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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

MOMENTOS DE PRAZER E AGONIA (1983)


Um casal de lésbicas se chupando durante um banho de cachoeira. Uma bela garota retalhada a navalhadas no chuveiro. Anthony Steffen comendo Rossana Ghessa e logo depois Fátima Leite comendo Rossana Ghessa! Será que sou só eu tenho saudade exatamente DESTE tipo de cinema nacional que não se faz mais? Sexo, violência explícita, lesbianismo e tanta mulher pelada que o cara quase enjoa de ver peitos, bundas e pererecas (ênfase beeeeeem grande no "quase"); assim é MOMENTOS DE PRAZER E AGONIA, um daquele raros filmes de suspense estilo "whodunit" (quem é o assassino?) feitos no Brasil.

A bem da verdade, esta produção escrita e dirigida por Adnor Pitanga é quase um giallo - se o assassino usasse luvas negras e os atores fossem dublados em italiano, o filme poderia muito bem ser lançado como um legítimo giallo made in Italy que ninguém iria perceber!


Ajuda, para criar este elo com o cinema de mistério italiano, a rara presença do galã Steffen numa produção brasileira. "Anthony Steffen" é o pseudônimo americanizado de Antonio de Teffé, filho de brasileiros criado na Itália, e que se transformou num astro do western spaghetti europeu - entre outros filmes, estrelou "Django, O Bastardo", de Sergio Garrone. O ator também pôde ser visto em alguns filmes do ciclo giallo, como "The Crimes of the Black Cat" e "The Night Evelyn Came Out of the Grave".

MOMENTOS DE PRAZER E AGONIA é único filme 100% brasileiro que Steffen estrelou. O IMDB informa que o ator também estaria no brasileiríssimo "Mulheres Liberadas", também dirigido por Adnor Pitanga, mas o especialista na carreira do astro Rodrigo Pereira garantiu que a informação é equivocada. Assim, com uma única produção realmente brasileira no seu currículo, Anthony Steffen morreu vitimado por câncer em 2004, quando morava no Brasil e vivia praticamente esquecido.


Consta no obrigatório livro sobre a carreira de Anthony Steffen, escrito por Daniel Camargo, Fábio Vellozo, Rodrigo Pereira, que o ator não gostava destas suas produções brasileiras, nem fazia muita questão de falar sobre elas, o que é estranho, pois este suspense pelo menos é muito bem realizado e produzido, ao contrário de algumas tralhas que ele fez com os italianos. No mesmo livro, consta que Steffen brigou o tempo todo com a estrela e produtora Rossana Ghessa.

Dublado, Steffen interpreta Rodolfo, um rico fazendeiro do interior do Rio de Janeiro que vive obcecado com a idéia da velhice e da proximidade da morte. Ele namora Marília (Rossana Ghessa, de "Fêmeas em Fuga", que na época era um MULHERÃO, em maiúsculas mesmo!), uma professora que deixou os tumultos da cidade grande para viver no interior, onde também pretende esquecer o fim da sua relação lésbica com a amiga Renata (Fátima Leite, de "Eu Matei Lúcio Flávio").


Sem saber, Marília despertou a paixão de uma aluna da sua turma, Leila (Leila Correia, em seu único filme), que, apesar de namorar o capataz da fazenda de Rodolfo, Lauro (Rinaldo Gines, de "Bye Bye Brasil"), tem dúvidas sobre a própria sexualidade.

Certo dia, voltando para casa depois da aula, Leila corta caminho pelo bosque e encontra o acampamento de duas amigas lésbicas, Lucinha (Helena Andrea) e Rose (Ismênia Kreis). Observa enquanto ambas, após o tradicional banho de cachoeira peladas, transam animadamente. Excitada, Leila vai para um ponto mais isolado do bosque, onde se despe e se masturba pensando na cena.


Paralelamente, chega à cidade a ex-amante de Marília, Renata, agora casada com Hartur (o gaúcho Marco Wainberg, de "A Pantera Nua"), que é cego. O retorno provoca o caos no pequeno universo rural, deixando Rodolfo enciumado. Logo, o corpo nu de Leila é encontrado no bosque, coberto de ferimentos de facão. O principal suspeito é o namorado Lauro, mas a professora começa a suspeitar que Renata está tentando reatar o romance entre elas eliminando todos os obstáculos pela frente.

Novos crimes se sucedem, sempre violentos. Quem será o assassino? A enciumada Renata? O possessivo Rodolfo? Lauro, que se diverte mutilando as galinhas da fazenda? O casal de lésbicas acampado no bosque? Ou Hartur, que na verdade pode nem ser cego? A identidade só será revelada no final, mas não será uma grande surpresa para quem já conhece as tradicionais armadilhas do gênero.


MOMENTOS DE PRAZER E AGONIA certamente não pode ser acusado de propaganda enganosa, já que são 90 minutos com exatamente isso que o título anuncia: muito sexo (prazer) e algumas mortes e sangueira explícita (agonia).

Eu acho até que mudaria o título para "MUITOS Momentos de Prazer e ALGUNS de Agonia": temos duas longas e calientes cenas de sexo "normal" (entre Steffen e Rossana e entre Rinaldo e Ismênia), duas longas e calientes cenas de sexo lésbico (entre Rossana e Fátima e entre Helena e Ismênia), e até duas cenas de masturbação feminina quase explícita (protagonizadas pela gatinha Leila).

Isso sem contar o fato de a câmera de Adnor Pitanga dar closes quase ginecológicos nas pererecas e não poupar detalhes quando filma as relações sexuais, com simulações bem realistas de sexo oral (tanto hetero quanto lésbico), deixando o filme às raias do pornô.


Mas a produção é requintada e não cai nessas armadilhas de muitas produções brasileiras do período. As cenas de sexo são filmadas com muito bom gosto, de maneira que soam mais eróticas, quase poéticas, do que vulgares ou pornográficas, como podiam ficar nas mãos de um diretor "pau pra toda obra" como Ody Fraga ou Fauzi Mansur.

A cena em que Renata seduz e transa com a ex-namorada Marília em frente a Hartur, o marido cego, é de longe uma das mais bonitas - e cruéis, obviamente - cenas do filme, e rodada num nível de realismo que fiquei me perguntando se as duas atrizes não estavam REALMENTE se comendo!!!


E quem tem saudade dos tempos em que havia sexo e mulher pelada no cinema nacional não vai poder reclamar desse filme do Pitanga, já que todo o elenco passa a maior parte do tempo SEM a roupa. Isso não só nas cenas de sexo, mas também nos incontáveis banhos de rio e cachoeira (por que será que todo diretor de cinema acha que no interior o pessoal toma banho de rio pelado???), e até nos momentos em que as mocinhas precisam fugir do assassino correndo pelo meio do mato, e sempre acabam com a blusa rasgada e os peitinhos de fora! Sinceramente, é tanta mulher pelada em 1h30min que quase cansa (ênfase beeeeeem grande no "quase").

Quanto aos "momentos de agonia", estes também são razoavelmente bem executados, com efeitos simples e cortes rápidos, sem investir muito na maquiagem nas cenas de morte. Até que o filme tem bastante sangue, com a já citada morte a navalhadas lembrando ao mesmo tempo "Psicose", de Hitchcock, e "Vestida para Matar", do Brian DePalma. O destino final do(a) assassino(a) é bastante violento, e há inclusive duas cenas de mutilação (real, é claro) de galinhas que deverão provocar arrepios em quem não mora no interior e não vê isso normalmente.


Sabe aquele preconceito bem comum do espectador brasileiro, de dizer que o cinema nacional pré-Retomada era uma porcaria, tecnicamente inclusive? Pois MOMENTOS DE PRAZER E AGONIA é um belo argumento para calar a boca desses ignorantes: tudo no filme é de ótimo nível, desde a forma como são filmadas as cenas de sexo até a fotografia de Ruy Santos, passando pela bela trilha sonora (composta por Antônio Krisna e interpreta pela própria Rossana Ghessa) e pelo som, que é alto e claro - você entende perfeitamente TODOS os diálogos, algo que não era muito comum nas produções da época.

Claro, alguns metidinhos poderão questionar se era realmente necessária a grande quantidade de sexo e de nudez mostrada no filme. Quer saber? Era sim, porra! O nome do filme não é "Momentos de PRAZER e de Agonia"? É bom lembrar também que, naquela época (entre 1982 e 1983), diversos realizadores brasileiros estavam descambando para o sexo explícito, devido à grande dificuldade de produzir filmes "normais", e mesmo diretores "sérios" enchiam suas obras de mulher pelada para atrair o público, cada vez mais distante das salas de cinema.


Eu, pelo menos, não tenho problema algum com nudez no cinema brasileiro, e acho ridículos protestos como aquele absurdo feito pelo Pedro Cardoso recentemente. Mas cada macaco no seu galho, não é?

Fica o aviso: se você não curte sexo e nudez em filme nacional, é melhor ficar bem longe de MOMENTOS DE PRAZER E AGONIA. Já quem não tem preconceito pode encarar numa boa: em 1h30min, você vai ver todo sexo e mulher pelada que o cinema brasileiro não mostrou nos últimos 15 anos!

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Momentos de Prazer e Agonia
(1983, Brasil)

Direção: Adnor Pitanga
Elenco: Rossana Ghessa, Anthony Steffen,
Fátima Leite, Helena Andrea, Rinaldo Gines,
Ismênia Kreis e Leila Correia.

18 comentários:

Leandro Caraça disse...

Estou com uma cópia em casa para assistir. Vi os primeiros 7 minutos e me pareceu um filme bem cuidado na parte visual.

Felipe M. Guerra disse...

Isso é! Como eu escrevi, ninguém pode reclamar da parte técnica do filme. Tudo bem que o roteiro não é nenhum primor, mas para a proposta da obra (mistura de sangue e putaria), acho que não dá para reclamar.

Caraça, depois que assistir até o fim venha aqui compartilhar sua opinião, pois esse é o típico filme que quase ninguém viu, e detesto falar sozinho! hahahaha.

osvaldo disse...

O último parágrafo 'vendeu' o peixe hehe

Laura disse...

oi, Felipe!

pelo que lembro, esse filme teve a trilha musical composta pela própria Rossana Ghessa. acho que foi a única trilha que ela fez.

e também é bom lembrar que esse era um projeto dela, que foi a produtora executiva e parece ter garantido uma boa diversão durante as filmagens...

só por isso o filme já vale muito, pois eram muito raras as mulheres com esse poder todo no cinema brasileiro dos anos 70.

Laura disse...

digo, dos anos 70-80...

Laura disse...

Felipe, lembrei de um outro filme do mesmo ano que tem algo em comum com esse, aí resolvi fazer um comentário um pouco mais longo do meu blog. Depois dá uma olhada:
http://www.cinequanon.art.br/medodoque/?p=308

Marcelo Carrard disse...

Sensacional o texto, adorei o filme que para minha surpresa passou essa semana no Canal Brasil.

Anônimo disse...

Quem dublou o Steffen foi mesmo o André Filho?

Cirlandio Rodrigues disse...

Onde posso baixar esse filme?

Anônimo disse...

onde encontro este filme? fiquei com vontade de ve-lo
alguem tem algum link para download? ou mesmo algum lugar onde posso compra-lo? procurei no submarino e na livraria cultura e nao encontrei

Jully disse...

Eu já quase o vi no Canal Brasil, mas estava quase dando 4:00, e ai eu fui dormir, mas as partes que eu vi, foram muito boas! Adorei!

Ernesto D.C. disse...

Seu blog é excelente, Felipe...
E pra quem deseja um link para baixar, aquí vai ele:
http://avoltadosmortosvideos.blogspot.com/2010/10/momentos-de-prazer-e-agonia-1983.html?zx=b6ca5f2553f23d81

Anônimo disse...

Boa tarde:

Mais um TRISTE exemplo do cinema brasileiro... Qual a lógica/intenção? Pode até ter um bom elenco - só que a (quase?) história; só para os (...) mesmo!
Acho que o que se salva (ou MENOS PIOR!) são os RIOS/A NATUREZA MOSTRADA... Quem dera se o mundo fosse só assim.

Abraço,
Krima 0.

Anônimo disse...

camarada rapaz esse filme é um exemplo de que é muito melhor do que muitos filmes eróticos do que eu já vi, rapaz esse filme foi produzido pro camarada ficar se masturbando o filme inteiro hehe

Unknown disse...

Vai passar hoje no cinebrasiltv as 00:00, vou conferir!!!

Unknown disse...

Um excelente filme de Suspense/Pornochanchada nacional! merece respeito. pena que no Brasil ainda não se dê importancia e seja raro ter bons filmes como esse.

Anônimo disse...

...caraÇa? Até bom rir em uma situação degradante.
Como alguém comenta, qual seria o nexo da pseudo produção?!
Alias a década marcou o gênero. Inclusive quando zapeio em canais POLÊMICOS até sinto algo ruim. Onde menos pior que a tal CADEIA ALIMENTAR.
Alguns artistas até poderiam se dar bem (ou NORMAL) na carreira se não tivessem a MARCA REGISTRADA no tipo. E que tipo.
Confesso se encontrasse o tal diretor daria um baita sermão.

* Costumo dizer o o gênero é UMA PERVERSÃO DO CINEMA DO PAÍS. Ainda mais de QUEM CRIA.

José Bezerra de Oliveira disse...

Volta, Felipe!