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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO (1986)


Nos anos 80, tentando combater a invasão dos filmes pornográficos made in USA, muitos diretores "populares" do cinema nacional acabaram enveredando para o X-Rated, com resultados que vão do lamentável ao muito engraçado (mas quase nunca propriamente excitantes). Alguns enfrentavam tanta dificuldade (e falta de grana) para produzir que encontraram um "jeitinho brasileiro" para faturar uns trocos: relançar seus filmes "normais" com cenas de sexo explícito enxertadas na edição!

Era rápido, fácil e, principalmente, barato, e o público que se dane!

Não foram poucos os que adotaram esta tática picareta: J. Marreco relançou "A Mulher, A Serpente e a Flor" (1983), um drama sério, adicionando cenas de sexo explícito que ele gravou (direto da frente da tela da TV!!!) de um filme pornô americano; Levi Salgado transformou seu "Punks - Os Filhos da Noite" (1982) em "Sexo Selvagem dos Filhos da Noite" (1987), fazendo com que atores "sérios", como Danton Jardim e Lady Francisco, ficassem lado a lado com meia-noves e trepadas diversas; o mesmo fez Nilton Nascimento em "Perdido em Sodoma" (1982), que, após os enxertos, transformou-se num filme pornô... estrelado por José Lewgoy!!!


Foi também nesta época, em 1986, que o paulista Rubens da Silva Prado, um dos grandes nomes do chamado "feijoada-western" (apelido carinhoso dos filmes de bangue-bangue produzidos no Brasil), maculou uma de suas obras, transformando o que era um sangrento faroeste rural num festival de pornografia explícita. Estamos falando do "clássico" da Boca do Lixo SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO - e não me pergunte que diabos querem dizer com "Sexo Erótico"!

Tudo que Prado fez foi reaproveitar os velhos e desgastados negativos do seu filme de 1981 "A Febre do Sexo" (que, apesar do título pornográfico, é um western com muita ação e nenhum sexo explícito) e filmar uns 10 minutos, no máximo, de cenas de fodas explícitas, com atores "pau pra toda obra" (literalmente) da Boca do Lixo e umas barangas abaixo da crítica. O resultado ficou tão trash que SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO acabou se transformando num bizarro e sangrento western-pornô meio sem pé nem cabeça. Ou seja, um programa obrigatório para qualquer fã de cinema nacional, digamos, alternativo... E, claro, mais um autêntico FILME PARA DOIDOS!

Os créditos iniciais se desenrolam sobre fotos recortadas (e desbotadas) de revistas de sacanagem. Em seguida, surgem as cenas originais de "A Febre do Sexo": o lenhador e dublê de pistoleiro Gregório (interpretado pelo próprio Rubens Prado, com o pseudônimo "Alex Prado") está derrubando uma árvore a machadadas quando surge Ana (Thiana Perkins), uma garota da vila, com as roupas em farrapos e à beira da morte. Ela avisa o herói que um grupo de bandoleiros invadiu o povoado, matou todos os homens e crianças, e seqüestrou as mulheres, entre elas Maria (Helena Volpi), a esposa de Gregório.


Não dá 10 segundos para que o lenhador deixe o cadáver desfalecido de Anita para trás e, armado de uma espingarda e um facão, passe o restante do filme desbravando uma bonita paisagem rural, enfrentando pistoleiros em sangrentos duelos e resgatando moças seminuas que, eventualmente, acabam morrendo em novos confrontos. Logo, Gregório descobre que por trás de tudo está um fanático religioso chamado Gavião (Paul Morrison), que usa as moças peladas em seu garimpo clandestino! Até enfrentar o vilão e salvar Maria, nosso herói mata, direta ou indiretamente, umas 30 pessoas!

Mas onde entra o "sexo erótico" nessa história? Aí é que está, amiguinhos: a trama e as cenas acima são todas de "A Febre do Sexo". Para transformar o antigo western em pornô, Prado gravou umas cinco novas cenas de trepadas, praticamente seis anos depois do original, com atores que nem ao menos participavam do outro filme, como Claudette Joubert, Oásis Minitti, Oswaldo Cirillo e Sílvio Júnior. Pior: o próprio Rubens Prado aparece em algumas delas, seis anos depois, com uma camisa diferente, com o rosto diferente, mais gordo e carregando um outro modelo de espingarda! Até a dublagem do personagem é diferente!!!

O resultado destes enxertos é simplesmente hilariante: casais aparecem transando do nada e desaparecem repentinamente sem chegar a fazer parte da trama principal. Em um momento, o Gregório de "A Febre do Sexo" entra na floresta com a camisa manchada de sangue de um ferimento e, no take seguinte, vemos o "Gregório enxertado" caminhando com a camisa limpinha pelo que parece ser o quintal da casa de alguém, apenas para participar - como testemunha ocular - de uma cena de trepada!


O pior é que se "A Febre do Sexo" era um western sério e violento, os enxertos transformam SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO numa engraçadíssima comédia involuntária. Numa das cenas pornôs, por exemplo, Osvaldo Cirillo (que é a cara do Freddy Mercury!) entra pela "porta de trás" de uma moça que lavava roupa, apenas para mais tarde descobrir que se trata de um travecão (Patrícia Petri, de "Alucinações Sexuais de um Macaco"); mas não se faz de rogado e cai de boca no traveco!

Em outra cena enxertada, um negro magrela pula de uma árvore e começa a "estuprar" uma megera, que protesta apenas por alguns segundos e logo entra no clima da brincadeira. Até que aparece Gregório (versão enxerto) e enfia o cano da espingarda no fiofó do estuprador, que ainda protesta: "Ô meu, deixa pelo menos eu dar uma gozadinha!".


A coisa é tão apelativa que tem até "enxerto no enxerto": numa cena de sexo grupal envolvendo uma das musas do pornô nacional, Claudette Joubert, e Heitor Gaiotti e Sílvio Júnior, percebe-se claramente que a dupla penetração foi retirada de algum outro filme, e que os dois atores estão apenas se esfregando na moça - até que surge novamente o estraga-prazeres Gregório (versão enxerto) e mata ambos com tiros de espingarda!

Antes de fazer picaretagens como esta, Rubens Prado foi um dos principais incentivadores do western brasileiro, tendo dirigido filmes sérios dentro desta proposta, como "Sangue em Santa Maria" (1971), "Gregório Volta Para Matar" (1974) e "A Vingança de Chico Mineiro" (1979). Este SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO já é um canto de cisne do cineasta, que, como muitos outros diretores brasileiros, viu-se obrigado a investir na pornografia para conseguir sobreviver.

Fica claro, neste seu western versão pornô, que o diretor atira para todos os lados (literalmente), tentando atrair o povão pelo sensacionalismo. Isso explica a quantidade de mulher pelada, estupros e até homossexualismo nas novas cenas explícitas editadas.


Para quem não é muito chegado nestas sacanagens da Boca do Lixo, ainda assim SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO vale como resgate de toda a ação e violência de "A Febre do Sexo", que nunca foi comercialmente lançado nas videolocadoras (enquanto SEXO ERÓTICO... foi). Estas cenas antigas trazem alguns momentos bem legais, como um sangrento tiroteio num rio, com direito a balaços na cabeça e no pescoço! O final, em que Gregório distribuiu faconaços a rodo enquanto invade o navio do Gavião, também é um festival de violência gratuita.


Mas prevalece mesmo o "clima trash", principalmente no visual de Gregório, que é uma atração à parte: ele passa o tempo todo usando um daqueles chapeuzinhos de pele com cauda atrás, estilo Escoteiros Mirins! E os diálogos rebuscados ("Tenho o corpo todo marcado pelas batalhas travadas pelo caminho") não ajudam em nada; pelo contrário, são hilariantes!

Vale, então, conferir de qualquer jeito, nem que seja avançando as cenas de sexo explícito com o controle remoto. Ah, se os filmes nacionais "sérios" de hoje fossem tão divertidos quanto estas preciosidades da Boca do Lixo...

PS: Deixo aqui um agradecimento especial ao Matheus Trunk, da revista virtual Zingu, e ao Rodrigo Pereira, do blog Filmes que Só Eu Vi, que me deram preciosas informações sobre "A Febre do Sexo" e me ajudaram a identificar os enxertos nesta versão pornô.

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Sexo Erótico na Ilha do Gavião (1986, Brasil)
Direção: Rubens da Silva Prado
Elenco: Alex Prado (Rubens Prado), Claudette
Joubert, Oásis Minitti, Sílvio Júnior,
Helena Volpi e Paul Morrison.

15 comentários:

Anônimo disse...

Já pensou se colocassem enxertos pornô em outros filmes brasileiros tipo "Se eu fosse você" ou "O casamento de Romeu e Julieta"? Aí dava até pra assistir.

Juliano Jacob disse...

Cara, sou cinéfilo de carteirinha - ou achei que era - e nunca soube dessa onda de reaproveitamento de filmes com inclusão de cenas de "Sexo Erótico". É como se fosse um movimento Neo-Pornochanchada montado com sobras... Heheheheh... Como disse Matheus, muitas idiotices seriam salvas com o enxerto... Parabéns pelo excelente Blog... Estarei sempre por aqui...

Felipe M. Guerra disse...

MATHEUS - Tenho certeza que isso salvaria muita bomba. Bem que o Monjardim podia enxertar umas cenas de sexo, lesbianismo e tortura no chatíssimo OLGA e transformá-lo num nazisploitation tipo faziam os italianos, que tal?

JULIANO - Que felicidade conquistar novos leitores, às vezes penso que ninguém acompanha estas minhas divagações sobre filmes, digamos, "esquisitos". Infelizmente, os brasileiros têm memória curta, e a tendência é esquecerem destas pérolas da Boca do Lixo (quantas vezes escutei frases como "Agora sim o cinema nacional está bom", ditas sobre estes troços chinfrins que a Globo Filmes produz nos dias de hoje). Sorte que existem loucos como nós para manter esta memória viva! Entre e sinta-se em casa!

Allan Verissimo disse...

O cinema nacional está um lixo atualmente.Enquanto antigamente tinhamos filmes do Zé do Caixão e dos Trapalhões,hoje só temos as porcarias do Didi fazendo filmes solos e infantis,e as "coisas" feitas pela Xuxa.Salvo pequenas exceções,calro,como TROPA DE ELITE,que foi o melhor filme de 2007 e o apenas razoavel ZUZU ANGEL.
Talvez aquele filme da Xuxa esfregando os seios naquele garotinho deve ser mais divertido do que XUXA E OS DUENDES!

Anônimo disse...

Eu queria que o Francisco Cavalcanti pega-se o seu "Horas Fatais" coloca-se mais porno ( apesar que ja tinha algumas cenas risiveis ) e relança-se como "Horas Sexuais" ou algo do tipo! =)
Sei nem como ele nunca pensou nisso!

Anônimo disse...

Oi Felipe. Ficou muito legal sua crítica ao filme do Rubão. Infelizmente, não é um dos grandes trabalhos dele, mas tem sua curiosidade e interesse. Parabéns pela excelente iniciativa e espero que você em breve comente nesse blog sobre mais filmes do RSP. Abraço e feliz natal,
Matheus Trunk
www.revistazingu.blogspot.com

Anônimo disse...

Olga, She Wolf of the SS...

Eu fico puto que nós temos uma pá de filmes excelentes e desconhecidos. Outro dia fui numa locadora e peguei uns filmes antigos do Jece Valadão que eu nunca tinha ouvido falar, e eram todos filmaços.

Anônimo disse...

Felipe, parabéns pelo blog e pelos comentários sempre divertidos. Sempre dou uma passadinha por aqui, mas vou postar mais agora, tava postando bem pouco.
Não conhecia esse filme e conheço bem pouco do Rubens da Silva Prado. Ele chegou a fazer mais filmes pornôs? Preciso conhecer mais sobre as pérolas pornôs da época da Boca do Lixo para o meu TCC. Vou dar um jeito de ver esse filme que no mínimo deve ser uma experiência melhor do que o "ETesão" que é chatíssimo de doer, bem inferior ao clássico "Fuk-Fuk a Brasileira". Continue com seus posts engraçados! Abraços!

Felipe M. Guerra disse...

THALES - O Francisco Cavalcanti deixou o "Horas Fatais" incólume, mas adicionou cenas de sexo explícito ao seu slasher A HORA DO MEDO para relançá-lo nos cinemas.

MATHEUS - Obrigado pela visita e pelos elogios. Outros filmes brasileiros da Boca do Lixo, pornográficos ou não, certamente terão espaço e valorização aqui, pois o FILMES PARA DOIDOS sabe o que é cinema de qualidade. hahahaha.

VALTER - Os pornôs da Boca são conhecidos pela bizarrice: é comum encontrar homossexualismo, bestialismo e violência explícita num mesmo filme, sem meias-medidas. Em breve teremos mais alguns por aqui, portanto continue sintonizado. Abraço!

Anônimo disse...

Sinto em dizer...tive uma irmã chamada Valdirene Manna, q infelizmente trabalhou numa produção de RSP em 1988...na época eu tinha 12a., mas eu me lembro q o filme intitulava-se "O feitiço do gavião"...digo "tive" e "trabalhou", pq minha querida irmã faleceu aos 18a., eqto trabalhava na gravação, em Guararema,SP...na época houve muita confusão...o que eu quero é simplesmente fazer um apelo,para q as aspirantes a atrizes e a família das mesmas, não caiam na conversa de certos"produtores"...creio q pela inocência e falta de informação na época, minha irmã e meus pais não sabíam q RSP era um produtor, ator, diretor de filmes tão baixos,pelo contrário, o discursso era bem diferente...Abç!AMANNA

Rodrigo Pereira, um sujeito que gosta de cinema disse...

Cara Amanna, como vc bem deve ter notado, o Felipe aqui no blog estava apenas fazendo uma avaliação do filme. Quero dizer, do filme em si. Nenhum de nós sabia de histórias do bastidores, principalmente do acidente com sua irmã. O legal da internet é que se trata de um espaço livre, então vc pode vir aqui e na boa expor para nós esse fato lamentável. Claro que todos aqui adorariam saber mais. Se quiser, conte-nos tudo que sabe do episódio. Sua irmã foi trabalhar no filme e não sabia que Rubens da Silva Prado era um diretor de filmes pornôs? Como ela morreu?

Daniel disse...

Interessante...eu pouco conhecia sobre o "lado B" do cinema nacional. Se não é bom pelo menos parece ser mais divertido que os filmes brasileiros "papo-cabeça" que intelectualóides veneram.

Ah! E tbm acho que filmes como "Se eu fosse vc" iam melhorar muito com algumas cenas de sexo inseridas, hehehehe.

filipe disse...

Putz, alguém tem que por esses filmes no torrent...

Marcelo Gomes.'. disse...

Olha gente, eu não sou de entrar em sites ou blogger pornos. Mas esse eu faço questão de entrar. Esse filme: SEXO ERÓTICO NA ILHA DO GAVIÃO, foi o primeiro filme de sexo que eu vi na minha vida. Foi no Cine Can Can, não lembro o nome da rua, eu sei que é uma travessa da Rua Aurora. Na Boca do Lixo mesmo, risos. Nossa eu era moleque ainda. Esse dia prometeu, jamais irei esquecer desse dia. Que saudades, dessa época. Era tão feliz e não sabia!!!
Ao Dono do Blogger, valeu pela iniciativa!!!
Abraços,
Marcelo Ramalho Gomes

Anônimo disse...

Prezada(a)AMANNA

Conheci sua irmã Waldirene manna, aliás, estive presente em uma festa de 15 Anos que ela realizou na casa em que morava no Bairro da Penha em SP, após esta festa, não tive mais contato com ela.Fiquei sabendo do falecimento, através de anuncios de uma revista.É com pesar que reelembro estes fatos, pois sua irmã foi uma pessoa incrível, juntamente com alguns amigos em 1985 pensávamos em montar uma banda, pois ela tinha uma voz excelente, inclusive um tio seu que é desenhista, participou de algumas de nossas reuniões. fico triste em de não saber ao menos onde ela foi sepultada. Um Forte!! Abraço!!