WebsiteVoice

Mostrando postagens com marcador David A. Prior. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador David A. Prior. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 21 de setembro de 2010

AS DOZE CONDENADAS (1987)


A guerra dos sexos é um tema bastante freqüente no cinema, especialmente nas açucaradas e normalmente intragáveis comédias românticas norte-americanas. Já pensaram como esses filmes ficariam bem mais interessantes se Sandra Bullock, Julia Roberts, Cameron Diaz e outras figurinhas carimbadas resolvessem suas diferenças com os homens dando tiros de metralhadora nos sujeitos? Pelo menos assim, quem sabe, os finais das comédias românticas seriam DIFERENTES!

Exageros à parte, filmes com mulheres sensuais e armadas até os dentes enfrentando homens não são exatamente uma idéia de jerico do autor desse blog. Existe um subgênero, "hot bimbos with guns", que compreende várias fitas de ação baratas produzidas principalmente a partir dos anos 70, e que sempre trazem loiras oxigenadas e peitudas empunhando metralhadoras contra exércitos masculinos - verdadeiras Rambetes, se quiserem chamar assim.


A bem da verdade, garotas com armas são um bizarro fetiche bastante popular nos Estados Unidos, onde há sites e revistas no estilo "guns & girls", trazendo fotos de peitudas de biquíni em poses sensuais com metralhadoras e revólveres de cano longo (qualquer sentido fálico NÃO é mera coincidência).

Chega a dar asco de imaginar aqueles rednecks gringos se masturbando com publicações do gênero - será que a "dedicatória" é para a modelo ou para a arma?

(Para quem não lembra, Quentin Tarantino ironizou essa maluca paixão nacional colocando um vídeo de garotas de biquíni com metralhadoras em "Jackie Brown"...)


No cinema, figuraças como Andy Sidaris e Fred Olen Ray trataram de manter vivo esse subgênero, produzindo baratíssimas aventuras picaretas com mulheres-machas. Mas poucos filmes são tão absurdos na sua representação da "guerra literal dos sexos" quanto AS DOZE CONDENADAS, uma engraçadíssima aventura pobretona dirigida por... tcham, tcham, tcham, tcham... O homem, o mito, a lenda David A. Prior, um sujeito que merecia um blog caprichado sobre a sua obra no estilo do Radioactive Dreams, que os amigos Ronald Perrone e Osvaldo Neto fizeram para o Albert Pyun (algum voluntário?).

Prior produziu AS DOZE CONDENADAS em 1987, mesmo ano do seu grande clássico, "Deadly Prey - Extermínio de Mercenários" (aliás, algumas cenas dos dois filmes são idênticas, embora com atores diferentes).


O título em português entrega a principal inspiração do diretor-roteirista (o clássico "Os Doze Condenados", de Robert Aldrich), mas estraga o nada sutil título original, "Matadoras de Homens". Querem guerra dos sexos? Pois tomem guerra dos sexos!

Basicamente, para não me alongar demais, AS DOZE CONDENADAS conta a história de uma ex-agente da CIA chamada Rachael McKenna (Lynda Aldon), uma loira peituda e estilo modelete que em nada lembra uma agente da CIA, quem dirá ex-agente... Mas tudo bem!

Em sua última missão, Rachael quase foi morta por seu ex-parceiro, um agente renegado chamado John Mickland (William Zipp, que está em quase todos os filmes do David Prior). Nos tempos atuais, Mickland é um traficante de drogas e de escravas brancas (!!!) que tem uma base militar na Colômbia, e está sempre de gelzinho no cabelo e fazendo cara de malvado.


Eis que os chefões da CIA resolvem chamar Rachael de volta para liderar a missão de exterminar Mickland, aproveitando-se do ódio da garota por ele. A moça aceita, mas com uma condição: recrutar 12 condenadas (hahaha) da penitenciária local e treiná-las em técnicas de combate para acompanhá-la na missão colombiana.

E por que garotas? "Porque Mickland não estará esperando por mulheres", justifica Rachael. Ah, tá...

Caso a missão seja bem-sucedida, as 12 prisioneiras receberão o perdão pelos seus crimes. Bem, pelo menos aquelas que sobreviverem, é claro...


Segue-se um resumão de "Os Doze Condenados", com a moça recrutando suas 12 presidiárias, todas condenadas à morte ou prisão perpétua por assassinato, tráfico de drogas ou assaltos (e que, apesar de estarem mofando na cadeia, aparecem sempre penteadas e maquiadas como se tivesse recém saído do salão de beleza!).

O filme não faz muita distinção entre as garotas e nem tenta criar personagens decentes - a maioria só está ali para morrer mesmo. Mas tem uma ruiva, uma negra, uma oriental e umas oito loiras estilo Barbie, todas iguais.

Após a tradicional montagem com música pop mostrando o árduo treinamento das garotas, elas partem para a base de Mickland com a missão de destruir o vilão e seus asseclas. E começa a guerra literal dos sexos, com belas garotas de shortinho atolado na bunda e camisetas curtinhas metralhando, esfaqueando, explodindo e estrangulando os vilões - todos homens, claro!


Guerra dos sexos mostrada sem qualquer sutileza pelo diretor Prior. Numa cena antológica, Mickland dá um esporro num capanga que fugiu das garotas armadas até os dentes: "Eu não acredito que você correu de um bando de mulheres!".

Sexista até o talo, AS DOZE CONDENADAS também faz questão de mostrar todos os homens como tarados incorrigíveis, e todas as mulheres como predadoras sexuais, já que elas seduzem os inimigos mostrando os peitos e enchem os coitados de tiros ou facadas (inclusive nas partes baixas!) quando eles baixam a guarda! É simplesmente hilário...


E como se trata de um filme de David A. Prior, você já sabe desde o começo o que esperar: pobreza, indigência técnica e uma quantidade absurda de abobrinhas por segundo. O quartel general de Mickland, por exemplo, é formado por meia dúzia de casamatas cujas paredes são meras folhas de zinco - mas os tiros disparados por heróis e vilões milagrosamente nunca atravessam as paredes!

Como em todo filme de Prior, também, as cenas de combate são hilárias, com os dois lados do confronto atirando um no outro sem qualquer cobertura, e eventualmente atingindo o rival por pura sorte – mas só depois de disparar uns 200 tiros a esmo.

Mas nada é mais impagável do que o duelo final entre Rachael e Mickland, quando a mocinha dá um tiro no coração do vilão, mas ele não morre; depois dá um tiro na perna, mas ele continua de pé; depois dá dois tiros no peito, mas ele novamente teima em levantar; finalmente, dá um tiro na barriga, Mickland cai, mas novamente consegue ficar de pé (!!!) e até entrar num carro (!!!) para tentar atropelar a heroína - o sujeito é praticamente um cruzamento entre Tony Montana, Agente Smith e Jason Voorhees.


Rachael só consegue matá-lo com um tiro de bazuca, embora o orçamento seja tão pequeno que não permita aos produtores explodir realmente o carro (só o que vemos é o capô voando e algumas faíscas e fumaça, quando no mundo real um tiro de bazuca provavelmente reduziria o veículo inteiro a cinzas!).

A citação a Tony Montana no parágrafo anterior não foi gratuita: em mais uma cena antológica, Mickland tortura ao estilo "Scarface" um agente da CIA infiltrado no seu acampamento - ou seja, desmembrando-o com uma serra elétrica.


Pobre e tosco em seus mais mínimos detalhes, AS DOZE CONDENADAS é um filme que só pode ser visto com bom humor, ou então sob a influência de tóxicos - algo que costuma ajudar MUITO ao se ver as obras de David A. Prior.

Mas é impossível não rir com as ridículas explosões de granadas (que mais parecem estalinhos de São João), com os figurantes que morrem três ou quatro vezes e, principalmente, com as roupinhas sensuais das garotas, completamente deslocadas para agentes especiais em missão militar.

Pena que, apesar do tom de sacanagem geral do filme, nem um único peitinho apareça em cena - apesar de decotes generosos como o da moça aí embaixo, que, acredite ou não, está indo para uma missão suicida, e não para um bar de striptease!


Num mundo perfeito, a sua namorada adoraria ver filmes como esse com você, e não as comédias românticas açucaradas da Sandra Bullock e da Julia Roberts! Puxa vida, e como não gostar de um filme classe Z com mulheres de shortinho fuzilando traficantes de escravas brancas?!?

PS: Em meio a um festival de "bimbos" que nunca fizeram outro filme além desse e atores de fundo de quintal, AS DOZE CONDENADAS traz três esquecidos atores outrora famosos em pequeno papel - uma prática habitual de diretores picaretas tentando valorizar seu filme furreca. Aqui, aparecem os literalmente veteranos Edd Byrnes (um astro juvenil dos anos 50 e 60, que também fez spaghetti westerns, como "Vou, Mato e Volto", do Castellari), Gail Fisher (que nos bons tempos chegou a ganhar dois Globos de Ouro pelo seriado de TV "Mannix") e Edy Williams (uma ex-sex symbol da década de 60). Os três nomes aparecem por primeiro nos créditos iniciais, apesar de suas participações no filme, somadas, não durarem nem 5 minutos. Como se vê, é triste envelhecer em Hollywood...

Uma ceninha de AS DOZE CONDENADAS



*******************************************************
As Doze Condenadas (Mankillers, 1987, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Lynda Aldon, William Zipp, Christine
Lunde, Suzanne Tegmann, Marilyn Stafford,
Edd Byrnes, Gail Fisher e Edy Williams.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Os Mercenários, Machete e... DEADLY PREY 2 ?!?


Rivalizando diretamente com outras redes sociais internéticas, como Orkut e MySpace, o Facebook oferece toda uma série de novos benefícios aos usuários que não se assustarem com o seu jeitão complicado. Entre essas benesses, você pode varar madrugadas absorto no famigerado jogo da fazendinha; pode rolar de rir lendo as postagens filosóficas de seus amigos pseudo-cults (que confundem Facebook com Twitter), e ainda pode divertir-se com aplicativos inteligentíssimos como "Descubra qual filme do Quentin Tarantino você é".

Mas você também pode dar a sorte de topar com um dos seus cineastas cult-trash preferidos, de bobeira por ali, e tentar convencê-lo a filmar uma seqüência para um clássico da sua infância!!!

Pois é, meus amigos, e foi ali mesmo, no Facebook, que eu encontrei o famigerado David A. Prior, o sujeito por trás de "clássicos" divertidíssimos e feitos a custo zero nos anos 80, muitos deles reprisados infinitas vezes pelo SBT no velho Cinema em Casa, anos antes de a TV aberta ficar careta.


O "encontro" entre esse que vos escreve e seu ídolo David A. Prior aconteceu no domingo, 6 de junho de 2010. E, ao adicionar Prior entre os meus "amigos" do Facebook (olha a pretensão!), aproveitei para mandar uma mensagem amistosa, destilando todo o meu inglês tosco do freetranslation.com. Nesta breve mensagem, declarei meu amor incondicional pelo clássico absoluto de David, "Deadly Prey", que foi lançado em VHS no Brasil, há 20 anos, como "Extermínio de Mercenários".

Com toda a minha inocência, pedi que David pensasse seriamente em fazer uma continuação do seu grande clássico, trazendo de volta à ação um envelhecido MIKE DANTON (nome do herói fodão do filme, interpretado pelo irmão do diretor, Ted Prior). Enfim, algo nos moldes de Stallone em "Rambo 4".

Pois, para minha surpresa, Prior respondeu logo em seguida, feliz da vida pelo interesse num "Deadly Prey 2", e anunciando que já tinha planos para uma seqüência. O bate-papo agregou outros usuários, dando início a uma troca de comentários que contou até com participação do ator (dos filmes do Prior) Jack Marino.

(Clique na imagem para ampliar e ler a puxação de saco do Felipe)


Ao que parece, o magnânimo David A. Prior precisa de míseros 150 mil dólares para filmar a tão aguardada Parte 2. Mas, acredite se quiser, não consegue juntar tal montante de grana. Míseros 150 mil dólares para dar seqüência a um clássico do cinema "alternativo"!!! Não perca as contas: com o que custou "Avatar", por exemplo, David A. Prior poderia filmar mais de 1.500 "Deadly Preys". Já pensou? Sim, o mundo é mesmo um lugar muito injusto.

Pelo jeito, o diretor realmente ficou animado com a idéia da continuação: quatro dias depois, na quinta-feira, 10 de junho de 2010, David postou no seu próprio Facebook: "OK, quem quer ver 'Deadly Prey 2' ser feito? Falem comigo, caras! Sério!". Seguiu-se mais uma série de comentários, entre eles o meu, que cita o título deste post.

(Clique na imagem para ampliar e ler a rasgação de seda do Felipe)


E sinceramente: no ano de "Os Mercenários" e "Machete", um "Deadly Prey 2" seria a prova cabal de que estamos sob a influência de alguma raríssima conjunção astral...

Feliz com a possibilidade de ter ajudado, pelo menos um pouquinho, a motivar o lendário David A. Prior a fazer uma continuação de seu grande filme, aproveito para lançar a campanha DEADLY PREY 2 NOW! Se você tem Facebook, adicione ou entre no mural do David (clicando aqui) e deixe uma mensagem carinhosa de apoio, para que ele realmente possa constatar que MIKE DANTON tem mais fãs do que o seu próprio criador pensa!

Pelo que Prior comentou, já existe até um argumento para "Deadly Prey 2" (criado, é óbvio, com a ajuda do irmão-galã Ted). Além de DANTON, o novo filme traria de volta o vilão do original, o coronal Hogan (David Campbell), e não me pergunte como ele sobreviveu à fúria do herói na conclusão do primeiro filme...

Pode até não dar em nada, mas a possibilidade de sonhar com uma bizarria como "Deadly Prey 2" em pleno século 21 (sendo o original um retrato das aventuras amalucadas e inconseqüentes dos anos 80) é uma daquelas alegrias que apenas o Facebook proporciona!

domingo, 30 de agosto de 2009

FORÇA INVASORA (1990)


Depois de passar minha adolescência inteira vendo as produções horrendas perpetradas por David A. Prior e sua trupe (e sempre exibidas nas tardes do SBT, no velho Cinema em Casa), eu nunca imaginei que algum dia poderia encontrar um filme com o nome deste cidadão e, ainda assim, ao final, dizer: "Puxa, mas este REALMENTE é um bom filme". Digo "bom" mesmo, não as tralhas habituais dirigidas por Prior, que de tão ruim se tornam ao menos engraçadas.

Pois o dia chegou, amiguinhos: FORÇA INVASORA foi escrito e dirigido por David A. Prior, traz todas as caras conhecidas dos seus filmes (com exceção do irmão-galã Ted Prior, que provavelmente estava resfriado na época das filmagens), e mesmo assim consegue ser bem divertido - como filme "normal", e não como diversão trash. Sim, acredite!!!


Nesse filme quase desconhecido do "mestre", o roteiro (do próprio Prior, claro) é uma interessante brincadeira metalingüística (pode???), que mistura dois ótimos filmes dos anos 80: "F/X - Assassinato Sem Morte", de Robert Mandel, e "Amanhecer Violento", do John Millius.

A história começa como se fosse um típico filme do diretor: um clone de quinta categoria do Rambo, sem camisa, com faixa amarrada na testa e segurando duas metrancas, invade um acampamento inimigo e fuzila todo mundo. Resta um último vilão, que ameaça sua namorada com uma faca na garganta, pedindo um valioso diamante em troca da vida da moça. Feita a troca, o vilão descobre, da pior forma possível, que no lugar do diamante recebeu uma bomba, e voa pelos ares em pedacinhos. Enquanto isso, o grande herói e sua namorada preparam-se para um último e romântico beijo, quando...



...a moça pisa no pé do herói, e um diretor fora do enquadramento grita "Corta!". Isso mesmo: tudo que vimos até então era um filme de ação classe Z produzido pela American International Pictures (AIP, por sinal a mesma produtora do próprio FORÇA INVASORA!).

As filmagens estão sendo realizadas numa montanha isolada do Alabama, por uma equipe de quinta categoria que parece um reflexo da própria equipe de David Prior. O "herói" à la Rambo é apenas um ator famoso chamado Troy (interpretado por David "Shark" Fralick), e a mocinha desajeitada é a atriz iniciante Joni (Renée Cline, de "A Batalha Final", figurinha carimbada dos filmes de Prior). A moça é tão má atriz que só conseguiu o papel por ser namorada do produtor Jack (David Marriott, de "Operation Warzone", outro da patota de Prior).


A partir de então, o espectador descobre que aquela produção furreca está com orçamento e cronograma estourados, e o produtor exige que o diretor da película, Ben Adams (interpretado por Walter Cox), termine as filmagens de qualquer jeito no dia seguinte, nem que para isso tenha que pular cenas e páginas inteiras do roteiro. São apresentadas ainda outras figurinhas carimbadas dos bastidores, como o técnico em efeitos especiais, o responsável pelas explosões e o diretor de fotografia. Ironicamente, outros dois parceiros habiturais de Prior, Douglas Harter e Charles Stedman, aparecem interpretando eles mesmos!!!

E como se o pobre Ben já não tivesse problemas demais nas mãos, eis que uma tropa de mercenários de um país da América Central, comandados pelo general Juarez (Angie Synodis) e liderados pelo coronel das Forças Especiais norte-americanas Michael Cooper (Richard Lynch!!!), inventa de armar seu acampamento bem ali naquela região. No dia seguinte, o dia em que Ben e sua equipe precisam terminar as filmagens de qualquer jeito, os soldados inimigos irão invadir uma grande cidade próxima e explodir pontes e aeroportos para poder fazer reféns e chantagear o governo. Só que os vilões não esperavam encontrar uma equipe de cinema bem ali...

A primeira reação dos invasores inimigos é matar os coitados, para eliminar toda e qualquer testemunha; depois, eles bloqueiam todas as estradas para impedir que o pessoal escape e alerte as autoridades. Até que a equipe se reúne e, liderada pela estrelinha Joni (que de repente se revela uma valentona de primeira linha e até uma atiradora das boas!), decide lutar contra os soldados, usando para isso apenas sua esperteza e a magia do cinema - incluindo maquiagem, balas de festim e explosões falsas!


FORÇA INVASORA é pobre até a medula - seu principal defeito. Esse é o tipo de roteiro que eu adoraria ver produzido por alguém como mais grana, para poder bancar muitos tiros, explosões e figurantes para morrer de todas as formas possíveis e imagináveis. Infelizmente, temos aqui a tradicional produção furreca comandada por Prior e sua trupe, o que significa pobreza e improviso.

Uma das cenas mais miseráveis é a chegada dos soldados inimigos à região das filmagens: sem dinheiro para filmar os vilões pulando de um avião e depois abrindo seus pára-quedas, Prior corta direto para meia dúzia de figurantes rolando no chão e recolhendo os pára-quedas já abertos, como se tivessem acabado de saltar de um avião!!! (E o resultado é de rolar de rir, de tão mal-feito!)

Pior: os "batalhões" de soldados inimigos geralmente são compostos por seis ou sete figurantes, e percebe-se que há no máximo uns 12 figurantes, no total, para interpretar um suposto exército com centenas de soldados. Assim, todo mundo tem que se revezar para aparecer e morrer várias vezes ao longo do filme. Uma cena que mostra direitinho a pobreza da coisa é aquela em que o coronel interpretado por Richard Lynch explica seu plano, supostamente a um batalhão inteiro de soldados, mas aparecem apenas três cabecinhas em primeiro plano!!!


Também há todas aquelas bobagens à la David A. Prior (parece que o homem não consegue se segurar!), como a atriz que se revela uma agente disfarçada da CIA (sem que esta revelação faça a menor importância no roteiro além de explicar a intimidade da garota com armas de fogo). Ou a "técnica Danton de camuflagem", que parece saída do clássico "Deadly Prey", quando Joni fica "escondida" sobre um galho de árvore a 10 centímetros da fuça dos vilões, e mesmo assim ninguém a enxerga. Ou, ainda, a cena em que Ben se engalfinha com um soldado para que Joni possa fugir correndo, sendo que a moça tinha uma metralhadora nas mãos e podia simplesmente atirar no inimigo enquanto Ben o segurava!

Mas nem estes "pequenos detalhes" conseguem estragar FORÇA INVASORA, que se revela um filme de ação classe Z acima da média - e principalmente acima da média das obras de Prior. Com apenas 83 minutos, o filme é curto demais para chatear. Já o roteiro até é interessante e tem algumas boas sacadas, como a conclusão que remete ao "falso filme" que estava sendo rodado no início. Ou o fato de o último take mostrar o próprio David Prior, em pessoa, aparecendo para gritar "Corta!" e cumprimentar os atores e toda a equipe dos bastidores de FORÇA INVASORA pelo seu trabalho - um final bastante inspirado.

Méritos, ainda, para Richard Lynch como vilão. Normalmente, os filmes de Prior trazem atores conhecidos em participações de dois ou três minutos. Mas aqui Lynch realmente participa ativamente do projeto, e inclusive tenta atuar (o que apenas comprova como todos os outros atores e atrizes são péssimos).


A cena em que ele tortura um dos heróis, esmurrando o braço onde o sujeito acabara de tomar um tiro, é muito boa, e às vezes ele parece estar reprisando seu papel de vilão em "Invasão USA", onde também liderava um ataque secreto, só que de soldados russos, e não da América Central. Já a protagonista Renée é péssima atriz e feinha de rosto, mas em compensação tem um corpão e aparece o filme todo de shortinho (nham...).

Infelizmente, o SBT parou de reprisar os filmes do diretor há muitos anos, e encontrar FORÇA INVASORA nas locadoras (a fita era de uma distribuidora pobrezinha chamada New Action) é uma tarefa que provavelmente nem o lendário Mike Danton, de "Deadly Prey", conseguiria cumprir.

Infelizmente, também, o resultado final é exatamente como eu escrevi alguns parágrafos acima: embora até engane os fãs de tralhas, como os distintos visitantes aqui do FILMES PARA DOIDOS, a pobreza da produção está estampada em cada frame da película, especialmente no número reduzido de figurantes e nos efeitos pouco convincentes dos tiroteios.

Com algumas óbvias modificações no roteiro (PRINCIPALMENTE na reviravolta da "agente da CIA disfarçada") e gente boa envolvida na produção, creio que um blockbuster bastante divertido poderia ser produzido a partir deste filme. Alguém aí tem o telefone do Joel Silver?


****************************************************************
Invasion Force (1990, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Renée Cline, Walter Cox, Richard
Lynch, Douglas Harter, Charles Stedman
e David "Shark" Fralick.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A BATALHA FINAL (1990)


Oficialmente, a temível Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética terminou em 3 de dezembro de 1989, quando os líderes das duas superpotências finalmente fumaram o cachimbo da paz, depois de quatro décadas de ameaças mútuas de uma possível Terceira Guerra Mundial - no caso, uma guerra nuclear, com grandes possibilidades de destruir o mundo inteiro além dos dois impérios brigões!

O tratado de paz acabou com algo que era comum no cinema de ação da década de 80: vilões russos, fossem eles terroristas, como os que invadem os Estados Unidos e enfrentam Chuck Norris em "Invasão USA", fossem eles meros boxeadores, como o Ivan Drago, que quase matou o Stallone de pancada em "Rocky 4".

E embora os vilões comunas tenham saído rapidinho da moda, um certo cineasta norte-americano achou que ainda era cedo para terminar a Guerra Fria. E, em 1990, lançou sua própria versão do final do conflito: A BATALHA FINAL.


É claro que estamos falando de David A. Prior, possivelmente um dos piores cineastas da história. Quem vem acompanhando fielmente o FILMES PARA DOIDOS deve ter percebido que eu ando fazendo um retrospecto da "carreira" do homem, já que minha infância/adolescência provavelmente não teria sido tão divertida casos os filmes de Prior não fossem exibidos no Cinema em Casa (não deixe de ler minhas resenhas de "Deadly Prey" e "Operation Warzone", outros inacreditáveis "clássicos" do diretor).

Já sobre A BATALHA FINAL, só tenho uma coisa a dizer: é, de longe, um dos piores filmes de Prior - e quando estamos falando de um sujeito que praticamente só fez filme muito ruim, isso não significa pouca coisa!

O SBT costumava reprisar o filme religiosamente nas suas tardes de Cinema em Casa, e duvido que exista algum fã de filmes bagaceiros que nunca tenha visto ao menos uns minutinhos desta "maravilha" (sim, as aspas significam ironia). E é só saber como surgiu a idéia de A BATALHA FINAL para entender a "qualidade" (idem ao parêntese anterior) da película: David e seu irmão e galã habitual, Ted Prior, compraram num leilão de quinquilharias alguns metros de negativos contendo cenas de testes do Exército, mostrando explosões nucleares, mísseis sendo disparados de silos e coisas do gênero. Isso pela bagatela de 75 dólares! A dupla dinâmica então encarnou o espírito de Ed Wood e pôs-se a imaginar um roteiro que pudesse aproveitar todas estas cenas (como essa aí embaixo), e que custasse o mínimo possível. É mole?


Assim, o roteiro assinado por David inicia no calor da então terminada Guerra Fria, com Estados Unidos e União Soviética trocando mísseis nucleares. Mera desculpa para usar aquele montão de cenas de arquivo com disparos de mísseis e explosões que ele tinha à disposição, todas muito granuladas/estragadas, destoando completamente do restante do filme. Através de noticiários, descobrimos que houve pesadas perdas civis para as duas superpotências, e que a ONU irá reunir os principais líderes mundiais em Genebra, na Suíça, para tentar chegar a uma solução pacífica para o conflito, antes da destruição total da Terra.

Corta para um monte de manés sentados ao redor de uma mesa de jantar comum (imagine isso como sendo a sala de reuniões da ONU), votando na tal "solução pacífica" para a Guerra Fria. E adivinhe qual é a idéia dos "principais líderes mundiais"? Acredite ou não, eles decidem que o destino da humanidade será traçado não mais através de uma guerra atômica, mas sim no simples duelo corpo a corpo entre dois homens, representando "o melhor" das duas nações!!! É, alguém viu "Rocky 4" muitas vezes...

E enquanto a União Soviética escolhe como representante o sargento Sergei Schvackov (o queixudo Robert Z'Dar, da série "Maniac Cop"), um gigante condicionado física e psicologicamente para matar, os norte-americanos surpreendentemente optam por um velho herói de guerra, o sargento Thomas Batanic (Ted Prior, quem mais?), que foi condenado pela corte marcial por crimes de guerra que supostamente não cometeu.



Batanic é o pior representante possível para uma nação inteira: cínico, preguiçoso, trapaceiro e magrela, parece mais uma espécie de Snake Plissken dos pobres. Em outras palavras, você não consegue acreditar, nem por um minuto, que ele realmente teria alguma chance contra o monstruoso Z´Dar, ainda mais numa luta corpo a corpo! Mas como os ianques posteriormente elegeriam George W. Bush como presidente, a escolha nem parece tão absurda assim...

O local escolhido para a "batalha final" é uma extensa selva na Virginia (que, veja só que incongruência, fica em território norte-americano!!!). Ali, os dois soldados são monitorados e rastreados por suas devidas superpotências, enquanto basicamente caminham de um lado para o outro, entre árvores e casebres, trocando tiros, bombas e socos durante o restante do filme.

E é só isso: um filme inteiro sobre dois sujeitos que supostamente são os melhores de cada lado, mas que passam uns bons 40 minutos tentando se matar sem jamais conseguir, mesmo contando com um verdadeiro arsenal à disposição!!! Quem conseguir ficar acordado, ainda terá pela frente uma das conclusões mais absurdas já filmadas.


Como legítima produção de David A. Prior, A BATALHA FINAL está repleto daqueles absurdos e defeitos que costumam tornar seus filmes bastante engraçados e divertidos. O maior absurdo, que surpreendentemente é levado a sério o tempo inteiro, é a idéia de decidir o destino do mundo numa luta banal entre dois soldados, que pode ser definida muito mais na sorte do que na habilidade. Isso é tão ou mais ridículo do que decidir uma eleição presidencial no par ou ímpar!

E se (ênfase MUITO GRANDE no "e se...") as duas superpotências realmente optassem por um mano a mano estilo gladiadores da Roma Antiga, certamente uma disputa desta grandiosidade não aconteceria na Virginia (dando ligeira vantagem a um dos lados do conflito), mas sim em algum país neutro. Para piorar, não só o local da "batalha final" fica nos EUA, como ainda garante acesso livre para qualquer mané: lá pelo final do filme, um desafeto de Batanic consegue infiltrar-se pessoalmente naquela área para tentar matar o herói, sem que ninguém descubra ou apareça para impedir.

Também não dá para engolir o fato de que um evento desta magnitude, por mais absurdo que pareça, seria monitorado por apenas duas pessoas representando cada superpotência. Caso (ênfase MUITO GRANDE no "caso...") uma coisa dessas realmente acontecesse, é claro que cada lado da batalha teria à sua disposição uma daquelas salas cheias de técnicos e computadores tipo as da Nasa, para poder monitorar cada passo dos dois soldados e descobrir em milésimos de segundo o que está acontecendo.


Pois em A BATALHA FINAL, muito provavelmente por limitações orçamentárias, temos apenas uma dupla de "monitores" para cada lado, diante de uma tela de computador que mostra duas bolinhas representando os soldados - e o herói norte-americano quase é morto porque a moça (Renée Cline) que deveria estar de olho no monitor preferiu ficar paquerando o sujeito!!! Detalhe: nem EUA nem URSS têm uma mísera camerazinha na área do confronto para poder visualizar o que realmente está acontecendo, tornando muito fácil a possibilidade de trapaças para qualquer um dos lados.

Agora, descontando essas palhaçadas do roteiro, o que sobra são 40 minutos apresentando a situação e "desenvolvendo" os personagens, e mais uns 45 minutos com a "batalha final" propriamente dita. Como seria pedir demais um tiro certeiro disparado por um dos lados (pois assim a luta terminaria muito rápido), resta ao espectador desafiar os limites da sua paciência enquanto assiste Ted Prior e Robert Z'Dar trocando tiros sem jamais se acertar, mesmo quando um deles está escondido atrás de uma árvore tão fininha que até uma cuspida bem dada atravessaria o seu tronco!

E se os dois "melhores soldados do mundo" não conseguem se acertar nem ao menos de raspão, como engolir o fato de que Batanic constrói uma única armadilha (daquele tipo "pise no barbante para explodir tudo") num território com dezenas de quilômetros de extensão, mas mesmo assim consegue adivinhar que Sergei pisará exatamente naquele local?


Novamente, a tal "batalha final" poderia terminar em cinco minutos, mas o adversário russo é um verdadeiro Jason, que escapa vivo não somente desta armadilha, mas também da explosão de uma cabana inteira. E, apesar de estar no interior da tal cabana e sem qualquer chance de fuga, Sergei não apenas sobrevive, como acaba apenas com metade do rosto levemente desfigurado!!!

Resta, então, um confronto frouxo, que rende algumas boas risadas (pela total inexperiência dos "melhores soldados", e também pelo fato de Sergei aparecer e desaparecer misteriosamente em questão de segundos, mesmo quando está em campo aberto e sem nenhum lugar para se esconder). O tal confronto é mais chato do que propriamente divertido ou empolgante.

Para piorar, o diretor e roteirista Prior tenta uma solução diplomática para o impasse, e ainda fica gastando tempo com subtramas ridículas envolvendo corrupção no Exército e a investigação de um senador.


E embora A BATALHA FINAL seja puro David A. Prior (incluindo a tradicional cena dos soldados se arrumando para o confronto, com closes em armas, granadas e facas sendo colocadas no uniforme), o resultado final não é ruim e divertido, como um "Deadly Prey", mas apenas ruim - e, neste caso, BEM RUIM. Percebe-se claramente a pobreza da produção, principalmente dos cenários.

Mas cá entre nós: como é que um filme criado a partir de um monte de cenas velhas poderia ser diferente?

E mais uma coisa: já pensou se a moda pega e esse sistema de decidir questões importantes no mano a mano fosse adotado a sério? Aí quem sabe a próxima Copa do Mundo seria decidida somente na cobrança de pênaltis entre os melhores artilheiros de cada país. Agora imagine o craque representante do Brasil chutando a bola para fora ou na trave adversária durante 1h30min, e o outro lado (Argentina? Itália? Alemanha?) fazendo a mesma coisa. Pois A BATALHA FINAL é exatamente assim. Talvez até menos empolgante, se é que isso é possível...

Trailer de A BATALHA FINAL



****************************************************************
The Final Sanction (1990, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Ted Prior, Robert Z'Dar, Renée
Cline, William Smith, David Fawcett,
Barry Silverman e Graham Timbes.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

DEADLY PREY (1987)


Nos famosos "Chuck Norris Facts", um dos itens diz que as pessoas têm pesadelos com o Bicho-Papão, e que o Bicho-Papão tem pesadelos com Chuck Norris. Pois agora eu completo essa frase: E quando Chuck Norris tem pesadelos, é com MIKE DANTON. Para quem não conhece, MIKE DANTON seria o resultado de um cruzamento genético entre Chuck Norris, Steven Seagal, McGyver, Charles Bronson em "Desejo de Mata 3", Schwarzenegger em "Comando para Matar" e Stallone em "Cobra": um cara tão foda, mas tão foda, que seu nome só pode ser escrito em letras maísculas, e que desmentiria um por um os "Chuck Norris Facts"!

A bem da verdade, DANTON é o inacreditável herói capenga e metido a galo do filme DEADLY PREY, um dos grandes clássicos da tosquice cinematográfica humana, que foi escrito e dirigido pelo notório David A. Prior (como todos já devem saber, um dos piores diretores da história da humanidade). Graças à sua extrema ruindade, o filme ganhou recentemente status de cult movie, com um enorme séquito de fãs (criaram até uma página no MySpace para MIKE DANTON!!!).

Pessoalmente, eu sou fã apaixonado desta tralha desde que a vi no Cinema em Casa na adolescência, e volta-e-meia revejo para dar sonoras gargalhadas. Se há um filme para ver com amigos bebendo cerveja, ESTE é o filme!


DEADLY PREY ganhou um festival de títulos em português. Oficialmente, foi lançado em VHS como "Extermínio de Mercenários" pela obscuta Wera's Vídeo (nunca vou me perdoar por não ter comprado esta fita de uma locadora da minha cidade quando tive oportunidade). Mas o SBT reprisou incontáveis vezes, inventando um título diferente a cada reprise: "Isca Mortal", "O Exterminador de Mercenários" e até (e esse é realmente incrível) "Danton - Sozinho e Armado"!!!

Antes de começar a resenha desta maravilha do cinema ruim, permitam-me um pequeno esclarecimento: por mais que eu tente descrever a tosquice deste filme em seus mínimos detalhes, trata-se de um caso raro de "ver para crer". Todos os filmes de David A. Prior são MUITO RUINS, mas este é especial. Perto do que ele fez neste filme, Bruno Mattei é Francis Ford Coppola e Uwe Boll é Stanley Kubrick.

Por isso, quem nunca viu PRECISA dar uma olhada nos vídeos que postei ao longo do texto, para ter uma idéia melhor do naipe de bagaceirice que estou descrevendo. Garanto que vocês não vão se decepcionar, mesmo aqueles que reclamam da demora do YouTube para carregar as imagens. As cenas são simplesmente de rolar de rir.


Numa estranha mistura do clássico "The Most Dangerous Game" com todos os clones de "Rambo" lançados nos anos 80, DEADLY PREY conta a história de um grupo de mercenários malvados que treina em sua base secreta, numa selva a alguns quilômetros de Los Angeles. O grupo é financiado por um manda-chuva chamado Michaelson (Troy Donahue, astro dos anos 50 e 60, que acabou a carreira nesse tipo de tralha), e comandado por um veterano do Vietnã que foi expulso do Exército, o coronel Hogan (David Campbell).

A tática de treinamento adotada por Hogan é incrível: seus homens seqüestram civis nas ruas de Los Angeles, e depois os coitados são caçados pelos mercenários na floresta, supostamente para que seus homens aprendam táticas de combate e assassinato (como isso é possível caçando vítimas despreparadas, desarmadas e indefesas, não me pergunte...).

Mas os mercenários logo terão um osso duro pela frente: o próximo "civil" que eles seqüestram para servir de isca é ninguém menos que MIKE DANTON (Ted Prior, irmão do diretor David e galã da maioria de seus filmes).


Os caras malvados não sabem, mas DANTON é uma verdadeira máquina de matar, que foi treinado pelo próprio Hogan no Vietnã, e que tem habilidades praticamente sobrenaturais de combate e sobrevivência - basta dizer que ele consegue ficar completamente invisível na selva apenas amarrando dois galhos de árvore nos ombros, ou ainda atravessar o tórax de um sujeito com um mísero e frágil graveto!

Quando a "caçada" dá errado, e uns 20 dos seus homens são aniquilados, Hogan vê um dos cadáveres esfaqueados e, sem qualquer lógica, exclama: "Opa, eu conheço esse estilo... É alguém que eu treinei no Vietã... DANTON!". Não me pergunte como você reconhece o "estilo de matar" de alguém, ainda mais quando não há estilo algum (apenas um cadáver esfaqueado caído no chão).

Mas, de qualquer jeito, Hogan passa o resto do filme reagrupando mais e mais mercenários para tentar dar cabo do herói, enquanto DANTON passa o resto do filme exterminando mercenários (opa! olha o título nacional) sem a menor dificuldade. Até que os malvados resolvem colocar a esposa do herói, Jamie (Suzanne Tara), na jogada.

22 mercenários mortos em 3 minutos!


O elenco conta ainda com outro veterano, Cameron Mitchell (provavelmente em busca de uns cobres para pagar o aluguel), no papel do pai de Jamie, um policial aposentado. Os nomes de Mitchell e de Donahue são os primeiros a aparecer nos créditos iniciais, embora as cenas de ambos não somem cinco minutos (aquela típica tática de diretor picareta para tentar dar um pouquinho mais de importância ao seu filme colocando nomes conhecidos no elenco, mesmo que seja em pontas minúsculas).

Também aparecem outros atores-fetiche do diretor, como Fritz Matthews (no papel de um karateka que usa óculos escuros o filme inteiro, mesmo à noite!), William Zipp e Chet Hood, entre outros anônimos que você só vai ver nas produções assinadas por David A. Prior...


Bem, para dar uma idéia da comédia involuntária que é DEADLY PREY, vamos falar um pouco sobre MIKE DANTON e suas façanhas ao longo dos 90 minutos de filme:

* No papel de DANTON, o galã de quinta categoria Ted Prior passa o filme inteiro sem camisa, com os músculos besuntados de óleo, um shortinho jeans pornográfico e descalço. Ah, o sujeito também tem um corte de cabelo estilo mullet que é indestrutível, mesmo quando ele passa noites ao relento no meio da selva.

* Lembra aquela cena de "Rambo 2" em que o herói se cobre de barro para pegar um inimigo de surpresa? DANTON não precisa disso: com dois galhos amarrados nos ombros, ele fica completamente invisível na selva, mesmo quando está trepado no galho de uma pequena árvore diretamente no campo de visão dos seus inimigos, como mostra o impagável vídeo abaixo. Além disso, mesmo perseguido por dezenas de inimigos, DANTON encontra tempo para cavar um buraco no chão (sem ter nem ao menos uma pá à disposição), deitar nele, cobrir-se com folhas e galhos e ficar pacientemente esperando que um soldado apareça justo ali, para poder matá-lo silenciosamente.

Onde está DANTON?


* Lembra aquela cena de "Rambo - Programado para Matar" em que o herói costurava a sangue-frio um corte no braço? Pois DANTON, mais fodão do que o Rambo, coloca seu ombro quebrado de volta no lugar usando simplesmente uma pedra debaixo do suvaco!!!

* A mira de DANTON, que já é fantástica, fica ainda mais certeira quando ele dá gritinhos enquanto atira.

* Granadas e explosivos apenas fazem cócegas em DANTON. Enquanto inimigos voam em pedacinhos quando é o herói quem atira as granadas, no seu caso as explosões no máximo fazem com que ele caia no chão ligeiramente atordoado, mas sem um único arranhão!!!

* DANTON é capaz de ficar longos minutos sem respirar e COMPLETAMENTE INVISÍVEL quando mergulha num laguinho raso apenas para pegar outro soldado inimigo de surpresa. Aliás, se o mané tivesse atirado naquele vulto dentro do lago, ao invés de aproximar-se para ver o que era, o filme terminaria bem antes!!!

* DANTON passa algumas noites em plena selva, onde come minhocas (!!!) e até um churrasquinho de rato. Mas, por conveniências do roteiro, encontra o caminho de casa fácil fácil quando precisa ir até lá buscar não comida, mas ARMAS!!! Detalhe: ele tem um compartimento em casa com metralhadoras, pistolas de todos os calibres, bazucas e até explosivo plástico, coisa de fazer inveja ao John Matrix de "Comando para Matar"!

* Ao preparar algumas armadilhas pela floresta, DANTON usa misteriosas técnicas de previsão do futuro para adivinhar os pontos exatos em que seus inimigos irão pisar no dia seguinte, e milagrosamente TODAS as suas armadilhas são acionadas pelos malvadões!


* Mais do que isso, DANTON prevê que um dos soldados inimigos irá escapar de uma das armadilhas, e assim prepara uma SEGUNDA ARMADILHA logo depois, e o sujeito obviamente cai nela.

* E como precisão pouca é bobagem, numa das armadilhas feitas por DANTON um mercenário é amarrado pelo tornozelo, arrastado por uns 30 metros (sabe-se lá como!) e então empalado num montão de estacas. Sim, DANTON construiu todo esse aparato em apenas algumas horas e tendo apenas uma faquinha à disposição. Deve ter ensinado o Jigsaw, da série "Jogos Mortais", a fazer armadilhas!

* DANTON também é capaz de sobreviver a tiros à queima-roupa disparados em sua direção (uma incongruência que é comum em quase todos os filmes de David A. Prior).


E se tudo isso parece o "ó do borogodó", saiba que ainda tem um milhão de outras tosquices para enumerar, como o fato de todo mundo encontrar o suposto "acampamento secreto" dos mercenários, ou os gritinhos desesperados ("DANTOOOOON!") que Hogan solta sempre que encontra mais uma pilha de homens mortos. Ou ainda o aumento do número de inimigos de três para sete nos cortes de uma cena para outra, e o fato de cada figurante morrer pelo menos umas quatro vezes ao longo do filme!

E é claro que não falta nem aquela típica cena em que o herói pára tudo que está fazendo para "se arrumar" no meio da floresta, pintando a cara com camuflagem, carregando as armas e amarrando-as ao corpo, estilo "Rambo" e "Comando para Matar"...

Além disso, o roteiro é um festival de baboseiras de dar inveja ao pobre Ed Wood. Os vilões, por exemplo, cometem as maiores cagadas possíveis e imagináveis, sempre para dar chances do herói escapar. O que dizer, por exemplo, do sujeito que dá uma cacetada na cabeça de DANTON com a coronha da metralhadora, e depois simplesmente joga a arma no chão para lutar com o herói no mano a mano, ao invés de resolver a parada com uma rajada de balas?

Não dá para encerrar essa resenha de DEADLY PREY sem citar o momento mais sem noção da película, e que coroa com chave de ouro a experiência de ver essa tralha.



É justamente o final, quando DANTON parte para cima do tal karateka de óculos escuros, armado apenas com um facão. O inimigo, vejam só, aponta sua pistola para DANTON e atira umas três vezes à queima-roupa, de uma distância que não tinha como errar (a CENTÍMETROS dele)... mas ERRA! DANTON, por sua vez, usa o facão para decepar o braço do vilão com um único golpe... e do corte não sai NENHUMA GOTA DE SANGUE! Pois o pobre homem, surpreendido pela mutilação, ao invés de rolar de dor pelo chão, simplesmente usa seu outro braço para tentar esganar DANTON!!!

E é então que acontece o momento mágico de DEADLY PREY: DANTON espanca o inimigo até a morte usando o PRÓPRIO BRAÇO DECEPADO DO SUJEITO!!!! (Curiosamente, era para ter uma cena semelhante em "Comando para Matar", mas todo mundo achou muito mórbido e ela nem foi filmada!) Por favor, não deixe de ver este momento mágico da história da sétima arte, NA ÍNTEGRA, no vídeo abaixo:

Dando uma mãozinha, literalmente


Bem amiguinhos, se com tudo isso eu ainda não convenci vocês sobre a importância de assistir DEADLY PREY, e como isso vai fazer vocês rirem até mijar nas calças, permitam-me concluir informando que nos créditos finais, após um monumental banho de sangue em que praticamente todos os personagens morrem violentamente (e estamos falando de umas 60 ou 70 pessoas), toca um impagável ROCKZINHO POP ROMÂNTICO que não se encaixa de maneira alguma na proposta do filme!!!!!!!

E eu poderia ficar escrevendo mais dezenas e dezenas de parágrafos sem conseguir enumerar todos os defeitos e cenas impagáveis de DEADLY PREY, e sem conseguir passar, para quem ainda não viu o filme, a maravilhosa comédia involuntária que ele representa.

É impossível assisti-lo sem rolar de rir, mesmo que você seja um daqueles chatos que conhece "Dogville" de cor e salteado. DEADLY PREY é, possivelmente, um dos filmes mais engraçados da história do cinema, melhor que muita comédia de verdade, e nenhum texto sobre ele conseguirá ser tão cômico e impagável quanto a experiência de vê-lo pela primeira vez.


Então não perca mais tempo: dê um jeito de arrumar uma cópia, tome umas 10 cervejas, reúna os amigos na sala e prepare-se para dar saborosas gargalhadas diante das façanhas de MIKE DANTON, o herói mais fodão - e sem noção - que o cinema de ação classe Z já inventou.

E com essa onda de revival dos anos 80, bem que o David Prior podia se mexer e lançar uma nova aventura de DANTON. Aquele massacre final de "Rambo 4" seria fichinha perto do que DANTON poderia fazer armado apenas com uma faquinha e o seu mullet indestrutível...

Em poucas palavras, um "clássico dos clássicos" do FILMES PARA DOIDOS!!! Simplesmente obrigatório.

Trailer de DEADLY PREY


****************************************************************
Deadly Prey (1987, EUA)
Direção: David A. Prior
Elenco: Ted Prior, David Campbell, Fritz
Matthews, William Zipp, Troy Donahue,
Cameron Mitchell e Suzanne Tara.