme todo lutando artes marciais desenfreadamente, como um Bruce Lee em overdose de ecstasy, e não é dublê não!

Logo, não é exagero dizer que Cüneyt Arkin é o Charles Bronson da Turquia. Até porque o olhar gélido dos dois atores é muito parecido, como você pode comparar nas fotos abaixo (Cüneyt em cima, Bronson embaixo).


Mas afinal, sobre o que é DEATH WARRIOR? Boa pergunta! O roteiro vai empilhando elementos e situações sem muito critério, e como eu não entendo nada de turco fiquei boiando nos diálogos - embora duvide que eles ajudem a explicar os muitos "mistérios" da trama.

A única forma de compreender pelo menos o básico do que está acontecendo é tentar lembrar da narrativa de "Octagon". Se no filme norte-americano tínhamos Chuck Norris enfrentando ninjas, aqui temos Cüneyt Arkin enfrentando ninjas. Logo, é um confronto muito mais desleal.

A história começa mostrando o treinamento de um grupo de ninjas, liderados por um mestre vestido de preto e com barba, praticamente um clone do próprio Chuck Norris. Vamos chamá-lo de "O Chefão". O sujeito é interpretado por Osman Betin, que também apareceu no "Tubarão Turco" ("Çöl", 1983) e no "Rambo Turco" ("Korkusuz", 1986).

Como todo bom vilão cinematográfico, O Chefão ensina seus "alunos" a serem ninjas dando porrada neles, e inclusive matando alguns no processo. Demonstra suas habilidades vendado, move pedras com a força do pensamento (mas vem cá, o cara é ninja ou Jedi?), e até ensina, na prática, como matar usando uma simples carta de baralho!


Os alunos ninjas então saem para uma onda de assassinatos numa cidade não-identificada dos Estados Unidos, provavelmente como "prova final" para passar no seu cursinho de ninjas. Vários cidadãos são assassinados brutalmente pelos vilões, que aparecem magicamente graças ao simplório efeito de "desliga a câmera-liga a câmera de novo".

Detalhe: ao invés de espadas ninjas, os vilões usam aquelas espadas árabes com lâmina em curva (creio que o nome é cimitarra), e obviamente de plástico, compradas em alguma loja de R$ 1,99 de Istambul...


Quando a polícia ianque percebe que não conseguirá lidar com a ameaça ninja, resta chamar o maior herói de todos os tempos: o Inspetor Kemal, da Polícia de Istambul (Cüneyt Arkin, claro). Mestre em todas as artes marciais possíveis e imagináveis, e até naquelas que ainda não foram inventadas, Kemal já enfrentou ninjas no passado, conforme mostrado em uma enorme cena de flashback.

Tal flashback já dá uma idéia do que esperar do restante do filme: ao som da trilha sonora de "Fuga de Nova York", do John Carpenter, Cüneyt troca porradas e espadadas com um sujeito, enquanto ambos trocam golpes impossíveis - trampolins, camas-elásticas e filme projetado em reversão ajudam a criar estes movimentos contrários a todas as leis da natureza.

Invencível, Kemal não se acovarda nem mesmo quando perde sua cimitarra: simplesmente bloqueia as espadadas do inimigo com as próprias mãos!!!!


Convocado pelo Governo Americano para dar um jeitinho nos ninjas de lá, Kemal deixa sua esposa (interpretada por Füsun Uçar, par romântico do astro também no "Star Wars Turco") e vai para os States, onde milagrosamente todos falam turco, inclusive o chefe de polícia (Hüseyin Peyda, outro saído do elenco do "Star Wars Turco"). Segue-se um festival de lutas e pancadaria até o confronto final de Kemal com O Chefão.

Até chegar ao final, entretanto, o caminho não é nada fácil. Ao que parece, doses cavalares de LSD eram consumidas pelos atores e realizadores de DEATH WARRIOR. O que no papel aparenta ser apenas uma aventura de artes marciais chupada de "Octagon" logo ganha ares de filme de horror (sem qualquer explicação lógica), quando os galhos de uma planta ganham vida e sufocam um sujeito (à la "Evil Dead"), e um monstrão tosco estilo Abominável Homem das Neves surge do nada e começa a assassinar pessoas (e desaparece sem mais nem menos).

No auge da doideira, Kemal vai parar numa casa assombrada (não pergunte...) onde encontra uma sensual moça (Necla Fide, que também apareceu em... adivinhe... "Star Wars Turco"!). Pois a garota, sem mais nem menos, se transforma num monstrinho voador (!!!), na verdade uma evidente estatueta de porcelana (!!!), que salta na jugular do herói!


E quando você acha que a coisa não pode ficar mais estranha, temos o hilário confronto final entre Kemal e O Chefão, digno de uma conclusão de slasher movie, já que o vilão simplesmente se recusa a morrer.

Generoso, coloquei o vídeo completo da luta final no final do texto, para que vocês possam ver com seus próprios olhos. Mesmo espancado até a morte pelo herói, O Chefão levanta duas vezes para apanhar mais. Finalmente vencido, tenta usar seus poderes Jedi para jogar uma pedra explosiva (novamente, não pergunte...) sobre Kemal, mas o feitiço vira contra o feiticeiro e o herói rebate a bomba para cima do vilão.

Parece que acabou, mas não será tão fácil: com o corpo totalmente em chamas, O Chefão continua lutando normalmente contra o mocinho (!!!), à la Michael Myers no final do "Halloween 2" de 1981. Claro que o ator foi substituído por um boneco de pano puxado por cabos, mas nem dá pra notar a diferença (sim, isso foi uma ironia). E se você não se mijar de rir ao ver Cüneyt Arkin lutando contra um boneco em chamas, definitivamente seu negócio é Glauber Rocha ou Godard.


(Repare também que a equipe parece ter aprontado uma grande sacanagem para o ator: o boneco incendiado fica um tempo imóvel no chão, como se estivesse morto, e o ator relaxa pensando que a cena de luta terminou, mas subitamente o "vilão" é novamente erguido pelos cabos, dando um susto VERDADEIRO no pobre Cüneyt!!! hahahaha. Só esta cena já vale pelo filme inteiro!)

Óbvio que não é nada fácil ver uma produção turca sem a devida preparação - ainda mais quando não se tem o alívio das legendas para ajudar a tornar a coisa toda menos bagunçada. DEATH WARRIOR começa meio lento e exige um pouco de paciência para seguir adiante.

Eu mesmo quase desisti no meio do caminho e iria perder o inesquecível confronto do astro com o Tocha Humana no final!


Pobre e mal-feito, DEATH WARRIOR também é um sinônimo do pior do cinema, e por isso certamente será considerado uma perda de tempo por 99% da humanidade. É preciso ser MUITO fã de trash movies, ou de FILMES PARA DOIDOS, para conseguir suportar até o fim. A propósito: para quem não quiser baixar, o filme inteiro está disponível no YouTube.

Com escabrosos erros de continuidade, efeitos bagaceiros (como fios de nylon erguendo as "pedras"), a sonoplastia roubada de filmes de artes marciais de Hong-Kong e a trilha sonora de diferentes sucessos de Hollywood (toca até a música do "Rambo"!), DEATH WARRIOR e boa parte dos filmes feitos na Turquia são uma prova incontestável de que Ed Wood, supostamente "o pior cineasta de todos os tempos", na verdade foi um grande injustiçado, e tem muita coisa pior e mais mal-feita por aí.

Aqui, a trama é tão desconexa e impossível de seguir (basicamente uma colagem de cenas malucas) que os rolos do filme poderiam ser projetados em qualquer ordem, sem prejuízo algum à "história".



Além disso tudo, a exagerada invencibilidade do herói de Cüneyt Arkin ajuda a transformar o filme numa hilariante comédia involuntária. Afinal, o sujeito bloqueia golpes de espada com as mãos nuas sem se cortar, enfrenta dezenas de ninjas de uma vez só sem suar ou perder sangue, agarra facas no ar para lançá-las de volta nos sujeitos que as atiraram, dispara dezenas de flechas certeiras em inimigos num intervalo de três segundos e sem sequer ajeitar a mira (melhor que o Legolas, de "O Senhor dos Anéis"!), bloqueia outra dezena de flechas disparadas contra ele usando uma simples espada (!!!), e por aí vai.

Graças a façanhas como estas, os "Chuck Norris Facts" deveriam se reescritos com Cüneyt Arkin no lugar do barbudão...

E para quem gosta justamente deste tipo de cinema maluco, estúpido e injustificável, DEATH WARRIOR é um verdadeiro achado, trazendo tudo de pior, mais tosco e mais maluco que se pode esperar de um diretor incapaz, de um astro exagerado e de um roteiro sem pé nem cabeça! Viva a Turquia!!!

O duelo final de DEATH WARRIOR



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Death Warrior / Ölüm Savasçisi
(1984, Turquia)

Direção: Cüneyt Arkin e Çetin Inanç
Elenco: Cüneyt Arkin, Osman Betin, Funda
Firat, Kemal Özkan, Kadir Kök, Nejat Gürçen,
Hüseyin Peyda e Necla Fide.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

3 DEV ADAM (1973)


J. Jonah Jameson, o editor-chefe do Clarim Diário, sempre esteve certo: o Homem-Aranha não é um herói, mas sim uma ameaça. Ele pode até enganar bem e fazer pose de "amigão da vizinhança" lá em Nova York, mas na Turquia, quem diria, o Cabeça de Teia é o sádico chefe de uma quadrilha de falsificadores de dólares, e diverte-se decepando a cabeça de uma garota com a hélice de uma lancha ou fazendo ratos famintos devorarem o rosto de um capanga que falhou em sua missão!!!

Mas, para a sorte das pessoas de bem, a ameaça aracnídea está com os dias contados, pois a polícia de Istambul contrata os serviços do Capitão América (!) e de sua namorada, a agente secreta Júlia (!!), para combaterem o Homem-Aranha, auxiliados pelo lutador mexicano de luta-livre El Santo (!!!).

Antes que você pense que estou bem no meio de uma viagem lisérgica, permita-me explicar que este é, em poucas palavras, o resumo do inacreditável filme turco 3 DEV ADAM, que, em bom inglês, significa "Three Mighty Men", e em bom português "Três Homens Fantásticos". Mas esta produção de 1973, dirigida por T. Fikret Uçak, correu o mundo em cópias piratas com um quilométrico e chamativo título popular: "Capitão América e Santo Contra o Homem-Aranha".

Uma explicação que é necessária, para os marinheiros de primeira viagem: entre os anos 50-70, a Turquia teve uma rica produção cinematográfica que usava e abusava das fórmulas de sucesso daquele período - no caso, os seriados norte-americanos. Os turcos filmavam versões baratas de filmes de bangue-bangue, de super-heróis, e por aí vai. A partir dos anos 70, começaram a usar sem vergonha na cara personagens populares, como Super-Homem, Batman, Homem-Aranha e Capitão América, obviamente que sem pagar um tostão de direitos autorais (os filmes só passavam nos cinemas turcos mesmo...).

Mas o auge da cara-de-pau veio com as famosas "versões turcas" de sucessos do cinema: eram quase cópias xerox, aproveitando o mesmo roteiro das superproduções norte-americanas. Foi neste período que surgiram barbaridades como "Seytan" ("O Exorcista" turco), "Dünyayi Kurtaran Adam" ("Star Wars" turco), "Turist Ömer Uzay Yolunda" ("Jornada nas Estrelas" turco), "Korkusuz" ("Rambo" turco) e "Badi" ("ET - O Extraterrestre" turco), entre outras tosqueiras engraçadíssimas.

Melhores momentos (???) do filme



3 DEV ADAM é desta época e simplesmente brilhante na sua ingenuidade: Capitão América, El Santo e Homem-Aranha mostrados na película não têm absolutamente nada a ver com os personagens originais, e só estão na trama porque eram nomes populares e chamavam público para os cinemas!

Dessa forma, Capitão América e El Santo são mostrados como dois agentes secretos que aparecem o tempo todo em "roupas civis", e só vestem seus uniformes coloridos e máscaras na hora da ação; já o Homem-Aranha aqui é um vilão cruel que mata milionários de Istambul para roubar obras de arte e revender a preço de ouro nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que distribui dólares falsos no México e... no Brasil!!! Maldito aracnídeo!

A prova de que as versões turcas não têm nada a ver com os personagens originais - além, é claro, dos nomes e das versões toscas dos uniformes - é que o Capitão América aqui não tem escudo e nem as tradicionais "asinhas" nas laterais da sua máscara, o El Santo não sabe lutar luta-livre, e o Homem-Aranha é um pançudo com uniforme desbotado e uma máscara ridícula que deixa à mostra seus olhos e as grossas sobrancelhas (que mais parecem taturanas), e que não dispara teias nem escala paredes - pelo contrário, o sujeito mais de uma vez aparece fugindo de carro!

Mesmo assim, 3 DEV ADAM bateria todos os recordes de processos judiciais da história do cinema, se houvesse alguma lei de direitos autorais na Turquia...

O filme começa com o Homem-Aranha ("interpretado" por Deniz Erkanat), acompanhado por sua amante masoquista Nadja (versão turca da Mary Jane?) e por um grupo de capangas da sua quadrilha, executando uma garota por algum motivo que o roteiro não se preocupa em explicar. Seria muito fácil dar um tiro na cabeça da coitada, mas o vilão aqui é uma espécie de Jigsaw, da série "Jogos Mortais": ele prefere enterrar a moça na areia, deixando apenas sua cabeça para fora, e então usar o motor de um barco para arrebentar a fuça da vítima, enquanto gargalha sadicamente.

Corta para o Capitão América (Aytekin Akkaya, clone turco do Dedé Santana, que também apareceu no clássico "Star Wars" turco), Júlia (Mine Sun) e El Santo (Yavuz Selekman) chegando no aeroporto de Istambul e encontrando o comissário Orhan (interpretado por Dogan Tamer, roteirista do filme). Ele pede a ajuda do trio de heróis para encerrar o reinado criminoso do vilão aracnídeo.

Porrada: Capitão América versus Homem-Aranha!



Depois de um comentário óbvio para justificar a mudança de idioma ("Puxa, Capitão América, não sabia que você falava turco tão bem!"), nossos heróis começam a procurar a localização do esconderijo da quadrilha do Homem-Aranha. Isso envolve, como nos filmes policiais norte-americanos, visitas a uma boate de strip-tease!

A partir da chegada do trio de heróis a Istambul, não tem mais muita história: eles fingem que investigam o caso e, no processo, enfrentam os capangas do Homem-Aranha e o próprio vilão infinitas vezes, a cada cinco ou dez minutos, numa seqüência interminável de barulhentos chutes e socos. Ah, e por "investigar" leia-se "olhar cenas de crimes usando lupas" (!!!), como naquelas caricaturas de detetives dos quadrinhos.

Seguindo a linha de várias produções turcas do período, 3 DEV ADAM é pura ação, violência e sensualidade. O documentário "Turkish Pop Cinema", de Andrew Starke e Pete Tombs, explica que o povo da Turquia era muito fechado e cheio de pudores, e por isso era comum que seus filmes extrapolassem nos limites de sexo e violência (mais ou menos como acontece também no Japão). Aqui não há tanto sangue, mas a violência está sempre presente, com uma sessão de pancadaria a cada cinco minutos e inclusive sopapos em garotas indefesas; também não há nudez, mas volta-e-meia aparece algum show sexy de strip-tease, alguma cena de banho ou um casal transando sem aparecer muita coisa...

As cenas de luta lembram o que faziam, comicamente, a dupla Terence Hill e Bud Spencer, ou mesmo Os Trapalhões, mas aqui são levadas a sério: os heróis nunca usam armas e fazem malabarismos circenses, sem dublês, pendurando-se no teto para realizar acrobacias e dar cambalhotas. Tem até uma cena em que El Santo vai parar no meio de uma escola de karatê, mera desculpa para mais 5 minutos de pancadaria gratuita.

Um detalhe completamente sem pé nem cabeça do filme (como se o resto fizesse sentido...) é o fato de o malvado Homem-Aranha conseguir gerar clones toda vez que morre! No primeiro confronto do Capitão América e de El Santo com o vilão, toda vez que o sujeito morre, imediatamente aparece no recinto um clone rindo sadicamente e atacando os heróis! Eu até pensei que os capangas da quadrilha usassem uniformes iguais aos do seu chefe para enganar os heróis, mas logo fica evidente que não são imitadores, mas sim CLONES mesmo! Pois é, os caras anteciparam a clássica "Saga dos Clones" do gibi do Aranha em uma duas décadas!!!

Esta maluquice dos roteiristas torna-se ainda mais bizarra no combate final do Capitão América com o vilão: o herói vai despachando os clones de maneira violenta (inclusive esmagando a cabeça de um deles numa prensa), e logo no instante seguinte pipoca um clone nas suas costas dando uma risada maléfica, do tipo "Hahaha, você matou o errado novamente!". Pena que o vilão seja muito burro, e, ao invés de "clonar-se" para escapar de fininho, logo denuncia o surgimento de uma nova cópia com sua espalhafatosa risada sádica, fazendo com que o herói parta imediatamente para trocar porradas com o "novo Homem-Aranha" que surgiu. Juro que queria saber o que tem na água que estes turcos tomam...

Para quê teias quando se tem ratos assassinos?



É realmente muito engraçado ver El Santo (que nos filmes "oficiais" do personagem está sempre mascarado) e o Capitão América (dificilmente sem uniforme nos gibis) desfilando o tempo inteiro com suas "identidades civis", e usando máscaras e uniformes apenas nas cenas de ação (não me pergunte qual o motivo, considerando que mocinhos e vilões conhecem a identidade secreta de ambos desde o início!). Pelo menos o comissário tenta explicar a roupa do Homem-Aranha ao dizer que ele é "um lunático com mente infantil e fixação por máscaras". Mas e no caso dos heróis?

Completando a lista de bobagens, o Homem-Aranha aparece até transando (sem máscara, pelo menos) com sua fogosa amante, uma cena que você dificilmente vai ver na trilogia dirigida por Sam Raimi - uma pena, porque assim quem sabe os filmes seriam mais divertidos. A transa é entrecortada por inexplicáveis cenas em que bonecos que estão numa prateleira do quarto aparecem se movendo e rindo como se estivessem vivos (terão saído da série "Puppet Master"?)! E é só o Cabeça de Teia "esvaziar o saco" para imediatamente colocar de volta a sua máscara!

Claro que o cinema turco em geral não é para qualquer um, e somente "iniciados" nesse tipo de barbaridade vão curtir, embora o filme seja um pouquinho mais convencional e fácil de acompanhar que outras produções turcas do período. Quem conseguir olhar além da ruindade evidente da película, vai encontrar em 3 DEV ADAM um filme divertido, curto (dura apenas 1h18min) e que rende algumas boas risadas pelo clima geral de insanidade e principalmente pela pilantragem da produção.

Infelizmente, os negativos originais foram destruídos, e hoje só circula pela net uma cópia muito ruim gravada da TV, com qualidade quase zero de imagem. Há alguns anos saiu também um DVD pirata, já fora de catálogo, mas quem viu garante que a imagem tratada está só um pouquinho melhor que a da cópia mais conhecida, porém ainda bem longe do ideal.

Como o filme foi originalmente produzido com uma merreca e é bastante mal-finalizado (aparecem até as emendas dos rolos de filmes em alguns trechos!), a baixa qualidade da coisa toda acaba até fazendo parte da brincadeira. E o melhor: se há pouco tempo era preciso encará-lo "a seco", em turco e sem legendas (acredite, eu fiz isso, sem entender absolutamente nada do que se passava), hoje já tem legendas em inglês dando sopa nos sites do gênero. Mais um motivo para conferir esta preciosidade.

Vale destacar, também, que por enquanto 3 DEV ADAM é a melhor adaptação do Capitão América para o cinema (muito mais divertida que aquela bomba dirigida pelo Albert Pyun, pelo menos). E agora é esperar que a Marvel produza a sua versão oficial. De preferência sem clones do Homem-Aranha...

Trailer (satírico) de 3 DEV ADAM



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3 Dev Adam/Three Mighty Men/Captain
America and Santo Vs. Spider-Man (1973, Turquia)

Direção: T. Fikret Uçak
Elenco: Aytekin Akkaya, Deniz Erkanat, Yavuz
Selekman, Teyfik Sen, Dogan Tamer, Mine Sun,
Altan Günbay, Ersun Kazançel e Osman Han.