Esta é uma postagem duplamente histórica:
primeiro, porque comemora os 200 anos da publicação da primeira edição de
"Frankenstein", de Mary Shelley; segundo porque traz o filme mais
antigo já resenhado pelo FILMES PARA DOIDOS em seus dez anos de vida!
Em 1º de janeiro de 1818, a pequena editora
londrina Lackington, Hughes, Harding, Mavor & Jones publicou, em três
volumes, um curioso romance chamado "Frankenstein, ou O Prometeu
Moderno", sobre um estudante de Medicina que resolve brincar de Deus e
restituir vida a uma criatura de fabricação própria, o que resulta numa série
de horrores inimagináveis. Ninguém sabia à época, já que a obra foi publicada
anonimamente, mas sua autora era uma jovem de 20 anos chamada Mary Shelley.
(No século 19, mulheres escritoras ainda
estavam associadas a romances água-com-açúcar. Por isso, muitas autoras optavam
por publicar histórias que fugiam a este padrão anonimamente, ou com
pseudônimos masculinos, para evitar que fossem um fracasso de vendas. O mesmo
aconteceu com a primeira edição de "O Morro dos Ventos Uivantes", que
Emily Brontë foi obrigada a assinar como homem, "Ellis Bell".)
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A história de como nasceu
"Frankenstein", numa inocente brincadeira no verão de 1816, envolvendo a criação de
contos de terror entre quatro jovens escritores ou simpatizantes da literatura
(Mary, seu futuro marido Percy Shelley, o poeta maldito Lord Byron e seu
médico, John Polidori), já foi fartamente recontada e dispensa maiores
recapitulações. Para quem não conhece, existem nada menos de TRÊS filmes sobre o
episódio: "Gothic" (1986), de Ken Russell; "Primeiro Verão de
Amor / Haunted Summer", de Ivan Passer, e "A Verdadeira História de
Frankenstein / Remando al Viento" (ambos de 1988), dirigido por Gonzalo
Suárez, onde a autora foi interpretada, respectivamente, por Natasha
Richardson, Alice Krige e Lizzy McInnerny.
Fato é que ninguém podia esperar que uma
novata como Mary fosse superar autores experientes como Lord Byron e Percy
Shelley (que, a bem da verdade, não escreveram porra nenhuma naquele lendário encontro),
e que "Frankenstein" se tornaria um dos grandes clássicos da
literatura de horror.
Nem o livro foi a primeira história de ficção
científica já escrita, nem Mary Shelley foi a primeira escritora de horror,
como atestam alguns textos lacradores que a gente lê por aí, mas tanto
"Frankenstein" quanto Mary Shelley têm méritos inquestionáveis e não
precisam cobrar qualquer pioneirismo para tal.
Para comprovar, logo começaram a aparecer
bem-sucedidas versões para o teatro, onde o drama era encenado usando-se as
mais diversas liberdades poéticas. Uma das mais famosas adaptações foi
"Presumption!; or the Fate of Frankenstein", escrita pelo dramaturgo
inglês Richard Brinsley Peake e encenada entre 1823 e 1827 (clique no flyer ao lado para ampliar). Consta que a
própria Mary Shelley viu a peça e aprovou as mudanças - entre elas, a criação
de um assistente corcunda para o Dr. Frankenstein, chamado Fritz, que
"espiava" e descrevia o processo de criação do monstro para a
plateia - como seria muito difícil encenar o momento com os recursos da época, ele acontecia "fora do palco". Também foi Peake o autor de
uma das falas mais famosas relacionadas à história, o “It lives!” exclamado
pelo Dr. Frankenstein e nunca mencionado no livro (e que no cinema virou o
famosíssimo “It's alive!”). Durante anos, a peça foi uma referência para todas as futuras adaptações de "Frankenstein", e não a obra original de Mary Shelley.
O sucesso nos palcos fez com que
"Frankenstein" fosse republicado primeiro em 1823 - desta vez com a autoria de Mary Shelley creditada na capa -, e depois em 1831, numa
versão revisada e radicalmente alterada por ela, que é o livro que todos
conhecemos e que vem sendo republicado até hoje.
Com isso, saltamos no tempo para o início do século
20, quando uma nova mídia, o cinematógrafo, estava virando uma sensação no
mundo inteiro. Inicialmente considerado uma arte "menor" em
comparação ao teatro e à ópera, ou algo menos nobre para consumo das massas, o
cinema surgiu exibindo pequenos curtas com alguns poucos segundos ou minutos, e
que, sem cor ou som, se contentavam em retratar imagens em movimento, fatos
importantes ou piadas simples, ao invés de narrativas elaboradas.
Mas logo alguns pioneiros viram nesta nova
mídia uma ferramente incrível, que permitia recursos que o palco, ao vivo, não
suportava. Enquanto o francês Georges Méliès fazia filminhos com trucagens
"mágicas" e efeitos especiais como o clássico "Viagem à
Lua", de 1902 (imagem acima), o norte-americano Edwin S. Porter refinava a linguagem
cinematográfica em "O Grande Roubo do Trem" e "Vida de um
Bombeiro Americano" (ambos de 1903).
Porter foi um dos primeiros a usar movimentos
de câmera, montagem paralela para mostrar diferentes situações que aconteciam
num mesmo momento, e até closes dos protagonistas. Por mais que tudo isso
possa parecer comum hoje, os filminhos do chamado "Primeiro Cinema"
eram rodados como se fossem peças de teatro, com a câmera fixa registrando o
cenário inteiro, tipo um palco onde os atores entravam e saíam sendo retratados
de corpo inteiro.
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E onde entra "Frankenstein" nessa
história? Calma, calma, estamos quase chegando lá...
Eis que Edwin S. Porter trabalhava para a
Edison Manufacturing Company, empresa que pertencia a um certo Thomas Alva
Edison - sim, aquele sujeito que inventou e/ou patenteou mais de 2.000
invenções, incluindo a lâmpada elétrica e o fonógrafo, e melhorou outras já
existentes, como o telefone e a máquina de escrever.
Edison também estava por trás da criação do
cinematógrafo nos Estados Unidos, equipamento que era ao mesmo tempo câmera de
filmagem e projetor, e ainda montou uma produtora para rodar os filmes que
abasteciam esta tecnologia - produções curtas, de no máximo 10 minutos, que
ocupavam um único rolo de negativo e por isso ficaram conhecidas como "one-reelers" (de reel, rolo ou bobina em inglês). Acreditava-se que
o público perderia o interesse se os filmes fossem mais longos do que isso.
Imagine se um viajante do tempo apresentasse Béla Tarr e seus filmes de sete
horas aos coitados...
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Uma "sessão de cinema" do início do
século 20 consistia em vários destes one-reelers, como se fosse uma seleção de
curtas, com duração média de 45 minutos e acompanhamento musical ao vivo por
uma pequena orquestra para compensar a inexistência de som. Era preciso ter uma
produção constante para satisfazer o interesse dos espectadores, que não
gostavam de ver o mesmo filme mais de uma vez. Para o leitor ter uma ideia, em
1910 já havia quase 9.500 salas de cinema espalhadas pelos Estados Unidos, com
em média 200 poltronas, onde 2 milhões de espectadores assistiam filmes todo
dia pagando ingressos que custavam cinco centavos.
A Edison Company foi uma das primeiras a
encarar o cinema como indústria, e seus estúdios eram autênticas fábricas onde
filmes eram rodados em linha de produção - filmados num dia, editados na semana
seguinte e exibidos duas semanas depois. Tinha trabalho suficiente para
diretores, roteiristas, operadores de câmera e editores, mas os donos de
estúdio costumavam ter problema para encontrar atores. Afinal, como já foi
dito, o cinema era considerado populacho, e atores "de teatro" que
migrassem para os filmes ficavam queimados e não conseguiam mais papéis em
peças "de verdade".
Edison conseguiu contornar este problema em
1908, construindo um estúdio na Decatur Avenue, no Bronx, bairro de Nova York
que ficava distante dos grandes teatros, e para onde os atores e atrizes podiam
se esgueirar sorrateiramente para fazer filmes sem medo de perder papéis em
"respeitosas" peças teatrais. E ainda ganhavam um cachê rápido e
fácil, pois as filmagens costumavam durar um dia e não era preciso decorar
falas.
O fato de que, na época, ninguém ganhava crédito no cinema (nem o diretor, nem os atores, somente a companhia produtora) ajudava a manter uma espécie de anonimato para quem não queria acabar queimado na praça, mas havia aqueles que se orgulhavam do seu trabalho cinematográfico e pagavam anúncios em jornais, do próprio bolso, para anunciar a estreia do próximo one-reeler onde teriam papel relevante. Que tempos...
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O fato de que, na época, ninguém ganhava crédito no cinema (nem o diretor, nem os atores, somente a companhia produtora) ajudava a manter uma espécie de anonimato para quem não queria acabar queimado na praça, mas havia aqueles que se orgulhavam do seu trabalho cinematográfico e pagavam anúncios em jornais, do próprio bolso, para anunciar a estreia do próximo one-reeler onde teriam papel relevante. Que tempos...
E eis que em determinado momento os estúdios
de Edison decidiram que seria uma boa ideia adaptar "Frankenstein"
para o cinema. Mas como transformar um livro de 200-e-poucas páginas num filme
de no máximo 10 minutos, e numa época em que não apenas a linguagem
cinematográfica estava nascendo e se desenvolvendo, mas também os efeitos
especiais, cenários e demais recursos que um trabalho como este exigiria? Pois
é, não se pode dizer que os caras não gostavam de desafios...
Lembra do pioneiro Edwin S. Porter, citado lá
em cima? Bom, ele não tem nada a ver com esta história; mas um diretor de
teatro chamado James Searle Dawley, sim.
Acontece que o velho Edwin estava anos-luz à
frente do seu tempo e mais preocupado com
a LINGUAGEM do cinema do que com chatices como dirigir atores, o que nem
adiantava de muita coisa porque os filmes eram mudos mesmo. Assim, enquanto
Porter se ocupava com questões como orientar o operador de câmera para fazer um
bom enquadramento e filmar a "ação", resolveu arrumar um assistente
para trabalhar a parte "emocional" com os pobres atores.
O assistente foi James Searle Dawley,
contratado em 13 de maio de 1907. Ele dirigia e escrevia teatro desde 1895, mas
há algum tempo vinha se interessando por esta novidade chamada cinema, e aproveitou
para aprender a parte técnica com Porter. Quando a produção de filmes começou a
aumentar, e foi preciso destacar mais gente com um mínimo de noção para
filmá-los e produzi-los, Dawley foi rapidamente promovido de assistente a
cineasta.
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Neste período do Primeiro Cinema (que
convencionou-se datar entre 1895 e 1911), diretores exerciam também as funções
de roteiristas e de produtores, controlando todos os detalhes de seus filmes
MENOS a rodagem, que ainda era feita por um operador de câmera. "Direção
de fotografia" era novidade e o operador costumava apontar a câmera e
filmar o que o diretor mandava, ponto final. Já os "roteiros" da
época eram mais indicações para câmera e posicionamento dos atores em cena, sem
diálogos.
Em seus primeiros trabalhos, Dawley tentou
"copiar" o cinema do seu mentor Porter. Vide "Rescued from an Eagle's Nest" (1908), uma aventura cheia de trucagens sobre um lenhador
que precisa salvar um bebê levado por uma águia. Com 6 minutos de duração, o
filme notabilizou-se por ser a primeira experiência no cinema, ainda que como
ator (interpretando o pai do bebê), de um certo David Wark Griffith, que depois
se tornaria D.W. Griffith, um dos grandes gênios entre os primeiros cineastas.
Levando além aquelas técnicas introduzidas por Edwin S. Porter, Griffith
posteriormente dirigiu os blockbusters do Primeiro Cinema, como os polêmicos
"O Nascimento de uma Nação" (1915) e "Intolerância" (1916).
Depois de dois ou três filmes, o novato Dawley
resolveu desenvolver seu próprio estilo. E como vinha do teatro, preferiu
distanciar-se das inovações técnicas e narrativas de Edwin Porter para encarar
os filmes como peças filmadas (uma adaptação literal da maneira como as
produções eram chamadas em inglês, "photo-plays"), em que toda a ação
se desenvolvia num plano geral com câmera fixa e em frente a um cenário
pintado. Também começou a assinar como J. Searle Dawley, porque naqueles tempos era chique abreviar um dos nomes, tipo Edwin S. Porter, Cecil B. De Mille ou D.W. Griffith (mas não tenho muita moral para ironizar a prática quando eu mesmo assino Felipe M. Guerra!).
Perdeu-se na poeira do tempo quem foi que teve a bendita ideia de adaptar Mary Shelley para as telas. Será que foi o diretor Dawley, que até então só tinha encarado projetos menores e mais populares? O próprio Thomas Edison, tentando levar grandes obras literárias para o cinema para melhorar a moral desta nova mídia e colocá-la pau a pau com o teatro e os grandes espetáculos de ópera? O chefe do estúdio Horace Plimpton, que era o grande responsável por sugerir e aprovar temáticas para as produções da Edison Company?
Outro mistério é como um relativo novato, tipo J. Searle Dawley, ficou a cargo de um projeto tão desafiador tecnicamente e visualmente, ao invés de algum veterano já escolado nas técnicas cinematográficas como Edwin Porter.
Outro mistério é como um relativo novato, tipo J. Searle Dawley, ficou a cargo de um projeto tão desafiador tecnicamente e visualmente, ao invés de algum veterano já escolado nas técnicas cinematográficas como Edwin Porter.
Porque o primeiro Frankenstein do cinema - que a
partir de agora chamaremos de EDISON'S FRANKENSTEIN porque foi assim que se
popularizou - era radicalmente diferente de tudo que se fazia na época. Naqueles tempos ainda
não se filmava "terror", e caras como Méliès tinham usado bruxas,
demônios e esqueletos apenas para fins cômicos em produções bobinhas como
"Le Manoir du Diable" (1896) e "Le Château Hanté" (1897). A adaptação de "Frankenstein", porém, era um drama sério e macabro. O cinema nunca mais seria o mesmo depois dele.
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Enquanto
o tempo médio para filmar os one-reelers da Edison Company
era de um dia, a adaptação de Mary Shelley por J. Searle Dawley levou
praticamente uma semana - um luxo para o período, ainda mais considerando que
todo mundo era pago por dia!
De acordo com documentos da Edison Company
depositados no Museu de Arte Moderna de Nova York, o "roteiro" de
EDISON'S FRANKENSTEIN foi submetido à chefia do estúdio no início de janeiro de
1910 e aprovado imediatamente. Vinte cenas estavam previstas, e o orçamento do
filme inteiro não podia passar de 500 dólares (!!!). Só o diretor Dawley
embolsou 60 dólares pela semana de trabalho.
O período completo de produção do filme foi
entre 13 e 19 de janeiro, pouco tempo após a aprovação do roteiro (ah, se hoje
as coisas andassem assim tão rápido...). As filmagens aconteceram nos dias 13,
15 e 17 daquele mês, com os demais dias sendo utilizados para a montagem e
preparação dos cenários e, possivelmente, para a realização das cenas com
"efeitos especiais". Sabe-se que Dawley viajou para Cuba para filmar
outro projeto já em 19 de janeiro, e EDISON'S FRANKENSTEIN já estava pronto e
editado em 28 de janeiro, quando os negativos em preto-e-branco foram tingidos
para dar uma ilusão de cor, uma prática comum na época - cenas noturnas eram
pintadas de azul, por exemplo.
Para one-reelers de história mais
longa, já se costumava utilizar algumas legendas de tela inteira, que dividiam
a narrativa em capítulos e explicavam as ações que iriam se desenrolar (nas
histórias ainda mais complexas que surgiriam posteriormente, estes títulos
também apresentavam os diálogos dos atores). E EDISON'S FRANKENSTEIN ficou
longo MESMO: inacreditáveis 12 minutos de duração, praticamente um épico para o
período!
Completamente filmada em estúdio, a trama se
desenvolve em quatro cenários, que foram construídos numa mistura de móveis,
portas e acessórios verdadeiros com outros pintados.
O filme começa com a legenda informativa
“Frankenstein parte para o colégio”, apresentando o primeiro cenário - a
entrada da casa da família Frankenstein, de onde o jovem Victor (seu nome nunca
é citado nas legendas) parte para realizar seus estudos (em Medicina, conforme
sabemos pelo livro), e para onde volta numa cena posterior que se passa dois anos depois.
Já foi comentado sobre a dificuldade que era o
processo de filmagem no período, portanto a câmera que estava montada e
posicionada para filmar a SAÍDA de Victor de casa também registrou os planos
seguintes para a cena posterior da sua ENTRADA quando ele retorna dois anos depois. E duvido que os
espectadores da época tenham percebido que os atores continuam com as mesmas
roupas mesmo que 24 meses tenham se passado. Sabe como é, o pessoal tinha outras preocupações em 1910 para ficar procurando erros de continuidade em one-reelers...
Um considerável salto temporal condensa as
primeiras 60 páginas do livro em um minuto (!!!), e a legenda seguinte diz
“Dois anos depois, Frankenstein descobriu o mistério da vida” - assim como,
tenho certeza, muitos de vocês também fizeram em seus primeiros anos na faculdade.
Vemos o jovem Victor sentado no segundo cenário, seu laboratório, decorado com
crânios, cabeças mumificadas, esqueletos de animais, tubos de ensaio e até um
corvo empalhado. Ele estuda um crânio e tem uma revelação - certamente o
"mistério da vida" citado pela legenda, mas infelizmente não se
preocupa em dar mais detalhes.
Agora vamos para o terceiro cenário, o dormitório de Victor, onde, pensativo, ele escreve uma carta para a amada (Elizabeth no livro, mas no filme seu nome não é mencionado), dizendo que naquela noite irá finalmente concretizar suas ambições de dar vida a um ser humano perfeito. Ah sim, também menciona casualmente que logo depois pretende voltar para casar-se com ela.
A carta é mostrada num plano de detalhe, tornando-se uma espécie de legenda explicativa por si só, e após uma segunda lida Frankenstein descarta a epístola e parte para realizar sua experiência, pois aparentemente não quer perder tempo caminhando até o correio. Elizabeth pode esperar.
Também é a primeira vez que a câmera abandona o formato teatral e se aproxima um pouco mais do ator, filmando-o do joelho para cima ao invés de enquadrar o corpo inteiro.
Agora vamos para o terceiro cenário, o dormitório de Victor, onde, pensativo, ele escreve uma carta para a amada (Elizabeth no livro, mas no filme seu nome não é mencionado), dizendo que naquela noite irá finalmente concretizar suas ambições de dar vida a um ser humano perfeito. Ah sim, também menciona casualmente que logo depois pretende voltar para casar-se com ela.
A carta é mostrada num plano de detalhe, tornando-se uma espécie de legenda explicativa por si só, e após uma segunda lida Frankenstein descarta a epístola e parte para realizar sua experiência, pois aparentemente não quer perder tempo caminhando até o correio. Elizabeth pode esperar.
Também é a primeira vez que a câmera abandona o formato teatral e se aproxima um pouco mais do ator, filmando-o do joelho para cima ao invés de enquadrar o corpo inteiro.
Voltamos ao segundo cenário, o laboratório,
mas agora em outro ângulo que não havia sido mostrado antes, onde há um
esqueleto completo sentado numa cadeira, frascos com substâncias químicas e o
que parece ser um grande contêiner (ou caldeirão de bruxo?) protegido por duas
portas de metal. É ali que se dará o experimento.
É chegada a hora de abrir um parêntese. Embora
tenha se eternizado na cultura popular (em grande parte por conta dos FILMES
posteriores, como o de 1931 com Boris Karloff) que a criatura de Frankenstein
foi reanimada por eletricidade, e mais especificamente por um raio, o livro de
Mary Shelley não descrevia exatamente como foi realizado o experimento. Ok, o
Victor Frankenstein literário chega a mencionar o galvanismo (geração de
correntes elétricas por meios químicos, das práticas do italiano Luigi
Galvani), mas também menciona as teorias do ocultista Cornelius Agrippa e do
alquimista Paracelso. Logo, a criação do monstro no livro pode muito bem ter
sido uma mistura de ciência e magia, da física e do profano!
Em EDISON'S FRANKENSTEIN, os realizadores preferiram não inventar muito: Frankenstein é visto misturando produtos químicos e/ou mágicos numa vasilha, como se estivesse seguindo uma receita de bolo, e depois jogando-os no contêiner/caldeirão, o que inicia uma reação em cadeia (mágica? química?), levantando uma grande nuvem de fumaça que lembra, vejam só, um cogumelo atômico - décadas antes de um cogumelo atômico existir!
Victor então fecha as portas de contenção e a
câmera se aproxima um pouco mais dos atores e do cenário (um recurso que não
foi usado até então, com exceção do plano de detalhe da carta), para que o
espectador possa testemunha Frankenstein observando o surgimento de sua
criatura através de uma pequena abertura numa das portas.
O que acontece em seguida é a grande cena de
EDISON'S FRANKENSTEIN, e algo tão simples quanto eficiente: o diretor Dawley e
sua trupe filmaram um boneco queimando lentamente, enquanto alguém movia um dos
braços para cima e para baixo com fios metálicos. Depois, estas imagens foram
utilizadas em "reverse" (de trás para frente) e aceleradas na
montagem, e o que vemos é um bonecão SE ERGUENDO das chamas ao invés de
sucumbir a elas!
Diante dos olhos certamente estupefatos do público de 1910, o material que recobre o esqueleto volta a se materializar, partes que caíram retornam ao lugar, o fogo e a fumaça parecem ENTRAR no monstro ao invés de sair... Toda esta cena foi depois tingida de vermelho, ganhando ares espectrais; funciona muito bem e deve ter aterrorizado nossos bisavós. Verdade seja dita, o efeito engana até hoje, e me lembrou uma versão pré-histórica do ressurgimento de Frank Cotton em "Hellraiser" (1987), de Clive Barker.
Neste ponto, chegamos no segundo desafio de
EDISON'S FRANKENSTEIN: criar um visual para a criatura num momento em que o
cinema ainda não tinha mostrado muitos monstros.
Antes de mais nada, esqueça aquela ideia de
que o monstro de Frankenstein foi montado com pedaços de diversos cadáveres,
pois esta é outra imagem popularizada pelos filmes feitos posteriormente e que
não consta no livro. Mary Shelley foi esperta o suficiente para nunca explicar
como Victor construiu seu ser humanóide. O personagem diz ter escolhido
“membros proporcionais e traços belos”, mas pode estar se referindo tanto a pedaços de corpos humanos quanto a peças orgânicas e/ou mecânicas que o próprio Frankenstein construiu de alguma maneira. E o mais perto de uma descrição da
criatura é: “A pele amarela mal encobria a atividade dos músculos e das
artérias; o cabelo era comprido e de um preto lustroso; os dentes, de um branco
perolado; mas esses luxos só formavam um contraste mais horrendo com os olhos
aguados, que pareciam quase da mesma cor dos buracos acinzentados nos quais
estavam cravados, e com a compleição enrugada e lábios pretos retos”.
Mais fiel à descrição do livro do que aos
quebra-cabeças de cadáveres que o cinema mostraria depois, a criatura de
EDISON'S FRANKENSTEIN é um gigante desengonçado com cabelos longos, olhos
escurecidos, mãos esqueléticas com longos dedos pontudos (12 anos antes do "Nosferatu"
de F.W. Murnau!), vestido com trapos e enrolado com cordas. Sim, hoje é
caricatural, mas deve ter dado um cagaço no público de 1910!
Seguindo fielmente a trama do livro, a legenda
nos informa que “Frankenstein se apavora diante de sua criação maligna”. Só que
no filme Victor ingenuamente foge para o quarto acreditando que tudo ficará bem
pela manhã! Corta de volta para o cenário do dormitório, onde o protagonista
tenta tirar uma soneca para esquecer da burrada cometida. Pena que a criatura
apareça de maneira quase espectral sobre a cama, numa imagem que depois seria
repetida 'n' vezes em filmes do gênero - não lembra Freddy Krueger "saindo
da parede" sobre a cama onde Nancy dorme no primeiro "A Hora do
Pesadelo"?
Finalmente retornamos para o cenário da casa
da família Frankenstein, conforme explicado antes, quando Victor reencontra os
pais e todos vestem as mesmas roupas de quando ele saiu para estudar dois anos
antes.
É quando EDISON'S FRANKENSTEIN nos leva para o
último e mais importante cenário da trama, a sala de estudos do casarão da
família, onde se desenrola o ato final deste drama. Também é quando a narrativa
cinematográfica mais se distancia do livro de Mary Shelley e das adaptações
seguintes.
Na história original, Victor volta para casa
sendo perseguido pelo monstro que criou. Após aprender a ler e falar durante o
tempo que passa escondido numa fazenda, o monstro mata o irmão mais novo do
criador e ainda ameaça matar sua noiva Elizabeth, caso ele não lhe construa sua
própria companheira. Frankenstein recusa, com resultados fatídicos. Ora, todos
vocês conhecem a história, do livro ou de algum dos filmes...
Em EDISON'S FRANKENSTEIN a criatura também
segue Victor até a casa dos pais, mas seu período de aprendizado na fazenda é
sumariamente ignorado e o monstro não mata ninguém, muito menos uma criança - o
que poderia chocar além da conta o público de 1910.
No lugar dos homicídios, o diretor Dawley
compõe uma sequência de cenas utilizando um curioso efeito: Victor Frankenstein
aparece numa sala, sentado no canto esquerdo do quadro, e todos os personagens
que entram no cenário aparecem primeiro refletidos num espelho que está no
canto direito do quadro e acaba se transformando num quarto personagem da trama - já que o protagonista interage com os
reflexos. É um enquadramento curioso e ousado, ainda mais numa época em que
estas coisas costumavam confundir o público. E ao mesmo tempo prepara o
espectador para uma inesperada reviravolta final...
Na tal sala, Victor primeiro interage com a
noiva, e depois com a criatura, que vem entrando tranquilamente pela porta.
Como ela chegou aí e como entrou com tamanha facilidade na casa? Uma possível
explicação para o fenômeno virá em seguida...
Se no livro a criatura matava, aqui ela teme
outros humanos que não sejam o seu criador. Quando Elizabeth entra no recinto,
o monstro se esconde atrás de uma cortina, de onde observa o casal - inclusive
refletido no espelho, para que o trio de protagonistas seja inteiramente
mostrado em cena, deve ter dado um trabalhão para o operador de câmera conseguir colocar o trio de atores no local certo para que eles e seus reflexos aparecessem direitinho no enquadramento.
A trama se encaminha para o desfecho com o
casamento de Victor e Elizabeth, que reúne uma pequena multidão de figurantes
não-creditados no cenário da entrada da casa. Mas a criatura novamente invade o
local quando os recém-casados estão a sós.
Não fica claro se Elizabeth chega a ver o
monstro, mas ela desmaia de medo e uma legenda anuncia que “A criação de uma
mente maligna é superada pelo amor e desaparece”. Assim, numa conclusão
surrealista, a criatura vê seu reflexo naquele mesmo espelho mostrado
anteriormente (agora filmado num enquadramento mais próximo) e
"desaparece", restando apenas o reflexo. Victor entra na sala, olha
para o espelho e, ao invés do próprio reflexo, enxerga a criatura. Então esta
também desaparece e Frankenstein recupera o próprio reflexo. Feliz, ele abraça
a noiva e o filme termina.
A bizarra resolução final de EDISON'S
FRANKENSTEIN (que, é bom lembrar, não tem absolutamente nada a ver com a conclusão do livro) leva a duas conclusões possíveis. A primeira é aquela anunciada
pela legenda explicativa, de que a criatura maligna foi vencida pelo amor; ela
não seria, então, um monstro "físico", mas uma espécie de entidade
maligna e incorpórea criada por Frankenstein e destruída pela força do amor. Não faz muito sentido, mas era a forma mais rápida e prática para resolver o dilema sem apelar para a violência.
A segunda conclusão, muito mais interessante,
é que estamos diante de um dos primeiros finais-surpresa da história do cinema
estilo “Era ele o tempo todo”: o monstro nunca existiu e era uma projeção da
mente doentia de Victor Frankenstein - um lado sombrio/malvado, tipo em "O Médico e o Monstro", ou até uma segunda personalidade projetada tipo Tyler
Durden em "Clube da Luta", digamos. E quando o protagonista se dá
conta disso, o reflexo da criatura que só ele vê desaparece do espelho e ele
volta a enxergar a si próprio! Não sei vocês, mas prefiro esta versão dos
fatos.
É óbvio que produções dos primórdios do cinema
não devem ser assistidas e muito menos analisadas como os filmes
"modernos", e EDISON'S FRANKENSTEIN não é exceção. Sem o som e sem
diálogos para recitar, os atores precisavam exagerar nas pantomimas e na
linguagem corporal para transmitir emoções ao público, e isso muitas vezes
resulta em gestuais exagerados e extremamente artificiais mesmo para filmes do
período.
Mas são perceptíveis os esforços de todos para
apresentar em imagens uma história com elementos fantásticos sem sacrificar a
narrativa em prol dos efeitos especiais. Os cenários e figurinos são bem
detalhados, o visual da criatura é interessante e há algumas ideias bastante
originais e criativas para a época, que tornam o filme curioso até para
espectadores modernos e já acostumados a inúmeras versões de
"Frankenstein".
Conforme já foi mencionado, ninguém além da
companhia produtora ganhava crédito nos filmes da época. Os atores até
preferiam, pois assim podiam não ficavam estigmatizados como "intérpretes
de cinema", mas o real motivo da prática era que os estúdios temiam criar
um "star system", e que os astros e estrelas que caíssem no gosto do
público passassem a cobrar mais caro para aparecer nos filmes - o que
eventualmente acabou acontecendo.
Claro que quem ia aos cinemas com mais
frequência acabava identificando caras e estilos de interpretação dos atores, e
os reconhecia em produções seguintes mesmo sem saber seus nomes. Era questão de
tempo para que começassem a ganhar crédito, o que passou a acontecer já no ano seguinte
(1911).
Em EDISON'S FRANKENSTEIN, o papel título de
Dr. Frankenstein ficou com Augustus Phillips (1874–1952), um experiente ator de
teatro, então com 36 anos, que fazia sua estreia no cinema. Ele iniciou a
carreira nos palcos em 1894, onde interpretou cerca de 500 papéis principais
nas mais variadas peças. O motivo para ter trocado o teatro pelo cinema não
teve nada a ver com dinheiro: Phillips estava perdendo a visão!
Numa entrevista à Photoplay Magazine de
novembro de 1914, onde falava sobre sua carreira, o ator contou que nunca
abandonaria os palcos se não fosse pelo problema nos olhos, surgido após anos
lendo e estudando suas falas à luz de velas em teatros mal-iluminados. Porém,
como todos os intérpretes que migravam para a nova mídia, ele reclamava das
longas horas que tinha que ficar parado no set de filmagem, esperando câmera e
cenários serem preparados entre as cenas.
Phillips ganhou o papel de protagonista de
EDISON'S FRANKENSTEIN por indicação do diretor Dawley, que já conhecia seu
trabalho nos palcos, e a partir de então tornou-se parte do elenco fixo da
Edison Company e nunca mais abandonou o cinema. Apareceu em mais de 150
filmes e aposentou-se no começo dos anos 1920, antes da chegada do som ao cinema. Ironicamente, do trio principal de atores ele é o mais exagerado,
abusando dos cacoetes - como o repetido esfregar de mãos antes de realizar
qualquer tarefa, seja escrever uma carta, seja iniciar o experimento que dará
vida à criatura.
Por falar nela, quem terá sido o primeiro ator
a encarar o monstro que depois seria eternizado por Boris Karloff, e
interpretado por grandes nomes como Christopher Lee e Robert DeNiro?
A honra coube a Charles Ogle (1865–1940),
filho de um pastor de Ohio que abandonou os púlpitos para virar ator. Ogle
tinha 44 anos, por coincidência a mesma idade de Karloff ao interpretar a
criatura no filme de 1931, e provavelmente foi escolhido não apenas por ser um
intérprete experiente, mas também pela altura e rosto bem característicos, com
queixo e nariz grandes, e pelo talento para trabalhar com maquiagem facial, que
ele mesmo fazia.
O futuro Frankenstein fez diversas peças da
Broadway, quando tornou-se amigo de uma futura estrela do cinema mudo, Mary
Pickford. A troca dos palcos pelos filmes aconteceu em 1908, e depois do seu
trabalho na Edison Company o ator seguiu trabalhando em produções da Universal
e da Paramount, onde foi dirigido por grandes nomes da época, como Cecil B. De
Mille. Embora difícil de estimar hoje, Ogle teria aparecido em mais de 300
filmes, igualmente abandonando o cinema quando este passou de mudo a falado.
Charles Ogle pode não ser o protagonista, mas
tem o papel mais importante de EDISON'S FRANKENSTEIN. Hoje é impossível
confirmar se foi ele mesmo o responsável pelo visual e maquiagem da criatura
(prática comum na época), mas deve pelo menos ter dado seus palpites. Vinte
anos antes da famosa versão da Universal, o monstro de Ogle já apresenta a
característica testa larga, embora o cabelo curto de Karloff em 1931 tenha sido
preterido por uma longa cabeleira arrepiada, lembrando mais a descrição da
criatura no livro de Mary Shelley.
O terceiro nome identificável do
elenco é o de Mary Fuller (1888–1973) como a amada de Victor Frankenstein, que
no filme é identificada apenas como "Sweethart" na carta escrita por
ele, mas sabemos chamar-se Elizabeth por causa do livro. Esta bela moça de olhos grandes e tristes aparece apenas
no ato final e não tem muito a fazer além de ser a tradicional damsel-in-distress (dama em perigo) do período.
Assim como a xará Mary Pickford e Lillian
Gish, Mary Fuller foi uma das primeiras estrelas dos primórdios do cinema a ser
reconhecida como tal, recebendo centenas de cartas de fãs e admiradores toda
semana, e aparecendo com frequência nas capas das primeiras revistas sobre
celebridades. Não por acaso, também teve a distinção de ser uma das primeiras
atrizes com nome citado nos créditos iniciais de um filme (isso aconteceu
em "Aida", de 1911).
Mary tinha 21 anos quando apareceu em EDISON'S
FRANKENSTEIN e também começou sua carreira artística como atriz de teatro. Fez
seu primeiro filme em 1907 ("The Ugly Duckling", de Fred Thompson),
em 1909 passou a integrar a trupe da Edison Company, e por volta de 1914,
quando foi contratada pela Universal, era considerada a atriz mais famosa em
atividade.
Sua carreira no cinema somaria, dependendo da
biografia que você pesquisa, entre 300 e 500 filmes, quase todos considerados
perdidos atualmente, e teve um desfecho terrível. Começou com seu misterioso desaparecimento
no auge do sucesso, em 1917. Revistas como a Photoplay Magazine eram
bombardeadas com cartas de fãs querendo saber seu paradeiro, mas na época não
era tão fácil encontrar uma pessoa sumida como é hoje.
Em 1924, o repórter Frederick James Smith
iniciou uma obsessiva investigação e descobriu que Mary vivia reclusa com a mãe
em Washington. Aparentemente, ela havia sofrido um colapso nervoso e se
recolhido voluntariamente para o anonimato. Depois de ser redescoberta pela imprensa,
Mary fez uma tentativa fracassada de retomar sua carreira em 1926, mas nenhum
estúdio deu bola para a ex-celebridade. Assim, Mary Fuller voltou a sumir, desta
vez para sempre. Muito tempo depois, descobriu-se que ela passou seus últimos
25 anos internada num manicômio, onde morreu esquecida aos 85 anos. Para tornar seu fim ainda mais melancólico, aquela que foi uma das primeiras estrelas do cinema norte-americano acabou sepultada numa cova coletiva e sem identificação.
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Mary Fuller era a rainha das capas de revista no auge da carreira |
Finalmente, o principal responsável por EDISON'S FRANKENSTEIN, o diretor J. Searle Dawley (1877–1949), teve uma carreira bem-sucedida naqueles primórdios do cinema, trabalhando com alguns dos grandes astros da época. Foi ele que deu o primeiro papel ao grande ator John Barrymore (em "An American Citizen", de 1914), e dirigiu os primeiros trabalhos da estrela Mary Pickford, além de apresentá-la ao seu futuro marido Douglas Fairbanks. Por causa do pé-quente, em 1918 chegou a ser chamado de "O Homem que Cria Astros Famosos" pela imprensa.
A partir dos anos 1920, Dawley deixou o cinema
para escrever para a nova mídia favorita dos Estados Unidos: o rádio. Assim
como seus três atores principais em EDISON'S FRANKENSTEIN, à época de sua morte
Dawley já estava completamente esquecido por todos, apesar de ter sido um
grande nome no seu tempo. Pouquíssimos dos quase 200 filmes que dirigiu entre
1907 e 1926 sobreviveram. Pode-se dizer que o cinema falado não foi generoso com os pioneiros do cinema mudo, matando e sepultando vários dos seus grandes nomes.
Embora o conceito de "blockbuster"
não existisse no começo do século passado, EDISON'S FRANKENSTEIN recebeu um
tratamento diferenciado pela Edison Company não apenas durante a filmagem, mas
também no lançamento, marcado para 18 de março de 1910 em várias salas do país,
de Nova York a San Francisco.
Trinta filmes estreariam na mesma semana, e durante o mês de março a própria Edison Company tinha programado os lançamentos do documentário "Fruit Growing, Grand Valley, Colorado", das comédias "A Mountain Blizzard", "The Man with the Weak Heart", do drama "A Western Romance" (dirigido por Edwin S. Porter) e do policial "The Suit Case Mystery" (de Charles M. Seay), conforme mostra o anúncio da época ao lado (clique para ampliar). Mas sobreviveram algumas evidências de que EDISON'S FRANKENSTEIN foi a grande aposta da produtora naquele mês.
Trinta filmes estreariam na mesma semana, e durante o mês de março a própria Edison Company tinha programado os lançamentos do documentário "Fruit Growing, Grand Valley, Colorado", das comédias "A Mountain Blizzard", "The Man with the Weak Heart", do drama "A Western Romance" (dirigido por Edwin S. Porter) e do policial "The Suit Case Mystery" (de Charles M. Seay), conforme mostra o anúncio da época ao lado (clique para ampliar). Mas sobreviveram algumas evidências de que EDISON'S FRANKENSTEIN foi a grande aposta da produtora naquele mês.
Por exemplo, naquele mês o filme ganhou a capa
do "The Edison Kinetogram", o informativo oficial da Edison Company
sobre seus lançamentos. Era através da publicação que os donos de cinema
escolhiam quais produções da empresa iriam locar para exibir. O espaço de
destaque revela que a adaptação de Mary Shelley, anunciada como
"drama", era bem vista pela chefia.
Notícias oficiais sobre a produção (os
populares releases) também foram enviados para as primeiras publicações que se
ocupavam da nova mídia. O jornal nova-iorquino The Film Index, em sua edição de
5 de março de 1910, fala dos lançamentos vindouros da produtora. No segundo parágrafo, lê-se: “'Frankenstein', a famosa história da Sra. Shelley, será
lançado pela Edison Company muito em breve. As possibilidades desta história
bizarra, de um ponto de vista dramático e fotográfico, são tremendas, e em sua
realização a equipe da Edison não poupou esforços e nem recursos à disposição”.
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Referência à produção no The Film Index de 5 de março de 1910 |
Uma "reportagem" ainda maior aparece na edição do The Film Index de 12 de março sob o título “Frankenstein - O ambicioso esforço dos produtores da Edison deve atrair atenção generalizada” (abaixo). Os dois primeiros parágrafos apenas narram o filme inteiro, e o último tranquiliza os espectadores: “As situações repulsivas da história original foram cuidadosamente eliminadas da versão para o cinema, para que não possam chocar o público. Mas a força dramática desta história macabra manteve-se na dramatização, e podemos dizer que nenhum filme lançado até agora poderá superá-lo no fascínio que exercerá sobre o público”. O texto fecha fazendo propaganda do momento mais impactante do filme: “A cena no laboratório, em que o monstro vai gradualmente assumindo a forma humana, é provavelmente a mais impressionante já filmada”.
Se usei a palavra reportagem entre aspas no
parágrafo anterior é porque as publicações sobre cinema do período raramente
escreviam seus próprios artigos ou acompanhavam de perto as produções que
noticiavam, preferindo publicar ipsis litteris os releases de divulgação
enviados pelas companhias produtoras. Partes idênticas do mesmo texto (como o
alerta de que os trechos repulsivos foram eliminados, ou os elogios aos efeitos
especiais) também foram reproduzidos em outros periódicos, como o The Moving
Picture World de 19 de março.
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No dia seguinte à premiére, o The Film Index fez uma nova matéria sobre EDISON'S FRANKENSTEIN que se tornaria histórica (como veremos mais adiante) por reproduzir duas imagens de divulgação do filme. A "reportagem" repete o texto já conhecido e volta a bater na tecla de que a adaptação para o cinema retirou “tudo que poderia ser repulsivo para o público”. No último parágrafo, só elogios: “Para aqueles que não conhecem o livro, podemos dizer que o filme conta uma história intensamente dramática com o auxílio de alguns dos efeitos fotográficos mais incríveis já realizados”. E cita novamente a cena da reanimação como destaque: “A formação do terrível monstro num enorme caldeirão cheio de produtos químicos é provavelmente a mais estranha e fascinante cena de ilusão já mostrada num filme”.
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Algo parecido com uma crítica ou resenha contemporânea só aparece no The Moving Picture World de 2 de abril, e mesmo assim repetindo vários daqueles chavões presentes no release. Na coluna "Comentários sobre Filmes" (abaixo; clique na imagem para ampliar), o crítico anônimo escreveu: “A perturbadora história da Sra. Shelley foi aqui representada de maneira que atraia tanto os que leram a história quanto os que não a conhecem. (...) Todas as situações repulsivas e desagradáveis foram eliminadas, e apenas as partes dramáticas mantidas. Estas são vividamente encenadas, mantendo o interesse. A formação do monstro num caldeirão com produtos químicos é uma das melhores do gênero. O filme inteiro cria uma nova impressão das possibilidades do cinema como um meio de expressar cenas dramáticas. Muitas vezes o valor do filme em reproduzir estas histórias não é considerado, mesmo que possa fazer muito pela literatura nessa direção”.
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Uma semana depois, em 9 de abril, o mesmo The Moving Picture World traz outra resenha menos elogiosa, esta assinada por W. Stephen Bush (estou dizendo que havia alguma tara na época em abreviar um dos nomes!), que pode ser considerada uma das primeiras a mostrar preocupação com o que - e o quanto - o cinema poderia e deveria mostrar.
Bush escreveu: “Tenho sincera admiração
pelos estúdios Edison e Vitagraph, mas devo dizer, com o maior respeito a estes
distintos produtores, que filmes como 'Frankenstein' e 'The Mistery of Temple
Court', embora sejam material agradável para legistas, agentes funerários,
coveiros e auxiliares de necrotério, não agradam o público em geral. 'Não
agradam' é generosidade minha. (...) O realismo, que deveria ser o foco
principal em um drama, é sempre manipulado para resultar em algo perturbador,
para dizer o mínimo. Nunca vi nada repugnante ou medonho nos dramas ingleses,
franceses ou alemães. Caliban é um monstro muito diferente, e o único de
Shakespeare. Cenas de mortes ou execuções são interessantes historicamente e
quando bem descritas, mas poderiam muito bem dispensar a representação dessas
coisas na tela”. (Em "The Mistery of Temple Court", o outro filme
de 1910 mencionado pelo revoltado articulista, um vilão estrangula uma garota e
esconde seu corpo; tempos depois, o fantasma da moça aparece para indicar o
local onde seu cadáver foi escondido.)
Crítico incomodado com a representação do macabro no cinema, no The Moving Picture World de 9 de abril de 1910 |
Além destes textos, qualquer repercussão maior que EDISON'S FRANKENSTEIN tenha tido na época desapareceu completamente. Mas vale ressaltar que os filmes não eram tão comentados, resenhados e debatidos na imprensa de 1910 como começariam a ser na década seguinte. Segundo alguns pesquisadores, o filme não chegou a ser um grande sucesso de público, talvez porque, como o distinto W. Stephen Bush tentou explicar acima, os espectadores de princípios de século 20 ainda não estavam preparados para histórias de horror e preferiam comédias e melodramas para seus one-reelers.
É possível que a "longa duração" do
filme, com seus impactantes 12 minutos, também tenha irritado os exibidores,
que tinham que rebolar para encaixar o filme num programa médio de 45 minutos.
Para piorar a situação, a Edison Company tinha tanta confiança no filme que
cobrou o aluguel POR METRAGEM, uma prática que o jornal Moving Picture World
ainda estava condenando em sua edição de 21 de outubro de 1922 (sim, 12 anos
DEPOIS!): “Lembram quando Edison lançou 'Frankenstein' com 1.200 pés ao
invés dos mil habituais e tentou cobrar 20 dólares adicionais pela metragem?”.
(O articulista se refere a uma medida de metragem usada nos Estados Unidos;
1.200 pés correspondem a 365 metros de película.)
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Logo depois que a primeira adaptação cinematográfica de "Frankenstein" saiu de cartaz, a própria Edison Company começou a entrar em decadência. O cinema estava mudando, com os one-reelers dando espaço a produções mais longas e ambiciosas, principalmente os grandes épicos vindos da Itália, repletos de truques de câmera e multidões de figurantes. Chega a ser desleal comparar os filminhos da produtora de Edison com espetáculos como "L'Inferno", de Francesco Bertolini, Adolfo Padovan e Giuseppe de Liguoro, que dava vida ao Inferno de Dante, ou "La Caduta di Troia", de Luigi Romano Borgnetto e Giovanni Pastrone (ambos de 1911).
A partir de 1912, a Edison Company começou a
perder dinheiro. Em 28 de março de 1914, o o estúdio do Bronx onde EDISON'S
FRANKENSTEIN foi rodado pegou fogo, apagando parte considerável da história da
companhia. Seis anos depois, em 1920, a empresa sairia completamente do negócio
que ajudou a criar, superada pelos grandes estúdios que começavam a se estabelecer.
Outras adaptações do
livro de Mary Shelley chegaram às telas logo depois, e ainda nos tempos do cinema mudo.
Apenas cinco anos depois da versão da Edison Company, a produtora Ocean Film
Corporation lançou "Life Without Soul" (1915), com direção de Joseph
W. Smiley e roteiro de Jesse J. Goldburg. Trata-se mais de uma homenagem ao
livro do que uma adaptação literal: um estudante de Medicina chamado Dr. Victor
Frawley dorme lendo "Frankenstein" e começa a se imaginar como
protagonista da história de horror de Mary Shelley. Nenhuma cópia do filme
sobreviveu.
Finalmente, em 1931, a Universal produziu o
clássico "Frankenstein" dirigido por James Whale, um longa-metragem
sonoro com Boris Karloff no papel da criatura - um personagem que o
acompanharia durante toda sua longa carreira, e que ironicamente foi antes
oferecido a Bela Lugosi, o ator húngaro que no mesmo ano estrelou
"Drácula" para o estúdio. O sucesso estrondoso do filme deu origem a
diversas sequências e imitações, além de sepultar qualquer lembrança daquela
primeira adaptação pela Edison Company.
E é aqui que começa a parte mais triste da
nossa história...
É bom lembrar que, no começo do século
passado, não havia a menor preocupação em preservar os filmes. O conceito de home cinema ainda não existia (o aparelho de televisão surgiu
apenas em 1926), nem sequer a ideia de uma cinemateca ou acervo para que os
rolos de película ficassem disponíveis no futuro. Como ninguém podia adivinhar
que no futuro haveria formas de reprisar filmes para futuras gerações, os
realizadores acreditavam que suas produções eram descartáveis, e que após um
breve período de exibições os espectadores não teriam qualquer interesse em
vê-las novamente.
Graças a esta visão limitadíssima dos nossos
antepassados, as poucas cópias de cada produção (uma empresa popular, como a
Edison Company, produzia cerca de 40 para cada filme) eram recolhidas e
recicladas para reaproveitamento da prata! Estima-se que a maior parte dos
filmes do período desapareceu do mapa graças a esta prática questionável.
Felizmente, em alguns casos raríssimos, um
exibidor tentava comprar uma das cópias de um filme que lhe agradou para manter
em seu acervo particular. Foi assim que EDISON'S FRANKENSTEIN escapou da destruição.
Mas, durante pelo menos 50 anos, esta primeira
adaptação do livro de Mary Shelley foi completamente esquecida. Até que, no
começo dos anos 1960, o pesquisador de cinema Clark Wilkinson encontrou por
puro acaso aquela edição da The Edison Kinetogram com "Frankenstein"
na capa (abaixo, a versão londrina do informativo), e o mundo voltou a ouvir falar da produção.
Um dos mais fascinados pela descoberta foi o
super-cinéfilo Forrest J. Ackerman, editor da revista Famous Monsters of
Filmland (a Fangoria da sua época, que alfabetizou uma geração inteira em
cinema fantástico). Na edição 23 da revista, de junho de 1963, Ackerman colocou
uma chamada na capa dizendo “Neste número: a mais incomum foto de
Frankenstein já vista!”, e no interior
reproduziu a capa da The Edison Kinetogram em página inteira, alertando para a
fantástica descoberta da imagem.
No mesmo ano de 1963, a revista concorrente
Castle of Frankenstein também mencionou a (re)descoberta, com a chamada “O
Frankenstein esquecido” na capa e a reprodução da foto da criatura no
interior, onde lia-se: “Depois de muitos anos de busca incansável, eis uma
cena do PRIMEIRÍSSIMO filme sobre Frankenstein, que muitas autoridades sobre
cinema acreditam estar perdido para sempre!”.
Tempos depois, também foi localizada aquela histórica reportagem da The Film Index (lembra?) que trazia as duas fotos do filme, e durante décadas estas foram as únicas imagens sobreviventes de EDISON'S FRANKENSTEIN conhecidas pela humanidade!
Tempos depois, também foi localizada aquela histórica reportagem da The Film Index (lembra?) que trazia as duas fotos do filme, e durante décadas estas foram as únicas imagens sobreviventes de EDISON'S FRANKENSTEIN conhecidas pela humanidade!
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A história terminaria por aqui se a redescoberta das imagens de EDISON'S FRANKENSTEIN não tivesse provocado uma caçada ao filme
perdido, que se transformou no Santo Graal de toda uma geração de cinéfilos e
fãs de horror.
Quase vinte anos depois, em 5 de maio de 1980, a revista The Box Office Magazine fez uma
reportagem sobre os dez filmes perdidos "mais significativos, histórica e
culturalmente", procurados pelo American Film Institute (AFI). Entre eles
apareciam o "Cleopatra" de 1917, com Theda Bara no papel-título,
"London After Midnight", terror dirigido por Tod Browning em 1927, e,
obviamente, EDISON'S FRANKENSTEIN.
A reportagem acabou chegando às mãos de Alois
Felix Dettlaff Sr., um colecionador de filmes de Wisconsin que possuía, desde
os anos 1950, a última cópia existente de EDISON'S FRANKENSTEIN, mas não fazia
ideia da sua raridade e importância!
Esta cópia já estava em precário estado de
conservação e, quando Dettlaff tentou exibi-la pela primeira vez, quase
aconteceu uma tragédia: o projetor rasgou a frágil película em vários pontos. O
colecionador tentou "consertar" a cagada cortando e descartando os trechos
mais atingidos (obviamente, ele não tinha ideia da raridade do filme), fazendo
desaparecer cerca de 30 segundos da obra!
Ao descobrir que tinha uma mina de ouro nas
mãos graças à The Box Office Magazine, Dettlaff passou as décadas seguintes
explorando sua galinha dos ovos de ouro. Ele fez uma montagem com 20 segundos
das principais cenas, que vendia para historiadores e documentários sobre
cinema de horror. Foi quando percebeu que fazia mais dinheiro vendendo TRECHOS
do que o filme inteiro, e que perderia o ganha-pão caso EDISON'S FRANKENSTEIN
caísse em domínio público.
Num misto de extremo egoísmo e muito carinho
pela raridade que tinha em suas mãos, o colecionador recusou várias propostas
de restauração e relançamento da obra, inclusive da própria Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas. Até mesmo o cineasta Robert Wise, que na época era
diretor do conselho de preservação da Academia, ouviu um "não" de
Dettlaff, que chegou a pedir um milhão de dólares para ceder uma cópia de
EDISON'S FRANKENSTEIN!
Para resumir a história, Dettlaff começou a
abrir exceções para alguns festivais nos anos 1990, desde que as exibições
fossem feitas com um obsessivo esquema de segurança para impedir que qualquer
espectador pudesse filmar a tela e criar novas cópias da obra. Finalmente, em
2003, o colecionador se rendeu e lançou um DVD de confecção própria com o filme
completo, que logo viralizou e caiu na internet para sempre, mas numa versão
tosca com imagem ruim, que parece ter sido capturada de uma gravação em VHS.
Até onde se sabe, as vendas do produto nunca chegaram ao milhão de dólares com
o qual ele sonhava.
Em 26 de julho de 2005, o corpo decomposto de Alois Dettlaff foi encontrado no chão de sua casa pela polícia, depois que familiares e vizinhos alegaram que ele não era visto há cerca de um mês. Com a morte do proprietário da última cópia existente de EDISON'S FRANKENSTEIN, os filhos não sabiam o que fazer com todas aquelas latas de filme acumuladas por Dettlaff durante uma vida inteira. Em 2014, eles venderam toda a coleção para a Biblioteca do Congresso (a instituição cultural mais antiga dos Estados Unidos, e grande responsável pela preservação de sua memória).
Com uma cópia decente do cobiçado filme
finalmente em mãos, a Biblioteca do Congresso deu início ao lento e trabalhoso
processo de escanear a película e restaurá-la após mais de 100 anos circulando
com pouco ou nenhum cuidado - sem mencionar as barbeiragens que lhe suprimiram
vários frames. Por causa destas barbeiragens, inclusive, alguns frames continuam bem detonados mesmo pós-restauração (alguns exemplos abaixo).
E então, o final feliz: em 18 de novembro deste ano (2018), 108 anos após seu lançamento nos cinemas quando este ainda engatinhava, EDISON'S FRANKENSTEIN finalmente ganhou o mundo (e a internet) em cópia restaurada e preservada postada pela Biblioteca do Congresso no YouTube, para todo mundo ver de graça e conhecer o filme que ficou perdido (ou guardado a sete chaves) durante tanto tempo.
Uma nova trilha do compositor Donald Sosin foi
adicionada à cópia, que também traz créditos finais identificando os
responsáveis pela direção, câmera e elenco, finalmente fazendo justiça a estes
artistas. E se a notícia já não fosse boa, tem fãs com muito tempo e disposição MELHORANDO a restauração da Biblioteca do Congresso, limpando ainda mais a imagem e estabilizando os movimentos, conforme você pode ver clicando aqui.
No mundo do cinema e seus tesouros perdidos,
pouquíssimas são as histórias que terminam com final feliz, como a da cópia
mais longa de "Metrópolis" (1928), encontrada por acaso na Cinemateca
de Buenos Aires, ou a restauração de EDISON'S FRANKENSTEIN. Por isso, é preciso
valorizar estes achados e eternizar esses redescobertas, para que nunca mais
sejam esquecidas.
Aqui no Brasil, inclusive, temos uma
quantidade absurda de filmes que hoje só existem em película ou em cópias
transferidas para VHS, que nunca foram convertidos para o formato digital. A
tendência é que desapareçam para sempre, devido à dificuldade de se conservar
negativos e fitas magnéticas (cuja vida útil é muito limitada).
Uma dessas obras é "O Diabo" (1908),
de Antônio Campos, uma fantasia estilo Méliès que hoje é considerada perdida
para sempre. Mas não precisa ir tão longe: filmes mais recentes, dos anos
1970-80, também estão desaparecendo, e com a morte de seus diretores e
produtores muitas vezes as latas de negativos acabam pura e simplesmente no
lixo.
Ou seja: por aqui já temos nossos próprios "Edison's Frankensteins", mas suas histórias não têm o mesmo final feliz...
Esta longa dissertação (que muitos
considerarão uma autêntica digressão) não seria possível sem duas fontes
importantíssimas de pesquisa: o essencial Internet Archives, onde estão
armazenados scans de todas estas publicações do começo do século passado
citadas (como The Moving Picture World e The Film Index), e o livro
"Edison's Frankenstein", de Frederick C. Wiebel Jr., um trabalho
inacreditável de investigação e pesquisa do autor, que ficou vinte anos caçando
a última cópia do filme e tentando convencer o proprietário a mostrá-la. Wiebel Jr. também foi o responsável por uma adaptação em quadrinhos do filme de 1910, que foi lançada nos Estados Unidos em 2003.
Veja a restauração de EDISON'S FRANKENSTEIN!
20 comentários:
UAU! Que postagem, que postagem! Este é um grande diferencial do blog e mostra que só mesmo um doido por filmes realiza tal pesquisa! Gosto muito desse tipo de post que mostra toda a história por trás do filme, desde a produção até as curiosidades do colecionismo! Esse foi um dos melhores daqui; parabéns, Felipe!
Foda!!! Cara, essa postagem foi simplesmente sensacional! Seu blog fazia mesmo muita falta! Abraços
Eu descobri esse filme " Edison's Frankenstein " em uma reportagem que passou no Leitura Dinâmica na Rede TV ,não imaginava que o pai da lampada elétrica e de tantas invenções havia feito um filme de horror ,pelo menos lá no Estados Unidos eles dão valor ao seu cinema enquanto no país das Bananas o nossos filmes do período da pornô chachada ,cinema marginal ,underground e sexo explicito estão se perdendo com á morte de seus realizadores ,infelizmente aqui no Brasil á arte não nunca será preservada o que é uma pena ,não importando que tipo de cinema foi feito aqui nesse país e esses filmes precisam ser preservados pois á cultura do país precisa ser resgatados por algum entidade de preservação da mesma.ótimo texto com sempre explicativo e com detalhes sobre o "Edison's Frankenstein" com muitas fotos escaneadas e texto de jornais da época falando sobre esse trabalho da Empresa de Filmagem de Edison e com curiosidades de seus realizadores e atores da época .. muito bom trabalho e excelente pesquisa sobre essa perola do cinema de horror ,parabéns! Um Abraço de Spektro 72.
Uma trivia: o renomado historiador Radu Florescu, autor de "Frankenstein - O mito", publicado no Brasil pela editora Mercúrio, afirma que a história da aposta de Mary Shelley nunca aconteceu. Foi tudo uma estratégia de marketing de Percy Shelley para promover a obra (quando foi relançada e creditada a Mary Shelley) e esconder a verdadeira fonte. Aparentemente havia uma lenda local sobre um conde em um castelo numa cidadezinha da Áustria que Mary Shelley usou como base para Frankenstein.
"London After Midnight" é mesmo perdido ou existe a possibilidade de que exista alguma cópia?
Que post fantástico, não sabia da existência desse filme e que história meus amigos... que história, fiquei até com vontade ler o livro da Mary Shelley.
Excelente postagem Felipe! Eu já tinha visto esse filme no YouTube uns dois anos atrás e fiquei surpreso, porque não sabia que o livro havia sido adaptado tão no início do cinema. Mas desconhecia toda essa história fascinante por trás da produção! Parabéns e obrigado por compartilhar isso com a gente!
É por isso que o seu blog é um dos melhores da Internet.
Essa postagem foi simplesmente sensacional.
Eu tenho um grande fascínio pelo começo do cinema.
Georges Méliès e as próprias produções do Edison me fascinam pela simplicidade como foram feitas e a qualidade das mesmas.
Eu gostei ainda mais desse post por falar de Frankenstein que é um dos livros que mais gosto, juntamente com a grande maioria dos filmes que adaptam a obra, incluindo esse primeiro.
Poderia por favor fazer mais postagens desse estilo falando de filmes como o Corcunda de Notre-Dame de 1923 e o Fantasma da Ópera de 25 ?
E mais uma vez, excelente texto.
Excelente postagem, ainda bem que voltou com o blog (pois sou um leitor assíduo do filmes para doidos desde 2012) senti falta dos seus textos detalhados sobre filmes desconhecidos e obscuros, já li e reli vários textos seus,e realmente esse novo postado por você está entre os melhores já postados aqui, ainda bem que você voltou com o blog.
O Meteoro Brasil postou hoje um filme sobre um dos filmes resenhados por você , Os Trapalhões na Guerra dos Planetas , que é muito interessante e vale a pena assistir
https://www.youtube.com/watch?v=j-czVVg-fdU
Grande (não só no tamanho😉) postagem!!! Parabéns Felipe...longa vida ao filmesparadoidos!!!
Sensacional materia. Esse blog e realmente o melhor de todos!
Você outro dia tava se questionando em ganhar dinheiro com o blog... Pois bem, nunca pensou num canal no YouTube "Filmes para doidos"?? Na certa iria dar um bom retorno! Abraço e feliz 2019!
Sou a favor de um canal Filmes para Doidos. Seria muito legal porque o Felipe poderia inclusive passar trechos dos filmes enquanto comenta, e dessa forma poderíamos ter uma ideia melhor da tosquice do filme.
E acho que no quesito dinheiro um canal Filmes para Doidos tem tudo para dar lucro porque, até onde eu sei, não existe nada parecido na internet brasileira.
Nos EUA existe o canal The Cinema Snob, que é uma espécie de Filmes para Doidos gringo no YouTube. O criador do canal se deu bem, inclusive conseguiu produzir um longa metragem.
Gente, já falei várias vezes mas vou repetir: EU ODEIO CANAL DE YOUTUBE! Não consigo assistir mais de quinze segundos de qualquer análise cinematográfica em vídeo, acho um saco. Meu negócio é e sempre foi escrever. Por isso que continuo pobre! hahaha.
Feliz Ano Novo, Felipe M.Guerra ! Que esse ano de 2019 lhe traga muita saúde ,paz ,amor, alegrias e muito dinheiro no bolso ,que esse ano seja um ano cheio de realizações e que seus objetivos sejam alcançados ,são os meus mais sinceros votos de um Feliz 2019 para você e á sua família ,um abraço de Spektro 72 .
P.S - Eu tambem não gosto de assistir os comentários de filmes no YouTube ,eu só assisto o canal do Boca do Inferno do Gabriel Paixão ,eu acho o melhor e divertido e do resto no YouTube só gosto de assistir ,chamadas da TV's antigamente,comerciais da época, vinhetas das TV's e aberturas de seriados velhos .
Belo trabalho.
Opaaa, fico feliz por ter voltado, seu blog é uma enciclopedia virtual sobre cinema trash - vc criou o 'monstrinho' agora tem que alimentá-lo kkkkk. Falando sério mesmo, não pare com o blog, nem que seja uma unica postagem por mês, como uma revista virtual, mas não deixe de postar. Agora vou besourar pelos novos posts que eu ainda não tinha visto. Sucesso sempre.
É a primeira vez que entro em seu blog e, logo no início deste presente artigo, tive uma ótima impressão; sua matéria é excelente.
É uma pena que muitos filmes do cinema mudo estejam perdidos para sempre.
O filme que mais lamento estar perdido é "Cleópatra" (1917), com a legendária Theda Bara.
Já que a cinemateca queimou a pouco tempo (como Roma em 64 d.C., mas sem vítimas que não o próprio acervo) podemos apenas lamentar tudo aquilo que se perdeu; obras horríveis ou incríveis, mas sempre historicamente importantes.
É de partir o coração...
Pelo menos este Edson's Frankenstein (1910) pôde ser salvo.
Espero que Cleópatra seja, algum dia, recuperado de algum armazém, coleção privada ou qualquer outro recanto deste mundo afora; assistir Theodosia Goodman em seu mais famoso papel seria uma experiência muito especial e surpreendente.
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