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sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DEATH KISS (2018) e CRY HAVOC (2020)

Com uma filmografia extensa e repleta de títulos e personagens memoráveis, o grande ator Charles Buchinsky, conhecido pelo nome artístico Charles Bronson, morreu em 30 de agosto de 2003, aos 81 anos. Ou pelo menos era o que todo mundo imaginava...

Em setembro de 2018, sites sobre cinema e entretenimento dos Estados Unidos começaram a receber um misterioso e-mail com o assunto “Charles Bronson está de volta em DEATH KISS. Muita gente começou a pensar que pudesse se tratar de alguma obra perdida com o finado Bronson, que foi resgatada do limbo para ser finalmente lançada naquele ano. Mas o corpo do e-mail trazia o trailer para o filme dirigido por Rene Perez, e o vídeo jogava luz sobre a questão.

DEATH KISS, na verdade, era uma daquelas picaretagens estilo The Asylum e seus rip-offs baratos como “Transmorphers” (para “Transformers”). O “Charles Bronson” de Rene Perez na verdade era um sósia do falecido astro, um húngaro chamado Robert Kovacs – que trabalhava como dublê e criador de cavalos na Europa até ser “descoberto” pelo cineasta e levado aos Estados Unidos. Não sei se a semelhança com o lendário ator é de nascimento ou se Kovacs chegou a reconstruir o rosto com plásticas, mas ele realmente lembra muito o Bronson dos anos 1970.

Cara de um, focinho e arma de outro: Bronson e Kovacs parecem gêmeos separados no nascimento! 

Perez e Kovacs já tinham feito um filme no ano anterior (2017) sem nenhuma repercussão – o western classe Z “From Hell to the Wild West”, em que o sósia de Bronson “interpretava” um pistoleiro sem nome enfrentando Jack, o Estripador. Sim, o lendário serial killer londrino, que fugiu de Whitechapel para o Velho Oeste norte-americano para continuar seu trabalho de retalhar mulheres!

Com DEATH KISS, entretanto, a fórmula de picaretagem foi levada a outro nível: não apenas o nome do filme remete a “Death Wish” (“Desejo de Matar”), a franquia mais popular estrelada pelo verdadeiro astro, mas o trailer imitava a série à perfeição, mostrando Kovacs vestido exatamente como o Paul Kersey de Bronson, caminhando pelas ruas de uma grande cidade e metendo bala na bandidagem.

Funcionou, e seja pela curiosidade, seja pela picaretagem, seja pelo fato de no mesmo ano de 2018 Eli Roth ter lançado seu remake oficial (e bem meia-boca) de “Desejo de Matar” com Bruce Willis, todo site de entretenimento e cinema dos EUA e de boa parte do mundo, inclusive do Brasil, divulgou o trailer de DEATH KISS e as fotos de Robert Kovacs imitando Charles Bronson.

E deve ter sido o maior sucesso de Rene Perez, um cineasta independente que vinha fazendo filmes vagabundos desde 2010, e àquela altura já tinha 14 títulos obscuros no currículo – incluindo versões “sérias” de contos de fadas e um rip-off do Justiceiro chamado... “The Punished”!!! Tudo realizado por uma merreca, com atores desconhecidos e valores de produção de fundo de quintal.

Mas a repercussão de DEATH KISS deu origem a algo bizarro que já foi batizado de BRONSONPLOITATION. Assim como nos anos 1970 houve a Brucesploitation, aquele festival de imitadores de Bruce Lee (tipo Bruce Le e Bruce Li) surgidos na esteira da morte do verdadeiro, a Bronsonploitation é uma exploração tardia do cadáver de Charles Bronson, em filmes cuja única razão de existir é imitar seus trejeitos e as cenas de suas produções mais conhecidas.

A Bronsonploitation veio para ficar: cartazes de filmes já lançados, e por lançar, com o sósia Robert Bronzi!

Robert Kovacs mudou seu nome para Robert BRONZI, para ficar ainda mais nítida a “homenagem”, e apareceu em mais dois filmes de Perez: o western “Once Upon a Time in Deadwood”, de 2019 (qualquer semelhança com o título do clássico estrelado por Bronson “Era Uma Vez no Oeste” NÃO é mera coincidência), e a recente mistura de aventura e horror CRY HAVOC, lançada este ano.

Incansável, Bronzi seguiu imitando seu ator preferido nos vindouros “Escape from Death Block 13”, de Gary Jones, e “The Gardener”, de Scott Jeffrey e Rebecca Matthews. Ambos os filmes foram finalizados este ano e devem ser lançados em breve.

Neste retorno das “Sessões Duplas” do Filmes para Doidos, vamos analisar dois dos Bronsonploitation de Rene Perez: o filme que deu origem à febre (DEATH KISS) e o slasher CRY HAVOC, que propõe um excêntrico cruzamento de universos. Mas não se engane: apesar de parecerem picaretagens divertidas, ambos são bem ruins e dificilmente funcionam para além da pura curiosidade.

Portanto, encare por sua própria conta e risco!


DEATH KISS (2018)

“A justiça tem um rosto familiar”, diz a genial frase no pôster de DEATH KISS, o filme que deu origem à Bronsonploitation e lançou o dublê húngaro Robert Kovacs (a partir de então rebatizado Robert Bronzi) como improvável astro de ação. Infelizmente, esta frase é o máximo de criatividade que veremos no longa escrito, dirigido, filmado, editado e musicado pelo faz-tudo Rene Perez.

O sujeito não esconde sua inspiração na série “Death Wish”, referenciada inclusive no título (se eu fosse ele, colocaria uma bruxa na história e chamaria o filme de “Death Witch”, para ficar ainda mais parecido!). Mas evita, claro, as implicações morais e sociais sugeridas especialmente pelo original dirigido por Michael Winner em 1974, que censurava e questionava as ações de um vigilante nas ruas de Nova York. No filme de Perez, o cidadão comum que se dedica a exterminar bandidos (todos da pior estirpe, diga-se desde já) é um mal necessário, e ponto final.

DEATH KISS começa com o sósia de Bronson, vestido igualzinho a Paul Kersey no primeiro “Desejo de Matar” (com terno, gravata e sobretudo), chegando até uma casa muito suspeita, onde um homem oferece sexo “muito jovem e muito doce”.

Após desacordar e amarrar o sujeito, o Kersey genérico entra na casa e encontra sobre a cama uma menina seminua que não pode ter mais de 12 anos de idade, chorando e clamando “Not again”. Um outro sujeito sai do banheiro colocando as calças, e nosso herói não pensa duas vezes: dá dois tirambaços certeiros no pervertido, resgata a menina prostituída à força e, na saída, ainda executa friamente o porteiro que deixou desamarrado e desacordado.

Após esta introdução – que lembra bastante a cena da chicken farm em “O Exterminador” (1980) –, o filme corta para um DJ em seu estúdio de rádio, fazendo típicos discursos de extrema-direita à la “bandido bom é bandido morto”, e comentando coincidentemente sobre prostituição infantil: “A idade média das meninas forçadas a se prostituir neste país é 11 anos. 11 anos! Mas a mídia prefere focar em outras coisas. Mais direitos para americanos preguiçosos, mais igualdade, mais coisas grátis. A mídia exige que fiquemos ultrajados com o racismo, como se racismo fosse a pior coisa do mundo. Mas algum deles está falando sobre as pobres crianças forçadas a fazer sexo?”.

O DJ reaça é interpretado pelo primeiro ex-famoso (ou quase famoso) do elenco: Daniel Baldwin, integrante mais feio e menos popular do famoso clã formado ainda por Alec, Stephen e William. No passado ele chegou a fazer coisas legais, como o “Vampiros” do John Carpenter, mas hoje é obrigado a topar umas paradas como essa aqui. Suas cenas não somam 10 minutos e ele nunca sai do tal estúdio de rádio, sem interagir diretamente com nenhum dos outros atores. É possível que todas as suas participações tenham sido filmadas num único dia, e depois usadas para entrecortar a narrativa – como se o DJ fosse uma espécie de narrador que comenta as ações do vigilante.

Mais um corte brusco e agora estamos longe da cidade, numa casa no campo. Ana (Eva Hamilton) é uma mãe MILF cuja filhinha está paralisada numa cadeira-de-rodas. As duas vão pegar a correspondência na caixa de correio e encontram um envelope anônimo contendo uma pequena fortuna em notas de cem dólares. Longe dali, de dentro do seu carro, o estranho sem nome interpretado pelo sósia de Charles Bronson observa as duas.

Obviamente, o dinheiro foi deixado por ele. Mas qual a sua relação com as duas? Mistério...

Novo corte brusco e estamos de volta à cidade grande, e à noite. Agora o Kersey genérico volta a imitar o original, fazendo passeios inconsequentes pelos bairros mais pobres e violentos, com o figurino de bacana (terno, gravata e sobretudo), para tentar forçar os criminosos a abordá-lo. E funciona: dois marginais, convenientemente negros, surgem cheios de más intenções. Segue-se o único diálogo divertido, nível Cannon Films, da aventura inteira:

- Quanto dinheiro você tem?
- Seis. – responde o vigilante.
- Seis? Seis dólares? 
- Seis balas. – anuncia o “herói”, atirando através do bolso do casaco e eliminando os dois. 

Só para garantir, ele ainda distribui mais uns pipocos nas vítimas caídas, e abandona a cena do crime levando carteiras, celulares e itens de valor dos bandidos mortos – aparentemente levando a sério aquele ditado popular de que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.

A partir daqui, o espectador começa a desconfiar que DEATH KISS não vai se dar ao trabalho de tentar contar uma história. E pra quê? O diretor-roteirista Rene Perez prefere encenar uma série de vinhetas desconexas imitando sucessos do Bronson verdadeiro, em que ora vemos o farsante Bronzi zanzando pela cidade e matando meliantes, traficantes e criminosos diversos, ora vemos o DJ reaça bradando sandices diante do microfone, ora vemos a mãe gostosa recebendo maços de dinheiro do “herói”.

Lá pelas tantas, o vigilante finalmente se apresenta para a mulher e, sem dar muitas informações sobre quem é e o que faz, decide ensiná-la a atirar (!!!) para poder se defender sozinha. Esse é o máximo de “desenvolvimento de personagens” que o filme tenta criar, e não leva a lugar algum.

Em meio a tais cenas desconexas, rola também uma tentativa de criar algo próximo de um antagonista para o vigilante. Entra em cena o segundo ex-famoso (ou quase famoso) do elenco: Richard Tyson. Se você não ligou o nome à pessoa, estamos falando do mítico Buddy Revell da obra-prima “Te Pego Lá Fora” – o valentão da escola que o personagem principal precisa enfrentar numa briga de rua. Pois o tempo não fez bem ao coitado: depois de anos trabalhando como figurante inexpressivo em produções direct-to-video, ele acabou nesse tipo de filme de fundo de quintal para pagar as contas.

O irônico é que quase podemos encarar o personagem de Tyson em DEATH KISS como uma versão envelhecida do Buddy Revell de “Te Pego Lá Fora”: o valentão da escola cresceu, continuou brucutu e virou uma marginalzinho de quinta categoria. O grande vilão aqui se chama Tyrell (Tyson + Revell?), e é um sujeito tão escroto que força um rapaz a matar o próprio pai a golpes de taco de beisebol, somente para depois estuprar a esposa do cara na frente dele. Com tamanha falta de sutileza, só faltou mesmo mostrar o bandidão chutando um cachorro na rua, ou roubando doce de criança!

O vigilante interpretado por Bronzi tem alguma questão em aberto com Tyrell, já que parece particularmente interessado em dar um fim no bandidão. Não que faça muita diferença na “narrativa”, pois o tal grande vilão só aparece rapidinho na metade do filme e depois no final (quando poucos espectadores ainda devem lembrar que ele existe), para dar alguma sensação de fechamento à trama.

Porque, tudo considerado, DEATH KISS é menos um longa-metragem coeso, que tenta contar uma história com começo, meio e fim, e mais uma série de cenas isoladas, em que o diretor Perez e seu astro Bronzi procuram imitar sucessos de Charles Bronson. Não bastasse todas as cenas filmadas nos moldes do “Desejo de Matar” original, lá pelas tantas vemos o protagonista imitando Bronson em “Desejo de Matar 2” (com camisa preta, luvas de couro e toquinha) e em “Assassino a Preço Fixo” – quando ele ensina a mãe gostosa a atirar com uma espingarda, como o astro verdadeiro ensinou Jan-Michael Vincent no filme de 1972. É quase como um “melhores momentos” do Charlão original!

A relação entre os “personagens” é explicada na corrida, e por meio de diálogos expositivos, apenas perto do fim: o vigilante e Tyrell já tinham se enfrentado no passado, e o tiro de algum dos dois deixou a filha da mãe MILF na cadeira-de-rodas – motivo pelo qual o “herói” tenta se redimir dando o dinheiro roubado dos criminosos que mata para a moça.

Nada mais é explicado sobre o passado do vigilante e o que o motivou a exterminar bandidos. Talvez Perez tenha levado a sério a pretensão de fazer um novo “Desejo de Matar” e considere sua aventura uma sequência direta das peripécias do outro Paul Kersey – o personagem de Bronzi é identificado como “The Stranger” no IMDB, mas nunca chamado por qualquer nome no filme.

Também descobrimos no final que o DJ reaça é o sujeito que passa as dicas para o vigilante, numa rápida cena em que o protagonista visita o estúdio de rádio e os dois conversam como velhos amigos (embora não pareça que Robert Bronzi e Daniel Baldwin estejam no mesmo frame). E aí o apresentador de rádio declara que eles estão fazendo “o trabalho de Deus”. Afe...

Eu teria um pouco mais de boa vontade com a obra se pelo menos as “vinhetas” imitando sucessos de Charles Bronson fossem boas, se pelo menos as cenas de ação prestassem, e se pelo menos o Bronson genérico tivesse umas tiradas divertidas. Mas nem para isso DEATH KISS serve. As cenas de ação são frouxas e as trocas de tiros, sonolentas (eu pensava que os tiroteios nos filmes de David A. Prior eram ruins, mas Rene Perez conseguiu descer o nível da coisa a um novo patamar).

O protagonista é econômico em frases de efeito (além daquela das seis balas), provavelmente porque o “ator” tem um sotaque carregadíssimo e precisou ser dublado o filme inteiro! Assim, o diretor preferiu deixar seu Paul Kersey dos pobres calado durante a maior parte do tempo – são os outros personagens que falam sem parar, principalmente o DJ reaça e o Buddy Revell coroa.

O vigilante de DEATH KISS ainda é onipresente: aparece zanzando pelas ruas de uma grande cidade não-identificada, mas consegue materializar-se magicamente onde quer que algum crime violento esteja acontecendo. Também consegue aparecer, numa velocidade absurda, na casa da mãe MILF lá no campo, inclusive para prevenir o roubo de um dos seus envelopes cheios de dinheiro por um carteiro mal-intencionado. O homem tem bola de cristal!

O único momento em que Perez consegue imprimir algo próximo de ritmo e dinamismo ao seu filme é numa cena em que o vigilante caça os capangas de Tyrell num ferro-velho. É um raro momento em que a câmera se move acelerada, seguindo os atores enquanto eles correm e atiram – aqui rola até uma boa ideia, quando o “herói” arranca a porta de um dos carros sucateados para usar como escudo contra os tiros de metralhadora Uzi de um dos bandidos!

Na mesma cena do ferro-velho há um rápido trecho em que a câmera assume ares de visão em primeira pessoa, colocando o espectador para ver pelos olhos do vigilante enquanto ele persegue os bandidos com o revólver em punho. A maneira como a arma aparece no canto do quadro enquanto a câmera se move como se fosse o protagonista lembra aqueles jogos de tiro em 3-D, tipo “Doom” (para os coroas) ou “Counter-Strike” (para os novinhos).

Já a violência dos velhos “Desejo de Matar” oficiais foi quintuplicada aqui: cada tirambaço do vigilante provoca uma explosão de sangue no corpo alheio, num efeito obtido com a união dos bons e velhos squibs (aqueles explosivos que detonam sangue falso no ator) e composites digitais que aumentam a quantidade de sangue e ainda adicionam fumaça e faíscas nas “explosões” abertas pelos tiros. Vá lá que a montagem é mais exagerada do que exatamente convincente, pois graças à montagem os tiros do vigilante têm o efeito de disparos de bazuca no corpo inimigo!

O que mais chama a atenção em DEATH KISS é o tom de “Foda-se tudo” do filme e do roteiro. O vigilante “interpretado” por Robert Bronzi não é exatamente uma figura simpática (e é por isso que usei o termo “herói” entre aspas ao longo da resenha), remetendo ao Paul Kersey com sangue-nos-olhos do primeiro “Desejo de Matar”, de 1974 – embora o roteiro problemático de Rene Perez trate seu vigilante como um personagem heróico, o extremo oposto do que Michael Winner fez naquele filme.

Assim, quando um dos vilões pega um sujeito como refém e diz que vai matá-lo se o vigilante não baixar sua arma, o sósia de Bronson responde com um “Eu não o conheço”, e simplesmente ATIRA NO REFÉM, matando o pobre-coitado e o bandido que o usava de escudo com o mesmo balaço! Já o duelo contra o grande vilão Buddy Revell... ops, Tyrell é resolvido com o vigilante amarrando o antagonista a uma árvore para ser devorado vivo por lobos. Sádico, o “herói” chega a temperar o bandido com molho barbecue para atrair os animais!

E há, claro, o DJ reaça. Enquanto via o filme, eu jurava que era uma sátira à extrema-direita que elegeu Trump – e, por tabela, aos “cidadãos de bem” do Brasil. Porque depois que você passa da quinta série não tem mais como levar a sério o discursinho patético do sujeito. Ao reclamar que foi multado enquanto dirigia até o estúdio, o DJ reaça comenta que “é mais fácil dar uma multa a um trabalhador honesto do que tentar impedir crimes reais” (como se uma infração de trânsito fosse um crime “menor”, que não importasse apenas porque foi com ele). Quando comenta sobre uma guerra entre traficantes de drogas, o DJ reaça questiona: “E cadê a polícia? Deve estar respondendo a chamadas domésticas.  Eu pergunto ao ouvinte, quem é mais perigoso? Um caminhoneiro que ficou bêbado e deu porrada na esposa, ou traficantes de drogas armados?” (novamente, como se um crime “compensasse” o outro por ser mais grave). Enfim, são uns discursos tão rasos e ridículos que eu pensei que eram um elemento de crítica social. Mas consta que, na faixa de comentário do DVD de DEATH KISS, o diretor Rene Perez assumiu que foram as partes do roteiro que ele mais gostou de escrever porque representam EXATAMENTE O QUE ELE PENSA. Não falta nem a bandeirinha dos Estados Unidos pendurada para aparecer em destaque enquanto o radialista cidadão de bem vocifera suas asneiras estilo “Make America great again”. Michael Winner deve estar se revirando na tumba.

Enfim, eu poderia mentir e dizer que DEATH KISS é um daqueles filmes tão ruins em tudo que até se tornam divertidos. Mas a real é que em nenhum momento esse negócio chega a ser minimamente divertido. Não demora para ficar chato inclusive, com muitas cenas desnecessárias que parecem existir apenas para esticar a narrativa (tipo os momentos “dramáticos” envolvendo a mãe e sua filha paralítica, ou TODAS as cenas do DJ reaça, que só estão no filme porque o diretor deve ter pagado dinheiro graúdo pela participação do Daniel Baldwin e precisava valorizar o investimento).

Mesmo a curiosidade de ver “Charles Bronson ressuscitar” passa rapidinho depois dos primeiros dez minutos. Sim, Robert Kovacs (ou Bronzi, ou o que seja) é uma cópia xerox do astro, mas não tem o carisma e o bom humor do verdadeiro; logo, é um mero sósia zanzando e imitando alguém durante oitenta-e-poucos minutos. Você aguentaria 80 minutos de alguém imitando, sei lá, o Silvio Santos? 

A própria ideia de uma cópia de “Desejo de Matar” com um sósia do falecido astro é algo que se equilibra entre a picaretagem pura e simples e o mau gosto/mau-caratismo, não muito diferente daquelas aventuras com imitadores de Bruce Lee – afinal, por que não rever o ORIGINAL ao invés de ficar perdendo tempo com algo falso e com uma cópia visivelmente mal-feita?

Para fazer um parêntese: em 2005 o diretor brasileiro Alonso Gonçalves foi pioneiro na Bronsonploitation ao lançar uma aventura mequetrefe chamada “Confronto Final”, em que Jackson Antunes também aparecia como uma versão tupiniquim de Charles Bronson. A diferença é que o astro e seus filmes (principalmente “Desejo de Matar”) foram usados apenas como inspiração para a aventura nacional, e não simplesmente copiados quadro a quadro, como Rene Perez faz aqui.

No início, confesso, eu achava engraçada a ideia do tal Robert Kovacs/Bronzi ganhar uma carreira fundamentada apenas no fato de ele se parecer com Charles Bronson. Por outro lado, isso também é um negócio extremamente triste – como se a única razão de existir de alguém fosse a sua semelhança física com outro alguém, o que o leva a refazer inclusive cenas de filmes do outro, mas sem demonstrar nada próximo de um pingo de individualidade, algo que possa chamar de seu.

A situação me lembra aqueles pobres-coitados que, no Brasil, passam a vida inteira vivendo da “fama” de serem sósias do Michael Jackson, do Vin Diesel, do Neymar e do caralho-a-quatro, ganhando lá e cá os seus cinco minutinhos de fama quando aparecem em algum ridículo programa de TV, mas vivendo eternamente à sombra dos “imitados”. Bronzi pode até estar ganhando algum dinheiro para fingir que é Bronson, mas não é algo que exige qualquer talento por parte dele.

Com DEATH KISS, Rene Perez conseguiu algo que pouquíssimos cineastas independentes conseguem nessa vida: ampla divulgação e destaque em sites de todo o planeta, menos pela qualidade do projeto e mais pela ideia estapafúrdia, pela curiosidade de alguém fazer um longa inteiro construído ao redor do fato de Fulano ser parecido com Beltrano. Perez poderia ter aproveitado toda essa exposição para mostrar serviço e lançar algo melhorzinho, mas preferiu ficar no terreno da homenagem/imitação. O resultado é algo mais parecido com um fan film do que com um filme.

O espectador pode saciar sua curiosidade com a semelhança entre Bronzi e Bronson apenas vendo o trailer (logo abaixo), sem a necessidade de encarar o filme inteiro. Nem sei se vale a pena: o trailer traz todas as cenas boas e nenhuma das partes chatas, então já está de bom tamanho.

PS:
Consta que, no Brasil, DEATH KISS ganhou o título “Desejo de Matar: O Retorno”. Não consegui confirmar se ele realmente foi lançado assim em streaming ou se é algo inventado por fazedores de legenda para torrent. Se for “oficial”, a coisa toda fica ainda mais picareta!


CRY HAVOC (2020)

Charles Bronson versus Jason Voorhees? Puta que o pariu!

Se “Death Kiss” era uma aventura policial medíocre que se amparava unicamente na curiosidade de ver um imitador de Charles Bronson brincando de Paul Kersey, e refazendo as cenas do astro em “Desejo de Matar”, CRY HAVOC, um dos projetos seguintes da dupla Rene Perez e Robert Bronzi, era algo que realmente tinha potencial para ser BEM divertido.

Afinal, a última vez em que vimos um astro de ação invadir o universo dos slasher movies foi quase 40 anos atrás, em 1982, quando Chuck Norris enfrentou um psicopata assassino indestrutível no fodaralhaço “Fúria Silenciosa”, de Michael Miller. Na época, essa mistura de ação e horror lembrava uma espécie de “Chuck Norris versus Michael Myers”. Tanto que, anos atrás, eu cheguei a fazer um vídeo só de onda editando cenas do Norris nesse filme com outras de “Halloween 2”, e que o YouTube fez o favor de apagar por causa dos direitos autorais.

Mas o mais surpreendente de CRY HAVOC, além da ideia algo absurda, algo genial de juntar dois universos tão distintos estilo Marvel x DC, é saber que não se trata de um produto isolado, mas do QUARTO CAPÍTULO de uma obscura franquia de filmes de horror estrelada por um assassino chamado Havoc – que lembra uma mistura de Jason com Leatherface. Os outros filmes também foram escritos, dirigidos e etc-e-tal pelo incansável Rene Perez, mas duvido que alguém tenha dado muita bola para eles antes de aparecer esse aqui com o Charles Bronson genérico no elenco.

A “saga” de Havoc começou em 2015 com “Playing with Dolls”, sobre uma jovem desempregada que é atraída para fazer um bico numa cabana no meio da floresta. Ela logo descobre que está ali para servir de vítima ao gigantesco psicopata mascarado. Por meio de câmeras espalhadas pela casa inteira, um milionário sádico interpretado por Richard Tyson (olha ele aí de novo garantindo o dinheiro do aluguel!) assiste ao drama de vítimas inocentes e cria seus próprios snuff movies ao vivo. 

Embora seja realmente horroroso e amadorístico em todos os departamentos, “Playing with Dolls” acabou rendendo duas sequências: “Playing with Dolls: Bloodlust” (2016), em que Tyson promove um reality show na mesma cabana e assiste os competidores sendo destroçados de verdade por Havoc, e “Playing with Dolls: Havoc”, em que o psicopata supramencionado consegue escapar da custódia do ricaço pervertido e sai matando casais que se divertem em outra cabana próxima. Os três filmes estão com cotação bem baixa no IMDB (média de 2,6 para o original, 2,5 para a Parte 2 e 3,8 para a Parte 3), mas pelo jeito o realizador não se abalou e continua fazendo novas sequências.

Num momento em que uma nova geração de realizadores tenta fazer filmes slasher mais contemporâneos, modernizando e adaptando os elementos do subgênero, a série “Playing with Dolls” remonta ao primitivismo mais grosseiro desse tipo de filme – o esgoto a céu aberto dos slashers de meio século atrás, digamos. Nos três primeiros episódios da “série”, mulheres com seios estourando de tanto silicone entram mudas, mostram os peitos e saem caladas; ou melhor, saem berrando e em pedaços, esquartejadas em cenas de violência gráfica que não deixam nada para a imaginação. Ruim de doer, a trilogia une o pior do slasher com o pior do torture porn, algo que já estava fora de moda quando Perez fez o primeiro “Playing with Dolls” em 2015, mas acho que ninguém o avisou.

Logo, não é necessário que vocês percam tempo assistindo os três primeiros filmes da série antes de ver CRY HAVOC, como o masoquista aqui fez. Até porque, lá pelas tantas, o vilão Richard Tyson (sim, ele manteve seu papel na franquia até agora!) conta a história da sua vida a uma jornalista, e a montagem mostra os melhores momentos (são bem poucos) dos outros “Playing with Dolls”. Aí todo mundo pode ver as cenas sangrentas dos demais sem precisar aguentar 240 minutos de lero-lero.

Mas vá lá, estou tergiversando além da conta...

CRY HAVOC começa em meio a uma floresta em chamas, sendo que o fogo, na verdade, foi aplicado por computação gráfica na pós-produção – em uma das cenas, como você pode conferir na 3ª imagem aí em cima, a chama em CGI fica recortada na borda lateral esquerda, evidenciando o “aplique”! Uma garota (Spring Inés Peña) acorda apenas para descobrir que foi acorrentada ao terrível assassino Havoc. O gigante está caído em outro canto, desacordado por um dardo de tranquilizante. A moça tenta tirar a chave que está na mão do vilão para poder se libertar, e é claro que logo o assassino mascarado acorda e começa a correria tradicional desse tipo de história.

Muito bem, duas coisas já chamam a atenção desde esta primeira cena. Primeiro, a correção de cor toda cagada, que deixou o filme quase monocromático, tudo meio cinza, meio laranja-vômito, nos moldes daqueles torture porn de duzentos anos atrás (falo das séries “Jogos Mortais” e “Hostel”). Mas, em segundo lugar, o que chama a atenção é que é uma BELA CENA para os padrões da franquia, incluindo um momento em que o fato de a corrente estar enroscada numa árvore evita que Havoc consiga se aproximar o suficiente da vítima para matá-la! Há um pouco de tensão, um pouco de suspense... Enfim, tudo muito melhor do que qualquer coisa que Rene Perez tenha feito nos três “Playing with Dolls” anteriores, ou mesmo em “Death Kiss”.

Aí entra o nome do filme (numa arte digital tão tosca que parece um descanso de tela dos tempos do Windows 95) e a “história” finalmente começa: uma jornalista bisbilhoteira (Emily Sweet) consegue agendar uma entrevista com o ricaço doidão interpretado por Tyson, que aqui foi batizado “The Voyeur” e, segundo nos informam, entrou para a lista dos 10 mais procurados pelo FBI após os massacres mostrados nos três episódios anteriores. Enquanto os asseclas do vilão a escoltam, vendada, até o local onde o sujeito se esconde, um homem misterioso “interpretado” pelo nosso querido Charles Bronson genérico observa tudo silencioso, fumando seu cachimbo.

Um aspecto curioso do personagem de Bronzi aqui (que mais uma vez não tem sequer um nome!) é seu anacronismo: embora CRY HAVOC se passe em 2020, o “herói” veste roupas dos anos 1970 (inclusive calça boca-de-sino!), dirige um carro dos anos 1970 e dispara um revólver calibre 38 que parece saído dos filmes policiais dos anos 1970. É como se alguém realmente tivesse recortado o Charles Bronson dos seus filmes de cinquenta anos atrás e jogado numa produção contemporânea!

À medida em que a jornalista entrevista “The Voyeur” sobre a sua carreira de crimes, entram várias cenas de flashback dos três “Playing with Dolls” anteriores (insisto: NÃO PERCAM SEU TEMPO ASSISTINDO ESSAS BOMBAS, O POUCO QUE INTERESSA ESTÁ RESUMIDO AQUI!). O vilão explica que descobriu o serial killer Havoc numa penitenciária e se impressionou com a maldade que viu nos olhos da criatura – algo chupado de um famoso diálogo do Dr. Loomis em “Halloween”.

Assim, para explorar sua curiosidade pela morte, ele subornou o diretor da prisão para colocar Havoc sob sua custódia, e libertou o psicopata numa área de floresta ao redor da sua propriedade, com câmeras para todo lado, para poder assistir ao vivo o assassino esquartejando vítimas inocentes – claro que é muito curioso o fato de SEMPRE haver uma câmera por perto quando Havoc encontra alguém para destroçar, quando estamos falando de quilômetros de floresta para assassino e vítimas percorrerem! Haja câmera e haja conexão para monitorar tudo!

Esta cena da entrevista se estica muito mais do que o necessário (um mal recorrente em tudo que Rene Perez já fez nessa vida). Tyson começa a fazer uns discursos desconexos estilo Zé do Caixão para justificar sua tara em ver garotas peitudas sendo mortas ao vivo (“É a mais honesta expressão de humanidade e de natureza que eu já vi”, “Essas garotas tiveram uma experiência que poucos de nós terão: elas conheceram a verdade sobre a nossa existência antes de morrer”, “Eu costumava ter medo da morte, mas agora eu CONTROLO a morte”, e por aí vai), num momento ridículo que dá até saudade dos longos solilóquios de Jigsaw na série “Jogos Mortais”.

Rola até uma patética tentativa de copiar “O Silêncio dos Inocentes” quando o vilãozão tenta virar a mesa e começa a fazer perguntas particulares para a jornalista, querendo saber sobre o pai dela antes de responder sobre o seu! Zzzzzzz...

Enquanto isso, nosso “herói” Bronzi chega ao complexo e começa a percorrer a floresta, trocando tiros com os mercenários contratados pelo Voyeur para manter o perímetro seguro e evitar que Havoc fuja novamente (como aconteceu na Parte 3 que vocês NÃO precisam ver; quem avisa amigo é!). Para ninguém pegar no sono,volta-e-meia aparecem umas vítimas aleatórias, garotas que foram abandonadas à própria sorte na floresta para Havoc se divertir, num punhado de cenas extremamente sangrentas feitas com bons efeitos práticos.

A exemplo do que acontecia em “Death Kiss”, este CRY HAVOC é, durante considerável parte do tempo, apenas um conjunto de sequências desconexas que alguém tentou conectar da melhor forma possível na montagem. Chamar isso de “trama” ou de “narrativa” seria muita generosidade: num momento você está com a repórter entrevistando Richard Tyson; no outro está com Bronzi zanzando pela floresta e trocando tiros com os capangas do vilão, misteriosamente sem atrair a atenção do implacável Havoc, que está na MESMA floresta. E entre as duas situações surgem umas vítimas gratuitas, saídas literalmente do nada, sem nome e sem passado, apenas para serem massacradas pelo monstro mascarado e justificar o fato de esse negócio ser vendido como terror slasher!

Finalmente, lá pelos 45 minutos de filme, as diferentes storylines finalmente parecem se encontrar: The Voyeur resolve entregar a jornalista para Havoc se divertir, mas o Charles Bronson genérico aparece no último segundo para resgatá-la. Descobre-se que ele é um policial (com distintivo pendurado no pescoço por um colar e tudo mais), e que está no local procurando por Rachel, sua filha desaparecida – que é, claro, aquela garota que vimos acorrentada na cena inicial! Só que antes de mais nada ele e a jornalista precisam enfrentar o assassino mascarado.

E é a partir daqui que CRY HAVOC começa a ficar realmente divertido, com dois plots e gêneros distintos colidindo: “herói” e vilão são obrigados a sair na porrada num violento confronto final, que lembra tanto Chuck Norris dando voadoras num Michael Myers genérico (no já citado “Fúria Silenciosa”), quanto aquela cena clássica do boxeador trocando socos com Jason em “Sexta-feira 13 Parte 8 – Jason Ataca em Nova York”!

Na vida real, o verdadeiro Charles Bronson nunca chegou a fazer um filme de terror. Isso quase aconteceu nos últimos dias de seu contrato com a Cannon Films, no final dos anos 1980, quando o astro chegou a ser cotado para estrelar um horror chamado “The Golem”. Caso o filme tivesse saído do papel, Bronson seria um policial enfrentando esta criatura do folclore judaico. Os efeitos do monstro se transformando em lama e ressurgindo do mesmo material seriam feitos em stop-motion, mas o custo muito elevado inviabilizou o projeto. E o mais perto que Bronson chegou de aparecer num slasher movie foi enfrentando o serial killer peladão de “Dez Minutos para Morrer” (embora este seja mais um thriller policial do que um slasher raiz).

Logo, CRY HAVOC funciona, antes de mais nada, como uma bela oportunidade para matarmos a curiosidade de ver como Bronson (neste caso, um sósia dele) se sairia num filme de terror de verdade – um experimento curioso estilo “What if...?”. E o fato de isso acontecer em meio a uma franquia já existente, no quarto capítulo dela, torna a coisa toda ainda mais inesperada – é como se você estivesse vendo “Sexta-feira 13 Parte 7” pensando que seria um mais do mesmo e de repente o Van Damme aparece do nada para dar porrada no Jason!

Infelizmente, apesar do potencial, CRY HAVOC é bem ruim durante considerável parte do tempo. Tá, é melhor que a média do diretor (e melhor que “Death Kiss”, o que não quer dizer absolutamente nada). Mas o personagem de Bronzi é um tipo apagado e patético – um “herói” que passa boa parte do filme escondido, quase não fala (o ator húngaro foi novamente dublado), e quando abre a boca é para mostrar uma foto da garota desaparecida e perguntar “Have you seen this girl?”.

Bronzi faz isso com todo e qualquer personagem que encontra, e não consegui segurar a gargalhada quando, lá pelas tantas, ele mostra a foto e pergunta “Have you seen this girl?” pela décima vez para uma vítima amarrada a uma árvore, toda cortada e ensanguentada!

O policial também é bem burrão, porque fica sem balas mesmo tendo matado dezenas de capangas que portavam submetralhadoras (era só voltar até os cadáveres e trocar de arma, ou ir recolhendo estas armas à medida que eliminava os caras). E embora tenha despachado uma dezena de capangas para o inferno antes, Bronzi repentinamente congela ao perceber que dois caras armados estão vigiando seu carro e impedindo a sua fuga do local – dois caras armados que ele poderia pegar de surpresa, matar com facilidade, entrar no carro e picar a mula dali rapidão!

Como nos três filmes anteriores da série, o personagem de Richard Tyson é um autêntico retrato da preguiça do diretor e do ator: passa suas poucas cenas sentado e olhando para os monitores – como ele consegue controlar ao mesmo tempo as centenas de câmeras espalhadas pela propriedade, não faço ideia! Tyson deve ter filmado todas as suas cenas em um dia ou dois, e agora está em casa de papo pro ar esperando o Perez chamá-lo para mais um bico suave na Parte 5.

Já Havoc, o Jason genérico que ganhou sua própria série interminável, tem aqui a melhor chance para mostrar seu potencial, considerando que os três filmes anteriores eram, repito, inassistíveis. O visual do assassino é bem bom, com uma máscara sinistra que lembra um rosto mutilado de boneca coberto de arame farpado. Usando um facão de tamanho descomunal e todo tipo de ferramentas convenientemente espalhadas pelo cenário, de marretas a brocas, Havoc merecia uma série melhorzinha para chamar de sua, e com certeza faria muito sucesso se ainda estivéssemos nos anos 1980. As poucas cenas que ele divide com a jornalista rendem imagens bem curiosas estilo “A Bela e a Fera” – com um gigante todo ensanguentado diante de uma moça vestida como princesa da Disney!

Agora, se há algo de diferente no filme, considerando as centenas de slashers já produzidos nas últimas décadas, é o seu profundo desprezo pela vida humana. Perez e Havoc torturam e matam suas vítimas em detalhes gráficos, e não poupam nem mesmo os personagens principais, mesmo aqueles que o espectador não esperava ver morrer.

Como sensacionalismo pouco é bobagem, toda atriz do filme com menos de 50 anos de idade mostra os peitos em algum momento. E o vilão mascarado não suporta nudez, conforme visto nos outros filmes da franquia! Sério: a visão de peitos ou de bundas costuma afastá-lo como o alho afasta os vampiros! É uma pena que, depois de quatro filmes, nenhuma das moças tenha percebido que basta deixar as peitolas de fora para encabular o assassino e conseguir escapar! Mas não: demonstrando um pudor desnecessário quando você está lutando pela sua vida e tentando fugir de um psicopata gigantesco e irracional, as garotas cobrem os seios nus o mais rápido possível...

Mesmo que seja um tantinho mais longo do que deveria, e demore muito para as narrativas discrepantes do policial e do assassino mascarado finalmente se encontrarem (Rene Perez deveria contratar um roteirista de verdade para seus filmes, tipo pra ontem), CRY HAVOC tem lá seus momentos. E o confronto entre um Charles Bronson genérico e um Jason genérico é quase emocionante: filmado de forma solene, mostra até os dois competidores se encarando e se estudando com certo respeito antes de finalmente saírem no braço!

Pena que o diretor simplesmente termine o filme sem apresentar nenhuma conclusão de fato! Os créditos finais sobem de repente onde deveria haver um clímax, como se tivesse acabado o dinheiro, e o destino de TODOS os personagens principais fica em aberto: não se sabe se o duelo entre Bronzi e Havoc terá revanche, não se sabe o que será do vilão interpretado por Tyson, e não se sabe se alguém conseguirá sair vivo daquela floresta no fim do dia!

Sob circunstâncias normais eu até pensaria estar diante de um gancho escancarado para uma nova sequência (barbaridade!), mas Perez já tinha feito a mesmíssima coisa no segundo filme, “Playing with Dolls: Bloodlust”, que termina BEM NO MEIO da luta do protagonista contra o assassino. E o filme seguinte da série não traz qualquer explicação sobre o que aconteceu (embora, obviamente, todo mundo assuma que Havoc tenha matado o sujeito, já que o herói não reaparece, mas o vilão sim)! Seja como for, Rene Perez tem essa mania estranha de terminar os filmes de repente, e azar do espectador.

É bem possível que o diretor esteja, sim, preparando um “Playing with Dolls – The Final Chapter”. Quem sabe com um duelo ainda mais cascudo entre Robert Bronzi e Havoc, quem sabe com um desfecho definitivo para uma “saga” que sequer deveria ter chegado tão longe. Não sei se vai funcionar, porém – como no caso de “Death Kiss”, tem brincadeiras que só enganam da primeira vez, e duvido que alguém em sã consciência encararia mais 80 minutos vendo um sósia de Charles Bronson enfrentando uma cópia vagabunda do Jason ou do Leatherface – ou de ambos.

Se CRY HAVOC serviu para algo, foi para me deixar pensando em porquê ninguém mais tentou fazer este cruzamento entre ação e slasher movies desde Chuck Norris e seu “Fúria Silenciosa”. Sei que parece uma ideia de jerico, mas tem lá sua graça (mais do que ver o mesmo grupo de jovens bananas enfrentando o mesmo assassino mascarado). Quem sabe alguém um pouquinho mais talentoso não aproveita a deixa e faz um slasher com algum ex-astro de ação em baixa, tipo o Steven Seagal, surgindo de repente para dar um cacete no vilão?

E embora não queira saber de novos “Death Kiss” ou “Playing with Dolls” tão cedo, eu confesso que estou curioso para ver Robert Bronzi em suas futuras aventuras, que foram realizadas por outros diretores e outros roteiristas. Principalmente “Escape from Death Block 13”, cujo trailer até demonstra certo potencial. Vai que alguém finalmente consegue tirar algo que preste da presença do sujeito, e não apenas explorar a sua mórbida semelhança com um astro morto e enterrado...



Trailer de DEATH KISS


Trailer de CRY HAVOC

15 comentários:

Jamal Singh disse...

1) "embora não pareça que Robert Bronzi e Daniel Baldwin estejam no mesmo frame" Pelo que você viu Guerra, ele deve ter filmado os atores em separado e depois uniu na Edição?
2) Mas o Bronson fez terror sim! Ele foi o capanga do Vicent Price em MUSEU DE CERA, mas nem me recordo se ele na época assinava como Buchinsky. Tá certo que tá longe de ser um slasher, mas o Bronson como vilão é divertido de ver.

Felipe M. Guerra disse...

JAMAL, é muito provável que o diretor tenha filmado os dois atores separados e unido na edição, sim. Tem um único take em que o Bronzi fala com o radialista de costas, mas pode ser qualquer um ali.

E sobre o fato de o Bronson não ter feito terror, eu me referia a não ter feito COMO PROTAGONISTA. No "House of Wax" ele é praticamente um figurante. hehehe

Luciano Milhouse disse...

Fiquei com muita pena do Michael Paré: não bastasse nos últimos anos ser figurinha fácil em filmes do Uwe Boll, agora vai fazer filme (o tal de "Once Upon a Time in Deadwood") com o Charles Bronson cover? Decadência é isso aí...

Pascoal disse...

Michael Paré coadjuvante do Bronson genérico!!!! Duvido que vc vá perder essa...

Cleidson disse...

Puxa, achava foda o Daniel Baldwin, gostava muito de Vampiros e Um Túnel Para O Inferno, pena ver que o cara trabalha nessas bombas hoje.

Raphael Silvierri disse...

vou ter que ver essas pérolas...rsrs

Anônimo disse...

Pqp... me apaixonei nos peitos dessa gostosa: https://1.bp.blogspot.com/-AG1O0I-DMUs/XzU7LGMjAOI/AAAAAAAAauY/cGwT5xjhelETG7R_SaRBItSA5WdLuLcEwCLcBGAsYHQ/s1920/Death.Kiss.2018.1080p.BluRay.x264-%255BYTS.AM%255D.mp4_snapshot_00.36.27_%255B2020.08.08_11.30.02%255D.jpg

Sabe o nome dessa figurante?

Anônimo disse...

Sou tão retardado e demente, que provalmente iria gostar.

Anônimo disse...

Gostaria de uma crítica do clássico Vampiros de John Carpenter.

Daniel I. Dutra disse...

Felipe, lembro que você fez uma resenha de outro filme nesse estilo "machão de cinema de ação versus psicopata de slasher" há muito tempo atrás no Boca do Inferno.

O filme era "Zero Boys", que você definiu muito bem como "Rambo versus Jason".

Infelizmente a resenha sumiu do boca do inferno. Vai ser republicada aqui?

Abçs

Felipe M. Guerra disse...

DANIEL, tem boas chances de resgatar este texto sim. Tenho muitos textos antigos originalmente publicados na Boca do Inferno esperando para voltar a ver a luz do dia, mas eu vou acabar reescrevendo tudo quando chegar a hora! hahaha.

ANÔNIMO, a peituda em questão é a Stormi Maya, que, apesar do nome artístico, NÃO é atriz pornô!

Anônimo disse...

Pessoal, onde encontro essas perolas para assistir, não achei em lugar nenhum.

Ale Bueno disse...

Felipe, falando em resenha que sumiu, tinha uma rede social aonde você também postava resenha que não existe mais ( eu acho) que tinha uma resenha do Rambo 4 e um daquele filme do Jason statham vs Jet Li, tem alguma forma de ler essas resenhas ou resgatar as mesmas?

Felipe M. Guerra disse...

ALE, aquilo foi no Multiply, uma rede social que não deu certo porque obrigava os usuários a escrever demais. Alguns textos eu consegui recuperar e postei, os outros perdi quando apagaram o site. :-(

Anônimo disse...

Dessa resenha dupla eu assisti apenas o Death Kiss e eu gostei do filme, pra mim funcionou como uma sequência do Death Wish, algo que poderia ser encaixado entre o 2 e o 3 lol
Eu achei o filme interessante, embora não deixei de ver seus defeitos, um deles eu acho que foi demorar demais pra apresentar o vilão e também pra unir todas as histórias, de fato o filme por grande parte parece um monte de cenas desconexas, mas uma trama que trouxe foi interessante que é a de como a ação do vigilante deixou aquela menina lá aleijada, isso é algo que não foi explorado nos filmes de Bronson e eu gostei dessa trama. O Kersey genérico de Kovacs também é meio filho da puta quando forçou aquela mulher lá a atirar no bandido só pra ela não ter chance de tentar incriminar ele. Sobre o DJ Reaça, eu até gostei do personagem e eu achava que as cenas dele iam ficar só naquilo mesmo de falar o que ele falava na rádio lá, então pra mim foi uma boa surpresa quando ele foi conectado à trama do vigilante. No geral eu daria uma nota 7/10 pro filme, eu também acho que o filme tem um certo mérito pelo diretor ser um faz-tudo, então não o julguei da mesma forma que eu julgaria um blockbuster, enfim, você detestou o filme mas eu gostei, agora teve um filme que tu disse em uma resenha que era divertido, o filme chama-se Robo Vampire, eu assisti e aquele lá sim foi um filme que eu 100% odiei e que não achei nada divertido, aquele lá eu dou uma nota 1/10 e esse um é só pelas tetas fantasmas que aparecem lá no final, meio que como uma alívio pra quem aguentou tanta porcaria, mas que ainda assim não compensam, enfim, quando o filme acabou eu saí com um pensamento meio como "Deus ajude aqueles que decidirem ver esse filme".