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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

LADO A LADO COM O INIMIGO (2005)


Só para constar nos autos, essa resenha também foi resgatada do meu antigo Multiply, onde foi publicada em 2008. Republico, agora, na MARATONA STEVEN SEAGAL, com as devidas correções e atualizações.

Quem conhece o mínimo dos filmes que Steven Seagal fez direto para o mercado de vídeo já deve ter consciência que a maior parte é porcaria ou pura rotina, quando não demonstrações incontestes da falta de talento de todos os envolvidos (inclusive do ex-astro).

Tendo isso em mente, e sabendo que não podia esperar grande coisa, confesso que me impressionei com LADO A LADO COM O INIMIGO, uma aventura modesta de 15 milhões de dólares que Seagal estrelou para a produtora Nu Image (especializada em bagaceira) logo depois do terrível "Operação Sol Nascente".


E considerando a ruindade de muita coisa que ele fez logo antes ("Determinado a Matar", "Desafio Final") e logo depois ("Hoje Você Morre", provavelmente o seu pior filme), esse aqui até parece material para Oscar.

Impressionante como tudo no filme é exagerado, quase caricatural, mas cumprindo exatamente o que promete: ação desenfreada e imbecil movida por um roteiro acéfalo. Enfim, exatamente o que qualquer pessoa normal procura ao locar uma produção "direct to DVD" estrelada por Steven Seagal!


Um dos detalhes que faz a diferença no resultado final é a direção inspirada do inglês Anthony Hickox. Outrora uma das boas revelações do cinema de horror-pipoca (fez o divertidíssimo "A Passagem" e sua continuação, além dos sangrentos "Warlock 2" e "Hellraiser 3"), Hickox não conseguiu mostrar a que veio e caiu no inferno do "direto para videolocadoras".

Na última década, infelizmente, ele só conseguiu emprego longe do horror, dirigindo aventuras baratas como essa e algumas do Dolph Lundgren. Mas pelo menos tenta imprimir seu toque pessoal às obras, por mais fuleiras que sejam.


É esse o diferencial de LADO A LADO COM O INIMIGO, um filme esquisito que já traz algumas excentricidades antes de o ex-astro cair no "vale-tudo" com obras como "Escuridão Mortal" e "Machete".

O passado de Hickox como diretor de horror pode ser percebido na abertura e no final do filme. Os créditos iniciais se desenrolam sobre uma seqüência de imagens arrepiantes (lembrando a febre dos horrores orientais; eu até pensei que tivesse alugado o filme errado!). E a conclusão pessimista é algo bem distante do final feliz tradicional que o espectador poderia esperar.


Não por acaso, o cineasta também assina o roteiro ao lado de Paul de Souza. O resultado é um coquetel de ideias e referências a vários filmes, mas principalmente de "Laranja Mecânica" e "O Telefone" (aquele suspense com Charles Bronson) a "Os Doze Condenados". Apesar da mistura parecer indigesta, o coquetel não é de todo desprezível - e chapa o coco!

LADO A LADO COM O INIMIGO começa no Uruguai (!!!), esse nosso pequeno e inocente país vizinho, onde um cientista louco chamado Adrian Lehder (Nick Brimble) alia-se a um terrorista latino (!!!), o coronel Jorge Hilan (Nikolai Sotirov), para criar um programa de controle mental (!!!).


A proposta é simples: pessoas comuns são aprisionadas e passam por um processo semelhante à lavagem cerebral sofrida por Alex em "Laranja Mecânica", inclusive com aqueles clipes metálicos para impedir que fechem os olhos.

Após o processo, transformam-se em "zumbis" programados para matar ao comando de um código numérico digitado pelo cientista em seu celular (uma modernização do plot de "O Telefone").

Lehder testa sua invenção fazendo com que os seguranças da embaixada norte-americana no Uruguai assassinem a embaixadora e depois matem friamente um ao outro, como se fossem fantoches!


Sem conhecer ao certo a natureza das pesquisas do maléfico cientista, os ianques resolvem contra-atacar, enviando uma tropa de marines para detonar o laboratório do sujeito (que fica escondido numa represa uruguaia).

A missão de ataque é liderada pelo coronel Sharpe (Gary Daniels!!!). O problema é que, sem que ninguém saiba, Sharpe também passou pela experiência de controle mental de Lehder, e, ao comando do vilão, trai o próprio pelotão.

Todos são aprisionados e submetidos ao mesmo processo de lavagem cerebral, transformando-se em novos "zumbis" sob o controle do diabólico Lehder!


Fala sério: não parece um filme de horror ou sci-fi bagaceiro dos anos 50 até agora? Mas e onde entra Steven Seagal nessa história, afinal?

Calma lá!

Acontece que, com o fracasso da missão, o governo norte-americano resolve tirar da cadeia "o melhor mercenário do mundo", Chris Cody (Seagal, claro), com a promessa de liberdade se ele conseguir resgatar os prisioneiros e destruir o laboratório de Lehder - algo estilo Snake Plissken em "Fuga de Nova York".


O herói aceita a missão, mas com uma condição: recrutar como parceiros todos os seus ex-comandados, que também estão na cadeia. Um deles, chamado Henry "Alligator", é interpretado pelo engraçado Vinnie Jones. Tem também especialistas em explosivos, em medicina, etc etc.

Uma cientista que conhece o trabalho de Lehder, a dra. Susan Chappell (a belezoca Christine Adams), também acompanha o grupo, que é traído por um agente duplo, Fletcher (William Hope), já na chegada ao Uruguai.


Após livrar-se deste pequeno contratempo, Cody e seus homens invadem as instalações, libertam os prisioneiros, roubam um submarino e enfrentam com a maior facilidade um pelotão de soldados malvados e até um tanque!

Só que o maléfico Lehder escapa a tempo e se refugia em Montevideo (a capital uruguaia), onde pretende utilizar seu equipamento de controle mental para matar o presidente do país.

A bordo do submarino, Cody e seus homens tentam retornar para a base e encerrar a missão. Mas eles nem imaginam que os prisioneiros que resgataram sofreram lavagem cerebral. E, a um simples comando do vilão, os "zumbis" tentam tomar o controle do submarino e afundá-lo.


Além de enfrentar esta ameaça, Cody e seus homens ainda terão que dar um fim em Lehder e salvar o presidente uruguaio da morte certa. Tudo isso num filme com 96 minutos de duração!

Picotado e frenético, LADO A LADO COM O INIMIGO tem um roteiro extremamente fragmentado que vai empilhando situações e personagens, saltando de uma cena de ação para outra sem muito critério, como se fossem fases de um jogo de videogame.


Mas confesso que o que mais atraiu no filme foi justamente o seu fator trash. Afinal, a trama toda se passa no Uruguai, um dos países mais pacíficos do mundo, mas que no filme é mostrado como um reduto de terroristas e cientistas loucos!

Pior: numa cena, Cody e seus homens vão parar nas ruínas de um templo maia, quando na verdade nunca houve maias no Uruguai (eles viveram "um pouquinho" mais para cima, entre o México, o Peru e a Bolívia). Também esqueceram de avisar os produtores que a bandeira do Uruguai não é igual à da Argentina, e que espanhol e italiano são duas línguas completamente diferentes (os comandos do submarino uruguaio estão todos em italiano, mas são compreendidos facilmente por um dos homens de Cody que conhece... espanhol!).


Curioso, fui pesquisar no Internet Movie Data Base e descobri que o filme nem ao menos foi rodado em Montevideo; na verdade, o Uruguai foi "recriado" na Bulgária, onde esta aventura foi filmada a toque de caixa. Quem olhar no IMDB vai encontrar centenas de comentários de uruguaios revoltados com a forma como seu país foi retratado na película.

Não bastasse a trama fantasiosa, que prende a atenção do espectador (bem melhor que os clichês do tipo "vingar o parceiro assassinado ou a morte da família"), LADO A LADO COM O INIMIGO ainda reserva algumas boas surpresas.


Uma delas é o confronto (rápido, infelizmente) entre Seagal e Gary Daniels. Este último, para quem não sabe, é um astro de ação de terceiro escalão, no nível de Jeff Wincott e Joe Lara, e a troca de catiripapos com Seagal até então foi o ponto alto da sua carreira - cinco anos antes de apanhar de Jet Li E Jason Statham ao mesmo tempo em "Os Mercenários".

Pena que a luta entre Seagal e Daniels termine logo. Mas, segundo Gary, foi uma exigência do próprio galã. Ao que parece, o coreógrafo das cenas de luta, Steve Griffin, concebeu um duelo dramático e sangrento entre os dois, mas no dia da filmagem Seagal chegou no set de cu azedo e coreografou ele mesmo uma luta rápida e injusta (para o rival, claro). Confira a pauleira no vídeo abaixo:

Steven Seagal vs. Gary Daniels


Outra surpresa é a participação de Vinnie Jones, que rouba o filme com seu forte sotaque inglês e sua tradicional cara de malvado/malucão. A cena em que ele atira um bandido contra um armário só para arrebentá-lo a socos e chutes é tão realista que temi pela saúde do pobre ator.

E o fato de Seagal ser praticamente um coadjuvante em seu próprio filme, passando a maior parte do tempo liderando seus homens sem botar a mão na massa, confere um pouco mais de interesse à história, já que, como se sabe, o ex-astro está tão fora de forma que não convence carregando um filme todo nas costas.


Embora comece no piloto automático, LADO A LADO COM O INIMIGO esquenta da metade para o final, quando a trama se desloca para "Montevideo" e traz tudo que o espectador espera de um filme de ação descerebrado: carros e cenários destruídos, pancadaria, sangrentos tiroteios e um herói implacável que não hesita em quebrar braços e atirar nos adversários desarmados.

No auge do seu "anti-heroísmo", Cody enfrenta um capanga gigantesco e, sem muita paciência, prefere encerrar logo a luta dando-lhe um covarde balaço na cabeça.


Vale destacar, também, que o diretor-roteirista Hickox não é fru-fru como muitos por aí: os "zumbis" comandados por Lehder nunca voltarão ao normal, e por isso os heróis precisam matá-los para detê-los - sejam eles inocentes garçons ou soldados americanos com família esperando em casa!

Aposto que, se essa fosse uma produção "hollywoodiana", certamente iriam inventar uma cura milagrosa para todos os autômatos comandados pelo vilão, tirando assim metade da graça e do "politicamente incorreto" da coisa.


LADO A LADO COM O INIMIGO não vai mudar a vida de ninguém. É esquecível e nem de longe faz justiça aos bons filmes de Seagal, como "Fúria Mortal". Mas funciona como entretenimento, é rápido e rasteiro e não enrola muito (embora tenha um excesso de personagens e reviravoltas na parte final).

Além de tudo, é uma rara oportunidade de ver nossos vizinhos uruguaios (!!!) como terroristas e vilões sanguinários. Durmo mais tranquilo sabendo que Steven Seagal um dia esteve na América do Sul, defendendo-nos - e ao resto do mundo - dos terríveis hermanos do Uruguai!

Trailer de LADO A LADO COM O INIMIGO



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Lado a Lado com o Inimigo (Submerged,
2005, Inglaterra/Bulgária)

Direção: Anthony Hickox
Elenco: Steven Seagal, William Hope, Christine
Adams, Nick Brimble, Vinnie Jones, Alison King,
Gary Daniels e P.H. Moriarty.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Por um punhado de testosterona

Projeto dos sonhos de todo garoto que teve sua infância ou adolescência nos anos 80, e cresceu vendo descerebrados filmes estilo "exército de um homem só", OS MERCENÁRIOS finalmente chegou aos cinemas, dividindo radicalmente as opiniões. Alguns amaram e rasgaram elogios ao "filme de macho" dirigido e estrelado por Sylvester Stallone; outros fizeram um milhão de críticas, e não só os xaropes de sempre (tipo o crítico aquele), mas também gente que eu jurava que iria adorar, como o Leandro Caraça.

Fui vê-lo esta semana e acabei ficando no meio do caminho entre os dois extremos. Gostei do filme, mas não achei tão maravilhoso quanto fantasiei à medida que acompanhava as novidades sobre o projeto; também não achei tão ruim e indigno quanto os críticos mais ferozes da película. A bem da verdade, curti bastante a "idéia" e os 103 minutos passaram voando, servindo como uma espécie de vacina depois de uma semana de filmes lentos e introspectivos no Festival de Cinema de Gramado!

Porém, numa coisa eu acho que concordo tanto com os admiradores quanto com os detratores do filme: OS MERCENÁRIOS é um programa que vale mais pela EXPERIÊNCIA que proporciona (praticamente uma viagem de máquina do tempo ao cinema de ação dos anos 80) do que pela QUALIDADE do material em si.


A trama pouco importa num filme em que você tem, lado a lado, astros de ação do passado (Stallone, Dolph Lundgren e mais Bruce Willis e Schwarzenegger em pontas) e do presente (Jason Statham e Jet Li), mais aquelas figurinhas carimbadas do cinema classe B e classe C (Eric Roberts, Gary Daniels) e o redivivo Mickey Rourke, que se encaixa praticamente em todas as categorias citadas. Eu veria um filme desses só pelo elenco, mesmo se a direção fosse do morfético Lars Von Trier e essa cambada de gente boa passasse os 103 minutos recitando monólogos para uma câmera parada.

Felizmente, não é essa a proposta. Quando há tantos mal-encarados e durões num mesmo filme, qual é a expectativa do público? Ver tiros, facadas, porradas e explosões, certo? Pois aí chegamos à primeira coisa difícil de entender em relação às críticas feitas a OS MERCENÁRIOS: gente reclamando do roteiro fraco e do "desenvolvimento dos personagens". Tá bom... Como se John Matrix, o personagem de Schwarzenegger em "Comando para Matar", fosse bem desenvolvido - e nem por isso o filme é menos clássico da ação oitentista.

O negócio é dar uma banana para o roteiro e para os personagens, embora realmente falte um pouco mais de "motivação" para gente como Jet Li, totalmente sub-aproveitado no filme. Eu ficaria puto se fosse fã dele, mas na verdade só gosto da fase oriental do ator (mesma coisa com Jackie Chan), e perto das porcarias feitas por Li nos EUA, como "Rogue - O Assassino" (também com Jason Statham), OS MERCENÁRIOS até parece "Cidadão Kane".


Além de Li, outro ator com personagem ingrato é Dolph Lundgren. Mais uma vez, o pobre coitado é sub-aproveitado como "vilão de luxo", como já havia acontecido em "Rocky 4" (com Stallone), "Soldado Universal" (com Van Damme) e até "Johnny Mnemonic" (com... pfffff!, Keanu Reeves). Lundgren também não pode reclamar muito, já que seus últimos filmes "direct-to-video" são umas belas porcarias, mas é uma pena que Stallone não tenha lhe dado uma participação um pouco melhor, tirando-o do "time dos bonzinhos" muito cedo - e de maneira indigna.

Os únicos personagens razoavelmente desenvolvidos são os de Stallone e Statham. Epa, peraí... "Razoavelmente desenvolvidos" é forçar a barra - ainda mais considerando que você nem lembra dos NOMES deles durante o filme (Barney Ross e Lee Christmas, respectivamente, para quem interessar possa).

Tudo bem, digamos então que Stallone e Statham têm mais tempo em cena do que os outros - mais ou menos como um astro de ação veterano passando a bola para um novo nome do gênero, algo como o tradicional caso de "pupilo superando o mestre".


Também reclamaram muito da edição de OS MERCENÁRIOS. Bem, o estilo "picotado" me incomodou muito em dois momentos - a perseguição automobilística à caminhonete de Stallone e a luta entre dois dos "expendables", um deles Jet Li.

A cena na estrada é tão tremida e recortada que você não consegue entender nada do que está acontecendo: qual carro está batendo, quem está levando tiro, quem está explodindo, etc etc...

A luta, que podia ser um dos grandes momentos do filme, é indigna do talento de Li e, filmada muito de perto, estraga totalmente a coreografia feita pelo mestre Corey Yuen. Fica ainda pior quando você pensa: "Pô, quando é que eu vou ter a chance de ver uma coisa dessas outra vez?".

Mas no restante do filme a edição acelerada não me incomodou tanto. Novamente, não sei se foi por causa da overdose de filmes soporíferos que tive nos últimos 15 dias. Só sei que achei a meia hora final eletrizante, no mesmo nível do massacre final de "Rambo 4". Aliás, mais uma vez Stallone acaba com o Produto Interno Bruto de um país terceiro-mundista: se em "Rambo 4" havia exterminado a população da Birmânia, aqui ele e seus mercenários só deixam mulheres e crianças vivas na fictícia república das bananas de Vilena.


E por falar nele, bem que Stallone podia ter tirado um pouco os refletores de cima de si mesmo para dar espaço igualitário aos companheiros. Qual o motivo de ter um time com cinco sujeitos razoavelmente famosos se o personagem de Stallone é o único que aparece fazendo tudo? Pensei que cada "expendable" teria uma especialidade e uma responsabilidade no plano final do ataque à fortaleza do ditador, mas a coisa vai meio de qualquer jeito, com todo mundo atirando em todo mundo, e no meio das explosões você até esquece dos dois heróis menos cotados (interpretados por Randy Couture e Terry Crews), embora volta-e-meia eles insistam em reaparecer para provar que continuam vivos.

Mesmo com os defeitinhos da edição à la Michael Bay, continuo achando Stallone um ótimo diretor de filmes de ação. Ele tem olho para a coisa, devia aposentar a vida de astro egocêntrico para ficar apenas atrás das câmeras. Tem um momento bem legal que não lembro de ter visto em nenhum outro filme: Stallone rola pelo chão dando tiros e a câmera igualmente gira seguindo o ponto de vista do personagem e como ele vê os inimigos sendo alvejados. Algum outro filme provavelmente deve ter mostrado cena parecida, mas não me marcou como aqui em OS MERCENÁRIOS. Toda a cena envolvendo Stallone e Statham no avião (aquela do "Vamos dar a volta") também comprova que o homem entende do assunto.


Um dos maiores problemas do filme, pelo menos para mim, é a divisão bastante clara entre "atores fodões = bonzinhos" e "atores menos conhecidos = malvados". Tudo bem, é muito legal ver Gary Daniels, um ator de ação de araque daqueles filmes bem rampeiros dos anos 90, tomar porrada do Jet Li e do Jason Statham AO MESMO TEMPO. Tipo, parece que um cara do terceiro escalão é tão foda que precisa de dois astros para acabar com ele. (Engraçado que anos atrás escrevi sobre o filme "Lado a Lado com o Inimigo" e comentei que apanhar de um Steven Seagal gordo e decadente provavelmente seria o ponto alto na carreira do Gary Daniels. Ah, se eu soubesse...).

Mas o caso é que os bonzões estão todos no mesmo time, o que tira um pouco da graça do show. Imagine como seria ainda mais legal ver Stallone brigando com Jet Li, ou Jason Statham brigando com Bruce Willis. Aí sim teríamos algo mais no nível de um "Marvel Versus DC", com astros de primeira linha trocando pancadas. Tipo o "Stallone versus Schwarzenegger" várias vezes ameaçado nos anos 80, mas que acabou nunca se concretizando (nem aqui em OS MERCENÁRIOS; apesar da cena entre os dois ser muito divertida, juro que adoraria ver ambos trocando pelo menos umas porradas para realizar meu sonho de garoto!).


Talvez o filme ficasse ainda melhor se cada "expendable" enfrentasse um cara conhecido do gênero. Aqui sobrou para o Gary Daniels, mas imagine (e sonhar não custa nada) Jet Li versus Steven Seagal? Jason Statham versus Joe Lara e Frank Zagarino? Stallone dando porrada no Michael Dudikoff? Nesse sentido, acredito que o aguardado filme do Robert Rodriguez, "Machete", terá um resultado muito mais divertido que OS MERCENÁRIOS, até porque já foi anunciado um duelo entre Danny Trejo e Steven Seagal (!!!), e há um punhado de outros atores conhecidos para brigar entre eles, ao contrário do filme do Stallone.

Ainda assim, a ação desenfreada, as frases de efeito forçadíssimas e a quantidade absurda de mortos, tiros e explosões fazem de OS MERCENÁRIOS um filme muito divertido, de um raro tipo que, lá nos anos 80, seria lançado direto em VHS pela América Vídeo, com direito a caixinha azul com estrelinhas brancas e aquele comercial antológico do "Nossos filmes explodem como dinamite".

Não é, entretanto, um filme de ação maravilhoso ou obra-prima do gênero. Tirando o encontro de caras conhecidas, e duas ou três cenas bem legais, é um típico "direct-to-video" que não fica muito tempo na memória.


OS MERCENÁRIOS não tem absolutamente nada de espetacular, e, num caso típico de "em time que está ganhando não se mexe", o roteiro de Stallone e Dave Callaham reaproveita muita coisa de "Rambo 4", como o herói relutante que é convencido a cumprir sua missão por uma bela mulher (Julie Benz antes, a deliciosa e brasileiríssima Gisele Itié agora), o violento salvamento da mocinha de um inevitável estupro e o final estilo massacre.

A verdade é que OS MERCENÁRIOS apenas PARECE muito melhor do que é em comparação a todos esses filmes de ação para maricas que vêm sendo feitos nos últimos anos.

Lembro que, na década de 90, quando eu conheci o cinema de John Woo através dos lançamentos dos seus filmes em VHS no Brasil, fiquei maravilhado. Depois de "Fervura Máxima" e "No Coração do Perigo", pensei comigo mesmo: "Agora fodeu! Nunca mais vão conseguir fazer filmes de ação iguais a esses!".


Dito e feito: Woo foi para Hollywood, se acovardou depois de um início promissor e o cinema de ação "de macho" norte-americano cada vez mais caiu na vala comum do "politicamente correto". Tipo o "Duro de Matar 4" censura livre, com Bruce Willis virando palhaço ao lado do Justin Long e do Kevin Smith, cenas de ação em CGI e nenhum buraco de bala jorrando sangue, como nos filmes anteriores da série.

É óbvio que perto de babaquices como essa, OS MERCENÁRIOS parece mesmo uma maravilha, a salvação da lavoura, a terceira mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Mas não é. E acho que todo mundo imaginou um filme beeeem diferente desde que o projeto começou a ser desenvolvido.

No geral, entretanto, acho que ele cumpre sua função de "passatempo escapista", de transportar a platéia de volta aos inconseqüentes anos 80, sem nenhuma concessão ao politicamente correto ou ao bom gosto (chega a mostrar uma garota indefesa tomando porrada de um marmanjo e até sendo torturada!). E com todos os tiros, explosões e mortes sangrentas que o cinema de ação norte-americano ficou devendo nos últimos tempos.

Além disso, é muito legal ver veteranos dos anos 80 ainda em ação. Se Charles Bronson continuou fazendo o papel de policial durão até quando usava fraldas geriátrias, por que não Stallone e sua turma? E a câmera não poupa os velhotes, dando closes nos rostos profundamente enrugados do astro, de Lundgren, de Mickey Rourke... O filme bem que podia se chamar "Parque dos Dinossauros"!


Mas nada, NADA me tira da cabeça que OS MERCENÁRIOS ficaria ainda melhor com mais lutas entre os "bonzões" do elenco, e com uma edição mais convencional e menos "picotada" das cenas de ação.

Afinal, se filmes de quinta categoria como "Operação Fronteira", do Isaac Florentine, e "Até a Morte", do Simon Fellows (ambos estrelados por Van Damme), parecem muito melhor dirigidos do que uma produção milionária assinada por Sylvester Stallone, é porque alguma coisa está MUITO errada.

Torcendo para que estes probleminhas sejam corrigidos num futuro "Os Mercenários 2" - e sonhando alto com outros nomes famosos para integrar o elenco desta possível seqüência (será que Chuck Norris como vilão é pedir demais?). Porém Stallone pode dormir tranqüilo que seu objetivo foi plenamente atingido: esse seu filme de ação é tão DDD (divertido, descarado e descartável) como muitas de suas fontes de inspiração lá dos anos 80. Nós é que precisamos ser menos sérios e lembrar porque gostávamos tanto de filmes estúpidos como "Invasão USA", "Comando para Matar" e "Stallone Cobra".