
Eis que não é tão pretensioso ou pedante quanto eu esperava esse filme baseado em um das muitas pseudo-celebridades que infestam nosso Brasilzão; pelo contrário, quem diria, o filme é até bem divertido, e confesso que tem mais sacanagem e mulher pelada do que eu pensava. O problema é que "Bruna Surfistinha" tem grandes acertos geralmente anulados por grandes erros. Por exemplo, o diretor de primeira viagem e os três (!!!) roteiristas usam e abusam de todos os clichês (inclusive narrativos) para contar a história de ascensão e queda da "prostituta mais famosa do Brasil": da amiga interesseira que só destrói sua vida, levando-a às drogas, ao cliente príncipe encantado que quer salvá-la da vida de quenga. Não falta nem a cena em que a protagonista e suas amigas prostitutas são expulsas de um salão de beleza por preconceito das demais clientes (os realizadores devem ter adorado "Uma Linda Mulher"...). Também é no mínimo curioso como o filme representa todas as prostitutas como mulheres simpáticas, divertidas e boazinhas (na vida real não é bem assim); já o personagem de Cássio Gabus Mendes (o tal cliente bom samaritano) é tão generoso e apaixonado por Bruna que soa absurdamente patético, até porque as motivações do cara nunca são justificadas e/ou explicadas. Entre os pontos positivos, Deborah Secco pelada e em várias cenas de sexo simulado; aliás, o filme acerta ao colocá-la para transar com homens horríveis de todos os pesos e medidas, pois na vida real as prostitutas não têm apenas clientes bonitinhos, como se vê no cinema. Claro que ajuda ter Deborah no papel – ela é muito mais bonita que a verdadeira Surfistinha, uma garota normal, feinha até, que só ficou famosa pelo blog e por dar "atenção especial" aos seus clientes. Pena que o filme prefira uma narrativa clichê e seja bastante superficial, nunca explicando porquê, afinal, uma jovem de classe média resolveu se prostituir. Na média, um bom passatempo que tem o mérito de não glamurizar a vida de puta, mas que não acrescenta absolutamente nada a todos os filmes já feitos com esse mesmo tema. Só uma curiosidade: este é o terceiro filme de Fabiula Nascimento e seu terceiro papel de puta (!!!). Talvez esteja na hora de ela trocar de agente...

Tem um quê de Alexander Payne nesta comédia dramática, que infelizmente passou em branco no Brasil - talvez até pelo título estúpido em português, que força um trocadilho engraçadinho sem nenhuma relação com a trama. Na verdade é uma bela surpresa essa obra escrita e dirigida por Sean McGinly, um sujeito sem créditos expressivos anteriores. John Malkovich está ótimo como Buck Howard, um "mentalista" (espécie de mágico que faz truques com a mente) bem distante do sucesso que fazia nos anos 60, ultrapassado nesses tempos de grandes espetáculos de mágica estilo Sigfried e Roy. Colin Hanks, um rapaz sem muita certeza sobre o que quer fazer da vida, resolve assumir o emprego de assistente de Buck e acompanhá-lo em viagens por teatros e salões comunitários de pequenas cidades norte-americanas, numa viagem de auto-descoberta para ambos. É impossível não se sensibilizar com os personagens, especialmente o ora divertido, ora insuportavelmente egocêntrico artista interpretado por Malkovich. "The Great Buck Howard" também tem participações de Emily Blunt, Tom Hanks, Griffin Dunne e do mala do Steve Zahn, que pelo menos aparece pouco e não incomoda tanto. O resultado é emocionante e muito divertido, e no final você se pega com um sorrisão no rosto, torcendo pelos personagens. Um filme que merecia ser mais conhecido.

Desde "Ed Wood" que eu não via uma obra tão emocionante e divertida sobre o mundo do cinema, com o diferencial de que a trama aqui usa a sétima arte apenas como pano de fundo para uma bem-amarrada história sobre amizade, família e nostalgia. Num verão dos anos 80, na Inglaterra, dois garotos se conhecem e acabam ligados pela paixão em comum pelo filme "Rambo - Programado para Matar": um é um menino tímido cuja família pertence a uma seita religiosa que proíbe até TV em casa; o outro é o encrenqueiro da escola, que usa a câmera VHS do irmão para fazer filminhos caseiros. Juntos, resolvem gravar sua própria versão caseira de "Rambo", com muita imaginação e criatividade. Pessoalmente, me identifiquei com a trama porque quando criança eu sempre sonhei em fazer meus próprios filmes caseiros - mas não tinha câmera. Os momentos em que os garotos usam de muita inventividade (e grandes doses de inocência) para recriar as cenas do filme de Stallone "à sua maneira" são hilários, mas a trama ainda tem toques de drama e sentimento, no que tange à relação dos dois amigos e deles com seus (problemáticos) familiares. O resultado é uma obra fantástica e singular, que até faz esquecer bobagens como "Rebobine Por Favor". E duvido que algum cinéfilo não fique emocionado e com lágrimas nos olhos quando a versão editada do filminho dos garotos é exibida num cinema na conclusão. Mais do que recomendado, obrigatório!

90% da humanidade sentou o pau nesse pequeno filme de zumbis vindo da França, mas eu achei divertidíssimo. Começa como uma história policial qualquer: buscando vingança contra os bandidões que assassinaram um dos seus parceiros, um grupo de tiras forma um grupo de extermínio e segue a quadrilha até um prédio abandonado, onde acontece sangrento tiroteio. Lá pelas tantas, saídos literalmente do nada e mudando completamente o tom da história, zumbis invadem o edifício e obrigam os dois lados inimigos a juntarem forças. A reviravolta lembra uma espécie de "Um Drink no Inferno" com zumbis no lugar dos vampiros, mas no final "Legião do Mal" parece mesmo é uma versão ensandecida (e muito mais sangrenta) de "Madrugada dos Mortos". Na comparação entre os dois, fico com esse aqui - que ainda rende umas boas gargalhadas para quem já viu dezenas de filmes de mortos-vivos e sabe que não há mais muitas surpresas no subgênero. Impagável, por exemplo, a cena do sujeito que enfrenta centenas de zumbis sobre um carro, armado apenas com um facão. O personagem do velhote folgado que mora no prédio e entra na trama somente na metade também é impagável, e a resolução da trama foge do clichê. Enfim, diversão garantida, desde que não se espere muito. E depois da overdose de filmes de zumbis feitos de "Terra dos Mortos" para cá, confesso que não espero mais nada do gênero, ainda mais quando até veteranos como George A. Romero pisam na bola.

Tem ecos de "Gran Torino" e "Harry Brown" esse surpreendente filme que ficará para sempre marcado como a melhor atuação de Brian Cox, um ótimo ator geralmente desperdiçado em bombas tipo "Voo Noturno", do Wes Craven. Ele interpreta um velho solitário, traumatizado e amargurado pela perda da família, que tem como única diversão as longas pescarias ao lado do seu cachorro Red. Até que três jovens delinquentes tentam assaltar o velhote e, insatisfeitos com a pequena soma de dinheiro que ele tem, reagem matando o cachorro. O restante do filme acompanha a busca de justiça do protagonista, primeiro procurando as vias "legais" (advogado, polícia, imprensa, os pais dos jovens), e depois finalmente tomando a justiça nas próprias mãos, dedicando o que resta da sua existência a transformar a vida do trio de garotos num verdadeiro inferno. "Rastros de Vingança" começou a ser dirigido pelo cineasta cult McKee, mas ele foi despedido pelos produtores e substituído pelo europeu Diesen. É difícil saber quem dirigiu o quê, mas a história é narrada de maneira contida e com várias surpresas, deixando o soco no estômago para o impactante final, e acentuando o talento de Cox, que praticamente leva o filme nas costas. Destaque ainda para pequenas mas significativas participações de Tom Sizemore, Amanda Plummer e Robert Englund. Um filme que, como "A Mente que Mente", passou praticamente em branco no Brasil, mas merece ser descoberto ou redescoberto.

Cinco "O Exorcista". "O Anticristo". "Espírito Maligno". "Exorcismo Negro". "O Exorcismo de Emily Rose". "O Último Exorcismo". Isso sem contar todos os filmes bagaceiros que nem valem citação. Pensa comigo: depois de tantas produções sobre possuídos pelo demônio e exorcismos, será que ainda existe alguma maneira minimamente criativa de contar histórias do gênero? Se depender desse "O Ritual", não: do começo ao fim, essa bomba atômica não passa de um reaproveitamento de todos os clichês do gênero vistos desde "O Exorcista": padre jovem que está perdendo a fé e é escalado para ajudar velho e experiente exorcista; demônio possuindo corpos e aprontando poucas e boas, inclusive contorcionismos absurdos; e aquele ritual de exorcismo barulhento e exagerado na conclusão. Sem nenhuma novidade na trama ou na forma de contá-la, não consigo entender o porquê de uma filme assim durar quase duas horas (insuportáveis). Até porque não há a menor história para contar, e boa parte da narrativa é, mesmo, pura enrolação. Dá pena de ver um ator como Anthony Hopkins perdido numa porcaria como essa, mas já faz anos que ele virou uma espécie de "Lima Duarte de luxo", repetindo sempre o mesmo papel com as mesmas caras e bocas; a brasileira Alice Braga está perdidaça, e Rutger Hauer, como sempre, é desperdiçado em papel de coadjuvante sem nenhum brilho. De tão maçante e sacal que é a narrativa (que ainda tenta posar de "séria" e "inteligente"), confesso que cochilei três vezes antes que a agonia finalmente terminasse. Para não perder o trocadilho: um filme ruim como o Diabo gosta!

Antes de tudo, tenham em mente que esse filme é uma enganação: como se fossem dois ex-craques do futebol, Jean-Claude Van Damme e Dolph Lundgren só entram em campo aos 35 do segundo tempo (ou, no caso do filme, depois de 65 dos 97 minutos) para tentar tirar a partida do empate, reprisando seus papéis do "Soldado Universal" original, de 1992. Antes, quem comanda o espetáculo é o apagado Mike Pyle como herói e também o brucutu Andrei Arlovski, que está fantástico como o grande vilão da história. Apesar da alta contagem de cadáveres e dos montões de tiros e explosões até então, o filme não fede e nem cheira antes que Van Damme e Lundgren finalmente entrem em ação. E aí justiça seja feita: "Soldado Universal 3" parece um "Os Mercenários" melhorado, incluindo um fantástico plano-sequência em que Van Damme sai atirando em inimigos dentro de um prédio em ruínas (lembrando "Filhos da Esperança") e as duas violentas "lutas finais" contra Lundgren e Arlovksi, respectivamente. E mesmo que a enganação continue (percebe-se claramente que são dublês na maior parte da pancadaria), o duelo Van Damme x Lundgren é muito, mas muito melhor (filmado e editado inclusive) do que o troca-socos Lundgren x Jet Li em "Os Mercenários". Resumindo: é um filme bem convencional, fraquinho até, mas que vira um filmaço quando os ex-craques entram em campo no finalzinho do segundo tempo (e, quem diria, conseguem reverter o placar!). Uma promissora estreia para o diretor John Hyams - filho de Peter Hyams, que dirigiu Van Damme em "Timecop" e "Morte Súbita" mais de 10 anos antes.

OK, OK, esta é uma produção barata realizada pelo canal de TV a cabo SyFy. Dito isso, você já sabe o que esperar: orçamento paupérrimo e efeitos em CGI que parecem ter sido animados num velho computador 386. Fechando um olho para estes óbvios defeitos, até que a história é razoavelmente interessante. Acompanha um grupo de cavaleiros durante as Cruzadas (não espere uma maravilhosa reconstituição de época, muito pelo contrário), liderados por um nobre que questiona a validade do confronto. Até que eles encontram uma relíquia para levar até o Vaticano: um pedaço da cruz em que Jesus Cristo foi crucificado. O problema é que o artefato está amaldiçoado, e os cavaleiros serão assombrados por todo tipo de tragédia, do naufrágio do seu navio (bad CGI alert!!!) ao ataque de lobos, insetos, monges possuídos (!!!) e até um diabão terrível (no mau sentido) feito por computação gráfica. Tudo bem, é preciso muita paciência para acompanhar até o final, justamente devido à pobreza risível da película. Mas quem suportar vai perceber que o filme é até divertido, na linha daqueles trashões italianos dos anos 80, com boas ideias (a relíquia amaldiçoada, o fato de os cruzados cristãos terem que somar forças com seus inimigos muçulmanos) e até uma mensagem anti-intolerância religiosa. Podia ser um filmaço com um orçamento decente, um diretor de verdade e uma boa recauchutagem no roteiro, mas Hollywood anda muito ocupada refilmando tudo que um dia já foi filmado para se preocupar com tramas originais...

"Westworld - Onde Ninguém Tem Alma" (1973) é simplesmente um dos meus filmes preferidos. Esse aqui pretende ser uma continuação. Desde que fiquei sabendo disso, procurei loucamente pelo filme, sem nunca encontrar. Então fui ver só agora, 15 anos de procura depois. E o resultado foi uma decepção incomensurável. "Futureworld" é simplesmente uma continuação pífia e sem nenhuma razão de existir. Se o original era uma aula de tensão, nesse aqui não acontece absolutamente nada em momento algum. Na trama, uma megacorporação reabre os parques de diversões com robôs imitando humanos após o massacre do filme original, e convida autoridades e jornalistas para conferir as instalações. O protagonista é Peter Fonda com cara de sono, eternamente zanzando pelo cenário e tentando descobrir algo sobre os bastidores do local. Aí você vê os visitantes se divertindo nos parques com os robôs. Vê os técnicos montando e desmontando robôs. OK, já vi tudo isso no original. E aí, quando é que os robôs vão se rebelar de novo e começar a matar os humanos? Epa, peraí... Isso nunca acontece! É isso mesmo: o filme se resume a Peter Fonda eternamente zanzando pelo cenário com cara de sono!!! Mas o pior é a desculpa que os realizadores encontraram para trazer de volta o sinistro pistoleiro interpretado por Yul Brynner no original, por meros cinco minutinhos, numa absurda cena de pesadelo de uma personagem, sem qualquer relação com a trama! Apesar da tentativa de fazer um final "inteligente", pouco ou nada se salva em "Futureworld", uma obra que pode entrar, com louvor, em qualquer lista de piores (e mais desnecessárias) sequências já produzidas.

Já virou clichê e redundância dizer que os Irmãos Farrelly perderam o jeito para a comédia escrachada que demonstraram em "Debi & Lóide", "Kingpin" e "Quem Vai Ficar com Mary?" (seus primeiros filmes). Mas eles continuam dando mais e mais argumentos para que se use esta frase clichê e redundante. É o caso desse "Passe Livre", comédia "adultescente" que parece seguir a linha "Se Beber Não Case", mas anos-luz distante do humor deste. Owen Wilson e Jason Sudeikis interpretam dois sujeitos casados que ganham das esposas um passe livre de uma semana para curtir a vida como se estivessem solteiros. A premissa podia render uma comédia fantástica com muita sacanagem, mas os Irmãos Farrelly preferem mostrar os bundas-moles aprontando todo tipo de besteira - como comer brownies com maconha e ficar terrivelmente chapados -, MENOS situações envolvendo sexo. Estas se concentram na parte final, e, mesmo com algumas piadas mais fortes (como o espirro que provoca evacuação involuntária numa mulher), ficam devendo. Até porque o roteiro prefere seguir por um viés romântico e estupidamente moralista. Fala sério: quem engole que um homem casado há 20 anos e feio que nem o Owen Wilson resista a uma gata seminua e doidinha para transar com ele (Nicky Whelan)? Clique aqui, dê uma boa olhada na moça e me diga sinceramente se VOCÊ resistiria! Mais tarde, a esposa de um dos caras pula a cerca e, claro, é "punida" com um acidente de carro. Enfim, aquele tipo de mensagem moralista que eu não consigo mais suportar em filmes do gênero, pois eu quero ver comédias para rir e me divertir, e não para receber lições de vida. O que parece no final é que os personagens do "Se Beber Não Case" aprontaram muito mais numa única madrugada do que os dois manés daqui em uma semana, e que os mesmos caras que fizeram Jim Carrey vender um pássaro morto para um cego (em "Debi & Lóide") perderam totalmente o jeito. Ah: alguém também precisa avisar o Jason Sudeikis que ele não é NADA engraçado, e vetar sua participação em futuras produções do gênero.