WebsiteVoice

quarta-feira, 23 de junho de 2010

PROJETO FILADÉLFIA (1984)


É sempre um risco rever aqueles seus filmes preferidos da infância. Afinal, para cada "Fuga de Nova York", "Mad Max 2" e "A Noite dos Arrepios", que parecem envelhecer como o vinho, existem incontáveis obras tipo este PROJETO FILADÉLFIA, que, como vinhos vagabundos que são, envelhecem e se tornam um vinagrão dos mais azedos. Enfim, aqueles "clássicos da sua infância" que você revisita apenas para perceber o quão ruins eles sempre foram - e também para constatar como você era ingênuo na juventude por gostar tanto deles.

Produzido por John Carpenter (sim, "o" John Carpenter) e dirigido por Stewart Raffill (quem?), o filme teve certa fama também no Brasil na época do seu lançamento. Por aqui, saiu em VHS pelo selo Top Tape, nos primórdios das videolocadoras brasileiras, quando quase todas as fitas à disposição eram piratas.


O roteiro de William Gray e Michael Janover chama a atenção por ser baseado num intrigante acontecimento supostamente real: o Projeto Filadélfia, que teria sido realizado nos Estados Unidos em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial.

Muitos juram que é apenas lenda urbana ou teoria da conspiração, mas o que se conta é que, em 1943, no auge da guerra, cientistas norte-americanos conseguiram deixar um imenso navio (o destróier USS Eldridge) completamente invisível.

Usando campos eletromagnéticos no interior do barco, a intenção era apenas fazê-lo desaparecer dos radares dos alemães. Só que a experiência deu certo DEMAIS: o barco e toda sua tripulação simplesmente sumiram da face da terra por alguns minutos! Ou, pelo menos, é assim que se conta.


Mas o pior estava por vir: quando o tal navio "reapareceu", voltando sabe-se lá de onde tinha ido parar, era a própria visão do inferno, com marinheiros carbonizados, outros enlouquecidos, outros ainda fundidos ao casco da embarcação (!!!). O caso permanece um mistério até hoje, enquanto o governo e o exército norte-americanos continuam jurando de pés juntos que a história toda é uma farsa e que nunca houve tal experimento, quanto mais um navio inteiro ter ficado invisível.

Pois PROJETO FILADÉLFIA começa justamente no ano de 1943 e mostrando o tal experimento na prática, sob a coordenação de um cientista chamado James Longstreet (Miles McNamara).


Entre os marujos que embarcam no navio fadado a desaparecer estão David Herdeg (o canastrão Michael Paré, na época em alta por causa do sucesso de "Eddie and the Cruisers" e "Ruas de Fogo", dois clássicos da Sessão da Tarde) e Jim Parker (o igualmente canastrão Bobby Di Cicco, que apareceu na comédia "1941", de Steven Spielberg). Este último é casado com Pam (Debra Troyer), que espera o primeiro filho do casal.

Quando a experiência começa, é um verdadeiro pandemônio: o navio inteiro é sugado para dentro de um vórtex no tempo e no espaço, que no filme é representado como um túnel com luzes coloridas, bem parecido com aquele do final de "2001 - Uma Odisséia no Espaço". Enquanto seus colegas gritam e agonizam, David e Jim se desesperam e resolvem fazer alguma coisa; neste caso, atirar-se para fora do barco, bem no meio do tal vórtex!


E eis que ambos reaparecem em pleno deserto de Nevada (Área 51, alguém?), bem distante do local em que foi feita a experiência com o navio. E como se não pudesse ficar pior, o ano também é outro: 1984! Os dois marujos viajaram no tempo e, agora, enfrentam as enormes diferenças culturais proporcionadas por uma viagem de 40 anos no tempo. Como esta:

- Quem ganhou a guerra?
- Qual guerra? A do Vietnã?


Tudo é novidade para os rapazes, da programação ultraviolenta e cheia de mulher pelada da TV aberta à eleição de um ator da sua época, Ronald Reagan, como presidente dos Estados Unidos. Até uma latinha de Coca-Cola é vista como algo bizarro para quem só conhecia o refrigerante vendido em garrafa de vidro. E como pode uma garrafa de cerveja alemã em território ianque se horas antes eles estavam em guerra justamente com a Alemanha?


Finalmente, a desnorteada dupla encontra a bela Allison (uma jovem e linda Nancy Allen, atualmente sumida). Como toda boa alma tradicional desse tipo de aventura, a ingênua mulher tenta ajudá-los a descobrir a verdade sobre o que aconteceu - mesmo que seja seqüestrada pelos dois estranhos na primeira vez em que se encontram. Só que a investigação não vai ser tão fácil, porque todos são perseguidos pelo exército, que parece bastante interessado nos dois marujos.

Para complicar mais a trama, sem ter aprendido nada com o fracasso lá de 1943, um agora envelhecido dr. Longstreet (desta vez interpretado por Eric Christmas) tentou realizar o projeto novamente 40 anos depois, e abriu novamente o tal vórtex no tempo, desta vez fazendo sumir uma cidade experimental inteira. Foi por este buraco que David e Jim viajaram no tempo. O problema é que a "passagem" não fechou, e, como um grande buraco negro, pode engolir todo o planeta!


Se há algo interessante em PROJETO FILADÉLFIA - além, obviamente, do ponto de partida - é que o roteiro lembra muito um "De Volta Para o Futuro" (que é posterior, de 1985) às avessas: enquanto no filme de Robert Zemeckis o rapaz volta de 1985 para os anos 50, aqui são dois jovens dos anos 40 que avançam no tempo para os amalucados anos 80.

Infelizmente, a comparação com o ótimo "De Volta Para o Futuro" fica por aí: como PROJETO FILADÉLFIA é um filme de ação, o roteiro logo abandona o drama dos heróis perdidos em uma época que não conhecem para concentrar-se em perseguições a pé e de automóvel. É aí que a coisa toda degringola. O melhor da película é justamente a primeira meia hora, que mostra a experiência, a volta no tempo e o divertido choque cultural dos personagens.


Quando a história entra no território da ação, o filme afunda que nem o Titanic. Não bastasse o diretor Raffill ser um cabeça-de-bagre no quesito, sem nunca passar uma idéia de suspense ou de perigo (apesar do excesso de explosões de carros, prédios e até helicópteros!), o roteiro tem uma tonelada de furos, quase como o tal vórtex que ameaça engolir o mundo na trama.

Por exemplo: perto do fim, descobrimos que os militares precisam de David vivo e bem para fechar o tal vórtex antes que ele engula o mundo, já que o herói seria o responsável por voltar no tempo até a época do experimento (1943) e destruir o maquinário para que o navio e sua tripulação tornem-se visíveis de novo (ou seja, a história já está escrita e é imutável).

Logo, se este passado já é líquido e certo, e eles sabem que David é peça fundamental para viajar no tempo e salvar o mundo, por que diabos os soldados passam o filme inteiro perseguindo o rapaz e inclusive disparando tiros nele, sabendo que a sua morte poderia provocar um desastre temporal e mudar todo o rumo da história (para pior, no caso)?


Sem contar que essa história de que "tudo já está escrito" é uma bosta, pois no momento em que o roteiro deixa bem claro que o passado, o presente e o futuro já estão definidos e são imutáveis (ao contrário, por exemplo, da série "De Volta Para o Futuro"), você também já sabe que tudo vai se resolver facilmente no final, sem complicação, sem suspense e sem grandes perigos para os personagens ou para o planeta Terra.

(E é nessas horas que faz falta alguma cena de tensão como aquela do dr. Brown correndo contra o relógio para conectar os cabos na torre do relógio, no final de "De Volta Para o Futuro".)

O que sobra de PROJETO FILADÉLFIA é uma boa idéia (ou talvez um bom ponto de partida) mal-aproveitada e mal-filmada. O próprio "Experimento Filadélfia" em si - que, segundo algumas teorias da conspiração, realmente teria aberto um buraco negro no planeta, aquele conhecido como Triângulo das Bermudas! - é muito mais interessante do que o filme inteiro, e mal-aproveitado na trama, aparecendo apenas no começo e no final (com direito às cenas tétricas dos marinheiros fundidos com o navio).


Taí uma idéia que mereceria ser retrabalhada por algum diretor-roteirista mais criativo. Alô, fazedores de remakes: por que ao invés de estragar filmes bons vocês não tentam melhorar os ruinzinhos, como este?

Acredito, portanto, que alguns filmes deveriam permanecer apenas em nossas memórias lá da infância, já que revistos hoje, com mais senso crítico e toda uma bagagem cultural, acabam perdendo toda a graça.

PROJETO FILADÉLFIA é um deles: um argumento interessante, mas um resultado final bobo e sonolento. Ainda assim, um passatempo razoável para quem curte histórias sobre viagem no tempo, mesmo que aqui o tema seja trabalhado anos-luz aquém do seu potencial.

E bem que eu queria voltar também no tempo, mais precisamente para aquela época em que tudo era menos complicado e se podia ficar vendo PROJETO FILADÉLFIA nas tardes do SBT. E ainda gostar muito do filme!


PS 1: Em 1993 saiu uma produção direto para as locadoras chamada "Projeto Filadélfia 2", cuja trama envolve experiências de viagem no tempo dos nazistas (o vilão inclusive é interpretado por Gerrit Graham). Lembro pouco desta seqüência e também preciso rever (medo!), mas, através do IMDB, descobri que o personagem de David Herdeg está de volta, desta vez interpretado por outro ator (Brad Johnson).

PS 2: Clique AQUI para ser redirecionado a um interessantíssimo site em inglês com uma das análises mais completas da internet sobre o misterioso "Experimento Filadélfia" que deu origem ao filme.

Trailer de PROJETO FILADÉLFIA



*******************************************************
Projeto Filadélfia (The Philadelphia
Experiment, 1984, EUA)

Direção: Stewart Raffill
Elenco: Michael Paré, Nancy Allen, Eric
Christmas, Bobby Di Cicco, Louise Latham,
Kene Holliday e Stephen Tobolowsky.

17 comentários:

Matheus Ferraz disse...

Com um argumento destes, acho que ficaria muito mais interessante explorar um tema de universos paralelos ao invés de viagem no tempo. Na verdade, quando comecei a ler o texto, pensei que seria algo como O Enigma do Horizonte, mas do ponto de vista da primeira tripulação.

Thomas disse...

Esse filme é tosco, mas tão tosco, que eu simplesmente adoro ele.
Diria que não vivo sem esse filme.

pseudo-autor disse...

Eu já ouvi sentimentos os mais contraditórios sobre esse filme. Uns o consideram a bomba do século, outros o acham um clássico subestimado. Eu confesso que até fiquei curioso por assistir pelo elenco que conta com atores que já não vejo na tela há bastante tempo (Michael Paré, a policial que fez Robocop etc). Quem sabe eu não dê um pulo na blockbuster, onde sempre encontro raridades e fuço por esse.

Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com

Fausto Salvadori disse...

Tive um professor fascinado por bobagens do tipo "Eram os Deuses Astronautas?" que passou esse filme na sala. Até me emprestou um livro sobre o suposto Projeto Filadélfia do mundo real, escrito por um picareta chamado Charles Berlitz, filho do fundador do curso de inglês e autor de livros sobre temas sérios como Triângulo das Bermudas.

Vi há muito tempo e não revi, mas acho um filme bem meia boca. Destaque para mim é a participação da Nancy Allen, que fez "Robocop", "Dublê de Corpo", "Um tiro na noite". Não vai comentar sobre ela?

Felipe M. Guerra disse...

Está ali: "(uma jovem e linda Nancy Allen, atualmente sumida)". Mais do que isso não precisa, porque a personagem da coitada neste filme é simplesmente ridícula.

Ah, a Nancy Allen não fez "Dublê de Corpo", mas sim "Vestida Para Matar", que também é do DePalma (assim como "Um Tiro na Noite" e "Carrie", onde ela aparece pelada; percebe-se que era uma espécie de musa do diretor).

Bem lembrado sobre o Charles Berlitz, esse picaretão aí escreveu livros sobre vários fenômenos - Projeto Filadélfia, Triângulo das Bermudas, Atlântida... -, sempre sem nenhum fundamento além das loucuras da cabeça do autor, mas que foram best-sellers da época pré-internet.

JFelipe disse...

"É sempre um risco rever aqueles seus filmes preferidos da infância. Afinal, para cada "Fuga de Nova York", "Mad Max 2" e "A Noite dos Arrepios", que parecem envelhecer como o vinho"

só descordo com relação a "A Noite dos Arrepios", o qual, quando criança, a propagando de que ele ia passar na Tv nunca me saiu da cabeça - mas eu nao assisti na época. Passei varios anos pensando nas imagens, e quando descobri de que filme se tratava, ja com mais de 20 anos, peguei uma cópia pra assistir... e achei muito datado! O começo é até legal com aquele alienígena nos anos 50 (acho que era isso neh), a cidadezinha, mas, quando vai pros anos 80 msm... aquele romance de baile, o kra interessado na mina, achei muito sem graça - datado msm; as piadinhas, as tiradas e tudo mais.

JFelipe disse...

E pô, a Nancy Allen aí no filme - sou fã dela! Já tive até um sonho com ela estrelando um troço parecido com Maniacop* - ela de ray-ban, meio agachada por detrás de uma lápide, com roupa de policial (igual em Robocop), segurando uma arma!

JFelepe McQuade disse...

Só detalhanndo meu comentário para não dar margem para confusão: não é o lance do baile de formatura ou o perdedor apaixonado pela mina popular do colégio que me faz não gostar de "Noite dos Arrepios" - por sinal, filmes adolescentes daquela época como "Tal Pai, Tal Filho" ou "Namorada de Aluguel" e "Quase Igual Aos Outros", que tem coisas assim no meio, são tão divertidos pra mim hj como nos anos 80 -, mas Noite dos Arrepios tem um "humorzinho e umas tiradas mixurucas" que já fizeram ele ter nascido para morrer na praia.

Richardson Luz disse...

Olá Felipe, gostei muito do teu blog. Também possuo um sobre cinema independente http://cinemagauchoindependente.blogspot.com quem sabe uma parceria para algum trabalho? Meu e-mail: richardsonluz@gmail.com, abraço.

Anônimo disse...

Olá Felipe Guerra:

Estive na página que mostra filmes 'com insetos gigantes', e entre outros.
E um que me lembro de assistir: NOITE MALDITA - concordo; 'HA FILMES BRASILEIROS' e 'HÁ FILMES BRASILEIROS'! E em relação à tal, lembro quando o assisti (até gravei!): o 'bom' dele é que conta com artistas estrangeiros; cheguei até a trocar um e-mail com uma das atrizes do filme, a Sonia Curtis! E infelizmente a atriz Maria Alves já faleceu, há uns 3 anos...
Sou do Rio - pude, ao ver o filme, reconhecer lugares de lá...mas moro em POA-RS - vi que moras no RS tb; legal!
E outros filmes citados: sobre INSETOS GIGANTES; um que eu adorava: THE GIANT SPIDER INVASION...outros: FORMIGAS GIGANTES.
É bom haver sites/páginas sobre filmes, para se trocar idéias...

Valeu,
Rodrigo O. Rosa

http://rodrigo-arte.blogspot.com/

Rodrigo-- Eduardo disse...

mais um de seus otimos textos
Parabens

Anônimo disse...

Felipe, falando em viagem de tempo, e ficção científica, que tal comentar sobre o filme "O Homem Indestrutível" cujo protagonista é Scott Bakula (o cap. Archer da série Enterprise, e o Sam Beckett da série Quantum Leap). Valeu.

Anônimo disse...

oi, estou criando um blog em que faço reflexões de cenas de filmes. Gostaria de permissão para copiar e colar a uma imagem de cena do filme em meu blog, e prometo citar o link de onde copiei a imagem e tb posso anexar seu blog ao meu pra termos contatos futuros. Aguardo sua resposta, por favor, me manda um e-mail: jamalpato@bol.com.br

Obrigado

Michael Carvalho Silva disse...

Nancy Allen foi uma linda mulher nos anos setenta e oitenta e também é a melhor atriz do mundo na minha opinião. A belíssima, adorável e talentosíssima Nancy esteve sensacional, formidável mesmo no papel da linda, intrépida e destemida policial Ann Lewis nos três filmes da série "Robocop" além de sensualíssima como a bela Liz Blake em "vestida Para Matar." Não foi para menos portanto que o Brian De Palma se apaixonou perdidamente por ela e se casou com ela além de tê-la tornado sua musa. Ela merece. E muito.

djdilloourinhos disse...

Adorei esse filme quando assisti no SBT,muito bom...

Leonardo Peixoto disse...

Espero que um dia seja publicada uma resenha sobre Projeto Filadélfia 2 ! Gosto de história alternativa e a continuação apresenta uma ucronia onde a Alemanha ganha a Segunda Guerra Mundial com o avião carregado de bombas atômicas trazido para 1943 pela experiência nazista com viagem no tempo !

Paulo David disse...

É preciso corrigir um dado em seu texto, Felipe. O filme "Ruas de Fogo" não foi um sucesso. Na verdade, fracassou tanto na bilheteria que Walter Hill desistiu de fazer dele uma trilogia. Foi devido a esse fracasso, inclusive, que a carreira de Michael Paré declinou, infelizmente.