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sábado, 1 de setembro de 2012

ESTE É SLEDGE (1995)


Nesta sexta-feira, 31 de agosto de 2012, estreou no Brasil o aguardado "Os Mercenários 2". Se o filme original já pretendia ser o sonho realizado de todo cinéfilo que cresceu vendo os filmes de ação dos anos 80, este novo é a própria visão do paraíso para o mesmo público-alvo, reunindo numa mesma aventura os astros da época do VHS Sylvester Stallone, Dolph Lundgren, Chuck Norris, Jean-Claude Van Damme, Bruce Willis e Arnold Schwarzenegger, além de alguns destaques da nova geração - Jason Statham, Jet Li, Terry Crews, Randy Couture e Scott Adkins.

Como eu ainda não vi "Os Mercenários 2", e como todos os outros sites e blogs de cinema vão estar falando exaustivamente sobre ele agora e pelos próximos dias, preferi aproveitar a atualização de hoje para fazer uma homenagem diferente ao cinema de ação dos anos 80, resgatando uma comédia obscura que é ao mesmo tempo sátira e homenagem aos astros e filmes deste período. Trata-se de ESTE É SLEDGE, produção de 2005 que até saiu em DVD no Brasil, mas quase ninguém viu.


ESTE É SLEDGE (título original "Sledge: The Untold Story", ou "Confessions of an Action Star") é um "mockumentary" (falso documentário) no estilo daqueles episódios da série "E! True Hollywood Story" (que contam a trajetória e as fofocas da carreira de grandes astros), narrando a trajetória de um fictício astro de ação chamado Frank Sledge (David Leith, também roteirista), e sua carreira repleta de altos e baixos.

Na infância, o pequeno Sledge estudou dança na escola da professora Samantha Jones (Lin Shaye); já crescido, foi trabalhar como dançarino num clube das mulheres, onde acabou sendo descoberto por um produtor de filmes de baixo orçamento. A partir de então, o falso documentário acompanha o caminho do rapaz da obscuridade ao estrelato, sua transformação de jovem humilde em estrelinha de cinema problemática, a dura experiência com as superproduções hollywoodianas e seus diretores e produtores, a decadência e, finalmente, uma segunda chance no mundo do cinema.


Tanto o astro e roteirista Leith quanto o diretor Brad Martin têm conhecimento de causa para brincar com o assunto. Martin atua como dublê em Hollywood desde 1990; Leith faz o mesmo desde 95. Nesse período, foram testemunhas oculares de como o "Sistema" funciona por dentro, e também puderam acompanhar de perto a fase decadente de pelo menos um astro de filmes de ação - o belga Jean-Claude Van Damme, de quem Leith foi dublê nos péssimos "Replicante", "A Irmandade" e "Hell".

Usando este "conhecimento de causa" sobre os bastidores dos filmes de ação de Hollywood, a dupla fez não apenas uma comédia satírica sobre a ascenção e queda de um astro de filmes de ação, mas principalmente uma hilária retrospectiva do próprio gênero e de suas peculiaridades e talentos da metade dos anos 80 até o começo do século 21 (lembre-se que o ano de produção é 2005).


Assim, ESTE É SLEDGE se transforma numa divertidíssima brincadeira de cinéfilo, destinada principalmente aos fãs de filme de ação, pois satiriza várias fases históricas do gênero, começando pelas produções classe B direto para VHS da Cannon Films e pelas aventuras tipo "Rambo" (anos 80), passando pelo sucesso de lutadores de artes marciais que não sabiam atuar, como Steven Seagal e Van Damme, e pela febre de filmes ocidentais que imitavam as pancadarias orientais (anos 90), até chegar às produções caras e repletas de efeitos especiais do final do século ("Matrix").

Com referências diretas a estes astros e filmes, a comédia arranca mais de uma sonora gargalhada de quem, como eu, acompanhou de perto o mesmo período.


Por exemplo, a carreira de Sledge começa quando ele é convidado a estrelar o filme fictício "Bloodfight 2", uma óbvia brincadeira com "Bloodsport", um dos primeiros filmes de Van Damme (no Brasil, "O Grande Dragão Branco"). O problema é que ele é contratado justamente para substituir o astro do "Bloodfight" original, Jason Everstrong, que não quis voltar na continuação. Para justificar o ator diferente interpretando o mesmo personagem, os roteiristas apenas inventam uma frase em que um personagem do filme fictício olha para o herói e diz: "Jesus, olha só... Você parece uma pessoa completamente diferente!".

Este episódio permite inclusive que os realizadores façam uma brincadeira complexa que somente os fãs das antigas irão entender: Jason Everstrong, o astro de "Bloodfight" substituído na continuação, é interpretado por Daniel Bernhardt (imagem abaixo); na vida real, foi o próprio Bernhardt quem substituiu Van Damme nas três sequências fuleiras de "O Grande Dragão Branco!


Com o sucesso inesperado de "Bloodfight 2", Sledge começa a fazer filmes de ação com produção melhorzinha e adota um novo estilo, com roupas pretas e rabinho-de-cavalo. Chega o momento de ESTE É SLEDGE satirizar Steven Seagal.

Os filmes fictícios seguintes estrelados pelo jovem ator são "Bellow the Law" (Abaixo da Lei), uma brincadeira com "Above the Law"/"Nico - Acima da Lei"; "Out for Vengeance", que satiriza "Out for Justice"/"Fúria Mortal", e "Under Attack", sacanagem com "Under Siege"/"Força em Alerta". Os cartazes dos filmes de mentirinha são produções exatas da arte original das produções estreladas por Seagal, apenas com "David Sledge" no lugar do ator real!


Trata-se de uma das melhores partes de ESTE É SLEDGE, pois é quando a comédia sacaneia direto a figura de Steven Seagal, considerado um sujeito insuportável e arrogante por quase todo mundo que já trabalhou com ele.

Seguindo os passos dele, Sledge também começa a maltratar as equipes dos filmes e até seus colegas de trabalho - tipo Sean Young e Eric Roberts, interpretando eles mesmos, e com quem Sledge contracena em "Bellow the Law" e "Out for Vengeance". Fico imaginando se Seagal sabe da existência deste filme, pois deve ter ficado muito puto com as brincadeiras com a sua carreira.


A partir de então, Sledge é alçado à condição de grande astro do cinema de ação e começa a enfrentar problemas com drogas e bebedeiras (como Van Damme), e também com um "engordamento" descontrolado (como Seagal), porque não consegue parar de comer nos intervalos das gravações.

Já na condição de astro problemático, ele é chamado para o papel-título de "Jimbo" (uma brincadeira com "Rambo 2 - A MIssão)", onde contracena com Angelina Jolie e Ernie Hudson no papel de Coronel Trautman (com direito ao clássico diálogo do "Vocês vão precisar de muitos sacos para cadáveres"). O problema é que Sledge sequer consegue ficar consciente para filmar, devido a abuso de álcool - o que também rende algumas belas piadas, como quando o diretor do filme fictício aproveita que o astro está inconsciente para filmar uma cena em que seu personagem é torturado!


Decadente e desempregado, Sledge começa a frequentar os Alcoólicos Anônimos, e só consegue emprego como entregador de pizza. Sua chance de voltar ao estrelato é um convite para atuar como policial branco às voltas com uma policial oriental (Kelly Hu) numa comédia de aventura chamada "Traffic Jam", uma brincadeira com "Rush Hour"/"A Hora do Rush", de Brett Ratner.

Este episódio brinca com a febre do cinema "oriental" em Hollywood, quando os estúdios descobriram os filmes de ação de Hong-Kong e passaram a tentar imitá-los, porém sem preparar seus astros e estrelas devidamente para encarar os malabarismos realizados no Oriente. Sledge enfrenta vários problemas com as cenas de lutas de "Traffic Jam" e acaba sendo despedido; ele e Kelly Hu são substituídos por Chris Tucker e Jackie Chan, e o filme se transforma em "A Hora do Rush"!

Diretores novatos que não sabem dirigir filmes de ação, como Ratner em "A Hora do Rush", também são sacaneados nessa parte da comédia, e o próprio é "homenageado" com a presença de um Brett RaDner interpretado por Steven Roy.


Finalmente, a volta por cima de Sledge acontece quando ele é chamado para estrelar uma ficção científica cheia de pancadaria sobre um sujeito que descobre que a realidade é uma ilusão controlada por um supercomputador. "Matrix"? Exatamente. Só que o nome do filme fictício é mais didático: "Computer Generated Environment That Enslaves Us" (ou "Ambiente Gerado por Computador que nos Escraviza"!!!).

A tiração de sarro com "Matrix" é uma das piadas mais geniais de ESTE É SLEDGE, porque aqui o pseudo-"Matrix" não é exatamente um filme de ação, como o estrelado por Keanu Reeves em 1999, mas sim um MUSICAL! E ver o herói DANÇANDO em "bullet time" ao lado de cópias do Agente Smith é de chorar de rir, conforme você pode ver no vídeo abaixo:

"Matrix" - O Musical!



Além da tiração de sarro com filmes e estrelas, ESTE É SLEDGE traz uma carta na manga: a presença de diversos atores e atrizes REAIS interpretando "eles mesmos", e dando depoimentos sobre Sledge e sobre como foi atuar ao lado dele em seus filmes fictícios. Considerando que esta é uma produção barata e praticamente obscura, o elenco de celebridades em participações especiais é de cair o queixo: Angelina Jolie, Sean Young, Eric Roberts, Carrie-Anne Moss, Kelly Hu, Ernie Hudson, Richard Lewis, Debbie Allen, Jason George e Hugo Weaving.

Alguns deles não contribuem apenas com seus depoimentos, mas também aparecem contracenando com Sledge nos seus filmes fictícios. E como Martin e Leith trabalharam como dublês em produções de toda essa gente, fica meio óbvio que eles devem ter aparecido nesta comédia como um favor para amigos. (O IMDB informa que Ben Stiller também aparece num dos filmes falsos, mas confesso que não o reconheci.)


Outras duas caras conhecidas para quem cresceu vendo filmes de ação dos anos 80-90 são a de Gerald Okamura e Al Leong, ambos repetindo, nas aventuras fictícias estreladas por Sledge, os papéis que fizeram em muitas produções de verdade - respectivamente, o velho mestre que ensina artes marciais ao jovem pupilo e o sádico torturador oriental (Leong praticamente repete o papel que fez em "Máquina Mortífera").

E se brincar com atores, diretores (um tal de "John Hu" aparece lá pelas tantas) e filmes já não fosse mérito suficiente, ESTE É SLEDGE ainda tem coragem de apresentar Eric Roberts e Richard Lewis brincando com suas próprias imagens de atores problemáticos envolvidos com abuso de álcool e drogas - Lewis inclusive aparece nas cenas do grupo de Alcoólicos Anônimos frequentado por Sledge.


Pelo conjunto, e principalmente pelos realizadores demonstrarem conhecimento do assunto que estão satirizando, o filme fica degraus acima das sátiras cinematográficas feitas no mesmo período e hoje, como a série "Todo Mundo em Pânico" (que tenta maquiar a falta de graça com piadas escatológicas) e as comédias desmioladas realizadas pela dupla Jason Friedberg e Aaron Seltzer (como "Os Vampiros que se Mordam"), que acham que, para fazer graça, basta imitar as cenas de filmes famosos com outros atores.

Mas eu não diria que ESTE É SLEDGE é um filme para todos os públicos. Como comédia, e não sátira cinematográfica, ele não funciona tão bem e não é engraçado; como sátira do mundo do cinema, e com um recorte bem específico (os filmes de ação), exige que o espectador faça a lição de casa para entender do que os realizadores estão brincando, ou mesmo do que estão falando.


Embora as gozações com "Rambo 2" e "Matrix" sejam mais óbvias para o público em geral, outras não são. Por exemplo, a cena ultra-gay em que Rocky e Apollo correm na praia em "Rocky 3" é recriada aqui numa montagem (sacaneando também "Flashdance" e "Footloose"!) em que Sledge e seu amigos e professor de dança Glenn (Nathan Lee Graham) correm na praia, e a música diz "Rocky had Apollo/And I have got Glenn/That's something so inspiring about/A sweating black man". Mas é claro que isso dificilmente terá graça para quem não lembrar ou não souber que estão tirando sarro de "Rocky 3"!

Da mesma forma, ver Sledge imitando os trejeitos de Van Damme e Steven Seagal é algo que exige um mínimo de conhecimento sobre ambos e sobre o cinema de ação da época (que exigia, por exemplo, que um astro bonitão mostrasse a bunda em algum momento do filme, como Van Damme fez algumas vezes), caso contrário a piada passará em branco.


Tudo considerado, ESTE É SLEDGE é um divertido mockumentary que eu recomendo apenas ao seleto leitor de FILMES PARA DOIDOS, e principalmente para todos aqueles que cresceram vendo as produções da Cannon Films, Steven Seagal, Van Damme, Stallone e cia.

Esta comédia pode até ser um belo aperitivo ou complemento para ver antes ou depois de "Os Mercenários 2" e lembrar de como o cinema de ação mudou (para pior, creio) em pouco mais de 30 anos.

PS: A seguir, o FILMES PARA DOIDOS começará sua nova maratona, dessa vez com atualizações dia sim, dia não cobrindo as cinco aventuras da série "Desejo de Matar". Até lá!

Trailer de ESTE É SLEDGE



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Sledge: The Untold Story (2005, EUA)
Direção: Brad Martin
Elenco: David Leitch, Nathan Lee Graham, Angelina Jolie,
Sean Young, Eric Roberts, Carrie-Anne Moss, Kelly Hu,
Gerard Okamura, Ernie Hudson e J.B. Ghuman Jr.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O JOGADOR (2008)


Quando a carreira de um ex-astro de filmes de ação está quase morta e enterrada, o pobre coitado tem dois caminhos a seguir: ou cai no inferno dos filmes "direct-to-DVD", com pouca e às vezes nenhuma visibilidade, ou tenta reinventar sua imagem e voltar às luzes da ribalta, mesmo que às vezes apenas pela curiosidade mórbida.

Não faltam exemplos bem-sucedidos recentes dessa segunda alternativa. Sylvester Stallone, por exemplo, chegou a cair no inferno dos filmes direto para locadora ("Missão Perigosa", de 2002) e até fez um patético vilão em "Pequenos Espiões 3D" antes de reciclar-se com os excelente "Rocky Balboa" e "Rambo 4",

O belga Jean-Claude Van Damme também estava destinado a penar em produções bagaceiras quando estrelou um excelente filme policial, ainda pouco conhecido, chamado "Até a Morte", em que interpretava um anti-herói em busca de redenção. Acabou reencontrando seu público e passou a estrelar alguns filmes melhorzinhos, como o interessante "JCVD" e o divertido "Soldado Universal 3".


Chegamos então a Steven Seagal e O JOGADOR. O ex-astro caiu no inferno do "direct-to-DVD” em 2002, depois de "No Corredor da Morte" (seu último filme a ganhar lançamento nos cinemas). Mesmo seus fãs mais fanáticos pararam de acompanhar sua filmografia, tal o baixo nível da maioria dos filmes.

Para piorar, o próprio ator descuidou-se e engordou demais, tornando-se uma figura patética que não convence mais nem lutando, sendo geralmente substituído por dublês. E como ele nunca conseguiu realmente INTERPRETAR, o que sobra quando o sujeito não convence lutando? Quem quer ver Steven Seagal "interpretar"? Pois é...


Ao contrário de Stallone e Van Damme, entretanto, Seagal parece nunca ter se importado com sua visível decadência. Mesmo gordo, mesmo estrelando produções cada vez mais bagaceiras, ele continua firme e trabalhando, fazendo de quatro a cinco produções por ano, todos elas desovadas direto na prateleira das locadoras.

Mas O JOGADOR, que ele produziu e estrelou em 2008, parece ser uma primeira (e mal-sucedida) tentativa do ex-astro reinventar sua imagem, como antes fizeram Van Damme e Stallone. Pode-se até dizer que o filme é o "Até a Morte" de Steven Seagal, que aqui aparece, talvez pela primeira vez, como um personagem cheio de defeitos, vícios e questionamentos morais - um autêntico anti-herói, em resumo.


Infelizmente, Seagal não é Van Damme. Sua notória incapacidade de mudar de expressão facial não ajuda nada quando você estrela um filme que inclui vários lances dramáticos, interpretando um personagem alcoólatra em busca de redenção. Não é exagero dizer que O JOGADOR poderia ter sido um filmaço com outro ator no lugar do barrigudo Seagal.

Ele "interpreta" Matt Conlin, um policial afastado do departamento por suspeita de ter roubado uma bolada em dinheiro do tráfico. Como Van Damme em "Até a Morte", Matt se transforma numa caricatura de herói: viciado em jogo, perde toda sua grana nas mesas de pôquer e depois enche a cara e dorme com prostitutas em pensões baratas.


Porém, ao contrário de Van Damme naquele filme, Seagal não teve coragem de mostrar com detalhes a decadência do seu personagem. Sim, vemos Matt jogando pôquer e perdendo; sim, vemos Matt segurando copos de uísque na mão (e cheirando e fazendo cara feia), mas nunca vemos o RESTO da viagem do "herói" ao inferno, algo que é somente comentado por outros personagens ao longo do filme.

Enfim, abandonado pela esposa e pela filha, Matt acumula uma dívida imensa no pôquer e provavelmente vai acordar algum dia com a boca cheia de formiga. Mas subitamente aparece uma organização secreta, liderada por um misterioso sujeito conhecido apenas como Old Man (Lance Henriksen!!!!), e paga todas as suas promissórias. Com uma condição: Matt deve fazer uns "servicinhos" para eles.


Serviços de execução, no caso. Como pistoleiro contratado pela organização, o "herói" recebe fotos de alvos que deve apagar, supostamente bandidões que escaparam da justiça e devem receber o merecido castigo. Ele cumpre algumas das missões, mas começa a se questionar: estará fazendo a coisa certa? Principalmente quando descobre que um dos alvos exterminados tinha uma filha da mesma idade que a dele.

Mas a coisa complica de vez quando Matt recebe a missão de matar seu melhor amigo, um policial recém-promovido que, para piorar, é o atual marido da ex-mulher do protagonista - e padrasto da sua filha. A organização secreta argumenta que o tira é corrupto e deve morrer, mas Matt aposta sua vida na integridade do sujeito. Inicia-se o dilema.


Se O JOGADOR tem um ponto positivo, este é a reviravolta no terceiro ato do filme. Tudo se encaminha para um nojento clichê (Matt recusando-se a matar o melhor amigo e combatendo a própria organização que o contratou), até que o filme tem coragem de revelar que o tal melhor amigo é, sim, um policial corrupto e bandidão, e não o cara inocente que Matt imaginava!

Porém, tirando esse contra-clichê, há bem pouco de interessante, ou de novo, para se ver em O JOGADOR. Se essa era uma tentativa de dar um novo rumo à carreira de Seagal, com um personagem um pouco mais complicado e cheio de conflitos, o resultado é medíocre e decepcionante.

E olha que ele fez quase tudo certo: descartou aqueles diretores de segunda com quem vinha trabalhando e chamou o holandês Roel Reiné para comandar a câmera. A direção de Reiné (do divertido "A Encomenda") dá uma certa sofisticação ao filme e à história batida, mas esbarra nas limitações da produção e do ex-astro.


Afinal, qual é a lógica de você encher um filme de ação com cenas "dramáticas", que mostram seu protagonista dividido e martirizado, se o astro da bagaça não tem a menor condição de "atuar" e demonstrar seus problemas? E quem engole que um brutamontes que quebra braços e explode cabeças a tiros tenha inspiração religiosa, vivendo na igreja em conversas filosóficas com um padre?

Toda e qualquer cena em que Seagal tenta mostrar que está "amargurado" tem resultado patético, quando não engraçado. Ao perder uma bolada no pôquer, por exemplo, tudo que ele faz é colocar a mãozinha na testa, mas mantém a mesma expressão facial de sempre!

O mesmo vale para todos os momentos em que ele supostamente precisava demonstrar seu alcoolismo - nunca vemos o ator bebendo, apenas segurando copos de uísque nas mãos e fazendo caretas.


Esse talvez seja o grande pecado de O JOGADOR: parece até que Seagal recusou-se a abandonar totalmente a sua tradicional imagem de "fodão", preferindo não apresentar literalmente os defeitos do seu personagem (ao contrário do que fez Van Damme).

Uma pena, pois interpretar (ou tentar, pelo menos) um personagem cheio de defeitos e pontos fracos, e não o FDP invencível e seguro de si que ele faz sempre, seria um belo diferencial na sua filmografia.

Já as cenas de ação são razoáveis, bem filmadas e sem muitas firulas, apenas em menor número do que se espera num filme de ação com Steven Seagal. Ele atira mais do que bate (e, quando chuta, mal consegue levantar a perna, de tão fora de forma), mas protagoniza algumas cenas interessantes por mostrar-se mais implacável que a média dos heróis "politicamente corretos" de hoje (executa a sangue-frio um alvo desarmado, por exemplo).


O tiroteio final é num cemitério, com música clássica e uma infinidade de cenas em câmera lenta que parecem cópia do que John Woo fazia 20 anos atrás (em outras palavras, estão mais datadas que disquete de computador).

Num plano bem legal, Seagal está se protegendo atrás de uma lápide quando um tiro arranca um pedaço do bloco de pedra; ainda no ar, o estilhaço é atingido por outro tiro e rodopia em câmera lenta!


Se a parte dramática não funciona, as cenas de ação são poucas e rotineiras e Steven Seagal não convence, o que sobra em O JOGADOR para merecer uma resenha tão longa aqui no FILMES PARA DOIDOS?

Nesse caso, o fator trash. O tal de J.D. Zeik, que escreveu o roteiro, estava inspiradíssimo e colocou na boca dos personagens diálogos totalmente sem-noção, que, para piorar (ou melhorar) são falados a sério.

A cena campeã nesse quesito é aquela em que o herói Matt se aproxima de um vilão moribundo e pergunta: "Você quer ser enterrado ou cremado?". Como últimas palavras, o sujeito murmura: "Enterrado". Sem nem esperar o cara morrer direito, Matt atira seu corpo para dentro de um carro e explode o veículo a tiros. Olhando para as chamas, grita: "Você foi cremado, seu filho da puta!".


Por essas e por outras, O JOGADOR até mantém a atenção. Embora seja um dos filmes melhorzinhos que Steven Seagal fez de dez anos para cá, ainda assim é fraco e cheio de defeitos, principalmente os "tempos-mortos dramáticos" arruinados pela incapacidade do ex-astro de atuar.

Ah, e não se espante com o nome de Lance Henriksen nos créditos, pois ele faz uma participação meramente decorativa e não aparece em cena nem cinco minutos. Outro que aparece no esquema "piscou, perdeu" é o astro de quinta categoria Matt Salinger, que no passado foi o Capitão América naquele filme sofrível do Albert Pyun (e aqui interpreta a banca no jogo de pôquer do início).


Talvez eu possa recomendar O JOGADOR como um filme para você ver com seu pai fã do Domingo Maior. Ele é até capaz de ficar entretido com os (poucos) tiroteios e pancadarias, afinal já viu coisa bem pior, enquanto você vai no mínimo dar umas boas gargalhadas com a "atuação" de Seagal e com os diálogos bisonhos de J.D. Zeik.

E se O JOGADOR não funcionou como tentativa de reinventar a imagem de Seagal, e quem sabe resgatar sua carreira do fundo do poço, depois dele o "ator" começou a atirar para todos os lados: fez piada com a própria imagem num trailer falso da comédia "The Onion Movie", lutou contra vampiros em "Escuridão Mortal", fez um ex-mafioso russo (!!!) em "Conduzido para Matar" (espécie de "Senhores do Crime" da Cannon Films, e um belo filme, quem diria...) e uma marcante e hilária participação como vilão em "Machete", de Robert Rodriguez.


É esperar para ver o que todas essas doideiras vão trazer ao ator: um pouquinho de glória ou o fim definitivo do que restou da sua "carreira"? De todo jeito, se continuar assim, Seagal tem papel certo num futuro remake de "Free Willy"...

Mas bem que os roteiristas dos novos filmes do "ator" poderiam explorar melhor a questão da idade e da gordura de Seagal, escrevendo-lhe personagens mais complexos, com limitações e defeitos (como Stallone em "Rocky Balboa", por exemplo), talvez até dificuldades para lutar.

Afinal, não dá mais para engolir uma baleia assassina matando suas vítimas fora da água.

Trailer de O JOGADOR


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O Jogador (Pistol Whipped, 2008, EUA)
Direção: Roel Reiné
Elenco: Steven Seagal, Bernie McInerney, Antoni
Corone, Paul Calderon, Lance Henriksen, Renee
Goldsberry e Mark Elliot Wilson.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

JUSTIÇA URBANA (2007)


Há um bom motivo para ir atrás de JUSTIÇA URBANA, um dos filmes mais passáveis da filmografia recente de Steven Seagal: com algumas pequenas mudanças aqui e ali, esta produção é uma refilmagem disfarçada - e bem mais comedida, claro - de "Desejo de Matar 3", apenas trocando um velho e acabado Charles Bronson por um gordo e acabado Steven Seagal. O resto é tudo igual. Irresistível, não?

Só para constar nos autos, essa é a terceira e última resenha resgatada do meu aposentado Multiply, e publicada originalmente em outubro de 2008. Outra vez, mudei e adaptei quase tudo aqui para a nossa MARATONA STEVEN SEAGAL.


Bom, quem está acompanhando a Maratona deve ter percebido que já virou clichê dizer que o ex-astro Seagal afundou sua carreira, que está gordo que nem um porco, que interpreta sempre o mesmo personagem, bla bla bla. Portanto, vou poupá-los desta lenga-lenga - até porque acho que já usei todas as piadinhas sobre a gordura do Seagal.

Vamos direto ao assunto, que é o que vale: o Steven Seagal de JUSTIÇA URBANA é o mesmo Steven Seagal filha-da-puta e furioso de clássicos dos anos 80-90, como "Fúria Mortal" e "Marcado para a Morte".

Aquele Seagal desgraçado que dá porrada em quem vem pela frente ao invés de fazer discursos medíocres sobre ecologia e paz mundial; aquele Seagal que quebra braços e narizes como se esta fosse a sua forma normal de dialogar; aquele Seagal que não precisa de dublês nas lutas e nem de cenas retiradas de outros filmes e encaixadas na edição; enfim, aquele Seagal que mata a sangue-frio e acha que "bandido bom é bandido morto".


Talvez o ex-astro estivesse se recuperando da sua traumática colaboração com a Millenium Films, que rendeu-lhe alguns dos piores filmes de sua carreira ("Determinado a Matar", "Hoje Você Morre" e "Mercenário").

Após o fim do contrato com aquela produtora (em "Mercenário"), ele pulou de cabeça em três produções baratíssimas rodadas em Bucareste, na Romênia (!!!): respectivamente "O Homem Sombra", "Força de Ataque" e "O Vôo da Fúria" (todas filmadas em 2006).

Voltando para os Estados Unidos, reencontrou-se com o diretor Don E. FauntLeRoy, responsável por alguns de seus piores filmes ("Hoje Você Morre" e "Mercenário"), e aparentemente lhe deu outra chance ao invés de quebrar seu braço em "agradecimento". A surpresa é que dessa vez o trabalho dos dois funciona, talvez por estarem longe do pessoal da Millenium Films!


JUSTIÇA URBANA é uma produção barata e nada hollywoodiana; logo, passa longe daqueles roteiros "socialmente engajados". E ao contrário de outros filmes que Seagal fez no período, este não é repleto de escaramuças, traições e reviravoltas, como se o roteiro tivesse sido escrito por John LeCarré.

Trata-se, isso sim, da simples e boa trama de vingança, e amém. Ainda quer continuar? Então vamos adiante.

Nossa história começa com um daqueles policiais honestos e incorruptíveis típicos do cinema de ação norte-americano. Ele se chama Max Ballister (Cory Hart), e acaba futricando onde não deve quando, num dia de tocaia, flagra colegas corruptos negociando com traficantes de drogas.


Sem pensar duas vezes, Max fotografa os policiais sujos, mas, antes que possa entregar as fotos à corregedoria, é convocado para uma missão noturna num bairro barra-pesada e baleado à traição, morrendo bem no meio da rua. Queima de arquivo, lógico.

Ficaria por isso mesmo, se fosse no Brasil (como vimos em "Tropa de Elite 2"). Mas, para o azar dos tiras corruptos, o finado Max era filho de um ex-soldado das forças especiais, Simon Ballister (Seagal, obviamente). No funeral do filho, Simon promete à sua ex-esposa que vai encontrar o assassino de Max e dar um jeitinho nele. Olho por olho, dente por dente.


A primeira parada de Simon é a delegacia onde o finado trabalhava. Ali, nosso herói encontra o responsável pela investigação, o detetive Frank Shaw (Kirk B.R. Woller, que trabalhou com Spielberg em "A.I" e "Minority Report"). Para Shaw, Max foi morto por uma bala perdida numa guerra de gangues, já que o bairro onde aconteceu a tragédia é dominado por duas violentas quadrilhas de traficantes de drogas.

Ainda sem suspeitar que há sujeira na jogada, Simon decide que a única forma de encontrar o culpado é fazer como Charles Bronson em "Desejo de Matar 3": mudar-se para o bairro violento onde o filho morreu, ficar morando lá por uns dias e enfrentar a bandidagem na cara-dura até encontrar os responsáveis.

Das duas quadrilhas que lutam pelo domínio do bairro, uma é formada por latinos e chefiada por El Chivo (Danny Trejo!!!); a outra é formada por negros e liderada por Armand Tucker (o comediante Eddie Griffin), que é apaixonado por "Scarface" e passa o tempo todo citando frases e cenas do filme de Brian DePalma, numa piada já fraquinha que logo perde a graça.


Simon muda-se para um pulgueiro administrado pela bonitinha Alice Park (Carmen Serano; e como são bonitas as mulheres latinas!). Logo na chegada, é obrigado a quebrar os ossos do "comitê de boas-vindas" enviado por uma das gangues.

Aos poucos, ele vai comprando briga com os dois grupos, surrando seus integrantes até começar uma guerra particular. Quando o próprio El Chivo garante não ter nada a ver com a bronca, Simon intensifica a pressão sobre a quadrilha de Tucker, e descobre que os negros estão associados ao tal grupo de policiais corruptos, chefiado por ninguém menos que o detetive Shaw!


Escrito por Gilmar Fortis II e Gil Fuentes (nunca vou entender porque roteiros rasos como este precisam de dois autores...), JUSTIÇA URBANA não faz feio no quesito ação. A não ser, lógico, que você procure algo diferente de um filme direto para locadora.

Com uma trama descomplicada, muita pancadaria e sangrentos tiroteios (cada tiro resulta num exagerado esguicho de litros de sangue do corpo da vítima), o filme na verdade é surpreendentemente divertido, ainda mais para quem não esperava coisa alguma depois dos péssimos "Hoje Você Morre" e "Mercenário".


O próprio Seagal parece estar se divertindo muito no papel. Destaque para a cena em que Tucker aponta uma pistola para o desarmado Simon e diz: "Então você é o filho da puta que vem dando socos numa briga de armas?". Após arrancar o revólver das mãos do bandido, com um golpe rápido como um raio, o herói aponta a arma para seu antagonista e responde: "Sim, sou eu".

Claro, falta muito para chegar no mesmo nível "cult" do hoje clássico "Desejo de Matar 3", mesmo que as histórias dos dois filmes sejam bem semelhantes. A maior falha do filme de FauntLeRoy é levar tudo a sério demais, coisa que Winner não fazia naquela aventura maluca estrelada por Bronson.


Seria melhor ter partido logo para o exagero e colocar Seagal metralhando os delinqüentes sem dó nem piedade. Mas, pelo contrário, o roteiro aqui gasta um tempão mostrando a investigação de Simon pelos verdadeiros culpados do assassinato do filho, ao invés de simplesmente botar o herói para pipocar todos os marginais que lhe cruzam o caminho.

Uma diferença bem politicamente incorreta: ao contrário do velho Paul Kersey naquele clássico dos anos 80, o personagem de Seagal tem um rígido código de conduta em relação aos bandidos. Uma das diretrizes é não matá-los sem um bom motivo e nem estragar seu "negócio"; tudo que ele quer é chegar ao assassino do filho.


Ou seja, desde que os caras não tenham matado o rapaz, eles estão livres para continuar ameaçando inocentes e vendendo drogas para crianças! Porque em JUSTIÇA URBANA Seagal não é um homem da lei e nem o amigão da vizinhança, apenas um pai louco por justiça.

Quando descobre que o verdadeiro culpado é Shaw e seus policiais corruptos, por exemplo, o "herói" libera tanto El Chivo quanto Tucker de receberem o merecido castigo por serem maus meninos!

É claro que eu preferia ver o herói dizimando os dois lados do confronto, à la Justiceiro (o bairro, pelo menos, ficaria mais seguro). Mas confesso que achei bastante divertida (e corajosa) essa ideia de não se meter com a bandidagem a não ser quando provocado.


E se "Desejo de Matar 3" tinha cenas de ação que não convenciam, devido à idade avançada de Bronson, JUSTIÇA URBANA surpreende ao mostrar um Seagal gordo, mas ao mesmo tempo ainda rápido e mortal.

Acredite se quiser: o homem convence nas cenas de luta, distribuindo chutes altos (algo que não fazia há séculos) e socos a granel. E aqui é ele mesmo, e não um dublê lutando, como você pode ver na foto abaixo. Sobra até para quem não tem nada a ver com a história, tipo o grupo de skinheads que cai de pára-quedas no filme apenas para render mais uma cena de quebra-pau.


Às vezes o filme nega fogo, como numa longa e nada interessante perseguição automobilística pessimamente filmada e editada. E Seagal e Danny Trejo não lutam, apenas conversam, algo meio estranho depois que se assiste "Machete".

Mas estes probleminhas são compensados no tiroteio final, em que Ballister mata mais da metade do elenco, e até demonstra sua fúria descarregando o pente inteiro do revólver em alguns deles (lembrando os velhos filmes de John Woo, que devem ter sido a inspiração do diretor FauntLeRoy)!


Portanto, sem pensar duas vezes, eu diria que JUSTIÇA URBANA é o mais perto de um bom filme de Steven Seagal que vi da safra recente do Free Willy com rabinho-de-cavalo. Tanto que foi cogitado o seu lançamento nos cinemas, o que só não se concretizou pela falta de verba da produtora (o último filme estrelado pelo ex-astro exibido na tela grande foi "No Corredor da Morte", em 2002).

Mas talvez seja melhor assim, porque JUSTIÇA URBANA é aquele típico filme de locadora ou de Domingo Maior, para ver sem grandes pretensões e esquecer tudo horas depois. Aliás, sobre que filme eu estava escrevendo mesmo???

Trailer de JUSTIÇA URBANA



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Justiça Urbana (Urban Justice, 2007, EUA)
Direção: Don E. FauntLeRoy
Elenco: Steven Seagal, Eddie Griffin, Carmen
Serano, Cory Hart, Liezl Carstens, Kirk B.R.
Woller e Danny Trejo.